Narrativas em saúde socioambiental: potencialidades na formação em saúde

Rafaela Rodrigues da Silva Jeffer Castelo Branco Silvia Maria Tagé Thomaz Nildo Alves Batista Sylvia Helena Souza da Silva Batista Sobre os autores

RESUMO

O presente trabalho visa a discutir as potencialidades do uso de narrativas e diários de campo para e na formação em saúde, no módulo de Encontros e Produção de Narrativas, do Eixo Trabalho em Saúde, que compõe o itinerário curricular dos Cursos de Saúde do Instituto Saúde e Sociedade do Campus Baixada Santista, da Universidade Federal de São Paulo. Utilizou-se a análise de discurso como instrumento de análise de diários de campo e narrativas produzidos em 2017 e 2019. No conjunto dos enunciados, é possível apreender mudanças graduais, promovidas pelos encontros narrativos articulados com conteúdos de saúde socioambiental introduzidos no módulo. O discurso nos diários e na narrativa é permeado de brechas polissêmicas, trazendo novos significados do aprendizado. Assim, apreendem-se movimentos de deslocamento do lugar comum, da reprodução do que está posto hegemonicamente, assumindo perspectivas comprometidas com a garantia de direitos, incluindo o direito à saúde, articulando a concepção ampliada do processo saúde-doença e sua relação com a questão socioambiental.

PALAVRAS-CHAVE
Impacto ambiental; Educação interprofissional; Aprendizado ativo

Introdução

Compreende-se por saúde socioambiental o estudo dos impactos sociais decorrentes das condições ambientais que atuam como determinantes no processo de adoecimento, abrangendo complexamente modalidades educacionais de prevenção, precaução, assistenciais, curativas e sociais, visando a uma aproximação da atenção integral em saúde com fundamento na Promoção da Saúde11 Ferretti N. Saúde socioambiental e conselho local de saúde: um estudo no âmbito da Estratégia Saúde da Família no município do Rio Grande/RS. [dissertação]. Rio Grande: Universidade Federal do Rio Grande; 2009. [acesso em 2021 out 15]. Disponível em: http://repositorio.furg.br/bitstream/handle/1/2402/nadia%20ferretti.pdf?sequence=1.
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,22 Castelo Branco J. Convenção de Estocolmo Sobre Poluentes Orgânicos Persistentes: Impactos Ambientais, Sociais e Econômicos Associados. [dissertação]. Diadema: Universidade Federal de São Paulo; 2016. [acesso em 2021 out 16]. Disponível em: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/46547.
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Nessa perspectiva, tem-se em vista uma formação que propicie aos discentes oportunidades de desenvolverem um olhar para além do enfrentamento de doenças, para uma visão de promoção, prevenção e precaução em saúde, buscando formas de desenvolver o pensamento questionador sobre a origem das doenças imbricadas com a questão ambiental. A oportunidade de ampliar a visão de profissionais que atuarão em diversos espaços profissionais colabora para fomentar, desde a graduação, a percepção crítica das questões socioambientais em saúde.

Busca-se abranger a visão do graduando quanto à questão ambiental a partir da apresentação de problemas ambientais que ocorreram e que estão ocorrendo, com olhar para a questão social vinculada nessas situações. Do mesmo modo, pretende-se chamar a atenção para a importância da atuação interdisciplinar necessária para observar, compreender e atuar nesses processos. A questão ambiental relaciona-se à saúde e ao social, sendo importante trazer essa concepção ampliada para a formação profissional.

Na perspectiva da saúde socioambiental, faz-se necessária uma formação que propicie práticas mais abrangentes, complexas, centradas nas necessidades em saúde da população e em suas interações com o meio ambiente, com os territórios, inclusive em comunidades socioambientalmente impactadas, conforme expõe Augusto33 Augusto SGL. Inter-relações entre a Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador e a Atenção Básica de Saúde no SUS. In: Associação Brasileira de Saúde Coletiva. I Conferência Nacional de Saúde Ambiental. Rio de Janeiro: Abrasco; 2009. p. 105-108. [acesso em 2021 out 15]. Disponível em: http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_7832566.pdf.
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Uma segunda importante atitude dos profissionais de saúde é fazer o reconhecimento dos contextos socioambientais em que vive e trabalha a população, identificando neles os problemas geradores de nocividades tanto para a saúde humana como para o ambiente. Precisamos, portanto, de um operador ecossistêmico para tratar os problemas de saúde em sua dimensão coletiva.

