Desafios da imunização contra COVID-19 na saúde pública: das fake news à hesitação vacinal

Gabriela Martins Silva Antonia Aline Rocha de Sousa Sabrina Maria Carreiro Almeida Itamara Carvalho de Sá Fátima Rosane Barros José Edson Santana Sousa Filho José Mateus Bezerra da Graça Nathanael de Souza Maciel Alex Silva de Araujo Cidianna Emanuelly Melo do Nascimento Sobre os autores

Resumo

O objetivo deste artigo é sintetizar artigos que abordam fake news e hesitação vacinal contra a COVID-19 no contexto de saúde pública. Revisão integrativa que incluiu estudos originais indexados nas bases de dados Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde; Medical Literature Analysis and Retrieval System Online; Scopus; Web of Science e Embase, publicados em qualquer idioma, entre 2019 e 2022. A análise crítica foi realizada na forma descritiva, consoante à pergunta de pesquisa e ao objetivo da revisão. Foram selecionados 11 artigos, com predomínio de estudos transversais. Relacionaram-se ao processo de adesão à vacinação: gênero, idade, estado civil, escolaridade, posicionamento político, religião, confiança em autoridades de saúde, percepção de efeitos colaterais e eficácia das vacinas, entre outros. Hesitação e desinformação são os principais entraves para se alcançar a cobertura vacinal em muitos países. Todos os estudos abordam a relação entre baixa intenção de imunização e uso de mídias sociais como fonte de informação sobre o SARS-CoV-2. É necessário aumentar a confiança na segurança e eficácia das vacinas. A melhor compreensão dos benefícios da vacinação para COVID-19 é imprescindível para combater a hesitação e ampliar a adesão vacinal.

Palavras-chave:
COVID-19; Educação em saúde; Desinformação; Saúde pública; Vacinação

Introdução

Os primeiros casos de infecção pelo novo coronavírus apareceram na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019. Estavam sendo diagnosticados como pneumonia grave de etiologia desconhecida, após análise de amostras respiratórias dos doentes, foi identificado um novo vírus, o SARS-CoV-2. A doença que ele origina, COVID-19, é uma infecção viral transmitida por meio de gotículas respiratórias ou aerossóis de pessoas infectadas11 Organização Mundial da Saúde (OMS). Timeline: WHO response COVID-19. Geneva: WHO; 2019..

Diante da rápida disseminação da doença em todos os continentes, a Organização Mundial de Saúde (OMS)11 Organização Mundial da Saúde (OMS). Timeline: WHO response COVID-19. Geneva: WHO; 2019. declarou o estado de contaminação como pandemia em 11 de março de 2020. Desde então, emergiram várias recomendações para tentar conter esse problema, bem como propostas para a aceleração de vacinas, medidas terapêuticas e diagnósticos22 Oliveira LMS, Gomes NP, Oliveira ES, Santos AA, Pedreira LC. Estratégia de enfrentamento para covid-19 na atenção primária à saúde: relato de experiência em Salvador-BA. Rev Gaucha Enferm 2021; 42(Esp.):e20200138..

Ainda em 2020, os Estados Unidos e alguns países europeus receberam autorização para as primeiras vacinas de uso emergencial para COVID-19. No Brasil, o uso emergencial foi autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em janeiro de 2021 e o imunizante começou a ser aplicado em fevereiro do mesmo ano33 Castro R. Vacinas contra a COVID-19: o fim da pandemia? Phisys 2021; 31(1):e310100..

O Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a COVID-19 definiu, a princípio, como grupos prioritários: preexistência de comorbidades, síndrome de Down, idade superior a 60 anos e indivíduos imunossuprimidos, considerando o risco de agravamento e óbito dessa parte da população44 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a COVID-19. Brasília: MS; 2021.. Atualmente, a vacinação se concentra em crianças.

Segundo dados epidemiológicos sobre a cobertura vacinal, até 22 de março de 2022, cerca de 57,8% da população mundial estava vacinada com duas doses. No Brasil, 74,9% da população está totalmente vacinada e 35% recebeu a dose de reforço55 Mathieu E, Ritchie H, Ortiz-Ospina E, Roser M, Hasell J, Appel C, Giattino C, Rodés-Guirao L. A global database of COVID-19 vaccinations. Nat Hum Behav 2021; 5(7):947-953.. Mesmo com evidências científicas favoráveis à vacinação, a divulgação de notícias falsas tem provocado resistências das famílias sobre a eficácia e a segurança do imunizante, ocasionando uma baixa adesão da população.

Nessa perspectiva, a veiculação de notícias falsas contribuiu para a desinformação da população. O termo “notícias falsas”, traduzido do inglês fake news, é atribuído à criação e à propagação de informações de qualquer procedência, falsas, inventadas ou manipuladas. Sendo em sua grande parte veiculada na internet, provoca uma rápida disseminação de seu conteúdo, com o objetivo de distorcer a realidade, desinformar, desprestigiar ou enaltecer algo/alguém e manipular a opinião pública66 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Entenda a infodemia e a desinformação na luta contra a COVID-19: kit de ferramentas de transformação digital. Washington: OPAS-OMS; 2020.,77 Galhardi CP, Freire PN, Mynaio MCS, Fagundes MCM. Fato ou fake? Uma análise da desinformação frente à pandemia da COVID-19 no Brasil. Cien Saude Colet 2020; 25(Supl. 2):4201-4210..

