A influência dos locais de refeição e de aquisição de alimentos no consumo de frutas e hortaliças por adultos no município de São Paulo

Carolina Carpinelli Sabbag Maziero Patrícia Constante Jaime Ana Clara Duran Sobre os autores

RESUMO:

Introdução:

Apesar do aumento no consumo de frutas e hortaliças no Brasil, o país ainda está aquém das recomendações. O local de consumo e aquisição desses alimentos ainda é pouco explorado.

Objetivo:

Avaliar a influência dos locais de aquisição e consumo de alimentos na ingestão de frutas e hortaliças em adultos residentes no município de São Paulo.

Métodos:

Estudo transversal que avaliou 2 mil indivíduos participantes do “Estudo do ambiente obesogênico em São Paulo”. O desfecho do estudo foi o consumo regular de frutas e hortaliças. As variáveis de exposição foram: local de aquisição (supermercados, feiras, sacolões e mercados de bairro) e consumo de alimentos (restaurantes de serviço completo e restaurantes fast-food).

Resultados:

A população estudada é composta por 52,3% de indivíduos do sexo feminino, 30,2% com idade entre 25 e 34 anos, 42,8% com 8 a 11 anos de estudo e 34,6% com renda familiar de 2 a 5 salários mínimos. As variáveis demográficas e socioeconômicas associaram-se com o desfecho (p < 0,05). O consumo regular de refeições em restaurantes de serviço completo foi associado ao consumo de hortaliças, ao contrário do consumo de refeições em restaurantes fast-food. Não houve associação entre local de aquisição e consumo regular de frutas e hortaliças.

Conclusão:

Visitas regulares a restaurantes de serviço completo influenciam positivamente o consumo de hortaliças. Não foram encontradas relações entre o local de compra de frutas e hortaliças e seu consumo.

Palavras-chave:
Consumo de alimentos; Promoção da saúde; Frutas. Hortaliças; Inquéritos nutricionais; Adulto

INTRODUÇÃO

O consumo de frutas e hortaliças é considerado marcador de um padrão de alimentação saudável, diminuindo os riscos de morte causada por doenças crônicas não transmissíveis em razão de sua composição rica em vitaminas, minerais e fibras e sua baixa densidade energética. As frutas e hortaliças também integram refeições mais completas, variadas, coloridas e atraentes, com menor presença de alimentos ultraprocessados, conforme preconiza o Guia Alimentar para a População Brasileira11. Brasil. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população brasileira. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.,22. Oliveira MS, Lacerda LNL, Santos LC, Lopes ACS, Câmara AMCS, Menzel HJK, et al. Consumo de frutas e hortaliças e as condições de saúde de homens e mulheres atendidos na atenção primaria à saúde. Ciênc Saúde Coletiva 2015; 20(8): 2313-22. DOI: 10.1590/1413-81232015208.18272014
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,33. Pessoa MC, Mendes LL, Caiaffa WT, Malta DC, Velásquez-Meléndez G. Availability of food stores and consumption of fruit, legumes and vegetables in a Brazilian urban area. Nutr Hosp 2014; 31(3): 1438-43. DOI: 10.3305/nh.2015.31.3.8245
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,44. Figueiredo ICR, Jaime PC, Monteiro CA. Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras em adultos na cidade de São Paulo. Rev Saúde Pública 2008; 42(5): 777-85. DOI: 10.1590/S0034-89102008005000049
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,55. Brasil. Ministério da Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Departamento de Análise de Situação de Saúde, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde ; 2011.. O consumo mínimo diário desses alimentos para se obter esse efeito saudável e protetor é de 400 g per capita, ou o equivalente a 5 porções de 80 g66. World Health Organization (WHO). Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. Report of a Joint WHO/FAO Expert Consultation. Geneva: WHO; 2003. 149 p..

Esse consumo mínimo é atingido por 24% da população brasileira, segundo Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), realizada em 201477. Brasil. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2014, Saúde Suplementar: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Agência Nacional de Saúde Suplementar, Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde ; 2015., e por pouco menos de um terço da população brasileira, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS)88. Jaime PC, Stopa SR, Oliveira TP, Vieira ML, Szwarcwald CL, Malta DC. Prevalência e distribuição sociodemográfica de marcadores de alimentação saudável, Pesquisa Nacional de Saúde, Brasil, 2013. Epidemiol Serv Saúde 2015; 24(2): 267-76. DOI: 10.5123/S1679-49742015000200009
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.

