Padrões de buscas sobre câncer na internet: reatividades, riscos e afetos

Paulo Roberto Vasconcellos-Silva Luis David Castiel Franciso Romão Ferreira Sobre os autores

Resumo

A popularização das Tecnologias para disponibilidade de informações não influenciaram os hábitos de prevenção. O presente texto analisa padrões de acessos ao site do Instituto Nacional de Câncer descritos em artigos anteriores, assim como as distâncias entre propósitos e resultados das campanhas de prevenção do câncer. Identifica-se um padrão reativo de buscas que se mostra indiferente às informações sobre prevenção, embora interessado em tecnologias de tratamento e na veiculação de notícias sobre doenças de celebridades. Isso contrasta com o paradigma das melhores informações para as decisões, radicado na heteronomia da educação bancária coletiva, seus meios e resolutividade. Discute-se a potência simbólica das campanhas à luz dos modelos heurísticos emocionais – ferramentas analíticas não classicamente empregadas nos estudos sobre riscos, mas aqui considerados elementos estruturantes à percepção pública da saúde. Retrata-se ambiguidades da cultura de risco, seu pendular entre certezas e inseguranças em meio às quais estes se formam e reconformam. Teoriza-se sobre a tripartição do risco como percepção, análise e política, sendo esta última representada pelo embate público entre as primeiras perante os riscos mais candentes ligados às circunstâncias históricas.

Internet; Mídias e saúde; Comunicação em saúde; Sociologia da saúde

Introdução

Adventos no campo das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) têm se tornado tão frequentes quanto as implicações que deles se originam no âmbito de observação sociológica. Com o advento das conexões por banda larga, observam-se avanços qualitativos da internet “unidirecional” (distributiva) para o terreno da mHealth e do self-tracking como campo de farto material à sociologia da biopolítica11. Lupton D. Digital Sociology. London: Routledge; 2015.,22. Lupton D. Self-tracking Cultures: Towards a Sociology of Personal Informatics. Published in 19 September. [cited 2014 Oct 15]. Available at https://simplysociology.files.wordpress.com/2014/09/self-tracking-cultures-ozchi-conference-paper.pdf
https://simplysociology.files.wordpress....
. Cremos como matéria sumamente relevante a descrição de novos sentidos produzidos por esses aparatos em suas repercussões subjetivas, sociais e políticas.

Apesar do desenvolvimento econômico das últimas décadas, iniquidades sociais e econômicas no Brasil também se refletem, agora sob novos formatos, no âmbito do acesso às tecnologias de informação e comunicação33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Acesso à Internet. Posse de telefone móvel celular para uso pessoal. IBGE. [acessado 2014 nov 14]. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/acessoainternet2011/coeficientes_xls_internet.shtm
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/...
. No tocante ao quantitativo de acessos à informação sobre saúde, a base da pirâmide socioeconômica brasileira tem se tornado cada vez mais estreita. A partir de consultas ao Google trends (acesso aberto) observa-se o crescimento exponencial de visitas advindas das regiões mais pobres do país. Entretanto, na dimensão qualitativa, pouco se sabe sobre a apropriação e as práticas em vista desse amplo acesso. Portanto, uma questão aqui colocada se refere à correspondência entre o volume e a natureza da informação buscada e seu efetivo emprego na adesão a novos hábitos de proteção à saúde. Em paralelo à expansão da Internet, observa-se que os cânceres de identificação precoce continuam a ser diagnosticados tardiamente no SUS, em estadiamento avançado44. Richards MA, Westcombe AM, Love SB, Littlejohns P, Ramirez AJ. Influence of delay on survival in patients with breast cancer: a systematic review. Lancet 1999; 353(9159):1119-1126., como à época do escasso acesso às informações55. Meechan G, Collins J, Petrie KJ. The relationship of symptoms and psychological factors to delay in seeking medical care for breast symptoms. Prev Med 2003; 36(3):374-378.

6. Golshan M, Losk K, Kadish S, Lin NU, Hirshfield-Bartek J, Cutone L, Sagara Y, Aydogan F, Camuso K, Weingart SN, Bunnell C. Understanding process-of-care delays in surgical treatment of breast cancer at a comprehensive cancer center. Breast Cancer Res Treat 2014; 148(1):125-133.

7. Andersen BL, Cacioppo JT, Roberts DC. Delay in seeking a cancer diagnosis: delay stages and psychophysiological comparison processes. Br J Soc Psychol 1995; 34(Pt 1):33-52.

8. Smith LK, Pope C, Botha JL. Patients’ help-seeking experiences and delay in cancer presentation: a qualitative synthesis. Lancet 2005; 366(9488):825-831.
-99. Walter F, Webster A, Scott S, Emery J. The Andersen Model of Total Patient Delay: a systematic review of its application in cancer diagnosis. J Health Serv Res Policy 2012; 17(2):110-118.. Existe documentação farta na literatura concernente às decisões adiadas no momento de se buscar suporte profissional nesse campo, seja esta produzida em países de posição socioeconômica desfavorecida1010. Ermiah E, Abdalla F, Buhmeida A, Larbesh E, Pyrhönen S, Collan Y. Diagnosis delay in Libyan female breast cancer. BMC Res Notes 2012; 5:452.

11. Norsa’adah B, Rampal KG, Rahmah MA, Naing NN, Biswal BM. Diagnosis delay of breast cancer and its associated factors in Malaysian women. BMC Cancer 2011; 11:141.
-1212. Poum A, Promthet S, Duffy SW, Parkin DM. Factors associated with delayed diagnosis of breast cancer in northeast Thailand. J Epidemiol 2014; 24(2):102-108., seja em países plenamente industrializados1313. Lim AW, Ramirez AJ, Hamilton W, Sasieni P, Patnick J, Forbes LJ. Delays in diagnosis of young females with symptomatic cervical cancer in England: an interview-based study. Br J Gen Pract 2014; 64(627):e602-610.