As fakes news passaram a ser consideradas um grave problema de saúde pública88 Anjos ASM, Casam PC, Maia JS. As fake news e seus impactos na saúde da sociedade. Pub Saude 2021;5:a141.. A propagação dentro do campo da saúde resulta na deturpação da ciência, corroborando para que a sociedade duvide das invenções e achados apresentados. Isso modifica a visão da comunidade acerca das medidas de prevenção e proteção contra doenças, acarretando interferências significativas no processo de saúde-doença dos indivíduos99 Fernandes HS. Os impactos das fake news na adesão à vacinação [Trabalho de conclusão de curso]. Manhuaçu: Centro Universitário UNIFACIG; 2021..

As fakes news acerca da COVID-19 que circulam ou circularam na internet apresentam conteúdos diversos, entre os quais o apoio ao uso de medicamentos e de receitas caseiras sem evidências científicas, bem como o desprezo ao cumprimento das medidas de prevenção. Mais recentemente, a propagação de distorções e calúnias sobre as vacinas tem gerado anseios e interferindo de modo significativo na aceitabilidade da vacinação por parte da população, que opta por não se vacinar ou por aderir a tratamentos ineficazes sem comprovação científica que podem trazer sérios riscos à saúde individual e coletiva88 Anjos ASM, Casam PC, Maia JS. As fake news e seus impactos na saúde da sociedade. Pub Saude 2021;5:a141.

9 Fernandes HS. Os impactos das fake news na adesão à vacinação [Trabalho de conclusão de curso]. Manhuaçu: Centro Universitário UNIFACIG; 2021.
-1010 Neto M, Gomes TO, Porto FR, Rafael RMR, Fonseca MHS. Fake news no cenário da pandemia de COVID-19. Cogitare Enferm 2020; 25:e72627..

Diante disso, é importante discorrer sobre os impactos que as fake news provocam na adesão às vacinas pela população, dado que os indivíduos se tornam passíveis de desenvolver a forma grave da doença por resistirem à vacinação em decorrência dessas notícias. Isso também impossibilita o controle efetivo da infecção devido à elevada transmissibilidade viral e à falha nas medidas de contenção, comprometendo a saúde pública. O presente estudo configura um olhar minucioso sobre essa temática tão atual, abordando de forma integrada e pontual a literatura vigente a respeito da adesão da população à vacinação contra a COVID-19, além de lançar luz sobre as fake news que surgiram em torno dos imunizantes em teste e aprovação, visando elucidar a sociedade acerca desse conteúdo.

Visto que é importante esclarecer as interferências que as notícias falsas têm provocado na percepção da população a respeito das vacinas contra o novo coronavírus, bem como o impacto na adesão da comunidade à vacinação, esta pesquisa tem como objetivo sintetizar os artigos que abordam as fake news e a hesitação vacinal contra a COVID-19 no contexto de saúde pública.

Métodos

Trata-se de uma revisão integrativa, elaborada a partir de seis etapas diferentes: 1ª) elaboração da pergunta de pesquisa; 2ª) determinação das bases de dados e dos critérios de inclusão e exclusão de estudos; 3ª) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4ª) avaliação dos estudos incluídos na revisão; 5ª) interpretação dos resultados; e 6ª) apresentação da revisão/síntese do conhecimento1111 Lockwood C, Porrit K, Munn Z, Rittenmeyer L, Salmond S, Bjerrum M, Loveday H, Carrier J, Stannard D. Systematic reviews of qualitative evidence. In: Aromataris E, Munn Z, editors. JBI Manual for Evidence Synthesis. Joanna Briggs Institute; 2021; p. 22-44..

A pergunta de pesquisa foi formulada consoante à estratégia Problema, Interesse Contexto (PICo), definindo-se, a estrutura: P - fake news; I - adesão à vacinação para COVID-19; Co - saúde pública. Nesse sentido, obteve-se a seguinte questão: Como se deu o processo de adesão à vacinação para COVID-19 no contexto de saúde pública?

A pesquisa ocorreu em março de 2022, por meio do acesso virtual às bases e bibliotecas de dados: Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), por meio da consulta à Biblioteca Virtual em Saúde (BVS); Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), acessada por meio do portal PubMed; Scopus (Elsevier); Web of Science e Embase (Elsevier).

Empregou-se como critérios de inclusão: artigos primários que apresentassem temas relacionados à vacinação contra a COVID-19, às fake news associadas ao processo vacinal e à influência na adesão populacional aos imunizantes no contexto de saúde pública. Também foram incluídos artigos na íntegra, publicados em qualquer idioma, entre 2019 e 2022. Os critérios de exclusão foram: artigos duplicados ou estudos que não estavam alinhados ou que não respondessem à pergunta de pesquisa.

