Prevalência dos indicadores de saúde pré-concepcional das mulheres brasileiras em idade reprodutiva

Bruna Nicole Soares dos Santos Fernanda Gontijo Araújo Thayane Fraga de Paula Fernanda Penido Matozinhos Mariana Santos Felisbino-Mendes Sobre os autores

Resumo

O objetivo deste artigo é avaliar o desempenho de indicadores de saúde pré-concepcional das mulheres brasileiras em idade reprodutiva segundo as características sociodemográficas. Estudo epidemiológico e descritivo com dados de 21.645 e 25.228 mulheres que responderam à Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 e 2019 e provenientes do DATASUS de 2010 a 2020. Estimou-se a prevalência de indicadores, segundo características sociodemográficas, e as diferenças estatísticas por meio do teste qui-quadrado de Pearson. Calculou-se a taxa de incidência dos indicadores de sífilis e HIV. Houve aumento da prevalência de indicadores que se referem ao acesso aos serviços de saúde (consultas médica, odontológica e realização de Papanicolau recente). Contudo, houve aumento da hipertensão, do consumo de álcool e da obesidade. Observou-se manutenção da prevalência do uso de contraceptivo e tratamento de fertilidade. Além disso, a taxa de incidência da sífilis aumentou sete vezes entre 2010-2020. Os resultados foram ainda piores entre mulheres de baixa escolaridade, pretas/pardas, com maior paridade e do Norte/Nordeste. Apesar do aumento no acesso aos serviços de saúde, houve piora do desempenho de indicadores de saúde pré-concepcional, e manutenção das iniquidades em saúde.

Palavras-chave:
Saúde pré-concepcional; Mulheres; Iniquidades em saúde; Estudos epidemiológicos; Enfermagem

Introdução

O cuidado pré-concepcional visa identificar e diminuir o risco à saúde da mulher e os desfechos negativos da gravidez, por meio de intervenções que devem ocorrer em qualquer momento em que o profissional de saúde assiste uma mulher em idade reprodutiva, e tem por objetivo a promoção, a prevenção e o controle de agravos antes e entre gestações11 Broussard DL, Sappenfield WB, Fussman C, Kroelinger CD, Grigorescu V. Core state preconception health indicators: a voluntary, multi-state selection process. Matern Child Health J 2011; 15(2):158-168.. Esses cuidados beneficiam a saúde das mulheres ao promover um estilo de vida saudável, principalmente em relação à prevenção de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), principal causa de morbimortalidade para mulheres em todo o mundo22 Institute for Health Metrics and Evaluation. Global Burden of Disease Study 2019 Results [Internet]. 2019. [cited 2020 jul 22]. Available from: http://ghdx.healthdata.org/gbd-results-tool
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, também é fundamental para uma gravidez saudável e com desfechos positivos33 Robbins CL, Zapata LB, Farr SL, Kroelinger CD, Morrow B, Ahluwalia I, D'Angelo DV, Barradas D, Cox S, Goodman D, Williams L, Grigorescu V, Barfield WD; Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Core state preconception health indicators - pregnancy risk assessment monitoring system and behavioral risk factor surveillance system, 2009. MMWR Surveill Summ 2014; 63(3):1-62..

Estudo internacional randomizado desenvolvido para avaliar os efeitos desse cuidado apontou benefícios, como a redução do uso de tabaco e álcool44 Sijpkens MK, van Voorst SF, Rosman AN, de Jong-Potjer LC, Denktas S, Koch BCP, Bertens LCM, Steegers EAP. Change in lifestyle behaviors after preconception care: a prospective cohort study. Am J Heal Promot 2021; 35(1):116-120., a suplementação com ácido fólico44 Sijpkens MK, van Voorst SF, Rosman AN, de Jong-Potjer LC, Denktas S, Koch BCP, Bertens LCM, Steegers EAP. Change in lifestyle behaviors after preconception care: a prospective cohort study. Am J Heal Promot 2021; 35(1):116-120.,55 Lassi ZS, Kedzior SGE, Tariq W, Jadoon Y, Das JK, Bhutta ZA. Effects of preconception care and periconception interventions on maternal nutritional status and birth outcomes in low- and middle-income countries: a systematic review. Campbell Syst Rev 2021; 17(2):e1156., estilo de vida mais saudável44 Sijpkens MK, van Voorst SF, Rosman AN, de Jong-Potjer LC, Denktas S, Koch BCP, Bertens LCM, Steegers EAP. Change in lifestyle behaviors after preconception care: a prospective cohort study. Am J Heal Promot 2021; 35(1):116-120. e aumento do intervalo recomendado entre as gestações55 Lassi ZS, Kedzior SGE, Tariq W, Jadoon Y, Das JK, Bhutta ZA. Effects of preconception care and periconception interventions on maternal nutritional status and birth outcomes in low- and middle-income countries: a systematic review. Campbell Syst Rev 2021; 17(2):e1156.. Porém, o conhecimento das mulheres acerca dos cuidados pré-concepcionais ainda é baixo, sendo maior entre as mais escolarizadas66 Fikadu Id K, Wasihun B, Yimer O. Knowledge of pre-conception health and planned pregnancy among married women in Jinka town, southern Ethiopia and factors influencing knowledge. PLoS One 2022; 17(5):e0268012.. Observou-se ainda altas prevalências de fatores de risco modificáveis e doenças como hipertensão, diabetes e depressão em estudo com mulheres norte-americanas em idade reprodutiva77 Robbins C, Boulet SL, Morgan I, D'Angelo DV, Zapata LB, Morrow B, Sharma A, Kroelinger CD. Disparities in preconception health indicators - behavioral risk factor surveillance system, 2013-2015, and pregnancy risk assessment monitoring system, 2013-2014. MMWR Surveill Summ 2018; 67(1):1-16. e em mulheres australianas que planejaram a gestação88 Chivers BR, Boyle JA, Lang AY, Teede HJ, Moran LJ, Harrison CL. Preconception health and lifestyle behaviours of women planning a pregnancy: a cross-sectional study. J Clin Med 2020; 9(6):1701..