14. Forbes LJ, Warburton F, Richards MA, Ramirez AJ. Risk factors for delay in symptomatic presentation: a survey of cancer patients. Br J Cancer 2014; 111(3):581-588.
-1515. Bish A, Ramirez A, Burgess C, Hunter M. Understanding why women delay in seeking help for breast cancer symptoms. J Psychosom Res 2005; 58(4):321-326..

Em síntese, o que se deseja retratar pode ser resumido na perspectiva de dois panoramas. O primeiro se refere ao potencial oferecido por pontos de observação talvez subestimados pelos observadores da WEB distributiva. Os interessados nas TICs como intermédio para observação de fenômenos sociais, certamente, se interessarão pelo que se descreverá adiante. O segundo ponto, derivado do anterior, se refere a padrões de acessos ao website do Instituto Nacional de Câncer (INCA) que colocam em tela a distância entre os propósitos das campanhas institucionais de prevenção do câncer e seus desdobramentos em termos de apropriação social de informações.

Padrões de buscas e consumo de informações em países emergentes

Há poucos estudos sobre padrões de acesso à informação em países socioeconomicamente desfavorecidos com intensa apropriação das novas TIC1616. Viswanath K, McCloud R, Minsky S, Puleo E, Kontos E, Bigman-Galimore C, Rudd R, Emmons KM. Internet use, browsing, and the urban poor: implications for cancer control. J Natl Cancer Inst Monogr 2013; 2013(47):199-205.. Não obstante, os poucos experimentos mostram achados expressivos, embora ainda careçam de metodologia homogênea em vista do advento recente das tecnologias. Como tantos outros fenômenos sociais, esses padrões se ampliaram e se diversificam seguindo imperativos históricos, políticos e culturais peculiares a cada terreno de observação1616. Viswanath K, McCloud R, Minsky S, Puleo E, Kontos E, Bigman-Galimore C, Rudd R, Emmons KM. Internet use, browsing, and the urban poor: implications for cancer control. J Natl Cancer Inst Monogr 2013; 2013(47):199-205.. Na perspectiva da sociologia do risco, é razoável admitir que tais necessidades possam expressar perigos aos quais os indivíduos se sentem mais vulneráveis e que suscitam as decisões derivadas1717. Loewenstein G, Mather J. Dynamic process in risk perception. J risk uncertainty 1990; 3:155-175.,1818. Lupton D. Risk. New York: Routledge; 1999.. Nesse contexto, os planejadores de campanhas que buscam atender demandas crescentes por esclarecimentos no campo da atenção primária poderiam se valer dos padrões de acesso à web como ilustrativa fonte de referências. Pesquisas nesse campo têm se intensificado1919. Tian H, Brimmer DJ, Lin JM, Tumpey AJ, Reeves WC. Web usage data as a means of evaluating public health messaging and outreach. J Med Internet Res 2009; 11(4):e52.

20. Wood FB, Benson D, LaCroix EM, Siegel ER, Fariss S. Use of Internet audience measurement data to gauge market share for online health information services. J Med Internet Res 2005; 7(3):e31.

21. Robroek SJ, Brouwer W, Lindeboom D, Oenema A, Burdorf A. Demographic, behavioral, and psychosocial correlates of using the website component of a worksite physical activity and healthy nutrition promotion program: a longitudinal study. J Med Internet Res 2010; 12(3):e44.
-2222. Brouwer W, Kroeze W, Crutzen R, de Nooijer J, de Vries NK, Brug J, Oenema A. Which intervention characteristics are related to more exposure to internet-delivered healthy lifestyle promotion interventions? A systematic review. J Med Internet Res 2011; 13(1):e2., produzindo novos conceitos acerca da origem e do sentido atribuído às percepções coletivas, o que se considera fator essencial ao aprimoramento das estruturas assistenciais. Em teoria, a Internet representaria um valioso recurso ao autocuidado caso se admita a proatividade universal dos sujeitos idealizados aos quais as mensagens são dirigidas. Em tese, prover informação seria promover o empowerment de pacientes, cuidadores e usuários na condição de seus padecimentos crônicos2323. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Bagrichevsky M, Griep RH. New information technologies and health consumerism. Cad Saude Publica 2010; 26(8):1473-1482.. Tendo em vista tal proatividade, as estratégias de veiculação de mensagens pelos meios de comunicação têm sido consideradas, pelo mainstream nesse campo, como as vias mais eficientes para divulgação de informações para prevenção de riscos. No entanto, seria relevante levantar alguns questionamentos: prioridades e urgências por informações poderiam ser influenciadas por dificuldades (coletivamente percebidas) ligadas ao acesso e à resolutividade dos sistemas de saúde? A divulgação persistente de avanços tecnológicos no diagnóstico e tratamento poderiam criar demandas que poderiam confundir a interpretação de mensagens institucionais de proteção à saúde? Todos esses elementos, incidindo de variadas formas sobre contextos multifacetados, poderiam gerar padrões de buscas passíveis de estudos pelos formuladores de políticas públicas de assistência?

