Adaptação Transcultural do Oral Anticoagulation Knowledge Test para o Português do Brasil

Marcus Fernando da Silva Praxedes Mauro Henrique Nogueira Guimarães Abreu Daniel Dias Ribeiro Milena Soriano Marcolino Saul Martins de Paiva Maria Auxiliadora Parreiras Martins Sobre os autores

Resumo

O conhecimento dos pacientes sobre o tratamento com anticoagulantes orais pode favorecer o alcance dos resultados terapêuticos e a prevenção de eventos adversos relacionados à farmacoterapia. No Brasil, observa-se a ausência de instrumentos validados para avaliação do conhecimento do paciente sobre o tratamento com a varfarina. O objetivo deste estudo foi realizar a adaptação transcultural do instrumento Oral Anticoagulation Knowledge (OAK) Test do inglês para o português do Brasil. Trata-se de estudo metodológico desenvolvido em uma clínica de anticoagulação de um hospital público universitário. O estudo compreendeu as etapas de tradução inicial, síntese das traduções, retrotradução, revisão pelo comitê de especialistas e pré-teste com 30 indivíduos. A equivalência semântica foi obtida através da análise do significado referencial e geral de cada item. A equivalência conceitual dos itens buscou demonstrar a relevância e a aceitabilidade do instrumento. Com o processo de adaptação transcultural foi obtida a versão final do OAK Test em língua portuguesa do Brasil, intitulada “Teste de Conhecimento sobre Anticoagulação Oral”. Constatou-se uma equivalência semântica e conceitual adequada entre a versão adaptada e a original, bem como uma excelente aceitabilidade desse instrumento.

Conhecimento do paciente sobre a medicação; Questionários; Varfarina

Introdução

A varfarina é um anticoagulante oral amplamente utilizado no Brasil e no mundo para prevenir e tratar doenças tromboembólicas. O manejo desse tratamento é bastante complexo devido à sua estreita faixa terapêutica e ampla variabilidade dose-resposta, o que aumenta o risco de sangramentos11. Ageno W, Gallus AS, Wittkowsky A, Crowther M, Hylek EM, Palareti G. Oral anticoagulant therapy: antithrombotic therapy and prevention of thrombosis. 9ª ed. American College of Chest Physicians evidence-based clinical practice guidelines. Chest 2012; 141(Supl. 2):e44S-e88S.,22. Ansell J, Hirsh J, Hylek E, Jacobson A, Crowther M, Palareti G. American College of Chest Physicians Pharmacology and management of the vitamin K antagonists: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. 8ª ed. Chest 2008; 133(Supl. 6):160S-198S..

Vários estudos têm indicado que pacientes com melhor nível de conhecimento sobre a terapia com varfarina possuem melhor estabilidade de parâmetros laboratoriais, como a Relação Normalizada Internacional (RNI)22. Ansell J, Hirsh J, Hylek E, Jacobson A, Crowther M, Palareti G. American College of Chest Physicians Pharmacology and management of the vitamin K antagonists: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. 8ª ed. Chest 2008; 133(Supl. 6):160S-198S.,33. Zeolla MM, Brodeur MR, Dominelli A, Haines ST, Allie ND. Development and validation of an instrument to determine patient knowledge: the oral anticoagulation knowledge test. Ann Pharmacother 2006; 40(4):633-638.. Considera-se essencial que as pessoas que fazem uso desse fármaco possuam conhecimento adequado sobre o objetivo terapêutico (indicação e efetividade), o processo de uso (posologia, esquema terapêutico, forma de administração e duração do tratamento), a segurança (precauções, contraindicações, efeitos adversos e interações) e sua conservação44. Delgado PG, Garralda MAG, Parejo MIB, Lozano FF, Martínez FM. Validación de un cuestionario para medir el conocimiento de los pacientes sobre sus medicamentos. Aten Primaria 2009; 41(12):661-669.

A implantação de clínicas de anticoagulação (CA) é tida como relevante no âmbito dos sistemas de saúde, tendo em vista a morbidade e a mortalidade observadas em indivíduos usuários deste medicamento11. Ageno W, Gallus AS, Wittkowsky A, Crowther M, Hylek EM, Palareti G. Oral anticoagulant therapy: antithrombotic therapy and prevention of thrombosis. 9ª ed. American College of Chest Physicians evidence-based clinical practice guidelines. Chest 2012; 141(Supl. 2):e44S-e88S.. O acesso às CA cria melhores condições para o cuidado individualizado e para o processo educacional do paciente. A qualidade da anticoagulação oral está fortemente associada ao nível de conhecimento do indivíduo sobre sua farmacoterapia55. White HD, Gruber M, Feyzi J, Kaatz S, Tse HF, Husted S, Albers GW. Comparison of outcomes among patients randomized to warfarin therapy according to anticoagulant control: results from SPORTIF III and V. Arch Intern Med 2007; 167(3):239-245.. No entanto, observa-se a existência de lacunas significativas no conhecimento sobre a anticoagulação oral em pacientes tratados com varfarina66. Joshua JK, Kakkar N. Lacunae in patient knowledge about oral anticoagulant treatment: results of a questionnaire survey. Indian J Hematol Blood Transfus 2015; 31(2):275-280..