No Brasil, mesmo com as políticas públicas voltadas à saúde materna e infantil, a mortalidade neste público se mantém alta99 Leal MDC, Szwarcwald CL, Almeida PVB, Aquino EML, Barreto ML, Barros F, Victora C. Reproductive, maternal, neonatal and child health in the 30 years since the creation of the Unified Health System (SUS). Cien Saude Colet 2018; 23(6):1915-1928. e metade das gestações não são planejadas1010 Viellas EF, Domingues RMSM, Dias MAB, da Gama SGN, Filha MMT, Costa JV, Bastos MH, Leal MC. Prenatal care in Brazil. Cad Saude Publica 2014; 30(Supl. 1):S85-S100.. Assim, o cuidado pré-concepcional possibilitaria o planejamento reprodutivo e diminuiria os riscos de complicações à saúde, pois a maioria das mulheres desconhece esses cuidados1111 Nascimento NC, Araújo KS, Borges ALV. Preparo pré-concepcional: conhecimento e razões para a não realização entre mulheres usuárias do SUS. Bol Inst Saúde 2016; 17(2):96-104.,1212 Moura ERF, Evangelista DR, Damasceno AKC. Conhecimento de mulheres com diabetes mellitus sobre cuidados pré-concepcionais e riscos materno-fetais. Rev Esc Enferm USP 2012; 46(1):22-29., mesmo quando apresentam uma doença importante como a diabetes1212 Moura ERF, Evangelista DR, Damasceno AKC. Conhecimento de mulheres com diabetes mellitus sobre cuidados pré-concepcionais e riscos materno-fetais. Rev Esc Enferm USP 2012; 46(1):22-29.. O desconhecimento apontado nesses estudos está relacionado à informação, uma das dimensões do acesso aos serviços de saúde, que diz respeito à comunicação entre o sistema de saúde e o indivíduo1313 Sanchez RM, Ciconelli RM. Conceitos de acesso à saúde. Rev Panam Salud Publica 2012; 31(3):260-268.,1414 Travassos C, Martins M. Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de serviços de saúde. Cad Saude Publica 2004; 20(Supl. 2):S190-S198.. Os profissionais também demonstram pouco conhecimento sobre a necessidade desses cuidados1515 Ferreira FR, Akiba HRR, Júnior EA, Figueiredo EN, Abrahão AR. Prevention of birth defects in the pre-conception period: knowledge and practice of health care professionals (nurses and doctors) in a city of Southern Brazil. Iran J Reprod Med. 2015;13(10):657., o que pode contribuir para que sejam negligenciados e interferir na garantia dos direitos sexuais e reprodutivos.

Estudo realizado em São Paulo mostrou que apenas 15,9% das mulheres realizaram cuidados pré-concepcionais1414 Travassos C, Martins M. Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de serviços de saúde. Cad Saude Publica 2004; 20(Supl. 2):S190-S198.. Porém, mesmo com tais cuidados realizados, as mulheres ainda apresentaram altas prevalências de fatores de risco modificáveis1515 Ferreira FR, Akiba HRR, Júnior EA, Figueiredo EN, Abrahão AR. Prevention of birth defects in the pre-conception period: knowledge and practice of health care professionals (nurses and doctors) in a city of Southern Brazil. Iran J Reprod Med. 2015;13(10):657.. Além disso, esses resultados se limitam a mulheres que planejaram a gravidez. Isso reforça que a saúde pré-concepcional da mulher tem sido pouco abordada, e os estudos existentes no país sobre o tema abordam aspectos restritos à preconcepção1111 Nascimento NC, Araújo KS, Borges ALV. Preparo pré-concepcional: conhecimento e razões para a não realização entre mulheres usuárias do SUS. Bol Inst Saúde 2016; 17(2):96-104.,1616 Borges ALV, Santos OA, Nascimento NC, Chofakian CBN, Gomes-Sponholz FA. Preconception health behaviors associated with pregnancy planning status among Brazilian women. Rev Esc Enferm da USP 2016; 50(2):208-215.. Outros avaliam questões específicas, como consumo insuficiente de frutas, verduras e legumes e prática de atividade física1717 Mpofu JJ, Moura L, Farr SL, Malta DC, Iser BM, Bernal RTI, Robbins CL, Lobelo F. Associations between noncommunicable disease risk factors, race, education, and health insurance status among women of reproductive age in Brazil - 2011. Prev Med reports 2016; 3:333-337., além de DCNT1717 Mpofu JJ, Moura L, Farr SL, Malta DC, Iser BM, Bernal RTI, Robbins CL, Lobelo F. Associations between noncommunicable disease risk factors, race, education, and health insurance status among women of reproductive age in Brazil - 2011. Prev Med reports 2016; 3:333-337.,1818 Araújo FG, Velasquez-Melendez G, Felisbino-Mendes MS. Prevalence trends of overweight, obesity, diabetes and hypertension among Brazilian women of reproductive age based on sociodemographic characteristics. Health Care Women Int 2019; 40(4):386-406.. Ressalta-se ainda que as prevalências desses agravos foram maiores entre mulheres residentes nas regiões Norte e Nordeste, pretas e pardas e menos escolarizadas1717 Mpofu JJ, Moura L, Farr SL, Malta DC, Iser BM, Bernal RTI, Robbins CL, Lobelo F. Associations between noncommunicable disease risk factors, race, education, and health insurance status among women of reproductive age in Brazil - 2011. Prev Med reports 2016; 3:333-337.,1818 Araújo FG, Velasquez-Melendez G, Felisbino-Mendes MS. Prevalence trends of overweight, obesity, diabetes and hypertension among Brazilian women of reproductive age based on sociodemographic characteristics. Health Care Women Int 2019; 40(4):386-406..

Tendo em vista o panorama apresentado pelos estudos e buscando avaliar de forma mais ampliada as condições de saúde das mulheres, estudos internacionais prévios propuseram um conjunto de indicadores de saúde pré-concepcional que podem ser mensurados utilizando dados de sistemas de vigilância populacionais já existentes e disponíveis11 Broussard DL, Sappenfield WB, Fussman C, Kroelinger CD, Grigorescu V. Core state preconception health indicators: a voluntary, multi-state selection process. Matern Child Health J 2011; 15(2):158-168.,1919 Schoenaker DAJM, Stephenson J, Connolly A, Shillaker S, Fishburn S, Barker M, Godfrey KM, Alwan NA; UK Preconception Partnership. Characterising and monitoring preconception health in England: a review of national population-level indicators and core data sources. J Dev Orig Health Dis 2022; 13(2):137-150.. Entende-se que tais indicadores de saúde pré-concepcional podem favorecer tanto a saúde da mulher integralmente quanto sua saúde no contexto da reprodução2020 Johnson K, Posner SF, Biermann J, Cordero JF, Atrash HK, Parker CS, Boulet S, Curtis MG; CDC/ATSDR Preconception Care Work Group; Select Panel on Preconception Care. Recommendations to improve preconception health and health care - United States: a report of the CDC/ATSDR Preconception Care Work Group and the Select Panel on Preconception Care. MMWR Recomm Rep 2006; 55(RR-6):1-23.. Adicionalmente, as mulheres têm tido filhos cada vez mais tarde, quando já podem apresentar fatores de risco e doenças66 Fikadu Id K, Wasihun B, Yimer O. Knowledge of pre-conception health and planned pregnancy among married women in Jinka town, southern Ethiopia and factors influencing knowledge. PLoS One 2022; 17(5):e0268012., o que pode interferir tanto no estado geral de saúde da mulher quanto na saúde materna e infantil.