Alguns trabalhos recentemente publicados reafirmam aspectos centrais ao que aqui se interroga. Há descrições de diferenças entre padrões de uso que se referem a status socioeconômico, gênero, capital social e etnia2424. Ekblad S, Asplund M. Culture- and evidence-based health promotion group education perceived by new-coming adult Arabic-speaking male and female refugees to Sweden — Pre and two post assessments. J Prev Med 2013; 3(1):12-21.. Descreve-se nos segmentos socioeconomicamente desfavorecidos (mas não exclusivamente, a depender do tema) um relativo desinteresse por informações de prevenção (assim como observamos em estudos anteriores). Visitas a websites de centros especializados na busca por conteúdos ligados às tecnologias médicas são mais frequentes1616. Viswanath K, McCloud R, Minsky S, Puleo E, Kontos E, Bigman-Galimore C, Rudd R, Emmons KM. Internet use, browsing, and the urban poor: implications for cancer control. J Natl Cancer Inst Monogr 2013; 2013(47):199-205. e os padrões de acesso e consumo de informações são coerentes com a saúde autorreferida2525. Choi NG, DiNitto DM. Internet use among older adults: association with health needs, psychological capital, and social capital. J Med Internet Res 2013; 15(5):e97.. Em síntese, a percepção ampliada de vulnerabilidades se vincula às buscas que adquirem formatos de autodiagnósticos, na perspectiva de inúmeros riscos potenciais pressentidos. Buscas reativas (peculiares aos mais vulneráveis) se acumulam à frente das proativas, peculiares a sujeitos idealizados como consumidores racionais de dados sobre prevenção de doenças2323. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Bagrichevsky M, Griep RH. New information technologies and health consumerism. Cad Saude Publica 2010; 26(8):1473-1482.. Em outros termos, o autocuidado se resume ao uso preemptivo de informações2626. Houaiss A. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva; 2009., a serviço do imediato e urgente sob a perspectiva de uma condição vulnerável.

Padrões de Queries reativas e log filesde websites institucionais

A partir da observação dos log files (visitas ao site), é possível estimar padrões de buscas (queries) e oscilações de interesse com nível de detalhamento suficiente à caracterização dos assuntos mais relevantes ao momento2727. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Rivera FJ. Assessing an Internet health information site by using log analysis: the experience of the National Cancer Institute of Brazil. Rev Panam Salud Publica 2003; 14(2):134-137.. Isso já é corriqueiramente empregado no E-business – as tecnologias de tracking de navegação deslocaram o centro de negócios da cadeia produtiva para o processo de consumo de informações sobre produtos. O escrutínio de indicadores de browsing nesse campo tem sido, classicamente, objeto de estudo dos saberes ligados ao marketing de vendas. No presente caso, ao contrário das estimativas baseadas em buscadores genéricos (como o Google ou o Bing!), o estudo de queries a partir de websites institucionais – fontes consagradas de comunicação secundária – disponibiliza acesso ao discurso institucional puro, sem o bias comercial ou as controvérsias técnicas peculiares à comunicação primária (entre pares)2828. Epstein I. Comunicação da ciência: rumo a uma teoria da divulgação científica. Organicom 2012; 9(16-17):19-38. e à comunicação informal interleigos. É possível estimar por softwares (Log analyzers que analisam registros de acessos, identificando padrões de interesse a partir de agregados de visitas individuais) o foco/nível de interesse das buscas mais focadas e persistentes em assuntos que apontam, como no E-business, ao sentido de uma percepção na direção de opções. Em trabalhos anteriores estimamos os números médios mensais das sessões (visitor sessions), Razões de Retorno (número de acessos/número de usuários no mês), páginas e arquivos mais acessados, além do tempo de permanência médio em cada página em busca de pontos de observação que esbocem contornos do mercado simbólico nesse campo. Embora não haja forma de, efetivamente, quantificar o interesse social que desvenda o sentido das práticas, acreditamos que existem vestígios interessantes que conferem consistência aos padrões de queries como referências coletivas que não devem ser ignoradas. Representariam marcas de inscrição dos círculos de atenção social produzido pelo capital simbólico acumulado na dinâmica das trocas coletivas – tema cuja discussão aprofundada não caberia nos espaços aqui reservados.

Como exemplo, descrevemos no site do INCA2727. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Rivera FJ. Assessing an Internet health information site by using log analysis: the experience of the National Cancer Institute of Brazil. Rev Panam Salud Publica 2003; 14(2):134-137. traços dos círculos de atenção ligados a peças ficcionais e fatos de expressiva divulgação nas mídias, como o acesso às páginas sobre o câncer de próstata após a morte do governador do estado de São Paulo (Figura 1). O diagnóstico de leucemia de uma personagem de novela (“Laços de família”, 2001) também aumentou expressivamente o número de acessos às páginas sobre a doença, assim como o tempo médio de permanência – suficiente para a caracterização de um padrão de interesse (Figura 2)2727. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Rivera FJ. Assessing an Internet health information site by using log analysis: the experience of the National Cancer Institute of Brazil. Rev Panam Salud Publica 2003; 14(2):134-137.. Outros estudos descrevem reações semelhantes às peças de ficção que dimensionam seu não desprezível impacto, além do efeito das celebridades na TV, cinema, rádio e demais mídias – independentemente destas serem exibidas em países industrializados ou em outros do terceiro mundo2727. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Rivera FJ. Assessing an Internet health information site by using log analysis: the experience of the National Cancer Institute of Brazil. Rev Panam Salud Publica 2003; 14(2):134-137.,2929. Howe A, Owen-Smith V, Richardson J. The impact of a television soap opera on the NHS Cervical Screening Programme in the North West of England. J Public Health Med 2003; 25(2):183.