Estudos prévios demonstraram que mais da metade dos pacientes possuem déficit de conhecimento sobre o tratamento com varfarina77. Lane DA, Ponsford J, Shelley A, Sirpal A, Lip GYH. Patients’ knowledge and perceptions of atrial fibrillaton and anticoagulant therapy: effects of an educational intervention programme. Int J Cardiol 2006; 110(3):354-358.

8. Van Damme S, Van Deyk K, Budts W, Verhamme P, Moons P. Patient knowledge of and adherence to oral anticoagulation therapy after mechanical heart-valve replacement for congenital or acquired valve defects. Heart Lung 2011; 40(2):139-146.
-99. Alphonsa A, Sharma KK, Sharma G, Bhatia R. Knowledge regarding oral anticoagulation therapy among patients with stroke and those at high risk of thromboembolic events. J Stroke Cerebrovasc Dis 2015; 24(3):668-672.. Ações voltadas para a melhoria do conhecimento sobre a terapia anticoagulante pode aumentar significantemente a adesão ao tratamento e o controle da RNI1010. Wang Y, Kong MC, Lee LH, Ng HJ, Ko Y. Knowledge, satisfaction, and concerns regarding warfarin therapy and their association with warfarin adherence and anticoagulation control. Thromb Res 2014; 133(4):550-554.. Entretanto, esses estudos possuem limitações metodológicas substanciais referentes à falta de utilização de instrumento confiável validado especificamente para avaliar o grau de conhecimento dos pacientes acerca da terapia anticoagulante1111. Devellis RF. Scale development: theory and applications. Newbury Park: Sage Publications; 1991..

O Oral Anticoagulation Knowledge (OAK) Test33. Zeolla MM, Brodeur MR, Dominelli A, Haines ST, Allie ND. Development and validation of an instrument to determine patient knowledge: the oral anticoagulation knowledge test. Ann Pharmacother 2006; 40(4):633-638. destacou-se como instrumento validado para língua inglesa e traduzido para uso na Arábia Saudita1212. Elbur AI, Albarraq AA, Maugrabi MM, Alharthi SA. Knowledge of, satisfaction with and adherence to oral anticoagulant drugs among patients in King Fasial Hospital: Taif, Kingdom Saudi Arabia. Int J Pharm Sci Rev Res 2015; 31(1):274-280., Malásia1313. Matalaqah LM, Radaideh K, Sulaiman SASS, Hassali MA, Kader MASAK. An instrument to measure anticoagulation knowledge among Malaysian community: a translation and validation study of the Oral Anticoagulation Knowledge (OAK) Test. J Pharm Biomed Sci 2013; 3(20):30-37. e Qatar1414. Khudair IF, Hanssens YI. Evaluation of patients’ knowledge on warfarin in outpatient anticoagulation clinics in a teaching hospital in Qatar. Saudi Med J 2010; 31(6):672-677.. Os estudos demonstraram que o OAK Test é válido e confiável para medir o conhecimento de usuários de varfarina em diferentes culturas, o que justifica a proposta de adaptação desse instrumento para a cultura brasileira. A adaptação transcultural de instrumentos tem fundamental importância para a prática epidemiológica, sendo essencial para gerar dados confiáveis e passíveis de comparação, mantendo a equivalência semântica e conceitual entre a versão original e a adaptada1515. Beaton D, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the Cross- Cultural Adaptation of the DASH & Quick DASH Outcome Measures. Institute for Work & Health; 2007.,1616. Guillemin F, Bombardier C, Beaton DE. Cross-cultural adaptation of health related quality of life measures: literature review and proposed guidelines. J Clin Epidemiol 1993; 46(12):1417-1432..

Em uma pesquisa realizada nas bases de dados Medline, Embase, Central, Scopus, Lilacs e SciELO envolvendo o período compreendido entre os anos de 1994 e 2015, utilizando os descritores questionnaires, patient medication knowledge e warfarin, não foi identificado qualquer instrumento para avaliação do grau de conhecimento sobre a anticoagulação oral com a varfarina e que tenha sido adaptado corretamente para uso no Brasil e avaliado quanto às suas propriedades psicométricas.