O comportamento alimentar é altamente complexo. Os motivos que levam uma pessoa a consumir determinado alimento são resultantes da interação de múltiplas influências, em diferentes contextos e condições, sendo influenciados por características socioeconômicas e demográficas99. Oliveira SP, Theubaud-Mony A. Hábitos e práticas em três localidades da cidade de São Paulo (Brasil). Rev Nutr 1998; 11(1): 37-50. DOI: 10.1590/S1415-52731998000100003
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,1010. Souza RS, Arbage AP, Neumann PS, Froehlich JM, Diesel V, Silveira PR, et al. Comportamento de compra dos consumidores de frutas, legumes e verduras na região central do Rio Grande do Sul. Cienc Rural 2008; 38(2): 511-17. DOI: 10.1590/S0103-84782008000200034
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,1111 Almeida LB, Sabbag CC, Jardini V, Santos JTG. O tempo consagrado à alimentação: dimensões da vida moderna e seu impacto sobre os hábitos alimentares. Alimentação Humana. Revista SPCNA 2011; 17(1): 64-8.,1212. Duran AC, Almeida SL, Latorre MR, Jaime PC. The role of the local retail food environment in fruit, vegetable and sugar-sweetened beverage consumption in Brazil. Public Health Nutrition 2015. [Internet]. Disponível em: Disponível em: http://journals.cambridge.org/download.php?file=%2FPHN%2FS1368980015001524a.pdf&code=6dcaeee54fd5e17915bc15f69c7fae16 (Acessado em 10 de setembro de 2015). DOI: 10.1017/S1368980015001524
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,1313. Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Diretoria de Pesquisas Coordenação de Trabalho e Rendimento. Rio de Janeiro: IBGE; 2010.,1414. Brasil. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2013: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas po r inquérito telefônico. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde ; 2014.,1515. Brasil. Portal da Saúde. Vigitel: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. 2014 [Internet]. Disponível em: Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/abril/30/Lancamento-Vigitel-28-04-ok.pdf (Acessado em janeiro de 2015).
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. A escolha dos locais de aquisição de alimentos é influenciada também pelo ambiente e pelas características individuais1616. Lytle LA. Measuring the food environment state of the science. Am J Prev Med 2009; 36(4 Suppl): 134-44. DOI: 10.1016/j.amepre.2009.01.018
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,1717. Krukowski RA, Mcsweeney J, Sparks C, West DS. Qualitative study of influences on food store choice. Appetite 2012; 59(2): 510-6. DOI: 10.1016/j.appet.2012.06.019
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.

Não há, na literatura, um consenso sobre a influência dos locais de aquisição de alimentos com seu consumo1818. Taillie LS, Ng SW, Popkin BM. Global growth of “big box” stores and the potential impact on human health and nutrition. Nutr Rev 2016; 74(2): 83-97. DOI: 10.1093/nutrit/nuv062
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. Estudos apontam possíveis relações entre uma alimentação mais saudável e o maior acesso a super e hipermercados, que oferecem maior variedade de alimentos in natura com preços mais acessíveis, quando comparados a lojas de conveniência e mercearias1212. Duran AC, Almeida SL, Latorre MR, Jaime PC. The role of the local retail food environment in fruit, vegetable and sugar-sweetened beverage consumption in Brazil. Public Health Nutrition 2015. [Internet]. Disponível em: Disponível em: http://journals.cambridge.org/download.php?file=%2FPHN%2FS1368980015001524a.pdf&code=6dcaeee54fd5e17915bc15f69c7fae16 (Acessado em 10 de setembro de 2015). DOI: 10.1017/S1368980015001524
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,1919. Caspi CE, Sorensen G, Subramanian SV, Kawachi I. The local food environment and diet: a systematic review. Health Place 2012; 18(1): 1172-87. DOI: 10.1016/j.healthplace.2012.05.006
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. Pesquisas nos Estados Unidos e no Reino Unido apresentam resultados diversificados quando avaliam a presença de locais de compra de frutas e hortaliças e o efeito sobre o consumo desses alimentos na população2020. Pearce J, Hiscock R, Blakely T, Witten K. The contextual effects on neighborhood access to supermarkets and convenience stores on individual fruit and vegetable consumption. J Epidemiol Community Health 2008; 62(3): 198-201. DOI: 10.1136/jech.2006.059196
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. Jaime et al.2121. Jaime PC, Duran AC, Sarti FM, Lock K. Investigating environmental determinants of diet, physical activity, and overweight among adults in Sao Paulo, Brazil. J Urban Health 2011; 88(3): 567-81. DOI: 10.1007/s11524-010-9537-2
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apontam que há associação significativa entre a ingestão regular de frutas e hortaliças e a densidade de sacolões e feiras livres; porém, segundo Carvalho et al.2222. Carvalho FG, Rezende EG, Rezende ML. Hábitos de compra dos clientes da feira livre de Alfenas-MG. Organizações Rurais e Agroindustriais 2010; 12(1): 131-41., as feiras livres têm perdido espaço para os mercados e sacolões, com diminuição de 19,81% da compra de frutas e hortaliças nestes espaços.

