A pandemia de COVID-19 e mudanças nos estilos de vida dos adolescentes brasileiros

Deborah Carvalho Malta Crizian Saar Gomes Marilisa Berti de Azevedo Barros Margareth Guimaraes Lima Alanna Gomes da Silva Laís Santos de Magalhães Cardoso André Oliveira Werneck Danilo Rodrigues Pereira da Silva Arthur Pate de Souza Ferreira Dália Elena Romero Maria Imaculada de Fátima Freitas Ísis Eloah Machado Paulo Roberto Borges de Souza Júnior Giseli Nogueira Damacena Luiz Otávio Azevedo Wanessa da Silva de Almeida Célia Landmann Szwarcwald Sobre os autores

RESUMO:

Objetivo:

Analisar as mudanças nos estilos de vida dos adolescentes brasileiros durante a pandemia de COVID-19.

Métodos:

Estudo transversal realizado com adolescentes que participaram do inquérito ConVid Adolescentes — Pesquisa de Comportamentos. Foram avaliados os indicadores relacionados aos estilos de vida antes e durante a pandemia: consumo de alimentos saudáveis e alimentos não saudáveis, prática de atividade física e comportamento sedentário, tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas. As prevalências e os intervalos de confiança de 95% (IC95%) foram calculados para população total e segundo sexo e faixa etária.

Resultados:

Participaram do estudo 9.470 adolescentes. Durante o período de distanciamento social, foi observado aumento nas prevalências de consumo de hortaliças (de 27,34 para 30,5%), pratos congelados (de 13,26 para 17,3%), chocolates e doces (de 48,58 para 52,51%), e do tempo em frente às telas (de 44,57 para 70,15%). Por outro lado, houve diminuição da prática de atividade física (de 28,7 para 15,74%) e do consumo de bebidas alcoólicas (de 17,72 para 12,77%). Diferenças segundo sexo e faixa etária foram observadas.

Conclusão:

Os resultados apontam mudanças nos estilos de vida dos adolescentes e aumento de comportamentos de risco à saúde.

Palavras-chave:
Infecções por coronavírus; Isolamento social; Estilo de vida; Adolescente

INTRODUÇÃO

Para conter a pandemia da doença causada pelo coronavírus 2019 (COVID-19), foram adotadas medidas de saúde pública, entre elas, o distanciamento social, com o intuito de reduzir o contato físico entre pessoas e o risco de transmissão do vírus, além de auxiliar na redução dos casos11. World Health Organization (WHO). Coronavirus disease (COVID-19) Pandemic. [Internet]. World Health Organization; 2020 [accessed on Nov 10, 2020]. Available at: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019
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.

O distanciamento social é a medida mais eficaz para prevenção de COVID-1922. Minas Gerais. State Secretariat. Entenda a importância do distanciamento social. [Internet]. Minas Gerais: Secretaria do Estado; 2020 [accessed on Nov 10, 2020]. Available at: https://coronavirus.saude.mg.gov.br/blog/108-distanciamento-social#:~:text=O%20distanciamento%20social%20%C3%A9%20uma,conhecido%20como%20o%20novo%20coronav%C3%ADrus
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. Entretanto, é uma experiência difícil de ser enfrentada e pode ter impactos relevantes na vida dos indivíduos33. Malta DC, Szwarcwald CL, Barros MBA, Gomes CS, Machado IE, Souza Júnior PRB, et al. A pandemia da COVID-19 e as mudanças no estilo de vida dos brasileiros adultos: um estudo transversal, 2020. Epidemiol Serv Saúde 2020; 29(4): e2020407. https://doi.org/10.1590/s1679-49742020000400026
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,44. Malta DC, Gomes CS, Szwarcwald CL, Barros MBA, Silva AG, Prates EJS, et al. Distanciamento social, sentimento de tristeza e estilos de vida da população brasileira durante a pandemia de COVID-19. Saúde Debate 2020; 44(4): 177-90. https://doi.org/10.1590/0103-11042020E411
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. A pandemia também causou importantes impactos socioeconômicos no mundo e no Brasil, com perdas de rendimento familiar e desemprego, agravando as desigualdades sociais e de saúde55. Dorn AV, Cooney RE, Sabin ML. COVID-19 exacerbating inequalities in the US. SLancet 2020; 388(10053): 1243-4. https://doi.org/10.1016/s0140-6736(20)30893-x
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,66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). PNAD COVID-19. [Internet]. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2020 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://covid19.ibge.gov.br/pnad-covid/
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.

