Perfil farmacoterapêutico e fatores associados à polifarmácia entre idosos de Aiquara, Bahia, em 2014*4* Artigo elaborado a partir da dissertação de Mestrado da autora Alessandra Santos Sales, intitulada ‘Estudo de base populacional sobre o uso de medicamentos em idosos residentes em comunidade’, apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Campus de Jequié-BA, em 2014.

Pharmacotherapeutic profile and factors associated with polypharmacy among the elderly in Aiquara, Bahia, Brazil, 2014

Perfil fármaco terapéutico y factores asociados a la polifarmacia en ancianos de Aiquara, Bahia, 2014

Alessandra Santos Sales Marta Gabriele Santos Sales Cezar Augusto Casotti Sobre os autores

Resumo

Objetivo:

descrever os medicamentos utilizados e analisar os fatores associados à polifarmácia em idosos de Aiquara, Bahia, Brasil.

Métodos:

trata-se de um estudo transversal, censitário, realizado em fevereiro de 2014, por meio de entrevista com formulário padronizado.

Resultados:

entre os 272 idosos entrevistados, 53,3% usavam apenas medicamentos prescritos e 31,6% pelo menos um medicamento não prescrito; a prevalência de polifarmácia foi de 29,0%; os medicamentos cardiovasculares foram os mais utilizados na polifarmácia (n=390; 37,6%); após análise ajustada, os fatores que permaneceram associados à polifarmácia foram sexo feminino (OR=2,20 - IC95% 1,11;4,35), plano privado de saúde (OR=2,18 - IC95% 1,05;4,55), ter sido internado no último ano (OR=2,34 - IC95% 1,18;4,65) e ter quatro ou mais doenças autorreferidas (OR=3,18 - IC95% 1,60;6,29).

Conclusão:

houve alta prevalência de polifarmácia, associada ao sexo, plano privado de saúde, ter quatro ou mais doenças autorreferidas e ter sido internado no último ano, com maior uso de medicamentos cardiovasculares.

Palavras-chave:
Saúde do Idoso; Uso de Medicamentos; Polimedicação; Estudos Transversais

Abstract

Objective:

to describe the drugs used and analyze the factors associated with polypharmacy in the elderly, in Aiquara, Bahia, Brazil.

Methods:

this is a census cross-sectional study, conducted in February 2014, through an interview using standardized form.

Results:

among the 272 elderly respondents, 53.3% used only prescribed medication and 31.6% used at least one medication not prescribed; the prevalence of polypharmacy was 29.0%; cardiovascular drugs were the most used in polypharmacy (n=390; 37.6%); after adjusted analysis, the factors that remained associated with polypharmacy were female sex (OR=2.20 - 95%CI 1.11;4.35), private health insurance (OR=2.18 - 95%CI 1.05;4.55), hospitalization in the previous year (OR=2.34 - 95%CI 1.18;4.65) and having four or more self-reported diseases (OR=3.18 - 95%CI 1.60;6.29).

Conclusion:

there was a high prevalence of polypharmacy, associated with sex, private health insurance, having four or more self-reported diseases and hospitalization in the previous year, with higher use of cardiovascular drugs.

Key words:
Health of the Elderly; Drug Utilization; Polypharmacy; Cross-Sectional Studies

Resumen

Objetivo:

describir los fármacos utilizados y analizar los factores asociados a la polifarmacia en ancianos de Aiquara, Bahía, Brasil.

Métodos:

se trata de un estudio transversal, censo, realizado en febrero de 2014, a través de entrevistas con formularios estandarizados.

Resultados:

entre los 272 ancianos entrevistados, 53,3% utilizaban la medicación prescrita y solamente 31,6% al menos un medicamento sin receta médica; la prevalencia de polifarmacia fue 29,0%; los medicamentos cardiovasculares fueron los más utilizados (n=390; 37,6%); en análisis ajustados, los factores asociados a la polifarmacia fueron sexo femenino (OR=2,20 - IC95% 1,11;4,35), seguro de salud privado (OR=2,18 - IC95% 1,05;4,55), haber sido hospitalizados en el último año (OR=2,34 - IC95% 1,1;4,65) y auto-reporte de cuatro o más enfermedades (OR=3,18 - IC95% 1,60;6,29).

