Pedrinho, religiosidade e prostituição: os agenciamentos de um ser ambivalente11 Parte das reflexões aqui apresentadas compõe a dissertação de mestrado “Histórias de vida na periferia: juventudes e seus entrecruzamentos”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, Brasil, pela primeira autora e orientada pela segunda autora deste artigo. O trabalho contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Resumos

Os estudos sobre a juventude e os cursos da vida revelam a ambivalência entre o desejo de ser e permanecer jovem e o imaginário em torno dos “perigos” trazidos por esse grupo. Diversas discussões encontram-se focadas nas problematizações em torno de jovens pobres, principalmente aqueles que fazem uso de drogas, sobre os quais se realiza uma abordagem imbuída pela falta, pela criminalização ou pela medicalização. Partindo de uma compreensão social sobre o tema e a desconstrução de estereótipos calcados no imaginário social, buscamos identificar as redes sociais, formais e informais, de jovens que dizem que usam drogas ilícitas, na periferia urbana de um município de médio porte de São Paulo. Para tanto, realizou-se um trabalho de campo de base etnográfica, por dois anos, junto àqueles que nos diziam que precisavam ou já precisaram de algum auxílio devido ao uso de drogas. Apresenta-se a história de Pedrinho e os seus caminhos tecidos para a obtenção de suportes, centrados em sua mãe, numa colega da prostituição e em dois líderes religiosos, um pastor e um pai de santo. A análise de suas redes sociais, principalmente as de cunho religioso, ressalta a ambivalência presente e revela o suporte fornecido na relação com as pessoas, desconstruindo os discursos acerca da “salvação” de usuários de droga pela fé. O caráter informal de suas redes demonstra os agenciamentos trazidos pela vida, permitindo-nos alicerçar Pedrinho como parte de uma realidade possível e que transcende as instituições formais de auxílio, que não ofertaram repostas condizentes à sua realidade.

Juventude; Drogas;  Redes sociais; Ambivalência


Introdução

Os estudos sobre a juventude contemporânea têm aumentado no decorrer das últimas décadas em função da necessidade de compreender esse público e dar corpo a um rol de conhecimentos específicos que visam, entre outros objetivos, a realização de intervenções sociais para o seu controle. O debate insere-se num contexto caracterizado por rápidas mudanças de sociabilidades, de valores e de modos de vida que influenciam no estado da arte acerca da investigação sobre quem é o jovem na sociedade contemporânea (Abramo e León, 2005ABRAMO, H. W.; LEÓN, O. D. Introdução. In: FREITAS, M. V. (Org.). Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais. São Paulo: Ação Educativa, 2005. p. 6-8.).

Uma das questões que, atualmente, tem sido associada à juventude é o uso de drogas e o imaginário social, ou o “fetiche”, sobre o “problema” em torno de tal ponto (Santos e Soares, 2013SANTOS, V. E.; SOARES, C. B. O consumo de substâncias psicoativas na perspectiva da saúde coletiva: uma reflexão sobre valores sociais e fetichismo. Saúde & Transformação Social, Florianópolis, v. 4, n. 2, p. 38-54, 2013.).

Para esta abordagem, é necessário que se faça uma diferenciação sobre classe social. À medida que a associação recai sobre os jovens pobres, a partir de um debate público alarmante, que se caracteriza pela desqualificação daqueles que fazem uso de determinadas substâncias, sem discutir aquelas que são de cunho legal, bem como sem abordar as drogas que se encontram em uso pelas classes média e alta (Fiore, 2005FIORE, M. A medicalização da questão do uso de drogas no Brasil: reflexões acerca de debates institucionais e jurídicos. In: CARNEIRO, H.; VENÂNCIO, R. P. P. (Org.). Álcool e drogas na história do Brasil. São Paulo: Alameda, 2005. p. 257-290.). É notória a diferenciação da compreensão do que é denominado problema e, consequentemente, das respostas aplicadas a determinados grupos, a depender de sua classe social.

Assim, assinalam-se duas premissas aqui envolvidas: classe social e diversidade geracional. Para o primeiro ponto, destaca-se que, neste trabalho, aborda-se a realidade marcada por um recorte de ordem socioeconômica. Reconhece-se que os indivíduos que pertencem a uma classe social desfavorecida economicamente possuem suas possibilidades de acesso aos direitos sociais – como educação, cultura, saúde e outros –, aos bens materiais e à inserção no mundo do trabalho marcadas, mesmo que não totalmente, pelo seu posicionamento de classe (Malfitano, 2011MALFITANO, A. P. S. Juventudes e contemporaneidade: entre a autonomia e a tutela. Etnográfica, Lisboa, v. 15, n. 3, p. 523-542, 2011.).

O segundo ponto refere-se à multiplicidade de possibilidades de vivência da juventude na sociedade contemporânea, sendo o uso de drogas parte do cotidiano de um determinado grupo, mas não uma experiência pasteurizada e generalizada. A partir de uma perspectiva geracional proveniente das ciências sociais e humanas, o termo “juventude” encontra-se inscrito numa categoria social construída historicamente e, portanto, passível de modificar-se ao longo do tempo (Abramo, 2007ABRAMO, H. W. Considerações sobre a tematização social da juventude no Brasil. In: FÁVERO, O. et al. (Org.). Juventude e contemporaneidade. Brasília, DF: Unesco, 2007. p. 73-90.; Pais, 2009PAIS, J. M. A juventude como fase de vida: dos ritos de passagem aos ritos de impasse. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 371-381, 2009.). Segundo Adorno e colaboradores (2005)ADORNO, R. C. F.; ALVARENGA, A. T.; VASCONCELLOS, M. P. C. Jovens, gênero e sexualidade: relações em questão para o campo da saúde pública. In: ADORNO, R. C. F.; ALVARENGA, A. T.; VASCONCELLOS, M. P. C. (Org.). Jovens, trajetórias, masculinidades e direitos. São Paulo: Fapesp: EdUSP, 2005. p. 16-29., essa nomenclatura sociológica compreende a juventude como um campo de inovação, de geração de novas identidades, de discussão de papéis e questionamento do caráter conservador das instituições, dos valores e das normas sociais. Nesse entendimento mais amplo, para além da perspectiva de geração, torna-se coerente o emprego do termo em sua forma plural, a fim de abarcar as múltiplas situações possíveis, a depender da perspectiva social, cultural, política, econômica e de gênero, entre outras, compondo um complexo mosaico de experiências (Sposito, 2003SPOSITO, M. P. Trajetórias na constituição de políticas públicas de juventude no Brasil. In: FREITAS, M. V.; PAPA, F. C. (Org.). Políticas públicas: juventude em pauta. São Paulo: Cortez, 2003. p. 57-75.).

