Estresse ocupacional, saúde mental e gênero entre docentes do ensino superior: revisão integrativa

Paloma de Sousa Pinho Aline Macedo Carvalho Freitas Ana Luísa Patrão Estela M L Aquino Sobre os autores

Resumo

O trabalho docente nas universidades tem sido marcado por sobrecarga exaustiva com a lógica do trabalho intensificado e precarizado. Além disso, estudos relacionando gênero, saúde e trabalho docente ainda são escassos. Neste artigo, objetivou-se identificar e avaliar criticamente as evidências científicas relacionadas ao estresse ocupacional e aos transtornos mentais entre docentes do ensino superior na perspectiva de gênero. Realizou-se revisão integrativa nas bases de dados PubMed, SciELO e Lilacs, entre os meses de maio e junho de 2019, a partir das combinações dos descritores indexados: occupational stress; mental disorder; mental health; higher education; faculty; universities e das palavras-chave: faculty teacher; faculty teachers; university teacher; university teachers; academic setting; academic settings. Os resultados sinalizam que o estresse ocupacional é uma realidade nas universidades, com docentes cada vez mais insatisfeitos(as) e apresentando altas prevalências de transtornos mentais e sintomas depressivos. Ficou evidente a necessidade de responsabilização por parte da gestão educacional. A perspectiva de gênero manteve-se ausente ou superficial nas produções acadêmicas revisadas. É preciso concentrar-se em medidas que possam melhorar a qualidade do trabalho nas universidades, tornando-as um espaço prazeroso para homens e mulheres de forma igualitária.

Palavras-chave:
Saúde Mental; Docentes; Gênero e Saúde; Revisão

Introdução

A atual configuração do trabalho docente nas universidades brasileiras pode representar exposição a condições estressoras, aumentando o risco de transtornos mentais. As múltiplas exigências advêm de atividades de ensino, pesquisa e extensão, as quais são marcadas pela competição por recursos, esforços para a progressão na carreira e o exercício de cargos na gestão (Bosi, 2007BOSI, A. A precarização do trabalho docente nas instituições de ensino superior do Brasil nesses últimos 25 anos. Educação & Sociedade , Campinas, v. 28, n. 101, p. 1503-1523, 2007. DOI: 10.1590/S0101-73302007000400012
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; Santos et al., 2016SANTOS, D. et al. Reflexões sobre a saúde docente no contexto de mercantilização do ensino superior. Revista Docência do Ensino Superior, Belo Horizonte, v. 6, n. 1, p. 159-186, 2016. DOI: 10.35699/2237-5864.2016.2105
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; Campos; Véras; Araújo, 2020CAMPOS, T.; VÉRAS, R.; ARAÚJO, T. Trabalho docente em universidades públicas brasileiras e adoecimento mental: uma revisão bibliográfica. Avaliação: Revista Docência da Ensino Superior, Belo Horizonte, v. 10, 2020. DOI: 10.35699/2237-5864.2020.15193
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). A incorporação da categoria de gênero nas pesquisas sobre trabalho docente na universidade e saúde é imprescindível, por ser uma dimensão organizadora das relações sociais que produzem desigualdades (Mattos et al., 2015MATTOS, A. I. S. et al. Desigualdades de gênero: uma revisão narrativa. Revista Saúde.com, Jequié, v. 11, n. 3, p. 266-279, 2015.).

Tanto as condições do ambiente laboral quanto os aspectos psicossociais do trabalho podem gerar insatisfação e predispor o surgimento de sofrimento físico e mental nos trabalhadores(as), ou seja, a psicodinâmica do trabalho dejouriana coloca a organização do trabalho e o sofrimento mental na centralidade da questão na qual as defesas são coletivamente elaboradas pelos(as) trabalhadores(as) no enfrentamento das situações de sofrimento no cotidiano laboral (Dejours, 1987DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo da psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez, 1987.; Dejours et al., 1994; Jayet, 1994). Além disso, a incorporação de novas tecnologias e mudanças no sistema educacional têm trazido implicações para a saúde do(a) trabalhador(a) e para as vivências de prazer e sofrimento ligadas ao trabalho (Coutinho; Magro; Budde, 2011COUTINHO, M.; MAGRO, M.; BUDDE, C. Entre o prazer e o sofrimento: um estudo sobre os sentidos do trabalho para professores universitários. Psicologia Teoria e Prática, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 154-167, 2011.). Essa realidade tornou-se muito mais explícita e descortinada no trabalho remoto docente, decorrente da pandemia da covid-19 (Pinho et al., 2021PINHO, P. et al. Trabalho remoto docente e saúde: repercussões das novas exigências em razão da pandemia da Covid-19. Trabalho, Educação e Saúde , Rio de Janeiro, v. 19, 2021.; Souza et al., 2021SOUZA, J. M. et al. Docência na pandemia: saúde mental e percepções sobre o trabalho on-line. Teoria e Prática da Educação, Maringá, v. 24, n. 2, p. 142-159, 2021.).

O trabalho docente é flexível e multifacetado. A atividade na academia, que sempre esteve associada aos desafios envolvidos nos processos de ensino-aprendizagem, sob a égide das relações sociais capitalistas, vem se caracterizando pela sobrecarga de tarefas, com perceptível expansão das atividades (planejar e ministrar aulas, elaborar e preencher relatórios e formulários, coordenar atividades, participar de reuniões, assumir departamentos/coordenações, elaborar e gerenciar projetos de pesquisa e de extensão, publicar trabalhos, buscar recursos externos, responder e-mails institucionais, orientar alunos, participar de comissões, prestar consultorias, participar de eventos da área de atuação, entre outras variadas atividades) (Carlotto; Palazzo, 2006CARLOTTO, M.; PALAZZO, L. S. Síndrome de burnout e fatores associados: um estudo epidemiológico com professores. Cadernos de Saúde Pública , Rio de Janeiro, v. 22, n. 5, p. 1017-1026, 2006. DOI: 10.1590/S0102-311X2006000500014
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; Campos et al., 2020CAMPOS, T.; VÉRAS, R.; ARAÚJO, T. Trabalho docente em universidades públicas brasileiras e adoecimento mental: uma revisão bibliográfica. Avaliação: Revista Docência da Ensino Superior, Belo Horizonte, v. 10, 2020. DOI: 10.35699/2237-5864.2020.15193
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). A execução desse trabalho demanda, cada vez mais, níveis de especialização elevados, longas e intensas jornadas de dedicação, múltiplos empregos, precarização das condições de trabalho e dos vínculos contratuais (Mascarenhas, 2010; Santos et al., 2016SANTOS, D. et al. Reflexões sobre a saúde docente no contexto de mercantilização do ensino superior. Revista Docência do Ensino Superior, Belo Horizonte, v. 6, n. 1, p. 159-186, 2016. DOI: 10.35699/2237-5864.2016.2105
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). Essas características, em conjunto, têm representado impactos negativos sobre a saúde dos professores, com importantes diferenças entre homens e mulheres (Araújo et al., 2006ARAÚJO, T. et al. Diferenciais de gênero no trabalho docente e repercussões sobre a saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 11, n. 4, p. 1117-1129, 2006. DOI: 10.1590/S1413-81232006000400032
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; Pinho et al., 2021PINHO, P. et al. Trabalho remoto docente e saúde: repercussões das novas exigências em razão da pandemia da Covid-19. Trabalho, Educação e Saúde , Rio de Janeiro, v. 19, 2021.).