Ainda são escassos os estudos sobre o efeito do distanciamento social na vida dos adolescentes e das crianças. A separação dos entes queridos, dos amigos, dos professores, a perda de liberdade, a incerteza sobre a doença, as mudanças nas atividades de rotina, a falta de espaço físico em casa, aspectos ligados à piora financeira da família e a interrupção das aulas podem causar mudanças no comportamento e nos hábitos de vida, e provocar danos à saúde de crianças e adolescentes77. Wang G, Zhang Y, Zhao J, Zhang J, Jiang F. Mitigate the effects of home confinement on children during the COVID-19 outbreak. Lancet 2020; 395(10228): 945-47. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30547-X
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,88. Wang G, Zhang J, Lam SP, Li SX, Jiang Y, Sun W, et al. Ten-Year Secular Trends in Sleep/Wake Patterns in Shanghai and Hong Kong School-Aged Children: A Tale of Two Cities. J Clin Sleep Med 2019; 15(10): 1495-502. https://doi.org/10.5664/jcsm.7984
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.

Evidências sugerem que quando as crianças e os adolescentes estão fora da escola (por exemplo, durante os fins de semana e as férias), eles são fisicamente menos ativos, têm maior tempo de tela, apresentam problemas de sono e pioram a alimentação, o que resulta em ganho de peso e perda da aptidão cardiorrespiratória88. Wang G, Zhang J, Lam SP, Li SX, Jiang Y, Sun W, et al. Ten-Year Secular Trends in Sleep/Wake Patterns in Shanghai and Hong Kong School-Aged Children: A Tale of Two Cities. J Clin Sleep Med 2019; 15(10): 1495-502. https://doi.org/10.5664/jcsm.7984
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,99. Brazendale K, Beets MW, Weaver RG, Pate RR, Turner-McGrievy GM, Kaczynski AT, et al. Understanding differences between summer vs. school obesogenic behaviors of children: the structured days hypothesis. Int J Behav Nutr Phys Act 2017; 14: 100. https://doi.org/10.1186/s12966-017-0555-2
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. Dessa forma, durante o período de distanciamento social, provavelmente, os efeitos sobre a saúde dos adolescentes são mais intensos, visto que os jovens estão confinados em suas casas, sem atividades ao ar livre e sem interação com os amigos. Um estudo realizado com crianças e adolescentes durante a pandemia de COVID-19 na Itália apontou aumento no consumo de alimentos ultraprocessados, redução do tempo gasto em atividades esportivas e aumento no tempo de tela1010. Pietrobelli A, Pecoraro L, Ferruzzi A, Heo M, Faith M, Zoller T, et al. Effects of COVID-19 Lockdown on Lifestyle Behaviors in Children with Obesity Living in Verona, Italy: A Longitudinal Study. Obesity 2020; 28(8): 1382-5. https://doi.org/10.1002/oby.22861
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.

Nesse contexto, conhecer o impacto da pandemia sobre a saúde dos adolescentes brasileiros é de extrema necessidade para subsidiar e orientar as ações de saúde dirigidas a esse grupo, visando minimizar os efeitos adversos trazidos pelo distanciamento social prolongado. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar as mudanças nos estilos de vida dos adolescentes brasileiros durante a pandemia de COVID-19.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal realizado com adolescentes brasileiros de 12 a 17 anos, que participaram do inquérito de saúde virtual chamado ConVid Adolescentes — Pesquisa de Comportamentos, que teve como objetivo avaliar as mudanças que ocorreram na vida dos adolescentes brasileiros no período de distanciamento social, consequente à pandemia de COVID-19 no país.

A coleta de dados do ConVid Adolescentes ocorreu via web, utilizando-se um questionário de autopreenchimento por meio de smartphone ou computador com acesso à internet. O questionário foi construído no aplicativo RedCap (Research Eletronic Data Capture) e abordava questões sobre as características sociodemográficas e as mudanças nos estilos de vida, nas atividades de rotina, no estado de ânimo e nas relações familiares durante o período de distanciamento social. As informações foram coletadas diretamente pela internet e armazenadas no servidor do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (ICICT/Fiocruz). Todas as respostas eram anônimas e sem qualquer tipo de identificação dos participantes. Mais detalhes sobre a pesquisa podem ser encontrados no site oficial da ConVid Adolescentes — Pesquisa de Comportamentos1111. Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). ConVid Adolescentes - Pesquisa de Comportamentos [Internet]. Fundação Oswaldo Cruz; 2020 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://convid.fiocruz.br/
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.