Conclusión:

hubo una alta prevalencia de polifarmacia, asociada al sexo, plan de salud privado, tener cuatro o más enfermedades auto-reportados y haber sido hospitalizado en el último año, con un mayor uso de fármacos cardiovasculares.

Palabras-clave:
Salud del Anciano; Utilización de Medicamentos; Polifarmacia; Estudios Transversales

Introdução

A exposição a múltiplos fármacos, o uso de mais medicamentos do que está clinicamente indicado11. Fulton MM, Allen ER. Polypharmacy in the elderly: a literature review. J Am Acad Nurse Pract. 2005 Apr;17(4):123-32. ou o consumo de cinco ou mais medicamentos22. Linjakumpu T, Hartikainen S, Klaukka T, Veijola J, Kivela SL, Isoaho R. Use of medications and polypharmacy are increasing among the elderly. J Clin Epidemiol. 2002 Aug;55(8):809-17. é reconhecido como polifarmácia. Trata-se de uma situação de etiologia multifatorial, maior em indivíduos com doenças crônicas e manifestações clínicas decorrentes do envelhecimento.33. Secoli SR. Polifarmácia: interações e reações adversas no uso de medicamentos por idosos. Rev Bras Enferm. 2010 jan-fev;63(1):136-40.

Por conviver com problemas crônicos de saúde, os idosos são consumidores de grande número de medicamentos44. Lima-Costa MF, Veras R. Saúde pública e envelhecimento. Cad Saude Publica. 2003 jun;19(3):700-1. que, embora necessários, quando não utilizados segundo a prescrição, podem desencadear complicações sérias para a saúde e aumento dos custos individuais e governamentais com saúde.55. Barros JAC, Joany S. Anúncios de medicamentos em revistas médicas: ajudando a promover a boa prescrição? Cienc Saude Coletiva. 2002 jan;7(4):891-8. Apesar dos benefícios da terapêutica medicamentosa, é crescente seu uso,66. Marin MJS, Cecílio LCO, Perez AEWUF, Santella F, Silva CBA, Gonçalves Filho JR, et al. Caracterização do uso de medicamentos entre idosos de uma unidade do Programa Saúde da Família. Cad Saude Publica. 2008 jul;24(7):1545-55. muitas vezes de forma irracional, sem seguimento da prescrição medica.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 50% dos medicamentos são prescritos ou dispensados de forma inadequada e 50% dos pacientes tomam medicamentos de maneira incorreta, levando a uma elevada ocorrência de morbidade e mortalidade em todo o mundo. As práticas mais comuns de uso irracional de medicamentos estão relacionadas à polifarmácia, ao uso inapropriado de antibióticos e de medicamentos injetáveis, automedicação e prescrição em desacordo com as diretrizes clínicas.77. World Health Organization. The safety of medicines in public health programmes: pharmacovigilance an essential tool. Geneva: World Health Organization; 2006.

No Brasil, como na maioria dos países, os medicamentos representam o principal agente tóxico, respondendo por aproximadamente 28% dos casos de intoxicação humana registrados anualmente, segundo a última avaliação em 2013.88. Fundação Oswaldo Cruz. Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde. Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. Dados de intoxicação, Brasil, 2009 [Internet]. Brasília: Fundação Oswaldo Cruz; 2009 [citado 2014 jan 01]. Disponível em: Disponível em: http://sinitox.icict.fiocruz.br/dados-nacionais .
http://sinitox.icict.fiocruz.br/dados-na...
No campo dos medicamentos prescritos para idosos, o aumento de déficits cognitivos e visuais dificulta o reconhecimento do medicamento e adequado cumprimento da prescrição terapêutica. A presença de doenças concomitantes e o consumo simultâneo de um maior número de fármacos pode aumentar a probabilidade de ocorrerem reações adversas e interações medicamentosas.99. Loyola Filho AI, Uchoa E, Firmo JOA, Lima-Costa MF. Estudo de base populacional sobre o consumo de medicamentos entre idosos: Projeto Bambuí. Cad Saude Publica. 2005 mar-abr;21(2):545-53.