O estresse ocupacional configura-se como uma resposta às situações conflitantes presentes no contexto de trabalho, com forte impacto no desempenho profissional, aumento do absenteísmo e número de acidentes nos locais de trabalho (Reis; Fernandes; Gomes, 2010REIS, A.; FERNANDES, S.; GOMES, A. Estresse e fatores psicossociais. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, DF, v. 30, n. 4, p. 712-725, 2010. DOI: 10.1590/S1414-98932010000400004
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). A convivência docente com diversos estressores ocupacionais, tais como a falta de apoio de gestores e colegas, sobrecarga de tarefas e consequente insatisfação, baixa autonomia, ausência de financiamento para as pesquisas, pressão por produções científicas, além da dificuldade em cumprir as exigências do trabalho e da família têm exposto os(as) professores(as) universitários(as) ao sofrimento psíquico, conforme apontam alguns autores(as) (Wernick, 2000; Paranhos, 2002; Mascarenhas, 2010; Sun; Wu; Wang, 2011SUN, W.; WU H.; WANG, L. Occupational stress and its related factors among university teachers in China. Journal of Occupational Health, Tóquio, v. 53, n. 1, p. 280-286, 2011. DOI: 10.1539/joh.10-0058-oa
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). Estudos situam os transtornos mentais comuns (TMC) entre os principais problemas de saúde dos docentes (Delcor et al., 2004DELCOR, N. et al. Condições de trabalho e saúde dos professores da rede particular de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública , Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 187-196, 2004. DOI: 10.1590/S0102-311X2004000100035
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; Reis et al., 2005REIS, E. et al. Trabalho e distúrbios psíquicos em professores da rede municipal de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública , Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 1480-1490, 2005. DOI: 10.1590/S0102-311X2005000500021
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; Sharpley et al., 1996SHARPLEY, C. et al. The presence, nature and effects of job stress on physical and psychological health at a large Australian university. Journal of Educational Administration, v. 34, n. 4, p. 73-86, 1996.). Esses transtornos são caracterizados por sintomas como fadiga, irritabilidade, falta de energia e insônia, e podem representar a desestabilização parcial ou a restituição incompleta de uma perturbação mista de ansiedade e depressão (Goldberg; Huxley, 1992GOLDBERG, D.; HUXLEY, P. Common mental disorders: a bio-social model. London: Tavistock, 1992.).

Cada vez mais, os transtornos mentais têm sido reconhecidos como uma prioridade global da saúde (PAHO, 2018PAHO - PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION. The Burden of Mental Disorders in the Region of the Americas, 2018. Washington, D.C., 2018.). Destaca-se, contudo, que as mulheres têm apresentado mais TMC do que os homens, sejam elas jovens, idosas e/ou trabalhadoras (Araújo; Carvalho, 2009ARAÚJO, T.; CARVALHO, F. Condições de trabalho docente e saúde na Bahia: estudos epidemiológicos. Educação & Sociedade, Campinas, v. 107, n. 30, p. 427-449, 2009. DOI: 10.1590/S0101-73302009000200007
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; Borim; Barros; Botega, 2013BORIM, F.; BARROS, M.; BOTEGA, N. Transtorno mental comum na população idosa: pesquisa de base populacional no Município de Campinas, São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública , Rio de janeiro, v. 29, n. 7, pp. 1415-1426, 2013. DOI: 10.1590/S0102-311X2013000700015
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; Farias; Araújo, 2011FARIAS, M.; ARAÚJO, T. Transtornos mentais comuns entre trabalhadores da zona urbana de Feira de Santana-BA. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 26, n. 123, p. 25-39, 2011. DOI: 10.1590/S0303-76572011000100004
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; Jansen et al., 2011JANSEN, K. et al. Transtornos mentais comuns e qualidade de vida em jovens: uma amostra populacional de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Cadernos de Saúde Pública , Rio de Janeiro, v. 27, n. 3, p. 440-448, 2011. DOI: 10.1590/S0102-311X2011000300005
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). Essas características também são aspectos preocupantes no contexto de trabalho dos(as) professores(as), visto que a prevalência de TMC tem sido apresentada como significativamente mais elevada entre as mulheres (56,8%) do que entre os homens (34,0%) (Araújo et al., 2006ARAÚJO, T. et al. Diferenciais de gênero no trabalho docente e repercussões sobre a saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 11, n. 4, p. 1117-1129, 2006. DOI: 10.1590/S1413-81232006000400032
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),com maiores expressões de sofrimento e sinais de sofrimento psíquicos entre as professoras (Neves; Brito; Muniz, 2019NEVES, M.; BRITO, J.; MUNIZ, H. A saúde das professoras, os contornos de gênero e o trabalho no Ensino Fundamental. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 35, n. supl. 1, 2019. DOI: 10.1590/0102-311x00189617
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).

A avaliação de gênero no trabalho docente e seus efeitos na saúde é condição sine qua non para a compreensão das dinâmicas e das relações envolvidas nos processos de dominação (Araújo; Pinho; Masson, 2019ARAÚJO, T.; PINHO, P.; MASSON, M. Trabalho e saúde de professoras e professores no Brasil: reflexões sobre trajetórias das investigações, avanços e desafios. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 35, supl. 1, 2019. DOI: 10.1590/0102-311X00087318
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). Desta forma, estudos sobre saúde e trabalho na perspectiva de gênero podem trazer à tona problemas coletivos que permanecem ainda ocultos quando as diferenças são obscurecidas, já que a análise de gênero vai além da diferença biológica entre os sexos, sendo ele concebido como eixo organizador das relações sociais (Scott, 1990SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 5-22, 1990.). Com base no exposto, este estudo objetiva identificar e avaliar criticamente as evidências científicas relacionadas ao estresse ocupacional e aos transtornos mentais entre docentes do ensino superior na perspectiva de gênero.

Metodologia

No presente trabalho, utilizou-se o método de revisão integrativa da literatura (RI), que consiste na sintetização de resultados obtidos em pesquisas sobre uma determinada temática, sinalizando lacunas do conhecimento, possíveis práticas para saúde pública e desenvolvimento de futuros estudos. Uma revisão integrativa permite a inclusão de estudos que adotam diversas metodologias (Polit; Beck, 2006POLIT, D.; BECK, C. Using research in evidence-based nursing practice. In: POLIT, D.; BECK, C. (Ed.). Essentials of nursing research: methods, appraisal and utilization. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2006. p. 457-494). Conduziu-se a revisão a partir das seis etapas operacionais propostas por Ganong (1987GANONG, L. Integrative reviews of nursing research. Research in Nursing Health, Hoboken, v.10, n. 1, p. 1-11, 1987. DOI: 10.1002/nur.4770100103
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).

Na primeira etapa (identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa), foram formuladas as seguintes questões norteadoras: Quais as evidências disponíveis em estudos quantitativos sobre estresse ocupacional e transtornos mentais comuns entre docentes do ensino superior? Essas evidências sugerem que há diferenças de gênero?