Apesar das relações entre locais de aquisição de alimentos e o consumo de frutas e hortaliças, pouco se avalia a associação de consumo desses com o hábito de se alimentar fora de casa, não sendo encontrados estudos, na literatura científica, que demonstrem essa relação. O que se afirma nos estudos é que, dentre os principais fatores associados às mudanças de padrão alimentar que a população brasileira vem sofrendo ao longo das últimas décadas, encontra-se o aumento do hábito de realizar refeições fora do domicílio2323. Claro RM, Baraldi LG, Martins APB, Bandoni DH, Levy RB. Evolução das despesas com alimentação fora do domicílio e influência da renda no Brasil, 2002/2003 a 2008/2009. Cad Saúde Pública 2014; 30(7): 1-9. DOI: 10.1590/0102-311X00176113
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. Esse hábito, nos países industrializados, está relacionado a fatores culturais, sociais e ambientais2424. Jabs J, Devine CM. Time scarcity and food choices: an overview. Appetite 2006; 47(2): 196-204. DOI:10.1016/j.appet.2006.02.014
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. O aumento do consumo de calorias, gordura e sódio e o baixo consumo de fibras, ferro e vitaminas é associado, em alguns estudos, a essa mudança de comportamento2525. Orfanos P, Naska A, Trichopoulou A, Grioni S, Boer JM, van Bakel MM, et al. Eating out of home: energy, macro- and micronutrient intakes in 10 european countries. The european prospective investigation into cancer and nutrition. Eur J Clin Nutr 2009; 63(Suppl 4): 239-62. DOI: 10.1038/ejcn.2009.84
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,2626. Bezerra IN, Sichieri R. Eating out of home and obesity: a Brazilian nationwide survey. Public Health Nutr 2009; 12(11): 2037-43. DOI: 10.1017/S1368980009005710
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.

Em razão de grande parte da responsabilidade no desenvolvimento da obesidade e das doenças crônicas ser atribuída à alimentação, é de grande importância investigar essas associações, reconhecendo o papel do ambiente no comportamento alimentar da população, visto a escassez de publicações relacionando o consumo de frutas e hortaliças e o comportamento de aquisição e consumo de alimentos2727. Larson N, Story M. A review of environmental influences on food choices. Ann Behav Med 2009; 38(Suppl 1): 56-73. DOI: 10.1007/s12160-009-9120-9
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.

O objetivo deste estudo foi avaliar as associações entre os locais de consumo de refeições e os locais de aquisição de frutas e hortaliças com o consumo regular desses alimentos em adultos residentes do município de São Paulo, controlando a análise para variáveis demográficas e socioeconômicas.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal, realizado na cidade de São Paulo, entre os meses de abril e maio de 2011, com 2 mil indivíduos, de ambos os sexos, com idade entre 20 e 59 anos, que residiam ou trabalhavam em 13 distritos administrativos previamente selecionados, que fizeram parte do “Estudo do Ambiente Obesogênico em São Paulo” (ESAO-SP). As áreas estudadas foram selecionadas por metodologia de amostragem propositiva, proposta pelo ESAO-SP, a partir dos distritos administrativos e setores censitários nos quais o município de São Paulo é dividido, de acordo com características geográficas e administrativas.

A amostragem propositiva é o método de amostragem em que as áreas selecionadas são escolhidas com o propósito de representar uma determinada região em relação aos critérios estabelecidos para o estudo, com o objetivo de assegurar que todos os principais grupos de relevância para o assunto sejam cobertos e garantir que, em cada um dos critérios, alguma diversidade seja encontrada, de modo que o impacto da diversidade dos objetos de interesse possa ser explorado2828. Ritchie J, Lewis J, Elam G. Designing and selecting samples. In: Ritchie J, Lewis J. Qualitative research practice: a guide for social science students and researchers. London: SAGE Publications; 2003. p. 77-108..

