Fatores associados às faltas em tratamentos ortodônticos em centro de especialidades odontológicas

Emilio Prado Fonseca José Pascoal da Silva Junior Silvia Amélia Scudeler Vedovello Luciane Zanin Souza Antonio Carlos Pereira Marcelo de Castro Meneghim Sobre os autores

Resumo

O objetivo deste estudo foi identificar os fatores associados ao não comparecimento dos usuários ao tratamento ortodôntico, em três centros de especialidades odontológicas regionais (CEO-R) localizados no estado do Ceará. Metodologia: Os dados foram extraídos de prontuários de pacientes que concluíram o tratamento ortodôntico. Foi calculada a taxa de ausências, com o objetivo de estabelecer um coeficiente de faltas entre os municípios. A fim de descrever o padrão geográfico da ocorrência, foram construídos mapas temáticos baseados nas distribuições. Para as associações entre a variável desfecho (falta ao tratamento) e as independentes (sexo, idade, quebra de aparelho, mudança de profissional, renda e local de residência do usuário), utilizou-se a análise de regressão logística múltipla com p ≤ 0,05. Resultados: Foram examinados 237 prontuários em 20 municípios, com 8.283 consultas ortodônticas realizadas e 2.665 (32,17%) faltas. Apresentou diferença estatisticamente significativa a variável mudança de profissional. Conclusão: O maior número de faltas foi associado à mudança de profissional.

Palavras-chave
Absenteísmo; Epidemiología; Ortodontia; Saúde bucal; Serviço de saúde bucal

Introdução

A atenção secundária compreende unidades de saúde que ofertam serviços especializados de referência, tanto para os municípios com os quais mantêm pactuação como para o próprio município à partir da Atenção Primária à Saúde (APS)11. Organização Panamericana de Saúde Pública (OPAS). Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação Nacional de Saúde Bucal. A política nacional de saúde bucal no Brasil: registro de uma conquista histórica. Brasília: OPAS; 2006.

2. Brasil. Ministério da Saúde. Nota técnica referente à Portaria n° 718/SAS, de 20 de dezembro de 2010. Diário Oficial da União 2010; 21 dez.
-33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um Panorama da Saúde no Brasil: acesso e utilização dos serviços, condições de saúde e fatores de risco e proteção à saúde. Rio de Janeiro: IBGE; 2010.. A Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB), lançada em 2004, entre outras iniciativas, promoveu o estímulo na oferta de procedimentos especializados com a implantação dos Centros de Especialidades Odontológicas (CEO)11. Organização Panamericana de Saúde Pública (OPAS). Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação Nacional de Saúde Bucal. A política nacional de saúde bucal no Brasil: registro de uma conquista histórica. Brasília: OPAS; 2006., por meio de parcerias entre estados, municípios e governo federal11. Organização Panamericana de Saúde Pública (OPAS). Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação Nacional de Saúde Bucal. A política nacional de saúde bucal no Brasil: registro de uma conquista histórica. Brasília: OPAS; 2006.. A atenção secundária odontológica no Brasil é uma discussão recente na literatura científica e constitui um grande desafio para a gestão do sistema de atenção em saúde bucal44. Saliba NA, Nayme JGR, Moimaz SAS, Cecilio LPP, Garbin CAS. Organização da demanda de um Centro de Especialidades Odontológicas. Rev. odontol. UNESP 2013; 42(5):317-323.