Alguns estudos, realizados com idosos em Porto Alegre-RS (2001-2002),1010. Flores LM, Mengue SS. Uso de medicamentos por idosos em região do sul do Brasil. Rev Saude Publica. 2005 dez;39(6):924-9. em Tubarão-SC1111. Galato D, Silva ES, Tiburcio LS. Estudo de utilização de medicamentos em idosos residentes em uma cidade do sul de Santa Catarina (Brasil): um olhar sobre a polimedicação. Cienc Saude Coletiva. 2010 set;15(6):2899-905. (2007) e em Belo Horizonte-MG12 (2003), identificaram que o consumo médio de medicamentos é maior entre aqueles que vivem sem companheiro(a) e do sexo feminino.1010. Flores LM, Mengue SS. Uso de medicamentos por idosos em região do sul do Brasil. Rev Saude Publica. 2005 dez;39(6):924-9. Como fatores associados à polifarmácia, foram encontrados o sexo feminino,1111. Galato D, Silva ES, Tiburcio LS. Estudo de utilização de medicamentos em idosos residentes em uma cidade do sul de Santa Catarina (Brasil): um olhar sobre a polimedicação. Cienc Saude Coletiva. 2010 set;15(6):2899-905. baixa escolaridade e pior autoavaliação da saúde.1212. Loyola Filho AI, Uchoa E, Lima-Costa MF. Estudo epidemiológico de base populacional sobre uso de medicamentos entre idosos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad Saude Publica. 2006 dez;22(12):2657-67.

Considerando-se a carência de estudos farmacoepidemiológicos de base populacional com idosos, o elevado e crescente consumo de medicamentos com o aumento da idade,1313. Haak H. Padrões de consumo de medicamentos em dois povoados da Bahia (Brasil). Rev Saude Publica. 1989 abr;23(2):143-51. a importância do correto uso de medicamentos para melhoria das condições de vida e saúde desses indivíduos, bem como os agravos advindos da polifarmácia, este estudo objetivou descrever os medicamentos utilizados e analisar os fatores associados à polifarmácia em idosos de Aiquara, Bahia, Brasil.

Métodos

Trata-se de um estudo epidemiológico transversal, censitário, realizado com pessoas de 60 anos ou mais de idade, não institucionalizadas, residentes na zona urbana do município de Aiquara-BA. O município possui população estimada em 4.790 habitantes, de acordo com o censo de 2010, com 357 idosos moradores na zona urbana, índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM) de 0,583, índice de Gini de 0,3514, proporção de pobreza de 47% e produto interno bruto (PIB) per capita de R$5.579,58 em 2014.1414. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016 [citado 2014 jul 01]. Disponível em: Disponível em: http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/
http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/pr...

Foram critérios de inclusão no estudo apresentar 60 anos ou mais de idade, residir na zona urbana, não apresentar déficit auditivo, cognitivo e/ou doença neurológica que impedisse a compreensão do questionário e dormir quatro dias ou mais por semana no domicílio onde foi realizada a entrevista. Quando havia no domicílio um cuidador responsável pelos medicamentos do idoso, foi permitida a presença desse cuidador enquanto o idoso respondia às questões relativas aos medicamentos; a presença do cuidador durante a entrevista aconteceu com apenas três idosos. Excluiu-se do estudo idosos não localizados em seu domicílio após três tentativas de abordagem, promovidas em dias e horários diferentes.

A presente pesquisa foi executada em fevereiro de 2014, com a anuência da Secretaria Municipal de Saúde, partindo do contato com a única Estratégia Saúde da Família (ESF) do município: de posse da lista de cadastrados na ESF, procedeu-se o censo de idosos residentes na zona urbana do município e as visitas domiciliares, realizadas pelos entrevistadores.

A variável de interesse do estudo foi a polifarmácia (variável dependente), definida como o consumo de cinco ou mais medicamentos22. Linjakumpu T, Hartikainen S, Klaukka T, Veijola J, Kivela SL, Isoaho R. Use of medications and polypharmacy are increasing among the elderly. J Clin Epidemiol. 2002 Aug;55(8):809-17. nas duas últimas semanas anteriores à entrevista e categorizada em presença (sim) ou ausência (não) de sua prática pelos idosos.