O município de São Paulo é dividido em 96 distritos administrativos, que foram classificados em tercis de nível socioeconômico por meio do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e em 3 indicadores de ambiente alimentar de acordo com a densidade de equipamentos de comercialização de alimentos. Após as classificações, foram selecionados, aleatoriamente, 2 distritos em cada um dos 6 possíveis estratos e 1 distrito extra para o caso de haver muita recusa dos estabelecimentos comerciais dos distritos selecionados, totalizando 13 distritos administrativos.

Em cada distrito foram selecionados, de forma aleatória, 8 setores censitários, totalizando 104; desses, 18 foram excluídos por não conterem estabelecimento de comercialização de alimentos, restando, ainda, 86. Entre esses, foram selecionados, aleatoriamente, 4 setores censitários em cada um dos 13 distritos, totalizando 52 setores avaliados.

A amostragem buscou contemplar as diversidades socioeconômicas e espaciais encontradas no município em relação ao ambiente alimentar. Mais detalhes da metodologia utilizada no processo de amostragem podem ser conferidos em Duran et al.1212. Duran AC, Almeida SL, Latorre MR, Jaime PC. The role of the local retail food environment in fruit, vegetable and sugar-sweetened beverage consumption in Brazil. Public Health Nutrition 2015. [Internet]. Disponível em: Disponível em: http://journals.cambridge.org/download.php?file=%2FPHN%2FS1368980015001524a.pdf&code=6dcaeee54fd5e17915bc15f69c7fae16 (Acessado em 10 de setembro de 2015). DOI: 10.1017/S1368980015001524
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,2929. Duran AC, Diez Roux AV, Latorre M do R, Jaime PC. Neighborhood socioeconomic characteristics and differences in the availability of healthy food stores and restaurants in Sao Paulo, Brazil. Health Place 2013; 23: 39-47. DOI: 10.1016/j.healthplace.2013.05.001
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.

A amostragem dos indivíduos foi realizada de forma não probabilística, por conveniência, e foi estratificada por sexo e idade, utilizando a proporção real de cada distrito, segundo o Censo 2000, garantindo a representatividade da amostra para aquela área3030. Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censos Demográficos 2000: agregados por setores censitários dos resultados de universo - 2ª edição. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão 2002. [Internet]. Disponível em: Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/defaulttab_agregado.shtm (Acessado em 10 de maio de 2010).
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. A coleta de dados foi realizada face a face, por uma equipe treinada e supervisionada, em locais de grande circulação de pessoas dentro dos distritos selecionados, como praças, parques e estabelecimentos comerciais.

Foram critérios de inclusão a idade - entre 20 e 59 anos - e o local de residência ou circulação, dentro dos distritos selecionados na amostragem de áreas. Não houveram perdas de questionários aplicados. Um questionário não foi respondido na íntegra, porém, os dados disponíveis foram utilizados.

As variáveis dependentes do estudo são o consumo regular de frutas e o consumo regular de hortaliças - consumo diário de qualquer quantidade de porção -, que foram obtidas por meio das questões “Em quantos dias da semana o(a) sr.(a) costuma comer salada de alface e tomate ou salada de qualquer outra verdura ou legume cru?” e “Em quantos dias da semana o(a) sr.(a) costuma comer verdura ou legume cozido junto com a comida ou na sopa, como, por exemplo, couve, cenoura, chuchu, berinjela e abobrinha, sem contar batata, mandioca ou inhame?”. As respostas eram dadas em frequência semanal de consumo. O desfecho “consumo regular de frutas e hortaliças” foi determinado pelo consumo de cada um dos tipos de alimentos (frutas e hortaliças) em cinco ou mais dias da semana1414. Brasil. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2013: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas po r inquérito telefônico. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde ; 2014..

As variáveis relacionadas ao local de consumo de refeições fora de casa foram: “consumo regular de refeições em restaurantes de serviço completo” e “consumo regular de refeições em restaurantes fast-food”. As informações foram obtidas por meio das questões “Em quantos dias da semana o(a) sr.(a) costuma almoçar ou jantar, neste bairro, em restaurantes (quilo, self-service, churrascaria ou a la carte)?” - considerados, para este estudo, restaurantes de serviço completo - e “Em quantos dias da semana o(a) sr.(a) costuma almoçar ou jantar, neste bairro, em lanchonetes, padarias ou bares?” - considerados, para este estudo, restaurantes fast-food. O “consumo regular de refeições em restaurantes de serviço completo” e o “consumo regular de refeições em restaurantes fast-food” foram considerados o consumo em um ou mais dias da semana, nesses estabelecimentos.

Para obter dados sobre os locais de aquisição de frutas e hortaliças, a questão realizada foi: “Dos locais abaixo, onde o(a) sr.(a) compra frutas, verduras e legumes mais frequentemente?”; as possíveis respostas foram: supermercados e hipermercados, sacolões, feiras livres ou mercados de bairro.