Para os jovens pobres que fazem uso de drogas, sobretudo ilícitas, a discussão, comumente, encontra-se focada nas problematizações em torno de uma abordagem imbuída de falta, criminalização ou concentração da atenção no combate a produtos, perdendo de vista as questões socioculturais dos seus usos (Bardi, 2013BARDI, G. Histórias de vida na periferia: juventudes e seus entrecruzamentos. 2013. Dissertação (Mestrado em Terapia Ocupacional)- Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2013.). O que traz compreensões de cunho pejorativo, associadas à violência, ao crime, ao tráfico, à “bandidagem”. Dessa forma, esses jovens costumam ter consigo a fatia do fenômeno que é caracterizada pelo estigma da condenação social, pelo aumento dos controles sobre si mesmos e pela maior restrição de oportunidades de inserção (Pereira e Malfitano, 2012PEREIRA, P. E.; MALFITANO, A.P. S. Percursos metodológicos para a apreensão de universos de adolescentes e jovens: um enfoque sobre a questão das drogas. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo, v. 22, n. 3, p. 334-340, 2012.).

Em resposta às questões do uso de drogas pela população em geral, a sociedade tem agido através de suas instituições, especialmente por meio da saúde, com a tendência a medicalizar os objetos de suas intervenções nas mais diferentes áreas de interface entre a saúde e o social (Fiore, 2005FIORE, M. A medicalização da questão do uso de drogas no Brasil: reflexões acerca de debates institucionais e jurídicos. In: CARNEIRO, H.; VENÂNCIO, R. P. P. (Org.). Álcool e drogas na história do Brasil. São Paulo: Alameda, 2005. p. 257-290.). Essa via, no entanto, tem apresentado problemas para responder ao que se propõe, já que muitos serviços de saúde não se encontram preparados para atender aos jovens, a exemplo dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps)22 Segundo os documentos oficiais do Ministério da Saúde, entre todos os dispositivos de atenção à saúde mental, os Caps têm valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica Brasileira na organização de uma rede substitutiva ao hospital psiquiátrico no país. Dentre outras atribuições, é sua função prestar atendimento clínico às pessoas com transtornos mentais graves e persistentes em regime de atenção diária, evitando assim as internações hospitalares. Os CapsAD são dispositivos estratégicos para o atendimento de pacientes com “dependência” e/ou uso prejudicial de álcool e outras drogas (Brasil, 2005). no país, que não contemplam ainda a questão da juventude de uma forma diferenciada (Malfitano, 2008MALFITANO, A. P. S. A tessitura da rede: entre pontos e espaços: políticas e programas sociais de atenção à juventude: a situação de rua de Campinas – SP. 2008. Tese (Doutorado em Saúde Pública)- Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.; Sacdutto e Barbieri, 2009). Assim, fica evidente a necessidade de aproximação e compreensão do fenômeno contemporâneo a partir daqueles que estão na situação dita alarmante, ou seja, os jovens.

Nessa perspectiva, além de explicitar o posicionamento contrário às práticas relacionadas ao uso de drogas que são restritivas de liberdade, ou que defendem a abstinência como única possibilidade de abordagem da questão, propõe-se a aproximação e escuta de jovens que estejam fazendo uso de drogas na perspectiva de conhecê-los e, a partir daí, compreender a questão. Tendo em vista que, atualmente, pouco se tem debruçado sobre os contextos socioculturais em que se dá a produção, a distribuição e, em especial, o uso de drogas, de forma a evidenciar normas e regras formais ou informais que servem como referência para essas atividades, optamos por lançar foco nas redes sociais, formais e informais, de jovens que fazem uso de drogas (Macrae e Vidal, 2006MACRAE, E.; VIDAL, S. S. A Resolução 196/96 e a imposição do modelo biomédico na pesquisa social: dilemas éticos e metodológicos do antropólogo pesquisando o uso de substâncias psicoativas. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 49, n. 2, p. 645-666, 2006.).

Enfatizamos as redes sociais como possibilidade de estratégia dos atores na construção de laços sociais fortes, vistos como indispensáveis para que possa fazer frente às situações sociais adversas presentes em seus contextos de vida e dar acesso a círculos sociais mais ou menos amplos, ou inseri-los nesses círculos (Martins, 2004MARTINS, P. H. As redes sociais, o sistema da dádiva e o paradoxo sociológico. Caderno CRH, Salvador, v. 17, n. 40, p. 33-48, 2004.; Marques, 2009MARQUES, E. C. L. As redes sociais importam para a pobreza urbana? Dados –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 52, n. 2, p. 471-505, 2009.). As redes podem ser de cunho formal, representadas pelas formas de articulação entre agências governamentais e/ou dessas com redes sociais, organizações privadas ou grupos que lhes permitem enfrentar problemas; ou informais, quando se referem a um conjunto de interações espontâneas passíveis de descrição, podendo ser compostas por amigos, familiares, auxílios religiosos, inserções ilegais, entre outros (Pakman, 1995PAKMAN, M. Redes: una metáfora para práctica de intervención social. In: DABAS, E.; NAJMANOVICH, D. (Org.). Redes: el lenguaje de los vínculos. Buenos Aires: Paidós, 1995. p. 294-302.).

Partindo desses conceitos, buscamos identificar as redes sociais, formais e informais, de jovens que usam drogas ilícitas em uma periferia urbana, levando em consideração os seguintes questionamentos: possuem esses jovens proximidade com pessoas ou serviços com os quais podem contar em situações de possíveis dificuldades advindas do uso de drogas? Como se dão essas relações? Além disso, buscamos também compreender as redes que se impõem em suas vidas como fruto da mobilização da sociedade em torno da temática.

O conhecimento de tais redes sociais, no entanto, não pode ser de qualquer ordem; há uma especificidade na busca. Almeja-se conhecer as relações travadas na perspectiva do desenvolvimento da vida daqueles jovens, o que não se dá por meio de instrumentos de mensuração de fatores de riscos e proteção, que se coadunam com a forma dominante no meio social de se pensar as drogas, pela perspectiva única do problema, da família “desestruturada”, de não existência de crença religiosa, dos fatores individuais que possam “explicar” o “uso”. Na nossa proposição, as redes sociais são contribuição efetiva para a compreensão da vida de jovens moradores de periferia brasileiras, como também do próprio fenômeno das drogas.

Para tanto, parte-se de um trabalho de dois anos de acompanhamento territorial de jovens de uma determinada localidade, previamente conhecidos pela pesquisadora por meio da participação em atividades de extensão universitária, realizadas pelo Núcleo UFSCar do Projeto METUIA33 Se constituiu, desde 1998, como um grupo interinstitucional com ações no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão em defesa da cidadania das populações em processos de ruptura das redes sociais de suporte. Dentre as atividades que o projeto vem realizando estão os programas de intervenção de terapia ocupacional em suas interconexões com os setores da assistência social, da cultura, da educação e também da saúde (Barros e col., 2007). Atualmente, três núcleos estão em atividade: o da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o da Universidade de São Paulo (USP).. Foram convidados para colaborar com este estudo aqueles que diziam fazer uso de drogas e julgavam necessário algum auxílio para si em função desse uso.

