Hesitação vacinal contra a COVID-19 na América Latina e África: uma revisão de escopo

La indecisión a las vacunas contra COVID-19 en América Latina y África: una revisión de alcance

Bruna Aparecida Gonçalves Camila Carvalho de Souza Amorim Matos Jonathan Vicente dos Santos Ferreira Renata Fortes Itagyba Vinicius Rocha Moço Marcia Thereza Couto Sobre os autores

Resumo:

A vacinação tem papel relevante para conter os avanços da pandemia de COVID-19. No entanto, a hesitação vacinal com os imunizantes que agem contra o SARS-CoV-2 tem causado preocupação em âmbito global. Esta revisão de escopo tem como objetivo mapear a literatura científica sobre a hesitação vacinal contra a COVID-19 na América Latina e África sob uma perspectiva da Saúde Global, observando as particularidades do Sul Global e o uso de parâmetros validados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O relato da revisão segue as recomendações do protocolo PRISMA para Revisões de Escopo (PRISMA-ScR). O levantamento foi realizado nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), selecionando estudos publicados entre 1º de janeiro de 2020 e 22 de janeiro de 2022, os quais indicam que a hesitação vacinal contra a COVID-19 envolve fatores como o cenário político, a disseminação de desinformação, diferenças regionais referentes ao acesso à Internet, falta de acesso à informação, o histórico de resistência à vacinação, falta de informações sobre a doença e a vacina, preocupação com eventos adversos, eficácia e segurança dos imunizantes. Quanto ao uso dos referenciais conceituais e metodológicos da OMS sobre hesitação vacinal, poucos estudos (apenas 6 de 94) utilizam instrumentos de pesquisa baseado neles. Desta forma, a replicação de parâmetros conceituais e metodológicos elaborados por expertises do Norte Global em contextos do Sul Global tem sido criticada pela perspectiva da Saúde Global, em decorrência da possibilidade de não considerar as especificidades políticas e socioculturais, as diferentes nuances de hesitação vacinal e questões de acesso às vacinas.

Palavras-chave:
Hesitação Vacinal; Vacinas Contra COVID-19; Saúde Global

Resumen:

La vacunación tiene un papel relevante para frenar los avances de la pandemia de COVID-19. Sin embargo, la indecisión a las vacunas contra el SARS-CoV-2 ha causado preocupación a nivel global. Esta revisión de alcance tiene como objetivo mapear la literatura científica sobre la indecisión a las vacunas contra COVID-19 en América Latina y África desde una perspectiva de la Salud Global, observando las particularidades del Sur Global y el uso de parámetros validados por la Organización Mundial de la Salud (OMS). El informe de la revisión sigue las recomendaciones del protocolo PRISMA para Revisiones de Alcance (PRISMA-ScR). La encuesta se realizó en las bases de datos PubMed, Scopus, Web of Science e Biblioteca Virtual en Salud (BVS), seleccionando los estudios publicados entre 1º de enero de 2020 y 22 de enero de 2022. Los estudios seleccionados indican que la indecisión a las vacunas de COVID-19 involucra factores como el escenario político, la diseminación de desinformación, las diferencias regionales de cada territorio referente al acceso a Internet, la falta de acceso a la información, el historial de resistencia a la vacunación, la falta de informaciones sobre la enfermedad y la vacuna, la preocupación por los eventos adversos, la eficacia y la seguridad de los inmunizantes. En cuanto al uso de los referenciales conceptuales y metodológicos de la Organización Mundial de la Salud (OMS) sobre la indecisión a las vacunas, pocos estudios (6/94) utilizan instrumentos de investigación basados en esos referenciales. Así, la replicación de parámetros conceptuales y metodológicos elaborados por expertos del Norte Global en contextos del Sur Global ha sido criticada por la perspectiva de la Salud Global, por la posibilidad de no considerar las especificidades políticas y socioculturales, los diferentes matices de la indecisión a las vacunas y cuestiones de acceso a las vacunas.

Palabras-clave:
Vacilación a la Vacunación; Vacunas Contra la COVID-19; Salud Global

Introdução

A pandemia de COVID-19 tem exacerbado um cenário de Saúde Global complexo em decorrência da interação entre o SARS-CoV-2 e doenças não transmissíveis, problemas de acesso e funcionamento de serviços de saúde, desigualdade socioeconômica e falta de direitos sociais, acarretando a referência ao fenômeno como uma sindemia 11. Horton R. Offline: COVID-19 is not a pandemic. Lancet 2020; 396:874..

Somadas às medidas sanitárias, como o distanciamento físico e de higiene, a vacinação contra a COVID-19 contribuiu fortemente para impedir o avanço da epidemia 22. Lurie N, Saville M, Hatchett R, Halton J. Developing Covid-19 vaccines at pandemic speed. N Engl J Med 2020; 382:1969-73.. O sucesso da vacinação depende diretamente da ampla aceitação dessa estratégia pela população, e sua efetividade depende de sua adoção sustentada, necessária para manter o efeito de imunidade de rebanho e bloquear a circulação do agente infeccioso 33. Streefland P, Chowdhury AM, Ramos-Jimenez P. Patterns of vaccination acceptance. Soc Sci Med 1999; 49:1705-16.. Apesar do conhecimento legitimado pela ciência acerca da efetividade e dos êxitos da prática de imunização em massa, as reações sociais contrárias às vacinas acompanham a própria história da imunização, gerando desafios à Saúde Pública 44. Plotkin SA, Orenstein WA, Offit PA, Edwards KM, editors. Plotkin's vaccines. 7th Ed. Philadelphia: Elsevier; 2017..

Tendo em vista a importância de compreender e implementar ações em relação ao fenômeno, o grupo de trabalho em hesitação vacinal SAGE (Strategic Advisory Group of Experts on Immunization), da Organização Mundial da Saúde (OMS), definiu este conceito como o “atraso na aceitação ou recusa de vacinas, apesar da disponibilidade de serviços de vacinação5 (p. 7). Esta definição exclui as questões de acesso 55. World Health Organization. Report of the SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. Geneva: World Health Organization; 2014.,66. World Health Organization. Appendices to Report of the SAGE working group on vaccine hesitancy. Geneva: World Health Organization; 2014., pois “em situações de baixa aceitação, onde a falta de serviços disponíveis é o principal fator, a hesitação pode estar presente, mas não é a principal razão para membros da comunidade não vacinados ou subvacinados55. World Health Organization. Report of the SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. Geneva: World Health Organization; 2014. (p. 7).

O Grupo de Trabalho em Comunicações de Vacinas (Vaccine Communications Working Group) da OMS Europa propôs o modelo dos 3C’s: complacência, confiança e conveniência, baseado na experiência europeia na abordagem da hesitação vacinal. Posteriormente, o modelo foi reformulado para a escala 5C’s, que, além dos três determinantes da hesitação presentes na sigla anterior, também inclui “cálculo de risco” e “responsabilidade coletiva” 77. Betsch C, Schmid P, Heinemeier D, Korn L, Holtmann C, Böhm R. Beyond confidence: development of a measure assessing the 5C psychological antecedents of vaccination. PLoS One 2018; 13:e0208601.. A Matriz de Determinantes de Hesitação em Vacinas foi elaborada visando orientar o desenvolvimento de indicadores de hesitação vacinal, questões de pesquisa, diagnóstico e intervenção 55. World Health Organization. Report of the SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. Geneva: World Health Organization; 2014.,66. World Health Organization. Appendices to Report of the SAGE working group on vaccine hesitancy. Geneva: World Health Organization; 2014.,88. MacDonald NE. Vaccine hesitancy: definition, scope and determinants. Vaccine 2015; 33:4161-4.. Os determinantes são agrupados nas seguintes categorias: influências contextuais, individuais e grupais/vacinas específicas 55. World Health Organization. Report of the SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. Geneva: World Health Organization; 2014.,66. World Health Organization. Appendices to Report of the SAGE working group on vaccine hesitancy. Geneva: World Health Organization; 2014.,88. MacDonald NE. Vaccine hesitancy: definition, scope and determinants. Vaccine 2015; 33:4161-4.. Não se sabe se esta matriz foi elaborada a partir das experiências e dos aspectos do Norte e Sul Globais 99. Matos CCSA, Gonçalves BA, Couto MT. Vaccine hesitancy in the global south: towards a critical perspective on global health. Glob Public Health 2022; 17:1087-98.. No entanto, a ela tem sido indicada para utilização em estudos em nível global, incluindo aqueles realizados no Sul Global.

Mais recentemente, o Grupo de Trabalho em Impulsionadores Comportamentais e Sociais da Vacinação (BeSD - Behavioural and Social Drivers of Vaccination), também vinculado à OMS, desenvolveu outra ferramenta para compreender os motores e obstáculos para a aceitação das vacinas. O extenso documento, intitulado Impulsionadores Comportamentais e Sociais da Vacinação: Ferramentas e Orientações Práticas para Alcançar uma Alta Aceitação (Behavioural and Social Drivers of Vaccination: Tools and Practical Guidance for Achieving High Uptake) 1010. World Health Organization. Behavioural and social drivers of vaccination: tools and practical guidance for achieving high uptake. Geneva: World Health Organization; 2022., contém surveys para investigar determinantes da hesitação vacinal, tanto infantil quanto especificamente às vacinas contra a COVID-19.