Trabalhar o tripé ambiente-saúde-sociedade na formação em saúde é ancorar a educação na concretude do cotidiano, e, no caso de narrativas, além de fatos, com pessoas que são diretas ou indiretamente atingidas. Então, a partir de histórias de vida, busca-se a compreensão do processo saúde-doença, tendo como ponto de partida a questão ambiental. Considerando a abordagem da clínica comum em saúde44 Capozzolo AA, Imbrizi JM, Liberman F, et al. Formação descentrada na experiência. In: Capozzolo AA, Casetto SJ, Henz AO, organizadores. Clínica Comum: Itinerário de uma formação em Saúde. São Paulo: Hucitec; 2013. p. 124-50., procura-se com a saúde socioambiental a possibilidade de agregar essa dimensão na clínica em saúde. Forja-se, dessa maneira, uma compreensão crítico-reflexiva da saúde socioambiental.

O presente estudo discute o uso de diários de campo e narrativas na formação em saúde, partindo da experiência da inserção transversal da saúde socioambiental na formação interprofissional em saúde.

Metodologia

Contexto e abrangência do estudo

O estudo aqui apresentado compreende os resultados parciais de uma pesquisa que está em desenvolvimento, a qual assume como objeto de investigação a experiência da inserção transversal da saúde socioambiental no âmbito do módulo Encontros e Produção de Narrativas, do Eixo comum Trabalho em Saúde, do Instituto Saúde e Sociedade (ISS) da Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixada Santista.

O Eixo Trabalho em Saúde (TS), um dos eixos comuns do Instituto Saúde e Sociedade, da Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixada Santista, objetiva possibilitar uma visão abrangente do processo saúde-doença-cuidado e do Sistema Único de Saúde (SUS)44 Capozzolo AA, Imbrizi JM, Liberman F, et al. Formação descentrada na experiência. In: Capozzolo AA, Casetto SJ, Henz AO, organizadores. Clínica Comum: Itinerário de uma formação em Saúde. São Paulo: Hucitec; 2013. p. 124-50.,55 Capozzolo AA, Casetto SJ, Imbrizi JM, et al. Narrativas na Formação Comum de Profissionais de Saúde. Trab. Educ. Saúde. 2014 [acesso em 2020 nov 6]; 12(2):443-56. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1981-77462014000200013.
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(244),66 Azevedo AB, Pezzato LM, Mendes R. Formação interdisciplinar em saúde e práticas coletivas. Saúde debate. 2017 [acesso em 2021 fev 3]; 41(113):647-57. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0103-1104201711323.
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,77 Batista NA, Rossit RAS, Batista SHSS, et al. Educação Interprofissional na Formação em Saúde: a experiência da Universidade Federal de São Paulo, campus Baixada Santista, Santos, Brasil. Interface. 2018 [acesso em 2020 dez 10]; (2):1705-15. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1807-57622017.0693.
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. No módulo Encontros e Produção de Narrativas, desenvolvido no terceiro semestre dos cursos, são desenvolvidas atividades inerentes ao trabalho em saúde, incluindo facilidades e dificuldades relacionais entre profissionais e quem demanda cuidados em saúde, a questão dos limites enfrentados por usuários e trabalhadores dos serviços, embora os discentes ainda estejam em condição de educandos44 Capozzolo AA, Imbrizi JM, Liberman F, et al. Formação descentrada na experiência. In: Capozzolo AA, Casetto SJ, Henz AO, organizadores. Clínica Comum: Itinerário de uma formação em Saúde. São Paulo: Hucitec; 2013. p. 124-50.,55 Capozzolo AA, Casetto SJ, Imbrizi JM, et al. Narrativas na Formação Comum de Profissionais de Saúde. Trab. Educ. Saúde. 2014 [acesso em 2020 nov 6]; 12(2):443-56. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1981-77462014000200013.
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Esse módulo tem por objetivo geral:

Contribuir para a construção de uma abordagem comum às diversas áreas profissionais que considere a realidade vivida pelas pessoas e as diversas dimensões envolvidas no processo saúde-doença-cuidado88 UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo. Projeto Político Pedagógico do Curso de Serviço Social do campus Baixada Santista. [Santos]: Unifesp; 2016. [acesso em 2022 jul 26]. Disponível em: https://www.unifesp.br/campus/san7/images/pdfs/ceg/PPP_servi%C3%A7o%20social_%20APROVADO%20PROGRAD%202016.compressed.pdf.
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E, também, procura fomentar uma formação humanística dos futuros profissionais da área da saúde, participando dos processos formativos que tencionam prepará-los para o cuidado integral em saúde, negando o reducionismo do sujeito à condição estritamente biológica99 Oliveira CM, Batista NA, Batista SHSS, et al. A escrita de narrativas e o desenvolvimento de práticas colaborativas para o trabalho em equipe. Interface. 2016 [acesso em 2020 dez 8]; 1005-14. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0660.
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As atividades de ensino que compuseram a investigação envolveram 41 estudantes dos seis cursos do ISS (nutrição, psicologia, serviço social, fisioterapia, terapia ocupacional e educação física). Foram promovidos encontros de estudantes com pessoas expostas a poluição e contaminação ambiental em seus territórios, na cidade de Santos e Cubatão, região metropolitana da Baixada Santista, no estado de São Paulo.