A análise dos indicadores de saúde pré-concepcional permitiria também o monitoramento integral da saúde das mulheres em nível nacional, beneficiando essa população específica para além da reprodução. O Brasil tem inquéritos populacionais que viabilizam que tal análise seja conduzida, como a Pesquisa Nacional de Saúde, que permite avaliar a saúde das mulheres para além dos aspectos sexuais e reprodutivos, envolvendo também as doenças crônicas e os hábitos de vida. Assim, possibilitaria uma avaliação e o diagnóstico das condições de saúde dessa população específica em nível populacional, uma vez que os estudos existentes são em sua maioria locais1616 Borges ALV, Santos OA, Nascimento NC, Chofakian CBN, Gomes-Sponholz FA. Preconception health behaviors associated with pregnancy planning status among Brazilian women. Rev Esc Enferm da USP 2016; 50(2):208-215.,2121 Nascimento NC, Borges ALV, Fujimori E, Tsunechiro MA, Borges do Nascimento Chofakian CBN, Santos OA. Preconception care: adolescents' knowledge and practice. Rev Enferm UFPE 2015; 9(5):7895-7901. ou se restringem a alguns indicadores isolados1212 Moura ERF, Evangelista DR, Damasceno AKC. Conhecimento de mulheres com diabetes mellitus sobre cuidados pré-concepcionais e riscos materno-fetais. Rev Esc Enferm USP 2012; 46(1):22-29.,1818 Araújo FG, Velasquez-Melendez G, Felisbino-Mendes MS. Prevalence trends of overweight, obesity, diabetes and hypertension among Brazilian women of reproductive age based on sociodemographic characteristics. Health Care Women Int 2019; 40(4):386-406., não permitindo uma avaliação ampla dos indicadores, como proposto internacionalmente11 Broussard DL, Sappenfield WB, Fussman C, Kroelinger CD, Grigorescu V. Core state preconception health indicators: a voluntary, multi-state selection process. Matern Child Health J 2011; 15(2):158-168.,1919 Schoenaker DAJM, Stephenson J, Connolly A, Shillaker S, Fishburn S, Barker M, Godfrey KM, Alwan NA; UK Preconception Partnership. Characterising and monitoring preconception health in England: a review of national population-level indicators and core data sources. J Dev Orig Health Dis 2022; 13(2):137-150.. Além disso, permite investigar se persistem desigualdades entre as mulheres quanto aos indicadores de saúde pré-concepcional.

Dessa forma, o objetivo do estudo foi avaliar desempenho de indicadores de saúde pré-concepcional das mulheres brasileiras em idade reprodutiva de acordo com as características sociodemográficas. Além disso, buscou-se comparar os indicadores de saúde pré-concepcional entre os anos de 2013 e 2019.

Métodos

Tipo de estudo, fonte de dados e população

Trata-se de um estudo epidemiológico, descritivo, de base populacional com dois componentes: um transversal, que utilizou dados secundários representativos da população de mulheres brasileiras em idade reprodutiva das duas edições da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizadas em 2013 e 2019 (https://www.pns.icict.fiocruz.br/bases-de-dados/), e outro ecológico, do tipo série temporal, com dados provenientes do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) (http://indicadoressifilis.aids.gov.br/ e http://indicadores.aids.gov.br/), de 2010 a 2020, todos disponíveis à consulta pública.

A PNS constitui um inquérito de base domiciliar, de âmbito nacional, cujo plano amostral foi detalhado em estudos prévios2222 Damacena GN, Szwarcwald CL, Malta DC, Souza Júnior PRB, Vieira MLFP, Pereira CA, Morais Neto OL, Silva Júnior JB. O processo de desenvolvimento da Pesquisa Nacional de Saúde no Brasil, 2013. Epidemiol Serv Saude 2015; 24(3):197-206.,2323 Szwarcwald CL, Malta DC, Pereira CA, Vieira MLFP, Conde WL, Souza Júnior PRB, Damacena GN, Azevedo LO, Silva GA, Theme Filha MM, Lopes CS, Romero DE, Almeida WS, Monteiro CA. Pesquisa Nacional de Saúde no Brasil: concepção e metodologia de aplicação. Cien Saude Colet 2014; 19(2):333-342.. Em 2013 foram realizadas 64.348 entrevistas domiciliares e 60.202 individuais com o morador selecionado de 18 anos ou mais de idade2222 Damacena GN, Szwarcwald CL, Malta DC, Souza Júnior PRB, Vieira MLFP, Pereira CA, Morais Neto OL, Silva Júnior JB. O processo de desenvolvimento da Pesquisa Nacional de Saúde no Brasil, 2013. Epidemiol Serv Saude 2015; 24(3):197-206.,2323 Szwarcwald CL, Malta DC, Pereira CA, Vieira MLFP, Conde WL, Souza Júnior PRB, Damacena GN, Azevedo LO, Silva GA, Theme Filha MM, Lopes CS, Romero DE, Almeida WS, Monteiro CA. Pesquisa Nacional de Saúde no Brasil: concepção e metodologia de aplicação. Cien Saude Colet 2014; 19(2):333-342.. Em 2019 foram feitas 94.114 entrevistas domiciliares e 90.846 individuais com o morador selecionado de 15 anos ou mais de idade2323 Szwarcwald CL, Malta DC, Pereira CA, Vieira MLFP, Conde WL, Souza Júnior PRB, Damacena GN, Azevedo LO, Silva GA, Theme Filha MM, Lopes CS, Romero DE, Almeida WS, Monteiro CA. Pesquisa Nacional de Saúde no Brasil: concepção e metodologia de aplicação. Cien Saude Colet 2014; 19(2):333-342..

Neste estudo foram incluídas as mulheres em idade reprodutiva, conforme preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)2424 Organização Mundial de Saúde (OMS). Mulheres e saúde: evidências de hoje agenda amanhã. Brasília: OMS; 2009.. A população entrevistada na PNS 2013 era acima de 18 anos, sendo assim, para avaliar os indicadores, foram incluídas 21.645 mulheres de 18 a 49 anos. Foram excluídos os homens, as mulheres fora da faixa etária proposta, as que não sabiam se estavam grávidas (n = 176) e as grávidas (n = 800). Já na PNS de 2019 foram incluídas 25.228 mulheres de 18-49 anos. Essa faixa etária permite fazer una comparação entre as edições da pesquisa, e foram excluídos os homens, as mulheres fora da faixa etária proposta, as que não sabiam se estavam grávidas (n = 108) e as grávidas (n = 735). Na PNS 2019, a antropometria foi aferida para uma subamostra da pesquisa, com isso a estimativa do índice de massa corporal (IMC) foi de uma subpopulação de 1.772 mulheres em idade reprodutiva.