Portanto, o objetivo do presente estudo foi realizar o processo de adaptação transcultural do instrumento OAK Test para o idioma português do Brasil, avaliando a equivalência semântica e conceitual dos itens entre o instrumento original em inglês e a versão adaptada em português.

Método

Desenho do estudo e população-alvo

Trata-se de um estudo metodológico, que se baseia na organização e análise de dados, projetados para a avaliação e validação de instrumentos e técnicas de pesquisa1717. Wood GL, Haber J. Desenhos não-experimentais. In: Wood GL, Haber J, organizadores. Pesquisa em Enfermagem: métodos, avaliação crítica e utilização. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. p. 110-121.. A pesquisa foi desenvolvida em uma CA de um hospital universitário localizado do sudeste do Brasil, que exerce papel de referência regional na assistência de média e alta complexidade no âmbito do Sistema Único de Saúde. A população-alvo envolveu indivíduos com doenças cardiovasculares e indicação para uso de varfarina por tempo indeterminado. Os critérios de inclusão foram idade igual ou superior a 18 anos, possuir nacionalidade brasileira e tempo de tratamento com varfarina superior a dois meses. Os participantes do pré-teste foram recrutados e entrevistados de forma consecutiva nos dias de atendimento da CA. O processo de adaptação transcultural ocorreu no período de outubro a dezembro de 2014.

Instrumento

O OAK Test foi desenvolvido no nordeste dos Estados Unidos da América33. Zeolla MM, Brodeur MR, Dominelli A, Haines ST, Allie ND. Development and validation of an instrument to determine patient knowledge: the oral anticoagulation knowledge test. Ann Pharmacother 2006; 40(4):633-638. e utilizou métodos consistentes para avaliar a sua validade e confiabilidade. Ele é composto de 20 questões com quatro alternativas de resposta, tendo somente uma opção correta. Cada acerto do paciente equivale a um ponto, sendo o resultado final variável de 0 a 20 pontos. Uma pontuação mais alta indica melhor nível de conhecimento sobre a terapia anticoagulante oral.

Avaliação da equivalência semântica e conceitual dos itens

Após autorização dos autores da versão original, o processo de adaptação transcultural do instrumento OAK Test para o português do Brasil foi planejado de acordo com método preconizado pela literatura nacional e internacional para adaptação de instrumentos1515. Beaton D, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the Cross- Cultural Adaptation of the DASH & Quick DASH Outcome Measures. Institute for Work & Health; 2007.,1818. Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine 2000; 25(24):3186-3191.

19. Rubio JS, Iglésias-Ferreira P, Delgado PG, Santos HM, Martínez-Martínez F. Adaptação intercultural para português europeu do questionário “Conocimiento del Paciente sobre sus Medicamentos” (CPM-ES-ES). Cien Saude Colet 2013; 18(12):3633-3644.
-2020. Spedo CT, Foss MP, Elias AHN, Pereira DA, Santos PL, Ribeiro GNA, Balarini FB, Barreira CMA, Neto OP, Barreira AA. Cross-cultural adaptation of visual reproduction subtest of wechsler memory scale fourth edition (WMS-IV) to a Brazilian context. Clinical Neuropsychiatry 2013; 10(2):111-119.. A avaliação semântica se desenvolveu de acordo com as seguintes etapas: tradução inicial, síntese das traduções, retrotradução, revisão pelo comitê de especialistas e pré-teste1616. Guillemin F, Bombardier C, Beaton DE. Cross-cultural adaptation of health related quality of life measures: literature review and proposed guidelines. J Clin Epidemiol 1993; 46(12):1417-1432. (Figura 1).

Figura 1
Fluxograma do processo de adaptação transcultural do instrumento Oral Anticoagulation Knowledge (OAK) Test.

A primeira etapa consistiu em duas traduções do instrumento original em inglês para o português do Brasil (T1 e T2). Dois tradutores bilíngues cuja língua materna era o português (Brasil) realizaram as traduções de forma independente. Um tradutor apresentava formação na área da saúde, possuía vivência clínica e conhecimentos sobre os termos e conceitos presentes no instrumento. O outro tradutor não apresentava formação médica ou clínica, não apresentando conhecimentos técnicos sobre os conceitos analisados.

As traduções T1 e T2 foram comparadas e as discrepâncias identificadas. Os dois tradutores e mais quatro pesquisadores participaram da síntese das traduções. O grupo utilizou o instrumento original e as duas versões traduzidas para o português do Brasil e, após consenso, produziu uma tradução comum (T12). Nessa etapa, procurou-se identificar possíveis dificuldades no entendimento do instrumento. Observou-se de forma criteriosa o significado das palavras nos diferentes idiomas (inglês e português do Brasil) buscando-se obter efeitos similares em indivíduos pertencentes às diferentes culturas.

