Saúde mental de docentes universitários em tempos de covid-19

Mental health of university professors in times of covid-19

Nadirlene Pereira Gomes Milca Ramaiane da Silva Carvalho Andrey Ferreira da Silva Carina Estrela Moita Jemima Raquel Lopes Santos Telmara Menezes Couto Laís Chagas de Carvalho Lílian Conceição Guimarães de Almeida Sobre os autores

Resumo

Trata-se de ensaio, embasado na literatura sobre o tema, que tem como objetivo refletir acerca dos eventos relacionados ao processo de trabalho que comprometem a saúde mental de docentes de Instituições de Ensino Superior (IES) em tempos de covid-19. A falta de habilidade no manuseio de tecnologias da informação e comunicação no desenvolvimento das atribuições profissionais, a autocobrança e a pressão das IES para adaptação ao novo modelo de trabalho e a necessidade de gerenciar os afazeres laborais e domésticos constituem eventos que predispõem ao sofrimento psicoemocional em docentes do ensino superior.

Palavras-chave:
Covid-19; Docentes; Saúde Mental

Abstract

This essay, based on the literature on the subject, aims to reflect on events related to the work process that compromise the mental health of Higher Education Institutions’ (HEI) professors in times of covid-19. The lack of skill in handling information and communication technology for the undertaking of professional assignments, the act of demanding too much from oneself and the pressure from the HEI to adapt to the new work model, as well as the need to manage work and household chores are events that predispose to psycho-emotional suffering in higher education teachers.

Keywords:
Covid-19; Faculty; Mental Health

Introdução

As altas taxas de morbimortalidade relacionadas à covid-19 revelam um quadro de calamidade mundial, sendo por isso necessárias medidas de prevenção e enfrentamento da doença, em que se insere o distanciamento social, motivo pelo qual se instituiu a utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), inclusive no âmbito das Instituições de Ensino Superior (IES). Contudo, as demandas do processo de trabalho das(os) docentes atuantes nessas instituições tanto no ambiente doméstico quanto laboral, advindas com a introdução abrupta de novas tecnologias, têm gerado repercussões sobre a saúde mental desses profissionais, deste modo é essencial uma intervenção nesse contexto.

Para além dos elevados números de mortes maciçamente veiculados pela mídia, as pessoas têm convivido com o medo de infectar-se e contagiar os seus familiares; de adoecer e morrer; com a dor por precisar se afastar de seus entes e amigos; a incerteza quanto às perdas financeiras e interrupção das atividades profissionais; a angústia diante das mudanças diárias e restrições de lazer (Brooks et al., 2020BROOKS, S. K. et al. The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. Lancet, London, v. 395, n. 10227, p. 912-920, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3bTZajx > Acesso em: 30 maio 2020.
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; Schmidt et al., 2020SCHMIDT, B. et al. Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (covid-19). Estudos de Psicologia, Campinas, v. 37, e200063, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3qXhoqi >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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). Devido à pandemia e à exposição constante de notícias em mídias sociais, associadas à sobrecarga de trabalho, ocorre mundialmente uma contínua elevação na prevalência de sofrimento psicoemocional nesse período, expresso principalmente por meio de fadiga, agressividade, estresse, episódios de pânico, depressão e ansiedade. Estima-se que entre um terço e metade da população exposta a uma pandemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicoemocional (Chen et al., 2020CHEN, Q. et al. Mental health care for medical staff in China during the covid-19 outbreak. The Lancet Psychiatry, Oxford, v. 7, n. 4, p. 15-16, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3aRk17F >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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; Cruz et al., 2020CRUZ, R. M. et al. Covid-19: emergência e impactos na saúde e no trabalho. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, Brasília, DF, 2020, v. 20, n. 2, p. I-III, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3bJftj3 >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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; Fiocruz, 2020FIOCRUZ - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia covid-19: recomendações gerais. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/2P1Ox6b >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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; Liu et al., 2020LIU, H. et al. Why are pregnant women susceptible to covid-19? An immunological viewpoint. Journal of Reproductive Immunology, Amsterdam, v. 139, art. 103122, 2020.).