Também foram utilizados dados provenientes do DATASUS, que integra as bases de dados dos sistemas de informação em saúde do país, a partir do recebimento de dados epidemiológicos, de morbidade, mortalidade e acesso a serviços de saúde, entre outros, notificados nos sistemas de informação de interesse deste estudo, como o SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação). Foram extraídos dados agregados das notificações de HIV e sífilis em mulheres de 15 a 49 anos no período de 2010 a 2020.

Indicadores e variáveis

Os indicadores de saúde pré-concepcional utilizados nesta pesquisa se basearam em estudos previos que propuseram a identificar esses indicadores com o objetivo de avaliar a saúde das mulheres de forma integral, sendo a fonte de dados nacional um fator relevante para seleção e avaliação dos indicadores11 Broussard DL, Sappenfield WB, Fussman C, Kroelinger CD, Grigorescu V. Core state preconception health indicators: a voluntary, multi-state selection process. Matern Child Health J 2011; 15(2):158-168.,1919 Schoenaker DAJM, Stephenson J, Connolly A, Shillaker S, Fishburn S, Barker M, Godfrey KM, Alwan NA; UK Preconception Partnership. Characterising and monitoring preconception health in England: a review of national population-level indicators and core data sources. J Dev Orig Health Dis 2022; 13(2):137-150..

Assim, o presente estudo analisou os seguintes indicadores, conforme os dados disponíveis: autoavaliação em saúde; nível de escolaridade; acesso a plano de saúde; consultas médicas e odontológicas no último ano; realização do exame Papanicolau nos três últimos anos entre mulheres na faixa etária-alvo; uso de algum método contraceptivo (MC); uso de algum MC até dois anos após o parto; tratamento de fertilidade; tabagismo atual e passivo; consumo de bebida alcoólica; consumo de frutas, verduras e legumes (considerado suficiente o consumo de cinco ou mais porções por dia)2525 Johnson RK, Appel LJ, Brands M, Howard BV, Lefevre M, Lustig RH, Sacks F, Steffen LM, Wylie-Rosett J; American Heart Association Nutrition Committee of the Council on Nutrition, Physical Activity, and Metabolism and the Council on Epidemiology and Prevention. Dietary sugars intake and cardiovascular health: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation 2009; 120(11):1011-1120.; classificação do estado nutricional segundo o IMC com peso e altura aferidos - considerado como desnutrição o valor do IMC < 18,5 kg/m2, eutrofia (18,5-25,0 kg/m2), sobrepeso (25,0-29,9 kg/m2) e obesidade (≥ 30 kg/m2)2626 World Health Organization (WHO). Obesity: preventing and managing the global epidemic. Geneva: WHO; 1998.; prática de atividade física (considerado suficiente ≥ 150 minutos de atividade moderada por semana ou ≥ 75 minutos de atividade intensa por semana)2727 DC: US Dept of Health and Human Services. Physical Activity Guidelines for Americans [Internet]. 2018. [cited 2021 dez 3]. Available from: https://health.gov/our-work/nutrition-physical-activity/physical-activity-guidelines
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; violência cometida por pessoa conhecida no último ano (PNS 2013), violência sofrida no último ano (PNS 2019), violência cometida pelo companheiro no último ano; diagnóstico autorreferido de depressão, diabetes, hipertensão (excluídos diabetes e hipertensão gestacional) e asma, todos provenientes da PNS. E os indicadores taxa de incidência de HIV em mulheres em idade reprodutiva e sífilis em gestantes, a partir o número de casos extraídos do DATASUS e da projeção da população de mulheres em idade reprodutiva no Brasil no período de 2010 a 2020.

Além dos indicadores de saúde pré-concepcional preconizados, foram utilizadas as seguintes variáveis sociodemográficas: escolaridade (PNS 2013: 0-8, 9-11, 12 ou mais anos de estudo; PNS 2019: 0-9, 10-12, 13 ou mais anos de estudo, ambas na ordem de baixa, média e alta escolaridade), cor da pele/raça autodeclarada (branca, preta/parda, amarela/indígena), região de moradia (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul, Centro-Oeste) e paridade (nenhum, 1 parto, 2 ou 3, 4 ou mais).

Análise de dados

Realizou-se a caracterização das mulheres brasileiras em idade reprodutiva segundo as características sociodemográficas com os dados das PNS 2013 e 2019, sendo estimadas prevalências com intervalos de 95% de confiança (IC95%). Em seguida, foram estimadas prevalências com respectivos IC95% para cada indicador de saúde pré-concepcional em 2013 e 2019, e posteriormente estimadas essas prevalências de acordo com as características sociodemográficas. Utilizou-se o teste qui-quadrado de Pearson para as diferenças estatísticas, considerando nível de significância de 5%. Foi utilizado o programa estatístico Stata 14, módulo Survey, para se obter estimativas populacionais, considerando o desenho amostral complexo da pesquisa. Conduziu-se ainda análise de subpopulação, método indicado para análise de subgrupos de inquéritos com amostras complexas2828 West BT, Berglund P, Heeringa SG. A closer examination of subpopulation analysis of complex-sample survey data. Stata Journal 2008; 8(4):520-531..

A partir dos dados extraídos do DATASUS, foram calculadas a proporção do número de casos de HIV (casos em mulheres em idade reprodutiva/casos Brasil x 100) e as taxas de incidências de HIV em mulheres (casos novos em mulheres em idade reprodutiva/projeção da população de mulheres em idade reprodutiva x 100.000) e de sífilis em gestantes (casos de sífilis em gestantes em idade reprodutiva/nascidos vivos x 1.000).

Aspectos éticos

Os dados utilizados neste estudo são de domínio público, agregados, não envolvem a identificação dos sujeitos e respeitam as recomendações éticas da Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde.

Resultados

Das mulheres brasileiras em idade reprodutiva, respectivamente nos anos de 2013 e 2019, 37,6% e 34,2% tinham 18-29 anos, 32,9% e 34,0% tinham 30-39 anos, e 29,5% e 31,8% tinham 40-49 anos. Além disso, 42,2% viviam na região Sudeste, 28,0% no Nordeste e 14,1% na região Sul, com distribuição semelhante em 2019 (42,2%, 27,3% e 13,9%, respectivamente). A maioria declarou ser preta e parda (53,0% e 58,1% em 2013 e 2019, respectivamente), quanto ao número de partos, respectivamente em 2013 e 2019, 35,7% e 35,8% tiveram dois ou três partos, seguidas de mulheres que nunca tiveram partos (31,7% em 2013 e 31,2% em 2019) (dados não mostrados).