A tradução sintetizada T12 foi traduzida novamente para o idioma original do instrumento (inglês) por dois tradutores independentes, estrangeiros, nascidos e alfabetizados em país de língua inglesa, com domínio linguístico e cultural das línguas inglesa e portuguesa (Brasil) para a qual o OAK Test foi adaptado. Os tradutores não conheciam os objetivos da pesquisa e não tiveram acesso ao instrumento original.

Posteriormente, foi realizada uma revisão das versões retrotraduzidas (VI1 e VI2) e da versão síntese para o português (T12) utilizando como referência a versão original por um comitê de especialistas composto por quatro pesquisadores, os quatro tradutores participantes, dois profissionais de saúde com experiência no manejo da anticoagulação oral e um linguista. A formação desse comitê foi fundamental para a obtenção de um consenso quanto à equivalência semântica e conceitual dos itens.

A equivalência semântica refere-se à equivalência do significado das palavras, ou à correta tradução de itens. Avaliou-se a equivalência entre o instrumento original e o retrotraduzido sob a perspectiva do significado referencial dos termos e palavras constituintes (similaridade quanto ao significado literal dos termos constituintes dos pares de assertivas) e quanto ao significado geral de cada item (similaridade quanto à ideia transmitida pelas assertivas)2121. Herdman M, Fox-hushby J, Badia X. A model of equivalence in the cultural adaptation of HRQoL instruments: the universalist approach. Qual Life Res 1998; 7(4):323-335..

Para análise dos significados, os especialistas utilizaram um formulário específico, elaborado de forma a mascarar a origem dos itens avaliados. Para a análise do significado referencial, optou-se por uma escala analógica visual (Visual Analogue Scale)2222. Streiner DL, Norman GR. Health measurement scales: a practical guide to their development and use. 3ª ed. New York: Oxford University Press; 2003.. A equivalência entre os pares de assertivas foi julgada de forma contínua com resultados variando de 0 a 100%, utilizando-se as seguintes categorias: < 80% = não equivalentes, 80-89% = quase equivalentes, 100% = máxima equivalência2222. Streiner DL, Norman GR. Health measurement scales: a practical guide to their development and use. 3ª ed. New York: Oxford University Press; 2003..

A avaliação do significado geral foi desenvolvida utilizando-se quatro níveis para classificação, a saber: inalterado (IA), pouco alterado (PA), muito alterado (MA) ou completamente alterado (CA)2222. Streiner DL, Norman GR. Health measurement scales: a practical guide to their development and use. 3ª ed. New York: Oxford University Press; 2003..

A análise da equivalência conceitual dos itens busca demonstrar se os mesmos são relevantes e aceitáveis nas culturas original e alvo da adaptação. Para tanto, torna-se de grande valia a opinião de especialistas e a realização de teste preliminar da versão adaptada em amostras da população, conforme descrito na próxima etapa2121. Herdman M, Fox-hushby J, Badia X. A model of equivalence in the cultural adaptation of HRQoL instruments: the universalist approach. Qual Life Res 1998; 7(4):323-335..

O pré-teste foi desenvolvido por um dos pesquisadores que entrevistou individualmente 30 pacientes em local adequado, buscando verificar sua compreensão em relação à versão adaptada1616. Guillemin F, Bombardier C, Beaton DE. Cross-cultural adaptation of health related quality of life measures: literature review and proposed guidelines. J Clin Epidemiol 1993; 46(12):1417-1432.. Foi utilizado um questionário, adaptado para uso no Brasil2323. Fegadolli C, Reis RA, Tortelboom S, Bullinger M, Santos SB. Adaptação do módulo genérico DISABKIDS® para crianças e adolescentes brasileiros com condições crônicas. Rev Bras Saúde Matern Infant 2010; 10(1):95-105., que aborda a impressão geral sobre o instrumento quanto à sua clareza, tempo de preenchimento e possíveis dúvidas. Para caracterizar os participantes, foram coletados dados sociodemográficos, incluindo sexo, idade e escolaridade.

Análise estatística

O banco de dados foi validado por dupla digitação no programa EpiData software (version 3.1, EpiData Assoc, Denmark) e analisado no programa Statistical Package for Social Science (SPSS for Windows, version 20.0, SPSS Inc., Chicago, IL). A estatística descritiva das variáveis sociodemográficas foi feita utilizando-se medidas de frequência e de tendência central.