Para condução da segunda etapa (busca na literatura e estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão), foram incluídas as seguintes fontes: PubMed (Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos), SciELO (Scientific Electronic Library Online) e Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), por serem consideradas relevantes para o campo do estudo. A busca ocorreu entre maio e junho de 2019, utilizando-se combinações dos descritores indexados na base de Descritores em Ciências da Saúde (DeCS/MeSH): occupational stress; mental disorder; mental health; highereducation; faculty; universities e das palavras-chave: faculty teacher; faculty teachers; university teacher; university teachers; academic setting; academic settings. Foram utilizados os booleanos AND, para associar as temáticas, e OR, para alternar as palavras-chave e capturar o maior número de estudos com docentes do ensino superior.

Os critérios de inclusão desta revisão integrativa foram: estudos originais primários quantitativos, que respondessem à questão norteadora, publicados em português, inglês e espanhol, em qualquer período, e indexados nas bases de dados selecionadas. Também foram incluídas referências relevantes a partir dos artigos selecionados nas bases de dados que contemplassem a questão e os critérios de inclusão. Não foram incluídos estudos primários qualitativos; nem estudos secundários de revisão integrativa, narrativa ou sistemática. Foram excluídos artigos duplicados em uma ou mais base de dados, bem como aqueles que não respondessem à questão norteadora.

A partir dessa fase, com o objetivo de sumarizar e documentar os estudos selecionados de forma concisa e clara (terceira etapa), um instrumento de coleta de dados foi utilizado para extrair as informações básicas e relevantes de cada estudo (JBI, 2014JBI - THE JOANNA BRIGGS INSTITUTE. Joanna Briggs Institute Reviewers’ Manual: 2014 edition. Adelaide, 2014.). Os resultados são apresentados contemplando informações sobre a identificação do estudo, características metodológicas, principais resultados encontrados, recomendações e conclusões indicadas.

Com intuito de informar se os estudos analisaram dois possíveis sentidos analíticos e interpretativos na aplicação do conceito de gênero, avaliou-se a consistência metodológica no uso do sentido completo ou parcial: o sentido completo leva em consideração as diferenças sociais e culturais entre homens e mulheres - ou entre masculinidades e feminilidades -, bem como o entendimento de como se produzem essas diferenças como desigualdades de poder; já o sentido parcial ocorre quando há apenas a comparação descritiva das diferenças entre masculino e feminino, sem interpretação das questões de poder (Araújo; Schraiber; Cohen, 2011ARAÚJO, M.; SCHRAIBER, L.; COHEN, D. Penetração da perspectiva de gênero e análise crítica do desenvolvimento do conceito na produção científica da Saúde Coletiva. Interface -Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 15, n. 38, p. 805-818, 2011. DOI: 10.1590/S1414-32832011005000039
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). O sentido de gênero foi considerado ausente quando o estudo não fez qualquer distinção entre homens e mulheres.

Para avaliação do nível de evidência e qualidade metodológica dos artigos incluídos na revisão, considerou-se abordagem proposta pelo Instituto Joanna Briggs (JBI) e suas entidades colaboradoras. Utilizou-se, então, na avaliação, o instrumento padronizado para estudos descritivos, com o objetivo de determinar até que ponto um estudo abordou a possibilidade de viés em seu projeto, condução e análise. (JBI, 2014JBI - THE JOANNA BRIGGS INSTITUTE. Joanna Briggs Institute Reviewers’ Manual: 2014 edition. Adelaide, 2014.).

As etapas subsequentes (interpretação dos resultados e apresentação da síntese da revisão do conhecimento) foram sistematizadas, apontando-se lacunas no conhecimento e fornecendo subsídios para novas investigações e possíveis implementações baseadas em evidências científicas.

Resultados

A Figura 1 apresenta o processo de identificação, triagem, elegibilidade e amostra final dos artigos incluídos.

Figura 1
Principais características dos estudos revisados

Após o levantamento das publicações nas bases de dados, foram reunidos 821 artigos. Desses, foram retiradas 12 publicações repetidas e 791 artigos, a partir dos critérios de exclusão. Esses 18 estudos selecionados somaram-se a outros 26 provenientes das listas das referências. Ao final, a revisão integrativa contou com 36 estudos.

Características gerais dos estudos

As principais características dos estudos revisados estão sintetizadas no Quadro 1. Os anos de publicação dos 36 textos incluídos nesta revisão confirmam a atualidade dos artigos nessa área. O mais antigo foi datado de 1993 e o mais atual de 2018, sendo que 75% dos estudos foram realizados nos últimos dez anos e 44,4% nos últimos cinco anos. Em relação ao local do estudo, as investigações foram predominantemente brasileiras (41,7%). Contudo, ressalta-se que as demais publicações tiveram concentração no continente asiático (25,0%), com destaque para a China (11,1%). O idioma dominante foi o inglês, entretanto, 38,9% foram publicados em revistas brasileiras e 61,1% em internacionais (Quadro 1). A totalidade dos estudos foi classificada como Nível 4 (estudos observacionais descritivos), mais especificamente o nível 4.b-estudos transversais, segundo JBI (2014)JBI - THE JOANNA BRIGGS INSTITUTE. Joanna Briggs Institute Reviewers’ Manual: 2014 edition. Adelaide, 2014..

Quadro 1
Distribuição dos estudos incluídos na revisão integrativa segundo autores(as), ano, país de origem, população do estudo e sentido de gênero.

Estresse ocupacional nas universidades

Os resultados da revisão indicam que a universidade é um ambiente com potencial para desenvolver muitos estressores ocupacionais. O trabalho desenvolvido na academia, com exigências de docentes com ritmos intensificados e condições laborais precarizadas, foi considerado situação geradora de tensões, insatisfação e sofrimento. As condições e práticas organizacionais da educação do ensino superior, atualmente, assentam-se na carga excessiva de trabalho e no atendimento a múltiplas demandas, com impacto na distribuição do tempo, observando-se, como característica predominante, a escassez de tempo para execução das tarefas (Abouserie, 1996ABOUSERIE, R. Stress, Coping Strategies and Job Satisfaction in University Academic Staff. Educational Psychology, London, v. 16, n. 1, p. 49-56,1996. DOI: 10.1080/0144341960160104
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), falta de reconhecimento (Biron; Brun; Ivers, 2008BIRON, C.; BRUN J-P.; HANS I. Extent and sources of occupational stress in university staff. Work, [s.l.], v. 30, n. 4, p. 511-522, 2008.) e apoio social (Carlotto; Câmara, 2017CARLOTTO, M.; CÂMARA, S. Riscos psicossociais associados à síndrome de burnout em professores universitários. Avances en Psicología Latino Americana, Bogotá, v. 35, n. 3, pp. 447-457, 2017. DOI: 10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.4036
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), sobrecarga de trabalho (Sun; Wu; Wang, 2011SUN, W.; WU H.; WANG, L. Occupational stress and its related factors among university teachers in China. Journal of Occupational Health, Tóquio, v. 53, n. 1, p. 280-286, 2011. DOI: 10.1539/joh.10-0058-oa
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) e conflito trabalho-família (Carlotto; Câmara, 2017CARLOTTO, M.; CÂMARA, S. Riscos psicossociais associados à síndrome de burnout em professores universitários. Avances en Psicología Latino Americana, Bogotá, v. 35, n. 3, pp. 447-457, 2017. DOI: 10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.4036
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; Leung; Siu; Spector, 2000LEUNG, T.-W.; SIU, O.-L.; SPECTOR, P. Faculty stressors, job satisfaction, and psychological distress among university teachers in Hong Kong: The role of locus of control. International Journal of Stress Management, Washington DC, v. 7, n. 2, p. 121-138, 2000. DOI: 10.1023/A:1009584202196
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), em uma atmosfera cada vez mais competitiva entre colegas e atividades burocráticas fatigantes (Abouserie, 1996ABOUSERIE, R. Stress, Coping Strategies and Job Satisfaction in University Academic Staff. Educational Psychology, London, v. 16, n. 1, p. 49-56,1996. DOI: 10.1080/0144341960160104
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).