Em relação à busca nas bases de dados, definiram-se descritores presentes nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e seus equivalentes no idioma inglês no Medical Subject Headings (MeSH), bem como descritores não controlados, determinados de acordo com sinônimos dos controlados e por meio de leituras prévias sobre o assunto de interesse. A coleta da amostra foi sistematizada a partir da utilização do formulário de busca avançada, considerando-se as particularidades de cada base de dados. Os descritores foram combinados entre si com o conector booleano OR, dentro de cada conjunto de termos da estratégia PICo, e em seguida cruzados com o conector booleano AND, conforme a Figura 1. As estratégias de busca foram baseadas no “Peer review of electronic search strategies1212 McGowan J, Sampson, Salzwedwl DM, Cogo E, Foerster V, Lefebvre C. PRESS Peer Review of Electronic Search Strategies: 2015 Guideline Statement. J Clin Epidemiol 2016; 75:40-46..

Figura 1
Descritores controlados e não controlados empregados na estratégia de busca para problema, intervenção e contexto.

A busca nas bases foi realizada por dois pesquisadores, simultaneamente, os quais seguiram a mesma ordem de utilização dos descritores e dos cruzamentos em cada base de dados e, em seguida, compararam os resultados. Não houve participação do profissional bibliotecário nesse processo. Para garantir ampla busca, as bases foram acessadas por meio do portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

A fim de ordenar os artigos encontrados e determinar as duplicações nas diferentes bases de dados, foi utilizado o Endnote, software gerenciador de bibliografias da web, sendo possível importar os estudos obtidos e organizá-los em pastas, excluindo-se posteriormente os duplicados.

Foram identificadas 128 publicações, das quais 11 foram selecionadas para a presente revisão integrativa após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. A fim de organizar a estratégia e permitir melhor visualização da seleção dos estudos, construiu-se o esquema apresentado na Figura 2.

Figura 2
Fluxograma de seleção dos estudos primários.

Para a coleta de dados, utilizou-se um instrumento construído pelos autores com as seguintes variáveis: título, ano da publicação, autores, país, periódico, desenho do estudo e resumo do artigo.

A análise crítica e a síntese qualitativa dos estudos elencados foram feitas na forma descritiva, consoante à pergunta de pesquisa previamente formulada e ao objetivo desta revisão, priorizando os seguintes aspectos: relação entre fake news, desinformação e adesão à vacina para COVID-19, hesitação vacinal, principais variáveis e impacto na superação da pandemia enquanto problemática urgente em saúde pública.

Resultados

Foram selecionados 11 artigos, dos quais dois foram identificados na Medline/PubMed, quatro na SCOPUS, três na Web of Science e dois na Embase. Das publicações eleitas para o estudo, nove encontravam-se em periódicos de saúde, uma em revista interdisciplinar e uma em publicação de outra área (mídias sociais e sociedade).

Todos os textos incluídos foram escritos na língua inglesa. Em relação ao desenho metodológico, evidenciaram-se dez estudos analíticos de corte ou transversais e um artigo de pesquisa quantitativa. O Quadro 1 apresenta os autores dos estudos selecionados, países e ano de publicação, além das principais conclusões de cada pesquisa.

Quadro 1
Síntese dos artigos da revisão integrativa, segundo as principais conclusões dos estudos.

A seguir, descrevem-se as características relacionadas ao processo de adesão à vacinação para COVID-19 nos artigos selecionados, em que medidas preventivas, como a imunização populacional, refletem a superação de uma problemática em saúde pública.

Três estudos relacionaram a probabilidade de intenção vacinal ao sexo masculino1313 Aida El-Far Cardo A, Kraus T, Kaifie A. Factors that shape people's attitudes towards the COVID-19 pandemic in Germany - the influence of media, politics and personal characteristics. Int J Environ Res Public Health 2021;18(15):7772.

14 Eze UA, Ndoh KI, Ibisola BA, Onwuliri CD, Osiyemi A, Ude N, Chime AA, Ogbor EO, Alao AO, Abdullahi A. Determinants for acceptance of COVID-19 vaccine in Nigeria. Cureus 2021; 13(11):e19801.
-1515 Rodriguez-Blanco N, Montero-Navarro S, Botella-Rico JM, Felipe-Gomez AJ, Sanches-Más J, Tuells J. Willingness to be vaccinated against COVID-19 in Spain before the start of vaccination: a cross-sectional study. Int J Environ Res Public Health 2021;18(10):5272.. Uma das pesquisas associou o gênero masculino à maior hesitação vacinal1717 Tolia V, Singh RR, Deshpande S, Dave A, Rathod RM. Understanding factors to COVID-19 vaccine adoption in Gujarat, India. Int J Environ Res Public Health 2022; 19(5):2707., e outra ao sexo feminino1313 Aida El-Far Cardo A, Kraus T, Kaifie A. Factors that shape people's attitudes towards the COVID-19 pandemic in Germany - the influence of media, politics and personal characteristics. Int J Environ Res Public Health 2021;18(15):7772.. Os demais estudos não trazem tal correlação.