Aspectos éticos

Esse estudo foi realizado em conformidade com a Declaração de Helsinque2424. World Medical Association Declaration of Helsinki. Recommendations guiding physicians in biomedical research involving human subjects. JAMA 1997; 277(11):925-926.. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais. Todos os participantes assinaram termo de consentimento livre e esclarecido anteriormente ao início da pesquisa.

Resultados

O processo de adaptação transcultural foi realizado de forma sistemática. As etapas de tradução, síntese e retrotradução foram realizadas sem maiores dificuldades e, portanto, não houve modificações significativas.

Pela revisão do comitê de especialistas, avaliou-se a equivalência semântica, em que foi realizada uma apreciação da equivalência entre os itens oriundos das versões retrotraduzidas e os itens do instrumento original. Evidenciou-se que os instrumentos se mantiveram equivalentes. Como descrito no Quadro 1, 17 (85%) dos 20 itens apresentaram equivalência máxima e mantiveram o significado geral inalterado (IA).

Quadro 1
Equivalência semântica entre a versão em português (Brasil) do OAK Test e o original em inglês.

A equivalência conceitual dos itens foi obtida pela análise dos especialistas e pelo pré-teste. No Quadro 2 estão indicadas as principais alterações, destacadas em negrito, realizadas pelo comitê de especialistas na versão síntese traduzida para o português (T12) e a versão pré-final obtida por consenso.

Quadro 2
Comparação da versão síntese traduzida para o português do OAK Test com a versão pré-final após avaliação pelo Comitê de especialistas.

Na questão 1, para que o sentido original fosse mantido, optou-se por utilizar a expressão no enunciado “esquecer de” e na quarta alternativa de resposta, no lugar do verbo “observar” optou-se por colocar a expressão “tenha cuidado com”. Também foi retirada do instrumento traduzido a palavra “Coumadin®” que corresponde a um dos nomes comerciais da varfarina, tendo sido utilizada a Denominação Comum Brasileira2525. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Manual das Denominações Comuns Brasileiras – DCB. Brasília: Anvisa; 2013..

Na questão 3, a discussão se deu em torno do termo em inglês healthcare provider. Na versão síntese traduzida para o português primeiramente utilizou-se “serviço de saúde”, mas por se tratar de um termo lato houve a substituição pela expressão “quem acompanha seu tratamento”. Essa alteração foi feita nas demais questões que possuíam esse termo.

Em relação à questão 7, discutiu-se sobre a expressão “TP/RNI (tempo de protrombina)”. Levou-se em conta que a população-alvo, em sua maioria, conhece apenas a abreviatura RNI para designar o exame laboratorial para monitorização da anticoagulação oral. O termo TP (tempo de protrombina) foi então suprimido nessa questão e nas demais que o continham.

Referente à questão 9, duas expressões foram identificadas como apresentando dificuldades de compreensão pela população-alvo e foram alteradas. Substituiu-se “faixa esperada” por “faixa desejada” e “erupções cutâneas” por “alterações na pele”.

Na questão 10, para facilitar o entendimento do entrevistado, acrescentou-se no enunciado a sigla “AAS” devido ao seu uso comum para designar o medicamento ácido acetilsalicílico. Na última opção de resposta, a expressão “que você aumente sua dose” foi modificada para “aumento de sua dose da varfarina”, evitando a interpretação de automanejo da dose pelos pacientes, o que não está previsto no protocolo clínico da CA em questão.

De acordo com a análise dos especialistas, na questão 13 a expressão “que você tome sua dose da varfarina e do álcool separadamente” presente na versão síntese traduzida para o português, se mostra ambígua, em que o entrevistado poderia interpretar “ingerir bebidas alcoólicas ao mesmo tempo em que toma o comprimido de varfarina”. Assim, optou-se pela modificação da expressão para “que você tome sua dose da varfarina e do álcool em momentos diferentes”.

Os termos “efetividade”, “interage” e “efeitos adversos”, que aparecem ao longo do questionário, foram identificadas pelo comitê de especialistas como de difícil entendimento para a população-alvo. Entretanto, considerou-se como procedimento adequado sua manutenção e se houvesse dúvidas por parte do entrevistado, a mesma seria esclarecida pelo entrevistador até o completo entendimento e a questão respondida de forma convicta.

Com a realização do pré-teste da versão pré-final do OAK Test em português do Brasil pela entrevista presencial, foi possível verificar a adequação do nível de linguagem utilizado e a compreensão da tradução. O tempo médio para responder o instrumento foi de 10 minutos.

Em relação às características dos participantes do pré-teste (Tabela 1), a maioria foi do sexo feminino (66%), mediana de idade igual a 55 anos e o grau de escolaridade predominante foi o ensino fundamental incompleto (67%).