Mais de 70% das mulheres autoavaliaram sua saúde como boa/muito boa nas duas edições da pesquisa (Tabela 1). Em relação ao nível de escolaridade, apenas 22,3% das mulheres brasileiras estudaram além do ensino médio, aumento para 27,1% em 2019. Além disso, nos dois anos da pesquisa, três de cada dez mulheres tinham plano de saúde; oito a cada dez tiveram alguma consulta médica no último ano; cinco a cada dez tiveram uma consulta odontológica para limpeza, controle e manutenção no último ano, e a cobertura de realização do Papanicolau foi de pelo menos 80%. O uso de MC foi superior a 80%, sendo, respectivamente em 2013 e 2019, pílula (38,8% e 34,1%), cirúrgico (22,2% e 19,8%), camisinha (13,4% e 16,9%), injetáveis (6,4% e 7,8%) e DIU (1,8% e 3,8%) os MC mais usados (dados não mostrados), e pelo menos de 3% fizeram algum tratamento de saúde para engravidar.

Tabela 1
Prevalência dos indicadores de saúde pré-concepcional entre as mulheres brasileiras em idade reprodutiva na PNS 2013 e 2019.

Apenas 2,7% das mulheres referiram ter diagnóstico de diabetes, 11,7% de hipertensão e 5,4% de asma, com prevalências de 3,4%, 14,0% e 6,3%, respectivamente, em 2019 (Tabela 1). Em relação à avaliação dos fatores de risco, nos anos de 2013 e 2019, respectivamente, 9,7% e 8,4% relataram tabagismo atual, 17,9% e 15,3% tabagismo passivo e 33,7% e 39,4% consumiam bebida alcoólica, havendo um aumento considerável da prevalência deste último. Apenas duas a cada dez mulheres consumiam frutas, verduras e legumes suficientes por dia e praticavam atividade física suficiente na semana, em 2019 a prática de atividade física subiu para três a cada dez mulheres. Em 2013, cinco a cada dez mulheres tinham sobrepeso ou obesidade, com aumento em 2019 para seis a cada dez (Tabela 1).

Quanto à saúde mental, em 2013, 9,5% das mulheres relataram já terem sido diagnosticadas com depressão, com aumento para 13,4% em 2019. Em 2013, 3,9% das mulheres relataram ter sofrido alguma violência no último ano, em 2019 houve aumento para 23,7%. Quanto à natureza da violência sofrida, em 2013 a maioria foi física ou sexual (47,4%), seguida da psicológica (43,9%), em 2019 a psicológica foi quase três vezes mais usual do que a física ou sexual (72,3% e 27,7%, respectivamente (dados não mostrados). Em relação à violência sofrida pelo companheiro, as prevalências em 2013 e 2019 foram de 23,5% e 18,7%, respectivamente. Das mulheres que sofreram violência pelo companheiro, em 2013 a violência física ou sexual foi o dobro da psicológica (35,1% e 14,1%, respectivamente), diferentemente de 2019, em que a maior prevalência foi da psicológica (25,5%), seguida da física ou sexual (15,8%) (Tabela 1).

Os resultados também mostram que as prevalências dos indicadores de saúde pré-concepcional variaram de acordo com a escolaridade (Tabela 2), cor da pele/raça (Tabela 3), paridade e região de moradia (dados não mostrados). As mulheres com baixa escolaridade, com maior número de partos e autodeclaradas pretas/pardas apresentaram pior desempenho dos indicadores de saúde pré-concepcional (valor p < 0,05). Quanto aos resultados segundo região de moradia, as mulheres que viviam nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentaram pior desempenho em metade dos indicadores avaliados. Não foi observada diferença nas prevalências de atividade física, violência e diabetes entre as regiões de moradia das mulheres (valor p > 0,05).

Tabela 2
Prevalência dos indicadores de saúde pré-concepcional entre mulheres brasileiras em idade reprodutiva, por anos de escolaridade, PNS - 2013.
Tabela 3
Prevalência de indicadores de saúde pré-concepcional entre mulheres brasileiras em idade reprodutiva, por cor da pele/raça, PNS - 2013.

Em relação às infecções sexualmente transmissíveis (IST), a taxa de incidência de HIV entre as mulheres em idade reprodutiva mostrou-se crescente na última década, e a partir de 2017 parece diminuir (Figura 1), mesmo com a proporção do número de casos 10,0% menor no período estudado em relação ao total de casos na população brasileira (Tabela 4). Em relação à sífilis em gestantes, percebe-se que a taxa de incidência foi maior, principalmente a partir de 2013 (Figura 1), na ordem de sete vezes a mais no período.

Tabela 4
Número de casos e taxa de incidência em mulheres brasileiras em idade reprodutiva HIV e de sífilis em gestantes notificados no SINAN, segundo faixa etária e ano diagnóstico, Brasil - 2010-2020.

Figura 1
Taxa de incidência de HIV em mulheres brasileiras em idade reprodutiva e sífilis em gestantes por ano, Brasil - 2010-2020.

Discussão

No presente estudo, observa-se entre os indicadores analisados que houve aumento da prevalência daqueles que indicam acesso e utilização dos serviços de saúde, como consultas no último ano e exame Papanicolau recente, mas por outro lado aumento da prevalência de DCNT como a hipertensão e dos seus fatores de risco, como consumo de bebida alcoólica e obesidade. Observou-se maior prevalência de depressão entre as mulheres, e também foi observada a manutenção de indicadores, com destaque aos que se referem especificamente à saúde reprodutiva, tais como uso de MC, com manutenção de um mix obsoleto2929 Cavenaghi S, Alves JED. O mix contraceptivo eternamente obsoleto no Brasil e seu legado. Rev Bras Estud Popul 2019; 36:e0103., e tratamento de fertilidade. Em relação às IST, observou-se aumento da taxa de incidência da sífilis na última década. Por fim, as mulheres pretas/pardas, com baixa escolaridade, com maior número de partos e que viviam nas regiões Norte e Nordeste apresentaram piores condições de saúde.

