Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice

Daniela Bulcão Santi Vanessa Denardi Antoniassi Baldissera Sobre os autores

AS TEORIAS DE ENFERMAGEM SÃO CLASSIFICADAS DESDE AS grandes teorias até as da prática. A teoria do Modelo de Promoção da Saúde (MPS) de Nola Pender é considerada como uma teoria de médio alcance, ou seja, possui um número restrito de conceitos para reflexão teórica com potencial para orientar a prática11 Tonin L, Batista J, Lacerda MR, et al. Referenciais utilizados nas teorias de médio alcance: revisão integrativa. Adv. Nurs. Health. 2019 [acesso em 2023 jul 9]; (1):23-33. Disponível em: https://doi.org/10.5433/anh.2019v1.id38066.
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. No MPS, as afirmações filosóficas e os conteúdos são consistentes e claros, além disso, ele possui uma estrutura lógica e foi aplicado a diversos grupos etários de diferentes culturas, com vários problemas de saúde22 Khoshnood Z, Rayyani M, Tirgari B. Theory analysis for Pender’s health promotion model (HPM) by Barnum’s criteria: a critical perspective. Int. j. adolesc. med. health. 2018 [acesso em 2023 jul 9]; 32(4). Disponível em: https://doi.org/10.1515/ijamh-2017-0160.
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Nola Pender é uma das mais importantes teóricas contemporâneas da enfermagem. Sua prerrogativa é de que a promoção da saúde é uma competência da enfermagem e que deve ser ofertada para todos. Assim, por meio de seu modelo, a autora consolida uma ferramenta teórico-prática para enfermeiros desenvolverem a promoção da saúde baseados em evidências para as mais diversas populações.

O MPS foi criado em 1982 e revisado em 1987, 1996 e 2002; postulado nas publicações do livro ‘Health promotion in nursing pratice’, de Nola Pender, em parceria com Carolyn Murdaugh e Mary Ann Parsons. A ênfase dessa edição se dá em uma base sólida para construção da ciência da promoção da saúde, agregando a importância do apoio das tecnologias e de intervenções culturalmente competentes.

O livro é composto por seis partes. Na Parte 1, ‘A busca pela saúde humana’, é explanado sobre a definição de saúde e os modelos individuais e comunitários de promoção da saúde; na Parte 2, ‘Planejamento para a promoção e prevenção’, orienta-se a avaliação de comportamentos em saúde e desenvolvimento de um plano de promoção da saúde; na Parte 3, ‘Intervenções para promoção e prevenção da saúde’, ações em quatro áreas fundamentais são exploradas: atividade física, nutrição, gerenciamento de estresse e suporte social; na Parte 4, ‘Avaliando a efetividade da promoção da saúde’, são abordados modelos de avaliação do programa; a Parte 5, ‘Promoção da saúde em populações, diversas’, trata de estratégias de autocuidado em todo ciclo de vida de populações vulneráveis, de forma culturalmente sensível; a Parte 6, ‘Abordagens para promover uma sociedade mais saudável’, envolve a promoção da saúde em ambientes comunitários (família, escola, trabalho) por meio de parcerias e políticas, enfatizando a necessidade da mudança socioambiental.

O diagrama que representa o consolidado do modelo proposto por Nola Pender é apresentado abaixo (figura 1).

Figura 1
Modelo de Promoção da Saúde (Revisado)

A promoção da saúde envolve estilos de vida e comportamentos que permitem que as pessoas maximizem seu potencial por intermédio de mudanças individuais, organizacionais e comunitárias33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015..

Para as autoras, “os indivíduos têm capacidade para a mudança devido à capacidade de autoconhecimento, autorregulação, tomada de decisão e resolução de problemas”33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015.(27), assim, isso pode ser motivado pelo desejo de proteger a saúde, evitando doenças ou com o desejo de aumentar a saúde na presença ou ausência de doença.

Ao contrário de modelos de prevenção, o medo ou a ameaça como fonte de motivação/adesão são refutados, por isso, elaborar com a população o valor e o significado da saúde é fundamental para desenvolver um plano de mudança efetivo33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015..