Nessa proposta, os discentes passam a escutar e anotar em diários de campo as histórias de vida e, posteriormente, a elaborar o texto das narrativas, considerando o contexto em que se encontram essas histórias, buscando rastrear e captar os fatores constituintes do momento histórico em que os narradores se encontram. Os narradores são pessoas que estão em bairros periféricos, com palafitas, com saneamento básico precário, áreas com intensa poluição ambiental e impactadas adversamente.

Esses bairros sofrem há décadas impactos ambientais que são importantes para a compreensão da saúde socioambiental e que envolvem, sobretudo, a exposição humana às emissões químicas oriundas das atividades industriais portuárias. Esses impactos adversos, que são ‘crônicos’, foram acentuados devido ao incêndio que ocorreu em um terminal de combustíveis próximo a essas comunidades, em 2015, causando dias seguidos de intensa poluição, com severas repercussões na saúde da população.

O outro grupo de narradores é formado por trabalhadores oriundos de uma indústria química na região de Cubatão, que sofreram exposição por poluentes orgânicos persistentes durante a jornada laboral e se intoxicaram cronicamente com hexaclorobenzeno (HCB). Ainda hoje, mais de 30 anos depois do ocorrido, esses trabalhadores sofrem consequências sociais e de saúde de diversas ordens devido ao contato com esse composto químico.

Processo de produção de dados

A narrativa desenvolvida nesse contexto formativo específico é uma composição híbrida: influência da história oral temática1010 Meihy JCSB, Holanda F. História oral: como fazer, como pensar. 2. ed. (4). São Paulo: Contexto; 2015. p. 33-42. e da medicina narrativa1111 Charon R. Narrative Medicine - A Model for Empathy, Reflection, Profession, and Trust. JAMA. 2001 [acesso em 2020 nov 11]; 286(15):1897-1902. Disponível em: https://doi.org/10.1001/jama.286.15.1897.
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A abordagem da narrativa é trazida para a clínica como uma ferramenta que pode facilitar a percepção e a interpretação do significado do processo de adoecimento, como um modo de o profissional de saúde incorporar novos enunciados ao seu repertório interpretativo e, assim, ampliar a dimensão dialógica, hermenêutica e integral do saber e da prática clínica1212 Favoreto CAO, Camargo Júnior KRC. A narrativa como ferramenta para o desenvolvimento da prática clínica. Interface. 2011 [acesso em 2021 jan 5]; 15(37):473-83. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1414-32832011005000005.
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Compreende-se, na concepção ampliada do processo saúde-doença, que o uso da narrativa acontece para além de uma perspectiva clínica, puramente biológica. É, também, no contexto da experiência analisada, um recurso para compreensão discente de danos sociais e de saúde oriundos do desequilíbrio ambiental decorrente da ação humana no meio ambiente.

A narrativa não foi considerada como única forma de análise na presente pesquisa. Utilizaram-se, também, os diários de campo redigidos após cada um dos encontros, cuja densidade dos conteúdos - descritivo, reflexivo e intensivo - se faz importante para o estudo. Considerou-se, também, como diário de campo o relatório final (ou narrativa individual discente), por constituir material reflexivo do processo.

Na ótica de Barbier1313 Barbier R. A pesquisa-ação. Brasília, DF: Liber Livro; 2002.(133), o diário pode ser compreendido como

Bloco de apontamentos o qual cada um mostra o que sente, o que pensa, o que medita, o que poetiza, o que retém de uma teoria, de uma conversa, o que constrói para dar sentido à sua vida.

Ao exercitar o conhecer a si pelo movimento da escrita de si, a partir da reflexão vivida dos encontros, das histórias, dos territórios, procurando reconhecer seus limites e conceitos previamente elaborados, os discentes têm oportunidade de praticar a crítica-reflexiva quando no trabalho em saúde.

