Quando a narrativa cruza as disciplinas

Everardo Duarte Nunes Sobre o autor
2016

Hoje, escrever sobre narrativa tornou-se um desafio. Não somente pela impressionante produção, mas pelas abordagens teóricas, conceituais, metodológicas e aplicativas, incluindo suas formas de expressão.

Isto já havia sido exposto por Barthes11. Barthes R. Introdução à análise estrutural da narrativa. In: Barthes R, Greimas AJ, Bremond C, Eco U, Gritti J, Morin V et al., organizadores. Análise estrutural da narrativa. Rio de Janeiro: Vozes; 1971. p. 19-62. quando disse: “Inumeráveis são as narrativas do mundo” (p. 19). Decodificava o campo assinalando que elas se espraiavam por uma enorme variedade de gêneros - do mito à conversação -, presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades. Acrescentava, ainda, que havia uma “multiplicidade de pontos de vista” e sua abordagem podia ser histórica, psicológica, sociológica, etnológica, estética, etc. (p. 20). Na atualidade, o ciberespaço é um dos seus territórios e os periódicos exclusivamente online são fontes bibliográficas da maior importância.

Entre esses periódicos, Narrative Works, desde 2011, é um dos mais destacados, ao incluir largo espectro de disciplinas como: psicologia, sociologia, antropologia, gerontología, estudos literários, estudos de gênero, estudos culturais, estudos de religião, serviço social, educação, cuidado à saúde, ética, teologia, e artes. Recentemente, publicou um número temático que trata da questão das disciplinas - Narrative across disciplines22. Narratives Works. Special Issue: Narrative across disciplines. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016 [citado 1 Jun 2017]; 6(1):1-125. Disponível em: https://journals.lib.unb.ca/index.php/NW/issue/view/1900.
https://journals.lib.unb.ca/index.php/NW...
.

Este número é formado por cinco artigos e uma introdução que trazem as marcas de oito autores que se dedicam, no Canadá (Clive Baldwin, Andrew Estefan, Vera Caine, D. Jean Clandinin), Finlândia (Matti Hyvärinen, Hanna Meretoja), Estados Unidos (Kate de Medeiros), Inglaterra (Alun Munslow), a desvendar narrativas e construir as bases de sua interpretação.

Convidado para organizar esse número temático, Baldwin33. Baldwin C. Introduction to special issue: narrative across disciplines. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016; 6(1):1-14. elabora a Introdução lembrando que:

Não pretendo discutir os méritos relativos às posições e argumentos dos respectivos autores, nem avaliar a contribuição de seus trabalhos incluídos aqui para estabelecer ligações interdisciplinares […], mas estabelecer um diálogo com os autores e como contribuíram para o seu próprio trabalho. (p. 2)

O primeiro texto de autoria de Estefan et al.44. Estefan A, Caine V Clandinin DJ. At the intersections of narrative inquiry and professional education. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016; 6(1):15-37. tem como temática as intersecções da pesquisa narrativa e a formação profissional. O ponto de partida é que:

O estudo da experiência através de estórias é uma forma de entender como as pessoas fazem sentido de seus mundos, que são moldados por narrativas pessoais, sociais, familiares, culturais, habituais ou institucionais. A pesquisa narrativa é uma prática situada e relacional, na qual as histórias da experiência são compreendidas dentro de um espaço de inquérito narrativo tridimensional de temporalidade, socialidade e lugar. (p. 15)

Os autores são educadores que trabalham com as disciplinas de educação e enfermagem num processo de “pensar narrativamente quando engajados no próprio processo pedagógico”. Considerando a variedade dos conceitos de experiência, adotam o de John Dewey [1859-1952], Experience and nature, originalmente publicado em 1925. Apontam que, para Dewey, a “experiência é entendida como um fenômeno narrativo que é temporal, social, e situado”, e acrescentam do pensador:

A experiência também é um fenômeno social que envolve transações entre experiências internas, como pensamentos e sentimentos, e interação social, mesmo quando a outra [a interna] em tal interação é apenas realizada ‘em mente’. (p. 17)

Destacam que os lugares são importantes nas implicações de como as experiências “são capazes de falar sobre eles”, e que as narrativas são temporais - as anteriores partilham o presente e influenciam as futuras.

Fundamental, neste texto, é quando os autores salientam que essas ideias “marcadas por um contexto e compromisso profundamente relacional” foram básicas para que pensassem com e não sobre as estórias que ouviram (grifo dos autores). Mais ainda, como tensionaram suas experiências de educadores.