Tabela 1
Características da amostra do pré-teste, Belo Horizonte, 2014.

No decorrer das entrevistas não foram detectadas dificuldades de compreensão dos itens. Todos os 30 (100%) participantes responderam o questionário de impressão geral sobre o instrumento e o classificaram como bom, avaliando todas as questões como importantes para quem faz uso de varfarina. A maioria dos participantes, 23 (77%), classificou as questões como sendo de compreensão fácil e somente sete (23%) as consideraram como de compreensão regular.

Nenhum participante fez sugestão de modificação ou acréscimo de questões. Assim, ao final do pré-teste, verificou-se boa aceitabilidade do instrumento entre os participantes, não havendo necessidade de modificação de itens.

Como produto do processo de adaptação transcultural, foi obtida a versão final do OAK Test na versão em língua portuguesa do Brasil intitulada “Teste de Conhecimento sobre Anticoagulação Oral” (Quadro 3). Essa versão será utilizada em uma amostra representativa de pacientes brasileiros em uso da varfarina para validar o instrumento através da avaliação de suas propriedades psicométricas, o que refletirá sua validade e confiabilidade. Essa etapa poderá confirmar ou não se as propriedades psicométricas da versão original se mantiveram na adaptada.

Quadro 3
Versão final do OAK Test traduzido para a língua portuguesa do Brasil.

Discussão

O processo de adaptação transcultural foi realizado de acordo com a metodologia sugerida na literatura1515. Beaton D, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the Cross- Cultural Adaptation of the DASH & Quick DASH Outcome Measures. Institute for Work & Health; 2007.,1616. Guillemin F, Bombardier C, Beaton DE. Cross-cultural adaptation of health related quality of life measures: literature review and proposed guidelines. J Clin Epidemiol 1993; 46(12):1417-1432.,1818. Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine 2000; 25(24):3186-3191. e utilizada por estudo que teve o mesmo objetivo de traduzir e adaptar culturalmente o OAK Test para outro país1313. Matalaqah LM, Radaideh K, Sulaiman SASS, Hassali MA, Kader MASAK. An instrument to measure anticoagulation knowledge among Malaysian community: a translation and validation study of the Oral Anticoagulation Knowledge (OAK) Test. J Pharm Biomed Sci 2013; 3(20):30-37.. Seguiu-se, portanto, uma sistematização e o processo foi considerado satisfatório em todas as etapas.

A adaptação transcultural busca garantir a elaboração de um instrumento adaptado, que seja equivalente ao instrumento original e que possa ser utilizado pela maior parte da população1919. Rubio JS, Iglésias-Ferreira P, Delgado PG, Santos HM, Martínez-Martínez F. Adaptação intercultural para português europeu do questionário “Conocimiento del Paciente sobre sus Medicamentos” (CPM-ES-ES). Cien Saude Colet 2013; 18(12):3633-3644..

Nas etapas de tradução inicial e retrotradução foi realizado o mínimo de duas traduções independentes, o que permite a detecção de erros e interpretações divergentes de itens ambíguos presentes na versão original1515. Beaton D, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the Cross- Cultural Adaptation of the DASH & Quick DASH Outcome Measures. Institute for Work & Health; 2007..

Na etapa de revisão pelo comitê de especialistas, foi obtido um consenso quanto à equivalência semântica e conceitual dos itens. Foi possível realizar ampla e rica discussão acerca do instrumento em si, incluindo seus objetivos, formas de preenchimento e obtenção de linguagem clara e acessível. A versão síntese das traduções foi considerada adequada, uma vez que não houve nenhuma discrepância de significado nas retrotraduções.

O processo utilizado permitiu a avaliação de todas as alterações realizadas em cada etapa e possibilitou aos especialistas uma percepção global quanto aos significados referencial e geral1919. Rubio JS, Iglésias-Ferreira P, Delgado PG, Santos HM, Martínez-Martínez F. Adaptação intercultural para português europeu do questionário “Conocimiento del Paciente sobre sus Medicamentos” (CPM-ES-ES). Cien Saude Colet 2013; 18(12):3633-3644..

Assim, as 20 questões do OAK Test foram adaptadas conservando o significado das palavras entre dois idiomas diferentes e assegurando a equivalência semântica2121. Herdman M, Fox-hushby J, Badia X. A model of equivalence in the cultural adaptation of HRQoL instruments: the universalist approach. Qual Life Res 1998; 7(4):323-335.. Como resultado, obteve-se uma versão pré-final do instrumento com maior clareza e adequada que foi utilizada na etapa do pré-teste.

