Insatisfação com o peso corporal e estado nutricional de adolescentes: estudo de base populacional no município de Campinas, São Paulo, Brasil

Mariana Contiero San Martini Daniela de Assumpção Marilisa Berti de Azevedo Barros Antônio de Azevedo Barros FilhoSobre os autores

Resumo

O objetivo deste artigo é estimar as prevalências do estado nutricional e da insatisfação com o peso, em adolescentes de 10-19 anos. Estudo transversal de base populacional com amostra em dois estágios, realizado em Campinas, SP. O estado nutricional foi classificado pelos percentis de IMC para idade, da Organização Mundial da Saúde. A insatisfação com o peso foi obtida pelo relato dos que gostariam de ganhar ou perder peso. Calcularam-se as prevalências e os intervalos de confiança de 95% do estado nutricional e da (in)satisfação com o peso. As associações com as variáveis sociodemográficas foram verificadas pelo teste de χ2 de Rao Scott. Analisaram-se 822 adolescentes com idade média de 14,1 anos. Foram classificados com eutrofia 64,7% dos meninos e 75,4% das meninas e com excesso de peso 30,5% e 22,2%, respectivamente. Comparados aos meninos satisfeitos, 34,5% dos insatisfeitos eram eutróficos, 45,3% tinham sobrepeso e 77,1% obesidade. Comparadas às meninas satisfeitas, as insatisfeitas tinham 52,0% de eutrofia, 63,6% de sobrepeso e 75,2% de obesidade. Observaram-se elevadas prevalências de excesso de peso, principalmente nos meninos e nos mais jovens (10-14 anos), e maiores prevalências de insatisfação com o peso nas meninas e nos adolescentes de 15-19 anos.

Palavras-chave
Adolescente; Peso corporal; Estado nutricional; Inquéritos epidemiológicos

Introdução

O crescente aumento das prevalências de sobrepeso e obesidade no mundo tornou-se um desafio para a saúde pública11 Sahoo K, Sahoo B, Choudhury AK, Sofi NY, Kumar R, Bhadoria AS. Childhood obesity: causes and consequences. J Family Med Prim Care 2015; 4(2):187-192.,22 Lobstein T, Baur L, Uauy R. Obesity in children and young people: a crisis in public health. Obes Rev 2004; 5(Supl. 1):4-85.. Entre 1980 e 2013, o número de pessoas com excesso de peso passou de 921 milhões para 2,1 bilhões, correspondendo a um aumento de 27,5% em adultos e 47,1% em crianças e adolescentes33 Ng M, Fleming T, Robinson M, Thomson B, Graetz N, Margono C, Mullany EC, Biryukov S, Abbafati C, Abera SF, Abraham JP, Abu-Rmeileh NM, Achoki T, AlBuhairan FS, Alemu ZA, Alfonso R, Ali MK, Ali R, Guzman NA, Ammar W, Anwari P, Banerjee A, Barquera S, Basu S, Bennett DA, Bhutta Z, Blore J, Cabral N, Nonato IC, Chang JC, Chowdhury R, Courville KJ, Criqui MH, Cundiff DK, Dabhadkar KC, Dandona L, Davis A, Dayama A, Dharmaratne SD, Ding EL, Durrani AM, Esteghamati A, Farzadfar F, Fay DF, Feigin VL, Flaxman A, Forouzanfar MH, Goto A, Green MA, Gupta R, Hafezi-Nejad N, Hankey GJ, Harewood HC, Havmoeller R, Hay S, Hernandez L, Husseini A, Idrisov BT, Ikeda N, Islami F, Jahangir E, Jassal SK, Jee SH, Jeffreys M, Jonas JB, Kabagambe EK, Khalifa SE, Kengne AP, Khader YS, Khang YH, Kim D, Kimokoti RW, Kinge JM, Kokubo Y, Kosen S, Kwan G, Lai T, Leinsalu M, Li Y, Liang X, Liu S, Logroscino G, Lotufo PA, Lu Y, Ma J, Mainoo NK, Mensah GA, Merriman TR, Mokdad AH, Moschandreas J, Naghavi M, Naheed A, Nand D, Narayan KM, Nelson EL, Neuhouser ML, Nisar MI, Ohkubo T, Oti SO, Pedroza A, Prabhakaran D, Roy N, Sampson U, Seo H, Sepanlou SG, Shibuya K, Shiri R, Shiue I, Singh GM, Singh JA, Skirbekk V, Stapelberg NJ, Sturua L, Sykes BL, Tobias M, Tran BX, Trasande L, Toyoshima H, van de Vijver S, Vasankari TJ, Veerman JL, Velasquez-Melendez G, Vlassov VV, Vollset SE, Vos T, Wang C, Wang X, Weiderpass E, Werdecker A, Wright JL, Yang YC, Yatsuya H, Yoon J, Yoon SJ, Zhao Y, Zhou M, Zhu S, Lopez AD, Murray CJ. Global, regional, and national prevalence of overweight and obesity in children and adults during 1980-2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013. Lancet 2014; 384(9945):766-781.. O crescimento do excesso de peso ocorreu em países ricos e pobres, no entanto 62,0% dos obesos no mundo vivem nos países em desenvolvimento33 Ng M, Fleming T, Robinson M, Thomson B, Graetz N, Margono C, Mullany EC, Biryukov S, Abbafati C, Abera SF, Abraham JP, Abu-Rmeileh NM, Achoki T, AlBuhairan FS, Alemu ZA, Alfonso R, Ali MK, Ali R, Guzman NA, Ammar W, Anwari P, Banerjee A, Barquera S, Basu S, Bennett DA, Bhutta Z, Blore J, Cabral N, Nonato IC, Chang JC, Chowdhury R, Courville KJ, Criqui MH, Cundiff DK, Dabhadkar KC, Dandona L, Davis A, Dayama A, Dharmaratne SD, Ding EL, Durrani AM, Esteghamati A, Farzadfar F, Fay DF, Feigin VL, Flaxman A, Forouzanfar MH, Goto A, Green MA, Gupta R, Hafezi-Nejad N, Hankey GJ, Harewood HC, Havmoeller R, Hay S, Hernandez L, Husseini A, Idrisov BT, Ikeda N, Islami F, Jahangir E, Jassal SK, Jee SH, Jeffreys M, Jonas JB, Kabagambe EK, Khalifa SE, Kengne AP, Khader YS, Khang YH, Kim D, Kimokoti RW, Kinge JM, Kokubo Y, Kosen S, Kwan G, Lai T, Leinsalu M, Li Y, Liang X, Liu S, Logroscino G, Lotufo PA, Lu Y, Ma J, Mainoo NK, Mensah GA, Merriman TR, Mokdad AH, Moschandreas J, Naghavi M, Naheed A, Nand D, Narayan KM, Nelson EL, Neuhouser ML, Nisar MI, Ohkubo T, Oti SO, Pedroza A, Prabhakaran D, Roy N, Sampson U, Seo H, Sepanlou SG, Shibuya K, Shiri R, Shiue I, Singh GM, Singh JA, Skirbekk V, Stapelberg NJ, Sturua L, Sykes BL, Tobias M, Tran BX, Trasande L, Toyoshima H, van de Vijver S, Vasankari TJ, Veerman JL, Velasquez-Melendez G, Vlassov VV, Vollset SE, Vos T, Wang C, Wang X, Weiderpass E, Werdecker A, Wright JL, Yang YC, Yatsuya H, Yoon J, Yoon SJ, Zhao Y, Zhou M, Zhu S, Lopez AD, Murray CJ. Global, regional, and national prevalence of overweight and obesity in children and adults during 1980-2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013. Lancet 2014; 384(9945):766-781..