Nossos achados mostram que a saúde das mulheres brasileiras em idade reprodutiva apresenta-se comprometida em diversos indicadores avaliados, como as DCNT e seus fatores de risco, as doenças transmissíveis e a violência, corroborando achados de estudos nacionais1212 Moura ERF, Evangelista DR, Damasceno AKC. Conhecimento de mulheres com diabetes mellitus sobre cuidados pré-concepcionais e riscos materno-fetais. Rev Esc Enferm USP 2012; 46(1):22-29.,1818 Araújo FG, Velasquez-Melendez G, Felisbino-Mendes MS. Prevalence trends of overweight, obesity, diabetes and hypertension among Brazilian women of reproductive age based on sociodemographic characteristics. Health Care Women Int 2019; 40(4):386-406.,3030 Oliveira LVA, Santos BNS, Machado IE, Malta DC, Velasquez-Melendez G, Felisbino-Mendes MS. Prevalence of the metabolic syndrome and its components in the Brazilian adult population. Cien Saude Colet 2020; 25(11):4269-4280. e internacionais77 Robbins C, Boulet SL, Morgan I, D'Angelo DV, Zapata LB, Morrow B, Sharma A, Kroelinger CD. Disparities in preconception health indicators - behavioral risk factor surveillance system, 2013-2015, and pregnancy risk assessment monitoring system, 2013-2014. MMWR Surveill Summ 2018; 67(1):1-16.,3131 Jaacks LM, Vandevijvere S, Pan A, McGowan CJ, Wallace C, Imamura F, Mozaffarian D, Swinburn B, Ezzati M. The obesity transition: stages of the global epidemic. Lancet Diabetes Endocrinol 2019; 7(3):231.,3232 Vogel B, Acevedo M, Appelman Y, Bairey Merz CN, Chieffo A, Figtree GA, Guerrero M, Kunadian V, Lam CSP, Maas AHEM, Mihailidou AS, Olszanecka A, Poole JE, Saldarriaga C, Saw J, Zühlke L, Mehran R. The Lancet Women and Cardiovascular Disease Commission: reducing the global burden by 2030. Lancet 2021; 397(10292):2385-2438.. Destaca-se que as mulheres são jovens e apresentam questões de saúde importantes que vão além do aspecto sexual e reprodutivo. Além disso, o estado de saúde das mulheres piorou com o passar dos anos, reafirmando a necessidade de promover melhores condições de saúde ao longo da vida com políticas mais abrangentes, que busquem a promoção de hábitos de vida mais saudáveis, prevenção e controle de doenças e apoio psicológico, garantindo de forma efetiva a atenção integral à saúde das mulheres. Ressalta-se que mesmo assim a maioria percebe sua saúde como boa, evidenciando uma não percepção do estilo de vida não saudável e dos riscos dele decorrentes. Em outros indicadores, como tabagismo atual e diabetes, não houve piora nem melhora, o que também não indica avanços na promoção da saúde das mulheres.

Além disso, os resultados do presente estudo também mostraram que as mulheres com maior vulnerabilidade apresentaram piores condições de saúde e autopercepção, o que já tem sido apontado em estudos prévios77 Robbins C, Boulet SL, Morgan I, D'Angelo DV, Zapata LB, Morrow B, Sharma A, Kroelinger CD. Disparities in preconception health indicators - behavioral risk factor surveillance system, 2013-2015, and pregnancy risk assessment monitoring system, 2013-2014. MMWR Surveill Summ 2018; 67(1):1-16.,1818 Araújo FG, Velasquez-Melendez G, Felisbino-Mendes MS. Prevalence trends of overweight, obesity, diabetes and hypertension among Brazilian women of reproductive age based on sociodemographic characteristics. Health Care Women Int 2019; 40(4):386-406.,3333 Oliveira TM, Santos MS, Campos AAL, Duque KD C, Teixeira MTB. Condição sócio econômica como fator preditor para a auto percepção negativa da saúde de mulheres cobertas pela estratégia de saúde da família. APS 2017; 20(2):305-305.. Assim, aquelas com baixa escolaridade, pretas e pardas e com maior número de partos estavam com a saúde comprometida em diversos indicadores avaliados, como alimentação, prática de exercícios físicos e excesso de peso, entre outros, em maior frequência do que as demais, revelando desigualdades sociais entre as mulheres brasileiras. O estado de saúde e a desigualdade entre as mulheres também foi observado em estudo semelhante conduzido nos EUA com indicadores de saúde pré-concepcional77 Robbins C, Boulet SL, Morgan I, D'Angelo DV, Zapata LB, Morrow B, Sharma A, Kroelinger CD. Disparities in preconception health indicators - behavioral risk factor surveillance system, 2013-2015, and pregnancy risk assessment monitoring system, 2013-2014. MMWR Surveill Summ 2018; 67(1):1-16.. Mostram ainda que de alguma maneira essas mulheres percebem sua condição social vunerável ao avaliar sua saúde como negativa com mais frequência do que as demais. Esses achados reforçam a necessidade de manutenção da busca por equidade, reconhecendo as diferenças e garantindo os direitos e o acesso aos serviços de saúde.

Adicionalmente, estudo prévio em São Paulo mostrou relação entre nível de escolaridade e paridade, em que mulheres com mais filhos e mulheres menos escolarizadas realizaram com menor frequência os cuidados pré-concepcionais3434 Nascimento N de C, Borges ALV, Fujimori E. Preconception health behaviors among women with planned pregnancies. Rev Bras Enferm 2019; 72(Supl. 3):17-24.. Essa condição reforça a necessidade do planejamento reprodutivo entre as mulheres, pois mesmo com a alta cobertura do uso de contraceptivos, a gravidez não planejada ainda está presente e tem implicações posteriores na vida da mulher, tais como mudança na rotina, problemas psíquicos e abandono dos estudos, sendo que as mudanças no plano de vida e suas consequências são ainda mais drásticas entre as adolescentes3535 Marteleto LJ, Villanueva A. The educational consequences of adolescent childbearing and union formation in Brazil. Stud Fam Plann 2018; 49:1830211.. Além disso, esses fatores impedem as mulheres de alcançar melhores empregos, melhor renda e podem perpetuar os ciclos de pobreza3535 Marteleto LJ, Villanueva A. The educational consequences of adolescent childbearing and union formation in Brazil. Stud Fam Plann 2018; 49:1830211..

Outro aspecto observado foi a heterogeneidade da saúde no território brasileiro, visto que o pior desempenho dos indicadores de saúde pré-concepcional das mulheres brasileiras foi observado entre as que viviam nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e os melhores resultados entre aquelas da Região Sul e Sudeste. Esses achados corroboram que, mesmo com os avanços socioeconômicos no país nos últimos anos, persistem desigualdades regionais no acesso aos serviços de saúde tanto na complexidade3636 Albuquerque MV, Viana ALD, Lima LD, Ferreira MP, Fusaro ER, Iozzi FL. Desigualdades regionais na saúde: mudanças observadas no Brasil de 2000 a 2016. Cien Saude Colet 2017; 22(4):1055-1064. quanto na qualidade3737 Pinto LF, Quesada LA, D'avila OP, Hauser L, Gonçalves MR, Harzheim E. Primary Care Asssement Tool: diferenças regionais a partir da Pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cien Saude Colet 2021; 26(9):3965-3979. dos serviços ofertados.

