Síndrome Respiratória Aguda Grave por COVID-19 em recém-nascidos no Brasil em 2020–2021

Andressa Rocha Pereira Maria dos Remédios Freitas Carvalho Branco Silmery da Silva Brito Costa Denise Ailine Monteiro Lopes Vanessa Vieira Pinheiro Daniel Cavalcante de Oliveira Amanda Namíbia Pereira Pasklan Jamesson Amaral Gomes Alcione Miranda dos Santos Mônica Elinor Alves Gama Sobre os autores

RESUMO

Objetivo:

Descrever as características clínicas dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por COVID-19 em recém-nascidos (RNs) em 2020 e 2021, no Brasil, registrados no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe).

Métodos:

As variáveis analisadas foram: sexo, raça/cor, hospitalização, internação em unidade de terapia intensiva (UTI), uso de suporte ventilatório, sinais e sintomas (febre, tosse, saturação de O2<95%, dispneia, desconforto respiratório, diarreia e vômitos), evolução (óbito ou cura), fatores de risco/comorbidades. As variáveis categóricas foram apresentadas em frequências absolutas e relativas.

Resultados:

Houve 1.649 registros de SRAG por COVID-19 em RNs, com predomínio de pardos nos dois anos. Os sintomas mais frequentes foram, respectivamente, em 2020 e 2021: desconforto respiratório (67,0 e 69,7%), febre (46,3 e 46,2%) e tosse (37,0 e 46,3%). Em 2020, 30,5% dos pacientes receberam suporte ventilatório invasivo, e 41,6% em 2021. Além disso, mais de 55% dos casos precisaram de internação em UTI, e acima de 16% morreram.

Conclusão:

Destaca-se a elevada proporção de casos que precisou de cuidados intensivos e que evoluíram para óbito.

Palavras-chave:
COVID-19; Síndrome respiratória aguda grave; Recém-nascido; Brasil; Epidemiologia; Saúde pública

INTRODUÇÃO

Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou o estado de pandemia de COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus identificado como SARS-CoV-211 Organização Pan-Americana de Saúde. Histórico da Pandemia de COVID-19. Brasília: OPAS [Internet]. 2022 [cited on May 23, 2022]. Available at: https://www.paho.org/pt/covid19/historico-da-pandemia-covid-19
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. Inicialmente limitados às faixas etárias mais elevadas, casos graves, progressivamente, foram sendo registrados entre neonatos, o que trouxe grandes desafios à assistência em saúde para esse grupo etário22 Ryan L, Plötz FB, van den Hoogen A, Latour JM, Degtyareva M, Keuning M, et al. Neonates and COVID-19: state of the art: neonatal sepsis series. Pediatr Res 2022; 91(2): 432-39. https://doi.org/10.1038/s41390-021-01875-y
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Os recém-nascidos (RNs) representam um grupo de risco em razão da imaturidade do sistema imune e outras condições, como a prematuridade, que são responsáveis por importantes mudanças no sistema respiratório33 Santos VS, Siqueira TS, Atienzar AIC, Santos MARR, Vieira SCF, Lopes ASA, et al. Spatial clusters, social determinants of health and risk of COVID-19 mortality in Brazilian children and adolescents: a nationwide population-based ecological study. Lancet Reg Health Am 2022; 13: 100311. https://doi.org/10.1016/j.lana.2022.100311
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. Assim, esta pesquisa objetivou descrever as características clínicas dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por COVID-19 na faixa etária de 0 a 28 dias em 2020 e 2021 no Brasil.

MÉTODOS

Estudo descritivo de casos de SRAG por COVID-19 na faixa etária de 0 a 28 dias no Brasil em 2020 e 2021, registrados no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe — SIVEP-Gripe, sistema oficial para o registro dos casos e óbitos por SRAG no país.