Com o intuito de mitigar a disseminação da doença e seus efeitos, o Brasil, atendendo às recomendações da Organização Mundial da Saúde, adotou diversas medidas individuais e coletivas, a exemplo do afastamento social como restrição de contato (Brooks et al., 2020BROOKS, S. K. et al. The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. Lancet, London, v. 395, n. 10227, p. 912-920, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3bTZajx > Acesso em: 30 maio 2020.
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; Schmidt et al., 2020SCHMIDT, B. et al. Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (covid-19). Estudos de Psicologia, Campinas, v. 37, e200063, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3qXhoqi >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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). Na tentativa de minimizar as implicações da pandemia na educação, os sistemas educacionais mundiais deliberaram pela virtualização do processo de ensino-aprendizagem (Nahai; Kenkel, 2020NAHAI, F.; KENKEL, J. M. Accelerating education during covid-19 through virtual learning. Aesthetic Surgery Journal, Saint Louis, v. 40, n. 9, p. 1040-1041, 2020.; Zuo; Dillman; Miller, 2020ZUO, L.; DILLMAN, D.; MILLER, J. A. Learning at-home during covid-19: a multi-institutional virtual learning collaboration. Medical Education, Oxford, v. 54, n. 7, p. 664-665, 2020. ). Nesse sentido, as(os) docentes foram direcionados para desenvolver seu processo laboral por meio da TIC, mediação tecnológica chamada virtualização da presencialidade (Gagnon et al., 2020GAGNON, K. et al. Doctor of physical therapy education in a hybrid learning environment: reimagining the possibilities and navigating a “new normal”. Physical Therapy & Rehabilitation Journal, Oxford, v. 100, n. 8, p. 1268-1277, 2020.; Zuo; Dillman; Miller, 2020ZUO, L.; DILLMAN, D.; MILLER, J. A. Learning at-home during covid-19: a multi-institutional virtual learning collaboration. Medical Education, Oxford, v. 54, n. 7, p. 664-665, 2020. ).

Nesse contexto, no Brasil, o Ministério da Educação autorizou, por meio da Portaria nº 544, em 16 de junho de 2020, que as disciplinas presenciais do ensino superior integrante do sistema federal de ensino pudessem ser substituídas por aulas via TIC, enquanto durar a situação da pandemia do novo coronavírus (Brasil, 2020bBRASIL. Ministério da Educação. Portaria nº 544, de 16 de junho de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais, enquanto durar a situação de pandemia do novo coronavírus - covid-19, e revoga as Portarias MEC nº 343, de 17 de março de 2020, nº 345, de 19 de março de 2020, e nº 473, de 12 de maio de 2020. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jun. 2020b.). Dessa forma, algumas IES, sobretudo as privadas, têm virtualizado a presencialidade, organizando suas atividades laborais a partir de aulas, reuniões e debates on-line (Gagnon et al., 2020GAGNON, K. et al. Doctor of physical therapy education in a hybrid learning environment: reimagining the possibilities and navigating a “new normal”. Physical Therapy & Rehabilitation Journal, Oxford, v. 100, n. 8, p. 1268-1277, 2020.).

No entanto, a transformação abrupta do processo de trabalho das(os) docentes universitárias(os) por meio de mediação tecnológica vem sendo associada ao sofrimento psicoemocional. Pesquisas realizadas na França, Reino Unido e América do Norte com docentes universitárias(os) corroboram que estes apresentam dificuldade na aprendizagem das plataformas on-line das instituições, levando-os a quadros de ansiedade pelo não cumprimento das demandas pedagógicas que, por conta da pandemia, passaram a ser desenvolvidas nesses espaços (Araújo et al., 2020ARAÚJO, F. J. O. et al. Impact of sars-cov-2 and its reverberation in global higher education and mental health. Psychiatry Research, Amsterdam, v. 288, art. 112977, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3pU3vYP >. Acesso em: 4 maio 2020.
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; Wang et al., 2020WANG, C. et al. Immediate psychological responses and associated factors during the initial stage of the 2019 coronavirus disease (covid-19) epidemic among the general population in China. International Journal of Environmental Research and Public Health, Basel, v. 17, n. 5, art. 1729, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3aS310W >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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).