O acompanhamento realizado foi originado numa relação técnica, por meio da nossa participação em serviços sociais, decorrendo a pesquisa em tela. Para a proposição de acompanhamento destacou-se a necessidade de disponibilidade para relações de troca, a fim de conceder concretude à possibilidade de realização de um método próximo aos participantes de pesquisa. Lançou-se mão de contribuições etnográficas, como a imersão naqueles cotidianos, o uso de diário de campo e análises advindas desse processo (Gomes, 2008GOMES, M. P. Antropologia: ciência do homem: filosofia da cultura. São Paulo: Contexto, 2008.). Assim, realizou-se circulação pelos espaços frequentados pelos jovens, por meio de visitas sistemáticas aos seus bairros, realizadas entre duas e três vezes por semana, num período de dois anos. Essa configuração auxiliou na compreensão do sentido das experiências por eles vividas e das estratégias das quais se utilizam para enfrentar o cotidiano (Dalmolin e col., 2002DALMOLIN, M. B.; LOPES, S. M. B.; VASCONCELLOS, M. P. C. A construção metodológica do campo: etnografia, criatividade e sensibilidade na investigação. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 11, n. 2, p.19-34, 2002.).

Tendo como base a convivência com os jovens e com os atores pertencentes às suas redes sociais, apresentamos parte da trajetória de Pedrinho, representada pela narração de episódios de sua vida ou extraídos durante a convivência com ele. Não se traz, entretanto, a preocupação acerca de um levantamento histórico de sua trajetória, à medida que não se pretende aqui contar “a história de vida” do jovem, mas, sim, assinalar determinadas vivências que se relacionaram ao uso de drogas em sua vida, caracterizando-se como momentos que não podem ser convertidos numa história totalizante sobre a sua existência.

Focalizando a construção das redes sociais realizada por nosso colaborador44 Pedrinho e os outros jovens participantes deste trabalho foram compreendidos enquanto colaboradores do processo, categoria que indica uma repartição dos lugares de produção de conhecimento ou compreensão no processo de pesquisa (Schmidt, 2008)., objetivamos conhecer algumas de suas trajetórias, fatos e partes das histórias trilhadas, para que pudéssemos ilustrar as possibilidades de uma vida em comunicação com diferentes agenciamentos, entre eles, as drogas. Compreendemos, entre seus espaços de circulação, que as mediações e as conexões que estabelecia simultaneamente reafirmavam e transbordavam o seu caráter local, dialogando entre o momento vivido e as implicações macrossociais ali envolvidas (Kleinman e col., 1997KLEINMAN, A.; DAS, V.; LOCK, M. (Ed.). Social suffering. Berkeley: University of California, 1997.). Sob essa perspectiva, damos luz a alguns momentos da vida de Pedrinho.

Pedrinho e os seus agenciamentos: a ambivalência enquanto uma estratégia de suporte social e de vida

Jovem (18 anos), homossexual, montado55 Expressão utilizada para falar sobre o ato de se travestir. para a prostituição, morador de uma periferia brasileira e usuário de cocaína, Pedrinho parece reunir consigo diversos tipos de estigmas impressos por determinadas compreensões do imaginário social. Para lidar com tais estigmas, demonstra adotar estratégias fortemente ambivalentes, pertencentes à vida, para alicerçar-se enquanto uma realidade possível em meio a todas as “marcas” que sobre ele são impressas. Sabe-se, contudo, que tais rotulações pejorativas ganham contornos específicos em função da condição socioeconômica em que vive e da sua faixa etária.

Pedrinho mora em uma pequena casa com os pais e dois irmãos, na periferia de uma cidade de médio porte do interior paulista. A família é composta também por uma irmã, que mora na casa ao lado com o marido e três filhos, e mais um irmão, que estava preso. Pedrinho é o mais magro entre todos os filhos do casal e tem os traços do rosto delicados, características muito bem utilizadas por ele quando se monta para frequentar a avenida onde se concentram mulheres e travestis que trabalham na prostituição.

O jovem começou a usar drogas pela convivência com amigos. Lúcia, sua mãe, pontua que desde muito cedo, quando o filho tinha cerca de 9 anos, conheceu uma menina no bairro que usava drogas e, então, por curiosidade, passou a usar também.

Em nossos primeiros encontros, já sabendo o motivo de tê-lo procurado, Pedrinho contou que havia ficado internado em uma comunidade terapêutica em outro município, durante seis meses. Pouco antes de ser encaminhado para lá, disse que se sentia muito mal em função do uso de drogas, que estava deprimido e não tinha mais vontade de fazer nada; então pediu ajuda para a mãe. Os dois foram ao serviço reconhecido para esse fim, o CapsAD do município, onde, após avaliações, profissionais travaram um diálogo com o juiz responsável pelos encaminhamentos para clínica de internação ou comunidade terapêutica fora do município, visto que aquela cidade não dispunha de possibilidades de internação para essa demanda.

Pedrinho conta que ficou abstinente durante o tempo em que se manteve internado. Entretanto, quando retornou para casa, num prazo de 15 dias passou a usar drogas novamente, em quantidade e frequência ainda maiores. Hoje diz que não tem vontade de voltar para a clínica de reabilitação. Apesar de ter feito muitos amigos no lugar, dos quais sente saudades, acha que os meses de internação não resolveram. Voltou para casa e percebeu que tinha muita saudade de tudo aquilo que tinha deixado para trás, inclusive a droga. Costumava dizer que se resolvesse por parar de usar cocaína, era preciso consegui-lo no seu bairro, junto da sua família e amigos, pois, de qualquer forma, era ali que teria que continuar vivendo.

Durante o acompanhamento do cotidiano do Pedrinho, foi possível compreender uma dimensão bastante presente em sua vida: a religiosidade. Desde criança tinha se aproximado do candomblé, prática que havia perdurado até aquele momento, pois toda semana se envolvia em alguma atividade do terreiro, quer fosse decorando a coroa para a festa de algum orixá ou preparando algum prato para oferenda dedicada à Pombagira, a entidade pela qual tinha verdadeira paixão. O envolvimento com essas tarefas era fonte de grande animação e, mais do que isso, essa religião, segundo ele, ocupava o primeiro lugar dentre as possibilidades de ajuda às dificuldades advindas do uso de drogas. Isso porque o candomblé o deixava mais entretido, consequentemente pensando menos na droga, parecendo não precisar tanto dela.