O Ministério da Saúde realiza a vigilância da SRAG desde 2009, quando houve a pandemia por Influenza A (H1N1). Desde então, a vigilância de SRAG foi implantada na rede de vigilância de Influenza e outros vírus respiratórios e, em 2020, incorporou a vigilância da SRAG por COVID-1944 Brasil. Ministério da Saúde. DataSUS. SRAG 2020 - Banco de Dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave – incluindo dados da COVID-19. Brasil [Internet]. 2021 [cited on Nov 1, 2022]. Available at: https://opendatasus.saude.gov.br/dataset/srag-2020
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. A notificação dos casos é realizada por meio da “Ficha de Registro Individual para Casos de SRAG” (https://opendatasus.saude.gov.br/dataset/61d8e424-a008-47f3-80e1-2369f2f48cef/resource/25b6d4e6-31a8-4352-93e2-c9626bb529bc/download/ficha-srag-final-27.07.2020_final.pdf), que considera tanto os casos de SRAG hospitalizados quanto os óbitos por SRAG independentes da hospitalização.

A população de estudo foram todos os casos de RNs (0 a 28 dias de idade) com classificação final do caso como SRAG por COVID-19, considerando critérios laboratoriais (testes antigênicos, reação em cadeia da polimerase), de imagem (radiografia e tomografia de tórax), clínicos (sinais e sintomas) e epidemiológicos (https://opendatasus.saude.gov.br/dataset/61d8e424-a008-47f3-80e1-2369f2f48cef/resource/9f6ba348-0033-49b1-abbe-719a0ffbeb28/download/dicionario-de-dados-srag-hospitalizado-27.07.2020-final.pdf). A coleta dos dados ocorreu em 9 de março de 2022, no portal https://opendatasus.saude.gov.br/dataset.

Utilizaram-se as seguintes variáveis da “Ficha de Registro Individual para Casos de SRAG”: sexo (feminino ou masculino); raça/cor (declarada pelo paciente ou responsável e seguindo as categorias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): branca, preta, amarela, parda e indígena); hospitalização (sim ou não); internação em UTI (sim ou não); uso de suporte ventilatório (sim, suporte invasivo; sim, suporte não invasivo; ou não); sinais e sintomas (febre, tosse, saturação de O2<95%, dispneia, desconforto respiratório, diarreia e vômitos); evolução do caso (cura ou óbito); fatores de risco/comorbidades (sim ou não): cardiopatias, imunodeficiências, neuropatias, pneumopatias, síndrome de Down e outros.

A prematuridade, idade gestacional inferior a 37 semanas ao nascimento, não consta como opção na variável “fator de risco” da Ficha de notificação. Quando presente, é descrita no campo “outros fatores de risco/comorbidades”.

As variáveis categóricas foram apresentadas em frequências absolutas e relativas. Calcularam-se separadamente as frequências absolutas e relativas de prematuridade quando essa foi especificada em outros fatores de risco/comorbidade.

Na variável “evolução”, a proporção de óbitos hospitalares por SRAG por COVID-19 no país foi calculada pela razão do número de óbitos na faixa etária de 0 a 28 dias de idade pelo número de registros no SIVEP-Gripe, por ano de ocorrência, multiplicado por 100. Foram eliminados os itens ignorados de todas as variáveis analisadas, sendo considerados como perdas. As análises foram realizadas no software Stata® versão 16.

Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HUUFMA), sob número de Parecer: 4.098.427 e CAAE 32206620.0.0000.5086, de 19 de junho de 2020.

RESULTADOS

Em 2020, foram registrados no SIVEP-Gripe 1.200.044 casos de SRAG no Brasil, sendo 712.299 por COVID-19. Destes, 793 na faixa etária de 0 a 28 dias. Em 2021, 1.721.489 casos de SRAG, sendo 1.189.433 por COVID-19 e 856 na faixa de 0 a 28 dias; totalizando, em dois anos, 1.649 casos de SRAG por COVID-19 em RNs.

Em 2020, 51,3% eram do sexo feminino; e em 2021, 53,2% do masculino. Houve predomínio de pardos (64% em 2020 e 55,5% em 2021), seguido da raça/cor branca (30,3% em 2020 e 19,4% em 2021). Os sintomas mais frequentes foram, respectivamente, em 2020 e 2021: desconforto respiratório (67,0 e 69,7%), febre (46,3 e 46,2%) e tosse (37,0 e 46,3%) (Tabela 1).