30. Dodd R. AIDS soap opera generates massive interest. Eye witness: Cote d’Ivoire. AIDS Anal Afr. 1995; 5(6):16.
-3131. Szterenfeld C, Lopes V. Country watch. Brazil. AIDS Health Promot Exch 1993; (3):8-9.. Nossas observações também exploraram as peculiaridades sobre o interesse coletivo voltado às páginas sobre cânceres durante campanhas institucionais3232. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Griep RH, Zanchetta M. Cancer prevention campaigns and Internet access: promoting health or disease? J Epidemiol Community Health 2008; 62(10):876-881., cujos padrões de acessos foram estimados ao longo de três anos com foco nas datas dedicadas às campanhas de prevenção do câncer – o dia mundial de combate ao tabagismo (31 de maio), o dia nacional de combate ao tabagismo (29 de agosto) e o dia nacional de combate ao câncer (27 de novembro). Foi descrito o paradoxo dos acessos que divergiam das intenções fundadoras das campanhas, ligadas à promoção de saúde e à prevenção de doenças. Os eventos nacionais suscitaram buscas mais intensas aos conteúdos sobre as doenças já instaladas e às novas tecnologias de tratamento. Em contraste, o interesse voltado às páginas sobre prevenção ou identificação precoce do câncer manteve-se inexpressivo. Mais recentemente, identificamos um padrão de acesso semelhante ligado ao autoexame de pele e à proteção contra a superexposição de radiação UV durante os meses de verão3333. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Griep RH. Padrões de acessos a informações sobre proteção anti-uv durante os verões brasileiros: haveria um “efeito verão”? Cien Saude Colet 2015; 20(8):2533-2538., assim como durante as campanhas de prevenção do câncer de pele ao longo de quatro anos (Figura 3). As conclusões derivadas dessas observações nos conduziram a perguntas - na dimensão cultural, as campanhas de prevenção do câncer promovem saúde, doenças ou tecnologias? Remediar parece mais interessante do que prevenir?

Figura 1
Evolução das médias mensais de visitas às páginas sobre causas e prevenção do câncer no site do INCA e efeito da morte do governador de São Paulo.

Figura 2
Número médio mensal de visitas à página sobre leucemia durante adoecimento de personagem de novela da TV.

Figura 3
Evolução das Médias Mensais, médias anuais e período dos verões – acessos às páginas sobre prevenção de 2006 a 2009.

Proatividades versus reatividades

Tanto no Brasil, quanto em outros países, investem-se recursos na produção de eventos educativos sobre saúde, não raro empregando linguagem protocolar, técnica e pouco acessível à base da pirâmide socioeducacional (o que não se observa nas campanhas do E-business). Crenças no poder de “passar a informação”, com base na “heteronomia da educação bancária”3434. Freire P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1983. têm sido objetos de críticas acerca de seus meios, custos e resolutividade. Campanhas institucionais assim planejadas não alcançariam potência simbólica suficiente à modificação dos valores mais arraigados. A polissemia de imagens e mensagens e suas apropriações de sentidos decorrentes tentam resumir “o brasileiro” como uma categoria média e homogênea como no “Guia de Educação Alimentar” do MS3535. Brasil. Ministério da Saúde. Ministério da saúde lança guia alimentar para a população brasileira. [acessado 2014 dez 15]. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/principal/agencia-saude/15411-ministerio-da-saude-lanca-guia-alimentar-para-a-populacao-brasileira
http://portalsaude.saude.gov.br/index.ph...
. Os princípios clássicos da educação em saúde, talvez influenciados pelas leis do Social Marketing3636. Lupton D. Communicating health: the mass media and advertising in health promotion. In: Lupton D. The imperative of health. Public health and the regulated body. Londres: Sage; 1995. p. 148-157.,3737. Thackeray R, Brown KM. Social marketing’s unique contributions to health promotion practice. Health Promot Pract 2005; 6(4):365-368., apostam na resolutividade dessas estratégias por acreditarem na interferência direta e linear das informações veiculadas3838. Kleinman A. Concepts and a model for the comparasion of medical systems as cultural systems. In: Currer C, Stacey M, editors. Concepts of health illness and disease. A comparative perspective. New York: Berg Publishers; 1986. p. 29-47.. Não há formas de estimar objetivamente os impactos gerados por essas táticas, mas as estratégias parecem não considerar as peculiaridades envolvidas na multiculturalidade das sociedades complexas, o que pode resultar em resultados frustrantes ou paradoxais3939. Baillie L, Basset-Smith J, Broughton S. Using communicative action in the primary prevention of cancer. Health Educ Behav 2000; 27(4):442-453.. Ao investir na transmissão direta de conhecimentos aos indivíduos, tendem a desconsiderar os meios culturais e socioeducacionais nos quais estes se inserem e a partir dos quais extraem seus sistemas de significação de verdades. As campanhas institucionais para proteção da saúde e prevenção de doenças, sejam consideradas atividades de “promoção de saúde” ou não4040. Czeresnia D. The concept of health and the difference between prevention and promotion. Cad Saude Publica 1999; 15(4):701-709., ainda carecem de sistemas criteriosos de avaliação que abandonem a fenomenologia das impressões sobre impactos.