Fábio, o pai de santo do terreiro frequentado pelo jovem, o ajudava em muitos momentos em que estava mal em função do uso de drogas, conversava com ele abertamente sobre diversos assuntos, mantendo uma relação de compreensão e proximidade com suas diversas dificuldades e dilemas. Certo dia, em meio a uma conversa, disse que costumava se preocupar muito com Pedrinho por conta do uso de drogas. Relatava diversas situações durante as quais já havia pegado toda aquela merda e jogado na privada, quando Pedrinho apareceu pedindo para cheirar. Contava também que, por vezes, era ele quem acolhia o jovem depois dos longos dias em que sumia usando drogas; ali ele podia esperar o efeito da substância passar, tomar banho e comer, só voltando para a própria casa depois que tivesse se recomposto.

Fábio era travesti, fato que podia explicar parte do suporte concedido a Pedrinho em função de sua orientação sexual. Juntos compartilhavam perucas, dicas de maquiagem, combinações de roupas; partilhavam do mesmo universo, o que parecia fortalecer a cumplicidade existente. Porém, quanto ao quesito prostituição, Fábio não parecia ter concordância alguma; não era raro ouvi-lo dizendo para Pedrinho que precisava se valorizar enquanto homossexual ou, ainda, que precisava ser bicha com dignidade, uma pessoa que trabalhasse como qualquer outra e que não precisava se prostituir.

Pôde-se observar que Fábio se destacava como uma importante fonte de suporte social informal para Pedrinho e não ocupava em sua vida apenas o lugar de pai de santo, mas também de amigo com quem ele podia contar nos momentos de dificuldades quaisquer.

Outra importante fonte de suporte social informal em sua vida concentrava-se na figura de Melissa, uma amiga travesti e companheira de trabalho, com quem mantinha uma relação bastante conflituosa. Era comum ver Pedrinho sendo rebaixado por ela, que zombava de seu corpo, dizendo ser magro demais, sem curvas, sem grandes atrativos para os clientes que procuravam outros arquétipos de mulher no comércio sexual. Melissa, por sua vez, era uma travesti que chamava muito a atenção: alta, forte, com o corpo todo trabalhado por silicone e hormônios que ingeria há muitos anos.

Melissa relatava os fatos ocorridos enquanto estavam na pista66 Expressão utilizada, neste contexto, para dizer sobre o local onde se reúnem as práticas de prostituição.. Não eram raros os relatos sobre o uso intenso de cocaína e álcool pela madrugada: A Pedrinha (se referia a Pedrinho no feminino) bebe muito, usa muita droga e depois fica passando mal. Aí eu tenho que ficar ajudando ela até melhorar.

Aos poucos revelou-se que Melissa desempenhava um papel essencial no auxílio dado ao amigo por conta do uso de drogas, principalmente porque era ela quem estava ao seu lado nos momentos mais críticos de uso.

A própria mãe de Pedrinho, que não gostava de Melissa, por achar que ela era uma má influência para seu filho, por vezes assumiu que a travesti tinha sido importante em diversos momentos de risco extremo. Em um deles, por exemplo, Melissa havia acionado uma ambulância ao encontrar Pedrinho desmaiado na sarjeta durante a madrugada de trabalho, em função do uso de drogas ilícitas e álcool. Logo após a chegada do transporte, entretanto, ela havia saído correndo com medo de ser responsabilizada pela situação. Em outro episódio, dessa vez de conflito com clientes, havia se utilizado da própria força física para defender o amigo, muito mais frágil do que ela.

Assim, naquele cotidiano de prazeres e embates, deveriam zelar um pelo outro nos momentos de dificuldade. O companheirismo era estratégico num ambiente de frequente disputa e competição. Então, quando costumava ver o amigo em altos níveis de alteração por conta do uso da droga, procurava ajudá-lo, quer fosse conversando, segurando o picumã77 Gíria que no entendimento das travestis é utilizada para denotar peruca. para que ele pudesse vomitar ou chamando uma ambulância quando percebia risco de overdose. As mesmas atitudes eram, por conseguinte, esperadas de Pedrinho, caso Melissa estivesse numa situação de perigo.

Em princípio o papel desempenhado por Melissa poderia ser considerado paradoxal, uma vez que a jovem que o auxiliava nos momentos de maior dificuldade, era também quem o havia inserido nas práticas da prostituição e uso de drogas. Entretanto, após reflexão mais aprofundada, passamos a compreender que o cuidado dado a Pedrinho e todo o aconselhamento direcionado a ele eram parte da sua inserção feita na prostituição e no uso de drogas. Melissa parecia desempenhar na vida de Pedrinho a função de usuária mais experiente (de cocaína e da avenida de prostituição). Havia adentrado o “mundo do desvio” há mais tempo e com maior profundidade que Pedrinho e, naqueles momentos, era responsável por sua inserção nas carreiras, do uso de drogas e da prostituição (Becker, 2008BECKER, H. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.).

Assim, se mantinha de forma mais ou menos estável a condição de Pedrinho. Ele fazia uso de cocaína quase todos os dias no período noturno, enquanto trabalhava na pista; e acessava prioritariamente as redes sociais informais de sua mãe, irmã, pai de santo e Melissa quando ele julgava necessário ou quando essas pessoas percebiam uma demanda extrema.

Esse panorama, porém, parece ter mudado radicalmente quando Pedrinho passou a se portar de forma diferenciada. Numa primeira impressão, foi possível notar diferenças significativas nas roupas e na maneira de o jovem se arrumar e portar. As vestimentas chamavam atenção por não trazerem mais aspectos femininos, o cabelo estava mais curto, o jeito de falar também havia mudado, estava mais compenetrado, menos espontâneo, mais sério. Após um tempo, nos ele revelou que havia interrompido as idas à pista e o uso de drogas.

As mudanças, que se deram de forma repentina, tinham origem em uma situação emblemática de Pedrinho com um de seus clientes: o jovem havia feito um programa, mas ao final o cliente não quis pagar; então, após desentendimento entre os dois, Pedrinho, muito alterado devido ao uso de drogas, o havia agredido fisicamente. Tal situação tinha acabado com a presença da polícia, acionada por vizinhos que ouviram a gritaria. O homem tinha sido preso em função da idade de Pedrinho (17 anos, às vésperas de fazer 18) e o jovem havia sido levado ao Conselho Tutelar. O fato foi, então, publicado num jornal local, expondo o jovem aos constantes comentários dos moradores do bairro.

Depois desse episódio, encabulado, Pedrinho se recolheu à sua casa, de onde só conseguiu ser retirado por vizinhas e amigas evangélicas. Essas mulheres também se faziam presentes em sua vida e foi por suas vozes que essa história pôde ser acessada pela primeira vez, já que o jovem evitava falar sobre o assunto. Muitos diálogos foram necessários para que ele conseguisse se abrir. Foram dias e dias de reclusão. Pérola, uma das vizinhas mais próximas em função da amizade de Pedrinho com sua filha Suelen, o convidou para sair de casa, mas ele recusou. Depois de outras tentativas em vão, Eliane, outra vizinha e amiga, conseguira levá-lo para andar de moto, a única forma aceita por Pedrinho para ir para a rua: com um capacete na cabeça. Em sua casa, o jovem tinha se aconselhado com o Pastor Josué, marido de Eliane.