Tabela 1
Frequência absoluta e relativa de sinais e sintomas, presença de fatores de risco/comorbidades, internação em unidade de terapia intensiva, suporte ventilatório e proporção de óbitos hospitalares em recém-nascidos com Síndrome Respiratória Aguda Grave por COVID-19, Brasil, 2020–2021.

Em 2020 e 2021, a proporção de internação em UTI, uso de suporte ventilatório invasivo e óbitos hospitalares foi, respectivamente, 55,6 e 55,9%; 21,1 e 22,8%; 16,8 e 16,4% (Tabela 1). A cardiopatia foi a comorbidade mais frequente em ambos os anos; a prematuridade foi relatada em 1,2% em 2020 e 5,6% em 2021 (Tabela 1). Dos casos que evoluíram para óbito, mais de 70% necessitaram de internação em UTI, e mais de 50%, de suporte ventilatório invasivo (Tabela 2).

Tabela 2
Frequência absoluta e relativa de internação em unidade de terapia intensiva, uso de suporte ventilatório, prematuridade e cardiopatias dos recém-nascidos que evoluíram para óbito por Síndrome Respiratória Aguda Grave por COVID-19, Brasil, 2020–2021.

DISCUSSÃO

Houve 1.649 casos de SRAG por COVID-19 em RNs, registrados no SIVEP-Gripe, em 2020 e 2021 no Brasil. Até o momento, não há na literatura nacional ou internacional análises para a faixa etária neonatal55 Gale C, Quigley MA, Placzek A, Knight M, Ladhani S, Draper ES, et al. Characteristics and outcomes of neonatal SARS-CoV-2 infection in the UK: a prospective national cohort study using active surveillance. Lancet Child Adolesc Health 2021; 5(2): 113-21. https://doi.org/10.1016/S2352-4642(20)30342-4
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77 Procianoy RS, Silveira RC, Manzoni P, Sant’Anna G. Neonatal COVID-19: little evidence and the need for more information. J Pediatr (Rio J) 2020; 96(3): 269-72. https://doi.org/10.1016/j.jped.2020.04.002
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com números significativos como se apresenta neste estudo.