As campanhas de prevenção do câncer, após décadas de experiências com variados formatos de intervenção, parecem exercer influência dúbia no imaginário social. No Brasil, parecem não considerar as peculiaridades da multivetorialidade cultural que povoam países de dimensões continentais. A influência de eventos tidos como irrelevantes, embora de intenso impacto regional, não raro resultam em indiferença coletiva por conta publicização em timings ou formas inapropriadas2727. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Rivera FJ. Assessing an Internet health information site by using log analysis: the experience of the National Cancer Institute of Brazil. Rev Panam Salud Publica 2003; 14(2):134-137.,3232. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Griep RH, Zanchetta M. Cancer prevention campaigns and Internet access: promoting health or disease? J Epidemiol Community Health 2008; 62(10):876-881.. O volumoso fluxo de informações possibilitado pela internet e outros meios de comunicação parece, por vezes, distrair o interesse público para longe de medidas cotidianas prosaicas ao direcionar os círculos de atenção para tecnologias promissoras na cura de males4141. Kreuter M. Human behaviour and cancer: forget the magic bullet. Cancer 1993; 72(Supl. 3):996-1001.. Há projetos imersos na típica lógica do consumerism – melhor informação para melhor decisão3636. Lupton D. Communicating health: the mass media and advertising in health promotion. In: Lupton D. The imperative of health. Public health and the regulated body. Londres: Sage; 1995. p. 148-157. ou, “sem informações cientificamente validadas, a sociedade de consumidores proativos adquiriria qualquer produto”2323. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Bagrichevsky M, Griep RH. New information technologies and health consumerism. Cad Saude Publica 2010; 26(8):1473-1482.. Em contraste, revisões sobre o tema afirmam que os consumidores com maior escolaridade e maior potencial de discernimento frente a engodos, são as principais vítimas do comércio fraudulento4242. Lerner IJ, Kennedy BJ. The prevalence of questionable methods of cancer treatment in the United States. CA Cancer J Clin 1992; 42(3):181-191.,4343. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Bagrichevsky M, Griep RH. Panaceas disseminated over the Internet and vulnerable patients: how to check a market of illusions? Rev Panam Salud Publica 2011; 29(6):469-474. e dos boatos sobre riscos à saúde4444. Vasconcellos-Silva PR, Castiel LD, Griep RH. A sociedade de risco midiatizada, o movimento anti-vacinação e o risco do autismo. Cien Saude Colet 2015; 20(2):607-616.. Além disso, há mais de duas décadas a causalidade entre a exposição aos raios UV e o câncer de pele já era popularizada. Não obstante, 38% dos banhistas americanos, mesmo conscientes do risco de câncer de pele, evitavam a proteção antiUV4545. Robertson A, Minkler M. New health promotion movements: A critical examination. Health Educ Q 1994; 21(3):285-312.. Os australianos conseguiram reduzir a incidência de novos casos de carcinomas basocelulares e melanomas somente entre indivíduos com mais de 6 décadas de vida4646. Smith BJ, Ferguson C, McKenzie J, Bauman A, Vita P. Impacts from repeated mass media campaigns to promote sun protection in Australia. Health Promot Int 2002; 17(1):51-60., embora entre os mais jovens – usuários mais assíduos da internet – o controle permaneça como desafio e prioridade4747. Wise M, Bauman A, Harris E, Leeder S, Nutbeam D. National Goals and Targets for Australia’s Health in the Year 2000 and Beyond. Sydney: Commonwealth Department of Health, Housing and Community Services; 1993..

No campo da psicologia social, questiona-se4848. Elster J. Sour Grapes: Studies in the Subversion of Rationality. Cambridge: Cambridge Press; 1983.,4949. Berkowitz L. Advances in Experimental Social Psychology. Nova Iorque: Academic Press; 1969. Vol.4. p. 21-22. a ligação direta entre conhecimento de práticas e efetivas mudanças de comportamento. Essa compreensão foi essencial, embora incompleta, para explicar insucessos nas campanhas de orientação comportamentalista, voltadas a sujeitos idealizados de perfil proativo e orientados a decisões racionais4747. Wise M, Bauman A, Harris E, Leeder S, Nutbeam D. National Goals and Targets for Australia’s Health in the Year 2000 and Beyond. Sydney: Commonwealth Department of Health, Housing and Community Services; 1993.. No campo em questão, a dissonância cognitiva faz questionar modelos de campanhas baseadas em pura informação – efetivamente eficaz entre os australianos mais velhos, mas não entre outros4747. Wise M, Bauman A, Harris E, Leeder S, Nutbeam D. National Goals and Targets for Australia’s Health in the Year 2000 and Beyond. Sydney: Commonwealth Department of Health, Housing and Community Services; 1993.. Decerto há peculiaridades socioculturais a considerar, talvez ligadas a temas que perduram em ciclos locais de interesse persistentes3636. Lupton D. Communicating health: the mass media and advertising in health promotion. In: Lupton D. The imperative of health. Public health and the regulated body. Londres: Sage; 1995. p. 148-157.,3939. Baillie L, Basset-Smith J, Broughton S. Using communicative action in the primary prevention of cancer. Health Educ Behav 2000; 27(4):442-453.,5050. Boutwell WB. The undercover skin cancer prevention project: a community-based program in four Texas cities. Cancer 1995; 75(Supl. 2):657-660.. Talvez o conhecimento individual insuficiente acerca do próprio estado de saúde, associado à “cultura da medicação” e somado ao destaque aos avanços tecnológicos no terreno das terapias, exerçam “influências antiprevenção” sobre a cultura. Por outro lado, há autores que identificam em certos segmentos sociais uma percepção ampliada de superexposição a riscos, conjugada à enunciação midiática de perigos decorrentes de fatores mal definidos, de validade científica mal comprovada ou de compreensão pública precária. Segundo estes, a reação dos banhistas americanos é atribuída ao “efeito avestruz” ligado à ideia de que submergimos em um mar de carcinogênicos contra o qual não há proteção4141. Kreuter M. Human behaviour and cancer: forget the magic bullet. Cancer 1993; 72(Supl. 3):996-1001.,5151. Evans R, Barer M, Marmor T, editors. Why are some people healthy and others not? The determinants of health of populations. New York: Aldine; 1994.,5252. Carvalho VA. Personalidade e câncer. In: Carvalho MMJ, organizador. Introdução à psico-oncologia. Campinas: Editorial Psy; 1994. p. 65-78.. Talvez o risco carcinogênico ligado a determinados fatores ainda careça de potência estruturante suficiente para a modificação de hábitos arraigados – a depender do ponto de observação e dos modelos explicativos, muitas interrogações persistem em um terreno sujeito a numerosas versões em mútua contradição.