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A partir da Portaria Ministerial n° 718/SAS, de 2010, foi facultado aos CEO a inclusão de atendimentos especializados em aparelho ortodôntico/ortopédico22. Brasil. Ministério da Saúde. Nota técnica referente à Portaria n° 718/SAS, de 20 de dezembro de 2010. Diário Oficial da União 2010; 21 dez.. O Ceará, seguindo a sua política de regionalização da atenção secundaria, implantou os Centros de Especialidades Odontológicas Regionais (CEO-R), desde 2009, com o objetivo de ampliar a oferta e oferecer mais especialidades ao interior do estado77. Ceará. Secretaria de Saúde do Estado (SES). Rede de Assistência. Ceará. SES; [página da Internet] 2011. [acessado 2014 jun 21]. Disponível em: http://www.saude.ce.gov.br/index.php/a-secretaria/o-que-e/44946-redede-assistencia
http://www.saude.ce.gov.br/index.php/a-s...
. Essa organização adotou o modelo de consórcio público de saúde, como forma de gestão, congregando como entes consorciados o estado e os municípios de cada região de saúde88. Pinto VPT, Teixeira AH, Santos PR, Araújo MWA, Moreira MAG, Saraiva SRM. Avaliação da acessibilidade ao Centro de Especialidades Odontológicas de abrangência macrorregional de Sobral, Ceará, Brasil. Cien Saude Colet 2014; 19(7):2235-2244.,99. Ceará. Secretaria de Saúde do Estado (SES). PROEXMAES: perfil do programa. Ceará. SES; [página da Internet] 2008a. [acessado 2014 jun 21]. Disponível em: http://www.saude.ce.gov.br/index.php/rede-em-construcao/proexmaes/perfil-do-programa
http://www.saude.ce.gov.br/index.php/red...
. Deu-se início, assim, à regionalização desse atendimento especializado e os tratamentos ortodôntico/ortopédicos passaram a ser ofertados no interior do estado1010. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Cidades que possuem centros de especialidades odontológicas (CEO) no Ceará. Brasília: MS; [página da Internet] 2014. [acessado 2014 jun 16]. Disponível em: http://dab.saude.gov.br/portaldab/mapa_centro_especialidades/CEO_CE.php
http://dab.saude.gov.br/portaldab/mapa_c...
,1111. Ceará. Secretaria de Saúde do Estado (SES). Noticias: mais de 20 mil próteses e aparelhos ortodônticos nos CEOs regionais. Ceará. SES; [página da Internet] 2012. [acessado 2014 jul 07]. Disponível em: http://www.saude.ce.gov.br/index.php/noticias/45164
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Estudos que analisam faltas a tratamentos especializados de referência, em saúde bucal, têm mostrado que as principais causas para a baixa taxa de aproveitamento de consultas, ou seja, a falta ao tratamento está relacionada à distância entre o município de origem e o alto custo de transporte44. Saliba NA, Nayme JGR, Moimaz SAS, Cecilio LPP, Garbin CAS. Organização da demanda de um Centro de Especialidades Odontológicas. Rev. odontol. UNESP 2013; 42(5):317-323.. Outros estudos relatam que os prováveis motivos para faltas dos usuários em consultas especializadas são: não ter conseguido identificar o local da consulta, não possuir recursos financeiros suficientes para realizar o deslocamento e o tempo deste44. Saliba NA, Nayme JGR, Moimaz SAS, Cecilio LPP, Garbin CAS. Organização da demanda de um Centro de Especialidades Odontológicas. Rev. odontol. UNESP 2013; 42(5):317-323.,1212. Bender AS, Molina LR, Mello ALSF. Absenteísmo na atenção secundária e suas implicações na atenção básica. Revista Espaço para a Saúde 2010; 11(2):56-65.

13. Souza LF, Chaves SCL. Política Nacional de Saúde Bucal: Acessibilidade e Utilização de serviços odontológicos especializados em um município de médio porte na Bahia. Revista Baiana de Saúde Pública 2010; 34(2):371-387.
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Não são claras as razões que levam os usuários a faltarem às consultas especializadas de ortodontia, mas esse fato pressupõe a necessidade de uma supervisão continuada e uma estrutura operacional adequada associada à resolutividade e integralidade do cuidado, além de acarretarem custos desnecessários ao sistema e dificultar o acesso de novos usuários ao tratamento especializado, consequentemente, gerando fila44. Saliba NA, Nayme JGR, Moimaz SAS, Cecilio LPP, Garbin CAS. Organização da demanda de um Centro de Especialidades Odontológicas. Rev. odontol. UNESP 2013; 42(5):317-323.,1414. Machado AT, Werneck MAF, Lucas SD, Abreu MHNG. Who did not appear? First dental visit absences in secondary care in a major Brazilian city: a cross-sectional study. Cien Saude Colet 2015; 20(1):289-298.,1515. Ismail AI, Saud MH, Al-Selwadi FM. Missed dental appointments in the United Arab Emirates. J Int Dent Med Res 2011; 4:132-138..

Dessa forma, o objetivo deste estudo foi identificar os fatores associados ao não comparecimento dos usuários ao tratamento ortodôntico, em três Centros de Especialidades Odontológicas Regionais (CEO-R) localizados no estado do Ceará.