Houve predomínio de casos em pardos, mostrando frequência acima da proporção destes na população brasileira. No Reino Unido, um estudo demonstrou que neonatos pertencentes a grupos étnicos, entre eles, negros e miscigenados, corresponderam à metade dos casos55 Gale C, Quigley MA, Placzek A, Knight M, Ladhani S, Draper ES, et al. Characteristics and outcomes of neonatal SARS-CoV-2 infection in the UK: a prospective national cohort study using active surveillance. Lancet Child Adolesc Health 2021; 5(2): 113-21. https://doi.org/10.1016/S2352-4642(20)30342-4
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. Na Inglaterra, crianças negras, miscigenadas ou de outras raças apresentaram maior risco de hospitalização e de internações mais longas quando comparadas a crianças brancas88 Saatci D, Ranger TA, Garriga C, Clift AK, Zaccardi F, Tan PS, et al. Association between race and COVID-19 outcomes among 2.6 million children in England. JAMA Pediatr 2021; 175(9): 928-38. https://doi.org/10.1001/jamapediatrics.2021.1685
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Entre os sintomas dos neonatos analisados neste estudo, os mais frequentes foram desconforto respiratório/dispneia, febre e tosse. Em pesquisa do Reino Unido com 66 neonatos, os sintomas mais comuns foram febre, recusa alimentar/inapetência e vômitos, quando comparados a crianças mais velhas e adultos55 Gale C, Quigley MA, Placzek A, Knight M, Ladhani S, Draper ES, et al. Characteristics and outcomes of neonatal SARS-CoV-2 infection in the UK: a prospective national cohort study using active surveillance. Lancet Child Adolesc Health 2021; 5(2): 113-21. https://doi.org/10.1016/S2352-4642(20)30342-4
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. Entre crianças e adolescentes de 0 a 18 anos, em estudo europeu, febre, sintomas de trato respiratório superior e inferior e sintomas gastrintestinais foram mais frequentes, nessa ordem99 Götzinger F, Santiago-García B, Noguera-Julián A, Lanaspa M, Lancella L, Carducci FIC, et al. COVID-19 in children and adolescents in Europe: a multinational, multicentre cohort study. Lancet Child Adolesc Health 2020; 4(9): 653-61. https://doi.org/10.1016/S2352-4642(20)30177-2
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Comparados aos adultos, as crianças em geral apresentam manifestações clínicas menos graves. Estudo com 60.109 pacientes hospitalizados por COVID-19 em 43 países, incluindo diferentes faixas etárias, evidenciou que sintomas como febre, tosse e dispneia são menos prevalentes nos menores de 18 anos do que nas demais faixas etárias1010 ISARIC Clinical Characterisation Group. COVID-19 symptoms at hospital admission vary with age and sex: results from the ISARIC prospective multinational observational study. Infection 2021; 49(5): 889-905. https://doi.org/10.1007/s15010-021-01599-5
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A proporção de internação em UTI e de óbitos hospitalares evidenciaram que neonatos apresentam formas graves da COVID-19. A imaturidade do sistema imune inato e adaptativo nos RNs pode justificar a gravidade maior da doença nessa faixa etária, pois a natureza da resposta imune no início da vida influencia a suscetibilidade a doenças imunomediadas como a COVID-191111 Torow N, Marsland BJ, Hornef MW, Gollwitzer ES. Neonatal mucosal immunology. Mucosal Immunol 2017; 10(1): 5-17. https://doi.org/10.1038/mi.2016.81
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. Adicionalmente, pesquisas internacionais mostram que a faixa etária de crianças menores de um ano pode ser fator de risco para a gravidade da doença e consequente mortalidade entre crianças1212 Dong Y, Mo XI, Hu Y, Qi X, Jiang F, Jiang Z, et al. Epidemiological characteristics of 2143 pediatric patients with 2019 coronavirus disease in China. Journal Emergency Medicine 2020; 58(4): 712-13. https://doi.org/10.1016/j.jemermed.2020.04.006
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,1313 Garazzino S, Lo Vecchio A, Pierantoni L, Carducci FIC, Marchetti F, Meini A et al. Epidemiology, clinical features and prognostic factors of pediatric SARS-CoV-2 infection: results from an Italian multicenter study. Front Pediatr 2021; 9: 649358. https://doi.org/10.3389/fped.2021.649358
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. Estudo chinês com mais de 2.135 casos de COVID-19 em crianças e adolescentes de até 19 anos mostrou que menores de um ano apresentaram maior proporção de doença grave (10,6%) em relação às faixas etárias1212 Dong Y, Mo XI, Hu Y, Qi X, Jiang F, Jiang Z, et al. Epidemiological characteristics of 2143 pediatric patients with 2019 coronavirus disease in China. Journal Emergency Medicine 2020; 58(4): 712-13. https://doi.org/10.1016/j.jemermed.2020.04.006
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Esse estudo identificou proporções maiores de internação em UTI, uso de ventilação invasiva e mortalidade hospitalar quando comparadas a estudos realizados em outros países. No Reino Unido, 42% dos 66 neonatos analisados tiveram infecção grave, 36% receberam cuidados intensivos ou suporte ventilatório e nenhum óbito foi registrado55 Gale C, Quigley MA, Placzek A, Knight M, Ladhani S, Draper ES, et al. Characteristics and outcomes of neonatal SARS-CoV-2 infection in the UK: a prospective national cohort study using active surveillance. Lancet Child Adolesc Health 2021; 5(2): 113-21. https://doi.org/10.1016/S2352-4642(20)30342-4
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. Quando comparadas a outras faixas etárias, observa-se que essas proporções são ainda mais altas. Na China, crianças e adolescentes de até 18 anos apresentaram doença grave em 6% dos casos1212 Dong Y, Mo XI, Hu Y, Qi X, Jiang F, Jiang Z, et al. Epidemiological characteristics of 2143 pediatric patients with 2019 coronavirus disease in China. Journal Emergency Medicine 2020; 58(4): 712-13. https://doi.org/10.1016/j.jemermed.2020.04.006
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; na Europa, 8% demandaram cuidados intensivos e 4%, ventilação mecânica99 Götzinger F, Santiago-García B, Noguera-Julián A, Lanaspa M, Lancella L, Carducci FIC, et al. COVID-19 in children and adolescents in Europe: a multinational, multicentre cohort study. Lancet Child Adolesc Health 2020; 4(9): 653-61. https://doi.org/10.1016/S2352-4642(20)30177-2
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. Nos EUA, por exemplo, de março de 2020 a junho de 2021, a taxa de admissão em UTI por COVID-19 na faixa de 0 a 17 anos foi de 26,5%, 6,1% precisaram de ventilação invasiva e 0,7% evoluiu a óbito1414 Delahoy MJ, Ujamaa D, Whitaker M, O’Halloran A, Anglin O, Burns E, et al. Hospitalizations associated with COVID-19 among children and adolescents – COVID-NET, 14 states, March 1, 2020 – August 14, 2021. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2021; 70(36): 1255-60. https://doi.org/10.15585/mmwr.mm7036e2
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Nem todos os pacientes que morreram foram internados em UTI, provavelmente por falta de leitos disponíveis. Países como o Brasil reportam maior mortalidade pediátrica por COVID-19 quando comparados a países de alta renda, possivelmente por conta da incapacidade de prover os cuidados necessários para os doentes mais graves1515 Kitano T, Kitano M, Krueger C, Jamal H, Al Rawahi H, Lee-Krueger R, et al. The differential impact of pediatric COVID-19 between high-income countries and low- and middle-income countries: a systematic review of fatality and ICU admission in children worldwide. PLoS One 2021; 16(1): e0246326. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0246326
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. No Brasil, as grandes disparidades raciais, geográficas e socioeconômicas são fatores reconhecidamente associados à qualidade da assistência à saúde, e a experiência recente com o coronavírus SARS-CoV-2 mostrou que a letalidade da doença é impactada de forma decisiva pela capacidade de resposta da rede de serviços de saúde, principalmente no que tange à detecção precoce de casos e à disponibilidade e acesso a cuidados críticos prestados1616 Gurzenda S, Castro MC. COVID-19 poses aing pregnancy and postpartum mortality risk in Brazil. EClinicalMedicine 2021; 36: 100917. https://doi.org/10.1016/j.eclinm.2021.100917
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No país, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde e a leitos de UTI podem influenciar na gravidade da COVID-19 nessa faixa etária, em razão da maior necessidade de hospitalizações e cuidados intensivos1717 Oliveira EA, Colosimo EA, Silva ACS, Mak RH, Martelli DB, Silva LR, et al. Clinical characteristics and risk factors for death among hospitalised children and adolescents with COVID-19 in Brazil: an analysis of a nationwide database. Lancet Child Adolesc Health 2021; 5(8): 559-68. https://doi.org/10.1016/S2352-4642(21)00134-6
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, em especial nas regiões Norte e Nordeste do país, que apresentam as piores condições socioeconômicas e indicadores de saúde e têm as menores proporções de leitos de UTI pediátrica33 Santos VS, Siqueira TS, Atienzar AIC, Santos MARR, Vieira SCF, Lopes ASA, et al. Spatial clusters, social determinants of health and risk of COVID-19 mortality in Brazilian children and adolescents: a nationwide population-based ecological study. Lancet Reg Health Am 2022; 13: 100311. https://doi.org/10.1016/j.lana.2022.100311
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. Nesse contexto, além dos efeitos deletérios da própria doença, deve-se considerar a piora dos quadros como consequência das deficiências da assistência prestada.

