Broad WJ. The Science of Yoga. The risks and the rewards. New York: Simon & Schuster; 2012.

Pamela Siegel Nelson Filice de Barros Sobre os autores
2012

William Broad, no seu livro The Science of yoga. The Risks and the Rewards11 Broad WJ. The Science of Yoga. The risks and the rewards. New York: Simon & Schuster; 2012. procura proporcionar uma visão equilibrada e cautelosa da prática do yoga.

As bases do yoga chegaram ao ocidente no final do século XIX e, no Brasil, foram estudadas e ensinadas no início do século XX. Atualmente, o yoga é classificado como uma prática mente-corpo pela OMS (2002-2005), sendo considerada também integrativa e complementar de saúde. Além disso, ela foi inserida no Sistema único de Saúde, por meio da Portaria 719, de 7 de abril de 2011, que criou o Programa da Academia de Saúde. Nos termos desta, lê-se no artigo seis serão desenvolvidas as seguintes atividades no âmbito do Programa Academia da Saúde: I - promoção de práticas corporais e atividades físicas (ginástica, lutas, capoeira, dança, jogos esportivos e populares, yoga, tai chi chuan, dentre outros)22 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n° 719, de 7 de abril 2011. Institui o Programa Academia da Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União 2011; 8 abr..

O hatha-yoga, que se baseia na prática de posturas físicas, promove vários benefícios à saúde33 Siegel P, Barros NF. Yoga e Saúde: o Desafio da Introdução de uma Prática Não-Convencional no SUS [tese]. São Paulo: Universidade Estadual de Campinas; 2010. e é praticado por aproximadamente 15 milhões de norte americanos44 Saper RB, Eisenberg DM, Davis RB, Culpepper L, Phillips RS. Prevalence and patterns of adult yoga use in the United States: results of a national survey. Altern Ther Health Med 2004; 10(2):44-49.. Contudo, em alguns casos, também pode gerar distenções musculares e lesões na coluna cervical e lombar, bem como nos joelhos.

O livro, distribuído em sete capítulos, inclui uma lista de 68 pessoas, de várias nacionalidades, que de alguma forma estiveram ou estão vinculadas ao universo do yoga: são cardiologistas, neurocientistas, instrutores de yoga, empresários, pesquisadores, místicos, gurus e cientistas religiosos. Outrossim, o livro contém uma cronologia do yoga que começa em 2.500 a.C. e termina em 2011. Destaca-se que o ano de 1972 marca o surgimento de uma série de advertências sobre o yoga, como a de um médico britânico alertando sobre o perigo do movimento de flexão do pescoço para trás, que pode resultar num acidente vascular cerebral. Em 1998, o National Institutes of Health começa a investir uma verba significativa na pesquisa sobre o yoga, principalmente em agravos como diabetes, artrite, insônia, depressão e dor crônica.

Nos capítulos I, II e III, que tratam da saúde, da perfeição e dos humores, respectivamente, o autor desconstrói com bom humor a imagem do yogue como figura sarada, forte, celibatária e santificada. Ele menciona alguns dos primeiros observadores do yoga como N.C. Paul, que recebeu uma formação médica ocidental na índia e registrou importantes passagens sobre essa prática em 1851, como o sepultamento de yogues vivos, o manejo que eles detinham sobre o ritmo respiratório e a repetição da sílaba “OM”, que, para Paul, promovia uma perda de gás carbônico. O autor também faz referência a algumas passagens do Hatha Yoga Pradipika, obra escrita no século XV, que afirma que os praticantes do yoga poderiam neutralizar venenos, destruir todas as enfermidades, aniquilar a velhice, atingir a imortalidade, além de superar a constipação, evitar o surgimento de rugas e cabelos brancos. Logo, o yoga conferiria ao praticante a reputação de um poder invencível.

O nacionalismo indiano surgido como um contraponto ao colonialismo britânico valorizou as tradições culturais e religiosas da índia, o yoga incluído. Jagannath G. Gune foi um dos promotores do yoga, que elevou a prática ao status de fitness, atraindo a atenção de Gandhi e Nehru. Gune chegou a publicar vários estudos sobre o yoga em 1924-25 referentes à pressão arterial e se distanciou daquele suposto yoga praticado por mendigos e fakires, que andavam sujos e desnudos pelas ruas praticando atos de magia e contorções. A nova face do yoga fora vinculada à ciência, à higiene, à saúde e ao fitness. A partir daí, o hatha-yoga foi popularizado no ocidente através de Krishnamacharya, Pattabhi Jois e Iyengar.

O capítulo IV do livro é dedicado ao risco de lesões. O autor afirma que, assim como acrobatas e contorcionistas sofrem lesões, ou mesmo os esportistas, os praticantes de yoga também podem estar fadados a se machucarem, dependendo da intensidade da prática. Só que no imaginário popular, o yoga é uma prática que relaxa, cura e promove saúde. Então, a omissão sobre o fato de que o yoga, tão procurado para acalmar, alongar e trazer bem-estar, possa, em alguns casos, gerar o efeito contrário, remonta ao silêncio dos gurus da antiguidade. Na literatura escrita pelos primeiros hatha-yogues que introduziram a prática no ocidente não há referências sobre lesões.