Riscos, afetos e reatividade

Retornando às questões centrais – as campanhas de prevenção do câncer promovem saúde, doenças ou tecnologias? O autodiagnóstico, em contexto de percepção de vulnerabilidades e ineficácia das estruturas assistenciais, seria mais acessível que as informações para prevenção? Seriam as buscas reativas governadas pelo medo, mais do que pela razão? O risco do câncer alcançaria mais peso que a prevenção desses males? Na sociedade de risco, se imporia a fluidez das incertezas e das iminências5353. Beck U. Sociedade de risco. Rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34; 2010. aliada ao descrédito nas tecnologias de proteção? Essas questões podem ser ilustradas por textos mais recentes e ferramentas analíticas não classicamente empregadas nos estudos sociológicos sobre riscos – os modelos heurísticos emocionais que levam às decisões, assim como aos interesses e pesquisas por informações que as precedem5454. Slovic P, Finucane ML, Peters E, MacGregor DG. Rational actors or rational fools: implications of the affect heuristic for behavioral economics. Journal of socio-economics 2002; 31(4): 329-342.

55. Slovic P, Finucane ML, Peters E, MacGregor DG. Risk as Analysis and Risk as Feelings: Some Thoughts about Affect, Reason, Risk, and Rationality. Risk analysis 2004; 24(2):311-322.

56. Slovic P, Finucane ML, Peters E, MacGregor DG. The affect heuristic. European journal of operational research 2007; 177(3):1333-1352.
-5757. Lupton D. Risk and emotion: towards an alternative theoretical perspective. Health, Risk & Society 2013; 15(8):634-647.. As emoções (ou afetos, como discutido adiante) guiariam nossas escolhas por meio de impulsos reativos e atalhos mentais a pautar opções. À vista do exposto, seria razoável admitir que os comportamentos e as buscas reativas talvez se definam nos conjuntos de associações ligadas a sensações percebidas como “perigo”, “temor”, “risco” ou “insegurança”5454. Slovic P, Finucane ML, Peters E, MacGregor DG. Rational actors or rational fools: implications of the affect heuristic for behavioral economics. Journal of socio-economics 2002; 31(4): 329-342.,5656. Slovic P, Finucane ML, Peters E, MacGregor DG. The affect heuristic. European journal of operational research 2007; 177(3):1333-1352.,5858. Slovic P, Västfjäll D. Affect, Moral Intuition, and Risk. Psychological Inquiry: An International Journal for the Advancement of Psychological Theory 2010; 21(4):387-398.. Aquém disso, se colocariam os afetos ou as inclinações não objetificáveis (e ainda não discursivas) dos quais se originam emoções e percepções de risco. As emoções se alinhariam em uma cadeia de reações como veículos e rotas de fuga eficientes na iminência de desastres e impulsionadas por afetos que lhes antecedem. Todo o processo seria sucedido pelas racionalizações legitimadoras, que julgam afetos/emoções como “intuições” paralelas e independentes do processo de racionalização. Tais perspectivas se fundamentam na distinção entre sensações corporificadas através das quais as emoções comporiam um “sistema experimental” intuitivo. Este, como “sistema analítico”, empregaria o lógico, o normativo, o factual e o matemático, mas também informado por sua contrapartida emocional, mais ágil. Criam-se assim lacunas e ícones que dão matéria aos esboços de perigo, ora consubstanciados como produtos industrializados, ora como doenças que trazem consigo estigmas de sofrimento e degradação física. Esses ícones se estigmatizam no imaginário coletivo a espera de estímulos externos – como o adoecimento de celebridades ou de personagens de novelas. A percepção de um nível crítico de risco –diretamente relacionado à autopercepção das vulnerabilidades legadas pelas falhas no suporte assistencial ou educacional – não encontra nas campanhas de prevenção os acenos de esperança que necessita. Ao contrário, trazem-nos à tona dos círculos de interesse. Como já observaram Gregory et al.5959. Gregory R, Slovic P, Flynn J. Risk perceptions, stigma, and health policy. Health & Place 1996; 2(4):213-220., determinados estigmas se criam, se mesclam e dão origem a alguns outros a todo o momento. Reproduzem-se como elementos estruturantes à percepção pública da saúde, influenciando a aceitação ou a rejeição de inovações científicas e tecnológicas. Cria-se assim a tripartição do risco como “percepção” (subjetiva), “análise” (objetiva) e “política”, sendo esta última representada pelo embate público entre as duas primeiras na contingência dos momentos históricos1717. Loewenstein G, Mather J. Dynamic process in risk perception. J risk uncertainty 1990; 3:155-175.,6060. Clough PT. The Affective Turn: Political Economy, Biomedia and Bodies. Theory, Culture & Society 2008; 25(1):1-22.,6161. McDaniels T, Axelrod LJ, Slovic P. Perceived ecological risks of global change. A psychometric comparison of causes and consequences. Global environmental change 1996; 6(2):159-171.. Tais embates, tipicamente, envolvem atores retratados pela análise da literatura de risco como “leigos excessivamente emocionais” em oposição aos avaliadores de risco especializados ou “analíticos”5757. Lupton D. Risk and emotion: towards an alternative theoretical perspective. Health, Risk & Society 2013; 15(8):634-647..