No Brasil, a realização periódica de inquéritos de saúde tem permitido o monitoramento do estado nutricional da população. Em apenas 10 anos (2006-2016), o inquérito telefônico Vigitel tem mostrado uma tendência de crescimento do excesso de peso (42,6% para 53,8%) e da obesidade (11,8% para 18,9%) nos adultos com ≥ 18 anos residentes nas capitais brasileiras e no Distrito Federal44 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Vigitel Brasil 2016: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: MS; 2017.. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE, 2015) constatou que 23,7% dos adolescentes de 13 a 17 anos apresentavam excesso de peso e 7,8% obesidade55 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Rio de Janeiro: IBGE; 2016.. Em 2008-2009, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) havia encontrado prevalências de 20,5% de excesso de peso e 4,9% de obesidade entre os adolescentes de 10 a 19 anos66 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: Antropometria e Estado Nutricional de Crianças, Adolescentes e Adultos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2010. [acessado 2017 Set 15]. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv45419.pdf.

Diante de um cenário de epidemia de excesso de peso, dados da PeNSE (2015) revelaram que 80,0% dos estudantes consideravam a própria imagem corporal como importante ou muito importante, e que cerca de 40,0% não realizavam qualquer tentativa de modificar o seu peso55 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Rio de Janeiro: IBGE; 2016.. O excesso de peso é uma doença que pode gerar danos físicos e emocionais que repercutem ao longo da vida77 Baker KD, Loughman A, Spencer SJ, Reichelt AC. The impact of obesity and hypercaloric diet consumption on anxiety and emotional behavior across the lifespan. Neurosci Biobehav Rev 2017; 83:173-182.,88 Luiz AMAG, Gorayeb R, Liberatore Júnior RDR, Domingos, NAM. Depressão, ansiedade e competência social em crianças obesas. Estud psicol (Natal) 2005; 10(1):35-39.. Crianças e adolescentes obesos apresentam riscos mais elevados de mortalidade, de obesidade na vida adulta e de desenvolverem precocemente doenças cardiovasculares, diabetes11 Sahoo K, Sahoo B, Choudhury AK, Sofi NY, Kumar R, Bhadoria AS. Childhood obesity: causes and consequences. J Family Med Prim Care 2015; 4(2):187-192.,99 Güngör NK. Overweight and obesity in children and adolescents. J Clin Res Pediatr Endocrinol 2014; 6(3):129-143.,1010 Goldhaber-Fiebert JD, Rubinfeld RE, Bhattacharya J, Robinson TN, Wise PH. The utility of childhood and adolescent obesity assessment in relation to adult health. Med Decis Making 2013; 33(2):163-175. e problemas psicológicos como depressão e ansiedade77 Baker KD, Loughman A, Spencer SJ, Reichelt AC. The impact of obesity and hypercaloric diet consumption on anxiety and emotional behavior across the lifespan. Neurosci Biobehav Rev 2017; 83:173-182.,88 Luiz AMAG, Gorayeb R, Liberatore Júnior RDR, Domingos, NAM. Depressão, ansiedade e competência social em crianças obesas. Estud psicol (Natal) 2005; 10(1):35-39.,1111 Pryor L, Brendgen M, Boivin M, Dubois L, Japel C, Falissard B, Tremblay RE, Côté SM. Overweight during childhood and internalizing symptoms in early adolescence: The mediating role of peer victimization and the desire to be thinner. J Affect Disord 2016; 15(202):203-209.. As crianças e os adolescentes com excesso de peso tendem a apresentar maior insatisfação com o corpo e desejo de serem magros1111 Pryor L, Brendgen M, Boivin M, Dubois L, Japel C, Falissard B, Tremblay RE, Côté SM. Overweight during childhood and internalizing symptoms in early adolescence: The mediating role of peer victimization and the desire to be thinner. J Affect Disord 2016; 15(202):203-209.,1212 Michels N, Amenyah SD.Body size ideals and dissatisfaction in Ghanaian adolescents: role of media, lifestyle and well-being. Public Health 2017; 146:65-74..