Em relação ao posicionamento político, de acordo com dois autores, a inclinação e o voto à esquerda poderiam aumentar a probabilidade de aceitar a vacina para COVID-191313 Aida El-Far Cardo A, Kraus T, Kaifie A. Factors that shape people's attitudes towards the COVID-19 pandemic in Germany - the influence of media, politics and personal characteristics. Int J Environ Res Public Health 2021;18(15):7772.,1414 Eze UA, Ndoh KI, Ibisola BA, Onwuliri CD, Osiyemi A, Ude N, Chime AA, Ogbor EO, Alao AO, Abdullahi A. Determinants for acceptance of COVID-19 vaccine in Nigeria. Cureus 2021; 13(11):e19801.. Além disso, influência religiosa, líderes políticos e o governo foram influências positivas a longo prazo na decisão da tomada da vacina1717 Tolia V, Singh RR, Deshpande S, Dave A, Rathod RM. Understanding factors to COVID-19 vaccine adoption in Gujarat, India. Int J Environ Res Public Health 2022; 19(5):2707., e a confiança em autoridades de saúde e a busca por informações sobre a COVID-19 na mídia pública e em sites de autoridades de saúde também foram consideradas favoráveis à intenção vacinal1313 Aida El-Far Cardo A, Kraus T, Kaifie A. Factors that shape people's attitudes towards the COVID-19 pandemic in Germany - the influence of media, politics and personal characteristics. Int J Environ Res Public Health 2021;18(15):7772.,1818 Neely S, Eldredge C, Sanders R. Health information seeking behaviors on social media during the COVID-19 pandemic among American social networking site users: survey study. J Med Internet Res 2021; 23(6):e29802..

Apenas um autor destacou idade, estado civil, profissão, nível de escolaridade e comorbidades prévias, exceto portadores de neoplasias, à maior probabilidade de aceitar a vacina para COVID-191515 Rodriguez-Blanco N, Montero-Navarro S, Botella-Rico JM, Felipe-Gomez AJ, Sanches-Más J, Tuells J. Willingness to be vaccinated against COVID-19 in Spain before the start of vaccination: a cross-sectional study. Int J Environ Res Public Health 2021;18(10):5272.. De forma contrária, outro autor referiu que indivíduos com trabalho remunerado, religião diferente do catolicismo e menor nível educacional foram mais propensos a hesitar1919 Vries H, Verputten W, Preissner C, Kok G. COVID-19 vaccine hesitancy: the role of information sources and beliefs in Dutch adults. Int J Environ Res Public Health 2022; 19(6):3205.. Em um outro estudo, destacou-se o cristianismo como fator favorável à adesão vacinal, além de citar etnia hausa e localização geográfica ao norte da Nigéria como particularidades associadas à maior aceitação aos imunizantes1414 Eze UA, Ndoh KI, Ibisola BA, Onwuliri CD, Osiyemi A, Ude N, Chime AA, Ogbor EO, Alao AO, Abdullahi A. Determinants for acceptance of COVID-19 vaccine in Nigeria. Cureus 2021; 13(11):e19801..

A hesitação em relação às vacinas e a desinformação são os principais entraves para se alcançar a cobertura e a imunização da população em muitos países. A conscientização pode ter impacto positivo na aceitação da vacina1414 Eze UA, Ndoh KI, Ibisola BA, Onwuliri CD, Osiyemi A, Ude N, Chime AA, Ogbor EO, Alao AO, Abdullahi A. Determinants for acceptance of COVID-19 vaccine in Nigeria. Cureus 2021; 13(11):e19801.,2020 Akther T, Nur T. A model of factors influencing COVID-19 vaccine acceptance: a synthesis of the theory of reasoned action, conspiracy theory belief, awareness, perceived usefulness, and perceived ease of use. PLoS One 2022; 17(1):e0261869..

Promover educação em saúde sobre a vacinação é estratégia motivadora à adesão da população2020 Akther T, Nur T. A model of factors influencing COVID-19 vaccine acceptance: a synthesis of the theory of reasoned action, conspiracy theory belief, awareness, perceived usefulness, and perceived ease of use. PLoS One 2022; 17(1):e0261869.. Além disso, também foi relatado que o grau de confiança no esquema nacional de vacinação e nos médicos contribuem para a aceitação2121 Mărcău Flavius C, Purec Sorin, Niculescu George. Study on the refusal of vaccination against COVID-19 in Romenia. Vaccines (Basel) 2022;10(2):261.. O uso da internet e das mídias sociais para aumentar a aceitação vacinal na Índia, onde o público-alvo seriam crianças e grupos específicos, foi comumente associado ao aumento da adesão vacinal por meio da divulgação de informações verdadeiras1717 Tolia V, Singh RR, Deshpande S, Dave A, Rathod RM. Understanding factors to COVID-19 vaccine adoption in Gujarat, India. Int J Environ Res Public Health 2022; 19(5):2707..

