TESES THESIS

 

 

GEROLOMO, M., 1997. A Sétima Pandemia de Cólera no Brasil ­ Sua Evolução e Fatores Relacionados à sua Implantação e Disseminação (Maria Lúcia F. Penna, orientadora). Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Instituto de Medicina Social, Centro Biomédico, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 197 pp. Anexos.

 

Por meio da revisão de relatórios técnicos e documentos oficiais, o estudo avalia, em uma primeira etapa, a reação de técnicos e de autoridades sanitárias brasileiras na fase de implantação e disseminação da sétima pandemia de cólera no Brasil. Esta reação variou entre extremos, indo da negação à tomada de medidas espetaculares, ou as duas ao mesmo tempo, o que gerou grande desperdício de recursos. A seguir, é feita uma análise descritiva da distribuição de casos diagnosticados e notificados ao Ministério da Saúde, entre abril de 1991 e março de 1996, totalizando um período de cinco anos, abordando questões gerais, tais como: incidência, distribuição geográfica, sazonalidade, distribuição por faixa etária e sexo, letalidade, critério diagnóstico e tipo de atendimento, podendo-se observar uma grande heterogeneidade entre as regiões e, nestas, entre os estados. Numa terceira etapa, foi realizada uma regressão linear múltipla, pelo método backward stepwise, com influência do investigador, relacionando as taxas de incidência por cólera observadas nos municípios do estado de Pernambuco com questões referentes a condições de vida da população. Obtivemos coeficientes de regressão estatisticamente significativos para as variáveis: percentagem de domicílios que utilizam água não proveniente de uma rede geral; percentagem de domicílios não ligados à rede geral de esgotos; percentagem de chefes de família sem nenhuma renda ou com renda máxima de um salário mínimo/mês e percentagem de domicílios sem instalações sanitárias, observando-se, com relação a esta última variável, uma associação negativa, o que pode ser um artifício numérico ou ter outras explicações que discutimos no trabalho.

 

 

IGNOTTI, E., 1997. "Abandonos ou Abandonados?" A Hanseníase no Município de Duque de Caxias ­ Rio de Janeiro (Adauto José Gonçalves de Araújo, orientador; Vera Lúcia Gomes de Andrade, co-orientadora). Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 114 pp.

 

Este estudo foi desenvolvido no Município de Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro, que, segundo os parâmetros do Ministério da Saúde, é uma das áreas hiperendêmicas para a hanseníase e, nos últimos anos, vem apresentando um dos maiores índices de abandono do tratamento da doença no Estado. Teve por objetivo analisar os aspectos determinantes do abandono do tratamento da hanseníase numa perspectiva epidemiológica, com a sistematização dos registros do prontuário que puderam ser categorizados. Dos 855 casos notificados entre 1995 e 1997, fez-se a construção de coortes administrativas com 483 pacientes, 160 casos multibacilares e 323 paucibacilares. Destes, 73 casos foram registrados como abandono de tratamento. Verificou-se que, em relação aos casos paucibacilares, os multibacilares têm o dobro de chance de abandonar o tratamento ­ RPC = 2,07 (1,21 - 3,55) ­, aspecto especialmente relevante quando consideramos que estes casos apresentaram até cinco vezes mais incapacidades físicas que os primeiros. Por meio de análise espacial, observou-se que tanto a detecção, quanto o abandono do tratamento distribuem-se por toda área do município. Conclui-se que as taxas de abandono do tratamento estão superestimadas, quando avaliadas segundo o atual esquema terapêutico proposto para casos multibacilares. Além disso, levando-se em conta o índice de adesividade, tais casos não têm significado epidemiológico na manutenção da transmissão da hanseníase, visto que apenas 3,5% dos pacientes receberam doses insuficientes. Para um maior sucesso no controle da endemia, recomenda-se que as estratégias adotadas sejam voltadas para a detecção precoce de casos, o que terá influência na redução do abandono do tratamento.