As projeções do que seria considerado um corpo ideal diferem entre os sexos. Nas meninas, observa-se o anseio por um corpo magro, condizente com a idealização imposta nas representações sociais. O corpo feminino também deve ser bonito, atraente, esbelto, saudável e apresentar estatura mediana1313 Secchi K, Camargo BV, Bertoldo RB. Percepção da Imagem Corporal e Representações Sociais do Corpo. Psic: Teor e Pesq 2009; 25(2):229-236.,1414 Duca GFD, Garcia LMT, Sousa TF, Oliveira ESA, Nahas, MV. Insatisfação com o peso corporal e fatores associados em adolescentes. Rev Paul Pediatr 2010; 28(4):340-346.. Quanto ao sexo masculino, as expectativas refletem um padrão de corpo alto, com ombros largos, musculatura bem definida e enrijecida, especialmente nos bíceps e no abdômen1414 Duca GFD, Garcia LMT, Sousa TF, Oliveira ESA, Nahas, MV. Insatisfação com o peso corporal e fatores associados em adolescentes. Rev Paul Pediatr 2010; 28(4):340-346.,1515 Silva MLA, Taquette SR, Coutinho ESF. Senses of body image in adolescents in elementary school. Rev Saude Publica 2014; 48(3):438-444..

Apesar de a imagem corporal ser considerada importante e existir uma expectativa de alcançar um padrão corporal que corresponda às representações sociais, muitos adolescentes estão com excesso de peso e nada fazem para modificá-lo. O excesso de peso e a preocupação demasiada com a aparência física podem gerar prejuízos à saúde, portanto o objetivo deste estudo foi estimar as prevalências do estado nutricional e da insatisfação com o peso corporal em adolescentes de 10 a 19 anos, partindo da hipótese de que a insatisfação com o peso difere entre os segmentos de sexo, idade e estado nutricional.

Métodos

Trata-se de um estudo transversal de base populacional que utilizou dados do Inquérito de Saúde do município de Campinas, São Paulo (ISACamp, 2008-2009). O inquérito foi desenvolvido com a população não institucionalizada, residente na área urbana de Campinas, no período de 2008 a 2009.

A amostra foi determinada por procedimentos de amostragem probabilística, por conglomerado e em dois estágios: setor censitário e domicílio. No primeiro estágio foram sorteados 50 setores censitários com probabilidade proporcional ao tamanho (número de domicílios). Foram utilizados os setores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Censo Demográfico de 2000. Considerando o tempo decorrido entre o Censo e a realização da pesquisa, foi feito o arrolamento dos domicílios dos setores selecionados para a obtenção de uma listagem atualizada de endereços. No segundo estágio procedeu-se o sorteio dos domicílios.

A população do inquérito foi composta por três domínios de idade: adolescentes (10 a 19 anos), adultos (20 a 59 anos) e idosos (60 anos ou mais). O tamanho da amostra foi obtido levando em conta uma prevalência de 50%, nível de confiança de 95%, erro de amostragem entre 4 e 5 pontos percentuais e um efeito de delineamento igual a 2, totalizando 1.000 pessoas em cada domínio de idade. Prevendo uma taxa de resposta de 80%, a amostra foi corrigida para 1.250. Para atingir o tamanho amostral desejado foram sorteados, de forma independente, 2.150, 700 e 3.900 domicílios para entrevistas com adolescentes, adultos e idosos, respectivamente.

As informações foram coletadas por meio de um questionário estruturado em 14 blocos temáticos, testado em estudo piloto, e aplicado por entrevistadores treinados e supervisionados no campo. O bloco temático sobre hábito alimentar continha perguntas sobre peso e altura referidos, se desejava modificar o peso, quanto gostaria de pesar e práticas realizadas para a perda de peso.

No presente estudo optou-se por analisar os dados de adolescentes de 10 a 19 anos, que foram divididos em grupos de idade de 10 a 14 e 15 a 19 anos. Esta classificação considera que dos 10 a 14 anos, a maioria dos adolescentes está no início ou no meio da puberdade, e que dos 15 a 19 anos grande parte já passou pela puberdade, estando mais perto da adultícia. As entrevistas foram aplicadas diretamente aos adolescentes e podiam ter ou não a participação dos pais. A variável dependente foi obtida por meio das questões:

1. Você gostaria de ganhar ou perder peso? (não; sim, de ganhar; sim, de perder). Se a resposta foi que sim, perguntava-se:

2. Quanto você gostaria de pesar?

Foram considerados insatisfeitos com o peso os adolescentes que responderam que gostariam de ganhar ou perder peso. Os que desejavam perder peso foram categorizados em dois grupos: os que queriam reduzir < 10% e ≥ 10% do peso referente à época da pesquisa. O ponto de corte foi definido pelos autores deste estudo, sendo o que apresentou melhor distribuição para os dados disponíveis.

As variáveis independentes analisadas neste estudo foram:

Demográficas e socioeconômicas: sexo (masculino, feminino), faixa etária (10 a 14, 15 a 19 anos), renda familiar mensal per capita em salários mínimos (< 1, ≥ 1 a < 2, ≥ 2) e escolaridade do chefe de família em anos de estudo (0 a 7, 8 a 11, 12 ou mais).

Índice de Massa Corporal (IMC): calculado com informações referidas de peso e altura [IMC= peso (kg)/altura2 (m)]. Foram utilizados os pontos de corte do percentil (P) de IMC para idade, propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os adolescentes foram classificados em: baixo peso (< P3), eutrofia (≥ P3 e ≤ P85), sobrepeso (> P85 e ≤ P97) e obesidade (> P97)1616 de Onis M, Onyango AW, Borghi E, Siyam A, Nishida C, Siekmann J. Development of a WHO growth reference for school-aged children and adolescents. Bull World Health Organ 2007; 85(9):660-667..

Nas análises estatísticas, inicialmente foram estimadas as prevalências e os intervalos de confiança de 95% (IC95%) do estado nutricional dos adolescentes segundo as variáveis sociodemográficas. Em seguida, foram calculadas as prevalências de satisfação e insatisfação com o peso segundo o estado nutricional, sexo e idade. As associações foram verificadas pelo teste de qui-quadrado de Rao Scott com nível de significância de 5%.