O convite aos participantes foi feito por um procedimento de amostragem em cadeia chamado “bola de neve” virtual1212. Costa BRL. Bola de neve virtual: o uso das redes sociais virtuais no processo de coleta de dados de uma pesquisa científica [Internet]. RIGS 2018 [accessed on Jan 12, 2020]; 7(1): 15-37. Available at: https://periodicos.ufba.br/index.php/rigs/article/view/24649
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. Na primeira etapa, os pesquisadores realizadores do estudo escolheram um total de 15 outros pesquisadores de diferentes estados do Brasil, com experiência prévia em estudos com adolescentes. Estes enviaram o link da pesquisa para 20 a 30 adultos das suas redes sociais com filhos adolescentes. A esses adultos, foi solicitado que convidassem pelo menos mais três pais ou responsáveis por adolescentes. Assim, os convites enviados continham a pergunta: “O (A) Sr.(a) tem filhos ou é responsável por jovens na faixa de idade de 12 a 17 anos?”. Somente aqueles que responderam afirmativamente receberam o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) com explicações sobre o estudo, um link para contatos e esclarecimentos sobre a pesquisa, e a solicitação de consentimento de participação do menor sob a sua responsabilidade. Após o aceite pelo adulto responsável, o adolescente recebeu o termo de assentimento livre e esclarecido (TALE). Somente após a aceitação do TALE, o respondente iniciava o preenchimento do questionário. Além disso, a coordenação da pesquisa enviou cartas para as direções de Secretarias Estaduais e escolas convidando-as a encaminharem o link para pais e adolescentes das respectivas comunidades escolares. Com essa metodologia, no período de 27 de junho a 12 de outubro de 2020, a amostra obtida foi de 9.470 adolescentes com idade de 12 a 17 anos.

Uma vez que a amostragem por redes não é probabilística, para se obter uma amostra representativa da população, de acordo com a localização geográfica e com as características sociodemográficas, foram realizadas ponderações calculadas por procedimentos de pós-estratificação1313. Szwarcwald CL, Damacena GN. Amostras complexas em inquéritos: planejamento e implicações na análise estatística de dados. Rev Bras Epidemiologia 2008; 11(Supl. 1): 38-45. https://doi.org/10.1590/S1415-790X2008000500004
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. A amostra foi calibrada por meio dos dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde, para obter a mesma distribuição por região de residência, sexo, faixa etária (12 a 15 anos; 16 a 17 anos) e tipo de escola (pública; privada)1414. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa nacional de saúde do escolar: 2015 [Internet]. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/educacao/9134-pesquisa-nacional-de-saude-do-escolar.html?=&t=o-que-e
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.

No presente estudo, foram avaliados indicadores relacionados aos estilos de vida antes e durante a pandemia, a saber:

  • Hábitos alimentares

    1. Alimentos saudáveis:

      1. Consumo regular de frutas: percentual de adolescentes que referiram consumir frutas em pelo menos cinco dos sete dias da semana1414. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa nacional de saúde do escolar: 2015 [Internet]. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/educacao/9134-pesquisa-nacional-de-saude-do-escolar.html?=&t=o-que-e
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      2. Consumo regular de hortaliças: percentual de adolescentes que referiram consumir hortaliças em pelo menos cinco dos sete dias da semana1414. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa nacional de saúde do escolar: 2015 [Internet]. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/educacao/9134-pesquisa-nacional-de-saude-do-escolar.html?=&t=o-que-e
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    2. Alimentos não saudáveis:

      1. Consumo de alimentos congelados: percentual de adolescentes que referiram consumir alimentos congelados (por exemplo, pizza, lasanha ou outro prato pronto congelado) em dois ou mais dias da semana1515. World Health Organization (WHO). Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases: report of a joint WHO/FAO expert consultation [Internet]. 2003 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://www.who.int/dietphysicalactivity/publications/trs916/en/
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      2. Consumo de chocolates e doces: percentual de adolescentes que referiram consumir chocolates e doces em dois ou mais dias da semana1515. World Health Organization (WHO). Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases: report of a joint WHO/FAO expert consultation [Internet]. 2003 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://www.who.int/dietphysicalactivity/publications/trs916/en/
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      3. Consumo de salgadinhos de pacote: percentual de adolescentes que referiram consumir salgadinhos de pacote em dois ou mais dias da semana1515. World Health Organization (WHO). Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases: report of a joint WHO/FAO expert consultation [Internet]. 2003 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://www.who.int/dietphysicalactivity/publications/trs916/en/
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      As variáveis de consumo alimentar foram avaliadas pelas questões:

      1. “Usualmente, antes da pandemia, em quantos dias da semana costumava comer esses alimentos?”;

      2. “Durante a pandemia, em quantos dias da semana você passou a comer esses alimentos?”.