Os fatores de risco e das DCNT entre as mulheres em idade reprodutiva continuam presentes de forma considerável, endossando dados de outro estudo com amostra de mulheres em São Paulo3434 Nascimento N de C, Borges ALV, Fujimori E. Preconception health behaviors among women with planned pregnancies. Rev Bras Enferm 2019; 72(Supl. 3):17-24.. Além disso, nossos achados apontam piora desses indicadores em 2019, ou seja, não houve melhora na saúde das mulheres nesse âmbito ao longo dos anos. As DCNT são responsáveis por 44% das mortes em mulheres no país3838 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas e agravos não transmissíveis no Brasil 2021-2030 [Internet]. 2020. [citado 2021 mar 7]. Disponível em: https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2020/October/01/Plano-DANT-vers--o-Consulta-p--blica.pdf
https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2...
, e quase metade das mulheres brasileiras tem síndrome metabólica3030 Oliveira LVA, Santos BNS, Machado IE, Malta DC, Velasquez-Melendez G, Felisbino-Mendes MS. Prevalence of the metabolic syndrome and its components in the Brazilian adult population. Cien Saude Colet 2020; 25(11):4269-4280., condição em que as mulheres apresentam agravos à saúde que podem levar a doenças cardiovasculares. Observou-se em estudo conduzido com mulheres diabéticas o conhecimento limitado acerca das complicações maternas e fetais que a doença crônica pode acarretar, com a gestação sendo planejada somente em um terço dos casos, porém apenas 5% tiveram acompanhamento profissional1212 Moura ERF, Evangelista DR, Damasceno AKC. Conhecimento de mulheres com diabetes mellitus sobre cuidados pré-concepcionais e riscos materno-fetais. Rev Esc Enferm USP 2012; 46(1):22-29..

Outros estudos também apresentaram tendência crescente de DCNT e seus fatores de risco nesse grupo populacional, tais como obesidade1818 Araújo FG, Velasquez-Melendez G, Felisbino-Mendes MS. Prevalence trends of overweight, obesity, diabetes and hypertension among Brazilian women of reproductive age based on sociodemographic characteristics. Health Care Women Int 2019; 40(4):386-406.,3131 Jaacks LM, Vandevijvere S, Pan A, McGowan CJ, Wallace C, Imamura F, Mozaffarian D, Swinburn B, Ezzati M. The obesity transition: stages of the global epidemic. Lancet Diabetes Endocrinol 2019; 7(3):231., hipertensão3939 Julião NA, Souza A, Guimarães RRM. Tendências na prevalência de hipertensão arterial sistêmica e na utilização de serviços de saúde no Brasil ao longo de uma década (2008-2019). Cien Saude Colet 2021; 26(9):4007-4019. e consumo de álcool4040 Massaro LTS, Abdalla RR, Laranjeira R, Caetano R, Pinsky I, Madruga CS. Alcohol misuse among women in Brazil: recent trends and associations with unprotected sex, early pregnancy, and abortion. Rev Bras Psiquiatr 2019; 41(2):131-137.,4141 Munhoz TN, Santos IS, Nunes BP, Mola CL, Silva ICM, Matijasevich A. Tendências de consumo abusivo de álcool nas capitais brasileiras entre os anos de 2006 a 2013: análise das informações do VIGITEL. Cad Saude Publica 2017; 33(7):e00104516. entre as mulheres. A alta prevalência de hipertensão é alarmante, uma vez que essa condição aumenta as doenças cardiovasculares em mulheres jovens3232 Vogel B, Acevedo M, Appelman Y, Bairey Merz CN, Chieffo A, Figtree GA, Guerrero M, Kunadian V, Lam CSP, Maas AHEM, Mihailidou AS, Olszanecka A, Poole JE, Saldarriaga C, Saw J, Zühlke L, Mehran R. The Lancet Women and Cardiovascular Disease Commission: reducing the global burden by 2030. Lancet 2021; 397(10292):2385-2438.. Esses achados são um alerta para a saúde pré-concepcional, assim como para possíveis complicações em uma futura gestação.

Quanto ao aumento do consumo de álcool, este foi relacionado aos papéis de gênero, à maior inserção das mulheres em ambientes sociais e em atividades previamente ditas como destinadas aos homens4141 Munhoz TN, Santos IS, Nunes BP, Mola CL, Silva ICM, Matijasevich A. Tendências de consumo abusivo de álcool nas capitais brasileiras entre os anos de 2006 a 2013: análise das informações do VIGITEL. Cad Saude Publica 2017; 33(7):e00104516.. Também foi observado melhora do indicador de prática de exercícios físicos, corroborando estudo prévio4242 Ide PH, Martins MSAS, Segri NJ. Tendência dos diferentes domínios da atividade física em adultos brasileiros: dados do Vigitel de 2006-2016. Cad Saude Publica 2020; 36(8):e00142919.. Essa melhora pode estar relacionada à busca por mudança de comportamento e ao incentivo a melhores hábitos de vida pelos programas de saúde pública4242 Ide PH, Martins MSAS, Segri NJ. Tendência dos diferentes domínios da atividade física em adultos brasileiros: dados do Vigitel de 2006-2016. Cad Saude Publica 2020; 36(8):e00142919..

Nossas análises mostram aumento considerável das doenças transmissíveis na última década, que persiste como problema em nível mundial4343 Rowley J, Hoorn S Vander, Korenromp E, Low N, Unemo M, Abu-Raddad LJ, Chico RM, Smolak A, Newman L, Gottlieb S, Thwin SS, Broutet N, Taylor MM. Chlamydia, gonorrhoea, trichomoniasis and syphilis: global prevalence and incidence estimates, 2016. Bull WHO 2019; 97(8):548-562.. Esse aumento foi observado para a população brasileira como um todo. Destaca-se ainda que a notificação compulsória da sífilis adquirida foi implantada em 2010 e também pode estar relacionada ao aumento exponencial das notificações ao longo do tempo4444 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Boletim Epidemiológico Sífilis [Internet]. 2021. [acessado 2021 mar 7]. Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/boletins-epidemiologicos/2021/sifilis/boletim_sifilis_2021_internet.pdf/view
https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de...
. Além disso, o cuidado pré- concepcional para mulheres com IST é essencial para a saúde dela e de sua prole, pois permite detectar e tratar as infecções e prevenir a transmissão vertical. A detecção se dá por testes rápidos, os tratamentos estão disponíveis e são facilitados pelo SUS4444 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Boletim Epidemiológico Sífilis [Internet]. 2021. [acessado 2021 mar 7]. Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/boletins-epidemiologicos/2021/sifilis/boletim_sifilis_2021_internet.pdf/view
https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de...
. Além da saúde pré-concepcional, todas as mulheres se beneficiariam da prevenção e detecção precoce, do tratamento e da cura dessas doenças.