Metodologia

Trata-se de um estudo epidemiológico, observacional, transversal, com fonte de dados extraídos de prontuários de pacientes que concluíram tratamentos ortodônticos em três CEO-R do estado do Ceará: Baturité, Russas e Ubajara. Este estudo foi submetido ao comitê de ética em pesquisa e aprovado.

No início de 2014, o estado do Ceará apresentava 18 CEOs-R, sendo que, para a seleção dos avaliados no estudo, foi adotado como critérios de inclusão o tempo mínimo de três anos de implantação, além de apresentarem o mesmo tipo de gestão, infraestrutura física e tipo de tratamento (ortodôntico). Foi realizado um estudo piloto anterior no CEO-R Russas para corrigir possíveis falhas metodológicas. A coleta de dados nos prontuários foi padronizada por um questionário eletrônico, ordenado de forma sequencial de cada unidade pesquisada e alimentado conforme a leitura dos mesmos, de modo a permitir uma revisão dos dados se necessário.

A referência para o tratamento ortodôntico é estabelecida através de uma Programação Pactuada Consorciada (PPC) entre os entes consorciados (constituídos pelo estado e os municípios que compõem a regional) e a unidade de saúde CEO-R da seguinte forma: cada município tem direito a um número específico de vagas para a especialidade que levam em consideração sua população e os recursos humanos existentes para a mesma.

Todos os usuários são marcados pelas centrais de regulação municipais, através de referências externas emitidas pela atenção primária, para primeira consulta. As consultas de retorno são marcadas no próprio CEO ou pela central de regulação municipal. O sistema utilizado para a marcação foi o Sistema de Regulação (SISREG), que é o sistema de informação on-line, disponibilizado pelo DATASUS, para o gerenciamento e a operação das Centrais de Regulação.

A análise dos fatores associados ao não comparecimento dos usuários ao tratamento ortodôntico foi realizada da seguinte forma: primeiro, foi calculada a taxa de faltas para cada município através do cálculo: número total de faltas de cada município dividido pelo número total de consultas de cada município e, em seguida, multiplicado por cem. A fim de descrever o padrão geográfico da ocorrência, foram construídos mapas temáticos baseados nas distribuições1616. Dent BO. Cartography, Thematic Map Design. New York: WCB publishers; 1996.,1717. Almeida WS, Szwarcwald CL. Mortalidade infantil e acesso geográfico ao parto nos municípios brasileiros. Rev Saude Publica 2012; 46(1):68-76.. Os mapas foram construídos por municípios e por CEO-R em programa computacional específico com padronização da legenda em cinco estratos1616. Dent BO. Cartography, Thematic Map Design. New York: WCB publishers; 1996.,1717. Almeida WS, Szwarcwald CL. Mortalidade infantil e acesso geográfico ao parto nos municípios brasileiros. Rev Saude Publica 2012; 46(1):68-76.. Também foram traçados dois raios, um de 25 quilômetros e outro de 50 quilómetros, a partir da localização geográfica do endereço da sede dos CEO-R1818. Werneck GL. Georeferenced data in epidemiologic research. Cien Saude Colet 2008; 13(6):1753-1766.. Para a construção dos mapas foi utilizada uma base cartográfica eletrónica disponibilizada pelo IBGE e programa computacional específico1919. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Bases cartográficas do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2010.,2020. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Programa Computacional TerraView ®. [acessado 2014 jul 07]. Disponível em: www.inpe.gov.br
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Para avaliar as associações entre a variável desfecho (falta ao tratamento) e as variáveis independentes (sexo, idade, quebra de aparelho, mudança de profissional, renda e local de residência do usuário) utilizou-se a análise de regressão logística múltipla com p ≤ 0,05. As análises foram realizadas no programa estatístico SAS (SAS Institute Inc., Cary, NC, USA, Release 9.2, 2008).

Resultados

No período estudado, foram examinados 237 prontuários de tratamentos ortodônticos concluídos em 20 municípios. Nesse período, ocorreram 8. 283 consultas e um total de 2.665 (32,17%) de faltas. A Tabela 1 mostra o número de consultas, faltas por município, a porcentagem relativa e a taxa de faltas de cada município em relação ao número de consultas. Os municípios de Russas (sede de um CEO-R) e de Morada Nova foram os que realizaram o maior número de consultas e obtiveram baixas taxas de faltas em relação aos demais. O município de Carnaubal não encaminhou pacientes para o tratamento ortodôntico.