Os dados foram digitados em banco elaborado com o uso do Epidata 3.1 (EpiData Association, Odense, Dinamarca) e as análises estatísticas foram realizadas no módulo svy do programa Stata 14.0 (Stata Corporation, College Station, Texas, Estados Unidos), que permite a análise de dados de amostras complexas.

O projeto deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas. O termo de consentimento foi assinado pelos pais ou responsáveis dos adolescentes menores de 18 anos.

Resultados

Foram analisados 822 adolescentes com idade média de 14,1 anos (IC95%: 13,8-14,3). Entre os meninos, 64,7% apresentaram eutrofia, 17,1% sobrepeso e 13,3% obesidade. Entre as meninas, 75,4% foram classificadas com eutrofia, 15,3% e 6,9% com sobrepeso e obesidade, respectivamente. Comparado ao sexo masculino, o feminino revelou uma prevalência significativamente maior de eutrofia e menor de obesidade (Tabela 1).

Tabela 1
Prevalência do estado nutricional de adolescentes de 10 a 19 anos segundo sexo, faixa etária, renda familiar per capita e escolaridade do chefe de família. Inquérito de Saúde no Município de Campinas (ISACamp, 2008/2009).

Observaram-se diferenças significativas em relação à idade (p < 0,001), tendo os adolescentes de 15 a 19 anos prevalência mais elevada de eutrofia (79,0%) e mais baixa de sobrepeso (12,1%) e obesidade (5,5%). Não foram detectadas diferenças significativas na associação do estado nutricional com as variáveis renda familiar per capita e escolaridade do chefe da família (Tabela 1).

Constatou-se que 51,2% dos adolescentes estavam satisfeitos com o peso, 14,3% desejavam ganhar peso, 16,2% queriam perder < 10% e 18,3% ≥ 10% do peso corporal. Ao analisar somente os indivíduos de 10 a 14 anos que estavam satisfeitos com o peso, notou-se que 63,9% apresentavam eutrofia, 58,2% sobrepeso e 30,3% obesidade (Tabela 2).

Tabela 2
Prevalência de satisfação e insatisfação com o peso corporal em adolescentes de 10 a 19 anos. Inquérito de Saúde no Município de Campinas (ISACamp, 2008/2009).

Para os adolescentes de 15 a 19 anos, foram encontradas maiores prevalências de insatisfação com o peso em todos os estados nutricionais. Dos insatisfeitos com o peso, 50,2% eram eutróficos, 75,2% tinham sobrepeso e 95,5% obesidade. Dentre os satisfeitos com seu peso, 49,8% estavam com o peso adequado, 24,7% e 4,4% foram classificados com sobrepeso e obesidade, respectivamente (Tabela 2).

Dentre os meninos obesos, 22,9% disseram estar satisfeitos com o peso, 28,2% estavam na faixa etária dos 10 a 14 anos e 6,9% dos 15 a 19 anos, evidenciando maior satisfação nos obesos mais jovens. Dentre os que almejavam perder peso, 77,1% eram obesos, 71,6% tinham de 10 a 14 anos e 93,0% de 15 a 19 anos (Tabela 2).

Em relação às meninas obesas, 24,9% estavam satisfeitas com o peso e 34,7% tinham de 10 a 14 anos. Gostariam de mudar o peso, 75,2% das obesas, sendo que 65,2% eram mais jovens (10-14 anos) e 99,9% eram mais velhas (15-19 anos). Foram observadas diferenças estatisticamente significantes na análise dos estados nutricionais segundo os estratos de sexo e idade (Tabela 2).

Discussão

A presente pesquisa verificou elevada prevalência de sobrepeso e obesidade nos adolescentes, especialmente no sexo masculino e nos mais jovens (10 a 14 anos). Menores prevalências de satisfação com o peso foram encontradas no sexo feminino e nos adolescentes de 15 a 19 anos.

Quanto às prevalências de excesso de peso, 17,1% dos meninos tinham sobrepeso e 13,3% obesidade, enquanto que entre as meninas, 15,3% estavam com sobrepeso e 6,9% com obesidade. Estes valores encontram-se acima do esperado para os pontos de corte dos percentis de IMC para idade (> P85), que seriam de 12,0% para sobrepeso e 2,9% para obesidade1616 de Onis M, Onyango AW, Borghi E, Siyam A, Nishida C, Siekmann J. Development of a WHO growth reference for school-aged children and adolescents. Bull World Health Organ 2007; 85(9):660-667.. Dados nacionais oriundos da Pesquisa de Orçamentos Familiares (2008-2009) apontam que 15,7% dos meninos estavam com sobrepeso e 5,8% com obesidade, enquanto que entre as meninas, 15,4% apresentavam sobrepeso e 4,0% obesidade66 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: Antropometria e Estado Nutricional de Crianças, Adolescentes e Adultos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2010. [acessado 2017 Set 15]. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv45419.pdf. Portanto, no município de Campinas, foram detectadas prevalências superiores de sobrepeso e obesidade em relação aos parâmetros nacionais, exceto para meninas com sobrepeso. Resultados da PeNSE (2009) revelaram que 16,0% dos escolares que frequentavam o 9º ano do ensino fundamental tinham sobrepeso e 7,2% obesidade1717 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2009. Avaliação do Estado Nutricional dos Escolares do 9º Ano do Ensino Fundamental. Rio de Janeiro: IBGE; 2010. [acessado 2017 Set 15]. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv45415.pdf
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizac...
, valores próximos aos identificados no presente estudo (16,2% de sobrepeso e 10,2% de obesidade).