Neste último caso, estudos realizados em países africanos e latino-americanos apontaram que a hesitação estava ligada às crenças religiosas, associação entre vacinação e vigilância de autoridades governamentais, falta de informações sobre eventos adversos, segurança e eficácia das vacinas, e veiculação de fake news1111. Acheampong T, Akorsikumah EA, Osae-Kwapong J, Khalid M, Appiah A, Amuasi JH. Examining vaccine hesitancy in Sub-Saharan Africa: a survey of the knowledge and attitudes among adults to receive COVID-19 vaccines in Ghana. Vaccines (Basel) 2021; 9:814.,1212. Dzinamarira T, Nachipo B, Phiri B, Musuka G. COVID-19 vaccine roll-out in South Africa and Zimbabwe: urgent need to address community preparedness, fears and hesitancy. Vaccines (Basel) 2021; 9:250.,1313. Lima-Costa MF, Macinko J, Mambrini JVM. Hesitação vacinal contra a COVID-19 em amostra nacional de idosos brasileiros: iniciativa ELSI-COVID, março de 2021. Epidemiol Serv Saúde 2022; 31:e2021469.,1414. Jaramillo-Monge J, Obimpeh M, Vega B, Acurio D, Boven A, Verhoeven V, et al. COVID-19 vaccine acceptance in Azuay Province, Ecuador: a cross-sectional online survey. Vaccines (Basel) 2021; 9:678.,1515. Rodriguez M, López-Cepero A, Ortiz-Martínez AP, Fernández-Repollet E, Pérez CM. Influence of health beliefs on COVID-19 vaccination among individuals with cancer and other comorbidities in Puerto Rico. Vaccines (Basel) 2021; 9:994..

Revisões de escopo anteriores buscaram mapear a hesitação vacinal contra a COVID-19 no mundo 1616. Biswas MR, Alzubaidi MS, Shah U, Abd-Alrazaq AA, Shah Z. A scoping review to find out worldwide COVID-19 vaccine hesitancy and its underlying determinants. Vaccines (Basel) 2021; 9:1243. e em países de alta renda 1717. Aw J, Seng JJ, Seah SS, Low LL. COVID-19 vaccine hesitancy: a scoping review of literature in high-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:900.. Os resultados mostraram os seguintes aspectos 1616. Biswas MR, Alzubaidi MS, Shah U, Abd-Alrazaq AA, Shah Z. A scoping review to find out worldwide COVID-19 vaccine hesitancy and its underlying determinants. Vaccines (Basel) 2021; 9:1243.,1717. Aw J, Seng JJ, Seah SS, Low LL. COVID-19 vaccine hesitancy: a scoping review of literature in high-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:900.: preocupação com segurança; eficácia das vacinas; eventos adversos; percepção de risco baixo em relação à infecção pela COVID-19; crenças religiosas; custo da vacina; o rápido desenvolvimento dos imunizantes; desconfiança no governo e autoridades de saúde; disseminação de informações falsas; falta de informações claras sobre as vacinas; racismo e discriminação; e preferência por tratamentos alternativos ao paradigma biomédico.

No entanto, a estratégia metodológica de ambos estudos incluiu apenas publicações em inglês 1616. Biswas MR, Alzubaidi MS, Shah U, Abd-Alrazaq AA, Shah Z. A scoping review to find out worldwide COVID-19 vaccine hesitancy and its underlying determinants. Vaccines (Basel) 2021; 9:1243.,1717. Aw J, Seng JJ, Seah SS, Low LL. COVID-19 vaccine hesitancy: a scoping review of literature in high-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:900.. Além disso, as revisões não analisaram o uso de ferramentas conceituais e metodológicas produzidas pelo Norte Global em países do Sul Global. Desta forma, a presente revisão realizou uma análise reflexiva sobre as realidades dos contextos locais do Sul Global, atentando-se para a maneira como os frameworks propostos pelo SAGE/OMS foram utilizados a partir de uma perspectiva da Saúde Global, a fim de compreender o fenômeno da hesitação vacinal relacionado às vacinas contra a COVID-19 e para as políticas de saúde 1818. Montenegro CR, Bernales M, Gonzalez-Aguero M. Teaching global health from the south: challenges and proposals. Crit Public Health 2020; 30:127-9.,1919. Guzman-Holst A, DeAntonio R, Prado-Cohrs D, Juliao P. Barriers to vaccination in Latin America: a systematic literature review. Vaccine 2020; 38:470-81.,2020. Madhi SA, Rees H. Special focus on challenges and opportunities for the development and use of vaccines in Africa. Hum Vaccin Immunother 2018; 14:2335-9..

Nesse sentido, esta revisão de escopo pretende trazer contribuições originais sobre as especificidades e particularidades de aspectos sociais, culturais e locais da hesitação vacinal contra a COVID-19 em países da América Latina e África, a partir de uma perspectiva crítica da Saúde Global 2121. Biehl J, Petryna A. When people come first: critical studies in global health. Princeton: Princeton University Press; 2013. que considere as relações de poder, autoridade, inclusão e exclusão que permeiam o campo científico, governos e instituições de saúde do Norte e Sul Globais. Essa perspectiva se volta para as desigualdades entre atores que projetam e atores que recebem intervenções globais de saúde, de modo a compreender a reprodução da dicotomia entre “Ocidente e o resto” 1818. Montenegro CR, Bernales M, Gonzalez-Aguero M. Teaching global health from the south: challenges and proposals. Crit Public Health 2020; 30:127-9..

A hesitação vacinal no Sul Global deve ser entendida de acordo com a complexidade das diferenças culturais, sociais, étnicas e regionais 99. Matos CCSA, Gonçalves BA, Couto MT. Vaccine hesitancy in the global south: towards a critical perspective on global health. Glob Public Health 2022; 17:1087-98., incluindo as vacinas contra a COVID-19. Deste modo, este estudo pretende identificar, mapear e sistematizar as evidências científicas disponíveis acerca da hesitação vacinal contra a COVID-19 em países latino-americanos e africanos.

Metodologia

A revisão de escopo busca a compreensão de questões mais amplas, com o objetivo de sintetizar evidências e mapear a literatura sobre uma área de conhecimento que ainda não foi revisada de maneira abrangente ou possui natureza complexa e heterogênea 2222. Peters MDJ, Godfrey CM, Khalil H, McInerney P, Parker D, Soares CB. Guidance for conducting systematic scoping reviews. Int J Evid Based Healthc 2015; 13:141-6.,2323. Tricco AC, Lillie E, Zarin W, O’Brien KK, Colquhoun H, Levac D, et al. PRISMA Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR): checklist and explanation. Ann Intern Med 2018; 169:467-73.. Este estudo foi elaborado a partir da seguinte questão: Como a literatura científica tem abordado a hesitação vacinal contra a COVID-19 em países da América Latina e África?

O relato da revisão de escopo foi estruturado conforme os itens do checklist PRISMA para Revisões de Escopo (PRISMA-ScR) 2222. Peters MDJ, Godfrey CM, Khalil H, McInerney P, Parker D, Soares CB. Guidance for conducting systematic scoping reviews. Int J Evid Based Healthc 2015; 13:141-6.,2323. Tricco AC, Lillie E, Zarin W, O’Brien KK, Colquhoun H, Levac D, et al. PRISMA Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR): checklist and explanation. Ann Intern Med 2018; 169:467-73.: título, resumo estruturado, introdução e objetivo, métodos (protocolo de revisão, critérios de elegibilidade, fontes de informação, busca, avaliação das fontes de evidência, organização e síntese dos resultados), resultados (seleção das evidências, suas características, avaliação, apresentação e síntese dos resultados), discussão de acordo com a perspectiva da saúde global crítica, limitações do estudo e considerações finais.

Foram incluídos estudos publicados em inglês, português e espanhol a partir de 1º de janeiro de 2020, quando a COVID-19 foi considerada Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional pela OMS, até 22 de janeiro de 2022. A busca foi realizada nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Os critérios de elegibilidade incluem estudos empíricos completos, qualitativos, quantitativos, métodos mistos que incluam a hesitação das vacinas contra a COVID-19 explicitamente e implicitamente em seus resultados, podendo trazer resultados de aceitação ou não, realizados em qualquer população em países da América Latina e África, sem recorte de faixa etária, gênero e outros critérios de diferenciação social. Não foram incluídas publicações do tipo comentário, editorial, estudos sobre desenvolvimento de vacinas contra a COVID-19, revisões, estudos que não abrangessem países da África ou América Latina e os estudos que não incluíssem achados sobre a hesitação vacinal contra a COVID-19 em seus resultados e discussão.

As buscas nas bases de dados foram realizadas em janeiro de 2022 e as estratégias utilizadas incluíram descritores sobre “COVID-19”, “hesitação vacinal” e “países da América Latina e/ou África” (Material Suplementar: https://cadernos.ensp.fiocruz.br/static//arquivo/suppl-e00041423-pt_8289.pdf). Os resultados das buscas foram exportados para o gerenciador de referências bibliográficas EndNote (https://endnote.com/), e os artigos duplicados foram excluídos. Após essa etapa, a autora principal realizou a leitura de títulos e resumos de todos os artigos visando à exclusão dos que não correspondiam aos critérios de elegibilidade. Nos casos em que houve dúvidas, um segundo revisor fez a arbitragem, por meio da leitura de título e resumo e, caso as dúvidas persistissem, da leitura do artigo completo.