Relatam três estórias: a de Vera, quando seu filho pediu que ela examinasse se ele tinha piolhos no cabelo; a de Jean, professora, conselheira e psicóloga que trabalhava em escolas, inclusive com crianças deficientes físicos; a de Andrew, que relata como sua avó enfermeira ensinou-o sobre a profissão.

Para os autores, trabalhar com a experiência narrativa traz tensões, em especial, quando se equacionam os limites dos domínios pessoal e profissional. Para alguns, esses domínios são separados, para outros, práticas como enfermagem e educação envolvem considerar “o self em relação aos outros, (…) negociando e renegociando continuamente as fronteiras” (p. 23). Apontam que outras tensões permeiam o trabalho: padronização dos currículos; entendimento das práticas profissionais de maneira limitada (como habilidades); compreensão restrita do processo educacional e não como um todo; tratamento do contexto de forma estática. Enfim, como dizem:

[…] pensar com estórias é uma forma de ajudar os educadores de práticas profissionais a sustentar o pensamento narrativo sobre os contextos de tempo e local e os relacionamentos em que trabalhamos, e com os quais aprendemos a ser profissionais. (p. 34)

O segundo texto é de Hyvärinen55. Hyvärinen M. Narrative and sociology. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016; 6(1):38-62.. Trata-se de pesquisador que tem trazido extensas e profundas análises sobre a narrativa. Sua metáfora de que a narrativa é “uma das grandes viajantes acadêmicas dos últimos quarenta anos”66. Hyvärinen M. An introduction to narrative travels. In: Hyvärinen M, Korhonen A, Mykkänen J, editores. COLLeGIUM: studies across disciplines in the humanities and social sciences. Helsinki: University of Helsinki; 2006. v. 1, p. 3-9. é um orientador para se entender a sua proposta quando analisa as relações narrativa e sociologia, destacando que “as viagens multidisciplinares da narrativa tem sido frequentemente celebrada” (p. 4).

Neste ensaio conta-nos a história da narrativa na sociologia a partir da sua pré-história, cujas origens remontam a Thomas e Znaniecki; e o estudo de 1918-1920 sobre o polonês nos Estados Unidos e Europa, usando cartas e histórias de vida. Essa história biográfica criaria tradição na Escola de Chicago, mas seria marginalizada no pós 2a Guerra com o fortalecimento da pesquisa quantitativa, e somente ressurgiria nos anos 1980. Hyvärinen anota que é difícil estabelecer “o começo de uma sociologia narrativa propriamente dita” (p. 42). Para ele, Mishler, na década de 1980, pode ser uma referência; e acrescenta, Mishler é “radicalmente interdisciplinar” trazendo à tona vários campos de conhecimento como: a antropologia, sociologia, linguística, psicologia, filosofia, história. Dos anos 1990, cita Reissman e Maines, este último ao caracterizar duas tipologías: a “sociologia da narrativa” e a “sociologia como narrativa”. Situa que, na “virada narrativa”, houve um “relativo silêncio entre as lideranças teóricas da sociologia”; e discute duas diferentes contribuições para o tema, as de Anthony Giddens e de Richard Sennett. Considera que trouxeram contribuições importantes, por exemplo, Giddens com a noção de “continuidade biográfica”, e Sennet, ao destacar “o condicionamento” social e económico sobre as narrativas, especialmente as condições de trabalho. Porém, nenhum deles “consegue teorizar a capacidade reconstrutiva e ativa das narrativas”. Para Hyvärinen, trabalhar o percurso da narrativa em sociologia se assemelha a reunir um quebra-cabeça, quando a interdisciplinaridade torna-se um dos elementos a ser considerado. Destaco que, segundo Hyvärinen, “A ideia de que uma história de vida relevante requer uma vida linear estável não encontra evidência nos estudos biográficos” (p. 45); e cita, como exemplos, as narrativas de sobreviventes do Holocausto e as narrativas sobre adoecimento.

O autor assinala três orientações para a pesquisa que não são categóricas, mas prototípicas e heurísticas, e se aplicam a um siginificado amplo de texto (análises visuais, corporais, usos da voz, mãos, olhares): o estudo de textos narrativos, a sociologia do contar estórias e o estudo das realidades narrativas.

Considera que o estudo de textos narrativos é parte integrante da pesquisa qualitativa. Entre os autores que cita, destaco a sugestão de Riessman que divide a perspectiva narrativa em três partes: análise temática, análise estrutural e análise dialógica/perfomática, que responderiam a: o que estudar; como estudar e o relatar.