Tabela 1
Frequências e taxa de faltas dos municípios pertencentes ao estudo, Ceará, 2015.

As prevalências foram elevadas tanto para os municípios sede quanto para os não sede. A distribuição da taxa de faltas entre os CEO-R e entre os municípios foram heterogêneas e também apresentaram valores significativos, tanto para municípios sede, quanto para os de fora. Em relação aos municípios sede, o de Ubajara foi o que apresentou a maior taxa de faltas. A taxa de faltas ponderada pelo número de consultas permitiu identificar municípios com frequências menores de faltas e que obtiveram elevadas taxas se comparados a municípios com altas frequências de faltas. Ademais, os Municípios de Pacoti e Guaramiranga apresentaram as mais altas taxas de faltas e estão localizados a baixas distâncias do município sede do CEO-R (Baturité). Em contrapartida, o Município de Jaguaruana apresentou a menor taxa de falta entre os municípios e faz o encaminhamento para o CEO-R Russas (Tabela 1).

A Figura 1 mostra que os municípios sede de CEO-R de Baturité e Ubajara também apresentaram altas taxas de faltas. Os CEO-R de Ubajara e Russas possuem, em suas áreas de abrangência, municípios localizados a mais de 50 quilômetros da sede. O CEO-R de Russas possui a maior extensão territorial, enquanto que o CEO-R de Baturité possui a menor extensão territorial. O município de Jaguaretama possui a maior distância em relação à sede (Russas) a que pertence, com 132 quilômetros. Entretanto, os municípios de Mulungu e Pacoti, que estão localizados aproximadamente a vinte quilômetros do CEO-R sede (Baturité), apresentaram taxas de faltas de 26.37 e 52, respectivamente (Figura 1).

Figura 1
Distribuição espacial da taxa de faltas e raios de abrangência territorial a partir da sede do CEO-R, Ceará, 2015.

Pela regressão foi possível associar a mudança de profissional ao maior número de faltas. Ou seja, quando ocorre a mudança de profissional existe a chance (odds ratio) em torno de duas vezes maior de haver falta (Tabela 2).

Tabela 2
Associação entre o número de faltas dos usuários ao tratamento ortodôntico em CEO-R e fatores contextuais, Ceará, Brasil, 2015.

Discussão

A mudança de profissional contribui de forma significativa para um prolongamento do tempo de tratamento ortodôntico com aparelho fixo2121. McGuiness NJ, McDonald JP. The influence of operator changes on orthodontic treatment times and results in a postgraduate teaching environment. Eur J Orthod 1998; 20(2):159-167.. Pacientes, que por algum motivo são tratados por mais de um profissional, estão comprometidos com respeito à duração do tratamento2121. McGuiness NJ, McDonald JP. The influence of operator changes on orthodontic treatment times and results in a postgraduate teaching environment. Eur J Orthod 1998; 20(2):159-167.. É provável que a mudança de profissional tenha desmotivado a continuidade do tratamento e aumentado as faltas. Em outra direção, estudo demonstrou que a falta de motivação está associada, significativamente, com a descontinuação do tratamento ortodôntico e que o papel dos pais é fundamental para a motivação, no percurso do tratamento ortodôntico, em crianças e adolescentes2222. Daniels AS, Seacat JD, Inglehart MR. Orthodontic treatment motivation and cooperation: A cross-sectional analysis of adolescent patients’ and parents’ responses. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2009; 136(6):780-787..

A mudança de profissional foi um fator estatisticamente significativo. Nesse sentido é uma variável importante a ser considerada, pois quando isso ocorre é necessário um reestudo do caso porque muitas vezes os profissionais se utilizam de mecânicas e aparelhos diferentes para se chegar a um mesmo fim2121. McGuiness NJ, McDonald JP. The influence of operator changes on orthodontic treatment times and results in a postgraduate teaching environment. Eur J Orthod 1998; 20(2):159-167.. A construção do vínculo entre paciente e profissional é muito importante e sua manutenção deve ser preservada para a assistência odontológica2121. McGuiness NJ, McDonald JP. The influence of operator changes on orthodontic treatment times and results in a postgraduate teaching environment. Eur J Orthod 1998; 20(2):159-167.,2222. Daniels AS, Seacat JD, Inglehart MR. Orthodontic treatment motivation and cooperation: A cross-sectional analysis of adolescent patients’ and parents’ responses. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2009; 136(6):780-787.. A troca de profissional pode interromper o vínculo paciente/profissional, podendo ocasionar problemas no âmbito da responsabilização civil, no preenchimento dos prontuários dos pacientes, reinício do tratamento e abandono de tratamento2121. McGuiness NJ, McDonald JP. The influence of operator changes on orthodontic treatment times and results in a postgraduate teaching environment. Eur J Orthod 1998; 20(2):159-167.