As variáveis demográficas e socioeconômicas foram: sexo referido pelo entrevistado; idade calculada a partir da data de nascimento do entrevistado; escolaridade, obtida por meio da pergunta “O(A) sr.(a) estudou até que série?”; e renda familiar, obtida por meio da pergunta “Qual é a renda total aproximada da sua família?”, medida em salários mínimos (até um salário mínimo, de um a dois salários mínimos, de dois a cinco salários mínimos, de cinco a dez salários mínimos e mais de dez salários mínimos).

A análise descritiva das variáveis quantitativas foi realizada por meio de medidas de tendência central e de dispersão, e as variáveis qualitativas foram descritas segundo frequências absoluta e relativa. As associações entre as variáveis demográficas e socioeconômicas com o consumo regular de frutas e hortaliças foram testadas por meio do teste do χ² de Pearson para variáveis nominais e por meio de teste de associação por tendência linear para variáveis ordinais, sendo o nível descritivo do teste p < 0,05.

Para analisar o efeito independente das variáveis de local de consumo e de aquisição de alimentos com o consumo de frutas e hortaliças, foi calculado a razão de chances - odds ratio (OR) - de cada categoria relacionada ao local de consumo de alimentos - consumo regular em restaurantes de serviço completo, consumo regular em restaurantes fast-food e consumo não regular para os dois locais - e para cada categoria de local de aquisição de alimentos - supermercado, sacolão, feiras livres e mercados de bairro -, ajustada por sexo, idade, escolaridade e renda familiar, considerando o nível de significância de 5% e o intervalo de confiança de 95% (IC95%). A análise dos dados foi realizada no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 17.0.

O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP). A participação dos indivíduos se deu mediante assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS

Dos indivíduos estudados, 52,3% eram do sexo feminino; a idade prevalente foi de 25 a 34 anos (30,2%); a escolaridade, entre 8 e 11 anos de estudo (42,8%); e a renda familiar, de 2 a 5 salários mínimos (34,6%). A maioria da população (67,9%) relatou consumo regular de frutas, e 74,9%, de hortaliças. (Tabela 1).

Tabela 1:
Distribuição da população estudada segundo variáveis demográficas e socioeconômicas, indicadores de consumo de frutas e hortaliças e locais de consumo e aquisição de alimentos. São Paulo, 2011.

O consumo regular (≥ 1 vez na semana) de refeições principais em restaurantes de serviço completo e em restaurantes fast-food foi relatado por 30,4 e 22,5% da população, respectivamente. O local de aquisição de frutas e hortaliças mais frequente foi o sacolão (39,6%), seguido do supermercado (34,3%) (Tabela 1).

Todas as variáveis, demográficas e socioeconômicas, mostraram-se associadas com o consumo regular de frutas e hortaliças (p < 0,05). Uma maior frequência de consumo regular de frutas foi observada entre os indivíduos do sexo feminino (71,6%), aumentando linearmente com a idade, escolaridade e renda familiar (Tabela 2).

Tabela 2:
Associação entre indicadores de consumo de frutas e hortaliças e variáveis demográficas e socioeconômicas. São Paulo, 2011.

Observaram-se as mesmas associações para o consumo regular de hortaliças, com diferença na distribuição da variável idade, com maior frequência de consumo na população com idade entre 45 e 54 anos (83,6%) (Tabela 2).

O consumo regular de refeições em restaurantes de serviço completo não foi associado ao consumo de frutas, mas sim ao consumo de hortaliças, após ajuste para características demográficas e socioeconômicas (respectivamente, OR = 1,51; IC95% 1,14 - 1,98). O consumo regular de refeições em restaurantes fast- food não foi associado ao consumo de frutas ou hortaliças (Tabela 3).

Tabela 3:
Associação bruta e ajustada entre o consumo de frutas e hortaliças e o local de consumo regular de refeições. São Paulo, 2011.

Não foi observada associação estatisticamente significativa entre o local de compra de frutas e de hortaliças e o consumo desses alimentos (Tabela 4).

Tabela 4:
Associação bruta e ajustada entre o consumo e os locais de aquisição de frutas e hortaliças. São Paulo, 2011.

DISCUSSÃO

Os achados do presente estudo permitem afirmar possíveis associações entre o consumo regular de refeições em restaurantes de serviço completo e o consumo regular de hortaliças, porém não permitem essa associação com o consumo regular de frutas. Não há associação entre o consumo de frutas e hortaliças e o consumo regular de refeições em restaurantes de serviço fast-food, segundo os dados analisados.