Ao analisar a “sociologia do contar estórias”, Hyvärinen recupera as discussões em torno da autoetnografia, que, segundo Tami Spry, pode ser caracterizada como:

metodologia criticamente reflexiva, que resulta em uma narrativa do envolvimento do pesquisador com outros em contextos socioculturais particulares. (p. 48)

Ao se referir às suas análises narrativas, Hyvärinen diz que “não eclipsa experiências vividas com conceitos, categorias e tipologías”, mas “tenta surpreender e discutir isso em um diálogo entre pesquisador e contador de histórias” (p. 51).

No último tipo de pesquisas sociológicas, Hyvärinen analisa como estudar “realidades narrativas”, que ele associa aos gêneros de narrativas. Baldwin11. Barthes R. Introdução à análise estrutural da narrativa. In: Barthes R, Greimas AJ, Bremond C, Eco U, Gritti J, Morin V et al., organizadores. Análise estrutural da narrativa. Rio de Janeiro: Vozes; 1971. p. 19-62. comenta que Hyvärinen mostra “como os gêneros encapsulam realidades narrativas particulares que, por sua vez, fazem parte do ambiente narrativo em que vivemos” (p. 6). Ressalta-se, dessa forma, não somente a importância do ambiente, mas os mecanismos de “controles” narrativos exercidos pelo ambiente.

No final, Hyvärinen discute as possibilidades de um novo tipo de teoria - a socionarratologia, que inclui a adoção das contribuições da linguística, como a distinção de estória (sequência de eventos) e discurso narrativo (como a estória é representada). Acrescenta que narratologistas deveriam se interessar mais pelas narrativas ficcionais.

O terceiro texto é de autoria de Kate de Medeiros77. Medeiros K. Narrative gerontology: countering the master narratives of aging. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016; 6 (1):63-81., e trata da gerontologia narrativa. Situa como objetivos: o que é gerontologia, qual o papel da narrativa dentro da gerontologia, como tem sido usada na pesquisa e qual o seu futuro. Destaca, ainda, qual o papel das “narrativas culturais dominantes” (master cultural narratives) e o uso de “estórias emergentes” (counter stories)(b)(b)As expressões “narrativas culturais dominantes” e “estórias emergentes” são adaptações do autor da resenha. apresenta exemplos de entrevistas orais e uma oficina de escrita.

Ressalta a autora que o campo da gerontologia tem suas raízes no campo da biologia e medicina no final do século XIX [a palavra gerontologia foi criada por Ilya Ilyich Mechnikov em 1903], e somente depois da 2a Guerra adentra a demografia e a saúde pública. Aponta para o crescimento da pesquisa e da formação graduada e pós-graduada em gerontologia, mas a proposta de “questões mais profundas” ocorreria nos anos 1970, a partir da “perspectiva das humanidades”. A gerontologia narrativa, como campo, seria da década de 1990, quando Jan-Eric Ruth, em 1994, cunhou o termo.

Tomando como referência a ideia de que a gerontologia narrativa é “uma heurística para o estudo do envelhecimento”, de Medeiros adota uma concepção ampla de narrativa, que, em “seu nível mais básico, é uma revelação de algum aspecto do self através de símbolos ordenados” (p. 65). Para ela, “símbolos ordenados” destinam-se a descrever a grande variedade de maneiras em que o significado pode ser transmitido, como linguagem (oral e escrita), gestos, imagens, movimentos e assim por diante”. Adverte que, neste artigo, inclui apenas exemplos de narrativas como linguagem.

A autora analisa as “narrativas culturais dominantes”, que remetem a imagens ideologizadas - a “velhice como a narrativa de uma jornada”, da solidão, “as pessoas mais velhas são mais solitárias do que outros grupos de idade”, da decadência - “a narrativa do declínio” - e, como podem afetar o processo de pesquisa e interferir no momento de uma entrevista (p.66,67). Destaca que as dificuldades em contrapor “estórias emergentes” às narrativas dominantes devem-se aos “limites dos quadros disponíveis para narrar a experiência”; de Medeiros ilustra, com três casos de senhoras com mais de 70 anos, o significado da generatividade para mulheres idosas sem filhos, o potencial das “counter-stories”, e encerra o artigo com os benefícios das oficinas de escrita. Nessa atividade, as pessoas selecionam diferentes eventos para contá-los sob formas variadas - poemas, cartas, memórias - que “fornecem oportunidades para uma verdadeira criação conjunta de significados [que] podem ser formas de desafiar as “master narratives” (p. 78).