Como lugar do registro da experiência, o diário de campo tem potência para produzir novos olhares sobre as interações e situações experienciadas, para implicar-se com aquilo que afeta. Nas palavras de Spink1414 Spink PK. Pesquisa de campo em psicologia social: Uma perspectiva pós-construcionista. Psicol. Soc. 2003 [acesso em 2022 abr 7]; 15(2):18-42. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-71822003000200003.
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Quando fazemos o que nós chamamos de pesquisa de campo, nós não estamos ‘indo’ ao campo. Já estamos no campo, porque já estamos no tema. O que nós buscamos é nos localizar psicossocialmente e territorialmente mais perto das partes e lugares mais densos das múltiplas interseções e interfaces críticas do campo-tema onde as práticas discursivas se confrontem e, ao se confrontar, se tornam mais reconhecíveis. [grifo do autor].

Na experiência formativa em análise, além de acompanhar as reflexões que estudantes fazem a partir da experiência dos encontros, os diários de campo abriram fendas instigantes no tocante ao observado e ao não observado, aos silenciamentos, aos afetos mobilizados, às memórias ativadas, aos territórios existenciais1515 Alvarez J, Passos E. Cartografar é habitar um território existencial. In: Passos E, Kastrup V, Escóssia L, organizadores. Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina; 2012. p. 131-149..

Neste estudo, apresenta-se a análise de discurso empreendida da narrativa elaborada de uma dupla no ano de 2017 e de 5 diários de campo produzidos por uma estudante no ano de 2019. Para a seleção desses diários de campo, consideraram-se os corpora que trouxessem mais reflexões e descrições discentes ao que se denominam conceitos-análises.

Processo de análise de dados

A análise de discurso considera o texto como um ‘monumento’, em que se podem fazer recortes no intuito de interpretar o discurso inerente ao texto, sendo este uma “unidade complexa de significações”1616 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14. ed. São Paulo: Hucitec; 2014. p. 318-27.(321). A forma de interpretar o texto produzido em determinado contexto, vindo de determinado sujeito histórico, vai buscar, a partir da análise temática relacionada à saúde socioambiental, responder ao objetivo da pesquisa.

Toda análise de discurso é uma interpretação dos sentidos promovidos pelos discursos, pelas palavras em curso, em que o enunciador fala pensando em produzir sentido para o receptor, que, por sua vez, poderá não interpretar da mesma forma que o emissor, pois há uma concepção de mundo influenciando a forma como também é internalizada a mensagem. Busca-se interpretar e compreender como o texto significa no contexto desta investigação, lembrando que palavras não significam por si, mas dentro do contexto, da memória, como lembra Orlandi1717 Orlandi EP. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. 5. ed. Campinas: Pontes Editores; 2007.(52), “é o texto que significa”. Partindo da superfície material do texto, é feito o movimento analítico de descrever e interpretar o que o texto está significando.

O procedimento proposto neste estudo é o de analisar as paráfrases do texto, ou seja, a partir do retorno ao mesmo espaço do dizer, com as matrizes de sentido, de forma similar ao que é proposto por Freire1818 Freire S. Análise de Discurso - Procedimentos Metodológicos. Manaus: Instituto Census: Educação e Gestão do Conhecimento; 2014.. Há relação intrínseca entre paráfrase, o retorno aos sentidos existentes (socialmente mais demarcados, como o patriarcado, por exemplo) e polissemia, a possibilidade de ruptura com o que está posto, os significados ‘novos’ aos objetos simbólicos1717 Orlandi EP. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. 5. ed. Campinas: Pontes Editores; 2007.,1919 Orlandi EP. Análise de Discurso: princípios & procedimentos. 8. ed. Campinas: Pontes; 2009.,2020 Brandão HHN. Introdução à análise do discurso. 2. ed. rev. Campinas: Unicamp; 2004.. Ou seja, no mover parafrástico do discurso que estava estagnado de significado, pode haver polissemia, indicando tendência a desvios das determinações socioculturais, portanto, do que é comum, pois, “apesar das particularidades, paráfrase e polissemia interpenetram-se, pressionando o sentido entre conservação e transformação”2121 Ribeiro VV. Memória, paráfrase e polissemia em diários de leituras: análise dos gestos de intepretação de estudantes do ensino médio. Rev Memorare. 2018 [acesso em 2020 abr 10]; 5(2):58-82. Disponível em: https://doi.org/10.19177/memorare.v5e2201858-82.
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, e, no presente contexto, sintetizam a expressão do que foi vivido em campo.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, recebendo o Certificado de Apresentação de Apreciação Ética CAAE nº 81066017.3.0000.5505. Discentes e narradores receberam codinomes de autores e personagens da literatura brasileira.

Resultados

Conhecendo os diários de campo

Os diários analisados são de Ana Aurora do Amaral Lisboa, do curso de Serviço Social, e o narrador é Pedro Rubião, que está com estado de saúde muito frágil, histórico de AVCs, desmaios súbitos e fraqueza. Nos encontros, foram narradas de forma central a contaminação industrial que ele vivenciou e as consequências na sua saúde. Os conceitos-análises que surgiram foram: território poluído; impactos na saúde; detalhes sobre o caso; justiça ambiental; questão socioambiental e identificação com a temática.