 

 

ACURCIO, F. A., 1998. Acesso a Serviços e Resultados na Saúde de Indivíduos Infectados pelo HIV, em Belo Horizonte, MG, 1989-1994: Uma Abordagem Quantitativa e Qualitativa (Mark Drew Crosland Guimarães, orientador). Tese de Doutorado, Belo Horizonte: Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais. 323 pp.

 

Para analisar a relação entre acesso a serviços e evolução para Aids, foram revisados prontuários médicos de indivíduos HIV positivo admitidos em serviços de referência para Aids entre 1989 e 1992. Dos 758 pacientes sem a doença, 39,5% evoluíram para Aids (25,4/1000 pessoas-mês). Mediana de tempo livre de Aids: 32,4 meses. Características associadas com evolução para Aids na análise multivariada: número consultas/ano menor que 8,8 (RH = 0,36; IC 95% = 0,26 - 0,50); estadiamento inicial na categoria B [sintomáticos, não Aids] (RH = 4,83; IC 95% = 3,59 - 6,48); intervalos entre consultas acima de seis meses (RH = 0,37; IC 95% = 0,25 - 0,55); não utilização de AZT (RH = 1,91; IC 95% = 1,37 - 2,64); idade superior ou igual a trinta anos (RH = 1,37; IC 95% = 1,03 - 1,84). Entrevistas identificaram os principais problemas vivenciados pelos pacientes no processo de busca e obtenção da atenção à saúde. As conclusões foram: a) as abordagens quantitativa e qualitativa se complementaram; b) a maioria dos pacientes era de Belo Horizonte e se concentrava em locais com melhores índices de qualidade de vida urbana; c) os indivíduos com piores resultados na saúde tendiam a utilizar mais os serviços e os mais complexos; d) aqueles que não usaram AZT tiveram maior risco de adoecer; e) problemas revelaram situações de acentuada vulnerabilidade pessoal em seus aspectos sociais, econômicos, epidemiológicos, médico-assistenciais e de direitos humanos.

 

 

ARSEGO DE OLIVEIRA, F., 1998. Serviços de Saúde e seus Usuários: Comunicação entre Culturas em uma Unidade de Saúde Comunitária (Ondina Fachel Leal, orientadora). Dissertação de Mestrado, Porto Alegre: Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 206 pp.

 

Este trabalho é fruto de uma investigação que buscou elucidar a relação estabelecida entre os serviços de saúde e os seus usuários. Com esse objetivo, utilizou-se uma abordagem antropológica que teve como referência a experiência empírica ligada à Unidade Conceição do Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição, em Porto Alegre, RS. Funcionando nas dependências do Hospital Nossa Senhora da Conceição, a Unidade Conceição é um posto de saúde vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS), em que médicos gerais comunitários e outros profissionais vêm prestando atendimento de saúde, há cerca de 15 anos, aos moradores da sua vizinhança, calculados atualmente em mais de vinte mil pessoas. Tendo como pano de fundo as influências da cultura no comportamento humano e na prestação de atendimento de saúde, os desdobramentos principais da relação entre a Unidade e os seus usuários foram analisados sob diversos eixos: a história da Unidade, seus conflitos com a instituição e outras especialidades médicas; a relação da Unidade com a área geográfica sob sua responsabilidade; a questão da participação popular nos serviços de saúde, mais especificamente a experiência do seu Conselho Gestor Local e, por fim, a avaliação dos serviços de saúde, principalmente no que concerne à perspectiva dos pacientes. Sempre que possível, a análise feita procurou fazer uma ligação com as mudanças ocorridas no sistema de saúde brasileiro nos últimos anos. Resgatar os aspectos culturais como elemento essencial para o estabelecimento de uma comunicação efetiva entre os indivíduos e os serviços formais de saúde mostrou-se fundamental para permitir o aprofundamento desse tipo de análise e para qualificar as ações desenvolvidas pelos serviços de saúde.

 

 

LEITE, M. S., 1998. Avaliação do Estado Nutricional da População Xavánte de São José, Terra Indígena Sangradouro ­ Volta Grande, Mato Grosso (Ricardo Ventura Santos, orientador). Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 143 pp.