Entre os fenômenos relacionados aos estressores ocupacionais, Síndrome de Burnout (SB) foi avaliada em 47,2% dos estudos, provenientes de nove diferentes países: Brasil, Irã, China, Turquia, Espanha, Filipinas, México, Croácia e Colômbia. No Brasil, os estudos revelaram que a ausência de autonomia, relações conflituosas, excesso de trabalho, longas jornadas e excesso de alunos em sala foram os principais preditores para a síndrome (Carlotto; Câmara, 2017CARLOTTO, M.; CÂMARA, S. Burnout Syndrome Profiles among Teachers. Escritos de Psicologia, Malága, v. 10, n. 3, p. 159-166, 2017.; Prado et al., 2017PRADO, R. et al. Avaliação da síndrome de Burnout em professores universitários. Revista da ABENO , Porto Alegre, v. 17, n. 3, p. 21-29, 2017.). A pior qualidade do sono também foi consequência de estresse entre docentes (Sousa et al., 2018SOUSA, A. et al. Estresse ocupacional e qualidade do sono em docentes da área da saúde. Rev Rene, Fortaleza, v. 19, n. 1, p. 1-8, 2018.).

Os docentes universitários estão (in)satisfeitos com seu trabalho

Dos 36 estudos selecionados na revisão, oito abordaram o tema satisfação no trabalho, desses, nenhum foi desenvolvido no Brasil (Abouserie, 1996ABOUSERIE, R. Stress, Coping Strategies and Job Satisfaction in University Academic Staff. Educational Psychology, London, v. 16, n. 1, p. 49-56,1996. DOI: 10.1080/0144341960160104
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; Cladellas-Pros; Castelló-Tarrida; Parrado-Romero, 2018CLADELLAS, P.; CASTELLÓ, T.; PARRADO, R. Satisfacción, salud y estrés laboral del profesorado universitario según su situación contractual. Revista de Salud Pública, Bogotá, v. 20, n. 1, p. 53-59, 2018. DOI: 10.15446/rsap.v20n1.53569
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; Colacion-Quiros; Gemora, 2016COLACION, Q.; GEMORA, R. Causes and effects of stress among faculty members in a state university. Asia Pacific Journal of Multidisciplinary Research, Batangas, v. 4, n. 1, p. 18-27, 2016.; Cooper; Kelly, 1993COOPER, C.; MIKE, K. Occupational stress in head teachers: A national UK study. British Journal of Educational Psychology , Londres, v. 63, n. 1, p. 130-143, 1993.; Leung; Siu; Spector, 2000LEUNG, T.-W.; SIU, O.-L.; SPECTOR, P. Faculty stressors, job satisfaction, and psychological distress among university teachers in Hong Kong: The role of locus of control. International Journal of Stress Management, Washington DC, v. 7, n. 2, p. 121-138, 2000. DOI: 10.1023/A:1009584202196
https://doi.org/10.1023/A:1009584202196...
; Pan et al., 2015PAN, B. et al. Factors associated with job satisfaction among university teachers in northeastern region of China: A cross-sectional study. International journal of environmental research and public health, Basel, v. 12, n. 1, p. 12761-12775, 2015.; Schindler et al., 2006SCHINDLER, B. et al. The Impact of the changing health care environment on the health and well-being of faculty at four medical schools. Academic medicine: journal of the Association of American Medical Colleges, Washington, DC, v. 81, n. 1, p. 27-34, 2006. DOI: 10.1097/00001888-200601000-00008
https://doi.org/10.1097/00001888-2006010...
; Winefield; Jarrett, 2001WINEFIELD A.; JARRETT, R. Occupational stress in university staff. International Journal of Stress Management , v. 8, n. 4, p. 285-298, 2001. DOI: 10.1023/A:1017513615819
https://doi.org/10.1023/A:1017513615819...
). O apoio organizacional percebido e o apoio psicológico foram importantes preditores para a satisfação no trabalho em um estudo desenvolvido na China (Pan et al., 2015PAN, B. et al. Factors associated with job satisfaction among university teachers in northeastern region of China: A cross-sectional study. International journal of environmental research and public health, Basel, v. 12, n. 1, p. 12761-12775, 2015.). Em uma pesquisa proveniente das Filipinas, o excesso de pressão e a escassez do tempo para realização das atividades foram atribuídos à insatisfação laboral; outra, realizada na Espanha, apontou a vinculação contratual (contratos temporários) como fator importante para tal situação (Cladellas-Pros; Castelló-Tarrida; Parrado-Romero, 2018CLADELLAS, P.; CASTELLÓ, T.; PARRADO, R. Satisfacción, salud y estrés laboral del profesorado universitario según su situación contractual. Revista de Salud Pública, Bogotá, v. 20, n. 1, p. 53-59, 2018. DOI: 10.15446/rsap.v20n1.53569
https://doi.org/10.15446/rsap.v20n1.5356...
; Colacion-Quiros; Gemora, 2016COLACION, Q.; GEMORA, R. Causes and effects of stress among faculty members in a state university. Asia Pacific Journal of Multidisciplinary Research, Batangas, v. 4, n. 1, p. 18-27, 2016.). Já em estudos desenvolvidos no Reino Unido e nos Estados Unidos, o estresse laboral foi o fator mais associado à insatisfação no trabalho (Abouserie, 1996ABOUSERIE, R. Stress, Coping Strategies and Job Satisfaction in University Academic Staff. Educational Psychology, London, v. 16, n. 1, p. 49-56,1996. DOI: 10.1080/0144341960160104
https://doi.org/10.1080/0144341960160104...
; Schindler et al., 2006SCHINDLER, B. et al. The Impact of the changing health care environment on the health and well-being of faculty at four medical schools. Academic medicine: journal of the Association of American Medical Colleges, Washington, DC, v. 81, n. 1, p. 27-34, 2006. DOI: 10.1097/00001888-200601000-00008
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). Em contrapartida, no estudo de origem australiana, os docentes estavam, em geral, satisfeitos com seu trabalho. Em outro, proveniente de Hong Kong, os docentes com maiores titulações acadêmicas, pontuaram maior satisfação laboral (Leung; Siu; Spector, 2000LEUNG, T.-W.; SIU, O.-L.; SPECTOR, P. Faculty stressors, job satisfaction, and psychological distress among university teachers in Hong Kong: The role of locus of control. International Journal of Stress Management, Washington DC, v. 7, n. 2, p. 121-138, 2000. DOI: 10.1023/A:1009584202196
https://doi.org/10.1023/A:1009584202196...
; Winefield; Jarrett, 2001WINEFIELD A.; JARRETT, R. Occupational stress in university staff. International Journal of Stress Management , v. 8, n. 4, p. 285-298, 2001. DOI: 10.1023/A:1017513615819
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).