São tantas as comprovações de seu comprometimento com relação à saúde e a incapacidade para o trabalho, causadas pela Rhd, que é difícil entender como a justiça ainda não concluiu estes processos.

As palavras ‘difícil entender’ estão significando a injustiça que parece óbvia para a discente. Sobre o processo que Pedro moveu na justiça, o discurso de Ana evidencia a formação discursiva contrária à morosidade dos processos judiciais. Para a discente, há provas suficientes de que houve danos que devem ser reparados, que a justiça deve ser feita em prol do narrador. Argumenta que há comprovações documentais de contaminação e de impactos em saúde que debilitam o narrador, logo, é urgente que haja justiça.

E só aumenta mesmo é a luta, muita luta, que já dura mais de 30 anos, por uma retratação da empresa, que chegou aqui, se instalou, obteve seu lucro e deixou tudo pra trás. O que mostra, infelizmente, é a realidade em que o nosso país ainda vive. Apesar dos avanços das leis, tanto trabalhistas quanto ambientais, comprovam estarem mais no papel do que na prática das empresas, dos órgãos fiscalizadores e dos juízes [...]. Pude perceber e relatar que tudo que aprendi nos cursos estão muito longe de se concretizar quando se trata de respeito ao trabalhador, seus diretos trabalhistas ou de saúde, e presenciar quanta demora em fazer justiça a quem tem direito. Muito angustiante e triste!

Na condição de discente, Ana se posiciona mostrando que a experiência de viver o encontro narrativo e conhecer todo o processo inerente ao caso contribuiu para a reflexão. Houve, na sua posição de sujeito em aprendizado, a mudança de posicionamento quanto à crença acrítica que possuía do cumprimento de leis, que havia aprendido em outros lugares, cursos, e o aprendizado prático nesse contexto a tocou, trazendo sentimentos fortes. Constata que, na prática, há falhas na execução das leis, que outrora pensava serem seguidas à risca, quando em favorecimento dos trabalhadores, o que a fez observar que há outro movimento além das leis em si: há homens e poderes que se movem em forças contrárias de interesses.

Nos últimos tempos, assistimos às alterações no meio ambiente, provocadas pelas atividades humanas que, direta ou indiretamente, causam impactos ambientais, afetando as atividades sociais e econômicas das comunidades, na biota, nas condições estéticas e sanitárias e na qualidade dos recursos naturais e, ainda, a saúde, a segurança e o bem-estar da população e dos trabalhadores de alguns seguimentos.

O enunciado de Ana está elaborado de forma a indicar a reflexão em saúde socioambiental, e, de forma resumida, inicia remetendo à questão socioambiental nas determinantes e condicionantes de saúde. Vai elencando fatores diversos que são impactados pela ação humana no meio ambiente, incluindo o que passou a conhecer (trabalhadores de alguns seguimentos, atividades das comunidades). Não limita a crítica ao homem em si e às suas ações no meio ambiente, mas tem o sentido de apontar que há efeitos dessas ações no próprio homem, que impacta e é impactado. A palavra ‘alterações’ remete aos impactos adversos no meio ambiente.

Na posição de quem está em processo de aprendizado, no contexto da saúde socioambiental, Ana sintetiza, de forma a sinalizar que houve a compreensão ampliada da questão ambiental, bem como do processo saúde-doença oriundo da ação humana, que tem causado desequilíbrio, alterações no meio ambiente.

Desde o início da UC Encontros e Produção de Narrativas em Saúde Socioambiental, eu fiquei muito feliz em ter sido colocada nesta sala, pois minha formação em Técnica de Segurança do Trabalho e de Meio Ambiente me ajudariam a desenvolver algo que eu ainda não sabia bem o que era, mas estava dentro de um contexto que eu já conhecia, e então facilitaria meu aprendizado no que ainda iria vir pela frente. Acumular forças, ganhar musculatura e fôlego para fazer os enfrentamentos necessários à construção de uma maior consciência socioambiental, que certamente estou adquirindo [...].

Indica que houve mudanças quanto a assuntos sobre os quais acreditava ter todo o conhecimento, então, não foi apenas fazer uma narrativa que lhe foi desafiador, mas rever o que antes pensava ter propriedade, que achava que ‘já conhecia’. Tais ‘enfrentamentos necessários’ durante o processo foram importantes para a discente refletir que há sempre algo a aprender, mesmo nas áreas das quais se julga conhecedora. Ana saiu do seu lugar de sossego, que estava assumindo no início do módulo, pois está em ‘construção de uma maior consciência socioambiental’.