Foi adotado o ponto de corte de cinco ou mais medicamentos para definição de polifarmácia, conforme observado em estudo de base populacional,1515. Carvalho MFC, Romano-Lieber NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Riberio E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do município de São Paulo: estudo SABE. Rev Bras Epidemiol. 2012 dez;15(4):817-27. seguindo o critério utilizado pelo Centro Ibero-Americano para a Terceira Idade, iniciativa do governo de Cuba.

Para a avaliação do número de medicamentos habitualmente consumidos, prescritos ou não, citados pelos idosos, solicitou-se a apresentação, quando possível, da embalagem e da receita médica, na tentativa de minimizar o viés de recordatório do entrevistado e eventuais erros de informação.

Após a identificação dos medicamentos e seu desdobramento em fármacos, empregou-se o código ATC (Anatomical Therapeutic Chemical Index, ATC/DDD Index), elaborado pelo World Health Organization Collaborating Centre for Drug Statistics Methodology, para a classificação dos medicamentos segundo os grupos anatômico e terapêutico. Para os medicamentos com mais de um código, foi verificado o motivo do uso autorreferido e feita a devida classificação.

Os medicamentos também foram classificados como medicamentos potencialmente inapropriados, segundo os critérios de Beers-Fick1616. American Geriatrics Society. American Geriatrics Society updated Beers Criteria for potentially inappropriate medication use in older adults. J Am Geriatr Soc. 2012 Apr;60(4):616-31. - dos quais consta uma lista de medicamentos definidos como fármacos com risco de provocar nos idosos efeitos adversos superiores aos benefícios. Tal classificação foi adotada no presente trabalho, para o uso de medicamentos de qualquer natureza (prescritos ou por automedicação), com o intuito de avaliar a presença de medicamentos apontados como impróprios para idosos.

Foram utilizados instrumentos validados para coleta de dados sociodemográficos, condições de saúde, acesso ao serviço e uso de medicamentos (questionário do Projeto Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento na América Latina e Caribe [SABE]1717. Lebrão ML, Duarte YAO. SABE - saúde, bem-estar e envelhecimento: o Projeto SABE no município de São Paulo: uma abordagem inicial. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2003.), presença de indicativo de ansiedade (Inquérito de Ansiedade de Beck [BAI]1818. Gorenstein C, Andrade L, Zuardi AW (editores). Escalas de avaliação clínica em psiquiatria e psicofarmacologia. São Paulo: Lemos Editorial; 2000. e Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão [HAD]1919. Zigmond AS, Snaith RP. The hospital anxiety and depression scale. Acta Psychiatr Scand. 1983 Jun;67(6):361-70.) e de depressão (Escala de Depressão Geriátrica [GDS-15]2020. Almeida OP, Almeida SA. Short versions of the geriatric depression scale: a study of their validity for the diagnosis of a major depressive episode according to ICD-10 and DSM-IV. Int J Geriatr Psychiatry. 1999 Oct;14(10):858-65. e HAD1919. Zigmond AS, Snaith RP. The hospital anxiety and depression scale. Acta Psychiatr Scand. 1983 Jun;67(6):361-70.), e dependência/independência nas atividades de vida diária (Escala de Katz [ABVD]2121. Lino VTS, Pereira SRM, Camacho LAB, Ribeiro Filho ST, Buksman S. Adaptação transcultural da Escala de Independência em Atividades da Vida Diária (Escala de Katz). Cad Saude Publica. 2008 jan;24(1):103-12. e Escala de Lawton e Brody [AIVD]2222. Santos RL, Virtuoso Júnior JS. Confiabilidade da versão brasileira da Escala de Atividades Instrumentais da Vida Diária. RBPS. 2008;21(4):290-6.).

Na HAD, considerou-se tanto para o indicativo de depressão como para o de ansiedade o valor a partir de oito pontos, uma vez que a referida escala comporta os dois parâmetros. No BAI, o paciente que apresentou ‘ansiedade de leve a moderada’ (11 a 19 pontos), ‘moderada a grave’ (20 a 30 pontos) e ‘grave’ (31 a 63 pontos) foi classificado como com ansiedade; e quem teve escore para ‘ausência de ansiedade ou mínima’ (<11 pontos) foi considerado como sem ansiedade. Na GDS-15 (6 a 15 pontos), pacientes com ‘depressão ligeira’ e ‘depressão grave’ foram classificados como com depressão. Para a ABVD e a AIVD, foi considerado como sendo ‘dependente’ o paciente que apresentou pelo menos uma função com dependência; e como ‘independente’, aquele que tivesse independência total.