A partir daí, se afastou do terreiro e passou a frequentar os cultos da Assembleia de Deus, ministrados pelo Pastor Josué. Após muitos convites feitos por Pérola, Suelen, Eliane e outras pessoas do bairro, a ida de Pedrinho àquela igreja resultara, por sua vez, numa nova situação emblemática: o aceite realizado naquele momento era motivo de grande festa e alarde, resultado de muita perseverança daquelas mulheres. A partir de então, todas as suas mudanças foram compreendidas por aquelas pessoas como mérito da igreja e, principalmente, de Deus, que tinha tocado a sua alma. Atribuíam com a mesma clareza o uso de drogas anteriormente realizado às práticas do candomblé.

Para o Pastor Josué a igreja e a busca divina seriam as únicas possibilidades de “solução” para Pedrinho. Era necessário tentar formas para fazer com que o jovem permanecesse o máximo de tempo possível dentro da igreja, pois, assim, segundo o pastor: a palavra de Deus aos poucos tocaria a sua alma e traria mudanças de condutas – algumas delas já iniciadas com as primeiras visitas. Pedrinho, ainda segundo o pastor, gostava muito de frequentar a Assembleia de Deus, rezava com fervor. Mas ainda não tinha forças para se manter naquele caminho. Por isso, as pessoas ao seu redor precisavam contribuir; fazer convites incessantes, competir com as outras programações, insistir na sua ida e acompanhá-lo no trajeto até a igreja para livrá-lo das tentações que pudessem aparecer. Assim, o pastor repetia: a palavra pode libertar ele, a convivência ali dentro da igreja, Jesus pode libertar ele.

Sobre a homossexualidade, o pastor Josué fez ainda outros discursos. Disse que sua religião não aceitava as práticas homossexuais, pois eram contra Deus e contra a natureza criada por ele: o macho e a fêmea. Romper com essa determinação seria uma falta gravíssima com Deus e significava uma sentença de sofrimento após a morte. Além disso, ser homossexual significava ter consigo um demônio, estar possuído por um espírito maligno do qual era preciso se libertar. O próprio Pedrinho, segundo o pastor, precisa se libertar disso e virar um homem de verdade.

Ao mesmo tempo, para o líder religioso a ida do jovem aos terreiros era a causa de uma possessão de demônios e espíritos. Suelen, amiga de Pedrinho, ex-adepta ao candomblé, também fazia o mesmo tipo de atribuição, dizendo que aquelas práticas a haviam conduzido para a derrota, pois enquanto acreditava nos orixás não tinha um emprego, dependia de empréstimos alheios, vivia endividada e tinha chegado até mesmo a guardar droga em sua casa.

Nesse relato se identifica um discurso muito recorrente aos adeptos das religiões neopentecostais, quando, durante os cultos, muitas vezes televisionados em programas religiosos, dão testemunhos de conversão apresentando-se como antigos frequentadores de terreiros e “confessam” os malefícios que teriam sido feitos com a ajuda das entidades afro-brasileiras (chamadas de “encostos”). Em muitos desses programas são exibidas “reconstituições de casos reais” ou dramatizações nas quais símbolos e elementos das religiões afro-brasileiras são retratados como meios espirituais para a obtenção unicamente de malefícios (Silva, 2007SILVA, V. G. Neopentecostalismo e religiões afro-brasileiras: significados do ataque aos símbolos da herança religiosa africana no Brasil contemporâneo. Mana, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, p. 207-236, 2007.).

Em análises sobre tais práticas, Birman (2009)BIRMAN, P. Feitiçarias, territórios e resistências marginais. Mana, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-348, 2009. aponta que os evangélicos costumam relacionar as acusações de feitiçaria às práticas criminosas e ao banditismo, enfatizando a presença de um potente inimigo interno, o “bandido” ou o “traficante”, que vive nas comunidades. Por meio desse processo, os “crentes” ou “evangélicos” ganharam reconhecimento público “santificado” no mesmo momento em que se construíram acusações sobre as feitiçarias como práticas criminosas. Assim, criou-se o imaginário que os praticantes de outras religiões (em especial as de cunho afrodescendentes) são bandidos ou traficantes. E, na outra vertente, os evangélicos são as pessoas “corretas” do local. Dessa forma, atribui-se o reforço da dualidade vivida nas comunidades, entre os “inocentes” e os “culpados”, os “santificados” e os “endemoniados” (Birman, 2009BIRMAN, P. Feitiçarias, territórios e resistências marginais. Mana, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-348, 2009.). Nesse lugar social Pedrinho estaria, então, distanciado dos estigmas que antes o perturbavam, segundo o pastor. Restava-nos, entretanto, descobrir se o jovem tinha saído completamente do candomblé. Ou melhor, descobrir se o candomblé, de fato, tinha saído de dentro dele.

Ao longo da observação de campo, pudemos presenciar diversos discursos e práticas retornarem para a vida de Pedrinho. O jovem voltara a usar roupas mais femininas, esmalte nas unhas e lápis nos olhos. Também havia voltado para a pista e para o uso de drogas. Percebemos também gradual reaproximação de Pedrinho com as práticas do candomblé, passando assim a frequentar as duas religiões.

Inicialmente, a transitoriedade entre as religiões nos gerava questionamentos: como podia estar vinculado a duas crenças tão distintas num espaço tão curto de tempo? Que tipo de suporte social cada uma das religiões oferecia para ele? Contudo, os dados do campo revelaram que não se tratava mais de situação de transitoriedade, já que o jovem não estava saindo de uma em direção à outra. O que se configurava era uma situação de ambivalência, uma vez que Pedrinho permanecia frequentando as duas religiões, a depender do dia e do horário, conectando-se a cada uma delas no momento que considerasse mais apropriado, usufruindo de diferentes redes informais para a sua vida.

Segundo Bauman (1999)BAUMAN, Z. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Zahar, 1999., ambivalente é toda experiência que escapa ao esforço de classificação objetiva, que não ocupa lugares predefinidos e fixados pelo empreendimento segregador da linguagem. A ambivalência afronta o poder classificatório de separar os objetos e os eventos em classes distintas e mutuamente exclusivas, desafia a capacidade da linguagem de ordenar o mundo e acabar com a sensação inquietante advinda da experiência do acaso e da contingência. Por isso, ao longo de toda a história, em todos os tempos e lugares, as sociedades humanas se empenharam em combatê-la.