Transtornos mentais comuns e sintomas depressivos no ambiente acadêmico

Os transtornos mentais entre docentes do ensino superior foram relevantes em várias regiões do mundo: sete diferentes países (Brasil, Turquia, Espanha, EUA, Austrália, Hong Kong, Reino Unido) preocuparam-se em apontar os reflexos do trabalho docente sobre a saúde mental dessas(es) trabalhadoras(es).

As prevalências de TMC variaram de 17,3% a 20,1% em alguns estudos realizados no Brasil (Tavares et al., 2012TAVARES, J. et al. Distúrbios psíquicos menores em enfermeiros docentes de universidades. Revista Latino-Americana de Enfermagem, São Paulo, v. 20, n. 1, p. 1-8, 2012. DOI: 10.1590/S0104-11692012000100023
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; Araújo; Santos, 2013ARAÚJO, T. et al. Saúde e trabalho docente: dando visibilidade aos processos de desgaste e adoecimento docente a partir da construção de uma rede de produção coletiva. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 37, n. 1, p. 183-212, 2013.; Mascarenhas et al., 2014; Ferreira et al., 2015FERREIRA, R. et al. Transtorno Mental Comum e estressores no trabalho entre professores universitários da área da saúde. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 13, n. supl. 1, p. 135-155, 2015. DOI: 10.1590/1981-7746-sip00042
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). Em uma pesquisa realizada na Austrália, os docentes envolvidos no ensino e na pesquisa apresentaram maior estresse psicológico e menor satisfação com o trabalho, pois precisam conviver com aumento da pressão resultante dos cortes financeiros nas universidades e aumento das cargas de produtividade no ensino (Winefield; Jarrett, 2001WINEFIELD A.; JARRETT, R. Occupational stress in university staff. International Journal of Stress Management , v. 8, n. 4, p. 285-298, 2001. DOI: 10.1023/A:1017513615819
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). No estudo realizado na China, com 1210 docentes de seis universidades, encontrou-se alta prevalência (58,9%) de sintomas depressivos, tendo o apoio/suporte psicológico como recurso positivo para a melhoria da saúde mental (Shen et al., 2014SHEN, X. et al. The association between occupational stress and depressive symptoms and the mediating role of psychological capital among Chinese university teachers: a cross-sectional study. BMC Psychiatry, Berlin, v. 14, n. 1, p. 329, 2014. DOI: 10.1186/s12888-014-0329-1
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). É importante salientar que o enfoque teórico e os instrumentos utilizados para avaliação dos transtornos mentais variaram entre os estudos.

Maiores prevalências dos transtornos mentais comuns foram observadas nas mulheres (Mascarenhas; Araújo; Santos, 2013MASCARENHAS, M.; ARAÚJO, T.; SANTOS, K. Transtornos mentais comuns em docentes universitários de uma instituição de ensino pública na Bahia. Advir, Rio de Janeiro, v. 30, n. 1, p. 74-89, 2013.; Kataoka et al., 2014KATAOKA, M. et al. Occupational stress and its related factors among university teachers in Japan. Health, Los Angeles, v. 6, n. 5, p. 299-305, 2014. DOI: 10.4236/health.2014.65043
https://doi.org/10.4236/health.2014.6504...
), nas(os) mais jovens, entre aqueles(as) que realizavam maior esforço no trabalho (Ferreira et al., 2015FERREIRA, R. et al. Transtorno Mental Comum e estressores no trabalho entre professores universitários da área da saúde. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 13, n. supl. 1, p. 135-155, 2015. DOI: 10.1590/1981-7746-sip00042
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), que tinham baixo controle sobre o trabalho e as(os) insatisfeitas(os) com as condições físicas e organizacionais das universidades (Mascarenhas; Araújo; Santos, 2013MASCARENHAS, M.; ARAÚJO, T.; SANTOS, K. Transtornos mentais comuns em docentes universitários de uma instituição de ensino pública na Bahia. Advir, Rio de Janeiro, v. 30, n. 1, p. 74-89, 2013.). No estudo de Araújo e colaboradores (2005)ARAÚJO, T. et al. Mal-estar docente: avaliação de condições de trabalho e saúde em uma instituição de ensino superior. Revista Baiana Saúde Pública, Salvador, v. 29, n. 1, p. 6-21, 2005. DOI: 10.22278/2318-2660.2005.v29.n1.a108
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, 72,6% dos(as) docentes referiram, no mínimo, uma queixa de saúde e, entre as mais relatadas, destacaram-se o cansaço mental, o esquecimento e a sonolência (Araújo et al., 2005ARAÚJO, T. et al. Mal-estar docente: avaliação de condições de trabalho e saúde em uma instituição de ensino superior. Revista Baiana Saúde Pública, Salvador, v. 29, n. 1, p. 6-21, 2005. DOI: 10.22278/2318-2660.2005.v29.n1.a108
https://doi.org/10.22278/2318-2660.2005....
).

Invisibilidade de gênero no trabalho docente

A literatura investigada nesta revisão certifica a invisibilidade das discussões de gênero nos estudos sobre trabalho docente no ensino superior, bem como os efeitos do trabalho sobre a saúde desses trabalhadores(as).

Quanto à classificação do potencial analítico da categoria gênero (Araújo; Schraiber; Cohen, 2011ARAÚJO, M.; SCHRAIBER, L.; COHEN, D. Penetração da perspectiva de gênero e análise crítica do desenvolvimento do conceito na produção científica da Saúde Coletiva. Interface -Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 15, n. 38, p. 805-818, 2011. DOI: 10.1590/S1414-32832011005000039
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), dois estudos desenharam a análise de gênero com sinalizações de disparidade entre homens e mulheres na docência do Reino Unido e da Croácia. As mulheres estavam mais insatisfeitas do que os homens, mas eles apresentaram maiores frequências de doenças mentais. Ainda assim, esses estudos foram classificados como análise no sentido parcial (Cooper; Kelly, 1993COOPER, C.; MIKE, K. Occupational stress in head teachers: A national UK study. British Journal of Educational Psychology , Londres, v. 63, n. 1, p. 130-143, 1993.; Slišković; Maslić Seršić, 2011SLIŠKOVIĆ, A.; MASLIĆ SERŠIĆ, D. Work stress among university teachers: gender and position differences. Arhiv za higijenu rada i toksikologiju, Warszawa, v. 62, n. 1, p. 299-307, 2011. DOI: 10.2478/10004-1254-62-2011-2135
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).