As variáveis independentes que sofreram categorização foram: etnia autodeclarada branca ou não branca (parda; negra; indígena; amarela); arranjo familiar (mora acompanhado; sozinho); sem escolaridade (nunca foi à escola; lê e escreve o nome) e com escolaridade (Ensino Fundamental I, II; Ensino Médio; Ensino Superior); renda menor/igual a um salário mínimo (SM) e maior que um SM; autopercepção da saúde (excelente/muito boa; regular/ruim); indicativo de depressão na GDS-15 (com depressão [depressão ligeira e depressão grave]; sem depressão) e na HAD (com depressão [possível e com depressão]; sem depressão), com ansiedade (possível e com ansiedade) e sem ansiedade; indicativo BAI com ansiedade (leve; moderada; grave) e sem ansiedade (ausência ou ansiedade mínima); e para as escalas ABVD e AIBD, igualmente, considerou-se o indivíduo independente (independência total) ou dependente (com pelo menos uma função com dependência).

O banco de dados foi digitado no programa Epi Data versão 3.1b - em duplicata, para correção de possíveis erros - e exportado para análise pelo IBM® SPSS® Statistics versão 21.0 (SPSS Inc., Chicago, IL.).

Para descrição dos dados, realizou-se distribuição das frequências e análise bivariável pelo teste do qui-quadrado de Pearson, com nível de significância de 5%. Em seguida, realizou-se análise múltipla por regressão logística, para estimação das razões de chance - ou odds ratios (OR) - e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%). No modelo ajustado, o critério para inclusão das variáveis foi a associação na análise bruta com a polifarmácia, em nível ≤0,20. Permaneceram no modelo final as variáveis com p<0,05.

O estudo é parte integrante do projeto intitulado ‘Condições de Saúde e Estilo de Vida em Idosos’, aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - Parecer no 171.464, de 17 de dezembro de 2012 -, em conformidade com as diretrizes da Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) no 466, de 12 de dezembro de 2012.

Resultados

Em Aiquara-BA, em fevereiro de 2014, identificou-se 299 idosos, dos quais 27 (9,03%) foram excluídos da pesquisa: oito recusaram-se a participar; e 19 (6,4%) não atenderam aos critérios de elegibilidade em razão de doença neurológica ou déficit cognitivo (n=15), ou por problemas auditivos que comprometiam a compreensão dos questionamentos (n=4). Participaram da pesquisa 272 idosos.

Com respeito aos idosos em condição de polifarmácia, 44,2% estavam fazendo uso de automedicação e 20,3% desses idosos em polifarmácia utilizavam medicamentos classificados como potencialmente inapropriados.

A idade dos idosos variou de 60 a 90 anos, com média de 71,8 anos (desvio-padrão, DP=7,8 anos), 58,8% (n=160) eram do sexo feminino, 57,7% (n=157) eram analfabetos ou analfabetos funcionais, 88,2% (n=240) recebiam até um salário mínimo e 80,8% (n=219) moravam acompanhados (Tabela 1).

Tabela 1
Distribuição de idosos residentes na área urbana, segundo características estudadas, no município de Aiquara, Bahia, 2014

Foram consumidos, por 84,9% dos idosos, 858 medicamentos distribuídos em 1.032 fármacos, no total. O número máximo de medicamentos utilizado por um idoso foi de 15 , com média de 3,7 medicamentos (DP=2,5). Entre os idosos, 15,1% não utilizavam nenhum medicamento. Do conjunto dos idosos, 29,4% faziam uso de medicamentos impróprios, 53,3% tomavam apenas medicamentos prescritos e 31,6% usavam pelo menos um medicamento não prescrito. A prevalência de polifarmácia foi de 29,0% entre os idosos, envolvendo um total de 499 medicamentos.