O sentido que Ana lança em seu enunciado é o de que, desde o início, estava aberta para o desenvolvimento de narrativas com a temática de saúde socioambiental, por ter conhecimento profissional nas áreas de meio ambiente e segurança do trabalho, porém, houve deslocamento de percepção do que antes já era sabido. Portanto, à perspectiva dos encontros e das aulas em classe somou-se o desafio de reelaborar o que já conhecia sobre meio ambiente.

Conhecendo a narrativa

A narrativa analisada é de Aurélia Camargo, escrita pela dupla Rachel de Queiroz, do curso de Psicologia, e sua parceira Cecília Meireles, do curso de Serviço Social. Os conceitos-análises que surgiram foram: condições de saúde, detalhes sobre o caso, impactos na saúde, questão socioambiental e justiça ambiental.

O dia 02 de abril de 2015 definitivamente mudou a vida de Aurélia, um incêndio que atingiu tanques de combustíveis de uma empresa no bairro Alemoa, a Ultracrg, em Santos, no litoral de São Paulo. O fogo que começou por volta das 10 horas da manhã mostrava sinais de destruição, e ela, que voltava do centro da cidade, de longe já conseguiu enxergar a mancha de fumaça no céu. Já era visível que algo tinha dado muito errado. O medo se fez presente, o risco de explosão, de perder tudo, a insegurança por não saber ainda o que estava acontecendo eram sentimentos que Aurélia compartilhava com outros moradores da região. Faltavam informações e havia muita especulação, causando insegurança e medo generalizado na população.

As discentes inserem o leitor no assunto do incêndio, articulando a escrita com o que o episódio representou à narradora. Começaram pelo seu efeito na vida de Aurélia, que foi permanente. Detalham o conteúdo dos tanques, que continham combustíveis, o nome da empresa, bem como o local do ocorrido, situando o receptor da mensagem sobre o que se trata. Ao citarem os ‘sinais de destruição’, remetem ao sentido do cenário do incêndio, pois dos tanques subiam labaredas que tendiam a se alastrar, caso o fogo não fosse contido a tempo.

A dupla comunica o que representou o incêndio na perspectiva da narradora e dos demais moradores, uma vez que os sentimentos de medo e insegurança foram comuns a todos. O uso das expressões com sentidos opostos, ‘faltavam’ e ‘muita’, no caso das informações sobre o que estava ocorrendo, busca evidenciar o efeito gerado nos moradores.

Ainda no mesmo dia, novas explosões aconteceram. O incêndio durou longos dias até que pudesse ser contido, enquanto toda a poluição pairava sobre toda a comunidade do Jardim São Manoel e dos bairros vizinhos.

Com o intuito de indicar que as consequências do incêndio foram muito maiores aos moradores próximos das áreas da empresa, as discentes usaram palavras que remetem a intensidade: ‘toda a poluição’.

As discentes buscam evidenciar a injustiça ambiental que foi um incêndio ocorrido muito próximo às pessoas da comunidade e seus desdobramentos no ar. Desse modo, fazem com que, ao trabalhar com a noção de intensidade junto ao leitor, tenha-se a noção de como se apresentava a qualidade do ar naqueles dias de intenso impacto ambiental adverso (longos dias).

Nos noticiários, as reportagens falavam sobre a ausência de vítimas, entretanto, Aurélia, no mesmo dia, foi hospitalizada e precisou de atendimento médico, assim como outros moradores dos bairros afetados. E, infelizmente, ela é mais uma das inúmeras vítimas que sentiu e ainda sente os impactos do incêndio.

O enunciado narrativo da dupla está elaborado de forma a mostrar que houve vítimas, sendo a própria narradora um exemplo. As palavras ‘inúmeras vítimas’ representam o resultado dos impactos em saúde oriundos do incêndio.

As discentes apresentam discurso narrativo de que houve injustiça socioambiental com Aurélia e muitas outras pessoas que não foram reconhecidas como vítimas, mesmo diante do fato de que até hoje elas ainda sofrem pelos danos.