Os dados apresentados reforçam as evidências que apontam a influência de fatores demográficos e socioeconômicos sobre o consumo de frutas e hortaliças88. Jaime PC, Stopa SR, Oliveira TP, Vieira ML, Szwarcwald CL, Malta DC. Prevalência e distribuição sociodemográfica de marcadores de alimentação saudável, Pesquisa Nacional de Saúde, Brasil, 2013. Epidemiol Serv Saúde 2015; 24(2): 267-76. DOI: 10.5123/S1679-49742015000200009
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,3131. Jaime PC, Monteiro CA. Fruit and vegetable intake by Brazilian adults, 2003. Cad Saúde Pública 2005; 21(Suppl 1): 19-24. DOI: /S0102-311X2005000700003
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na população estudada. O consumo foi maior entre as mulheres e crescente com o aumento da idade, escolaridade88. Jaime PC, Stopa SR, Oliveira TP, Vieira ML, Szwarcwald CL, Malta DC. Prevalência e distribuição sociodemográfica de marcadores de alimentação saudável, Pesquisa Nacional de Saúde, Brasil, 2013. Epidemiol Serv Saúde 2015; 24(2): 267-76. DOI: 10.5123/S1679-49742015000200009
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e renda familiar33. Pessoa MC, Mendes LL, Caiaffa WT, Malta DC, Velásquez-Meléndez G. Availability of food stores and consumption of fruit, legumes and vegetables in a Brazilian urban area. Nutr Hosp 2014; 31(3): 1438-43. DOI: 10.3305/nh.2015.31.3.8245
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.

A população aqui estudada apresentou consumo regular de frutas e hortaliças (55,3%) maior do que é comumente observado em outros estudos realizados no Brasil, como, por exemplo, em Florianópolis (50,1%) e no município de São Paulo (35,5%)77. Brasil. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2014, Saúde Suplementar: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Agência Nacional de Saúde Suplementar, Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde ; 2015.. Esse consumo, acima do observado nas principais pesquisas nacionais, pode ser justificado pelo fato da população do estudo ser representativa das áreas definidas para o estudo, e não do município de São Paulo como um todo, sendo possíveis algumas variações nas características das populações em questão.

Com relação às refeições realizadas fora do lar, diversos estudos apontam pior qualidade nutricional da alimentação nesse contexto2323. Claro RM, Baraldi LG, Martins APB, Bandoni DH, Levy RB. Evolução das despesas com alimentação fora do domicílio e influência da renda no Brasil, 2002/2003 a 2008/2009. Cad Saúde Pública 2014; 30(7): 1-9. DOI: 10.1590/0102-311X00176113
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,3232. Bandoni DH, Canella DS, Levy RB, Jaime PC. Eating out or in from home: analyzing the quality of meal according eating locations. Rev Nutr 2013; 26(6): 625-32. DOI: 10.1590/S1415-52732013000600002
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, porém, o presente estudo não corrobora os citados anteriormente, pois apresenta relação positiva do consumo de hortaliças com as refeições realizadas em restaurantes de serviço completo. O acesso aos alimentos saudáveis varia conforme o tipo de estabelecimento e a situação socioeconômica da população na cidade de São Paulo2929. Duran AC, Diez Roux AV, Latorre M do R, Jaime PC. Neighborhood socioeconomic characteristics and differences in the availability of healthy food stores and restaurants in Sao Paulo, Brazil. Health Place 2013; 23: 39-47. DOI: 10.1016/j.healthplace.2013.05.001
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, podendo os restaurantes por peso representar uma alternativa de alimentação saudável fora de casa, já que apresentam maior variedade de escolha3333. Santos MV, Proença RPC, Fiates GMR, Calvo MCM. Os restaurantes por peso no contexto de alimentação saudável fora de casa. Rev Nutr 2011; 24(4): 641-49. DOI: 10.1590/S1415-52732011000400012
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.

Porém, são necessários estudos que avaliem a disponibilidade e o consumo de frutas nesse tipo de estabelecimento. O presente estudo não apontou relação entre o consumo de frutas e as refeições realizadas em restaurantes de serviço completo, e não foram encontrados estudos que tentem demonstrar essa associação específica para frutas, somente para alimentos in natura de forma geral3434. Lassen A, Hansen K, Trolle E. Comparison of buffet and à la carte serving at worksite canteens on nutrient intake and fruit and vegetable consumption. Public Health Nutr 2007; 10(3): 292-7. DOI: 10.1017/S1368980007246610
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,3535. Jomori MM, Proenca RPC, Calvo MCM. Food choice factors. Rev Nutr 2008; 21(1): 63-73. DOI: 10.1590/S1415-52732008000100007
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.