  • Atividade física

    1. Atividade física suficiente: percentual de adolescentes que referiram praticar exercício físico por pelo menos 1 hora em cinco ou mais dias da semana, ou seja, pelo menos 300 minutos por semana1414. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa nacional de saúde do escolar: 2015 [Internet]. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/educacao/9134-pesquisa-nacional-de-saude-do-escolar.html?=&t=o-que-e
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      . Esse indicador foi avaliado pelas seguintes questões:

      1. “Antes da pandemia de coronavírus, em quantos dias você fez atividade física por pelo menos 60 minutos (1 hora) por dia? Ex.: praticar esportes, jogar bola, andar de bicicleta, caminhar, correr, realizar aula de Educação Física, ir para a escola caminhando ou de bicicleta (Some todo o tempo que você gastou em qualquer tipo de atividade física, em cada dia).”;

      2. “Durante a pandemia, em quantos dias você fez atividade física por pelo menos 60 minutos (1 hora) por dia? (Some todo o tempo que você gastou em qualquer tipo de atividade física, em cada dia).”.

    2. Comportamento sedentário: percentual de alunos que relataram ficar três ou mais horas por dia sentados assistindo televisão, jogando videogame, usando computador, celular e/ou tablet, ou fazendo outras atividades sentados, a partir das perguntas:

      1. “Antes da pandemia, quantas horas por dia você costumava ficar sentado(a) assistindo televisão, jogando videogame, usando computador, celular, tablet ou fazendo outras atividades sentado(a)? (NÃO contar sábado, domingo, feriados ou o tempo sentado na escola).”;

      2. “Durante a pandemia, quantas horas por dia você fica sentado(a) assistindo televisão, jogando videogame, usando computador, celular, tablet ou fazendo outras atividades sentado(a)? (NÃO contar sábado, domingo, feriados ou o tempo sentado na escola ou durante as atividades de ensino a distância).”1414. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa nacional de saúde do escolar: 2015 [Internet]. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/educacao/9134-pesquisa-nacional-de-saude-do-escolar.html?=&t=o-que-e
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  • Uso de cigarros: percentual de adolescentes que fazem uso de cigarro. As seguintes questões foram utilizadas para compor esse indicador:

    1. – “Antes da pandemia, você costumava fumar cigarro? (Sim/Não).”;

    2. – “E durante a pandemia? 1 – Não fumei cigarro; 2 – Estou fumando menos do que costumava; 3 – Continuei fumando com a mesma frequência; 4 – Estou fumando mais do que costumava; 5 – Tinha parado de fumar, mas comecei a fumar novamente.”.

Nesse indicador, foram classificados como fumantes os adolescentes que responderam “sim” à primeira pergunta e as opções 2, 3, 4 ou 5 à segunda pergunta.

  • Consumo de bebidas alcoólicas: percentual de adolescentes que referiram consumir bebidas alcoólicas. As seguintes perguntas foram avaliadas:

    1. – “Antes da pandemia, você costumava consumir bebidas alcoólicas em festas, saídas com amigos etc.? (Sim/Não).”;

    2. – “E durante a pandemia? 1 – Não tomei bebida alcoólica; 2 – Estou tomando menos bebida alcoólica do que costumava; 3 – Continuei tomando bebida alcoólica com a mesma frequência; 4 – Estou tomando mais bebida alcoólica do que costumava.”.

Nesse indicador, consideraram-se como consumidores de bebidas alcoólicas os adolescentes que responderam “sim” à primeira pergunta e as opções 2, 3 ou 4 à segunda pergunta.

Neste estudo, foram calculados as prevalências e os respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%) das variáveis estudadas antes e durante a pandemia de COVID-19. As análises foram estratificadas por sexo (masculino; feminino) e faixa etária (12 a 15 anos; 16 a 17 anos). Para avaliar as diferenças entre as prevalências antes e durante a pandemia, foi utilizado o teste de McNemar, sendo considerado significativo p<0,05.

A presente pesquisa foi aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Parecer n° 4.100.515). Os pais ou responsáveis dos adolescentes preencheram previamente o TCLE, seguido do assentimento dos próprios adolescentes. Não houve qualquer identificação dos participantes da pesquisa.

RESULTADOS

Neste estudo, foram avaliados 9.470 adolescentes, dos quais 50,25% (IC95% 48,58 – 51,91) são do sexo feminino, 67,68% (IC95% 66,28 – 69,05) têm entre 12 e 15 anos, e 32,32% (IC95% 30,95 – 33,72), entre 16 e 17 anos.

A Tabela 1 apresenta as prevalências do consumo de alimentos saudáveis e não saudáveis antes e durante a pandemia de COVID-19. Entre o total de adolescentes, houve aumento do consumo regular de hortaliças (de 27,34 para 30,5%), bem como entre os sexos feminino e masculino e todas as faixas etárias. Com relação ao consumo de frutas, comparando antes e durante a pandemia, as prevalências se mantiveram estáveis, exceto para sexo o feminino, no qual houve aumento. Em contrapartida, o consumo de alimentos não saudáveis aumentou para o total de adolescentes, ambos os sexos e faixas etárias — pratos congelados (de 13,26 para 17,3%) e chocolates e doces (de 48,58 para 52,51%). O consumo de salgadinho de pacote, durante a pandemia, diminuiu para a população total e na faixa etária de 12 a 15 anos (25,14 para 24,22%), e aumentou para a faixa etária de 16 a 17 anos.