Em relação ao futuro, destaca: a necessidade de mais pesquisa sobre as “pequenas estórias” (small stories), que seriam “meios para as pessoas expressarem pensamentos, reações e outras experiências do envelhecimento e que estão fora das grandes narrativas”; mais consideração sobre “o que é narrado como estória”, e que os idosos devem ter uma voz muito maior como suas narrativas são contadas e recebidas”. Encerra alertando que “A ética da narração deve estar no cerne de todo o trabalho narrativo”, como já assinalado por outros autores (p. 79).

O quarto texto é de autoria de Meretoja88. Meretoja H. Exploring the possible: philosophical reflection, historical imagination, and narrative agency. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016; 6(1):82- 107., que desenvolve uma detalhada reflexão sobre: os fundamentos filosóficos que subjazem às diferentes concepções de narrativas, o sentido histórico na conceituação da narrativa e experiência, e o significado da narrativa para o indivíduo e “nosso sentido de possível”.

A autora confessa que, mesmo fazendo a distinção entre estória e narrativa, “muitas vezes me sinto como um pássaro raro em estudos narrativos literários, pois geralmente tenho mais em comum com abordagens filosóficas, psicológicas e sociais científicas da narrativa do que com a tradição formalista da narratologia literária” (p. 83). Acrescenta que os praticantes de diferentes tradicionais devem exercitar um aprendizado comum. Nesse sentido, a interdisciplinaridade é um caminho que pode favorecer o diálogo. Para ela, embora tenha aumentado o diálogo, ainda, “o legado formalista e estruturalista predomina nos estudos da narrativa literária” (p. 84). Nesse sentido, assinala duas tendências: a cientificista, de muitos narratologistas, e a abordagem hermenêutica da narrativa.

Destaca que a perspectva hermenêutica repousa em uma “dimensão existencial da narrativa que vai além do objetivo - ou, na melhor das hipóteses, marginal - à narratologia literária: Quem somos nós e quem podemos ser?” (p. 84) A fim de desenvolver a sua intensa análise, Meretoja vai em busca de consagrados pensadores do campo da narrativa, como: Barthes, Gadamer, Foucault, Ricouer, Bruner.

Ilustra a sua análise no estudo da narrativa de obras literárias com o romance Submissão de Michel Houellebeck.

Para a autora, estas reflexões se impõem no momento em que os estudos narrativos se expandem e se tornam cada vez mais interdisciplinares. Em sua visão, a análise das concepções de narrativa depende de como filosoficamente entendemos o que é real - isto é, quais são nossos pressupostos ontológicos (p. 86).

No dizer de Meretoja (p. 86), os estudos narrativos literários têm negligenciado o significado ontológico-existencial. Para ultrapassar a tradicional visão da narrativa - “representação de eventos” -, sugere a de uma narrativa como “uma atividade interpretativa mediada pela cultura, dialógica e com forte carga ética”.

O quinto artigo, de autoria de Munslow99. Munslow A. Narrative works in history. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016; 6(1):108-25., aborda os trabalhos narrativos na história, iniciando pelo relato do seu encontro com a história e a ciência política, desde o bacharelato até o doutorado, e interesse pela história americana do século XIX e início do século XX.

Como escreve: “Eu era um intransigente “social science historian” que acreditava que o passado era história e história era o passado” (p. 108), quando leu um texto de Hayden White sobre a meta-história, apresentado por um colega. Descobriu que, para White, “o trabalho histórico” era uma forma de discurso narrativo; que:

A história não é, portanto, uma descoberta - muito menos uma revelação no arquivo - da história do passado, mas é a narrativa do historiador sobre o passado. (p. 109)

e que ele [Munslow]:

tinha que entender a natureza epistemológica da “história como uma narrativa” […] a estrutura profunda da imaginação histórica como um processo de criação narrativa […]. (p. 109)

Retoma o argumento de White de que “‘histórias’ e ‘filosofias da história’ não apenas combinam dados e conceitos teóricos para ‘explicar’ o significado e a natureza do passado, mas são, na verdade, uma representação (simbólica) narrativa de “conjuntos de eventos” que ocorreram no passado” (p. 109).