Os resultados deste estudo apontam nos meninos maiores prevalências de sobrepeso e obesidade em relação às meninas. Estudo de revisão sistemática, que analisou a tendência do sobrepeso e obesidade entre 1980 e 2013, encontrou no Canadá maior prevalência de excesso de peso no sexo masculino (25,5% versus 22,0%), enquanto que nos Estados Unidos verificou-se maior percentual no feminino (29,7% versus 28,8%), mas sem diferenças significativas33 Ng M, Fleming T, Robinson M, Thomson B, Graetz N, Margono C, Mullany EC, Biryukov S, Abbafati C, Abera SF, Abraham JP, Abu-Rmeileh NM, Achoki T, AlBuhairan FS, Alemu ZA, Alfonso R, Ali MK, Ali R, Guzman NA, Ammar W, Anwari P, Banerjee A, Barquera S, Basu S, Bennett DA, Bhutta Z, Blore J, Cabral N, Nonato IC, Chang JC, Chowdhury R, Courville KJ, Criqui MH, Cundiff DK, Dabhadkar KC, Dandona L, Davis A, Dayama A, Dharmaratne SD, Ding EL, Durrani AM, Esteghamati A, Farzadfar F, Fay DF, Feigin VL, Flaxman A, Forouzanfar MH, Goto A, Green MA, Gupta R, Hafezi-Nejad N, Hankey GJ, Harewood HC, Havmoeller R, Hay S, Hernandez L, Husseini A, Idrisov BT, Ikeda N, Islami F, Jahangir E, Jassal SK, Jee SH, Jeffreys M, Jonas JB, Kabagambe EK, Khalifa SE, Kengne AP, Khader YS, Khang YH, Kim D, Kimokoti RW, Kinge JM, Kokubo Y, Kosen S, Kwan G, Lai T, Leinsalu M, Li Y, Liang X, Liu S, Logroscino G, Lotufo PA, Lu Y, Ma J, Mainoo NK, Mensah GA, Merriman TR, Mokdad AH, Moschandreas J, Naghavi M, Naheed A, Nand D, Narayan KM, Nelson EL, Neuhouser ML, Nisar MI, Ohkubo T, Oti SO, Pedroza A, Prabhakaran D, Roy N, Sampson U, Seo H, Sepanlou SG, Shibuya K, Shiri R, Shiue I, Singh GM, Singh JA, Skirbekk V, Stapelberg NJ, Sturua L, Sykes BL, Tobias M, Tran BX, Trasande L, Toyoshima H, van de Vijver S, Vasankari TJ, Veerman JL, Velasquez-Melendez G, Vlassov VV, Vollset SE, Vos T, Wang C, Wang X, Weiderpass E, Werdecker A, Wright JL, Yang YC, Yatsuya H, Yoon J, Yoon SJ, Zhao Y, Zhou M, Zhu S, Lopez AD, Murray CJ. Global, regional, and national prevalence of overweight and obesity in children and adults during 1980-2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013. Lancet 2014; 384(9945):766-781..

Foi observado que as meninas apresentaram prevalência superior de eutrofia e inferior de satisfação com o peso. Este achado pode ser explicado pelo fato de que as adolescentes são mais preocupadas com a aparência, almejam demasiadamente a magreza, são mais atentas e influenciadas por propagandas e opiniões dos amigos, enquanto que os rapazes acabam por internalizarem o seu ideal por corpos maiores e musculosos e não manifestarem sua preocupação com o corpo1818 Toro J, Gila A, Castro J, Pombo C, Guete O. Body image, risk factors for eating disorders and sociocultural influences in Spanish adolescents. Eat Weight Disord 2005; 10(2):91-97.,1919 Hargreaves DA, Tiggemann M. 'Body image is for girls': a qualitative study of boys' body image. J Health Psychol 2006; 11(4):567-576.. No entanto, os achados da PeNSE (2009) revelam que as meninas eram mais expostas à práticas alimentares inadequadas, tendo frequências superiores de consumo regular (≥ 5 dias da semana) de guloseimas, biscoitos doces, embutidos, e inferiores de leite, feijão e do hábito de almoçar ou jantar com a mãe ou responsável2020 Levy RB, Castro IR, Cardoso LO, Tavares LF, Sardinha LM, Gomes FS, Costa AW. Food consumption and eating behavior among Brazilian adolescents: National Adolescent School-based Health Survey (PeNSE), 2009. Cien Saude Colet 2010; 15(Supl. 2):3085-3097.. Estudo desenvolvido em um município do Paraná com 2.562 escolares de 14 a 19 anos revelou que comparados às meninas, os meninos consumiam mais frutas, feijão e leite, e realizavam as principais refeições do dia2121 Costa M, Cordoni Júnior L, Matsuo T. Hábito alimentar de escolares adolescentes de um município do oeste do Paraná. Rev Nutr 2007; 20(5):461-471.. A omissão de refeições é um comportamento inadequado, frequentemente adotado por pessoas do sexo feminino na tentativa de reduzir o peso2222 Miranda VP, Conti MA, Carvalho PH, Bastos RR, Ferreira ME. Body image in different periods of adolescence. Rev Paul Pediatr 2014; 32(1):63-69..

Quanto à idade, os adolescentes de 10 a 14 anos tiveram prevalências superiores de sobrepeso e obesidade. Contudo, o segmento de 15 a 19 anos foi o que apresentou maior percentual de insatisfação com o peso, em todos os estados nutricionais. Já entre os adolescentes de 10 a 14 anos, apenas os obesos revelaram maior prevalência de insatisfação com o peso (69,6% desejavam ganhar ou perder peso), indicando que os mais velhos eram mais preocupados com o peso. Resultados similares foram encontrados por outras pesquisas, em que meninos de 15 a 19 anos tiveram menores prevalências de sobrepeso e obesidade do que os de 10 a 14 anos2323 Neutzling MB, Taddei JA, Rodrigues EM, Sigulem DM. Overweight and obesity in Brazilian adolescents. Int J Obes Relat Metab Disord 2000; 24(7):869-874. e meninas pós-púberes (12 a 14 anos) revelaram-se mais insatisfeitas com o corpo quando comparadas às pré-púberes (10 a 11 anos), pois houve maior interesse, preocupação e atenção nas características corporais que atraem o sexo oposto, tornando as meninas mais suscetíveis à insatisfação corporal2424 Conti M, Gambardella A, Frutuoso M. Insatisfação com a imagem corporal em adolescentes e sua relação com a maturação sexual. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum 2005; 15(2):36-44.. Em geral, com o avançar da idade, os adolescentes tornam-se mais críticos em relação a si mesmos e mais preocupados com a aparência2525 Oliveira TRPR, Cunha CF. Aspectos cognitivos e emocionais de adolescentes com excesso de peso e seus responsáveis. Rev Med Minas Gerais 2008; 18(4 Supl. 1):S13-S19..