Outras oito pesquisas (22,2%) também atingiram apenas o sentido parcial em seus materiais, ou seja, o sentido meramente descritivo, dentro da perspectiva comparativa, sem criticar os padrões históricos das relações de poder, sociais, econômicas e políticas existentes. Os vinte e seis (72,2%) restantes não identificaram qualquer sentido de gênero (sentido ausente) em suas análises ou interpretações (Quadro 1).

Gestão educacional e medidas eficazes para as universidades

Dos estudos revisados, todos fizeram, pelo menos, uma sugestão, proposta ou recomendação para gestoras(es) da educação do ensino superior, tanto nacional quanto internacional (Quadro 2).

Quadro 2
Principais recomendações indicadas nos artigos avaliados

Dois estudos, na China e no Reino Unido, indicaram o investimento em treinamentos e capacitações, com destaque para aqueles referentes aos aspectos de gerenciamento do tempo, utilização de estratégias de enfrentamento mais adaptativas e desenvolvimento de habilidades nas tomadas de decisões no ambiente acadêmico (Cooper; Kelly, 1993COOPER, C.; MIKE, K. Occupational stress in head teachers: A national UK study. British Journal of Educational Psychology , Londres, v. 63, n. 1, p. 130-143, 1993.; Pan et al., 2015PAN, B. et al. Factors associated with job satisfaction among university teachers in northeastern region of China: A cross-sectional study. International journal of environmental research and public health, Basel, v. 12, n. 1, p. 12761-12775, 2015.) (Quadro 2).

Alguns estudos propuseram medidas de intervenções com intuito de aliviar a tensão e garantir um docente mais produtivo e saudável, entre elas, destacam-se: desenvolvimento do apoio social de qualidade (Otero-López; Mariño; Bolaño, 2008OTERO-LÓPEZ, J.; MARIÑO, M., BOLAÑO, C. An integrating approach to the study of burnout in University Professors. Psicothema, Oviedo, v. 20, n. 4, p. 766-772, 2008.; Carlotto; Câmara, 2017CARLOTTO, M.; CÂMARA, S. Riscos psicossociais associados à síndrome de burnout em professores universitários. Avances en Psicología Latino Americana, Bogotá, v. 35, n. 3, pp. 447-457, 2017. DOI: 10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.4036
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), disposição de horários mais flexíveis (Pan et al., 2015PAN, B. et al. Factors associated with job satisfaction among university teachers in northeastern region of China: A cross-sectional study. International journal of environmental research and public health, Basel, v. 12, n. 1, p. 12761-12775, 2015.), medidas que proporcionem maior controle sobre o trabalho (Kataoka et al., 2014KATAOKA, M. et al. Occupational stress and its related factors among university teachers in Japan. Health, Los Angeles, v. 6, n. 5, p. 299-305, 2014. DOI: 10.4236/health.2014.65043
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) e autonomia (Tavares et al., 2012TAVARES, J. et al. Distúrbios psíquicos menores em enfermeiros docentes de universidades. Revista Latino-Americana de Enfermagem, São Paulo, v. 20, n. 1, p. 1-8, 2012. DOI: 10.1590/S0104-11692012000100023
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), investimento na infraestrutura organizacional, diminuição das demandas impostas pelo sistema educacional (Winefield; Jarrett, 2001WINEFIELD A.; JARRETT, R. Occupational stress in university staff. International Journal of Stress Management , v. 8, n. 4, p. 285-298, 2001. DOI: 10.1023/A:1017513615819
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), bem como a efetivação de medidas para aumentar o entusiasmo, a resiliência e o otimismo (Pan et al., 2015PAN, B. et al. Factors associated with job satisfaction among university teachers in northeastern region of China: A cross-sectional study. International journal of environmental research and public health, Basel, v. 12, n. 1, p. 12761-12775, 2015.).

A inclusão de programas de apoio com acompanhamento periódico, atendimento psicológico e aconselhamento individualizado ou em grupos foi proposta, em diferentes estudos, como uma intervenção que pode prevenir o absenteísmo e o adoecimento mental nas instituições universitárias (Abouserie, 1996ABOUSERIE, R. Stress, Coping Strategies and Job Satisfaction in University Academic Staff. Educational Psychology, London, v. 16, n. 1, p. 49-56,1996. DOI: 10.1080/0144341960160104
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; Schindler et al., 2006SCHINDLER, B. et al. The Impact of the changing health care environment on the health and well-being of faculty at four medical schools. Academic medicine: journal of the Association of American Medical Colleges, Washington, DC, v. 81, n. 1, p. 27-34, 2006. DOI: 10.1097/00001888-200601000-00008
https://doi.org/10.1097/00001888-2006010...
; Shen et al., 2014SHEN, X. et al. The association between occupational stress and depressive symptoms and the mediating role of psychological capital among Chinese university teachers: a cross-sectional study. BMC Psychiatry, Berlin, v. 14, n. 1, p. 329, 2014. DOI: 10.1186/s12888-014-0329-1
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; Tavares et al., 2014TAVARES, J. et al. Prevalência de distúrbios psíquicos menores em enfermeiros docentes. Escola Anna Nery, Salvador, v. 18, n. 3, p. 407-414, 2014.).

Discussão

Alguns pontos de convergência emergem a partir da análise dos 36 artigos desta revisão. Entre eles, situam-se: (1) o estresse ocupacional como um problema real no contexto das universidades; (2) fatores associados à satisfação/insatisfação no trabalho dos(as) docentes do ensino superior; (3) elevadas prevalências de transtornos mentais e sintomas depressivos no ambiente acadêmico; (4) invisibilidade das relações entre gênero e saúde docente e; por fim, (5) a responsabilização da gestão educacional com propostas de apoio e melhorias nas condições de trabalho das universidades. A análise da qualidade metodológica dos artigos incluídos na revisão, segundo instrumento do IJB, aponta que a maior parte dos estudos tinham seus resultados avaliados com utilização de critérios objetivos e com análises estatísticas apropriadas.

As evidências desta revisão apontam presença do estresse ocupacional nas universidades em diferentes regiões do mundo. Como já mencionado, esse estresse surge como resposta às situações desgastantes e conflituosas no ambiente laboral. Nesse sentido, o novo fazer docente, reflexo da grande pressão social, reflete um contexto de altas exigências de ritmos/tempos de produções de trabalho, com consequências danosas para os(as) professores(as). Essa tensão provoca desgaste físico e emocional, com potencial para iniciar quadros de depressão, sentimentos de insatisfação com o próprio trabalho (Batista et al., 2016BATISTA, J. et al. Transtornos mentais em professores universitários: estudo em um serviço de perícia médica. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 45-48, 2016. DOI: 10.9789/2175-5361.2016.v8i2.4538-4548
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), bem como elevadas taxas de prevalência de Síndrome de Burnout e de transtornos mentais comuns (Campos; Véras; Araújo, 2020CAMPOS, T.; VÉRAS, R.; ARAÚJO, T. Trabalho docente em universidades públicas brasileiras e adoecimento mental: uma revisão bibliográfica. Avaliação: Revista Docência da Ensino Superior, Belo Horizonte, v. 10, 2020. DOI: 10.35699/2237-5864.2020.15193
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).