Discussão

No conjunto dos enunciados, é possível captar mudanças graduais promovidas pelos encontros narrativos de Ana Lisboa com Rubião, articulados com o conteúdo de saúde socioambiental introduzido no módulo, o que corrobora Capozzolo et al.55 Capozzolo AA, Casetto SJ, Imbrizi JM, et al. Narrativas na Formação Comum de Profissionais de Saúde. Trab. Educ. Saúde. 2014 [acesso em 2020 nov 6]; 12(2):443-56. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1981-77462014000200013.
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e Goulart et al.2222 Goulart PM, Pezzato LM, Junqueira V. Experiências narrativas: um relato de formação em saúde. Linhas Críticas (UNB). 2018 [acesso em 2021 fev 2]; (24): 237-54. Disponível em: https://doi.org/10.26512/lc.v24i0.18978.
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, quando citam mudanças, transformações que ocorrem do processo formativo por meio de encontros narrativos.

Como assinala Morin2323 Morin E. O Método 4. As ideias: habitat, vida, costumes, organização. 4. ed. Porto Alegre: Sulina; 2008.(35),

[..] onde há ‘calor cultural’, não há um determinismo rígido, mas condições estáveis e movediças. Do mesmo modo que o calor físico significa intensidade/multiplicidade na agitação e nos encontros entre partículas, o ‘calor cultural’ pode significar intensidade/multiplicidade de trocas, confrontos, polêmicas entre opiniões, ideias, concepções. E se o frio físico significa rigidez, imobilidade, invariância, vê-se então que o abrandamento da rigidez e das invariâncias cognitivas só pode ser introduzido pelo ‘calor cultural’. [grifos do autor].

A efervescência gerada dos encontros dialógicos, dos intercâmbios de ideias entre discentes e narradores com diferentes histórias e perspectivas de vida e realidades socioambientais adversas coopera para flexibilizar o educando quando vivendo a experiência de campo.

Ana Aurora vai indicando, paulatinamente, o quanto as revelações de Rubião contribuem para lhe fazer rever posicionamentos introjetados em seus conceitos, percebendo-se como sujeito em mudança. Esse processo de reflexão que faz Aurora, por meio do diário de campo, é um recurso didático pedagógico que estimula a autorreflexão, sendo que:

o aprendizado da auto-observação faz parte do aprendizado da lucidez. A aptidão reflexiva do espírito humano, que o torna capaz de considerar-se a si mesmo, ao se desdobrar [...]2424 Morin E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2003.(53).

E vai ao encontro da aprendizagem significativa, que, para Rogers2525 Rogers CR. Tornar-se Pessoa. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes; 2001.(323), é

[...] aquela que provoca uma modificação, quer seja no comportamento do indivíduo, na orientação da ação futura que escolhe ou nas suas atitudes e na sua personalidade. É uma aprendizagem penetrante, que não se limita a um aumento de conhecimentos, mas que penetra profundamente todas as parcelas da sua existência.

E como explicam Pelizzari et al.2626 Pelizzari A, Kriegl ML, Baron MB, et al. Teoria da aprendizagem significativa Segundo Ausubel. Rev. PEC. 2002; 2(1):37-42., trata-se do aprender a aprender do discente, que segue em direção à modificação e/ou ampliação de estruturas que possibilitem a construção e a reconstrução do conhecimento.

A discente ainda revela o interesse em aprofundar assuntos que são trazidos nos encontros, pois busca maiores informações, como, por exemplo, o detalhamento dos nomes de produtos químicos e seus efeitos. Reiterando o que Souza, Vilaça e Teixeira2727 Souza ALD, Vilaça ALA, Teixeira HJB. Os benefícios da metodologia ativa de aprendizagem na educação. In: Costa GMC, organizador. Metodologias ativas: métodos e práticas para o século XXI. Quirinópolis: Editora IGM; 2020. p. 33-45.(44) dizem,

As metodologias ativas são um processo educativo que encoraja o aprendizado crítico-reflexivo, onde o participante tem uma maior aproximação com a realidade, com isso possibilita uma série de estímulos, podendo ocorrer maior curiosidade sobre o assunto abordado [...].

O uso de diário de campo na formação em saúde, na perspectiva da saúde socioambiental, possibilitou o acompanhamento dos processos mobilizados a cada movimento feito pela discente no módulo, traduzindo a triangulação entre o viver a experiência do encontro com quem demanda cuidado em saúde, a articulação com o arcabouço teórico do módulo e a mediação docente no processo. Como indica Vieira2828 Vieira JA. O uso do diário em pesquisa qualitativa. Cad. Ling. Soc. 2001 [acesso em 2021 jan 13]; (5):93-104. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/les/article/view/6518/5597.
https://periodicos.unb.br/index.php/les/...
, os diários contam com o fator ‘sinceridade’, uma vez que não há certo e errado, logo, pode-se experimentar maior liberdade ao escrever sobre anseios, dúvidas, emoções e sensações, que podem não emergir nas trocas em grupo, com os pares.