Três eixos nortearam a extração das informações na fase de leitura completa dos artigos, as quais foram inseridas em uma planilha do Microsoft Excel (https://products.office.com): (1) Caracterização geral dos estudos, incluindo autoria, ano de publicação, periódico, país de afiliação e instituição do autor de correspondência, aspectos metodológicos (país onde foi realizada a investigação, população estudada, objetivo e desenho do estudo); (2) Resultados dos estudos quanto à aceitação, hesitação e seus motivos; e (3) Informações sobre a referência (ou não) aos preceitos e referências metodológicas do SAGE/OMS, e as particularidades contexto-específicas do Sul Global relatadas neles. Posteriormente, foi realizada uma análise interpretativa desses achados a partir do referencial da perspectiva crítica em Saúde Global acerca da hesitação vacinal 1818. Montenegro CR, Bernales M, Gonzalez-Aguero M. Teaching global health from the south: challenges and proposals. Crit Public Health 2020; 30:127-9.,2121. Biehl J, Petryna A. When people come first: critical studies in global health. Princeton: Princeton University Press; 2013..

Resultados

Características gerais dos estudos

Considerando as etapas de busca e seleção dos estudos, 94 artigos foram incluídos nesta revisão. A Figura 1 descreve em detalhes o fluxograma das etapas de busca e seleção dos estudos.

Figura 1
Fluxograma de identificação dos estudos incluídos na revisão.

Quanto à caracterização geral dos estudos, dado que a busca nas bases de dados foi realizada em janeiro de 2022, a concentração das publicações ocorreu em 2021 (89 estudos). A maioria deles foi realizada em países do continente africano (62), seguido de países latino-americanos (20), e, por fim, estudos multicêntricos (12). Sobre os países das instituições de filiação dos autores de correspondência, observa-se que, nos estudos realizados no continente africano, os países das universidades que mais se sobressaíram foram Etiópia (14), Nigéria (14), Gana (7), África do Sul (6) e Egito (6). Quanto aos estudos realizados na América Latina, instituições brasileiras foram as mais expressivas (6). Há, contudo, publicações cujos autores são vinculados a instituições dos Emirados Árabes Unidos (3) e França (2). Os estudos multicêntricos tiveram como autores de correspondência afiliados a instituições de países do Norte Global, com Estados Unidos (6), Bélgica (2) e Reino Unido (2). O Quadro 1 mostra os estudos selecionados.

Quadro 1
Estudos selecionados para a revisão de acordo com título, autoria, ano, local de estudo e instituição do autor de correspondência.

Em relação à metodologia empregada, a maioria corresponde a estudos quantitativos (85), seguido de estudos mistos (7), e, por fim, qualitativos (2). Quanto à população participante, a maioria das pesquisas abordou a população geral (45), seguido de profissionais de saúde (24), estudantes universitários (9), pessoas com comorbidades (8), estudantes e profissionais da área da saúde (2), funcionários e estudantes de universidade (1), pais e/ou cuidadores de crianças e/ou adolescentes (4), e população com mais de 50 anos (1).

Aceitação e hesitação vacinal contra a COVID-19 em perspectiva comparada

Quanto à caracterização dos resultados dos estudos segundo aceitação, hesitação e motivos, a maioria deles apresentou dados sobre a aceitação das vacinas contra a COVID-19 (88).

Um estudo realizado em todo o continente africano constatou que a aceitação da população foi de 63% 2424. Anjorin AAA, Odetokun IA, Abioye AI, Elnadi H, Umoren MV, Damaris BF, et al. Will Africans take COVID-19 vaccination? PLoS One 2021; 16:e0260575.; na Nigéria, os estudos verificaram que a maior aceitação foi de 88,5% 2525. Kanyanda S, Markhof Y, Wollburg P, Zezza A. Acceptance of COVID-19 vaccines in Sub-Saharan Africa: evidence from six national phone surveys. BMJ Open 2021; 11:e055159., e a menor 22,7% 2626. Adigwe OP. COVID-19 vaccine hesitancy and willingness to pay: emergent factors from a cross-sectional study in Nigeria. Vaccine X 2021; 9:100112.; já na África do Sul os estudos apontam variação de aceitação entre 81,6% 2727. Lazarus JV, Wyka K, Rauh L, Rabin K, Ratzan S, Gostin LO, et al. Hesitant or not? The association of age, gender, and education with potential acceptance of a COVID-19 vaccine: a country-level analysis. J Health Commun 2020; 25:799-807. e 55% 2828. Kollamparambil U, Oyenubi A, Nwosu C. COVID19 vaccine intentions in South Africa: health communication strategy to address vaccine hesitancy. BMC Public Health 2021; 21:2113.; no Egito, a maior aceitação foi 32,85% 2929. Elsayed M, El-Abasiri RA, Dardeer KT, Kamal MA, Htay MNN, Abler B, et al. Factors influencing decision making regarding the acceptance of the COVID-19 vaccination in Egypt: a cross-sectional study in an urban, well-educated sample. Vaccines (Basel) 2022; 10:20., e a menor 21% 3030. Fares S, Elmnyer MM, Mohamed SS, Elsayed R. COVID-19 vaccination perception and attitude among healthcare workers in Egypt. J Prim Care Community Health 2021; 12:21501327211013303.; na Etiópia, a maior aceitação foi 97,9% 2525. Kanyanda S, Markhof Y, Wollburg P, Zezza A. Acceptance of COVID-19 vaccines in Sub-Saharan Africa: evidence from six national phone surveys. BMJ Open 2021; 11:e055159., e a menor 45,5% 3131. Mesele M. COVID-19 vaccination acceptance and its associated factors in Sodo Town, Wolaita Zone, Southern Ethiopia: cross-sectional study. Infect Drug Resist 2021; 14:2361-7.; em Gana, a aceitação variou entre 64,72% 3232. Alhassan RK, Aberese-Ako M, Doegah PT, Immurana M, Dalaba MA, Manyeh AK, et al. COVID-19 vaccine hesitancy among the adult population in Ghana: evidence from a pre-vaccination rollout survey. Trop Med Health 2021; 49:96. e 35% 3333. Yeboah P, Daliri DB, Abdin AY, Appiah-Brempong E, Pitsch W, Panyin AB, et al. Knowledge into the practice against COVID-19: a cross-sectional study from Ghana. Int J Environ Res Public Health 2021; 18:12902.; na Líbia, ela variou de 79,6% a 41,2%, dependendo da eficácia da vacina 3434. Elhadi M, Alsoufi A, Alhadi A, Hmeida A, Alshareea E, Dokali M, et al. Knowledge, attitude, and acceptance of healthcare workers and the public regarding the COVID-19 vaccine: a cross-sectional study. BMC Public Health 2021; 21:955.; Moçambique teve 71,4% de aceitação 3535. Dula J, Mulhanga A, Nhanombe A, Cumbi L, Júnior A, Gwatsvaira J, et al. COVID-19 vaccine acceptability and its determinants in Mozambique: an online survey. Vaccines (Basel) 2021; 9:828.; em Burkina Faso, a aceitação foi 79,6% 2525. Kanyanda S, Markhof Y, Wollburg P, Zezza A. Acceptance of COVID-19 vaccines in Sub-Saharan Africa: evidence from six national phone surveys. BMJ Open 2021; 11:e055159.; na República Democrática do Congo, a maior e a menor aceitação foram 59,4% e 32,9% 3636. Bono SA, Villela EFM, Siau CS, Chen WS, Pengpid S, Hasan MT, et al. Factors affecting COVID-19 vaccine acceptance: an international survey among low- and middle-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:515.; na Somália, foi 76,8% 3737. Ahmed MAM, Colebunders R, Gele AA, Farah AA, Osman S, Guled IA, et al. COVID-19 vaccine acceptability and adherence to preventive measures in Somalia: results of an online survey. Vaccines (Basel) 2021; 9:543.; em Uganda, dependendo da eficácia da vacina, foi de 88,8% e 65,4% 3636. Bono SA, Villela EFM, Siau CS, Chen WS, Pengpid S, Hasan MT, et al. Factors affecting COVID-19 vaccine acceptance: an international survey among low- and middle-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:515.; a aceitação em Benim foi de 48,4% e 22,6%, também dependendo da eficácia vacinal 3636. Bono SA, Villela EFM, Siau CS, Chen WS, Pengpid S, Hasan MT, et al. Factors affecting COVID-19 vaccine acceptance: an international survey among low- and middle-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:515.; Malawi teve aceitação de 61,7% e 44,4%, novamente de acordo com a eficácia 3636. Bono SA, Villela EFM, Siau CS, Chen WS, Pengpid S, Hasan MT, et al. Factors affecting COVID-19 vaccine acceptance: an international survey among low- and middle-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:515.; em Mali, variou entre 74,5% e 45,5%, subordinada ao mesmo critério 3636. Bono SA, Villela EFM, Siau CS, Chen WS, Pengpid S, Hasan MT, et al. Factors affecting COVID-19 vaccine acceptance: an international survey among low- and middle-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:515..