Uma questão central emerge nesse debate como essencial: a precarização do trabalho docente e seus fatores associados. Existe um processo complexo na relação entre precarização do trabalho e saúde docente. O trabalho docente passou a ser estruturado a partir de formas degradadas de trabalho, em que a baixa remuneração, a falta de reconhecimento, situações de violência e sobrecarga de demandas podem acarretar reflexos marcantes na qualidade do ensino-aprendizagem, bem como na saúde da categoria (Leung; Siu; Spector, 2000LEUNG, T.-W.; SIU, O.-L.; SPECTOR, P. Faculty stressors, job satisfaction, and psychological distress among university teachers in Hong Kong: The role of locus of control. International Journal of Stress Management, Washington DC, v. 7, n. 2, p. 121-138, 2000. DOI: 10.1023/A:1009584202196
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; Pereira et al., 2014PEREIRA, É. et al. O trabalho docente e a qualidade de vida dos professores na educação básica. Revista de Salud Pública , Bogotá, v. 16, n. 2, p. 221-231, 2014.). Ou seja, a vocação do professor modifica-se na contemporaneidade, com atribuições exageradas e tarefas não próprias de sua profissão (Fritz; Peixoto, 2022FRITZ, M.; PEIXOTO, M. C. O. O estresse ocupacional docente e suas consequências à saúde. Revista Contexto & Educação, Ijuí, v. 37, n. 117, p. 85-95, 2022. DOI: 10.21527/2179-1309.2022.117.12872
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).

A forma como se estrutura o trabalho é definidora da condição da atividade laboral como produtora de saúde ou adoecimento (Araújo, 2008ARAÚJO, T. Estresse e saúde no trabalho docente. Presente: Reveduc, São Paulo, v. 61, ano XVI, p. 9-15, 2008.). Alguns estudos desta revisão sinalizaram prevalências expressivas de TMC e sintomas depressivos entre docentes: 19,5% (Ferreira et al., 2015FERREIRA, R. et al. Transtorno Mental Comum e estressores no trabalho entre professores universitários da área da saúde. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 13, n. supl. 1, p. 135-155, 2015. DOI: 10.1590/1981-7746-sip00042
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) e 20,1% (Tavares et al., 2014TAVARES, J. et al. Prevalência de distúrbios psíquicos menores em enfermeiros docentes. Escola Anna Nery, Salvador, v. 18, n. 3, p. 407-414, 2014.) em estudos no Brasil; 20% dos professores apresentaram sintomas depressivos no estudo realizado nos Estados Unidos (Schindler et al., 2006SCHINDLER, B. et al. The Impact of the changing health care environment on the health and well-being of faculty at four medical schools. Academic medicine: journal of the Association of American Medical Colleges, Washington, DC, v. 81, n. 1, p. 27-34, 2006. DOI: 10.1097/00001888-200601000-00008
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) e, no estudo chinês, esse percentual alcançou 58,9% (Shen et al., 2014SHEN, X. et al. The association between occupational stress and depressive symptoms and the mediating role of psychological capital among Chinese university teachers: a cross-sectional study. BMC Psychiatry, Berlin, v. 14, n. 1, p. 329, 2014. DOI: 10.1186/s12888-014-0329-1
https://doi.org/10.1186/s12888-014-0329-...
). Em todo o mundo, o número de pessoas com TMC vem aumentando, particularmente em países de baixa renda, impactando em perdas em termos de saúde e trabalho. A depressão foi classificada, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como a maior preditora para a incapacidade global, estima-se que 4,4% da população mundial sofre de transtorno depressivo e 3,6% de transtorno de ansiedade (WHO, 2017WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION. Depression and other common mental disorders: global health estimates. Genebra, 2017.). No Brasil, a partir de dados recentes sobre os transtornos mentais que mais provocaram afastamento de docentes de uma universidade, é possível concluir que a depressão foi responsável por 53% das licenças, a reação aguda ao estresse chegou a 8% e a ansiedade a 7%, mostrando a gravidade dessa problemática (Batista et al., 2016BATISTA, J. et al. Transtornos mentais em professores universitários: estudo em um serviço de perícia médica. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 45-48, 2016. DOI: 10.9789/2175-5361.2016.v8i2.4538-4548
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).

Esses percentuais, contudo, têm distinções se analisados à luz das teorias de gênero. As mulheres são mais atingidas pelos TMC, padrão mantido pela categoria docente, seja na educação básica ou no ensino superior. No estudo com professores da educação infantil e ensino fundamental de Vitória da Conquista, Bahia, considerando-se o modelo de regressão logística, as mulheres apresentaram 2,6 vezes mais distúrbios psíquicos do que os homens (Porto et al., 2006PORTO, L. et al. Associação entre distúrbios psíquicos e aspectos psicossociais do trabalho de professores. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 40, n. 5, p. 818-826, 2006. DOI: 10.1590/S0034-89102006005000001
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). No ano pandêmico da covid-19, em um estudo conduzido com 1444 docentes da rede privada, as professoras relataram situações de saúde alarmantes - crises de ansiedade (53,7%), mau humor (78,0%), transtornos mentais comuns (69,0%) e qualidade do sono ruim (84,6%) (Pinho et al., 2021PINHO, P. et al. Trabalho remoto docente e saúde: repercussões das novas exigências em razão da pandemia da Covid-19. Trabalho, Educação e Saúde , Rio de Janeiro, v. 19, 2021.).

Das quatro universidades médicas dos Estados Unidos, as professoras foram mais acometidas por ansiedade, depressão e cefaleia do que os homens (Schindler et al., 2006SCHINDLER, B. et al. The Impact of the changing health care environment on the health and well-being of faculty at four medical schools. Academic medicine: journal of the Association of American Medical Colleges, Washington, DC, v. 81, n. 1, p. 27-34, 2006. DOI: 10.1097/00001888-200601000-00008
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). Essas evidências ainda são pouco interpretadas sob a perspectiva de gênero nas discussões sobre trabalho docente nas universidades, e as diferenças entre homens e mulheres tendem a ser naturalizadas. Sustenta-se, assim, a legitimidade em pontuar discussões em torno da dupla jornada de trabalho vivenciada pelas mulheres, após serem inseridas no mercado de trabalho. Um caminho promissor nesse debate é o reforço à necessidade de incluir, nas análises e discussões, o cômputo da carga total de trabalho (profissional e doméstico) para homens e mulheres, de modo a permitir avaliações mais precisas dos tipos de exposições a que estão submetidos(as) (Araújo; Carvalho, 2009ARAÚJO, T.; CARVALHO, F. Condições de trabalho docente e saúde na Bahia: estudos epidemiológicos. Educação & Sociedade, Campinas, v. 107, n. 30, p. 427-449, 2009. DOI: 10.1590/S0101-73302009000200007
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).

As mulheres são maioria nas escolas e nas universidades, elemento estruturante na distribuição de vulnerabilidades, logo, atuam diretamente na situação de saúde de homens e mulheres de forma diferente. A invisibilidade dessa discussão persiste, e a incorporação de elementos que problematizem as assimetrias de gênero permanecem embrionárias. Sem esse enfrentamento, não é possível avançar na preservação da saúde docente (Araújo; Pinho; Masson, 2019ARAÚJO, T.; PINHO, P.; MASSON, M. Trabalho e saúde de professoras e professores no Brasil: reflexões sobre trajetórias das investigações, avanços e desafios. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 35, supl. 1, 2019. DOI: 10.1590/0102-311X00087318
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).