O primeiro componente do MPS aborda as ‘Características e experiências individuais’, sendo esse importante porque oportuniza conhecer, na perspectiva dos indivíduos, suas vivências e interpretações - essas afetam diretamente seus comportamentos33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015.. Esse componente é constituído pelo ‘Comportamento anterior’, ou seja, o comportamento existente e que deve ser mudado44 Victor JF, Lopes MVO, Ximenes LB. Análise do diagrama do modelo de promoção de saúde de Nola Pender. Acta Paul. Enferm. 2005 [acesso em 2023 jul 9];18(3):235-40. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-21002005000300002.
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, o qual tem influência direta porque relaciona-se com a força do hábito33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015.; e pelos ‘Fatores pessoais’, divididos em fatores biológicos (como sexo, idade, estágio puberal, índice de massa corpórea, agilidade); psicológicos (por exemplo, autoestima, automotivação) e socioculturais (tais como educação, nível socioeconômico)33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015..

O segundo componente, ‘Sentimentos e conhecimentos sobre o comportamento específico’, constitui um núcleo central e de atenção para a enfermagem porque eles podem ser modificados por meio de intervenções.

Os ‘Benefícios percebidos’, são apreendidos quando existe uma experiência positiva, direta ou indireta. Sobre isso, é importante fazer um reforço positivo de tais condições e fomentar um automonitoramento a fim de evidenciar tais aspectos33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015..

As ‘Barreiras percebidas’, são percepções negativas de um comportamento, como dificuldades e custos pessoais44 Victor JF, Lopes MVO, Ximenes LB. Análise do diagrama do modelo de promoção de saúde de Nola Pender. Acta Paul. Enferm. 2005 [acesso em 2023 jul 9];18(3):235-40. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-21002005000300002.
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, que podem ser difíceis de transpor, pois geralmente os sentimentos negativos são mais elaborados cognitivamente do que os positivos33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015.. Nesse ponto, é fundamental o enfermeiro elencar benefícios versus barreiras para maximizar os efeitos positivos no curto e no longo prazo do comportamento promotor de saúde.

A ‘Autoeficácia’ é o julgamento das capacidades pessoais de organizar e executar as ações44 Victor JF, Lopes MVO, Ximenes LB. Análise do diagrama do modelo de promoção de saúde de Nola Pender. Acta Paul. Enferm. 2005 [acesso em 2023 jul 9];18(3):235-40. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-21002005000300002.
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, por isso é um forte preditor da mudança de comportamento observado em muitos estudos que utilizaram o MPS55 Santi DB, Nogueira IS, Baldissera VDA. O Modelo de Nola Pender para promoção da saúde do adolescente: revisão integrativa. Rev. Min. Enferm. 2023; (27):e-1507. Disponível em: https://doi.org/10.35699/2316-9389.2023.40440.
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. São fontes de autoeficácia: domínio, experiências e persuasão verbal33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015.. A autoeficácia modula diretamente o “Afeto relacionado com a atividade”33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015.(37), desse modo, as autoras enfatizam a relevância do feedback positivo nas estratégias de promoção da saúde.

Quanto às ‘Influências interpessoais’, relacionam-se com a influência de outras pessoas, família, cônjuge, provedores de saúde ou por normas e modelos sociais44 Victor JF, Lopes MVO, Ximenes LB. Análise do diagrama do modelo de promoção de saúde de Nola Pender. Acta Paul. Enferm. 2005 [acesso em 2023 jul 9];18(3):235-40. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-21002005000300002.
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; algumas culturas dão maior ênfase do que outras a cada um desses, sendo que existe uma maior suscetibilidade a isso na fase da vida da adolescência55 Santi DB, Nogueira IS, Baldissera VDA. O Modelo de Nola Pender para promoção da saúde do adolescente: revisão integrativa. Rev. Min. Enferm. 2023; (27):e-1507. Disponível em: https://doi.org/10.35699/2316-9389.2023.40440.
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As ‘Influências situacionais’ dizem respeito às percepções das opções disponíveis no ambiente e às normas e regulamentos, ou seja, o ambiente pode facilitar ou impedir determinados comportamentos de saúde44 Victor JF, Lopes MVO, Ximenes LB. Análise do diagrama do modelo de promoção de saúde de Nola Pender. Acta Paul. Enferm. 2005 [acesso em 2023 jul 9];18(3):235-40. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-21002005000300002.
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. É importante ter conhecimento dessas influências para poder aproveitar ou criar um contexto ambiental propício ao comportamento promotor de saúde.