No entanto, médicos, principalmente norte-americanos, começaram a contabilizar as lesões sofridas por alguns praticantes de yoga a partir das décadas de 1970 e 1980. Segundo o autor, instrutores modernos de yoga têm enfrentado o desafio de reconhecer alguns perigos do yoga com o intuito de alertar os praticantes contra os exageros nas torções e flexões. E ele fez um levantamento das publicações que registraram as lesões, dentre as diferentes linhas de yoga. O ano de 2002 foi um ponto de virada, segundo o autor, devido a que a comunidade dos yogues saiu da apatia e começou a promover um debate sobre como prevenir as lesões e quais seriam as diretrizes seguras para a prática. Um dos fóruns que colocou o tema no centro dos debates foi o Yoga Journal. No entanto, os gurus famosos se mantiveram em silêncio.

Algumas das posturas que poderiam causar danos se praticados por muito tempo seriam: halasana, urdhva dhanurasana, bhujangasana, vajrasana, paschimottanasana e adho mukha svanasana. Mas a mais perigosa seria a parada de cabeça, já suprimida em várias escolas de yoga. Timothy McCall55 McCall T. Yoga as Medicine. The Yogic Prescription for Health and Healing. USA: Bantam Books; 2007., médico, instrutor de yoga e ex-editor do Yoga Journal relata que teve um formigamento na mão direita, durante a prática da postura invertida, devido à compressão dos nervos que passam do pescoço para os braços, que só melhorou quando ele deixou de praticá-la.

A cura é o tema do capítulo quinto, em que o autor relata casos de curas em praticantes de yoga, como, entre outros, o alinhamento da coluna, a melhoria da osteoporose, o fortalecimento de músculos, a melhoria da amplitude respiratória, a promoção da coordenação motora, do equilíbrio e da calma interior. E o autor aborda o tema da transformação do instrutor yogue em terapeuta, tema este que diz respeito ao yoga como profissão e que é tratado por Siegel e Barros no capítulo IV do livro que está no prelo66 Siegel P, Barros NF. Yoga: Tradição e Prática Integrativa de Saúde. No prelo. 2014..

Não poderia faltar um capítulo sobre a sexualidade, tema do capítulo sexto, intitulado Divine Sex. O autor aponta para o fato de que embora o hatha-yoga seja derivado do tantra, os livros usados nos cursos de yoga regulares não enfatizam a questão sexual. A busca na literatura científica sobre yoga e sexualidade resultou em referências contraditórias, alguns textos afirmando que o yoga reduz os níveis de circulação de um importante hormônio sexual, muito embora a literatura popular, os websites, os vídeos e os dvd propagassem o contrário. O autor procedeu, então, à coleta de narrativas de instrutores e praticantes de yoga, nas quais houve a revelação de picos de erotismo e êxtases espirituais. A análise deste material deixou claro para o autor, porque o yoga estava envolvido em alguns escândalos noticiados na imprensa, em diferentes lugares e momentos. O autor lista os nomes de vários gurus que supostamente mantiveram relações sexuais com suas discípulas e passa a analisar os efeitos do despertar de kundalini, a força vital e libidinosa que repousa, segundo a teoria do yoga, em estado semilatente, num receptáculo na base da coluna, esperando ser despertada.

No último capítulo do livro, intitulado Muse, o autor reflete sobre a relação entre o yoga e a criatividade, citando a história de várias personalidades que atuaram nos dois campos, como, por exemplo, Carl G. Jung, o violinista Yehudi Menuhin, e personalidades menos conhecidas internacionalmente, como a pintora Linda Novick e a flautista Mia Olson. O fato de o yoga aliviar a tensão pode resultar em explosões de emoções reprimidas, as quais o autor compara com os efeitos dos métodos de rolfing, massagem neorreichiana, respiração holotrópica e psicologia somática, que visam romper com bloqueios mentais. O autor encerra este capítulo mencionando vários estudos sobre o yoga, principalmente no que diz respeito ao aumento de neurotransmissores durante a prática, e cita importantes pesquisadores como Andrew Newberg e Oliver Sacks, que se dedicam a estudar os mecanismos da espiritualidade e da arte a partir da neurologia.

O livro é uma importante contribuição para os profissionais de saúde e pesquisadores das práticas integrativas e complementares (PIC) que desejam ampliar seus horizontes sobre a prática do yoga, porque os temas são bem documentados, o texto é de agradável leitura e o autor não permanece somente no âmbito da pesquisa teórica, mas vai a campo e traz aos leitores uma quase-etnografia do yoga, coletada em várias cidades norte-americanas. Além do mais, o autor constrói o seu texto a partir de uma bricolagem de conhecimentos muito diversos, quais sejam: a saúde, a psicologia, a espiritualidade, a sexualidade e a criatividade.

Referências

  • 1
    Broad WJ. The Science of Yoga. The risks and the rewards. New York: Simon & Schuster; 2012.
  • 2
    Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n° 719, de 7 de abril 2011. Institui o Programa Academia da Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União 2011; 8 abr.
  • 3
    Siegel P, Barros NF. Yoga e Saúde: o Desafio da Introdução de uma Prática Não-Convencional no SUS [tese]. São Paulo: Universidade Estadual de Campinas; 2010.
  • 4
    Saper RB, Eisenberg DM, Davis RB, Culpepper L, Phillips RS. Prevalence and patterns of adult yoga use in the United States: results of a national survey. Altern Ther Health Med 2004; 10(2):44-49.
  • 5
    McCall T. Yoga as Medicine. The Yogic Prescription for Health and Healing USA: Bantam Books; 2007.
  • 6
    Siegel P, Barros NF. Yoga: Tradição e Prática Integrativa de Saúde No prelo. 2014.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Fev 2015
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