22. Daniels AS, Seacat JD, Inglehart MR. Orthodontic treatment motivation and cooperation: A cross-sectional analysis of adolescent patients’ and parents’ responses. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2009; 136(6):780-787.

23. Meneghim ZMA, Pereira AC, Meneghim MC, Merotti FM. Prontuário Odontológico no Serviço Público: Aspectos Legais. Revista Odonto Ciência 2007; 22(56):118-123.

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25. Rodrigues CK, Shintcovsk RL, Tanaka O, França BHS, Hebling E. Responsabilidade civil do ortodontista. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 2006; 11(2):120-127.
-2626. Melani RFH, Silva RD. A relação profissional-paciente: o entendimento e implicações legais que se estabelecem durante o tratamento ortodôntico. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 2006; 11(6):104-113.. Para Rodrigues et al.2525. Rodrigues CK, Shintcovsk RL, Tanaka O, França BHS, Hebling E. Responsabilidade civil do ortodontista. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 2006; 11(2):120-127. a escuta e a comunicação com o paciente e/ou responsável devem perpassar todas as fases de produção da saúde e são fatores de sucesso na prática odontológica.

A ausência de prontuários corretamente preenchidos faz com que seja difícil a condução do mesmo por outro profissional2323. Meneghim ZMA, Pereira AC, Meneghim MC, Merotti FM. Prontuário Odontológico no Serviço Público: Aspectos Legais. Revista Odonto Ciência 2007; 22(56):118-123.. Esse achado concorda com o encontrado por Vasquez et al.55. Vasquez FL, Guerra LM, Vítor ES, Ambrosano GMB, Mialhe FL, Meneghim MC, Pereira AC. Referência e Contrarreferência na atenção secundária em odontologia em Campinas, SP, Brasil. Cien Saude Colet 2014; 19(1):245-255. que observaram que a precariedade dos prontuários dificulta o correto planejamento dos serviços. A falta de padronização em prontuários pode dificultar não somente a análise de dados epidemiológicos para o melhor funcionamento do sistema, como também, podem causar transtornos se forem requisitados em auditorias ou processos civis e criminais2323. Meneghim ZMA, Pereira AC, Meneghim MC, Merotti FM. Prontuário Odontológico no Serviço Público: Aspectos Legais. Revista Odonto Ciência 2007; 22(56):118-123.,2727. Benedicto EM, Lages LHR, Oliveira OF, Silva RHA, Paranhos LR. A importância da correta elaboração do prontuário odontológico. Odonto 2010; 18(36):41-50.. Em nenhum prontuário examinado constavam as informações sobre escolaridade materna ou familiar. A ausência dessa informação pode ser apontada como limitação para futuros estudos epidemiológicos que utilizem como fonte de dados prontuários de pacientes atendidos pelos CEO-R do Ceará.

A análise da questão “falta” a um tratamento público especializado é complexa quando comparada com estudos internacionais, em razão dos diferentes desenhos de estudo, metodologias adotadas, tipos de análise estatística e o ambiente que a pesquisa foi desenvolvida (público/privados)2828. Mavreas D, Athanasiou AE. Factors affecting the duration of orthodontic treatment: a systematic review. Eur J Orthod 2008; 30(4):386-395.