Estudos nacionais asseguram que a classe de professores é considerada uma das que mais é afetada por fatores estressantes, resultando em sofrimento psicoemocional e refletindo na qualidade de vida desse profissional, por todos os desafios e dificuldades relacionadas às questões laborais apresentadas (Diehl; Marin, 2016DIEHL, L.; MARIN, A. H. Adoecimento mental em professores brasileiros: revisão sistemática da literatura. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, Londrina, v. 7, n. 2, p. 64-85, 2016.; Trindade; Morcerf; Oliveira, 2018TRINDADE, M. A.; MORCERF, C. C. P.; OLIVEIRA, M. S. Saúde mental do professor: uma revisão de literatura com relato de experiência. Conecte-se! Revista Interdisciplinar de Extensão, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 42-59, 2018.). Assim sendo, considerando todas essas mudanças provocadas pela pandemia, que geram na população geral um maior risco para o desenvolvimento de sofrimento psicoemocional, sendo este intensificado na população docente em decorrência das exigências inerentes à mediação tecnológica, o estudo tem como objetivo refletir acerca dos eventos referentes ao processo de trabalho que comprometem a saúde mental de docentes de IES em tempos de covid-19.

Desenvolvimento

Dentre os eventos relacionados ao exercer do ofício que comprometem a saúde mental de docentes do ensino superior no período da pandemia, o estudo sinaliza para a não habilidade no manuseio de TIC no desenvolvimento das atividades; a autocobrança e a pressão das IES para adaptação ao novo modelo de trabalho; e a necessidade de gerenciar os afazeres laborais e domésticos, inclusive de ensino aos filhos (Figura 1).

Figura 1
Eventos relacionados ao processo de trabalho que comprometem a saúde mental de docentes de Instituições de Ensino Superior em tempos de covid-19

Um dos elementos relativo à precipitação de sofrimento psicoemocional em docentes remete a não habilidade no manuseio de TIC. Ocorre que, devido ao distanciamento social, muitos cursos do ensino superior presencial foram direcionados para atividades de educação com o uso de TIC, resultando em uma mudança abrupta na forma com que os docentes precisam conduzir o processo de trabalho. Nesse sentido, estudos realizados na Coreia e na Espanha assinalam que os docentes lidam com o desafio de adaptarem-se às ferramentas virtuais, acrescida da dificuldade quanto à conectividade, para a realização das diversas demandas laborais que envolvem a gravação de podcasts, aulas interativas, correção de trabalhos e comunicação via chats para minimizar dúvidas, tudo com a intenção de estimular os discentes na construção e na busca do conhecimento. Somam-se a isso as atividades de cunho administrativo, como o lançamento de notas e frequências, situações que acabam sobrecarregando as(os) docentes (Gonzalez et al., 2020GONZALEZ, T. et al. Influence of covid-19 confinement in students’ performance in higher education. arXiv:2004.09545, [s.l.], 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/37NqmPn >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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; Kim et al., 2020KIM, S. et al. School opening delay effect on transmission dynamics of coronavirus disease 2019 in Korea: based on mathematical modeling and simulation study. Journal of Korean Medical Science, [s.l.] , v. 35, n. 13, e143, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3kmdhSq >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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).

Apesar da existência de documentos que respaldam o uso de mediação tecnológica para o ensino superior, a maioria das(os) docentes da graduação e pós-graduação não possui formação para o manuseio de TIC, a exemplo da virtualização da presencialidade. Essa fragilidade se faz presente desde a formação acadêmica docente, uma vez que, geralmente, não são contempladas disciplinas que possibilitem apreender o processo de ensino-aprendizagem por mediação tecnológica. Um estudo estadunidense confirma a ausência de componentes curriculares na formação docente que os capacitem para o uso das tecnologias digitais, incluindo espaços de participação, reflexão dialógica, desenvolvimento do raciocínio clínico, crítico e diferenciado (McKimm et al., 2020KIM, S. et al. School opening delay effect on transmission dynamics of coronavirus disease 2019 in Korea: based on mathematical modeling and simulation study. Journal of Korean Medical Science, [s.l.] , v. 35, n. 13, e143, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3kmdhSq >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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).