No que diz respeito aos fatores negativamente associados à baixa intenção de se vacinar, destaca-se o uso de mídias sociais como fonte de informação sobre o SARS-CoV-2. A totalidade dos estudos analisados cita ou descreve a relação observada. Entre eles, cinco estudos não especificam tais mídias sociais1414 Eze UA, Ndoh KI, Ibisola BA, Onwuliri CD, Osiyemi A, Ude N, Chime AA, Ogbor EO, Alao AO, Abdullahi A. Determinants for acceptance of COVID-19 vaccine in Nigeria. Cureus 2021; 13(11):e19801.

15 Rodriguez-Blanco N, Montero-Navarro S, Botella-Rico JM, Felipe-Gomez AJ, Sanches-Más J, Tuells J. Willingness to be vaccinated against COVID-19 in Spain before the start of vaccination: a cross-sectional study. Int J Environ Res Public Health 2021;18(10):5272.
-1616 Baccolini V, Renzi E, Isonne C, Migliara G, Massimi A, De Vito C, Marzuillo C, Villari P. COVID-19 vaccine hesitancy among Italian university students: a cross-sectional survey during the first months of the vaccination campaign. Vaccines (Basel) 2021; 9(11):1292.,2121 Mărcău Flavius C, Purec Sorin, Niculescu George. Study on the refusal of vaccination against COVID-19 in Romenia. Vaccines (Basel) 2022;10(2):261.,2222 Ahorsu DK, Lin CY, Alimoradi Z, Griffiths MD, Chen HP, Broström A, Timpka T, Pakpour AH. Cyberchondria, fear of COVID-19, and risk perception mediate the association between problematic social media use and intention to get a COVID-19 vaccine. Vaccines (Basel) 2022; 10(1):122.. E os outros seis artigos incluídos correlacionam plataformas digitais, como Google, Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp e Tiktok à propagação de fake news veiculadas por meio de recursos audiovisuais, podendo conter, além de informações falsas, conteúdos religiosos, crenças populares e teorias conspiracionistas associadas em alguns textos1313 Aida El-Far Cardo A, Kraus T, Kaifie A. Factors that shape people's attitudes towards the COVID-19 pandemic in Germany - the influence of media, politics and personal characteristics. Int J Environ Res Public Health 2021;18(15):7772.,1717 Tolia V, Singh RR, Deshpande S, Dave A, Rathod RM. Understanding factors to COVID-19 vaccine adoption in Gujarat, India. Int J Environ Res Public Health 2022; 19(5):2707.

18 Neely S, Eldredge C, Sanders R. Health information seeking behaviors on social media during the COVID-19 pandemic among American social networking site users: survey study. J Med Internet Res 2021; 23(6):e29802.

19 Vries H, Verputten W, Preissner C, Kok G. COVID-19 vaccine hesitancy: the role of information sources and beliefs in Dutch adults. Int J Environ Res Public Health 2022; 19(6):3205.
-2020 Akther T, Nur T. A model of factors influencing COVID-19 vaccine acceptance: a synthesis of the theory of reasoned action, conspiracy theory belief, awareness, perceived usefulness, and perceived ease of use. PLoS One 2022; 17(1):e0261869.,2323 Chadwick A, Kaiser J, Vaccari C, Freeman D, Lambe S, Loe BS, Vanderslott S, Lewandowsky S, Conroy M, Ross ARN, Innocenti S, Pollard AJ, Waite F, Larkin M, Rosebrock L, Jenner L, McShane H, Giubilini A, Petit A, Yu L-M. Online social endorsement and COVID-19 vaccine hesitancy in the United Kingdom. Soc Media Soc 2021; 7(2): 20563051211008817..

Um único estudo afirmou não haver associação estatisticamente significativa entre o uso problemático de mídia social e a intenção de obter uma vacina para COVID-19. Em contrapartida, relatou efeitos indiretos relevantes da cibercondria e do uso controverso das ferramentas digitais. No mais, vários fatores foram constatados como atenuantes da confiança nas vacinas para COVID-19 e o medo e a ansiedade ligados à percepção dos efeitos colaterais graves, da duração de proteção e da eficácia das vacinas1616 Baccolini V, Renzi E, Isonne C, Migliara G, Massimi A, De Vito C, Marzuillo C, Villari P. COVID-19 vaccine hesitancy among Italian university students: a cross-sectional survey during the first months of the vaccination campaign. Vaccines (Basel) 2021; 9(11):1292.,1717 Tolia V, Singh RR, Deshpande S, Dave A, Rathod RM. Understanding factors to COVID-19 vaccine adoption in Gujarat, India. Int J Environ Res Public Health 2022; 19(5):2707.,1919 Vries H, Verputten W, Preissner C, Kok G. COVID-19 vaccine hesitancy: the role of information sources and beliefs in Dutch adults. Int J Environ Res Public Health 2022; 19(6):3205.,2222 Ahorsu DK, Lin CY, Alimoradi Z, Griffiths MD, Chen HP, Broström A, Timpka T, Pakpour AH. Cyberchondria, fear of COVID-19, and risk perception mediate the association between problematic social media use and intention to get a COVID-19 vaccine. Vaccines (Basel) 2022; 10(1):122.. Destaca-se que o país produtor da vacina foi a variável significativamente menos importante relatada em uma das pesquisas, menos de 5%1616 Baccolini V, Renzi E, Isonne C, Migliara G, Massimi A, De Vito C, Marzuillo C, Villari P. COVID-19 vaccine hesitancy among Italian university students: a cross-sectional survey during the first months of the vaccination campaign. Vaccines (Basel) 2021; 9(11):1292..