Pedrinho parece representar com brilhantismo o conceito de ambivalência que a tantos incomodava. Reunia diversos pontos ambivalentes num conjunto de experiências vividas; seu uso de cocaína, por exemplo, transitava entre diversos extremos e mediações. Pedrinho começou usando maconha e cocaína corriqueiramente, passando a um uso desgovernado, momento em que a família e os serviços sociais adentraram o percorrer de sua vida classificando-o como um indivíduo doente; rompeu completamente com o uso de drogas enquanto se mantinha em tratamento em comunidade terapêutica; voltou ao uso extremo com toda a força; interrompeu o uso novamente enquanto frequentava a Assembleia de Deus e, por fim, voltou ao consumo como no início.

Durante essas oscilações Pedrinho ficava também suscetível a diversos enquadramentos: foi considerado viciado pela família e pelos profissionais do CapsAD e da comunidade terapêutica; vagabundo pelos moradores do bairro; irresponsável por Melissa; possuído pelos fiéis da Assembleia de Deus; uma pessoa que precisa de ajuda, pelo pai de santo do terreiro. Mas também era uma boa companhia pela vizinha que dividia com ele um ou outro baseado88 Termo utilizado para se referir informalmente à maconha. e por outros amigos com os quais compartilhava drogas. Era, também, um consumidor em potencial para os traficantes do bairro. Enfim, precisava lidar o tempo todo com nomeações diferenciadas presentes no seu círculo de convivência e, muitas vezes, aceitar as consequências provenientes daquelas fontes de “compreensão”.

Se, por um lado, essa condição o tornava frequentemente tensionado de diversas formas, por outro nos mostra o esforço realizado por diversas instituições e pessoas para que o jovem pudesse ser incluído em alguma categoria. De alguma forma, ainda que as possibilidades colocadas não sejam satisfatórias, nos parece que Pedrinho conseguia escapar de certas determinações prévias que poderiam condená-lo: “não assimilado”, “irremediavelmente ambivalente” e “estranho crônico”, entre outras (Bauman, 1999BAUMAN, Z. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.).

Entretanto, as histórias de Pedrinho aqui relatadas e as vivências tidas com ele não revelam as experiências de um ser passivo, que é apenas levado o tempo todo pelas classificações que lhes são impingidas. Não se trata disso. O jovem parece possuir a capacidade de realizar um agenciamento das categorias disponíveis na rede confeccionada a sua volta, que lutam para fixá-lo em algum de seus pontos. Ele demonstra, enfim, que a ambivalência é uma possibilidade em meio a todas as tentativas existentes de sua destruição ou aniquilamento. Ele é capaz de viver essa ambiguidade e essa ambivalência com todos os desafios postos a essa condição, mesmo quando elas culminam em violência.

Exemplo concreto da capacidade adquirida por Pedrinho de agenciar as redes sociais existentes em sua vida coloca-se no momento em que ele utiliza do fato de estar supostamente fazendo um tratamento no CapsAD do município para conseguir acesso ao transporte público junto à assistente social do Centro de Referência de Assistência Social (Cras). Ele precisava ir ao centro e não tinha dinheiro para pagar o ônibus. Usou, então, da possibilidade de acesso a partir do discurso esperado, mesmo não possuindo nenhuma intenção de ir ao CapsAD e não mantendo vínculos nem com o serviço de saúde nem com o serviço social. Visualizava ali a possibilidade de receber algum tipo de benefício que, na sua avaliação, poderia servir às suas necessidades (já que, segundo relato do próprio colaborador, frequentar aquelas instituições não lhe trazia benefício algum). Dessa forma, Pedrinho mostrava ter conhecimento das dinâmicas formais, utilizando-as como parte de sua rede formal, porém direcionadas para aquilo que interpretava como o seu benefício.

Outro dado que se revela a partir da análise dessas histórias é o fato de que o auxílio fornecido pelas religiões nas quais Pedrinho se apoiava concentram-se na relação travada com as pessoas – pai de santo, pastor e a comunidade religiosa desses lugares – e não nas divindades cultuadas em cada uma delas, como se pensava inicialmente. Não se tratava, nesse caso, de uma “salvação pela fé”, mas, sim, de suporte fornecido na relação com as pessoas. Nesse sentido, questionamos o poder divino, tão enfatizado pelo imaginário social detido pelas religiões e pela literatura (Sanchez e Nappo, 2008; Dalgalarrondo e col., 2004), sobretudo a católica e a evangélica, na prevenção ao uso de drogas ou tratamento de sua “dependência”. Temos a percepção de que esses suportes não se encontram necessariamente relacionados com as crenças dos sujeitos vinculados às religiões, ou pelos menos não apenas.

Na Assembleia de Deus, ou junto de seus vizinhos adeptos dessa igreja, Pedrinho podia acessar um tipo de suporte bastante peculiar, uma vez que era tratado com todas as regalias necessárias para que pudesse, de fato, se vincular àquela religião. Não era destratado pelo pastor nem pelos fiéis por ser usuário de droga, homossexual ou se prostituir. Isso ocorria de forma indireta, à medida que eram recorrentes os discursos sobre a negação dessas práticas durante os cultos. Mas bastava que os “pecadores” se aproximassem para que a possibilidade de conversão transformasse a relação que eles supostamente pudessem ter com o mal e com a morte, que seria o destino que a sociedade lhes reserva majoritariamente (Birman, 2009BIRMAN, P. Feitiçarias, territórios e resistências marginais. Mana, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-348, 2009.).

Ali, além de ser acolhido, Pedrinho tomou para si a marca da santidade impressa na figura dos evangélicos, quando se sentia rotulado por compreensões preconceituosas acerca de si (o drogado, o travesti, o revoltado). Pôde livrar-se, mesmo que temporariamente, dos julgamentos feitos pelos outros moradores do bairro (os não evangélicos e os que não compartilhavam com ele suas práticas recriminadas). As relações travadas na Assembleia de Deus pareciam ser para o jovem uma válvula de escape, quando as coisas não iam bem na pista, quando estava em enrascadas em função do uso de drogas, quando Fábio brigava com ele por não ter executado direito as tarefas do terreiro, dentre outras situações.

No caso de sua vinculação ao candomblé, local onde não era visto como uma promessa de conversão, Pedrinho era tratado da mesma forma que sempre fora desde que iniciara suas idas ao terreiro, há muitos anos. Fábio era um pai de santo e um amigo, para o qual Pedrinho podia falar sobre os últimos acontecimentos, mesmo que eles estivessem relacionados ao uso de drogas e à prostituição. Havia grande liberdade para que se mostrasse como era. Por estar ali, Pedrinho atribuía ao seu nome alguns estigmas, era “bruxo”, “macumbeiro”, “possuído”, “endemoniado”, mas, ao que parece, não se importava muito com isso. Tinha um lugar em que podia falar sobre as coisas que quisesse e onde se sentia importante: tinha atribuições e responsabilidades a cumprir. Também, usufruía de uma rede que o apoiava para se reestabelecer antes de ir para a casa – por exemplo, após uma noite montado na pista.