Assim, mesmo com as portarias do Ministério da Educação nº 2.253/2001, nº 4.059/2004 e nº 1.134/2016, que oficializam a possibilidade de oferta de componentes curriculares na modalidade à distância há cerca de 20 anos, muitas(os) docentes não foram capacitados para a inclusão de novas tecnologias digitais, o que reverbera na necessidade de atualizações urgentes para preservar a qualidade do ensino e o manejo diário das complexidades (Bezerra, 2020BEZERRA, I. M. P. Estado da arte sobre o ensino de enfermagem e os desafios do uso de tecnologias remotas em época de pandemia do coronavírus. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 141-147, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3uFWwXd >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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; Moreno-Correa, 2020MORENO-CORREA, S. M. La innovación educativa en los tiempos del coronavirus. Salutem Scientia Spiritus, Cali, v. 6, n. 1, p. 14-26, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3pSbcyB >. Acesso em: 4 maio 2020.
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). Contudo, quando houve treinamentos, muitos ocorreram de forma rápida; outros, de forma apenas teórica, impondo obstáculos na assimilação dos conteúdos (Bezerra, 2020BEZERRA, I. M. P. Estado da arte sobre o ensino de enfermagem e os desafios do uso de tecnologias remotas em época de pandemia do coronavírus. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 141-147, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3uFWwXd >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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), não promovendo a capacitação dos profissionais de forma efetiva e, consequentemente, sustentando as dificuldades no manuseio das plataformas on-line.

Outro elemento que predispõe a problemas psicoemocionais remete à autocobrança e a pressão por parte das IES para adaptação ao novo modelo de processo de trabalho. Pelas IES, essas cobranças são realizadas tanto de forma direta quanto indireta, sendo requerido desde o domínio das ferramentas digitais à adequação da didática à sala de aula virtual, além da flexibilização dos atendimentos aos discentes (Jowsey et al., 2020JOWSEY, T. et al. Blended learning via distance in pre-registration nursing education: a scoping review. Nurse Education in Practice, Amsterdam, v. 44, p. 102775, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3dN5EDi >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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). Um estudo realizado nos Estados Unidos desvela o sofrimento mental decorrente da autocobrança de docentes por não conseguirem dar conta do novo processo que inclui organizar aulas, gravar podcasts, tirar dúvidas on-line, aplicar provas e ainda garantir o aprendizado discente (Shaw, 2020SHAW, K. Colleges expand VPN capacity, conferencing to answer covid-19. Network World, Needham, 2 abr. 2020. Notícias. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/2ZQEOSp >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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). Em virtude disso, tem sido desenvolvido em grande parte das(os) docentes um sentimento de desvalorização profissional e um medo da não adaptação, do fracasso e do desemprego (Kawohl; Nordt, 2020KAWOHL, W.; NORDT, C. Covid-19, unemployment, and suicide. Lancet Psychiatry, Oxford, v. 7, n. 5, p. 389-390, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/2NHPi4b >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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).

Todas essas alterações no trabalho são situações estressoras que ocasionam uma sobrecarga física e mental, proporcionando um sofrimento prolongado, sobretudo quando acrescido das tarefas domésticas. A este respeito, vale adicionar que a obrigatoriedade do home office impulsiona o sofrimento mental decorrente da necessidade de controle do ambiente doméstico, especialmente quando compartilhado com crianças. Pesquisas internacionais convergem acerca da dupla jornada de trabalho das mulheres que precisam dar conta do home office e do cuidado aos filhos (Narzisi, 2020NARZISI, A. Handle the autism spectrum condition during coronavirus (covid-19) stay at home period: ten tips for helping parents and caregivers of young children. Brain Sciences, Basel, v. 10, n. 4, art. 207, 2020.). Assim, durante a realização de reuniões ou aulas on-line, muitas docentes precisam se preocupar com toda a dinâmica familiar, o que gera tensão e acarreta sentimentos constantes de instabilidade emocional, insegurança, ansiedade e medo de não corresponder à dinâmica de trabalho no modelo de educação a distância.