É válido ressaltar que níveis de hesitação vacinal elevados e teorias da conspiração traduzem maior probabilidade de transmissão de conteúdos desencorajadores acerca da vacinação para COVID-19, por meio de mídias sociais e aplicativos de mensagens pessoais2323 Chadwick A, Kaiser J, Vaccari C, Freeman D, Lambe S, Loe BS, Vanderslott S, Lewandowsky S, Conroy M, Ross ARN, Innocenti S, Pollard AJ, Waite F, Larkin M, Rosebrock L, Jenner L, McShane H, Giubilini A, Petit A, Yu L-M. Online social endorsement and COVID-19 vaccine hesitancy in the United Kingdom. Soc Media Soc 2021; 7(2): 20563051211008817.. Seguindo a mesma lógica, identifica-se a propagação de notícias falsas e crenças em mentalidades conspiratórias, como as que associavam vacinas à infertilidade humana ou fontes de patógenos infecciosos, como o vírus da imunodeficiência humana (HIV)2020 Akther T, Nur T. A model of factors influencing COVID-19 vaccine acceptance: a synthesis of the theory of reasoned action, conspiracy theory belief, awareness, perceived usefulness, and perceived ease of use. PLoS One 2022; 17(1):e0261869.. Outro autor expôs a existência de uma fake news que considerava a pandemia irreal e uma sociedade secreta global que desejava controlar o mundo. Outras inverdades, como as que associam as vacinas à redução populacional terrestre e ao extermínio de idosos, foram as principais causas relatadas para a não vacinação2121 Mărcău Flavius C, Purec Sorin, Niculescu George. Study on the refusal of vaccination against COVID-19 in Romenia. Vaccines (Basel) 2022;10(2):261..

Por fim, um dos artigos analisados evidencia a percepção de maior gravidade da doença associada negativamente à hesitação vacinal, não sendo observada tal relação com maior suscetibilidade à doença. As menores chances de hesitação da vacina foram encontradas para um aumento de uma (1) unidade na confiança na segurança da vacina1616 Baccolini V, Renzi E, Isonne C, Migliara G, Massimi A, De Vito C, Marzuillo C, Villari P. COVID-19 vaccine hesitancy among Italian university students: a cross-sectional survey during the first months of the vaccination campaign. Vaccines (Basel) 2021; 9(11):1292..

Discussão

A hesitação vacinal é um desafio para os esforços de controle da pandemia do novo coronavírus e tem sido motivo de preocupação em todo o globo, bem como um obstáculo dos esforços em saúde pública, sobretudo devido à conotação negativa que a vacina para COVID-19 recebeu nas mídias sociais. Reconhecer as barreiras em torno da adesão/aceitação da vacina é fundamental para entender como combatê-las.

Nesta revisão de literatura, identificou-se que os participantes do gênero masculino tinham maior intenção de se vacinar1313 Aida El-Far Cardo A, Kraus T, Kaifie A. Factors that shape people's attitudes towards the COVID-19 pandemic in Germany - the influence of media, politics and personal characteristics. Int J Environ Res Public Health 2021;18(15):7772.

14 Eze UA, Ndoh KI, Ibisola BA, Onwuliri CD, Osiyemi A, Ude N, Chime AA, Ogbor EO, Alao AO, Abdullahi A. Determinants for acceptance of COVID-19 vaccine in Nigeria. Cureus 2021; 13(11):e19801.
-1515 Rodriguez-Blanco N, Montero-Navarro S, Botella-Rico JM, Felipe-Gomez AJ, Sanches-Más J, Tuells J. Willingness to be vaccinated against COVID-19 in Spain before the start of vaccination: a cross-sectional study. Int J Environ Res Public Health 2021;18(10):5272.. Entretanto, em um estudo feito na Romênia, ambos os gêneros apresentaram razões aproximadamente semelhantes para decisões de não vacinação2121 Mărcău Flavius C, Purec Sorin, Niculescu George. Study on the refusal of vaccination against COVID-19 in Romenia. Vaccines (Basel) 2022;10(2):261.. A relação entre gênero e adesão à vacina foi explanada superficialmente nos estudos que a abordavam, deixando lacunas para a compreensão dos fatores que levaram as pessoas do gênero masculino à maior aceitabilidade vacinal, carecendo de estudos que evidenciem a questão, tendo em vista que historicamente as mulheres têm uma maior adesão às medidas de atenção à saúde2424 Costa-Júnior, FM, Couto MT, Maia ACB. Gênero e cuidados em saúde: concepções de profissionais que atuam no contexto ambulatorial e hospitalar. Sex Salud Soc 2016; 23:97-117..