Já em países da América Latina, no Brasil, a maior e menor aceitação foram 94,2% 3636. Bono SA, Villela EFM, Siau CS, Chen WS, Pengpid S, Hasan MT, et al. Factors affecting COVID-19 vaccine acceptance: an international survey among low- and middle-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:515. e 66% 3838. Ticona JPA, Nery N, Victoriano R, Fofana MO, Ribeiro GS, Giorgi E, et al. Willingness to get the COVID-19 vaccine among residents of slum settlements. Vaccines (Basel) 2021; 9:951.; no Equador, a aceitação da vacina variou entre 91% e 27%, dependendo da eficácia 1414. Jaramillo-Monge J, Obimpeh M, Vega B, Acurio D, Boven A, Verhoeven V, et al. COVID-19 vaccine acceptance in Azuay Province, Ecuador: a cross-sectional online survey. Vaccines (Basel) 2021; 9:678.; no Chile, a aceitação foi 49% 3939. Cerda AA, García LY. Hesitation and refusal factors in individuals' decision-making processes regarding a coronavirus disease 2019 vaccination. Front Public Health 2021; 9:626852.; a aceitação variou entre 71,56% e 57,23% na Colômbia 4040. Stojanovic J, Boucher VG, Gagne M, Gupta S, Joyal-Desmarais K, Paduano S, et al. Global trends and correlates of COVID-19 vaccination hesitancy: findings from the iCARE study. Vaccines (Basel) 2021; 9:661.; no Peru, a aceitação da vacina foi 70,4% 4141. Vizcardo D, Salvador LF, Nole-Vara A, Dávila KP, Alvarez-Risco A, Yáñez JA, et al. Sociodemographic predictors associated with the willingness to get vaccinated against COVID-19 in Peru: a cross-sectional survey. Vaccines (Basel) 2022; 10:48.; a Venezuela teve 71,25% de aceitação 4242. Andrade G. Covid-19 vaccine hesitancy, conspiracist beliefs, paranoid ideation and perceived ethnic discrimination in a sample of university students in Venezuela. Vaccine 2021; 39:6837-42.,4343. Andrade G. Predictive demographic factors of Covid-19 vaccine hesitancy in Venezuela: a cross-sectional study. Vacunas 2022; 23:S22-5..

Em relação à hesitação e recusa das vacinas de COVID-19 na África, na Nigéria, a maior hesitação foi 52,9% 2626. Adigwe OP. COVID-19 vaccine hesitancy and willingness to pay: emergent factors from a cross-sectional study in Nigeria. Vaccine X 2021; 9:100112., e a menor 25,5% 4444. Adebisi YA, Alaran AJ, Bolarinwa OA, Akande-Sholabi W, Lucero-Prisno DE. When it is available, will we take it? Social media users' perception of hypothetical COVID-19 vaccine in Nigeria. Pan Afr Med J 2021; 38:230.; na África do Sul, 29,16% 2828. Kollamparambil U, Oyenubi A, Nwosu C. COVID19 vaccine intentions in South Africa: health communication strategy to address vaccine hesitancy. BMC Public Health 2021; 21:2113. hesitaram; no Egito, a maior hesitação foi de 67,15% 2929. Elsayed M, El-Abasiri RA, Dardeer KT, Kamal MA, Htay MNN, Abler B, et al. Factors influencing decision making regarding the acceptance of the COVID-19 vaccination in Egypt: a cross-sectional study in an urban, well-educated sample. Vaccines (Basel) 2022; 10:20., e a menor 28% 3030. Fares S, Elmnyer MM, Mohamed SS, Elsayed R. COVID-19 vaccination perception and attitude among healthcare workers in Egypt. J Prim Care Community Health 2021; 12:21501327211013303.; na Etiópia, a maior hesitação foi de 54,5% 3131. Mesele M. COVID-19 vaccination acceptance and its associated factors in Sodo Town, Wolaita Zone, Southern Ethiopia: cross-sectional study. Infect Drug Resist 2021; 14:2361-7., e a menor 6,61% 4545. Oyekale AS. Willingness to take COVID-19 vaccines in Ethiopia: an instrumental variable probit approach. Int J Environ Res Public Health 2021; 18:8892.,4646. Oyekale AS. Compliance indicators of COVID-19 prevention and vaccines hesitancy in Kenya: a random-effects endogenous probit model. Vaccines (Basel) 2021; 9:1359.; Burkina Faso teve 53,7% de recusa 2525. Kanyanda S, Markhof Y, Wollburg P, Zezza A. Acceptance of COVID-19 vaccines in Sub-Saharan Africa: evidence from six national phone surveys. BMJ Open 2021; 11:e055159.; em Gana, a maior recusa foi 35,28% 3232. Alhassan RK, Aberese-Ako M, Doegah PT, Immurana M, Dalaba MA, Manyeh AK, et al. COVID-19 vaccine hesitancy among the adult population in Ghana: evidence from a pre-vaccination rollout survey. Trop Med Health 2021; 49:96., e a menor 21% 1111. Acheampong T, Akorsikumah EA, Osae-Kwapong J, Khalid M, Appiah A, Amuasi JH. Examining vaccine hesitancy in Sub-Saharan Africa: a survey of the knowledge and attitudes among adults to receive COVID-19 vaccines in Ghana. Vaccines (Basel) 2021; 9:814.; na Líbia, a recusa variou entre 58,8% e 20,4%, dependendo da eficácia da vacina 3434. Elhadi M, Alsoufi A, Alhadi A, Hmeida A, Alshareea E, Dokali M, et al. Knowledge, attitude, and acceptance of healthcare workers and the public regarding the COVID-19 vaccine: a cross-sectional study. BMC Public Health 2021; 21:955.; Moçambique teve recusa de 28,6% 3535. Dula J, Mulhanga A, Nhanombe A, Cumbi L, Júnior A, Gwatsvaira J, et al. COVID-19 vaccine acceptability and its determinants in Mozambique: an online survey. Vaccines (Basel) 2021; 9:828..

Nos países da América Latina, no Brasil, a maior hesitação vacinal foi de 26,1% 3838. Ticona JPA, Nery N, Victoriano R, Fofana MO, Ribeiro GS, Giorgi E, et al. Willingness to get the COVID-19 vaccine among residents of slum settlements. Vaccines (Basel) 2021; 9:951., e a menor 8,4% 4040. Stojanovic J, Boucher VG, Gagne M, Gupta S, Joyal-Desmarais K, Paduano S, et al. Global trends and correlates of COVID-19 vaccination hesitancy: findings from the iCARE study. Vaccines (Basel) 2021; 9:661.; no Equador, a hesitação variou entre 73% e 9%, dependendo da eficácia vacinal 1414. Jaramillo-Monge J, Obimpeh M, Vega B, Acurio D, Boven A, Verhoeven V, et al. COVID-19 vaccine acceptance in Azuay Province, Ecuador: a cross-sectional online survey. Vaccines (Basel) 2021; 9:678.; no Chile, 28% estavam indecisos 3939. Cerda AA, García LY. Hesitation and refusal factors in individuals' decision-making processes regarding a coronavirus disease 2019 vaccination. Front Public Health 2021; 9:626852., e 23% recusaram a vacina 3939. Cerda AA, García LY. Hesitation and refusal factors in individuals' decision-making processes regarding a coronavirus disease 2019 vaccination. Front Public Health 2021; 9:626852.; o Peru teve 10,1% de recusa e 19,5% de indecisão 4141. Vizcardo D, Salvador LF, Nole-Vara A, Dávila KP, Alvarez-Risco A, Yáñez JA, et al. Sociodemographic predictors associated with the willingness to get vaccinated against COVID-19 in Peru: a cross-sectional survey. Vaccines (Basel) 2022; 10:48.; na Venezuela, a hesitação vacinal foi de 28,75% 4343. Andrade G. Predictive demographic factors of Covid-19 vaccine hesitancy in Venezuela: a cross-sectional study. Vacunas 2022; 23:S22-5.. A Figura 2 apresenta um mapa com os maiores percentuais de hesitação das vacinas de COVID-19 nos estudos selecionados.

Figura 2
Maiores percentuais de hesitação vacinal contra a COVID-19 nos estudos em países africanos e latino-americanos segundo as nomenclaturas utilizadas pelos respectivos autores.

Os motivos para hesitação frente à vacinação de COVID-19 foram explorados em 84 dos 94 estudos (Quadro 2). Os demais não especificaram os motivos em seus resultados. As principais razões foram: a preocupação com possíveis eventos adversos (47,8%); falta de segurança das vacinas de COVID-19 (31,9%); incerteza sobre a eficácia da vacina contra a COVID-19 (34%); teorias conspiratórias (21,2%); falta de confiabilidade nos ensaios clínicos/rápido desenvolvimento das vacinas (15,9%); percepção de que o sistema imunológico poderia ser mais capaz de combater a COVID-19 do que a vacina (14,8%); crenças religiosas (10,6%); falta de informação sobre as vacinas (10,6%), risco de contrair COVID-19 considerado baixo (7,4%); ser contra as vacinas em geral (6,3%); custo da vacina (6,3%); liberdade de escolha (2,1%).

Quadro 2
Principais fatores associados à hesitação vacinal contra a COVID-19, segundo continente e estudos.

Especificidades da hesitação vacinal no Sul Global

Apesar de a maioria dos estudos focarem em dados quantitativos, algumas publicações trazem especificidades do contexto Sul Global em relação à hesitação vacinal, seja em dimensões sociais, culturais, políticas ou econômicas.

Nos estudos de Andrade 4242. Andrade G. Covid-19 vaccine hesitancy, conspiracist beliefs, paranoid ideation and perceived ethnic discrimination in a sample of university students in Venezuela. Vaccine 2021; 39:6837-42.,4343. Andrade G. Predictive demographic factors of Covid-19 vaccine hesitancy in Venezuela: a cross-sectional study. Vacunas 2022; 23:S22-5., fatores religiosos influenciaram na hesitação vacinal no contexto venezuelano. Por causa da instabilidade política do país, a crença em teorias conspiratórias tem aumentado. Além disso, os participantes não religiosos estavam mais dispostos a receberem a vacina de COVID-19 do que os participantes católicos e protestantes, sendo os pentecostais venezuelanos o grupo religioso mais hesitante em relação às vacinas.