O presente estudo também mostrou a violência contra as mulheres como agravo prevalente, que por sua vez se configura como fator de risco para outras doenças e perda da saúde no mundo4545 Institute for Health Metrics and Evaluation. GBD Compare [Internet]. 2019. [cited 2021 nov 29]. Available from: https://vizhub.healthdata.org/gbd-compare/#
https://vizhub.healthdata.org/gbd-compar...
e no Brasil4646 World Health Organization (WHO). Violence against Women: prevalence estimates, 2018 [Internet]. 2021. [cited 2021 nov 30]. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/9789240022256. Além de constituir uma violação de direitos humanos, pode levar à morte e ao adoecimento das mulheres4545 Institute for Health Metrics and Evaluation. GBD Compare [Internet]. 2019. [cited 2021 nov 29]. Available from: https://vizhub.healthdata.org/gbd-compare/#
https://vizhub.healthdata.org/gbd-compar...
. Tal agravo tem como base a desigualdade de gênero4747 Willie TC, Kershaw TS. An ecological analysis of gender inequality and intimate partner violence in the United States. Prev Med (Baltim) 2019; 118:257-263., e observa-se que os movimentos conservadores sociais têm piorado a questão4848 Araújo V, Gatto MAC. Can conservatism make women more vulnerable to violence?. Comp Polit Stud 2021; 55(1):122-153.. Os resultados deste estudo, principalmente no que se refere ao aumento entre 2013 e 2019 deve ser interpretado com cautela, pois houve uma mudança no questionário, permitindo melhor captação da violência.

Assim, aponta-se para a necessidade real e urgente da abordagem integral da saúde da mulher no país, para além do que já se tem estabelecido, como o exame Papanicolau e ações voltadas ao ciclo gravídico-puerperal. Estudos mostraram que a abordagem integral poderia reduzir em 28% as mortes maternas, por estarem relacionadas às causas indiretas, com destaque para os distúrbios pré-existentes4949 Say L, Chou D, Gemmill A, Tunçalp Ö, Moller AB, Daniels J, Gülmezoglu AM, Temmerman M, Alkema L. Global causes of maternal death: a WHO systematic analysis. Lancet Glob Heal 2014; 2(6):e323-e333.. Apesar dos resultados apontarem alta cobertura do exame Papanicolau e do uso de MC - ou seja, as mulheres têm acesso, aqui demonstrado pela utilização dos serviços para essas demandas específicas1414 Travassos C, Martins M. Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de serviços de saúde. Cad Saude Publica 2004; 20(Supl. 2):S190-S198. -, a assistência pode estar fragmentada e não incorporando o cuidado integral à saúde das mulheres, configurando um cenário de oportunidades perdidas e uma visão reducionista da saúde da mulher jovem. Assim, nossos resultados permitem diagnosticar a situação de saúde das mulheres jovens no país.

Há décadas que programas e políticas públicas vêm se dedicando à saúde materna e infantil, mas as taxas de mortalidade ainda preocupam99 Leal MDC, Szwarcwald CL, Almeida PVB, Aquino EML, Barreto ML, Barros F, Victora C. Reproductive, maternal, neonatal and child health in the 30 years since the creation of the Unified Health System (SUS). Cien Saude Colet 2018; 23(6):1915-1928., e sabe-se que em geral os cuidados pré-concepcionais e de saúde dessas mulheres poderiam melhorar os desfechos gestacionais desse público, inclusive reduzir as iniquidades entre as mulheres. Destaca-se a vantagem de não restringir a análise apenas às mulheres que desejam ou planejam engravidar, e a importância dos inquéritos na avaliação da saúde das mulheres e do monitoramento dos indicadores na população feminina jovem na última década.

Limitações

O estudo não abrange as adolescentes de 15-17 anos no cálculo dos indicadores. Apesar da importância de se detectar o estado de saúde desse público e de a faixa etária de mulheres em idade reprodutiva incluir as adolescentes, a PNS 2013 entrevistou indivíduos a partir dos 18 anos. Em 2019, a PNS incluiu adolescentes de 15-17, exceto no módulo Violência, e uma análise de sensibilidade com essas adolescentes mostrou que as prevalências dos indicadores de sobrepeso, obesidade e consumo de bebida alcoólica foram subestimados (dados não mostrados), e os demais indicadores se mostraram muito semelhantes. Outra limitação em 2019 foi a ausência da pergunta sobre consumo de salada e a modificação nas perguntas sobre violências sofridas no último ano, impossibilitando a comparação entre as duas edições.

Em relação aos indicadores de acesso utilizados, deve-se considerar que essa medida se restringiu principalmente ao uso de serviços (consultas, exames, insumos). Sabe-se que essa pode ser uma medida restrita do acesso1414 Travassos C, Martins M. Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de serviços de saúde. Cad Saude Publica 2004; 20(Supl. 2):S190-S198..

Outro ponto diz respeito aos casos novos de sífilis adquirida que não estão estratificados por idade no DATASUS, impossibilitando analisar os dados das mulheres não gestantes em idade reprodutiva. Portanto, analisou-se a sífilis em gestantes, visto que representam mais da metade dos casos de sífilis notificados em mulheres no Brasil e são identificados no primeiro trimestre da gestação. Além disso, neste estudo não foram avaliados indicadores como vacinação, natimorto e outros, devido à ausência ou indisponibilidade dos dados.

Conclusão

O estudo mostrou que as mulheres brasileiras em idade reprodutiva apresentaram condição de saúde geral frágil, demonstrada pelos indicadores de saúde pré-cencepcional em níveis ruins, com destaque para os fatores de risco, as doenças transmissíveis e não transmissíveis e a violência, mesmo sendo este um grupo de mulheres jovens. Destaca-se o aumento da prevalência dos indicadores de acesso e utilização dos serviços de saúde e a piora dos indicadores de DCNT, seus fatores de risco e as IST ao longo do tempo. As mulheres com maior vulnerabilidade social, como as de baixa escolaridade, com maior número de partos e autodeclaradas pretas e pardas tiveram prevalências dos indicadores com níveis ainda piores, o que remete à necessidade de equidade na saúde integral dessas mulheres, além de melhoria das políticas e dos serviços prestados à saúde.

Agradecimentos

BNS Santos agradece pela bolsa de iniciação científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PIBIC/CNPq)/Pró-reitoria de Pesquisa/Universidade Federal de Minas Gerais.

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  • Financiamento

    Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - Auxílio financeiro.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    Nov 2023

Histórico

  • Recebido
    14 Out 2022
  • Aceito
    13 Fev 2023
  • Publicado
    15 Fev 2023
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revscol@fiocruz.br