Assim, lançando mão de diferentes redes de suporte, Pedrinho vivia as relações de ambivalência diluídas em sua vida privada. Suas múltiplas inserções e redes demonstravam uma resistência à normatização, àquilo que busca a separação dos objetos e dos eventos em classes distintas, numa resistência exercida pelos indivíduos (Bauman, 1999BAUMAN, Z. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.). Dessa forma, Pedrinho poderia vir a ser “apenas” um drogado, ou um vagabundo, ou um travesti, ou um ser possuído, ou um ser libertado por Deus, ou muitos outros tipos de indivíduos que a sociedade pode conceber e sobre os quais exerce controle. Todavia, Pedrinho transitava nos contraditórios rótulos, na busca ambígua de suas múltiplas redes para a sua vida.

Em sua ambivalência, o jovem parecia saber administrar com eficiência as idas à Assembleia de Deus e ao terreiro; sabia o que podia ou não ser dito em cada lugar, como deveria gesticular, com quais pessoas deveria falar. Enfim, conhecia os códigos expressos, realizava uma análise aprofundada e, posteriormente, fazia as adequações necessárias. Dessa forma, para que pudesse administrar essa ambiguidade e viabilizá-la, era necessário um esforço pessoal, que, entretanto, só podia ser empreendido em função dos benefícios alcançados por estar naqueles espaços.

Considerações finais

A partir da história de Pedrinho percebe-se que é no campo informal que se inscrevem, fortemente, as redes sociais daquele jovem. Por meio das histórias narradas constata-se que ele tinha um importante suporte junto à mãe e à irmã, pessoas com quem julgava que podia contar nos momentos de dificuldades, incluindo aqueles que se deram em função do uso de drogas. Paralelamente, contava também com o apoio religioso concedido por duas crenças diferentes: o candomblé e o pentecostalismo.

Numa experiência ambivalente, tais templos religiosos forneciam a Pedrinho tipos de suporte distintos por possuírem leituras também diferenciadas acerca de sua existência e, mais especificamente, o fato de ser usuário de drogas. O jovem, que transitava entre as duas, parecia ter conhecimento sobre os “benefícios” que podiam ser adquiridos em cada uma, buscando-as em momentos específicos de sua vida, a depender dos acontecimentos vivenciados. Ambas possuíam em comum (ao menos) o fato de concentrarem o suporte fornecido ao jovem nas relações travadas com seus líderes religiosos.

Por fim, entre os apoios informais, sua rede era também constituída por Melissa, que compartilhava com ele os momentos mais críticos de uso de drogas. Quando não era por ele ouvida, Melissa intervinha prontamente para encaminhá-lo aos locais que pudessem lhe assegurar o tratamento necessário, tendo em vista diversas situações de auxílio. Assim, observa-se que ela tinha grande importância na vida de Pedrinho, pois, dentre todas as pessoas que com ele se preocupavam, era quem mais o ajudava. Isso porque, ao compartilhar seu cotidiano, Pedrinho e Melissa vivenciavam situações conjuntas e partilhavam prazeres, soluções, frustrações e dificuldades.

No que tange ao agenciamento das redes sociais feita por Pedrinho, constata-se que, assim como muitos outros indivíduos de nossa sociedade desigual, sob as mais variadas perspectivas, Pedrinho é mais um ser ambivalente, com todos os desafios postos a condição. Leva consigo a marca de um grupo social, a marca da condição de pobreza socioeconômica, que é bastante determinadora de suas possibilidades de vivência (Abad, 2003ABAD, M. Crítica política das políticas de juventude. In: FREITAS, M. V.; PAPA, F. C. (Org.). Políticas públicas: juventude em pauta. São Paulo: Cortez, 2003. p. 13-32.). Ainda que possa agenciar diversas formas de assimilações ou de não assimilações, tem poucas chances de se sobressair frente à sua condição, vivencia uma sensação de impotência permanente frente a um mundo cujo controle parece escapar-lhe das mãos, experimenta o mundo como uma armadilha sempre pronta a lhe pregar peças.

A compreensão sobre as redes sociais de Pedrinho, no entanto, nos mostra as possibilidades concretas de vivência e as tessituras de suportes que constituem a vida. As potencialidades de uma aproximação do cotidiano, cedendo à constante “contaminação” com subjetividade, aceitando outras realidades possíveis, podem dar pistas sobre uma possível inserção em redes formais, desde que conte com estratégias efetivas não moralizantes e que parta, necessariamente, do outro e suas possibilidades concretas de vida. Nas trajetórias de Pedrinho, as instituições formais não ofertaram repostas condizentes com a sua realidade.