Quanto aos fatores políticos, estudos realizados no Brasil e na Venezuela mencionaram a postura contrária à vacina de seus respectivos presidentes, Jair Bolsonaro e Nicolás Maduro 4242. Andrade G. Covid-19 vaccine hesitancy, conspiracist beliefs, paranoid ideation and perceived ethnic discrimination in a sample of university students in Venezuela. Vaccine 2021; 39:6837-42.,4343. Andrade G. Predictive demographic factors of Covid-19 vaccine hesitancy in Venezuela: a cross-sectional study. Vacunas 2022; 23:S22-5.,4747. Chaves IES, Brito PRP, de Araújo Rodrigues JGB, Costa MS, Cândido EL, Moreira MRC. Hesitation regarding the COVID-19 vaccine among medical students in Brazil. Rev Assoc Med Bras 2021; 67:1397-402.,4848. Gramacho WG, Turgeon M. When politics collides with public health: COVID-19 vaccine country of origin and vaccination acceptance in Brazil. Vaccine 2021; 39:2608-12.,4949. Paschoalotto MAC, Costa EPPA, De Almeida SV, Cima J, da Costa JG, Santos JV, et al. Running away from the jab: factors associated with COVID-19 vaccine hesitancy in Brazil. Rev Saúde Pública 2021; 55:97.. Maduro questionou a segurança da vacina AstraZeneca, e chegou a recusar sua compra pelo fato de seu governo não ser reconhecido por muitas nações 4242. Andrade G. Covid-19 vaccine hesitancy, conspiracist beliefs, paranoid ideation and perceived ethnic discrimination in a sample of university students in Venezuela. Vaccine 2021; 39:6837-42.,4343. Andrade G. Predictive demographic factors of Covid-19 vaccine hesitancy in Venezuela: a cross-sectional study. Vacunas 2022; 23:S22-5.. No Brasil, parte de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro rejeitavam a vacina de COVID-19, considerando o discurso do chefe de Estado em relação à vacina como escolha individual e a crítica à vacina Sinovac-CoronaVac, produzida na China 4747. Chaves IES, Brito PRP, de Araújo Rodrigues JGB, Costa MS, Cândido EL, Moreira MRC. Hesitation regarding the COVID-19 vaccine among medical students in Brazil. Rev Assoc Med Bras 2021; 67:1397-402.,4848. Gramacho WG, Turgeon M. When politics collides with public health: COVID-19 vaccine country of origin and vaccination acceptance in Brazil. Vaccine 2021; 39:2608-12.,4949. Paschoalotto MAC, Costa EPPA, De Almeida SV, Cima J, da Costa JG, Santos JV, et al. Running away from the jab: factors associated with COVID-19 vaccine hesitancy in Brazil. Rev Saúde Pública 2021; 55:97.. A percepção negativa do enfrentamento da COVID-19 e a oposição política em relação ao Governo Federal esteve associada à intenção de ser vacinado 4949. Paschoalotto MAC, Costa EPPA, De Almeida SV, Cima J, da Costa JG, Santos JV, et al. Running away from the jab: factors associated with COVID-19 vaccine hesitancy in Brazil. Rev Saúde Pública 2021; 55:97., além do contexto político de atraso na compra e disponibilização das vacinas contra o coronavírus e os embates políticos entre governos federal e estaduais 4747. Chaves IES, Brito PRP, de Araújo Rodrigues JGB, Costa MS, Cândido EL, Moreira MRC. Hesitation regarding the COVID-19 vaccine among medical students in Brazil. Rev Assoc Med Bras 2021; 67:1397-402.,4949. Paschoalotto MAC, Costa EPPA, De Almeida SV, Cima J, da Costa JG, Santos JV, et al. Running away from the jab: factors associated with COVID-19 vaccine hesitancy in Brazil. Rev Saúde Pública 2021; 55:97..

As categorias raça e etnia influenciaram na hesitação vacinal: na Venezuela, as minorias étnicas marginalizadas foram mais propensas a apresentarem este comportamento 4242. Andrade G. Covid-19 vaccine hesitancy, conspiracist beliefs, paranoid ideation and perceived ethnic discrimination in a sample of university students in Venezuela. Vaccine 2021; 39:6837-42.,4343. Andrade G. Predictive demographic factors of Covid-19 vaccine hesitancy in Venezuela: a cross-sectional study. Vacunas 2022; 23:S22-5.; na África do Sul, a população preta apresentou menor hesitação vacinal (26%) 2828. Kollamparambil U, Oyenubi A, Nwosu C. COVID19 vaccine intentions in South Africa: health communication strategy to address vaccine hesitancy. BMC Public Health 2021; 21:2113..

No que se refere às diferenças na hesitação vacinal entre áreas urbanas e rurais, achados de estudos realizados em Zâmbia, África do Sul, República Democrática do Congo e Gana apontaram que a hesitação vacinal foi maior em áreas urbanas que possuem mais acesso à Internet e, consequentemente, às mídias sociais e desinformação sobre as vacinas de COVID-19 do que em áreas rurais 2828. Kollamparambil U, Oyenubi A, Nwosu C. COVID19 vaccine intentions in South Africa: health communication strategy to address vaccine hesitancy. BMC Public Health 2021; 21:2113.,3232. Alhassan RK, Aberese-Ako M, Doegah PT, Immurana M, Dalaba MA, Manyeh AK, et al. COVID-19 vaccine hesitancy among the adult population in Ghana: evidence from a pre-vaccination rollout survey. Trop Med Health 2021; 49:96.,5050. Carcelen AC, Prosperi C, Mutembo S, Chongwe G, Mwansa FD, Ndubani P, et al. COVID-19 vaccine hesitancy in Zambia: a glimpse at the possible challenges ahead for COVID-19 vaccination rollout in sub-Saharan Africa. Hum Vaccin Immunother 2022; 18:1-6.,5151. Ditekemena JD, Nkamba DM, Mutwadi A, Mavoko HM, Fodjo JNS, Luhata C, et al. COVID-19 vaccine acceptance in the Democratic Republic of Congo: a cross-sectional survey. Vaccines (Basel) 2021; 9:153.. Na Nigéria, a população do sul do país estava mais propensa a se vacinar, enquanto a do norte estava mais inclinada à recusa 2424. Anjorin AAA, Odetokun IA, Abioye AI, Elnadi H, Umoren MV, Damaris BF, et al. Will Africans take COVID-19 vaccination? PLoS One 2021; 16:e0260575.. Assim, as estratégias para reduzir a hesitação vacinal devem considerar aspectos regionais de cada território do continente africano 2424. Anjorin AAA, Odetokun IA, Abioye AI, Elnadi H, Umoren MV, Damaris BF, et al. Will Africans take COVID-19 vaccination? PLoS One 2021; 16:e0260575.. No contexto latino-americano, no Peru e no Brasil, a intenção de se vacinar era menor em locais de maior desigualdade social 3838. Ticona JPA, Nery N, Victoriano R, Fofana MO, Ribeiro GS, Giorgi E, et al. Willingness to get the COVID-19 vaccine among residents of slum settlements. Vaccines (Basel) 2021; 9:951.,4141. Vizcardo D, Salvador LF, Nole-Vara A, Dávila KP, Alvarez-Risco A, Yáñez JA, et al. Sociodemographic predictors associated with the willingness to get vaccinated against COVID-19 in Peru: a cross-sectional survey. Vaccines (Basel) 2022; 10:48..

Alguns estudos epidemiológicos revelaram que as mulheres eram mais propensas a hesitarem sobre a vacinação de COVID-19 nos países africanos 2424. Anjorin AAA, Odetokun IA, Abioye AI, Elnadi H, Umoren MV, Damaris BF, et al. Will Africans take COVID-19 vaccination? PLoS One 2021; 16:e0260575.,2525. Kanyanda S, Markhof Y, Wollburg P, Zezza A. Acceptance of COVID-19 vaccines in Sub-Saharan Africa: evidence from six national phone surveys. BMJ Open 2021; 11:e055159.,2828. Kollamparambil U, Oyenubi A, Nwosu C. COVID19 vaccine intentions in South Africa: health communication strategy to address vaccine hesitancy. BMC Public Health 2021; 21:2113.,3232. Alhassan RK, Aberese-Ako M, Doegah PT, Immurana M, Dalaba MA, Manyeh AK, et al. COVID-19 vaccine hesitancy among the adult population in Ghana: evidence from a pre-vaccination rollout survey. Trop Med Health 2021; 49:96.,3636. Bono SA, Villela EFM, Siau CS, Chen WS, Pengpid S, Hasan MT, et al. Factors affecting COVID-19 vaccine acceptance: an international survey among low- and middle-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:515.,3737. Ahmed MAM, Colebunders R, Gele AA, Farah AA, Osman S, Guled IA, et al. COVID-19 vaccine acceptability and adherence to preventive measures in Somalia: results of an online survey. Vaccines (Basel) 2021; 9:543.,5252. Agyekum MW, Afrifa-Anane GF, Kyei-Arthur F, Addo B. Acceptability of COVID-19 vaccination among health care workers in Ghana. Adv Public Heath 2021; 2021:9998176.,5353. Bongomin F, Olum R, Andia-Biraro I, Nakwagala FN, Hassan KH, Nassozi DR, et al. COVID-19 vaccine acceptance among high-risk populations in Uganda. Ther Adv Infect Dis 2021; 8:20499361211024376.,5454. Iliyasu Z, Garba MR, Gajida AU, Amole TG, Umar AA, Abdullahi HM, et al. ‘Why should I take the COVID-19 vaccine after recovering from the disease?’ A mixed-methods study of correlates of COVID-19 vaccine acceptability among health workers in Northern Nigeria. Pathog Glob Health 2021; 116:254-62., em decorrência da possibilidade de terem acessado conteúdos de desinformação, como, por exemplo, o boato de que o imunizante poderia deixar uma pessoa estéril 3737. Ahmed MAM, Colebunders R, Gele AA, Farah AA, Osman S, Guled IA, et al. COVID-19 vaccine acceptability and adherence to preventive measures in Somalia: results of an online survey. Vaccines (Basel) 2021; 9:543..