Tabela 1
Consumo de alimentos saudáveis e alimentos não saudáveis antes e durante a pandemia de COVID-19, segundo sexo e faixa etária. Brasil, 2020.

No que se refere à prática de atividade física, a prevalência antes da pandemia era de 28,7% e, durante a pandemia, 15,74%. Essa diminuição também ocorreu em ambos os sexos e faixas etárias. Por outro lado, o comportamento sedentário aumentou de 44,57 para 70,15% entre o total de adolescentes, em ambos os sexos e faixas etárias (Tabela 2).

Tabela 2
Prática de atividade física e comportamento sedentário antes e durante a pandemia de COVID-19, segundo sexo e faixa etária. Brasil, 2020.

Quanto ao consumo de cigarros, 2,58% dos adolescentes mencionaram fazer uso antes da pandemia, e não houve variação do consumo durante a pandemia. Com relação ao consumo de bebidas alcoólicas, 17,72% dos adolescentes informaram que as consumiam antes da pandemia, percentual que reduziu para 12,77% durante a pandemia. Esse comportamento também foi observado em ambos os sexos e faixas etárias (Tabela 3).

Tabela 3
Consumo de bebida alcoólica e tabaco antes e durante a pandemia de COVID-19, segundo sexo e faixa etária. Brasil, 2020.

DISCUSSÃO

Esta é a primeira pesquisa no Brasil que avalia as mudanças dos estilos de vida dos adolescentes brasileiros durante o distanciamento social em consequência da pandemia de COVID-19. As mudanças observadas foram: aumento do consumo de hortaliças e de alimentos não saudáveis, como pratos congelados, chocolates e doces; redução do consumo de salgadinhos de pacote; redução da prática de atividade física; e aumento do comportamento sedentário. Não houve alteração quanto ao uso de cigarros e ocorreu diminuição do consumo de bebidas alcoólicas.

Dados da ConVid Adolescentes apontaram que 70% dos adolescentes aderiram ao distanciamento social durante a pandemia, acompanhando o comportamento dos adultos, segmento em que aproximadamente 75% aderiram a essa prática1616. Szwarcwald CL, Souza Júnior PRB, Malta DC, Barros MBA, Magalhães MAFM, Xavier DR, et al. Adesão às medidas de restrição de contato físico e disseminação da COVID-19 no Brasil. Epidemiol Serv Saúde 2020; 29(5): e2020432. https://doi.org/10.1590/s1679-49742020000500018
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. Esses resultados mostram que os adolescentes tiveram boa adesão ao distanciamento social.