Verificou-se que 48,8% dos adolescentes avaliados desejavam perder ou ganhar peso. Ao analisar a insatisfação com a imagem corporal, Conti et al.2424 Conti M, Gambardella A, Frutuoso M. Insatisfação com a imagem corporal em adolescentes e sua relação com a maturação sexual. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum 2005; 15(2):36-44. revelaram que independente do sexo, os adolescentes demonstraram preocupação com o peso, tamanho corporal e aparência; as áreas corporais de maior insatisfação foram o peso, o estômago e as coxas para os meninos e o peso, o tórax/seio e o estômago para as meninas. Estudo realizado com 573 adolescentes eutróficos de Campinas, SP, detectou uma prevalência de insatisfação com o peso de 43,8% (IC95%: 37,9-49,8), mostrando-se ainda maior nas meninas, nos indivíduos de 15 a 19 anos, nos que possuíam maior número de equipamentos domésticos na residência, nos ex-fumantes, nos que ingeriam bebidas alcoólicas e nos que relataram o diagnóstico médico de doenças crônicas2626 Martini MCS, Assumpção D, Barros MBA, Canesqui AM, Barros Filho AA. Are normal-weight adolescents satisfied with their weight? Sao Paulo Med J 2016; 134(3):219-227.. Pesquisa conduzida em Caruaru, PE, revelou que 80,8% das moças e 59,5% dos rapazes com sobrepeso/obesidade almejavam reduzir o peso2727 Santos EMC, Tassitano RM, Nascimento WMF, Petribú MMV, Cabral PC. Satisfação com o peso corporal e fatores associados em estudantes do ensino médio. Rev Paul Pediatr 2011; 29(2):214-223., valores mais elevados do que os observados neste estudo.

Pesquisa realizada em Vitória, ES, verificou que 86,0% dos adolescentes eram eutróficos e 14,0% tinham sobrepeso, mas que 62,7% desejavam perder peso, 23,2% ganhar peso e 14,0% gostariam de ganhar massa muscular, evidenciando que os indivíduos estudados não apresentavam uma percepção corporal condizente com os resultados encontrados na avaliação nutricional2828 Braga PD, Molina MCB, Cade NV. Expectativas de adolescentes em relação a mudanças do perfil nutricional. Cien Saude Colet 2007; 12(5):1221-1228.. Outro estudo conduzido com 831 escolares do 8º ano do ensino fundamental de Porto Velho, RO, identificou maior insatisfação com a imagem corporal no sexo feminino e nos indivíduos com sobrepeso ou obesidade. Ainda, os escolares que estavam com baixo peso demostraram-se mais satisfeitos do que os eutróficos2929 Evangelista LA, Aerts D, Alves GG, Palazzo L, Câmara S, Jacob MH. Percepção da imagem corporal em escolares do norte do Brasil. J Hum Growth Dev 2016; 26(3):385-392.. Ao avaliar mais de nove mil alunos do ensino médio da Nova Zelândia, pesquisa revelou que 60,6% (IC95%: 59,1-62,1) dos meninos e 38,5% (IC95%: 37,2-39,9) das meninas estavam felizes com o peso, e que a satisfação corporal era maior nos segmentos que tinham amigos para conversar, amigos que se importavam com alimentação saudável e atividade física, nos que faziam as refeições junto com os familiares, nos que tinham pais que estimulavam a prática de exercícios físicos e a adoção de uma dieta saudável, e naqueles que não eram provocados pela família por causa do peso3030 Wood A, Utter J, Robinson E, Ameratunga S, Fleming T, Denny S. Body weight satisfaction among New Zealand adolescents: findings from a national survey. Int J Adolesc Med Health 2012; 24(2):161-167..

A influência da mídia nos adolescentes por meio de uma padronização do modelo de beleza e redução do tamanho de manequins pode desencadear problemas físicos e emocionais, tais como o descontentamento corporal, a não aceitação do próprio corpo e o desejo constante de modificações (como cirurgias plásticas), a distorção da imagem corporal e os distúrbios alimentares, especialmente anorexia e bulimia nervosas3131 Le Breton D. Adeus ao corpo: antropologia e sociedade. Campinas: Papirus; 2003.. Vale ressaltar que a distorção da imagem corporal, superestimando ou subestimando o tamanho e/ou a forma corporal configura um problema frequente em muitos adolescentes2424 Conti M, Gambardella A, Frutuoso M. Insatisfação com a imagem corporal em adolescentes e sua relação com a maturação sexual. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum 2005; 15(2):36-44..

Dentre as limitações deste estudo, destaca-se a utilização de informações autorreferidas de peso e altura em adolescentes que vivenciam constantes transformações corporais, com rápido crescimento e desenvolvimento físico. Contudo, diversas pesquisas apontam boa concordância entre as medidas aferidas e referidas de peso e altura neste segmento, considerando válida a utilização de informações autorreferidas em estudos epidemiológicos3232 Farias Júnior JC. Validade das medidas auto-referidas de peso e estatura para o diagnóstico do estado nutricional de adolescentes. Rev Bras Saúde Matern Infant 2007; 7(2):167-174.,3333 Pursey K, Burrows TL, Stanwell P, Collins CE. How accurate is web-based self-reported height, weight, and body mass index in young adults? J Med Internet Res 2014; 16(1):e4.. Ainda, a insatisfação com o peso corporal não foi medida por meio de uma escala, mas por uma pergunta fechada que verificava se o adolescente gostaria de ganhar ou perder peso. Entre as forças deste estudo constam a utilização de dados provenientes de um inquérito de base populacional e o delineamento de uma análise minuciosa para identificar as diferenças sociodemográficas quanto ao estado nutricional e a in(sa­tisfação) com o peso corporal. Outro diferencial refere-se à categorização dos insatisfeitos que gostariam de perder peso de acordo com a redução desejada (< 10% ou ≥ 10% do peso corporal).