No continente africano, o histórico de resistência à vacinação e a crescente desinformação propagada pelas mídias sociais, por líderes e grupos religiosos sobre vacinas em geral, incluindo as aquelas que previnem o COVID-19, foram abordados por alguns estudos 3232. Alhassan RK, Aberese-Ako M, Doegah PT, Immurana M, Dalaba MA, Manyeh AK, et al. COVID-19 vaccine hesitancy among the adult population in Ghana: evidence from a pre-vaccination rollout survey. Trop Med Health 2021; 49:96.,3636. Bono SA, Villela EFM, Siau CS, Chen WS, Pengpid S, Hasan MT, et al. Factors affecting COVID-19 vaccine acceptance: an international survey among low- and middle-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:515.,5151. Ditekemena JD, Nkamba DM, Mutwadi A, Mavoko HM, Fodjo JNS, Luhata C, et al. COVID-19 vaccine acceptance in the Democratic Republic of Congo: a cross-sectional survey. Vaccines (Basel) 2021; 9:153.,5555. Alhassan RK, Owusu-Agyei S, Ansah EK, Gyapong M. COVID-19 vaccine uptake among health care workers in Ghana: a case for targeted vaccine deployment campaigns in the global south. Hum Resour Health 2021; 19:136.,5656. Lamptey E, Serwaa D, Appiah AB. A nationwide survey of the potential acceptance and determinants of COVID-19 vaccines in Ghana. Clin Exp Vaccine Res 2021; 10:183-90.,5757. Mustapha M, Lawal BK, Sha’aban A, Jatau AI, Wada AS, Bala AA, et al. Factors associated with acceptance of COVID-19 vaccine among university health sciences students in Northwest Nigeria. PLoS One 2021; 16:e0260672.. A falta de informações claras sobre a doença e as vacinas foram fatores que influenciaram na hesitação na Etiópia e na República Democrática do Congo, sendo que neste houve desconfiança por parte da população na participação de testes da vacina contra o coronavírus 5151. Ditekemena JD, Nkamba DM, Mutwadi A, Mavoko HM, Fodjo JNS, Luhata C, et al. COVID-19 vaccine acceptance in the Democratic Republic of Congo: a cross-sectional survey. Vaccines (Basel) 2021; 9:153.,5858. Shiferie F, Sada O, Fenta T, Kaba M, Fentie AM. Exploring reasons for COVID-19 vaccine hesitancy among healthcare providers in Ethiopia. Pan Afr Med J 2021; 40:213.. Outro fator que influenciou a hesitação vacinal nos países africanos foi a menor mortalidade por COVID-19 nestes, o que culminou na percepção de que o continente possuía menor risco de ser gravemente atingido pelo vírus, como no caso de Gana e Uganda 3636. Bono SA, Villela EFM, Siau CS, Chen WS, Pengpid S, Hasan MT, et al. Factors affecting COVID-19 vaccine acceptance: an international survey among low- and middle-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:515.,5959. Botwe BO, Antwi WK, Adusei JA, Mayeden RN, Akudjedu TN, Sule SD. COVID-19 vaccine hesitancy concerns: findings from a Ghana clinical radiography workforce survey. Radiography (Lond) 2022; 28:537-44.,6060. Kanyike AM, Olum R, Kajjimu J, Ojilong D, Akech GM, Nassozi DR, et al. Acceptance of the coronavirus disease-2019 vaccine among medical students in Uganda. Trop Med Health 2021; 49:37..

Em dois estudos realizados no Brasil obteve-se um baixo percentual de hesitação das vacinas contra a COVID-19 e maior percentual de aceitação entre os entrevistados 3636. Bono SA, Villela EFM, Siau CS, Chen WS, Pengpid S, Hasan MT, et al. Factors affecting COVID-19 vaccine acceptance: an international survey among low- and middle-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:515.,6161. Bagateli LE, Saeki EY, Fadda M, Agostoni C, Marchisio P, Milani GP. COVID-19 vaccine hesitancy among parents of children and adolescents living in Brazil. Vaccines (Basel) 2021; 9:1115.. Estes estudos indicam que o resultado é motivado pelas altas taxas de transmissão e mortalidade da COVID-19 3636. Bono SA, Villela EFM, Siau CS, Chen WS, Pengpid S, Hasan MT, et al. Factors affecting COVID-19 vaccine acceptance: an international survey among low- and middle-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:515.,6161. Bagateli LE, Saeki EY, Fadda M, Agostoni C, Marchisio P, Milani GP. COVID-19 vaccine hesitancy among parents of children and adolescents living in Brazil. Vaccines (Basel) 2021; 9:1115.. No entanto, outra publicação afirma que os participantes hesitantes em se vacinarem não compreenderam ou não foram informados sobre o alto risco da COVID-19 no Brasil 6262. Macinko J, Seixas BV, De Melo Mambrini JV, Lima-Costa MF. Which older Brazilians will accept a COVID-19 vaccine? Cross-sectional evidence from the Brazilian Longitudinal Study of Aging (ELSI-Brazil). BMJ Open 2021; 11:e049928..

O terceiro eixo de análise enfatizou a influência do grupo SAGE/OMS, em termos de referência para desenhos de estudos epidemiológicos sobre hesitação vacinal. O relatório produzido pelo grupo 55. World Health Organization. Report of the SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. Geneva: World Health Organization; 2014.,66. World Health Organization. Appendices to Report of the SAGE working group on vaccine hesitancy. Geneva: World Health Organization; 2014. e a publicação de Larson et al. 6363. Larson HJ, Jarrett C, Schulz WS, Chaudhuri M, Zhou Y, Dube E, et al. Measuring vaccine hesitancy: the development of a survey tool. Vaccine 2015; 33:4165-75. trazem ferramentas para medir e monitorar a hesitação vacinal, como a Escala de Hesitação de Vacinação (Vaccine Hesitancy Scale - VHS). A despeito deste esforço, a maioria dos estudos epidemiológicos (88) não utilizou as referências, desenhos metodológicos e instrumentos desenvolvidos pelo SAGE/OMS.

Sobre o termo “hesitação vacinal”, 61 dos 94 estudos o mencionam sem fazer referência à OMS, enquanto 26 utilizam a definição da OMS na introdução do artigo, porém não aprofundam a discussão dos resultados segundo o framework do SAGE/OMS. Como exceção, o estudo de Anjorin et al. 2424. Anjorin AAA, Odetokun IA, Abioye AI, Elnadi H, Umoren MV, Damaris BF, et al. Will Africans take COVID-19 vaccination? PLoS One 2021; 16:e0260575., cujo autor de correspondência é filiado a uma instituição de pesquisa da África do Sul, realizada em todo o continente africano, além de trazer a definição de hesitação vacinal, utiliza o modelo dos 3C’s como referência para discussão dos resultados. De acordo com o estudo, o risco percebido de SARS-CoV-2 está significativamente relacionado à hesitação vacinal, sendo assim, os autores concluíram que os achados corroboram com o modelo de “confiança, complacência e conveniência” proposto pelo SAGE/OMS 2424. Anjorin AAA, Odetokun IA, Abioye AI, Elnadi H, Umoren MV, Damaris BF, et al. Will Africans take COVID-19 vaccination? PLoS One 2021; 16:e0260575..

Dentre os estudos que utilizaram a escala ou elaboraram instrumentos de pesquisa baseados em publicações do grupo SAGE/OMS (6), um estudo realizado na Etiópia utilizou um questionário para avaliar a hesitação vacinal dos participantes com base na definição desta instituição 6464. Angelo AT, Alemayehu DS, Dachew AM. Health care workers intention to accept COVID-19 vaccine and associated factors in southwestern Ethiopia, 2021. PLoS One 2021; 16:e0257109.. A Matriz de Determinantes de Hesitação Vacinal da OMS (contextual, individual/grupo, questões específicas sobre vacina/vacinação) foi utilizada em três estudos, um no Brasil 4747. Chaves IES, Brito PRP, de Araújo Rodrigues JGB, Costa MS, Cândido EL, Moreira MRC. Hesitation regarding the COVID-19 vaccine among medical students in Brazil. Rev Assoc Med Bras 2021; 67:1397-402., outro em Camarões 6565. Dinga JN, Sinda LK, Titanji VPK. Assessment of vaccine hesitancy to a COVID-19 vaccine in Cameroonian adults and its global implication. Vaccines (Basel) 2021; 9:175. e o último no Egito 3030. Fares S, Elmnyer MM, Mohamed SS, Elsayed R. COVID-19 vaccination perception and attitude among healthcare workers in Egypt. J Prim Care Community Health 2021; 12:21501327211013303.. Em relação ao questionário 5C’s, um estudo multicêntrico realizado em países do Oriente Médio utilizou uma versão adaptada para o idioma e cultura árabes para investigar os antecedentes psicológicos da vacinação contra a COVID-19 6666. Abdou MS, Kheirallah KA, Aly MO, Ramadan A, Elhadi YAM, Elbarazi I, et al. The coronavirus disease 2019 (COVID-19) vaccination psychological antecedent assessment using the Arabic 5c validated tool: an online survey in 13 Arab countries. PLoS One 2021; 16:e0260321.. Já um estudo multicêntrico feito na Ásia, na África e na América do Sul utilizou a VHS para medir a crença nos benefícios da vacinação e o risco percebido em novas vacinas 6767. Harapan H, Anwar S, Yufika A, Sharun K, Gachabayov M, Fahriani M, et al. Vaccine hesitancy among communities in ten countries in Asia, Africa, and South America during the COVID-19 pandemic. Pathog Glob Health 2022; 116:236-43.. Todos estes estudos tinham autores de correspondência filiados a instituições do Sul Global.