Sabe-se que o distanciamento social é a medida mais difundida pelas autoridades e uma das mais eficientes para evitar a disseminação da doença e reduzir os casos de COVID-191717. Brasil. Ministério da Saúde. Medidas não farmacológicas [Internet]. Brasil: Ministério da Saúde; 2020 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://coronavirus.saude.gov.br/medidas-nao-farmacologicas
https://coronavirus.saude.gov.br/medidas...
. Entretanto, essa prática repercute diretamente em mudanças comportamentais e nos estilos de vida da população33. Malta DC, Szwarcwald CL, Barros MBA, Gomes CS, Machado IE, Souza Júnior PRB, et al. A pandemia da COVID-19 e as mudanças no estilo de vida dos brasileiros adultos: um estudo transversal, 2020. Epidemiol Serv Saúde 2020; 29(4): e2020407. https://doi.org/10.1590/s1679-49742020000400026
https://doi.org/10.1590/s1679-4974202000...
,44. Malta DC, Gomes CS, Szwarcwald CL, Barros MBA, Silva AG, Prates EJS, et al. Distanciamento social, sentimento de tristeza e estilos de vida da população brasileira durante a pandemia de COVID-19. Saúde Debate 2020; 44(4): 177-90. https://doi.org/10.1590/0103-11042020E411
https://doi.org/10.1590/0103-11042020E41...
,1818. Ahmed MZ, Ahmed O, Aibao Z, Hanbin S, Siyu L, Ahmad A. Epidemic of COVID-19 in China and associated psychological problems. Asian J Psychiatr 2020; 51: 102092. https://doi.org/10.1016/j.ajp.2020.102092
https://doi.org/10.1016/j.ajp.2020.10209...
. As mudanças nos estilos de vida e a adoção de hábitos não saudáveis, ocorridas durante o período de distanciamento social, podem provocar danos à saúde dos adolescentes1919. Di Renzo L, Gualtieri P, Pivari F, Soldati L, Attinà A, Cinelli G, et al. Eating habits and lifestyle changes during COVID-19 lockdown: an Italian survey. J Transl Med 2020; 18: 229. https://doi.org/10.1186/s12967-020-02399-5
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Com relação aos hábitos alimentares, foram identificados, no presente estudo, aumento do consumo regular de hortaliças em todas as idades e sexos, e redução do consumo de salgadinhos de pacote para a população total e a faixa etária de 12 a 15 anos; em contrapartida, houve aumento do consumo de pratos congelados, chocolates e doces e salgadinhos de pacote entre os adolescentes de 16 a 17 anos. O consumo de frutas e hortaliças constitui fator de proteção contra doenças cardiovasculares e diabetes tipo II2020. World Health Organization (WHO). Global status report on noncommunicable diseases 2010 [Internet]. World Health Organization; 2011 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://www.who.int/nmh/publications/ncd_report2010/en/
https://www.who.int/nmh/publications/ncd...
. Destaca-se que essas prevalências foram semelhantes às encontradas na PeNSE realizada em 2012, em que o consumo de frutas entre adolescentes, em cinco dias da semana, foi de 29,8% (IC95% 29,1 – 30,5)2121. Malta DC, Andreazzi MAR, Oliveira-Campos M, Andrade SSCA, Sá NNB, Moura L, et al. Trend of the risk and protective factors of chronic diseases in adolescents, National Adolescent School-based Health Survey (PeNSE 2009 e 2012). Rev Bras Epidemiol 2014; 17(Supl. 1): 77-91. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050007
https://doi.org/10.1590/1809-45032014000...
. Entretanto, esse consumo é menor quando comparado com outros países europeus, como a Bélgica, que atinge cerca de 50%2222. World Health Organization (WHO). Social determinants of health and well-being among young people. Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) study: international report from the 2009/2010 survey [Internet]. Copenhagen: WHO Regional Office for Europe; 2012 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0003/163857/Social-determinants-of-health-and-well-being-among-young-people.pdf
https://www.euro.who.int/__data/assets/p...
.

Os resultados durante a pandemia podem ser explicados pelo fato de crianças e adolescentes, ao permanecerem em casa, consumirem os alimentos preparados no próprio domicílio, mantendo e ampliando o consumo de alimentos saudáveis, como hortaliças. Entretanto, paralelamente, também ocorreu aumento do consumo de alguns alimentos não saudáveis, como os alimentos congelados, o que pode estar relacionado à sua praticidade e facilidade no preparo. Resultados semelhantes foram observados em estudo longitudinal realizado em Verona, Itália, com 41 crianças obesas, que identificou que, durante a quarentena, em razão da pandemia de COVID-19, não houve alterações na ingestão de vegetais e o consumo de frutas aumentou. Por outro lado, a ingestão de batata frita e carne vermelha, e o consumo de bebidas açucaradas aumentaram significativamente1010. Pietrobelli A, Pecoraro L, Ferruzzi A, Heo M, Faith M, Zoller T, et al. Effects of COVID-19 Lockdown on Lifestyle Behaviors in Children with Obesity Living in Verona, Italy: A Longitudinal Study. Obesity 2020; 28(8): 1382-5. https://doi.org/10.1002/oby.22861
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. Nesse sentido, o presente estudo identificou certo paradoxo na alimentação dos adolescentes, visto que eles consomem, simultaneamente, alimentos saudáveis e alimentos não saudáveis. A mesma situação já havia sido identificada com dados da PeNSE, na qual foram identificados três padrões alimentares: saudável (27,7%), não saudável (34,6%) e misto (37,7%), este indicando o consumo de ambos os tipos de alimentos (saudáveis e não saudáveis)2323. Tavares LF, Castro IRR, Levy RB, Cardoso LO, Claro RM. Padrões alimentares de adolescentes brasileiros: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE). Cad Saúde Pública 2014; 30(12): 2679-90. https://doi.org/10.1590/0102-311x00016814
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. Portanto, esse padrão alimentar misto não se alterou durante a pandemia.

