DEBATE DEBATE

 

Debate sobre o artigo de Minayo & Sanches

 

Debate on the paper by Minayo & Sanches

 

 

Clóvis de Araújo Peres

Instituto da Matemática e Estatística
Universidade de São Paulo

 

 

Como eles próprios afirmam na conclusão do artigo, os autores pretenderam dar o pontapé inicial num debate que consideram extremamente relevante e indiscutivelmente promissor — a existência de oposição ou complementariedade entre as abordagens quantitativas nas Ciências Sociais. Desde o início apontam — corretamente, a nosso ver — que, ao menos do ponto de vista metodológico, não há continuidade entre as duas abordagens estudadas.

Por definição, a pesquisa quantitativa e a investigação qualitativa são atividades de natureza distinta, valendo-se ambas de técnicas e procedimentos também diversos. Enquanto a primeira "atua em níveis da realidade, onde os dados se apresentam aos sentidos", a segunda opera com "valores, crenças, representações, hábitos, atitudes e opiniões".

Já do ponto de vista epistemológico, rebatendo a tese de estudiosos que posicionam a abordagem qualitativa abaixo da quantitativa, em uma suposta escala de cientificidade, os autores acentuam que nenhuma delas é mais ou menos "científica" do que a outra. Ambas envolvem sempre uma construção teórica, ainda que, para isso, utilizem pressupostos de análise e disponham de instrumentos de pesquisa bastante diferentes.

Os argumentos arrolados em defesa desta posição são bastante esclarecedores e cumprem a função básica do artigo, chamando a atenção para as particularidades e especifidades de cada abordagem. Destaca-se, neste sentido, particularmente, a referência quanto aos usos e abusos do instrumental de pesquisa atualmente disponível em ambas as abordagens. A aplicação destas ferramentas, sejam elas quantitativas ou qualitativas, não pode ser vista como uma questão meramente técnica e, portanto, de fácil e imediata resolução por especialistas.

Uma única coisa a lamentar: a exclusão — segundo os autores, proposital — de questões específicas da área de saúde no debate ora iniciado. Tanto a experiência dos autores — profissionais de especialização diversa — quanto a origem curricular do debate — os Seminários Avançados de Teses do Curso de Pós-Graduação em Saúde Pública da Ensp — recomendariam a discussão de temas específicos.

Gostaríamos de ver o dilema quantitativo-qualitativo devidamente problematizado pelos autores, tendo por referência questões suscitadas pelos projetos de tese apresentados durante os seminários que motivaram o artigo. Potencialidades e limites de cada abordagem ficariam mais bem-colocadas neste contexto, enriquecendo a seção Debates dos Cadernos de Saúde Pública como instrumento de ensino e aprendizagem.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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