Discussão

A hesitação vacinal contra a COVID-19 pode ser uma barreira para mitigar os efeitos da pandemia. Os achados desta revisão mostram que a preocupação com a possibilidade de eventos adversos, a incerteza sobre eficácia e segurança das vacinas, e a falta de confiança nos ensaios clínicos do desenvolvimento de imunizantes contra o SARS-CoV-2 são semelhantes a outros estudos 1616. Biswas MR, Alzubaidi MS, Shah U, Abd-Alrazaq AA, Shah Z. A scoping review to find out worldwide COVID-19 vaccine hesitancy and its underlying determinants. Vaccines (Basel) 2021; 9:1243.,1717. Aw J, Seng JJ, Seah SS, Low LL. COVID-19 vaccine hesitancy: a scoping review of literature in high-income countries. Vaccines (Basel) 2021; 9:900.,6868. Majid U, Ahmad M, Zain S, Akande A, Ikhlaq F. COVID-19 vaccine hesitancy and acceptance: a comprehensive scoping review of global literature. Health Promot Int 2022; 37:daac078.,6969. Soares P, Rocha JV, Moniz M, Gama A, Laires PA, Pedro AR, et al. Factors associated with COVID-19 vaccine hesitancy. Vaccines (Basel) 2021; 9:300.. Considerando que o fenômeno da hesitação é multidimensional, as principais justificativas para a hesitação envolvem fatores que transcendem os vieses biomédicos, atrelando-se a aspectos socioculturais, que abrangem dicotomias como visão médica/científica versus visão cultural/de crença, e universalidade versus singularidade 7070. Moulin AM. A hipótese vacinal: por uma abordagem crítica e antropológica de um fenômeno histórico. Hist Ciênc Saúde-Manguinhos 2003; 10:499-517.. Esse cenário tornou-se ainda mais complexo com o advento da COVID-19, quando houve o recrudescimento dos movimentos de descrença na ciência, disseminação de notícias falsas sobre vacinas, polarização ideológica e a vulnerabilidade socioeconômica 99. Matos CCSA, Gonçalves BA, Couto MT. Vaccine hesitancy in the global south: towards a critical perspective on global health. Glob Public Health 2022; 17:1087-98..

A estreita associação entre o cenário político e a (não) aceitação das vacinas se reflete igualmente nas vacinas contra a COVID-19. Como encontrado nesta revisão, a instabilidade política, a descrença no governo e no sistema de saúde, e a sensação de não ter voz nem poder diante das estruturas, como o próprio Estado, têm influência direta na difusão de teorias conspiratórias 7171. Handy LK, Maroudi S, Powell M, Nfila B, Moser C, Japa I, et al. The impact of access to immunization information on vaccine acceptance in three countries. PLoS One 2017; 12:e0180759.,7272. van Prooijen J-W. Populism as political mentality underlying conspiracy theories. In: Rutjens B, Brandt M, editors. Belief systems and the perception of reality. New York: Taylor and Francis; 2019. p. 79-96. (Series: Current Issues in Social Psychology).. Por outro lado, é importante analisar criticamente o cenário no qual essas teorias conspiratórias se criaram, pois muitas delas têm raízes concretas na história local recente desses territórios.

Países subdesenvolvidos foram repetidamente palco de testes com seres humanos, o que hoje se reflete na recusa vacinal, justificada por receio de estar sendo cobaia 7373. Démolis R, Botão C, Heyerdahl LW, Gessner BD, Cavailler P, Sinai C, et al. A rapid qualitative assessment of oral cholera vaccine anticipated acceptability in a context of resistance towards cholera intervention in Nampula, Mozambique. Vaccine 2018; 36:6497-505.,7474. Wiyeh AB, Cooper S, Jaca A, Mavundza E, Ndwandwe D, Wiysonge CS. Social media and HPV vaccination: unsolicited public comments on a Facebook post by the Western Cape Department of Health provide insights into determinants of vaccine hesitancy in South Africa. Vaccine 2019; 37:6317-23.. A relação de poder entre Norte e Sul Globais, expressa em um passado de colonialidade e violência ainda vivo na memória dos países colonizados, reflete-se no rechaço às práticas que são vistas como oriundas do Norte. As vacinas, assim, são vistas por diversos grupos como estratégias para controle populacional de países subdesenvolvidos, como “malevolência ocidental”, ou como uma forma de extinguir povos indesejáveis 7575. Heyerdahl LW, Pugliese-Garcia M, Nkwemu S, Tembo T, Mwamba C, Demolis R, et al. “It depends how one understands it”: a qualitative study on differential uptake of oral cholera vaccine in three compounds in Lusaka, Zambia. BMC Infect Dis 2019; 19:421.,7676. Kpanake L, Sorum PC, Mullet E. Willingness to get vaccinated against Ebola: a mapping of Guinean people positions. Hum Vaccin Immunother 2018; 14:2391-6.,7777. Morhason-Bello IO, Wallis S, Adedokun BO, Adewole IF. Willingness of reproductive-aged women in a Nigerian community to accept human papillomavirus vaccination for their children. J Obstet Gynaecol Res 2015; 41:1621-9.,7878. Turiho AK, Okello ES, Muhwezi WW, Katahoire AR. Perceptions of human papillomavirus vaccination of adolescent schoolgirls in western Uganda and their implications for acceptability of HPV vaccination: a qualitative study. BMC Res Notes 2017; 10:431.. Portanto, as discussões que associam a baixa aceitação às vacinas na África ao fato de este continente ter tido menor mortalidade por COVID-19 ou maior desinformação da população podem incorrer em reducionismos 99. Matos CCSA, Gonçalves BA, Couto MT. Vaccine hesitancy in the global south: towards a critical perspective on global health. Glob Public Health 2022; 17:1087-98..

Por outro lado, associar baixas percentagens de hesitação vacinal a países que tiveram muitos casos e óbitos por COVID-19 também pode ser uma forma de desconsiderar o cenário local. Nesta revisão, por exemplo, encontrou-se que muitos estudos frisaram as altas aceitações da vacina no Brasil, estabelecendo tal associação. Porém, o Brasil é um país mundialmente reconhecido por seu Programa Nacional de Imunizações, o qual construiu uma cultura de imunização coletiva 7979. Hochman G. Vacinação, varíola e uma cultura da imunização no Brasil. Ciênc Saúde Colet 2011; 16:375-86.,8080. Organização Pan-Americana da Saúde. Relatório 30 anos de SUS, que SUS para 2030? Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2018.. Ao mesmo tempo, assim como outros países latino-americanos - e assim como demonstrado nesta revisão -, ele enfrentou um cenário de instabilidade política, de má gestão da pandemia de coronavírus, de discursos negacionistas por parte do Presidente da República e de associação direta bem estabelecida entre “ser oposição ao governo” e “intenção de se vacinar” 4747. Chaves IES, Brito PRP, de Araújo Rodrigues JGB, Costa MS, Cândido EL, Moreira MRC. Hesitation regarding the COVID-19 vaccine among medical students in Brazil. Rev Assoc Med Bras 2021; 67:1397-402.,4848. Gramacho WG, Turgeon M. When politics collides with public health: COVID-19 vaccine country of origin and vaccination acceptance in Brazil. Vaccine 2021; 39:2608-12.,4949. Paschoalotto MAC, Costa EPPA, De Almeida SV, Cima J, da Costa JG, Santos JV, et al. Running away from the jab: factors associated with COVID-19 vaccine hesitancy in Brazil. Rev Saúde Pública 2021; 55:97..

Da mesma forma, como demonstrado neste trabalho, alguns países do Sul Global enfrentam, ainda, sanções de países do Norte, devido ao não reconhecimento de seus governos - como o caso da Venezuela 4242. Andrade G. Covid-19 vaccine hesitancy, conspiracist beliefs, paranoid ideation and perceived ethnic discrimination in a sample of university students in Venezuela. Vaccine 2021; 39:6837-42.,4343. Andrade G. Predictive demographic factors of Covid-19 vaccine hesitancy in Venezuela: a cross-sectional study. Vacunas 2022; 23:S22-5.. Assim, as relações de poder entre Norte e Sul Globais ficam evidentes e se torna necessário discutir as baixas coberturas vacinais desses países a partir de um olhar amplo, que não reduza a (não) vacinação à hesitação vacinal ou à falta de informação 99. Matos CCSA, Gonçalves BA, Couto MT. Vaccine hesitancy in the global south: towards a critical perspective on global health. Glob Public Health 2022; 17:1087-98.,8181. Blanchet K, Mallard G, Moret E, Sun J. Sanctioned countries in the global COVID-19 vaccination campaign: the forgotten 70%. Confl Health 2021; 15:69..