A propósito desse embate político dos riscos, torna-se importante definir conceitos que não raro se mesclam levando a contradições e até a modelos essencialistas ou falaciosos. As “emoções” e os “afetos” não raro parecem se conjugar ou se contradizer nos textos que tratam das comoções heurísticas5959. Gregory R, Slovic P, Flynn J. Risk perceptions, stigma, and health policy. Health & Place 1996; 2(4):213-220. que norteiam percepções e decisões coletivas. À leitura dos autores que se pautam por conceitos da filosofia de Spinoza e Deleuze6262. Deleuze/Spinoza. Les cours de Gilles Deleuze. [acessado 2014 dez 4]. Disponível em: http://www.web deleuze.com/php/texte.php?cle=191&groupe=Spinoza &langue=2
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, essas emoções melhor se definiriam como afetos ou “inclinações não conscientes” – consequentemente pré-linguísticas e não discursivas – ainda externas aos domínios das emoções que podem ser verbalizadas. O affectus de Spinoza se liga à capacidade de afetar e ser afetado no decurso de um estado experiencial a outro, implicando modificações na disposição à ação6363. Clarke S, Hoggett P, editors. Researching Beneath the Surface. Psycho-social Research Methods in Practice. London: Karnac; 2009. p. 81-87.. Em oposição aos afetos, embora tomados numa relação em que um pressupõe o outro, as ideias são modos de pensamento puramente racionais e representativos vinculados ao que pode ser chamado de “realidade objetiva”. De forma diversa, os afetos não possuem caráter representativo – são inclinações volitivas em busca de objetos de representação. Em Spinoza, ideia e afeto são dois modos de pensamento que diferem em natureza, irredutíveis um ao outro e que, de certa forma, acrescentam uma interessante complexidade à teoria das comoções heurísticas. Decerto as ambiguidades da cultura de risco envolvem um pendular entre certezas e inseguranças, entre idas e retrocessos que se dão em contextos dinâmicos e plurais em meio aos quais os riscos são reconformados.

A antropóloga Deborah Lupton5757. Lupton D. Risk and emotion: towards an alternative theoretical perspective. Health, Risk & Society 2013; 15(8):634-647.,6161. McDaniels T, Axelrod LJ, Slovic P. Perceived ecological risks of global change. A psychometric comparison of causes and consequences. Global environmental change 1996; 6(2):159-171. critica a aproximação dessas noções polares a modelos cognitivos psicométricos de avaliação de riscos e tomada de decisões que se reduzem a conjuntos de relações de causa/efeito, sob variáveis que possibilitam estimativas lineares de consequências. Sob o ponto de vista filosófico, pode ser percebido certo essencialismo na construção desses modelos que nos faz acreditar em dualidades elementares, que aceitam a irredutibilidade de um núcleo silencioso universal. Nos extremos desses conceitos, a atenção às perspectivas filosóficas simplificadoras é essencial. Sem áreas cinzentas, estas apenas ponderam com base em linearidade insensível às ambivalências e complexidades sociais. Sob a ótica de textos sociológicos, tais noções de “operações intuitivas” se ampliariam muito além dos modelos psicológicos comportamentais, como construções derivadas de entendimentos acerca de experiências e percepções coletivas, talvez até contraditórias6464. Lupton D. The emotional self: a sociocultural exploration. London: Sage; 1998.

65. Davidson J, Bondi L. Spatialising affect; affecting space: an introduction. Gender, Place & Culture: A Journal of Feminist Geography 2004; 11(3):373-374.
-6666. Wetherell M. Affect and emotion: a new social science understanding. London: Sage; 2012.. Embora a partir de recursos internos e externos díspares e frequentemente contraditórios, se colocam “como forma produtiva de incorporar dimensões discursivas e experienciais da emoção/afeto”6666. Wetherell M. Affect and emotion: a new social science understanding. London: Sage; 2012..

Seja sob perspectivas duais ou sob outros prismas mais ampliados, os afetos (ao contrário dos riscos em dimensão de parafactualidade construída por probabilidades) são imateriais na dimensão individual embora quando sob as discursividades da dimensão política se ampliem como premências iminentes, nunca insubstanciais. Porém, quando manifestos discursivamente (como nas campanhas de prevenção) se esvaziam na dimensão relacional, embora substanciados como experiências coletivas e memórias6767. Seyfert R. Beyond personal feelings and collective emotions: toward a theory of social affect. Theory, culture and society 2012; 29(6):27-46.. Não nos parece ser, unicamente, a multiplicação de construções individuais, mas, além disso, um discurso partilhado que reúne biografias e nos apela à razão de dentro para fora e ao contrário.

Sínteses

Com o advento das novas TIC deveríamos dominar um conhecimento substancial acerca das ameaças, embora as certezas acerca de como lidar com estas pareçam plurais e dessubstancializadas, porém sempre imperiosas. Com a popularização das TIC algumas estratégias de sobrevivência psíquica se tornaram mais acessíveis à medida que o ingresso no mundo das informações se ampliou. No entanto, em certa medida (e em particular no que concerne às mídias de massa) este tem se estabelecido na dúbia função problema/solução. À enunciação altissonante de riscos segue-se a incompletude das medidas protetoras, o que retroalimenta os ciclos. O acesso a informações cada vez mais qualificadas soa como estratégia psíquica razoável de reação para a reconquista do controle perdido.

Acerca do processo de individualização autorreflexiva das condutas e de cursos de vida, Ulrich Beck5353. Beck U. Sociedade de risco. Rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34; 2010. observa que as biografias se transformaram em cursos a serem produzidos por cada um. Em outros termos, nos exigimos decisões a respeito da saúde, dos hábitos de prevenção, assim como a opção entre buscar ajuda profissional ou o suporte do Dr. Google (entre tantas outras opções quotidianas). Da mesma forma, as consequências advindas (talvez irreversíveis) de tais opções deverão ser assumidas, posto que nos colocamos tanto como “foco de ação como agência de planejamento”5353. Beck U. Sociedade de risco. Rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34; 2010. no que concerne às afiliações às verdades disponíveis selecionadas pelos afetos. Os riscos se tornaram onipresentes consubstanciados em todas as sinuosidades da administração da vida cotidiana, embora talvez dessubstanciados de suas ameaças causais.