Verificou-se boa aceitabilidade do instrumento e que o conceito explorado em cada questão do instrumento traduzido tem o mesmo significado para a cultura alvo, ou seja, o conceito é relevante para ambas as culturas, como observado por outros autores1515. Beaton D, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the Cross- Cultural Adaptation of the DASH & Quick DASH Outcome Measures. Institute for Work & Health; 2007.,2121. Herdman M, Fox-hushby J, Badia X. A model of equivalence in the cultural adaptation of HRQoL instruments: the universalist approach. Qual Life Res 1998; 7(4):323-335. e que o OAK Test na versão em português do Brasil pode ser administrado mesmo a pessoas com baixo grau de escolaridade.

Como principal limitação do estudo, ressalta-se que o OAK Test foi elaborado para ser autoaplicado e para indivíduos com nível de escolaridade a partir de sete anos. Entretanto, em virtude do baixo nível de escolaridade de alguns indivíduos inseridos no estudo, optou-se pela administração do instrumento sob a forma de entrevista individual, o que prolongou o tempo de sua aplicação. As entrevistas foram realizadas somente por um entrevistador e de forma padronizada, a fim de não interferir nas respostas dos entrevistados. No entanto, ressalta-se que a equivalência semântica não está relacionada aos métodos de aplicação de escalas e que estes não interferem no desempenho dos instrumentos2626. Brabo EP, Paschoal EM, Basoli I, Nogueira FE, Gomes MCB, Gomes IP, Martins LCA, Spector N. Brazilian version of the QLQ-LC13 lung cancer module of the European Organization for Research and Treatment of Cancer: preliminary reliability and validity report. Qual Life Res 2006; 15(9):1519-1524..

Nesse sentido, caso seja válido para a população brasileira, o instrumento adaptado poderá ser utilizado nos serviços de saúde pública para avaliar de forma rápida o nível de conhecimento do paciente sobre o tratamento com varfarina. Além disso, a comparação de resultados de pesquisas, entre diferentes países, poderá ser feita, agregando valor ao processo de tomada de decisão.

Conclusões

O processo de tradução e adaptação transcultural do OAK Test para a cultura brasileira seguiu as etapas recomendadas internacionalmente e foi realizado com êxito. Os resultados obtidos demonstraram que a versão brasileira e americana são conceitualmente equivalentes.

A aplicação de instrumentos que utilizam métodos científicos reconhecidos permitirá analisar a relação entre o conhecimento dos pacientes e a qualidade do controle da anticoagulação oral. Os resultados obtidos poderão auxiliar na identificação de déficits e na estruturação de atividades de educação em saúde que melhorem o conhecimento sobre a farmacoterapia e, consequentemente, favorecer o sucesso do tratamento.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Pró-Reitoria de Pesquisa da UFMG, à Coordenaçãode Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), Brasil.