Por fim, tanto na América Latina quanto na África, fatores religiosos também se mostraram relevantes para a tomada de decisão de (não) se vacinar. A religião é um fator propulsor para a hesitação vacinal, em geral, no Sul Global 8282. Abakar MF, Seli D, Lechthaler F, Schelling E, Tran N, Zinsstag J, et al. Vaccine hesitancy among mobile pastoralists in Chad: a qualitative study. Int J Equity Health 2018; 17:167.,8383. Farouk ZL, Slusher TM, Danzomo AA, Slusher IL. Factors influencing neonatal practice in a rural community in Kano (Northern), Nigeria. J Trop Pediatr 2019; 65:569-75.,8484. Pugliese-Garcia M, Heyerdahl LW, Mwamba C, Nkwemu S, Chilengi R, Demolis R, et al. Factors influencing vaccine acceptance and hesitancy in three informal settlements in Lusaka, Zambia. Vaccine 2018; 36:5617-24., e esta tendência se mostrou mantida para as vacinas contra COVID-19 4242. Andrade G. Covid-19 vaccine hesitancy, conspiracist beliefs, paranoid ideation and perceived ethnic discrimination in a sample of university students in Venezuela. Vaccine 2021; 39:6837-42.,4343. Andrade G. Predictive demographic factors of Covid-19 vaccine hesitancy in Venezuela: a cross-sectional study. Vacunas 2022; 23:S22-5.,8585. Oliveira BLCA, Campos MAG, Queiroz RCS, Alves MTSSB, Souza BF, Santos AM, et al. Prevalência e fatores associados à hesitação vacinal contra a COVID-19 no Maranhão, Brasil. Rev Saúde Pública 2021; 55:12.. Assim, a aproximação de líderes religiosos às campanhas de vacinação e comunicação sobre imunizantes pode ser bastante benéfica para a adesão destas 8686. Domek GJ, O’Leary ST, Bull S, Bronsert M, Contreras-Roldan IL, Bolaños Ventura GA, et al. Measuring vaccine hesitancy: field testing the WHO SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy survey tool in Guatemala. Vaccine 2018; 36:5273-81.,8787. Gerede R, Machekanyanga Z, Ndiaye S, Chindedza K, Chigodo C, Shibeshi ME, et al. How to increase vaccination acceptance among Apostolic communities: quantitative results from an assessment in three provinces in Zimbabwe. J Relig Health 2017; 56:1692-700.,8888. Machekanyanga Z, Ndiaye S, Gerede R, Chindedza K, Chigodo C, Shibeshi ME, et al. Qualitative assessment of vaccination hesitancy among members of the Apostolic church of Zimbabwe: a case study. J Relig Health 2017; 56:1683-91..

Outro aspecto importante nesta revisão é a relação dos estudos com as publicações do grupo de trabalho SAGE/OMS. Apesar de o SAGE/OMS estabelecer uma definição para hesitação vacinal, este termo tem sido usado de diversas maneiras nas pesquisas, e essa falta de clareza conceitual pode acarretar uma operacionalização equivocada e gerar confusão entre pesquisadores 8989. Bussink-Voorend D, Hautvast JLA, Vandeberg L, Visser O, Hulscher MEJL. A systematic literature review to clarify the concept of vaccine hesitancy. Nat Hum Behav 2022; 6:1634-48.,9090. Bedford H, Attwell K, Danchin M, Marshall H, Corben P, Leask J. Vaccine hesitancy, refusal and access barriers: the need for clarity in terminology. Vaccine 2018; 36:6556-8.,9191. Dubé E, Ward JK, Verger P, MacDonald NE. Vaccine hesitancy, acceptance, and anti-vaccination: trends and future prospects for public health. Annu Rev Public Health 2021; 42:175-91.. É importante mencionar que o conceito primariamente estabelecido quando da criação do termo “hesitação vacinal” já foi modificado, exatamente por conta das críticas e reflexões que suscitou. Em 2022, o grupo de trabalho BeSD propôs, como nova definição, que a hesitação vacinal é “um estado motivacional de conflito ou oposição à vacinação; isso inclui intenções e vontade1010. World Health Organization. Behavioural and social drivers of vaccination: tools and practical guidance for achieving high uptake. Geneva: World Health Organization; 2022. (p. VII).

A “hesitação vacinal” pode ser utilizada para explicar afetos e questionamentos sobre a imunização, o intervalo entre o continuum de aceitar todas as vacinas e recusar todas elas, utilizada como sinônimo de toda não vacinação 8989. Bussink-Voorend D, Hautvast JLA, Vandeberg L, Visser O, Hulscher MEJL. A systematic literature review to clarify the concept of vaccine hesitancy. Nat Hum Behav 2022; 6:1634-48.,9090. Bedford H, Attwell K, Danchin M, Marshall H, Corben P, Leask J. Vaccine hesitancy, refusal and access barriers: the need for clarity in terminology. Vaccine 2018; 36:6556-8.. Por outro lado, pelo fato de possuir definições muito abrangentes e ser usada em estudos com perfis diversificados de populações, contextos e fatores explicativos, a “hesitação vacinal” pode ser considerada uma categoria ampla, e não um conceito empírico 9292. Peretti-Watel P, Larson HJ, Ward JK, Schulz WS, Verger P. Vaccine hesitancy: clarifying a theoretical framework for an ambiguous notion. PLoS Curr 2015; 7:ecurrents.outbreaks.6844c80ff9f5b273f34c91f71b7fc289..

Com relação à utilização de desenhos metodológicos e instrumentos de pesquisa baseados em publicações do SAGE/OMS, apenas 6 dos 94 estudos desta revisão utilizaram-nos. Porém, deve-se frisar que esta revisão foi realizada em janeiro de 2022, ou seja, antes da publicação do documento elaborado pelo grupo de trabalho BeSD. Ainda assim, considerando que outras ferramentas, também da OMS, já estavam bem estabelecidas e validadas, como a Matriz de Determinantes e a escala 5C’s, chama a atenção que tão poucos estudos as tenham utilizado.

Na perspectiva da Saúde Global, iniciativas para formulação de políticas e documentos “globais”, com base na perspectiva e expertise de países do Norte e, constantemente, defendidas pela OMS que sejam replicadas em diferentes contextos, têm sido criticadas 1818. Montenegro CR, Bernales M, Gonzalez-Aguero M. Teaching global health from the south: challenges and proposals. Crit Public Health 2020; 30:127-9.,9393. Adams V, Burke NJ, Whitmarsh I. Slow research: thoughts for a movement in global health. Med Anthropol 2014; 33:179-97.. Por atrapalharem comparações e implementações de políticas e modelos em larga escala, e por necessitarem de respostas únicas e adaptáveis, as especificidades locais tendem a ser ignoradas 9393. Adams V, Burke NJ, Whitmarsh I. Slow research: thoughts for a movement in global health. Med Anthropol 2014; 33:179-97.. Iniciativas do tipo “one-size-fits-all”, aplicadas de cima para baixo, não levam em conta condições de vida e características das comunidades nas quais serão aplicadas 9494. Ortega F, Behague DP. O que a medicina social latino-americana pode contribuir para os debates globais sobre as políticas da Covid-19: lições do Brasil. Physis (Rio J.) 2020; 30:e300205.. Considerando isso, a implementação do conceito de hesitação vacinal e de instrumentos validados pela OMS pode não ser adequada para analisar questões de acesso às vacinas e seu respectivo custo em países em que esta imunização não é universal.

Limitações do estudo

As limitações desta revisão de escopo estão relacionadas às etapas metodológicas deste tipo de estudo. Embora tenha sido adotada uma estratégia de busca abrangente, alguns estudos relevantes podem não ter sido incorporados na seleção, como estudos técnicos e estudos publicados em francês, considerando que esta é uma língua usada em alguns países da África. Nesta revisão não foi avaliada a forma como cada estudo abordou, em relação às questões propostas nos surveys e roteiros das pesquisas qualitativas, a hesitação e a aceitação. Além disso, os estudos selecionados não foram avaliados pela qualidade das evidências, pois o objetivo era o mapeamento da produção científica sobre hesitação vacinal contra a COVID-19 em países africanos e latino-americanos.

Considerações finais

A discussão sobre hesitação vacinal e, mais especificamente, a hesitação das vacinas contra a COVID-19 têm sido objeto de discussão global. O panorama que esta revisão de escopo traz mostra que a tal comportamento é um fenômeno complexo em países do Sul Global.

O uso de instrumentos produzidos pelo Norte Global pode levar à não compreensão dos diferentes aspectos sociais, culturais e regionais que envolvem a hesitação com as vacinas contra o coronavírus, sendo que estes aspectos são imprescindíveis para a pesquisa e implementação de ações em saúde 99. Matos CCSA, Gonçalves BA, Couto MT. Vaccine hesitancy in the global south: towards a critical perspective on global health. Glob Public Health 2022; 17:1087-98..

Esta revisão de escopo mostrou que as taxas de aceitação e hesitação vacinal foram bem variadas nas diferentes localidades, o que também aponta para a necessidade de se considerar as especificidades desses locais, como os diferentes motivos para hesitação vacinal. Além disso, a maioria dos arquivos selecionados nesta revisão é de estudos quantitativos/epidemiológicos, o que também pode limitar a compreensão da complexidade da hesitação vacinal nos aspectos regionais, locais e culturais dos países africanos e latino-americanos. Assim, os estudos qualitativos, no campo das Ciências Sociais, permitem a análise de descrição densa para compreensão das crenças e atitudes que envolvem o fenômeno da hesitação às vacinas contra a COVID-19 7070. Moulin AM. A hipótese vacinal: por uma abordagem crítica e antropológica de um fenômeno histórico. Hist Ciênc Saúde-Manguinhos 2003; 10:499-517.. Nesse sentido, a partir da compreensão das especificidades do Sul Global, é preciso elaborar respostas efetivas para cada singularidade.

Agradecimentos

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao projeto de extensão intitulado A Pandemia do COVID-19 em Territórios Periféricos: Diálogos entre Brasil e África do Sul, realizado por integrantes do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) e do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Ago 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    02 Mar 2023
  • Revisado
    16 Maio 2023
  • Aceito
    25 Maio 2023
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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