A redução da prática de atividade física e o aumento do comportamento sedentário entre os adolescentes observados no presente estudo são preocupantes. As mesmas conclusões foram obtidas em estudo realizado em Verona, Itália, durante a primeira onda da pandemia de COVID-19, apontando que o tempo gasto em atividades esportivas durante a pandemia diminuiu 2,30 horas por semana; o tempo de sono aumentou 0,65 hora por dia; e o tempo de tela aumentou 4,85 horas por dia1010. Pietrobelli A, Pecoraro L, Ferruzzi A, Heo M, Faith M, Zoller T, et al. Effects of COVID-19 Lockdown on Lifestyle Behaviors in Children with Obesity Living in Verona, Italy: A Longitudinal Study. Obesity 2020; 28(8): 1382-5. https://doi.org/10.1002/oby.22861
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. Além disso, os dados encontrados na presente pesquisa assemelham-se aos estudos globais, que mostraram que a maior parte dos adolescentes se manteve confinada em casa durante o tempo de distanciamento social, sem a realização de atividades ao ar livre e sem interação com os amigos — o que resultou na redução das práticas esportivas e do tempo de atividade física, e na piora dos hábitos sedentários, como tempo em frente ao computador e telas de TV.

Os resultados apontados poderão ter intensa repercussão na saúde, além de alteração das medidas antropométricas. A prática regular de atividade física em adolescentes influencia nos desenvolvimentos físico e ósseo, além de aumentar a chance de se tornarem adultos ativos2121. Malta DC, Andreazzi MAR, Oliveira-Campos M, Andrade SSCA, Sá NNB, Moura L, et al. Trend of the risk and protective factors of chronic diseases in adolescents, National Adolescent School-based Health Survey (PeNSE 2009 e 2012). Rev Bras Epidemiol 2014; 17(Supl. 1): 77-91. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050007
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,2424. Gonçalves H, Hallal PC, Amorim TC, Araújo CLP, Menezes AMB. Fatores socioculturais e nível de atividade física no início da adolescência. Rev Panam Salud Pública [Internet] 2007 [acessado em 12 jan. 2020]; 22(4): 246-53. Available at: https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/7775/04.pdf?sequence=1&isAllowed=y
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,2525. SHallal PC, Knuth AG, Cruz DKA, Mendes MI, Malta DC. Prática de atividade física em adolescentes brasileiros. Ciênc Saúde Coletiva 2010; 15(Supl. 2): 3035-42. https://doi.org/10.1590/S1413-81232010000800008
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. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que crianças e adolescentes não permaneçam mais que 2 horas em frente à TV. O comportamento sedentário, além de aumentar o risco cardiovascular, diminui o gasto energético e, geralmente, associa-se ao consumo de alimentos calóricos e refrigerantes2626. United Nations Children’s Fund (UNICEF). The State of the World's Children 2011. Adolescence: An Age of Opportunity [Internet]. Nova York: United Nations Children's Fund; 2011 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://www.unicef.org/sowc2011/pdfs/SOWC-2011-Main-Report_EN_02092011.pdf
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. O estudo atual adotou o ponto de corte utilizado pela OMS, ou seja, 3 horas para lazer sedentário, que inclui o tempo em frente às telas e outras atividades de lazer consideradas sedentárias, como conversar sentado2727. World Health Organization (WHO). Guidelines on physical activity, sedentary behavior and sleep [Internet]. World Health Organization; 2019 [accessed on Jan 12, 2020]. Available at: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/325147/WHO-NMH-PND-2019.4-eng.pdf
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. Esse tempo praticamente dobrou durante a pandemia, revelando preocupação com a mudança de hábitos.

Com relação ao uso de cigarros, não houve alteração antes e durante a pandemia. Contudo, vale destacar que o tabaco é um dos fatores de risco mais importantes para o desencadeamento da maioria das doenças crônicas, tornando-se relevante prevenir e retardar a iniciação ao hábito para a redução dos efeitos maléficos do cigarro sobre os adolescentes2828. Barreto SM, Giatti L, Casado L, Moura L, Crespo C, Malta DC. Exposição ao tabagismo entre escolares no Brasil. Ciênc Saúde Coletiva 2010; 15(Supl. 2): 3027-34. https://doi.org/10.1590/S1413-81232010000800007
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,2929. The Global Youth Tobacco Survey Collaborative Group. Tobacco use among youth: a cross country comparison. Special report. Tob Control 2002; 11(3): 252-70. https://doi.org/10.1136/tc.11.3.252
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. As prevalências de tabagismo entre adolescentes encontradas no presente estudo são menores do que as observadas na PeNSE em 2015 (5,6%; IC95% 5,3 – 5,9), o que pode significar tanto uma redução do consumo nessa faixa etária quanto o fato de permanecerem em casa, sem interação com amigos e conhecidos2121. Malta DC, Andreazzi MAR, Oliveira-Campos M, Andrade SSCA, Sá NNB, Moura L, et al. Trend of the risk and protective factors of chronic diseases in adolescents, National Adolescent School-based Health Survey (PeNSE 2009 e 2012). Rev Bras Epidemiol 2014; 17(Supl. 1): 77-91. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050007
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e com maior dificuldade de obter ou comprar os cigarros.