O discurso narrativo desenvolvido pela dupla de discentes é desenvolvido no sentido de mostrar a percepção da narradora sobre o processo saúde-doença oriundo do incêndio, bem como as mudanças que ocorreram nas condições de vida de Aurélia desde então. As discentes indicam que há mudança de posicionamento de Aurélia, que, então, passa a se perceber como vítima do incêndio. Ela agora tem outra perspectiva, que é encontrar profissionais do direito que possam conduzi-la em processo por reparação de danos. Tal situação corrobora Cunha2929 Cunha MI. Conta-me agora! As narrativas como alternativas pedagógicas na pesquisa e no ensino. R. Fac. Educ. 1997 [acesso em 2021 jan 11]; (23):185-95. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-25551997000100010.
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, que diz que “Quando uma pessoa relata os fatos vividos por ela mesma, percebe-se que reconstrói a trajetória percorrida dando-lhe novos significados”.

As narrativas são consideradas tarefa que envolve arte, transcriação. Contando com o fato de ser a devolutiva para o narrador, essa narrativa costuma ser construída de acordo como os discentes percebem esse narrador. O tema central dos encontros narrativos, o incêndio e suas consequências na saúde individual e coletiva, permeou a narrativa. Todavia, não se deixou de verificar a descrição da narradora, de sua personalidade, seus gostos, sua percepção dos fatos, trazendo a pessoa para o centro, dando-lhe protagonismo.

Aurora expressa no diário de campo sua percepção de que, por mais que faça planejamento do encontro, há o fator incerteza, que é inerente às ações entre pessoas, ou seja, o encontro não acontece exatamente como se idealiza, posto que parte do narrador a forma como decide compartilhar suas memórias, assim como o que silencia. Acompanhar o diário de campo de Ana Aurora, desde o primeiro encontro com o narrador, e, por meio dele, acompanhar o processo de estranhamento, resistência ante as certezas prévias e as oriundas de formações anteriores, bem como a sua percepção de ter saído outra pessoa do processo, e até mudanças não percebidas, mas contidas no sentido do discurso, reafirmam o que dizem Capozzolo et al.55 Capozzolo AA, Casetto SJ, Imbrizi JM, et al. Narrativas na Formação Comum de Profissionais de Saúde. Trab. Educ. Saúde. 2014 [acesso em 2020 nov 6]; 12(2):443-56. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1981-77462014000200013.
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sobre o trabalho em saúde nos encontros e na produção de narrativas:

[...] qualquer intervenção em saúde ocorre num âmbito complexo que envolve sujeitos. Condições favoráveis a ela nem sempre são dadas de antemão, amiúde tendo que ser construídas. Mas esse não é um processo sem riscos de lado a lado, sendo o maior deles a possibilidade de se sair transformado ao final.

Essa possibilidade a que se referem os autores pode ser observada na maneira como a narrativa é elaborada, refletindo as formas de aproximação que foram sendo construídas e que também envolvem afetos, atenção, estranhamentos, familiaridades. Também, de forma mais minuciosa, no diário de campo, traz, além das observações descritivas, os pensamentos e sentimentos que os encontros narrativos proporcionam, uma vez que todos os sentidos estão postos, entrecruzam-se e atravessam práticas profissionais de cuidado.

Considerações finais

Os diários de campo e as narrativas, como estratégias e dispositivos pedagógicos que mobilizam a criação, a sensibilidade, o interesse pelo que o outro tem a dizer do seu processo saúde-doença e de sua história de vida, coadunam com uma formação que convida o discente para as coautorias do processo formativo. Constituem-se em importantes aliados para cartografar temas emergentes e relevantes a serem trazidos como material de estudo e análise no processo formativo em saúde. Além da dimensão de devolutiva individual aos estudantes, que abre novas possibilidades de compreensão e de abertura.

O discurso nos diários e na narrativa é permeado por brechas polissêmicas, uma vez que tende a trazer novos significados do aprendizado. Assim, apreendem-se movimentos de sair do lugar comum, da reprodução do que está posto hegemonicamente, assumindo perspectivas comprometidas com a garantia de direitos, inclusive o direito à saúde, articulando a concepção ampliada do processo saúde-doença e sua relação com a questão socioambiental.

É importante o desenvolvimento de estudos futuros sobre a inserção da saúde socioambiental na formação em saúde em outros contextos formativos e em outras perspectivas metodológicas.

Agradecimentos

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e aos participantes da pesquisa.

  • Suporte financeiro: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (Capes) processo nº 88887.463330/2019-01
  • *
    Orcid (Open Researcher and Contributor ID).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Set 2022
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2022

Histórico

  • Recebido
    01 Nov 2021
  • Aceito
    20 Jun 2022
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde RJ - Brazil
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