Especificamente sobre as demandas domésticas de docentes universitárias(os), é preciso assinalar que, devido à quarentena, as crianças e adolescentes estão tendo aulas via TIC, o que requer atenção e acompanhamento dos responsáveis. Sobre isso, evidências apontam à dificuldade feminina em conciliar o trabalho docente com as atividades de home office e ensino para seus filhos, os quais também precisam se adaptar às plataformas digitais e necessitam do apoio de mães e pais para conseguirem conduzir o ano letivo (Lemos; Barbosa; Monzato, 2020LEMOS, A. H. C.; BARBOSA, A. O.; MONZATO, P. P. Mulheres em home office durante a pandemia da covid-19 e as configurações do conflito trabalho-família. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 60, n. 6, p. 388-399, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/2RR0cGz >.Acesso em: 16 abr. 2021.
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). Todavia, em um país com sérias iniquidades de gênero, nesse período de pandemia, certamente são as mulheres quem mais estão sobrecarregadas. Sabe-se que os sofrimentos psicoemocionais são mais elevados em mulheres do que entre homens. A maior vulnerabilidade das mulheres a esse tipo de agravo se deve a uma multicausalidade de fatores que incluem fatores endócrinos e comorbidades, além das desigualdades de gênero e da sobrecarga de trabalho doméstico, dentre outros (Senicato; Azevedo; Barros, 2018SENICATO, C.; AZEVEDO, R. C. S.; BARROS, M. B. A. Transtorno mental comum em mulheres adultas: identificando os segmentos mais vulneráveis. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 8, p. 2543-2554, 2018. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3ut00w5 >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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).

O grande número de atribuições, acrescidas das tarefas domésticas e a prática hegemônica de dispensa das empregadas domésticas e diaristas (Brasil, 2020aBRASIL. Ministério da Saúde. Covid-19: painel coronavírus. Brasília, DF, 29 maio 2020a. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/37LKQbk >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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) somam-se às demandas laborais docente de mulheres, impactando em exaustão, o que é intensificado pela necessidade de manutenção de atividades domésticas ou de cuidado, que costuma ser de 10,4 horas a mais do que os homens, mesmo quando o casal possui o mesmo tipo de atividade profissional (Neto, 2019NETO, J. Mulheres dedicam quase o dobro do tempo dos homens em tarefas domésticas. Agência IBGE Notícias, Brasília, DF, 26 abr. 2019. Notícias. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3bJlrjX >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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), escancarando as desigualdades de gênero que permanecem no país. No mesmo sentido de sobrecarga do trabalho doméstico feminino e suas repercussões, um estudo da Unesco aponta que as mulheres também têm tido impacto negativo no que se refere ao número de publicações e participação em pesquisas no período da pandemia (Unesco, 2020UNESCO - UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC, AND CULTURAL ORGANIZATION. Mapping of online articles on covid-19 and gender. Paris, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/2ZNw4wm >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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).

Em que pese a maior demanda de trabalho para as mulheres, a conjuntura da pandemia faz com que haja uma dupla ou tripla jornada de trabalho das(os) docentes, aumentando a carga de estresse do dia a dia para ambos os sexos. Todavia, faz-se necessário destacar que nem todos os problemas psicológicos que venham a emergir durante a pandemia podem ser classificados como transtornos mentais ou doenças. Grande parte das situações de sofrimento se expressa como reações normais em um momento anormal, que necessitam ser avaliadas em todo processo, seja durante ou após a pandemia (Fiocruz, 2020FIOCRUZ - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia covid-19: recomendações gerais. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/2P1Ox6b >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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). No entanto, não se pode desconsiderar a exposição das docentes ao desenvolvimento de sofrimento psicoemocional, expresso pela exaustão emocional, nervosismo, estresse e insônia (Araújo et al., 2020ARAÚJO, F. J. O. et al. Impact of sars-cov-2 and its reverberation in global higher education and mental health. Psychiatry Research, Amsterdam, v. 288, art. 112977, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3pU3vYP >. Acesso em: 4 maio 2020.
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). Compreendida enquanto um dos principais distúrbios da saúde relacionados a estressores no trabalho, essa síndrome representa um problema psicossocial que impacta na vida pessoal e profissional, o que requer detecção precoce e estratégias que possibilitem intervenções preventivas e de cuidados a serem implementadas, inclusive, pelas IES (Leite et al., 2019LEITE, T. I. A. et al. Prevalência e fatores associados da síndrome de burnout em docentes universitários. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 170-179, 2019.).