O consumo de refeições em restaurantes do tipo fast-food não foi associado ao consumo de frutas e hortaliças. Como o consumo desses alimentos, apresentado pela população estudada, foi superior ao encontrado em estudos anteriores77. Brasil. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2014, Saúde Suplementar: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Agência Nacional de Saúde Suplementar, Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde ; 2015., talvez esse consumo nessa população não seja influenciado pelo consumo ou não de refeições em restaurantes do tipo fast-food, ou seja, os indivíduos que consomem frutas e hortaliças não são afetados pelo consumo regular de refeições em restaurantes do tipo fast-food. Porém, ainda é necessário compreender como a presença desse tipo de restaurante pode afetar e moldar o comportamento alimentar e a saúde da população, para a implementação de estratégias efetivas de estímulo à alimentação saudável, mesmo que fora de casa1212. Duran AC, Almeida SL, Latorre MR, Jaime PC. The role of the local retail food environment in fruit, vegetable and sugar-sweetened beverage consumption in Brazil. Public Health Nutrition 2015. [Internet]. Disponível em: Disponível em: http://journals.cambridge.org/download.php?file=%2FPHN%2FS1368980015001524a.pdf&code=6dcaeee54fd5e17915bc15f69c7fae16 (Acessado em 10 de setembro de 2015). DOI: 10.1017/S1368980015001524
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.

Para a avaliação dos locais de aquisição de alimentos, os supermercados (34,3%) e os sacolões (39,6%) apresentaram supremacia na preferência da população, deixando os mercados de bairro (16,0%) em terceiro lugar na ordem de preferência para aquisição de frutas e hortaliças, e as feiras livres (10,0%) em quarto lugar.

Os achados do presente estudo vão de encontro com o estudo realizado no Rio Grande do Sul quanto à preferência de aquisição de alimentos em supermercados (59,77%) e sacolões, resultados esses já esperados pelos autores, que observaram em outros estudos uma “supremacia dos super e hipermercados na preferência dos consumidores quando da aquisição de alimentos no mundo inteiro”1010. Souza RS, Arbage AP, Neumann PS, Froehlich JM, Diesel V, Silveira PR, et al. Comportamento de compra dos consumidores de frutas, legumes e verduras na região central do Rio Grande do Sul. Cienc Rural 2008; 38(2): 511-17. DOI: 10.1590/S0103-84782008000200034
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. Esse fato também é mostrado em diversos estudos que concluem que os mercados de alimentos frescos, como as feiras, têm perdido importância e têm sido substituídos por supermercados3636. Popkin BM, Adair LS, Ng SW. Global nutrition transition and the pandemic of obesity in developing countries. Nutr Rev 2012; 70(1): 3-21. DOI: 10.1111/j.1753-4887.2011.00456.x
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,3737. Reardon T, Timmer CP. The economics of the food system revolution. Annu Rev Resour Economics 2012; 4: 225-64. DOI: 10.1146/annurev.resource.050708.144147
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,3838. Hawkes C. Dietary implications of supermarket development: a global perspective. Dev Policy Rev 2008; 26(6): 657-92. DOI: 10.1111/j.1467-7679.2008.00428.x
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, que são os locais de preferência da população brasileira para a aquisição de alimentos, segundo pesquisas nacionais3939. Costa JC, Claro RM, Martins AP, Levy RB. Food purchasing sites. Repercussions for healthy eating. Appetite 2013; 70: 99-108. DOI: 10.1016/j.appet.2013.06.094
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.

Porém, no presente estudo, para a população analisada, o local de aquisição de frutas e hortaliças não apresentou relação com a frequência de consumo desses alimentos. Esse achado pode ser explicado pela hipótese de que, nessa população, o consumo regular de frutas e hortaliças já está consolidado, independentemente do local onde as pessoas dão preferência à compra desses alimentos.