As tendências políticas também desempenharam papel importante na atitude associada às vacinas, visto que eleitores de esquerda foram os que apresentaram maior aceitação aos imunizantes1313 Aida El-Far Cardo A, Kraus T, Kaifie A. Factors that shape people's attitudes towards the COVID-19 pandemic in Germany - the influence of media, politics and personal characteristics. Int J Environ Res Public Health 2021;18(15):7772.,1515 Rodriguez-Blanco N, Montero-Navarro S, Botella-Rico JM, Felipe-Gomez AJ, Sanches-Más J, Tuells J. Willingness to be vaccinated against COVID-19 in Spain before the start of vaccination: a cross-sectional study. Int J Environ Res Public Health 2021;18(10):5272.. Os não eleitores e os eleitores de outros segmentos políticos referiram uma percepção de risco e intenção de se vacinar contra COVID-19 significativamente reduzida, supondo uma falta de confiança na política. Essa suposição é reforçada pelo argumento dos não eleitores de desconfiar das instituições federais e das autoridades de saúde. Algumas pesquisas discorrem sobre a relação entre confiança na política, na ciência e nas autoridades de saúde e a influência na percepção de risco das pessoas e do manejo da pandemia1515 Rodriguez-Blanco N, Montero-Navarro S, Botella-Rico JM, Felipe-Gomez AJ, Sanches-Más J, Tuells J. Willingness to be vaccinated against COVID-19 in Spain before the start of vaccination: a cross-sectional study. Int J Environ Res Public Health 2021;18(10):5272..

A partir disso, em estudo realizado com universitários italianos, observou-se que os alunos que optaram por não revelar o posicionamento político eram os mais propensos a recusar a vacina. Esses estudantes podem não ter uma opinião decisiva ou podem não ter desejado informar voluntariamente1616 Baccolini V, Renzi E, Isonne C, Migliara G, Massimi A, De Vito C, Marzuillo C, Villari P. COVID-19 vaccine hesitancy among Italian university students: a cross-sectional survey during the first months of the vaccination campaign. Vaccines (Basel) 2021; 9(11):1292.. Portanto, como o debate político em andamento acerca das vacinas para a COVID-19 ainda é intenso e a associação entre as temáticas foi relatada em apenas três estudos, é necessário um entendimento mais aprofundado da relação entre política e intenção de vacinação.

Assim como o posicionamento político pode ter influência negativa ou positiva na adesão à vacina, a desinformação associada a motivos religiosos pode ser um entrave para a aceitação do imunizante contra a doença. Estudo feito em Gujarat1717 Tolia V, Singh RR, Deshpande S, Dave A, Rathod RM. Understanding factors to COVID-19 vaccine adoption in Gujarat, India. Int J Environ Res Public Health 2022; 19(5):2707., na Índia, confirma a influência de líderes religiosos no processo de aceitação da vacina. Segundo os participantes da pesquisa, as lideranças religiosas podem influenciar as pessoas em sua vida cotidiana, independentemente da formação educacional ou de seu estilo de vida.

Divergindo um pouco do estudo feito em Gujarat, a religião não foi fator condicionante para a decisão de aceitar ou rejeitar a vacina, porém os não religiosos se mostraram menos hesitantes do que os cristãos. Entretanto, estudos futuros são necessários para determinar a relação do posicionamento religioso e a adesão à vacinação para COVID-192222 Ahorsu DK, Lin CY, Alimoradi Z, Griffiths MD, Chen HP, Broström A, Timpka T, Pakpour AH. Cyberchondria, fear of COVID-19, and risk perception mediate the association between problematic social media use and intention to get a COVID-19 vaccine. Vaccines (Basel) 2022; 10(1):122..

Além disso, na quase totalidade dos estudos analisados, tem-se as mídias sociais como fonte de (des)informação sobre o assunto. Ter acesso a smartphones ou computadores é citado como fator determinante para a hesitação vacinal contra o SARS-Cov-2, visto que por meio dessas tecnologias a população tem acesso às plataformas digitais, como Facebook e WhatsApp, deparando-se com notícias falsas ou desinformação sobre a segurança das vacinas1717 Tolia V, Singh RR, Deshpande S, Dave A, Rathod RM. Understanding factors to COVID-19 vaccine adoption in Gujarat, India. Int J Environ Res Public Health 2022; 19(5):2707.. Outras fontes de comunicação, como rádio e imprensa, também foram citadas como fonte de informação, porém as notícias falsas e declarações menos confiáveis são mais associadas às plataformas digitais1515 Rodriguez-Blanco N, Montero-Navarro S, Botella-Rico JM, Felipe-Gomez AJ, Sanches-Más J, Tuells J. Willingness to be vaccinated against COVID-19 in Spain before the start of vaccination: a cross-sectional study. Int J Environ Res Public Health 2021;18(10):5272..

Essas descobertas implicam a desinformação como um fator fortemente associado ao contexto de adesão à vacina para COVID-19. Preocupações com a segurança, medo dos efeitos colaterais imediatos, a médio e a longo prazo, teorias da conspiração sobre as quais as vacinas são experimentos testados na população mundial, suposições de que médicos são pagos para inocular preparações biológicas capazes de reduzir a população terrestre, teses acerca de pessoas que optaram por tomar a vacina contra a COVID-19 e estão condenadas à morte nos próximos anos pelas substâncias injetadas1515 Rodriguez-Blanco N, Montero-Navarro S, Botella-Rico JM, Felipe-Gomez AJ, Sanches-Más J, Tuells J. Willingness to be vaccinated against COVID-19 in Spain before the start of vaccination: a cross-sectional study. Int J Environ Res Public Health 2021;18(10):5272.