Os fatores de risco/comorbidades mais encontrados foram cardiopatias e imunodeficiências. Crianças com comorbidades estão mais sujeitas a desenvolver formas mais graves da COVID-19 e apresentarem maiores proporções de hospitalização1818 Kompaniyets L, Agathis NT, Nelson JM, Preston LE, Ko JY, Belay B, et al. Underlying medical conditions associated with severe COVID-19 illness among children. JAMA Netwk Open 2021; 4(6): e2111182. https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2021.11182
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. A presença de comorbidades/condições médicas pré-existentes é associada ao desenvolvimento de formas mais graves da doença, com destaque para as pneumopatias crônicas99 Götzinger F, Santiago-García B, Noguera-Julián A, Lanaspa M, Lancella L, Carducci FIC, et al. COVID-19 in children and adolescents in Europe: a multinational, multicentre cohort study. Lancet Child Adolesc Health 2020; 4(9): 653-61. https://doi.org/10.1016/S2352-4642(20)30177-2
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A prematuridade representa outro fator de risco para formas mais graves de COVID-19 e desfechos respiratórios piores, principalmente nas crianças menores de 2 anos1818 Kompaniyets L, Agathis NT, Nelson JM, Preston LE, Ko JY, Belay B, et al. Underlying medical conditions associated with severe COVID-19 illness among children. JAMA Netwk Open 2021; 4(6): e2111182. https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2021.11182
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. Neonatos prematuros apresentam taxas proporcionalmente mais altas de infecção por SARS-CoV-222 Ryan L, Plötz FB, van den Hoogen A, Latour JM, Degtyareva M, Keuning M, et al. Neonates and COVID-19: state of the art: neonatal sepsis series. Pediatr Res 2022; 91(2): 432-39. https://doi.org/10.1038/s41390-021-01875-y
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. No entanto, neste estudo, a prematuridade foi relatada apenas em 14 RNs com SRAG por COVID-19. Possivelmente porque não consta na “Ficha de Registro Individual de Casos de SRAG Hospitalizado” um campo específico para prematuridade. Quando presente, precisa ser digitada no campo “Outros”.