Estudo realizado em Belo Horizonte, a partir dos dados do Vigitel, encontrou que o aumento no consumo de frutas e hortaliças está diretamente relacionado com a densidade de equipamentos de comercialização desses alimentos33. Pessoa MC, Mendes LL, Caiaffa WT, Malta DC, Velásquez-Meléndez G. Availability of food stores and consumption of fruit, legumes and vegetables in a Brazilian urban area. Nutr Hosp 2014; 31(3): 1438-43. DOI: 10.3305/nh.2015.31.3.8245
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. Em São Paulo, a maior densidade de supermercados e sacolões está associada ao consumo regular de frutas e hortaliças, especialmente nas categorias de renda mais baixa1212. Duran AC, Almeida SL, Latorre MR, Jaime PC. The role of the local retail food environment in fruit, vegetable and sugar-sweetened beverage consumption in Brazil. Public Health Nutrition 2015. [Internet]. Disponível em: Disponível em: http://journals.cambridge.org/download.php?file=%2FPHN%2FS1368980015001524a.pdf&code=6dcaeee54fd5e17915bc15f69c7fae16 (Acessado em 10 de setembro de 2015). DOI: 10.1017/S1368980015001524
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.

Porém, esses estudos não tratam a relação entre o tipo de equipamento de comercialização de alimentos e a frequência de consumo, e sim a densidade de equipamentos na região.

O ambiente alimentar e o padrão de aquisição de alimentos ainda são explorados de forma muito tímida no Brasil2121. Jaime PC, Duran AC, Sarti FM, Lock K. Investigating environmental determinants of diet, physical activity, and overweight among adults in Sao Paulo, Brazil. J Urban Health 2011; 88(3): 567-81. DOI: 10.1007/s11524-010-9537-2
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,2929. Duran AC, Diez Roux AV, Latorre M do R, Jaime PC. Neighborhood socioeconomic characteristics and differences in the availability of healthy food stores and restaurants in Sao Paulo, Brazil. Health Place 2013; 23: 39-47. DOI: 10.1016/j.healthplace.2013.05.001
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,4040. Velásques-Melendez G, Mendes LL, Padez CMP. Built environment and social environment: associations with overweight and obesity in a sample of Brazilian adults. Cad Saúde Pública. 2013; 29(10): 1988-96. DOI: 10.1590/0102-311X00078112
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. Portanto, algumas comparações não podem ser realizadas em razão da escassez de dados referentes ao assunto. Relações essas que devem ser buscadas em novos estudos, a fim de se conhecer e delinear, de forma mais robusta, o comportamento de compra da população, relacionado com o consumo de alimentos.

Uma limitação do presente estudo está relacionada à aplicação de questionários para avaliação do consumo alimentar, o que envolve possível viés de aferição da dieta habitual por falha de memória do entrevistado, e superou subestimação do consumo alimentar4141. Medlin C, Skinner JD. Individual dietary intake methodology: a 50-year review of progress. J Am Diet Assoc 1988; 88(10): 1250-7.,4242. Scagliusi FB, Ferriolli E, Pfrimer K, Laureano C, Cunha CS, Gualano B, et al. Underreporting of energy intake in Brazilian women varies according to dietary assessment: a cross-sectional study using doubly labeled water. J Am Diet Assoc 2008; 108(12): 2031-40. DOI: 10.1016/j.jada.2008.09.012
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. As diferenças de métodos para avaliar a ingestão de alimentos e a categorização dos dados também podem ter prejudicado a comparação com outros estudos, porém, foram considerados os mesmos parâmetros de avaliação e categorização dos principais inquéritos nacionais, para fim de comparação.

CONCLUSÃO

Conclui-se que o consumo regular de frutas e hortaliças é influenciado por sexo, idade, escolaridade e renda familiar. A realização de refeições em restaurantes de serviço completo influencia positivamente o consumo de hortaliças, porém, não afeta o consumo de frutas. Não foram observadas associações entre a escolha dos locais de aquisição de frutas e hortaliças e o consumo desses alimentos.

Recomenda-se, a partir da análise dos dados do presente estudo e da comparação com outros, que as refeições fora do domicílio sejam realizadas, preferencialmente, em restaurantes de serviço completo, entre eles os restaurantes por quilo, que são uma boa opção se comparados aos restaurantes fast-food, por também contarem com um atendimento rápido e garantirem o maior acesso a refeições mais saudáveis.

Novas pesquisas são necessárias para a investigação sobre como o ambiente alimentar, especificamente os locais de aquisição e consumo de alimentos, pode influenciar o consumo de frutas e hortaliças, dado esse não consolidado, ainda, na literatura cientifica, que apresenta informações escassas e superficiais para realizar comparações e conclusões robustas.

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  • Fonte de financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), nº do processo 2009/17517-0, e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), nº do processo 476881/2010-2.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2017

Histórico

  • Recebido
    11 Fev 2016
  • Aceito
    22 Ago 2016
Associação Brasileira de Pós -Graduação em Saúde Coletiva São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revbrepi@usp.br