CARTA AO LEITOR/CARTA AO LEITOR

 

 

Rio de Janeiro, 5 de abril de 1990.

Sr. Editor dos Cadernos de Saúde Pública:

Confesso que fiquei surpreso ao ler o editorial do No 5 (4), 1989, dos Cadernos de Saúde Pública.

O Prof. Jaime A. Oliveira começa dizendo que a Escola foi fundada em 1954 e teve funcionamento precário até a instalação na atual sede, em 1966.

Conheci diversos sanitaristas formados no Instituto Oswaldo Cruz, em um curso organizado pelo grande Arthur Neiva. No tempo em que a Escola estava no Morro da Viúva, estive lá várias vezes para conversar com o Prof. Mario Magalhães. No meu entender, essa foi a época áurea da Escola. Lá ensinaram Mario Magalhães, Samuel Pessoa, Achilles Scorzelli e outros professores destacados. É claro que, em 1964, o seu corpo docente teria de ser atingido. Não sei como ficou porque, nessa época, estava fora do Brasil.

A instalação da Escola na atual sede teve um vício de origem. Como já estávamos no período ditatorial, a indicação de diversos professores foi feita na base do famoso QI (quem indica), dos governos militares. Não resta dúvida que, na administração Vinícius Fonseca, a Escola recebeu um bom reforço de professores admitidos por concurso. De qualquer forma, ainda ficou com um corpo docente heterogêneo.

Em outro trecho, lemos: "Proliferaram, em conseqüência, os Núcleos, Centros, Projetos e Cursos." Das outras coisas não posso dizer nada, mas dos Projetos posso garantir que alguns não vão passar de projetos.

Quanto a "gargalos, nós e bloqueios", nos parece que a melhor solução é colocar os pés no chão, reconhecer que eles estão é aqui dentro e, dessa maneira, cortar o que está errado e fazer tudo para tirar o máximo do que existe de bom.

Atenciosamente

Mario B. Aragão

 


 

Rio de Janeiro, 10 de abril de 1990.

Ilmo. Sr.

Prof. Mario B. Aragão

Depto. de Ciências Biológicas/Ensp

Professor,

Recebi cópia de sua carta de 05 do corrente, na qual o Sr. tece comentários sobre o editorial, por mim assinado, do no 5 (4), 1989 dos Cadernos de Saúde Pública.

O que me move, em especial, a escrever-lhe em resposta é o desejo de esclarecer aquilo que me parece apenas um pequeno problema de interpretação do sentido que pretendi dar, efetivamente, ao trecho daquele editorial citado no início de sua carta.

Assim, quando digo, ali, que no período anterior à "sua instalação na atual sede" a Ensp teve um "funcionamento precário", quero me referir apenas, e simplesmente, ao fato da inexistência, até então, de condições físicas adequadas ao bom funcionamento da Escola. Situação que é revertida em 1966, mas num contexto marcado pelos acontecimentos que o editorial segue descrevendo.

Portanto, longe de mim a intenção de desmerecer a memória e o papel das notáveis figuras da Saúde Pública Brasileira que, como o Sr. bem assinala em sua carta, exerciam à época atividades docentes na Escola (tendo sido algumas delas vítimas posteriores do processo de "caça às bruxas" a que me refiro na seqüência do editorial).

Imagino que o motivo desta pequena incompreensão de meu real objetivo no texto citado tenha sido a forma sintética que ele, necessariamente, tinha de assumir (e que me impedia, por exemplo, de relacionar as dificuldades vividas, então, pela Ensp com o processo mais geral de fragmentação do recém-criado Ministério da Saúde, praticamente expulso, como se sabe, da antiga sede do Ministério da Educação e Saúde).

Utilizo-me, portanto, dessa ocasião para apresentar meu pedido de desculpas pelas incompreensões que possa, porventura, ter suscitado — como sugere a sua oportuna carta —, esperando que as justificativas apresentadas acima sejam suficientes para retificá-las.

Quanto aos demais comentários, compartilho de suas preocupações quanto aos "Núcleos, Centros, Projetos e Cursos" hoje existentes na Escola, mas espero (e imagino que também o Sr.) que suas previsões não venham a cumprir-se, de fato.

Quanto aos "gargalos, nós e bloqueios", o sentido do editorial era exatamente o de assinalar que pelo menos boa parte deles são internos à instituição, e que, portanto, sua solução depende centralmente de nós mesmos.

Permito-me concluir parabenizando-o pela zelosa atenção que sua carta evidencia, quanto a assuntos tão importantes para todos nós como o são a história da Saúde Publica Brasileira, desta Escola, e seus problemas atuais.

Sendo o que me movia no momento, despeço-me,

Respeitosamente,

Jaime A. de Oliveira

 

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br