A Pesquisa Nacional de Saúde 2013: um retrato instantâneo da saúde no país

Esta edição da revista Ciência & Saúde Coletiva fornece detalhes dos resultados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 (PNS 2013). O PNS, uma parceria entre o Ministério da Saúde (MS) e o IBGE, fornece um instantâneo vívido da situação atual da saúde no Brasil.

O PNS apresenta estimativas nacionais e estaduais, obtidas de relatos individuais sobre saúde e doenças, fatores de risco e o uso e o grau de satisfação com os serviços de saúde. O primeiro artigo, de Malta et al., examina a cobertura do principal programa do SUS, a Estratégia de Saúde da Família (ESF). Constataram que os relatos individuais da ESF foram compatíveis com as estimativas do MS e demonstram maior frequência de visitas domiciliares, feitas por profissionais de saúde da comunidade, no atendimento àqueles com piores condições socioeconômicas, demonstrando seu potencial em melhorar a equidade no acesso aos serviços de saúde.

O PNS também registra as experiências e percepções da população sobre uma gama de políticas e programas nacionais. O artigo de Szwarcwald et al. aborda a avaliação pelos usuários dos serviços de saúde recebidos no ano anterior. Constataram altos graus de acesso e uso (cerca de 75% haviam consultado um médico no ano anterior), e avaliações positivas dos serviços de atendimento, a não ser pelas queixas pelo tempo de espera, entre os usuários do sistema nacional de saúde, com diferenças regionais marcantes.

Em um sistema de saúde decentralizado, como o brasileiro, avaliações nacionais regulares ajudam a divulgar o trabalho e os esforços dos estados e municípios, incentivando a adoção de melhores práticas. O artigo de Viacava e Bellido documenta as tendências na utilização dos serviços de saúde de 1998 a 2013. Constataram uma tendência crescente de melhor acesso e uso mais frequente dos serviços de saúde, mas assinalam disparidades regionais persistentes, principalmente no Norte e no Nordeste.

Devido ao amplo tamanho da amostra, o PNS 2013 permitiu o monitoramento das experiências por subgrupos, essencial para avaliar a equidade – objetivo básico do SUS. O artigo de Boccolini et al. discute a percepção de discriminação das pessoas atendidas nos serviços de saúde. Aqui, a avaliação foi menos favorável com cerca de 10% dos usuários declarando terem se sentido discriminados no atendimento de saúde. Os relatos de discriminação são mais frequentes entre mulheres, pessoas com primeiro grau incompleto, não brancos e aqueles sem plano privado.

O PNS também permite uma análise aprofundada dos indivíduos que sofrem de condições crônicas ou de incapacidade física ou mental. Silva et al. discutem os comportamentos relacionados ao estilo de vida dos diagnosticadas com câncer. Constataram que práticas saudáveis, como parar de fumar ou o consumo adequado de frutas, legumes e verduras, foram mais comuns entre os sobreviventes. Entretanto, estes também relataram maior consumo de álcool, e poucas diferenças em relação a outras atividades saudáveis, o que sugere a necessidade de se criar programas específicos para manter essa população saudável.

Outra função do PNS é avaliar o progresso de iniciativas nacionais de saúde pública, como o plano de combate às doenças não transmissíveis (DNT). Dois artigos abordam esta função. Nico et al. mostram disparidades expressivas na saúde bucal. Encontraram uma superposição de fatores, como sexo masculino, mais idade, não branco/cor da pele, menor escolaridade e área geográfica (áreas rurais e Nordeste), responsável pelos piores indicadores, sugerindo a necessidade de mais esforços para ampliar os serviços de saúde bucal a essa população vulnerável. O artigo de Malta et al. apresenta dados individuais de acidentes de trânsito. Os resultados são díspares: enquanto o uso cinto de segurança no banco dianteiro e o de capacete tenham alcançado cerca de 80% (mas menos no Norte e Nordeste), cerca de 3% (várias centenas de milhares) dos indivíduos estiveram envolvidos em colisões no mês anterior com a metade precisando de atendimento médico e cerca de um sexto tendo sequelas.

Apesar das limitações inerentes a qualquer estudo de corte transversal baseado principalmente em relatos individuais, os artigos desta edição demonstram o amplo panorama de progressos alcançados, ressaltando o trabalho importante pela frente em um sistema nacional de saúde em aperfeiçoamento contínuo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Fev 2016
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revscol@fiocruz.br