Frente às dificuldades que permeiam o processo laboral por mediação tecnológica, desenvolvida no espaço domiciliar, e que repercutem na saúde mental das(os) docentes, é esperado que as IES adotem uma gestão sensível aos impactos da pandemia sobre a saúde do corpo docente e atentem para as demandas, especificidades e limitações individuais. Nesse ínterim, insere-se a identificação precoce de pequenas alterações sugestivas de comprometimento sobre a saúde mental, bem como o agravamento do quadro clínico, que pode ocorrer em diversas intensidades.

A este respeito, uma pesquisa desenvolvida na França com docentes universitários chama atenção para quadros agudos de sofrimento relacionados com a pandemia do covid-19, a exemplo de transtorno depressivo leve, que podem evoluir para quadros crônicos de síndrome de burnout e transtorno bipolar (Wang et al., 2020WANG, C. et al. Immediate psychological responses and associated factors during the initial stage of the 2019 coronavirus disease (covid-19) epidemic among the general population in China. International Journal of Environmental Research and Public Health, Basel, v. 17, n. 5, art. 1729, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3aS310W >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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). Percebe-se, pois, que este contexto de precisar atender às demandas laborais, diante da necessidade imediata de reelaborar os processos de ensino-aprendizagem para a mediação tecnológica, incluindo o de apreender as nuances das plataformas utilizadas nas instituições educacionais, adicionado às vulnerabilidades associadas às questões de gênero, raça e desigualdade social, tem implicado em repercussões para a saúde mental das(os) docentes da educação superior.

Considerações finais

A pouca ou nenhuma habilidade com o uso das TIC no processo ensino-aprendizagem vem sendo uma realidade para os docentes que atuam no ensino superior, o que guarda relação com a falta de formação na graduação e pós-graduação e a ausência ou insuficiência na oferta de capacitação das IES para manuseio das plataformas digitais. O não domínio da tecnologia, associado ao contexto de autocobrança e pressão pelas IES e à célere necessidade de inseri-la na práxis pedagógica, além da sobrecarga de trabalho relacionada às obrigações domésticas, repercutem em um maior risco para o desenvolvimento do sofrimento psicoemocional, que pode agravar e evoluir para um adoecimento mental.

Em que pese o sofrimento mental oriundo da imposição da adaptação imediata à nova realidade permeada pela mediação tecnológica, e considerando tratar-se de uma repercussão do exercício laboral docente, as IES precisam promover capacitações para o uso das TIC e para o planejamento do trabalho em home office. Urge uma gestão por parte das IES que acompanhe as(os) docentes nas atividades profissionais e que esteja próxima e sensível para reconhecer as potencialidades e limitações desse processo, a fim de identificar previamente indícios de sofrimento psicoemocional e assim intervir para evitar agravamento do estado de saúde.

Referências

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  • BEZERRA, I. M. P. Estado da arte sobre o ensino de enfermagem e os desafios do uso de tecnologias remotas em época de pandemia do coronavírus. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 141-147, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3uFWwXd >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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  • BRASIL. Ministério da Saúde. Covid-19: painel coronavírus. Brasília, DF, 29 maio 2020a. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/37LKQbk >. Acesso em: 5 jul. 2020.
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  • BRASIL. Ministério da Educação. Portaria nº 544, de 16 de junho de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais, enquanto durar a situação de pandemia do novo coronavírus - covid-19, e revoga as Portarias MEC nº 343, de 17 de março de 2020, nº 345, de 19 de março de 2020, e nº 473, de 12 de maio de 2020. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jun. 2020b.
  • BROOKS, S. K. et al. The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. Lancet, London, v. 395, n. 10227, p. 912-920, 2020. Disponível em: <Disponível em: https://bit.ly/3bTZajx > Acesso em: 30 maio 2020.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    26 Nov 2020
  • Aceito
    10 Dez 2020
Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. Associação Paulista de Saúde Pública. SP - Brazil
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