 

O presente estudo descreve o crescimento físico e a epidemiologia da anemia na população Xavánte da aldeia de São José, Terra Indígena (T.I.) Sangradouro ­ Volta Grande, Mato Grosso. Um inquérito antropométrico incluiu medidas de massa corporal, estatura (ou comprimento), circunferência braquial e dobra cutânea tricipital de 546 indivíduos de zero a noventa anos. A prevalência e a distribuição da anemia foram determinadas com base na dosagem de hemoglobina realizada em 238 indivíduos desta mesma população. Entre os adultos, já são comuns casos de obesidade, enquanto, entre as crianças, a desnutrição protéico-energética é um problema freqüente. De acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde, 31,7% dos menores de cinco anos apresentam baixa estatura para a idade e seriam, portanto, diagnosticados como desnutridos. Contudo, a comparação com a população brasileira revela, na população infantil, médias de estatura bastante próximas e mesmo superiores às brasileiras. Ao contrário das crianças, os adultos apresentam medidas de composição corporal geralmente superiores às medianas do NCHS, e 71,7% deles apresentam algum grau de sobrepeso. O grupo etário mais atingido pela anemia é o das crianças abaixo de dez anos, seguido pelas mulheres em idade reprodutiva, com prevalências de 73,8% e 29,4%, respectivamente. Entre os menores de dois anos, 96,8% foram diagnosticados como anêmicos. Fatores provavelmente ligados à etiologia da anemia em São José são as deficiências nutricionais, o enteroparasitismo e a hipoferremia decorrente de processos infecciosos. A comparação deste conjunto de dados com aqueles relativos a outra comunidade Xavánte (a de Pimentel Barbosa) revela uma situação mais precária em São José, onde registram-se maiores prevalências de sobrepeso e de anemia. É indiscutível que o quadro encontrado em São José inspira atenção, particularmente porque pode estar indicando tendências comuns a outras comunidades Xavánte. Estes resultados, no entanto, indicam que, também no que diz respeito aos perfis de saúde, estas comunidades não constituem um bloco homogêneo, o que demonstra que devem ser vistas com reserva eventuais extrapolações para o universo das T.I. Xavánte.

 

 

LIRA, M. M. T. A., 1998. Mortalidade Prematura no Município de São Paulo ­ Anos Potenciais de Vida Perdidos: 1980, 1985, 1990 e 1995 (Chester Luiz Galvão César, orientador). Dissertação de Mestrado, São Paulo: Departamento de Epidemiologia, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. 154 pp. Anexos.

 

Este estudo analisa a mortalidade prematura no Município de São Paulo nos anos de 1980, 1985, 1990 e 1995, utilizando como instrumento de medida o indicador Anos Potenciais de Vida Perdidos (APVP), entre as idades de um e setenta anos. Os resultados encontrados mostraram crescimento de 40,9% (296.240,6) dos APVPs, entre 1980 e 1995, com os homens respondendo por 92,9% desse aumento. Duas causas isoladas responderam por 88,2% do crescimento do total de APVP ­ homicídios e Aids ­, que, em 1995, representaram quase um terço das mortes prematuras no referido município. Os coeficientes de APVP apresentaram elevação de 19,9% entre 1980 e 1995. As principais causas de APVP entre os homens, em 1995, foram os homicídios, a Aids e os acidentes de trânsito. Entre as mulheres, a Aids veio em primeiro lugar, seguindo-se as doenças cerebrovasculares, pneumonias e doenças isquêmicas do coração. Analisando-se os diferenciais intra-urbanos dos APVPs entre áreas homogêneas do Município de São Paulo, segundo condições sócio-econômicas e ambientais, em 1995, as estimativas nos riscos de perdas de anos potenciais de vida foram maiores nas áreas com as piores condições. O uso do indicador APVP permitiu revelar a magnitude da mortalidade em idades jovens e identificar as principais causas de mortes prematuras no município em questão. A sua utilização pode ser útil para o monitoramento dessas mortes e, especialmente, para a definição das prioridades no setor da saúde, mostrando a importância da introdução de medidas que visem à prevenção da mortalidade prematura.