Referências

  • ABAD, M. Crítica política das políticas de juventude. In: FREITAS, M. V.; PAPA, F. C. (Org.). Políticas públicas: juventude em pauta. São Paulo: Cortez, 2003. p. 13-32.
  • ABRAMO, H. W. Considerações sobre a tematização social da juventude no Brasil. In: FÁVERO, O. et al. (Org.). Juventude e contemporaneidade Brasília, DF: Unesco, 2007. p. 73-90.
  • ABRAMO, H. W.; LEÓN, O. D. Introdução. In: FREITAS, M. V. (Org.). Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais. São Paulo: Ação Educativa, 2005. p. 6-8.
  • ADORNO, R. C. F.; ALVARENGA, A. T.; VASCONCELLOS, M. P. C. Jovens, gênero e sexualidade: relações em questão para o campo da saúde pública. In: ADORNO, R. C. F.; ALVARENGA, A. T.; VASCONCELLOS, M. P. C. (Org.). Jovens, trajetórias, masculinidades e direitos São Paulo: Fapesp: EdUSP, 2005. p. 16-29.
  • BARDI, G. Histórias de vida na periferia: juventudes e seus entrecruzamentos. 2013. Dissertação (Mestrado em Terapia Ocupacional)- Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2013.
  • BARROS, D. D.; LOPES, R. E.; GALHEIGO, S. M. Projeto Metuia: apresentação. In: SIMPÓSIO DE TERAPIA OCUPACIONAL SOCIAL, 1., 2007, Goiânia – Goiás. Anais do X Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional: contextos, territórios e diversidades. Goiânia: Associação dos Terapeutas Ocupacionais de Goiás; Santa Catarina: Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais, 2007. Não paginado.
  • BAUMAN, Z. Modernidade e ambivalência Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
  • BECKER, H. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
  • BIRMAN, P. Feitiçarias, territórios e resistências marginais. Mana, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 321-348, 2009.
  • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil Brasília, DF: OPAS., 2005. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas.
  • DALGALARRONDO, P. et al. Religião e uso de drogas por adolescentes. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 26, n. 2, p. 82-90, 2004.
  • DALMOLIN, M. B.; LOPES, S. M. B.; VASCONCELLOS, M. P. C. A construção metodológica do campo: etnografia, criatividade e sensibilidade na investigação. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 11, n. 2, p.19-34, 2002.
  • FIORE, M. A medicalização da questão do uso de drogas no Brasil: reflexões acerca de debates institucionais e jurídicos. In: CARNEIRO, H.; VENÂNCIO, R. P. P. (Org.). Álcool e drogas na história do Brasil. São Paulo: Alameda, 2005. p. 257-290.
  • GOMES, M. P. Antropologia: ciência do homem: filosofia da cultura. São Paulo: Contexto, 2008.
  • KLEINMAN, A.; DAS, V.; LOCK, M. (Ed.). Social suffering Berkeley: University of California, 1997.
  • LOPES, R. E.; SILVA, C. R.; MALFITANO, A. P. S. Adolescência e juventude de grupos populares urbanos no Brasil e as políticas públicas: apontamentos históricos. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n. 23, p. 114-130, 2006. Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/23/art08_23.pdf>. Acesso em: 3 fev. 2013.
    » http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/23/art08_23.pdf
  • MACRAE, E.; VIDAL, S. S. A Resolução 196/96 e a imposição do modelo biomédico na pesquisa social: dilemas éticos e metodológicos do antropólogo pesquisando o uso de substâncias psicoativas. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 49, n. 2, p. 645-666, 2006.
  • MALFITANO, A. P. S. A tessitura da rede: entre pontos e espaços: políticas e programas sociais de atenção à juventude: a situação de rua de Campinas – SP. 2008. Tese (Doutorado em Saúde Pública)- Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
  • MALFITANO, A. P. S. Juventudes e contemporaneidade: entre a autonomia e a tutela. Etnográfica, Lisboa, v. 15, n. 3, p. 523-542, 2011.
  • MARQUES, E. C. L. As redes sociais importam para a pobreza urbana? Dados –Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 52, n. 2, p. 471-505, 2009.
  • MARTINS, P. H. As redes sociais, o sistema da dádiva e o paradoxo sociológico. Caderno CRH, Salvador, v. 17, n. 40, p. 33-48, 2004.
  • PAIS, J. M. A juventude como fase de vida: dos ritos de passagem aos ritos de impasse. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 371-381, 2009.
  • PAKMAN, M. Redes: una metáfora para práctica de intervención social. In: DABAS, E.; NAJMANOVICH, D. (Org.). Redes: el lenguaje de los vínculos. Buenos Aires: Paidós, 1995. p. 294-302.
  • PEREIRA, P. E.; MALFITANO, A.P. S. Percursos metodológicos para a apreensão de universos de adolescentes e jovens: um enfoque sobre a questão das drogas. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo, v. 22, n. 3, p. 334-340, 2012.
  • SANCHEZ, Z. V. M.; NAPPO, S. A. Intervenção religiosa na recuperação de dependentes de drogas. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 42, n. 2, p. 265-272, 2008.
  • SANTOS, V. E.; SOARES, C. B. O consumo de substâncias psicoativas na perspectiva da saúde coletiva: uma reflexão sobre valores sociais e fetichismo. Saúde & Transformação Social, Florianópolis, v. 4, n. 2, p. 38-54, 2013.
  • SCADUTTO, A. A.; BARBIERI, V. O discurso sobre a adesão de adolescentes ao tratamento da dependência química em uma instituição de saúde pública. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.14, n.2, p. 605-614, 2009.
  • SCHMIDT, M. L. S. Pesquisa participante e formação ética do pesquisador na área da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 391-398, 2008.
  • SILVA, V. G. Neopentecostalismo e religiões afro-brasileiras: significados do ataque aos símbolos da herança religiosa africana no Brasil contemporâneo. Mana, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, p. 207-236, 2007.
  • SPOSITO, M. P. Trajetórias na constituição de políticas públicas de juventude no Brasil. In: FREITAS, M. V.; PAPA, F. C. (Org.). Políticas públicas: juventude em pauta. São Paulo: Cortez, 2003. p. 57-75.

  • 1
    Parte das reflexões aqui apresentadas compõe a dissertação de mestrado “Histórias de vida na periferia: juventudes e seus entrecruzamentos”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, Brasil, pela primeira autora e orientada pela segunda autora deste artigo. O trabalho contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
  • 2
    Segundo os documentos oficiais do Ministério da Saúde, entre todos os dispositivos de atenção à saúde mental, os Caps têm valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica Brasileira na organização de uma rede substitutiva ao hospital psiquiátrico no país. Dentre outras atribuições, é sua função prestar atendimento clínico às pessoas com transtornos mentais graves e persistentes em regime de atenção diária, evitando assim as internações hospitalares. Os CapsAD são dispositivos estratégicos para o atendimento de pacientes com “dependência” e/ou uso prejudicial de álcool e outras drogas (Brasil, 2005BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Brasília, DF: OPAS., 2005. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas.).
  • 3
    Se constituiu, desde 1998, como um grupo interinstitucional com ações no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão em defesa da cidadania das populações em processos de ruptura das redes sociais de suporte. Dentre as atividades que o projeto vem realizando estão os programas de intervenção de terapia ocupacional em suas interconexões com os setores da assistência social, da cultura, da educação e também da saúde (Barros e col., 2007BARROS, D. D.; LOPES, R. E.; GALHEIGO, S. M. Projeto Metuia: apresentação. In: SIMPÓSIO DE TERAPIA OCUPACIONAL SOCIAL, 1., 2007, Goiânia – Goiás. Anais do X Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional: contextos, territórios e diversidades. Goiânia: Associação dos Terapeutas Ocupacionais de Goiás; Santa Catarina: Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais, 2007. Não paginado.). Atualmente, três núcleos estão em atividade: o da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o da Universidade de São Paulo (USP).
  • 4
    Pedrinho e os outros jovens participantes deste trabalho foram compreendidos enquanto colaboradores do processo, categoria que indica uma repartição dos lugares de produção de conhecimento ou compreensão no processo de pesquisa (Schmidt, 2008SCHMIDT, M. L. S. Pesquisa participante e formação ética do pesquisador na área da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 391-398, 2008.).
  • 5
    Expressão utilizada para falar sobre o ato de se travestir.
  • 6
    Expressão utilizada, neste contexto, para dizer sobre o local onde se reúnem as práticas de prostituição.
  • 7
    Gíria que no entendimento das travestis é utilizada para denotar peruca.
  • 8
    Termo utilizado para se referir informalmente à maconha.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2014

Histórico

  • Recebido
    13 Jun 2013
  • Revisado
    13 Nov 2013
  • Aceito
    07 Jan 2014
Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. Associação Paulista de Saúde Pública. SP - Brazil
E-mail: saudesoc@usp.br