29. Beckwith FR, Ackerman RJ, Cobb CM, Tira D. An evaluation of the factors affecting duration of orthodontic treatment. Am J Orthod Dentofacial Orthop 1999; 115(4):439-447.
-3030. Melo ACEO, Carneiro LOT, Pontes LF, Cecim RL, Mattos JNR, Normando D. Factors related to orthodontic treatment time in adult patients. Dental Press J Orthod 2013; 18(5):59-63.. Estudo realizado nos Emirados Àrabes Unidos apontou que os principais fatores relacinados com a falta a tratamentos odontológicos foram idade do paciente, renda e educação1515. Ismail AI, Saud MH, Al-Selwadi FM. Missed dental appointments in the United Arab Emirates. J Int Dent Med Res 2011; 4:132-138.. Nesta direção os autores afirmam que o maior prejudicado com a falta acaba sendo o próprio paciente com o aumento do tempo de tratamento, redução na eficiência e diminuição da visualização do benefício em tratamento1515. Ismail AI, Saud MH, Al-Selwadi FM. Missed dental appointments in the United Arab Emirates. J Int Dent Med Res 2011; 4:132-138.. A relação custo-eficácia é um conceito importante em cuidados de saúde modernos e prolongado tempo de tratamento pode ser prejudicial para a “rentabilidade” de uma prática ou para o sistema de saúde de um país2222. Daniels AS, Seacat JD, Inglehart MR. Orthodontic treatment motivation and cooperation: A cross-sectional analysis of adolescent patients’ and parents’ responses. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2009; 136(6):780-787.. Estudo de Beckwith et al.2929. Beckwith FR, Ackerman RJ, Cobb CM, Tira D. An evaluation of the factors affecting duration of orthodontic treatment. Am J Orthod Dentofacial Orthop 1999; 115(4):439-447. mostrou que a falta possui 17,6 por cento da variação na duração do tratamento ortodôntico e que cada falta foi associada a um pouco mais de 1 mês de tempo adicional de tratamento. Estudo no Brasil3030. Melo ACEO, Carneiro LOT, Pontes LF, Cecim RL, Mattos JNR, Normando D. Factors related to orthodontic treatment time in adult patients. Dental Press J Orthod 2013; 18(5):59-63. correlacionou significativamente o tempo de tratamento ortodôntico ao número de faltas e representou 4,14% sobre o tempo total de tratamento em adultos.

A descentralização e regionalização são pressupostos que regem a reorientação do modelo de atenção em saúde bucal11. Organização Panamericana de Saúde Pública (OPAS). Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação Nacional de Saúde Bucal. A política nacional de saúde bucal no Brasil: registro de uma conquista histórica. Brasília: OPAS; 2006.. Porém, grandes lacunas ainda são observáveis, principalmente, em aglomerados urbanos em razão dos problemas de integração dos equipamentos e serviços3131. Mello ALSF, Andrade SR, Moysés SM, Erdmann AL. saúde bucal na rede de atenção e processos de regionalização. Cien Saude Colet 2014; 19(1):205-214.. Em Florianópolis, a distribuição dos CEO obedeceu a critérios geodemográficos, mas esbarrou em questões como insuficiência de vagas oferecidas, decisões com base política e não técnica, falta de protocolos de trabalho, logística/transporte, práticas e/ou condutas distintas entre os CEO3131. Mello ALSF, Andrade SR, Moysés SM, Erdmann AL. saúde bucal na rede de atenção e processos de regionalização. Cien Saude Colet 2014; 19(1):205-214.. Neste estudo foi identificada variação na área de abrangência dos CEO-R, sendo que, dois CEO-R possuem municípios com raio de abrangência maior que cinquenta quilômetros. Este fato pode explicar as prevalências e taxas de faltas a tratamentos ortodônticos. Onde existe uma tendência de implantação de serviços em municípios mais populosos e, consequentemente, com maior facilidade para a referência dos usuários aos serviços especializados. Uma alternativa pode ser o desmembramento dos CEO-R com grandes extensões territoriais em microrregiões. Por se tratar de um estudo epidemiológico transversal, cabe ressaltar que a relação de causalidade entre a variável dependente e as independentes, bem como a utilização de dados secundários são pontos de limitação. Ademais, o não comparecimento à consulta especializada oferecida pelos CEO-R pode se constituir em evento multifatorial.

Conclusão

O maior número de faltas foi associado à mudança de profissional. Dada a complexidade para o setor público, seria importante a incorporação da escuta qualificada de gestores, trabalhadores e usuários para o planejamento e a implementação de ações de enfrentamento ao problema, a fim de melhorar a resolutividade do tratamento público ortodôntico.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan 2018

Histórico

  • Recebido
    13 Maio 2015
  • Revisado
    06 Jan 2016
  • Aceito
    08 Jan 2016
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