 

 

CHAVES, S. P., 1999. Crescimento e Concentração de Hemoglobina de Lactentes em Aleitamento Materno Exclusivo (Sophia Cornbluth Szarfarc, orientadora). Tese de Doutorado, São Paulo: Departamento de Nutrição, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. 96 pp.

 

Objetivo: por serem reconhecidos os benefícios do aleitamento materno para a saúde da criança, realizou-se este estudo com o objetivo de avaliar o crescimento e a concentração de hemoglobina de crianças alimentadas exclusivamente ao seio até os seis meses. Métodos: estudaram-se quatro grupos de crianças com idades de zero, um, três e seis meses, nascidas no Hospital Guilherme Álvaro de Santos, São Paulo, e matriculadas no Centro de Lactação localizado neste hospital. Utilizou-se para o estudo do crescimento o indicador peso para a idade, tendo como referência o padrão do NCHS e os padrões desenvolvidos com crianças amamentadas brasileiras e do WHO Working Group on Infant Growth. Para a avaliação da concentração de hemoglobina, utilizou-se a curva proposta por Brault-Dubuc e colaboradores, adotando-se 10,5 g/dl como o valor mínimo esperado para a hemoglobina. Resultados: as crianças apresentaram crescimento adequado quando comparadas com aquelas dos padrões utilizados. A curva de hemoglobina apresentou a mesma tendência da curva usada como padrão, porém os níveis de hemoglobina das crianças estudadas foram mais baixos. O percentual de crianças com níveis de concentração de hemoglobina abaixo de 10,5 g/dl foi de 71,7% aos três meses e de 56,2% aos seis. Nenhuma correlação foi encontrada entre o crescimento e os níveis de hemoglobina. Conclusões: as crianças alimentadas exclusivamente com o leite materno durante o primeiro semestre de vida apresentaram crescimento adequado. Entretanto, aos seis meses encontrou-se elevado número de crianças anêmicas.

 

 

PINTO, A. L., 1999. Estudo de Lesões Traumáticas Agudas como Indicadores de Tensão Social na População do Sítio-Cemitério Solcor-3, San Pedro de Atacama, Chile (Sheila Maria Ferraz Mendonça de Souza, orientadora). Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 85 pp.

 

Nos últimos anos, as pesquisas antropológicas e paleopatológicas têm dado ênfase aos estudos sobre trauma e violência física na pré-história. A idéia de sociedades pretéritas saudáveis e pacíficas vivendo em equilíbrio tem mudado em razão das evidências paleopatológicas. Nesta dissertação foram estudadas duas séries esqueletais, pré-Tiwanaku (pré-Tw) e Tiwanaku (Tw), pertencentes ao cemitério Solcor-3, San Pedro de Atacama, Chile. Elas pertencem a dois períodos culturais distintos e subseqüentes, um deles anterior e o outro contemporâneo à influência de Tiwanaku no oásis atacamenho. O objetivo desta pesquisa foi testar a hipótese de que houve um aumento de tensão social por causa das mudanças ocorridas a partir da influência ideológica e econômica de Tiwanaku sobre os povos do deserto. Foi observada uma alta prevalência de traumas agudos durante o período Tiwanaku (35% Tw; 13,3% pré-Tw), principalmente na forma de fraturas em depressão no crânio e lesões provocadas pela penetração de pontas de projétil, especialmente entre os homens na faixa etária de vinte a trinta anos (75%), o que confirma a hipótese em questão. O alto nível de tensão social, expressado nas lesões traumáticas agudas observadas em Solcor-3, provavelmente pode ser explicado em virtude das mudanças ocorridas naquele período, percebidas através do incremento do uso de narcóticos, de uma maior afluência de bens de status e de uma crescente hierarquização na estratificação social atacamenha.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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