16 Baccolini V, Renzi E, Isonne C, Migliara G, Massimi A, De Vito C, Marzuillo C, Villari P. COVID-19 vaccine hesitancy among Italian university students: a cross-sectional survey during the first months of the vaccination campaign. Vaccines (Basel) 2021; 9(11):1292.
-1717 Tolia V, Singh RR, Deshpande S, Dave A, Rathod RM. Understanding factors to COVID-19 vaccine adoption in Gujarat, India. Int J Environ Res Public Health 2022; 19(5):2707.,2020 Akther T, Nur T. A model of factors influencing COVID-19 vaccine acceptance: a synthesis of the theory of reasoned action, conspiracy theory belief, awareness, perceived usefulness, and perceived ease of use. PLoS One 2022; 17(1):e0261869.,2121 Mărcău Flavius C, Purec Sorin, Niculescu George. Study on the refusal of vaccination against COVID-19 in Romenia. Vaccines (Basel) 2022;10(2):261..

O nível educacional da população mostrou afetar a aceitação da vacina, correlacionando o baixo grau de escolaridade à adesão vacinal1414 Eze UA, Ndoh KI, Ibisola BA, Onwuliri CD, Osiyemi A, Ude N, Chime AA, Ogbor EO, Alao AO, Abdullahi A. Determinants for acceptance of COVID-19 vaccine in Nigeria. Cureus 2021; 13(11):e19801.. Universitários apresentaram a maior taxa de aceitação dos imunizantes, enquanto os demais grupos com menor escolaridade mostraram maior hesitação1515 Rodriguez-Blanco N, Montero-Navarro S, Botella-Rico JM, Felipe-Gomez AJ, Sanches-Más J, Tuells J. Willingness to be vaccinated against COVID-19 in Spain before the start of vaccination: a cross-sectional study. Int J Environ Res Public Health 2021;18(10):5272.,1616 Baccolini V, Renzi E, Isonne C, Migliara G, Massimi A, De Vito C, Marzuillo C, Villari P. COVID-19 vaccine hesitancy among Italian university students: a cross-sectional survey during the first months of the vaccination campaign. Vaccines (Basel) 2021; 9(11):1292.. Em meio a tanta informação de fácil acesso, a propagação de fake news se dissemina rapidamente em qualquer smartphone. Essa troca de informações nas mãos de leigos pode se tornar ferramenta uma perigosa, de modo que plataformas digitais como Facebook e WhatsApp podem influenciar em campanhas de vacinação.

A educação em saúde tem papel primordial nesse cenário. Pessoas com habilidades de leitura, nível de escolaridade elevado, até mesmo profissionais de saúde, quando abastecidos com fake news instruídos corroboram informações errôneas sobre as vacinas para um público imenso, impactando diretamente na população resistente a receber os imunizantes. Além disso, como evidenciaram alguns estudos, a motivação para imunização se relacionava ao retorno laboral e às demais atividades cotidianas, mas não ao efeito sobre o sistema imunológico e à redução importante de chances de óbito ao se contaminar com a patologia. A troca de informações constituiu detalhe relevante para esse fim e, por isso, ainda há grupos resistentes.

Entre as limitações desta revisão de literatura, pontua-se a abordagem restrita ao público adulto, não podendo tirar conclusões significativas para crianças, além de poucos artigos abordarem diretamente a relação fake news e adesão da população à vacina para COVID-19.

Considerações finais

Esta pesquisa sintetizou os artigos que abordam fake news e hesitação à vacinação contra COVID-19. As temáticas encontradas e abordadas foram gênero, política, nível educacional, educação em saúde, internet, mídias sociais e confiança na vacina.

A disseminação de desinformação é uma séria ameaça à saúde pública. Nesse âmbito, aumentar a confiança na segurança e eficácia da vacina se faz necessário, principalmente para a população com níveis mais altos de ceticismo sobre os imunizantes. Os dados desse estudo podem servir como indicador importante para discutir meios de intervenção a fim de melhorar a adesão da população, especialmente por meio da educação em saúde.

Uma melhor compreensão dos benefícios da vacinação para COVID-19 é essencial para combater a hesitação vacinal e melhorar a adesão da população geral. Vale ressaltar que essa tarefa não deve ser conduzida apenas por profissionais de saúde, mas envolver lideranças religiosas e políticas, escolas e toda a comunidade.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). À Sociedade Cearense de Pesquisa e Inovações em Saúde (SOCEPIS), pela contribuição no conhecimento dos autores, sempre nos motivando a realizar pesquisas de alta qualidade e relevância para a sociedade.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    Mar 2023

Histórico

  • Recebido
    22 Jun 2022
  • Aceito
    22 Set 2022
  • Publicado
    24 Set 2022
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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