O envolvimento da gestão institucional foi registrado como essencial nesse percurso, na medida em que os aspectos das organizações e condições do trabalho sinalizados como preditores de adoecimento precisam ser reestruturados. Afinal, muitas vezes a cobrança não está apenas nas atribuições educacionais, mas também é uma exigência exagerada oriunda da gestão (Fritz; Peixoto, 2022FRITZ, M.; PEIXOTO, M. C. O. O estresse ocupacional docente e suas consequências à saúde. Revista Contexto & Educação, Ijuí, v. 37, n. 117, p. 85-95, 2022. DOI: 10.21527/2179-1309.2022.117.12872
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). A organização do trabalho é fruto de decisões e definições que se processam no cotidiano docente que, por sua vez, refletem as correlações de forças e a capacidade dos grupos de interesses macro e microestruturais de se fazerem representar. Tais evidências também podem auxiliar nas ações e lutas sindicais, bem como na estruturação de medidas legais para proteção da saúde dos(as) profissionais da educação, com promissoras possibilidades na direção de conquistas mais substanciais (Araújo et al., 2003).

É preciso encontrar alternativas que proporcionem ambientes saudáveis e produtivos, nos quais os(as) docentes possam desenvolver a produção intelectual livre, considerando o tempo necessário para suas jornadas de trabalho, com possibilidades de uso de suas habilidades e subjetividades, contribuindo verdadeiramente para o desenvolvimento social, político e econômico de uma população (Cassandre, 2011CASSANDRE, M. A saúde de docentes de pós-graduação em universidades públicas: os danos causados pelas imposições do processo avaliativo. Revista Mal-Estar e Subjetividade, Fortaleza, v. 1, n. 2, p. 779-816, 2011.). A efetividade das ações preventivas faz com que exista possibilidade de melhorias no trabalho, com maior desejo de exercer e permanecer na docência (Fritz; Peixoto, 2022FRITZ, M.; PEIXOTO, M. C. O. O estresse ocupacional docente e suas consequências à saúde. Revista Contexto & Educação, Ijuí, v. 37, n. 117, p. 85-95, 2022. DOI: 10.21527/2179-1309.2022.117.12872
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).

Resultados dos estudos analisados oferecem um corpo de evidências sobre a necessidade de adoção de medidas protetivas da situação de saúde do(a) trabalhador(a) da educação. Isto posto, a prática da vigilância em saúde do(a) trabalhador(a) permite identificar fatores de riscos associados à saúde docente e auxilia possíveis transformações das condições de trabalho e a garantia da qualidade da assistência a esses(as) profissionais como trabalhadores(as) (Santana; Goulart; Chiari, 2012SANTANA, M.; GOULART, B.; CHIARI, B. Distúrbios da voz em docentes: revisão crítica da literatura sobre a prática da vigilância em saúde do trabalhador. Jornal da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, São Paulo, v. 24, n. 3, p. 288-295, 2012. DOI: 10.1590/S2179-64912012000300016
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). Essa atenção e monitoramento para manutenção da saúde mental dos acadêmicos pode ser amparada por variadas estratégias preventivas para promoção do bem-estar laboral. Aumentar a autonomia, reconhecimento, treinamentos e controle sobre o próprio trabalho pode aliviar a tensão. Contudo, os serviços de saúde disponíveis à comunidade acadêmica, como suporte médico e psicológico, além de programas de aconselhamento/apoio, são apontados como medidas ainda pouco utilizadas, porém promissoras para a estruturação de ambientes saudáveis de trabalho. Afinal, a saúde docente está diretamente relacionada ao processo produtivo presente nas universidades, regido pela gestão da produtividade, aproxima-se excessivamente do que se constata, atualmente, nas organizações capitalistas (Cassandre, 2011CASSANDRE, M. A saúde de docentes de pós-graduação em universidades públicas: os danos causados pelas imposições do processo avaliativo. Revista Mal-Estar e Subjetividade, Fortaleza, v. 1, n. 2, p. 779-816, 2011.).

Alguns limites metodológicos dos estudos devem ser destacados. Todos adotaram o desenho transversal, o que limita o estabelecimento de relações causais, pela impossibilidade de assegurar a sequência temporal dos eventos estudados (Almeida Filho; Barreto, 2012ALMEIDA FILHO, N.; BARRETO, M. Epidemiologia & Saúde: fundamentos, métodos e aplicações. São Paulo: Guanabara Koogan, 2012.). Outro limite é referente às amostras, muitas vezes de conveniência, pequenas ou com baixas taxas de respostas.

Destaca-se a impossibilidade de garantir a qualidade dos resultados dos estudos selecionados, devido à natureza heterogênea das publicações no que se referem aos critérios metodológicos estabelecidos, às características culturais dos países de publicação, o quantitativo de pessoas estudadas, bem como a definição teórica e o uso de diferentes instrumentos para identificar as relações estudadas. Outra possível limitação foi o critério de não inclusão de estudos primários qualitativos, fato que pode ter produzido subestimação dos dados apresentados. Contudo, essa revisão tinha um objetivo subjacente de identificar o estado da arte de estudos transversais sobre a temática. Outro fator que deve ser considerado é que o enfoque de gênero só pôde ser realizado em parte, pois a maioria dos estudos apontou a ausência do sentido de gênero e, em menos da metade, o critério foi parcial, sem qualquer aprofundamento do tema. Novas pesquisas são necessárias e devem adotar diferentes abordagens metodológicas/analíticas, no intuito de dar maior visibilidade a todas essas questões aqui abordadas.

Em síntese, é preciso concentrar-se em medidas que possam melhorar a qualidade do trabalho nas universidades, que sejam prerrogativas para ampliar conquistas no espaço de trabalho como espaço privilegiado para obtenção de prazer e satisfação para homens e mulheres, de forma igualitária.

Considerações finais

Os elementos que compõem os desencadeadores para sintomas estressores e suas consequências para saúde são os mais variados, porém, a prevenção é um caminho promissor. Para avaliar a situação de saúde mental desses(as) professores(as), faz-se necessário a construção e manutenção de serviços de saúde comprometidos com a saúde do(a) trabalhador(a). Essas estratégias transformam-se em investimentos na saúde e na qualidade de vida docente, os quais refletem na qualidade educacional do ensino superior.

Contudo, é preciso romper com a discussão naturalizada e hegemônica de um modelo androcêntrico em torno do trabalho docente. As relações de gênero que envolvem o ambiente acadêmico são temas que precisam ser mais investigados nas produções científicas no campo da saúde pública, além da necessidade de serem visibilizadas e responsabilizadas. Novas conquistas perpassam pela construção de um processo que envolve os mais diversos atores sociais, começando pelos(as) próprios(as) docentes nas universidades, com apoio do movimento sindical, dos gestores, bem como dos movimentos sociais e feministas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    19 Jan 2023
  • Revisado
    19 Jan 2023
  • Aceito
    03 Jul 2023
Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. Associação Paulista de Saúde Pública. SP - Brazil
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