É válido mencionar que o Brasil elaborou um Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis, estabelecendo compromissos e investimentos para reduzir a prevalência de obesidade em adolescentes3434 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Brasília: MS; 2011. [acessado 2017 Set 15]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...
, no período de 2011 a 2022. Outra medida de grande importância refere-se à Estratégia Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade, que propõe recomendações para estados e municípios por meio de ações intersetoriais, participação da sociedade civil, alimentação saudável, prática regular de atividade física e fiscalização de publicidade, principalmente em escolas e locais frequentados por adolescentes3535 Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Estratégia Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade: recomendações para estados e municípios. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; 2014..

A insatisfação com o peso corporal pode induzir comportamentos inadequados à saúde e interferir no crescimento e no desenvolvimento dos adolescentes. Os resultados desta pesquisa podem contribuir para a discussão e o planejamento de políticas públicas e podem auxiliar os profissionais da saúde na compreensão dos anseios e das angústias de cada adolescente em relação ao seu peso. Concluindo, observou-se elevada prevalência de excesso de peso, especialmente nos adolescentes do sexo masculino e naqueles com idade entre 10 e 14 anos. Não foram observadas diferenças entre o estado nutricional segundo a renda familiar per capita e o nível de escolaridade do chefe da família. Maiores prevalências de insatisfação com o peso foram identificadas no sexo feminino e nos indivíduos de 15 a 19 anos.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo financiamento da pesquisa e pela bolsa de Mestrado de MCS Martini e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pela bolsa de produtividade de MBA Barros.

À Secretaria Municipal de Saúde de Campinas e à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, pelo apoio financeiro à pesquisa de campo do ISACamp 2008-2009.