Neste estudo, constatou-se que o consumo de bebidas alcoólicas diminuiu entre os adolescentes durante a pandemia de COVID-19. O uso de álcool por adolescentes não é recomendado, sendo um importante fator de risco para acidentes, violência, desordens depressivas, ansiedade, brigas na escola, bullying, doenças crônicas, além de ser preditor do uso na vida adulta3030. Strauch ES, Pinheiro RT, Silva RA, Horta BL. Uso de álcool por adolescentes: estudo de base populacional. Rev Saúde Pública 2009; 43(4): 647-55. https://doi.org/10.1590/S0034-89102009005000044
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3232. Malta DC, Machado IE, Porto DL, Silva MMA, Freitas PC, Costa AWN, et al. Consumo de álcool entre adolescentes brasileiros segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE 2012). Rev Bras Epidemiol 2014; 17(Supl. 1): 203-14. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050016
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. O seu consumo entre adolescentes brasileiros é elevado (cerca de 25%)3030. Strauch ES, Pinheiro RT, Silva RA, Horta BL. Uso de álcool por adolescentes: estudo de base populacional. Rev Saúde Pública 2009; 43(4): 647-55. https://doi.org/10.1590/S0034-89102009005000044
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,3333. Malta DC, Machado IE, Felisbino-Mendes MSS, Prado RR, Pinto AMA, Oliveira-Campos M, et al. Uso de substâncias psicoativas em adolescentes brasileiros e fatores associados: Pesquisa Nacional de Saúde dos Escolares, 2015. Rev Bras Epidemiol 2018; 21(Supl. 1): e180004. https://doi.org/10.1590/1980-549720180004.supl.1
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e está associado a práticas de socialização e a festas e celebrações com os amigos3131. Malta DC, Mascarenhas MDM, Porto DL, Duarte EA, Sardinha LM, Barreto SM, et al. Prevalência do consumo de álcool e drogas entre adolescentes: análise dos dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar. Rev Bras Epidemiol 2011; 14(Supl. 1): 136-46. https://doi.org/10.1590/S1415-790X2011000500014
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. A análise dos dados da PeNSE mostra que as festas foram o principal meio de obtenção de bebidas alcoólicas pelas meninas (44%), seguidas pelos amigos (23%)3232. Malta DC, Machado IE, Porto DL, Silva MMA, Freitas PC, Costa AWN, et al. Consumo de álcool entre adolescentes brasileiros segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE 2012). Rev Bras Epidemiol 2014; 17(Supl. 1): 203-14. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050016
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. Assim, o fato de os adolescentes aderirem ao distanciamento social, ficando em casa, sem participar de festas e sem contatos com os amigos, foi possivelmente o principal responsável pela redução desse consumo durante a pandemia.

Entre as limitações do estudo, discute-se a coleta de dados pela internet, que pode não atingir todos os estratos populacionais, considerando que nem todos têm acesso a esse meio de comunicação — fato que pode levar à sub ou superestimação da proporção dos indicadores. Essa limitação foi minimizada em razão da calibração da amostra com os dados da PeNSE. Outra limitação refere-se ao fato de a coleta de dados ter sido realizada de 27 de junho a 12 de outubro de 2020, durante um momento singular do distanciamento social, sujeito a mudanças ao longo do decurso da pandemia. Além disso, as informações sobre o período pré-pandêmico foram coletadas no período pandêmico, o que pode estar sujeito a viés de memória. Cabe destacar, ainda, que a coleta de dados via internet e o processo de amostragem em cadeia são métodos eticamente plausíveis quando se considera o contexto pandêmico, além do baixo custo relacionado à operacionalização. As pesquisas on-line surgem como um método promissor para avaliar e rastrear conhecimentos, comportamentos, estilos de vida e percepções durante surtos de doenças infecciosas em rápida evolução.

Os dados apresentados neste estudo sugerem mudança de comportamento entre adolescentes brasileiros durante a pandemia, como aumento do consumo de alimentos congelados, doces e chocolates, bem como do comportamento sedentário, e redução da prática de atividade física. Contudo, no período da pandemia, o consumo de hortaliças aumentou e o consumo de salgadinhos de pacote e de álcool reduziu. Tornam-se importantes o apoio e o suporte dos familiares, bem como políticas públicas que reforcem os comportamentos saudáveis e a continuidade dos cuidados, especialmente entre os adolescentes.

  • Fonte de financiamento: nenhuma.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    16 Jan 2021
  • Revisado
    24 Fev 2021
  • Aceito
    01 Mar 2021
  • Publicado
    10 Mar 2021
Associação Brasileira de Pós -Graduação em Saúde Coletiva São Paulo - SP - Brazil
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