Os grupos farmacológicos utilizados segundo o código ATC (nível 1) pela população idosa foram descritos na Tabela 2. As classes de medicamentos mais utilizadas foram diuréticos (11,8%), agentes que atuam no sistema renina-angiotensina (10,6%), analgésicos (7,0%), anti-inflamatórios e antirreumáticos (6,9%) e medicamentos utilizados para diabetes (5,4%) (Tabela 2).

Tabela 2
Distribuição de medicamentos utilizados pelos idosos, conforme classificação anatômica (nível 1) e terapêutica (nível 2),a no município de Aiquara, Bahia, 2014

A prevalência de polifarmácia mostrou-se associada ao sexo feminino (RP=1,93 - IC95% 1,25;2,99), idade entre 70 e 79 anos (RP=1,87 - IC95% 1,21;2,88), estar sozinho (RP=1,62 - IC95% 1,10;2,39), autopercepção de saúde regular/ruim (RP=2,54 - IC95% 1,45;4,54), quatro ou mais doenças autorreferidas (RP=2,72 - IC95% 1,72;4,30), internação no último ano (RP=1,76 - IC95% 1,22;2,53), ansiedade (escalas de BAI [RP=1,78 - IC95% 1,20;2,64] e HAD [RP=2,04 - IC95% 1,36;3,05]) e depressão (escalas HAD [RP=1,87 - IC95% 1,30;2,69] e GDS-15 [RP=1,86; IC95% 1,28;2,71]) (Tabela 3).

Tabela 3
Prevalência da polifarmácia em idosos, segundo variáveis sociodemográficas, morbidade e autopercepção de saúde, no município de Aiquara, Bahia, 2014

Após ajuste, as variáveis que mantiveram associação à polifarmácia foram o sexo feminino (OR=2,20 - IC95% 1,11;4,35), atenção por plano de saúde privado (OR=2,18 - IC95% 1,05;4,55), internação no último ano (OR=2,34 - IC95% 1,18;4,65) e quatro ou mais doenças autorreferidas (OR=3,18 - IC95% 1,60;6,29) (Tabela 4).

Tabela 4
Análises bruta e ajustada da associação entre fatores sociodemográficos, morbidade e autopercepção de saúde em idosos e polifarmácia no município de Aiquara, Bahia, 2014

Discussão

Realizada entre os idosos residentes no município de Aiquara-BA em fevereiro de 2014, a presente pesquisa identificou alta prevalência de polifarmácia, e como fatores associados, sexo feminino, morar sozinho, ter mais de quatro doenças, plano privado de saúde e internação. A referida população enquadra-se no contexto mundial de ampla utilização de medicamentos para o sistema cardiovascular, em consonância com o padrão de prevalência das doenças crônicas não transmissíveis entre os idosos.88. Fundação Oswaldo Cruz. Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde. Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. Dados de intoxicação, Brasil, 2009 [Internet]. Brasília: Fundação Oswaldo Cruz; 2009 [citado 2014 jan 01]. Disponível em: Disponível em: http://sinitox.icict.fiocruz.br/dados-nacionais .
http://sinitox.icict.fiocruz.br/dados-na...

9. Loyola Filho AI, Uchoa E, Firmo JOA, Lima-Costa MF. Estudo de base populacional sobre o consumo de medicamentos entre idosos: Projeto Bambuí. Cad Saude Publica. 2005 mar-abr;21(2):545-53.

10. Flores LM, Mengue SS. Uso de medicamentos por idosos em região do sul do Brasil. Rev Saude Publica. 2005 dez;39(6):924-9.
-1111. Galato D, Silva ES, Tiburcio LS. Estudo de utilização de medicamentos em idosos residentes em uma cidade do sul de Santa Catarina (Brasil): um olhar sobre a polimedicação. Cienc Saude Coletiva. 2010 set;15(6):2899-905.