Entre as questões que atravessam o artigo, podem ser citadas: a relação (e significado) de passado-história-passado, quando afirma: “Meu julgamento (e muitos historiadores acadêmicos não concordarão) é que o passado não possui sua própria história que está esperando ser descoberta”. Argumenta este ponto e desenvolve extensa análise, mas ressalto a seguinte passagem: “Os dados são sempre de forma autoral, projetados, imaginados, calculados, construídos ou mesmo desconstruídos”, citando exemplos, como “uma História Social das Classes Trabalhadoras”. Outro ponto que ressalto é sobre o conceito de “espaço da estória narrativa do historiador”, ou seja, “um modelo de como, quando, o que, porque, onde e para quem os eventos aconteceram no passado” (grifos do autor) (p. 114). Salienta, porém, que “uma narrativa autoral não é somente uma “story space”; ela é também um “discourse” (p.116). São muitos os aspectos analisados e difícil a tarefa de condensá-los sem perder a narrativa do autor, nos limites da resenha. Texto denso, mas, nas palavras do autor: “Posto brevemente, a forma da narrativa do historiador determina o significado e explicação do conteúdo do passado” (p. 121); e encerra advertindo que a “História não é principalmente a sobre[posição] do conteúdo à forma. História é sobre conteúdo e forma” (p. 123).

Vários são os pontos positivos deste número: trabalhar com a noção de cruzamento de disciplinas, discutir inovações teóricas de como abordar as disciplinas, e ajudar a repensá-las como pesquisa e aplicação. É evidente o seu valor para estudos na área da saúde.

Destaque-se a presença de autores de diferentes nacionalidades, que referenciam clássicos da narrativa, mas, dos europeus, a grande ausência é Walter Benjamin nos artigos que tratam de aspectos filosóficos e, em especial, sobre a experiência-narrativa, tão bem trabalhados pelo filósofo alemão.

Outra observação é a de que alguns dos temas tratados não são estranhos (e já há algum tempo) à literatura brasileira. De forma apenas indicativa, podem ser citados: Antonio Candido1010. Candido A. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática; 1987. e seus ensaios sobre literatura e sociedade e crítica literária; Ecléa Bosi1111. Bosi E. Memória e sociedade. Lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras; 1997. e as memórias de velhos; Lília Blima Schraiber1212. Schraiber LB. Medicina liberal e tecnologia: as transformações históricas da autonomia profissional dos médicos em São Paulo [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina da USP; 1988., sobre médicos paulistas. Em todos eles, a narrativa é central.

  • (b)
    As expressões “narrativas culturais dominantes” e “estórias emergentes” são adaptações do autor da resenha.

Referências

  • 1
    Barthes R. Introdução à análise estrutural da narrativa. In: Barthes R, Greimas AJ, Bremond C, Eco U, Gritti J, Morin V et al., organizadores. Análise estrutural da narrativa. Rio de Janeiro: Vozes; 1971. p. 19-62.
  • 2
    Narratives Works. Special Issue: Narrative across disciplines. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016 [citado 1 Jun 2017]; 6(1):1-125. Disponível em: https://journals.lib.unb.ca/index.php/NW/issue/view/1900
    » https://journals.lib.unb.ca/index.php/NW/issue/view/1900
  • 3
    Baldwin C. Introduction to special issue: narrative across disciplines. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016; 6(1):1-14.
  • 4
    Estefan A, Caine V Clandinin DJ. At the intersections of narrative inquiry and professional education. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016; 6(1):15-37.
  • 5
    Hyvärinen M. Narrative and sociology. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016; 6(1):38-62.
  • 6
    Hyvärinen M. An introduction to narrative travels. In: Hyvärinen M, Korhonen A, Mykkänen J, editores. COLLeGIUM: studies across disciplines in the humanities and social sciences. Helsinki: University of Helsinki; 2006. v. 1, p. 3-9.
  • 7
    Medeiros K. Narrative gerontology: countering the master narratives of aging. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016; 6 (1):63-81.
  • 8
    Meretoja H. Exploring the possible: philosophical reflection, historical imagination, and narrative agency. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016; 6(1):82- 107.
  • 9
    Munslow A. Narrative works in history. Narrat Works Issues Investig Interv. 2016; 6(1):108-25.
  • 10
    Candido A. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática; 1987.
  • 11
    Bosi E. Memória e sociedade. Lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras; 1997.
  • 12
    Schraiber LB. Medicina liberal e tecnologia: as transformações históricas da autonomia profissional dos médicos em São Paulo [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina da USP; 1988.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    15 Set 2017
  • Aceito
    02 Out 2017
UNESP Botucatu - SP - Brazil
E-mail: intface@fmb.unesp.br