Concluindo o MPS, o terceiro componente aborda o ‘Comportamento de promoção da saúde desejável’, para isso, destaca-se o ‘Compromisso com o plano de ação’, em que se determinam a ação específica e os atores envolvidos33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015.. Nessa fase de execução do comportamento promotor de saúde propriamente dito, as autoras preveem uma correlação de forças apontadas em ‘Demandas concorrentes e preferências’, que seriam situações sobre as quais o(s) indivíduo(s) teria(m) baixo ou alto controle para manutenção do comportamento; sendo esse apontado no ‘Comportamento promotor de saúde’.

No aspecto comunitário, as autoras ressaltam que a avaliação realizada com a comunidade, e não sobre ou para a comunidade, aumenta a probabilidade de sucesso. Nesse sentido, é importante destacar que nem todos aceitarão a mudança no mesmo prazo, pode haver aqueles com os seguintes perfis: “inovadores, adotantes precoces, maioria inicial, maioria tardia, retardatários”33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015.(67).

A fim de esclarecer o MPS e os pressupostos apresentados, segue uma sequência de itens fundamentais no processo de planejamento em saúde:

  1. Revisar e resumir dados da avaliação;

  2. Enfatizar os pontos fortes e competências do cliente;

  3. Identificar metas de saúde e opções de mudanças comportamentais;

  4. Identificar desfechos comportamentais ou de saúde para indicar o sucesso do plano na perspectiva do cliente;

  5. Desenvolver um plano de mudança de comportamento baseado nas preferências do cliente e no conhecimento “estado da ciência” sobre intervenções efetivas;

  6. Reforçar os benefícios da mudança e identificar incentivos para mudança no ponto de vista do cliente;

  7. Abordar facilitadores ambientais e interpessoais e barreiras à mudança de comportamento;

  8. Determinar um período para implementação;

  9. Formalizar um compromisso com metas de mudança de comportamento e fornecer o suporte necessário para realizá-las33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015.(105).

No MPS, o papel do enfermeiro seria de ajudar os indivíduos a

moldar uma história comportamental positiva para o futuro, enfocando os benefícios, ensinando como superar obstáculos e construindo altos níveis de eficácia e afeto positivo por meio da experiência de desempenho bem-sucedido33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015.(36).

Um desafio é que a maioria dos estudos que utilizou voltados à promoção da saúde atingiu nível individual, interpessoal e organizacional, poucos foram direcionados ao nível de comunidade e política33 Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015., bem como apenas testes parciais do MPS têm sido realizados em vez de aplicar todos os conceitos do modelo55 Santi DB, Nogueira IS, Baldissera VDA. O Modelo de Nola Pender para promoção da saúde do adolescente: revisão integrativa. Rev. Min. Enferm. 2023; (27):e-1507. Disponível em: https://doi.org/10.35699/2316-9389.2023.40440.
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  • Suporte financeiro: o presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (Capes) - Código de Financiamento 001

Referências

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    Tonin L, Batista J, Lacerda MR, et al. Referenciais utilizados nas teorias de médio alcance: revisão integrativa. Adv. Nurs. Health. 2019 [acesso em 2023 jul 9]; (1):23-33. Disponível em: https://doi.org/10.5433/anh.2019v1.id38066
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    Khoshnood Z, Rayyani M, Tirgari B. Theory analysis for Pender’s health promotion model (HPM) by Barnum’s criteria: a critical perspective. Int. j. adolesc. med. health. 2018 [acesso em 2023 jul 9]; 32(4). Disponível em: https://doi.org/10.1515/ijamh-2017-0160
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    Pender NJ, Murdaugh CL, Parsons MA. Health promotion in nursing practice. 7. ed. Boston: Pearson; 2015.
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    Victor JF, Lopes MVO, Ximenes LB. Análise do diagrama do modelo de promoção de saúde de Nola Pender. Acta Paul. Enferm. 2005 [acesso em 2023 jul 9];18(3):235-40. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-21002005000300002
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    Santi DB, Nogueira IS, Baldissera VDA. O Modelo de Nola Pender para promoção da saúde do adolescente: revisão integrativa. Rev. Min. Enferm. 2023; (27):e-1507. Disponível em: https://doi.org/10.35699/2316-9389.2023.40440
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2023

Histórico

  • Recebido
    09 Jul 2023
  • Aceito
    14 Jul 2023
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde RJ - Brazil
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