Como limitações deste estudo, pode-se citar a perda de informações em algumas variáveis e falhas no preenchimento dos campos raça/cor, fatores de risco e evolução dos casos. Ademais, trata-se de estudo descritivo e transversal, o que impossibilita análise da associação causal entre a exposição e desfechos clínicos. Destaca-se como ponto forte deste trabalho o número expressivo de casos de SRAG por COVID-19 em RNs em um período de 21 meses em todo o país.

Este estudo contribuiu com a literatura ao descrever as características clínicas dos casos de SRAG por COVID-19 em RNs no Brasil. Sugere-se a realização de estudos voltados para o cenário da COVID-19 em RNs, principalmente para os casos graves e desfechos desfavoráveis com óbitos. Espera-se que este estudo contribua para reflexão acerca da importância de ações adequadas de prevenção à mortalidade por COVID-19 em RNs.

Considerando que possivelmente houve subregistro, sugere-se a inclusão de um campo específico para prematuridade como fator de risco na “Ficha de Registro Individual de Casos de SRAG Hospitalizado”. Fica evidente a necessidade de distribuição de leitos de UTI neonatal de forma mais homogênea no território, uma vez que estes encontram-se centralizados em determinados municípios e dificultam o acesso ao tratamento adequado para os casos graves em RNs33 Santos VS, Siqueira TS, Atienzar AIC, Santos MARR, Vieira SCF, Lopes ASA, et al. Spatial clusters, social determinants of health and risk of COVID-19 mortality in Brazilian children and adolescents: a nationwide population-based ecological study. Lancet Reg Health Am 2022; 13: 100311. https://doi.org/10.1016/j.lana.2022.100311
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  • Fonte de financiamento: Financiado pela Chamada MCTIC/CNPq/FNDCT/MS/SCTIE/Decit n° 07/2020 – Pesquisas para enfrentamento da COVID-19, suas consequências e outras síndromes respiratórias agudas graves. Termo de Outorga: 401734/2020-0. Financiado pelo Edital FAPEMA n° 06/2020 – Fomento à pesquisa no enfrentamento à pandemia e pós-pandemia do COVID-19. Termo de Outorga: 003299/2020.

AGRADECIMENTOS:

Agradecemos à FAPEMA (Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão) pelo programa de apoio à publicação de artigos. Agradecemos à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) [Código de financiamento n°: 001].

Referências bibliográficas

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    22 Ago 2022
  • Revisado
    11 Nov 2022
  • Aceito
    23 Nov 2022
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