Referências

  • 1
    Ageno W, Gallus AS, Wittkowsky A, Crowther M, Hylek EM, Palareti G. Oral anticoagulant therapy: antithrombotic therapy and prevention of thrombosis. 9ª ed. American College of Chest Physicians evidence-based clinical practice guidelines. Chest 2012; 141(Supl. 2):e44S-e88S.
  • 2
    Ansell J, Hirsh J, Hylek E, Jacobson A, Crowther M, Palareti G. American College of Chest Physicians Pharmacology and management of the vitamin K antagonists: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. 8ª ed. Chest 2008; 133(Supl. 6):160S-198S.
  • 3
    Zeolla MM, Brodeur MR, Dominelli A, Haines ST, Allie ND. Development and validation of an instrument to determine patient knowledge: the oral anticoagulation knowledge test. Ann Pharmacother 2006; 40(4):633-638.
  • 4
    Delgado PG, Garralda MAG, Parejo MIB, Lozano FF, Martínez FM. Validación de un cuestionario para medir el conocimiento de los pacientes sobre sus medicamentos. Aten Primaria 2009; 41(12):661-669
  • 5
    White HD, Gruber M, Feyzi J, Kaatz S, Tse HF, Husted S, Albers GW. Comparison of outcomes among patients randomized to warfarin therapy according to anticoagulant control: results from SPORTIF III and V. Arch Intern Med 2007; 167(3):239-245.
  • 6
    Joshua JK, Kakkar N. Lacunae in patient knowledge about oral anticoagulant treatment: results of a questionnaire survey. Indian J Hematol Blood Transfus 2015; 31(2):275-280.
  • 7
    Lane DA, Ponsford J, Shelley A, Sirpal A, Lip GYH. Patients’ knowledge and perceptions of atrial fibrillaton and anticoagulant therapy: effects of an educational intervention programme. Int J Cardiol 2006; 110(3):354-358.
  • 8
    Van Damme S, Van Deyk K, Budts W, Verhamme P, Moons P. Patient knowledge of and adherence to oral anticoagulation therapy after mechanical heart-valve replacement for congenital or acquired valve defects. Heart Lung 2011; 40(2):139-146.
  • 9
    Alphonsa A, Sharma KK, Sharma G, Bhatia R. Knowledge regarding oral anticoagulation therapy among patients with stroke and those at high risk of thromboembolic events. J Stroke Cerebrovasc Dis 2015; 24(3):668-672.
  • 10
    Wang Y, Kong MC, Lee LH, Ng HJ, Ko Y. Knowledge, satisfaction, and concerns regarding warfarin therapy and their association with warfarin adherence and anticoagulation control. Thromb Res 2014; 133(4):550-554.
  • 11
    Devellis RF. Scale development: theory and applications Newbury Park: Sage Publications; 1991.
  • 12
    Elbur AI, Albarraq AA, Maugrabi MM, Alharthi SA. Knowledge of, satisfaction with and adherence to oral anticoagulant drugs among patients in King Fasial Hospital: Taif, Kingdom Saudi Arabia. Int J Pharm Sci Rev Res 2015; 31(1):274-280.
  • 13
    Matalaqah LM, Radaideh K, Sulaiman SASS, Hassali MA, Kader MASAK. An instrument to measure anticoagulation knowledge among Malaysian community: a translation and validation study of the Oral Anticoagulation Knowledge (OAK) Test. J Pharm Biomed Sci 2013; 3(20):30-37.
  • 14
    Khudair IF, Hanssens YI. Evaluation of patients’ knowledge on warfarin in outpatient anticoagulation clinics in a teaching hospital in Qatar. Saudi Med J 2010; 31(6):672-677.
  • 15
    Beaton D, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Recommendations for the Cross- Cultural Adaptation of the DASH & Quick DASH Outcome Measures Institute for Work & Health; 2007.
  • 16
    Guillemin F, Bombardier C, Beaton DE. Cross-cultural adaptation of health related quality of life measures: literature review and proposed guidelines. J Clin Epidemiol 1993; 46(12):1417-1432.
  • 17
    Wood GL, Haber J. Desenhos não-experimentais. In: Wood GL, Haber J, organizadores. Pesquisa em Enfermagem: métodos, avaliação crítica e utilização Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. p. 110-121.
  • 18
    Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine 2000; 25(24):3186-3191.
  • 19
    Rubio JS, Iglésias-Ferreira P, Delgado PG, Santos HM, Martínez-Martínez F. Adaptação intercultural para português europeu do questionário “Conocimiento del Paciente sobre sus Medicamentos” (CPM-ES-ES). Cien Saude Colet 2013; 18(12):3633-3644.
  • 20
    Spedo CT, Foss MP, Elias AHN, Pereira DA, Santos PL, Ribeiro GNA, Balarini FB, Barreira CMA, Neto OP, Barreira AA. Cross-cultural adaptation of visual reproduction subtest of wechsler memory scale fourth edition (WMS-IV) to a Brazilian context. Clinical Neuropsychiatry 2013; 10(2):111-119.
  • 21
    Herdman M, Fox-hushby J, Badia X. A model of equivalence in the cultural adaptation of HRQoL instruments: the universalist approach. Qual Life Res 1998; 7(4):323-335.
  • 22
    Streiner DL, Norman GR. Health measurement scales: a practical guide to their development and use 3ª ed. New York: Oxford University Press; 2003.
  • 23
    Fegadolli C, Reis RA, Tortelboom S, Bullinger M, Santos SB. Adaptação do módulo genérico DISABKIDS® para crianças e adolescentes brasileiros com condições crônicas. Rev Bras Saúde Matern Infant 2010; 10(1):95-105.
  • 24
    World Medical Association Declaration of Helsinki. Recommendations guiding physicians in biomedical research involving human subjects. JAMA 1997; 277(11):925-926.
  • 25
    Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Manual das Denominações Comuns Brasileiras – DCB Brasília: Anvisa; 2013.
  • 26
    Brabo EP, Paschoal EM, Basoli I, Nogueira FE, Gomes MCB, Gomes IP, Martins LCA, Spector N. Brazilian version of the QLQ-LC13 lung cancer module of the European Organization for Research and Treatment of Cancer: preliminary reliability and validity report. Qual Life Res 2006; 15(9):1519-1524.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Maio 2017

Histórico

  • Recebido
    25 Maio 2015
  • Revisado
    05 Nov 2015
  • Aceito
    06 Nov 2015
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revscol@fiocruz.br