Referências

  • 1
    Sahoo K, Sahoo B, Choudhury AK, Sofi NY, Kumar R, Bhadoria AS. Childhood obesity: causes and consequences. J Family Med Prim Care 2015; 4(2):187-192.
  • 2
    Lobstein T, Baur L, Uauy R. Obesity in children and young people: a crisis in public health. Obes Rev 2004; 5(Supl. 1):4-85.
  • 3
    Ng M, Fleming T, Robinson M, Thomson B, Graetz N, Margono C, Mullany EC, Biryukov S, Abbafati C, Abera SF, Abraham JP, Abu-Rmeileh NM, Achoki T, AlBuhairan FS, Alemu ZA, Alfonso R, Ali MK, Ali R, Guzman NA, Ammar W, Anwari P, Banerjee A, Barquera S, Basu S, Bennett DA, Bhutta Z, Blore J, Cabral N, Nonato IC, Chang JC, Chowdhury R, Courville KJ, Criqui MH, Cundiff DK, Dabhadkar KC, Dandona L, Davis A, Dayama A, Dharmaratne SD, Ding EL, Durrani AM, Esteghamati A, Farzadfar F, Fay DF, Feigin VL, Flaxman A, Forouzanfar MH, Goto A, Green MA, Gupta R, Hafezi-Nejad N, Hankey GJ, Harewood HC, Havmoeller R, Hay S, Hernandez L, Husseini A, Idrisov BT, Ikeda N, Islami F, Jahangir E, Jassal SK, Jee SH, Jeffreys M, Jonas JB, Kabagambe EK, Khalifa SE, Kengne AP, Khader YS, Khang YH, Kim D, Kimokoti RW, Kinge JM, Kokubo Y, Kosen S, Kwan G, Lai T, Leinsalu M, Li Y, Liang X, Liu S, Logroscino G, Lotufo PA, Lu Y, Ma J, Mainoo NK, Mensah GA, Merriman TR, Mokdad AH, Moschandreas J, Naghavi M, Naheed A, Nand D, Narayan KM, Nelson EL, Neuhouser ML, Nisar MI, Ohkubo T, Oti SO, Pedroza A, Prabhakaran D, Roy N, Sampson U, Seo H, Sepanlou SG, Shibuya K, Shiri R, Shiue I, Singh GM, Singh JA, Skirbekk V, Stapelberg NJ, Sturua L, Sykes BL, Tobias M, Tran BX, Trasande L, Toyoshima H, van de Vijver S, Vasankari TJ, Veerman JL, Velasquez-Melendez G, Vlassov VV, Vollset SE, Vos T, Wang C, Wang X, Weiderpass E, Werdecker A, Wright JL, Yang YC, Yatsuya H, Yoon J, Yoon SJ, Zhao Y, Zhou M, Zhu S, Lopez AD, Murray CJ. Global, regional, and national prevalence of overweight and obesity in children and adults during 1980-2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013. Lancet 2014; 384(9945):766-781.
  • 4
    Brasil. Ministério da Saúde (MS). Vigitel Brasil 2016: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico Brasília: MS; 2017.
  • 5
    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Rio de Janeiro: IBGE; 2016.
  • 6
    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: Antropometria e Estado Nutricional de Crianças, Adolescentes e Adultos no Brasil Rio de Janeiro: IBGE; 2010. [acessado 2017 Set 15]. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv45419.pdf
  • 7
    Baker KD, Loughman A, Spencer SJ, Reichelt AC. The impact of obesity and hypercaloric diet consumption on anxiety and emotional behavior across the lifespan. Neurosci Biobehav Rev 2017; 83:173-182.
  • 8
    Luiz AMAG, Gorayeb R, Liberatore Júnior RDR, Domingos, NAM. Depressão, ansiedade e competência social em crianças obesas. Estud psicol (Natal) 2005; 10(1):35-39.
  • 9
    Güngör NK. Overweight and obesity in children and adolescents. J Clin Res Pediatr Endocrinol 2014; 6(3):129-143.
  • 10
    Goldhaber-Fiebert JD, Rubinfeld RE, Bhattacharya J, Robinson TN, Wise PH. The utility of childhood and adolescent obesity assessment in relation to adult health. Med Decis Making 2013; 33(2):163-175.
  • 11
    Pryor L, Brendgen M, Boivin M, Dubois L, Japel C, Falissard B, Tremblay RE, Côté SM. Overweight during childhood and internalizing symptoms in early adolescence: The mediating role of peer victimization and the desire to be thinner. J Affect Disord 2016; 15(202):203-209.
  • 12
    Michels N, Amenyah SD.Body size ideals and dissatisfaction in Ghanaian adolescents: role of media, lifestyle and well-being. Public Health 2017; 146:65-74.
  • 13
    Secchi K, Camargo BV, Bertoldo RB. Percepção da Imagem Corporal e Representações Sociais do Corpo. Psic: Teor e Pesq 2009; 25(2):229-236.
  • 14
    Duca GFD, Garcia LMT, Sousa TF, Oliveira ESA, Nahas, MV. Insatisfação com o peso corporal e fatores associados em adolescentes. Rev Paul Pediatr 2010; 28(4):340-346.
  • 15
    Silva MLA, Taquette SR, Coutinho ESF. Senses of body image in adolescents in elementary school. Rev Saude Publica 2014; 48(3):438-444.
  • 16
    de Onis M, Onyango AW, Borghi E, Siyam A, Nishida C, Siekmann J. Development of a WHO growth reference for school-aged children and adolescents. Bull World Health Organ 2007; 85(9):660-667.
  • 17
    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2009. Avaliação do Estado Nutricional dos Escolares do 9º Ano do Ensino Fundamental Rio de Janeiro: IBGE; 2010. [acessado 2017 Set 15]. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv45415.pdf
    » http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv45415.pdf
  • 18
    Toro J, Gila A, Castro J, Pombo C, Guete O. Body image, risk factors for eating disorders and sociocultural influences in Spanish adolescents. Eat Weight Disord 2005; 10(2):91-97.
  • 19
    Hargreaves DA, Tiggemann M. 'Body image is for girls': a qualitative study of boys' body image. J Health Psychol 2006; 11(4):567-576.
  • 20
    Levy RB, Castro IR, Cardoso LO, Tavares LF, Sardinha LM, Gomes FS, Costa AW. Food consumption and eating behavior among Brazilian adolescents: National Adolescent School-based Health Survey (PeNSE), 2009. Cien Saude Colet 2010; 15(Supl. 2):3085-3097.
  • 21
    Costa M, Cordoni Júnior L, Matsuo T. Hábito alimentar de escolares adolescentes de um município do oeste do Paraná. Rev Nutr 2007; 20(5):461-471.
  • 22
    Miranda VP, Conti MA, Carvalho PH, Bastos RR, Ferreira ME. Body image in different periods of adolescence. Rev Paul Pediatr 2014; 32(1):63-69.
  • 23
    Neutzling MB, Taddei JA, Rodrigues EM, Sigulem DM. Overweight and obesity in Brazilian adolescents. Int J Obes Relat Metab Disord 2000; 24(7):869-874.
  • 24
    Conti M, Gambardella A, Frutuoso M. Insatisfação com a imagem corporal em adolescentes e sua relação com a maturação sexual. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum 2005; 15(2):36-44.
  • 25
    Oliveira TRPR, Cunha CF. Aspectos cognitivos e emocionais de adolescentes com excesso de peso e seus responsáveis. Rev Med Minas Gerais 2008; 18(4 Supl. 1):S13-S19.
  • 26
    Martini MCS, Assumpção D, Barros MBA, Canesqui AM, Barros Filho AA. Are normal-weight adolescents satisfied with their weight? Sao Paulo Med J 2016; 134(3):219-227.
  • 27
    Santos EMC, Tassitano RM, Nascimento WMF, Petribú MMV, Cabral PC. Satisfação com o peso corporal e fatores associados em estudantes do ensino médio. Rev Paul Pediatr 2011; 29(2):214-223.
  • 28
    Braga PD, Molina MCB, Cade NV. Expectativas de adolescentes em relação a mudanças do perfil nutricional. Cien Saude Colet 2007; 12(5):1221-1228.
  • 29
    Evangelista LA, Aerts D, Alves GG, Palazzo L, Câmara S, Jacob MH. Percepção da imagem corporal em escolares do norte do Brasil. J Hum Growth Dev 2016; 26(3):385-392.
  • 30
    Wood A, Utter J, Robinson E, Ameratunga S, Fleming T, Denny S. Body weight satisfaction among New Zealand adolescents: findings from a national survey. Int J Adolesc Med Health 2012; 24(2):161-167.
  • 31
    Le Breton D. Adeus ao corpo: antropologia e sociedade Campinas: Papirus; 2003.
  • 32
    Farias Júnior JC. Validade das medidas auto-referidas de peso e estatura para o diagnóstico do estado nutricional de adolescentes. Rev Bras Saúde Matern Infant 2007; 7(2):167-174.
  • 33
    Pursey K, Burrows TL, Stanwell P, Collins CE. How accurate is web-based self-reported height, weight, and body mass index in young adults? J Med Internet Res 2014; 16(1):e4.
  • 34
    Brasil. Ministério da Saúde (MS). Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022 Brasília: MS; 2011. [acessado 2017 Set 15]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf
    » http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf
  • 35
    Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Estratégia Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade: recomendações para estados e municípios Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; 2014.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Mar 2020
  • Data do Fascículo
    Mar 2020

Histórico

  • Recebido
    02 Abr 2018
  • Aceito
    14 Jul 2018
  • Publicado
    16 Jul 2018
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revscol@fiocruz.br