Com efeito, os recursos tecnológicos de consubstanciação disponíveis em mútua influência com os ciclos de interesse que nutrem e são nutridos pelas mídias de comunicação (a dessubstanciar produtos dos primeiros) produziram efeitos que transcendem às relações entre médicos e pacientes, assim como as dos sujeitos com seus próprios corpos. Os riscos à saúde tornaram-se pérolas de interesse da política, da educação e de diversas outras dimensões do mundo social6868. Douglas M, Wildavsky A. Risk and Culture: An Essay on the Selection of Technical and Environmental Dangers. Berkeley: University of California Press; 1982.. Cidadãos clamam por sustentabilidade ambiental de matrizes energéticas, informações sobre a composição de alimentos, consomem literatura sobre autoajuda e frequentam o Pubmed.com em busca de atualização sobre tecnologias de cura e testes diagnósticos. Nesse contexto, os riscos à saúde são construções contingentes, de caráter normativo, vinculados a definições do humano, o tipo de sociedade que se busca e as maneiras de consegui-lo6969. Castiel LD. Vigiar(-se) e prevenir(-se) – a prevenção baseada em evidências: nos limites da responsabilidade. Asephalus 2005 [acessado 2014 nov 14]; 1(1). Disponível em: www.nucleosephora.com
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.

Considerações finais

Acreditamos que os traços de reatividade das queries ao site do INCA talvez esbocem vetores culturais sobre os quais incidam influências de diversas ordens. Decerto a redução de iniquidades se apoiaria, sobretudo nesse cenário, primeiramente na capacidade de busca, compreensão plena e ampliada, contextualização crítica e, finalmente, eleição das informações mais caras e confiáveis ao cuidar-de-si. No Brasil, a inclusão digital se deu pela porta do mercado de bens e consumo e não pelo acesso à cidadania plena, à educação, à saúde e, sobretudo, à capacidade crítica de identificar lapsos e à oportunidade política de avançar nesses campos. Importante considerar que, no Brasil, a simples expansão quantitativa de acessos sem redução de iniquidades socioeducacionais, compromete a aptidão crítica perante as informações acessadas. A baixa escolaridade, a limitada capacidade de leitura, a concentração insuficiente e o analfabetismo funcional se colocam como obstáculos à compreensão e incorporação crítica das informações, daí emergindo os afetos para prevenção de riscos. Talvez a percepção de tais insuficiências e suas vulnerabilidades consequentes se expressem na ansiedade por conteúdos de “autodiagnóstico” precário e urgente, como esforço de superação imediata de temeridades vinculadas a condições de vida adversas. É, assim, razoável supor que a força simbólica de utilidade e relevância de conteúdos que forneçam condições ao autoescrutínio ora suplante (no imaginário coletivo dos segmentos mais vulneráveis) os conteúdos ligados à mudança de hábitos e costumes como evasiva aos riscos.

As tendências de busca se voltariam, assim, ao preemptivo urgente sob a perspectiva de um presente adverso. É razoável crer que os segmentos populacionais com baixa escolaridade – agora com acesso à WEB cada vez mais facilitado, mas ainda descontemplados pelas políticas de atenção primária – seriam os mais influenciáveis e mais “reativos” em suas buscas. Talvez isso se torne cada vez mais evidente em médio prazo, à medida que o acesso à Internet se popularize, com conexões cada vez mais facilitadas por meio de LAN Houses ou pela popularização do acesso móvel via redes wireless abertas. De certo modo, as queries reativas talvez também apontem falhas na organização de nosso sistema de saúde – centrado em serviços de alta complexidade e com sistemas de atenção primários ainda desguarnecidos em sua função de esclarecimento público (talvez por isso ainda pouco resolutivos). O crescimento da dimensão quantitativa do acesso à informação via internet pode ser vista, então, sob perspectivas de negatividade ou positividade. Neste último aspecto, é positivo considerar o número crescente de indivíduos buscando, como forma de exercício de cidadania, as melhores informações sobre os serviços de saúde. Por outro lado, nos cidadãos que não mais confiam no Estado e na sua capacidade atendar às suas demandas, percebe-se nitidamente uma dimensão de negatividade.

A racionalidade expressa nos padrões de acesso produzida pelos “affectus” também abasteceria a mercantilização e a ideia de precarização do SUS de formas bem perceptíveis nos noticiários. Mais informação não significou, necessariamente, mais prevenção, pois as falhas do sistema persistem ao reforçar alguns padrões culturais de afastamento do autocuidado. Neste campo, os esforços de prevenção ou detecção precoce do câncer são objetos de processos comunicativos institucionais aos quais é justo retribuir com subsídios para futuras iniciativas.

Agradecimentos

Agradecimentos ao CNPq e à CAPES.

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    » www.nucleosephora.com

  • Erratum

    Errata na edição: volume 21 número 3 – 2016
    Artigo Padrões de buscas sobre câncer na internet: reatividades, riscos e afetos
    Article Patterns of cancer-related internet searches: reactiveness; risks; the role of affect
    DOI: 10.1590/1413-81232015213.06472015
    volume 21 número 6 - 2016
    p. 862
    onde se lê/where it reads:
    Paulo Roberto Vasconcellos Silva
    leia-se/it should read:
    Paulo Roberto Vasconcellos-Silva
    p. 864, 866, 868, 870
    onde se lê/ where it reads:
    Silva PRV et al.
    leia-se/leia-se/it should read:
    Vasconcellos-Silva PR et al.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar 2016

Histórico

  • Recebido
    29 Dez 2014
  • Aceito
    07 Jul 2015
  • Aceito
    09 Jul 2015
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