A alta prevalência de polifarmácia no segmento de idosos corrobora estudos com população semelhante e pautados no mesmo critério para definir polifarmácia, realizados nas cidades de Porto Alegre-RS, em 2001-2002,1010. Flores LM, Mengue SS. Uso de medicamentos por idosos em região do sul do Brasil. Rev Saude Publica. 2005 dez;39(6):924-9. e Tubarão-SC, em 2007.1111. Galato D, Silva ES, Tiburcio LS. Estudo de utilização de medicamentos em idosos residentes em uma cidade do sul de Santa Catarina (Brasil): um olhar sobre a polimedicação. Cienc Saude Coletiva. 2010 set;15(6):2899-905. Prevalências inferiores foram obtidas nos municípios de Carlos Barbosa-RS2323. Dal Pizzol TS, Pons ES, Hugo FN, Bozzetti MC, Sousa MLR, Hilgert JB. Uso de medicamentos entre idosos residentes em áreas urbanas e rurais de município no Sul do Brasil: um estudo de base populacional. Cad Saude Publica. 2012 jan; 28(1):104-14. em 2004, Belo Horizonte-MG1212. Loyola Filho AI, Uchoa E, Lima-Costa MF. Estudo epidemiológico de base populacional sobre uso de medicamentos entre idosos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad Saude Publica. 2006 dez;22(12):2657-67. no ano de 2003 e Bambuí-MG2424. Loyola-Filho AI, Uchoa E, Firmo JOA, Lima-Costa MF. Influência da renda na associação entre disfunção cognitiva e polifarmácia: Projeto Bambuí. Rev Saude Publica. 2008 fev;42(1):89-99. em 1997. Prevalências superiores foram obtidas em São Paulo-SP,1515. Carvalho MFC, Romano-Lieber NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Riberio E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do município de São Paulo: estudo SABE. Rev Bras Epidemiol. 2012 dez;15(4):817-27. no ano 2000.

Divergências na prevalência da polifarmácia podem ser explicadas pelas características do modelo de atenção à saúde, indicadores sociais e econômicos de cada região ou mesmo por estipulação de recortes temporais diferentes para listar o uso dos medicamentos pelos idosos, variando entre medicamentos utilizados na última semana, nos últimos 15 ou 90 dias, no último ano e/ou habitualmente utilizados. No estudo de Belo Horizonte-MG, é mencionado que o número de medicamentos utilizados pode ser influenciado por fatores culturais, traços demográficos, estado de saúde e/ou condição dos serviços.1212. Loyola Filho AI, Uchoa E, Lima-Costa MF. Estudo epidemiológico de base populacional sobre uso de medicamentos entre idosos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad Saude Publica. 2006 dez;22(12):2657-67.

A polifarmácia é um fenômeno expressivo, independentemente do local. Não obstante essa constatação, diferentes prevalências de polifarmácia são identificadas em pesquisas internacionais, sobretudo entre os idosos,2525. Silva AL, Ribeiro AQ, Klein CH, Acurcio FA. Utilização de medicamentos por idosos brasileiros, de acordo com a faixa etária: um inquérito postal. Cad Saude Publica. 2012 jun;28(6):1033-45. corroborando dados de estudos nacionais.

Neste estudo, a prevalência de polifarmácia foi maior em idosas, em consonância com outras pesquisas,1111. Galato D, Silva ES, Tiburcio LS. Estudo de utilização de medicamentos em idosos residentes em uma cidade do sul de Santa Catarina (Brasil): um olhar sobre a polimedicação. Cienc Saude Coletiva. 2010 set;15(6):2899-905.,1212. Loyola Filho AI, Uchoa E, Lima-Costa MF. Estudo epidemiológico de base populacional sobre uso de medicamentos entre idosos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad Saude Publica. 2006 dez;22(12):2657-67.,1515. Carvalho MFC, Romano-Lieber NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Riberio E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do município de São Paulo: estudo SABE. Rev Bras Epidemiol. 2012 dez;15(4):817-27. o que faz com que o sexo feminino seja considerado um preditor do uso de medicamentos.2626. Rozenfeld S. Prevalência, fatores associados e mau uso de medicamentos entre idosos: uma revisão. Cad Saude Publica. 2003 jun;19(3):717-24. No estudo transversal de Tubarão-SC, realizado por Galato et al.1111. Galato D, Silva ES, Tiburcio LS. Estudo de utilização de medicamentos em idosos residentes em uma cidade do sul de Santa Catarina (Brasil): um olhar sobre a polimedicação. Cienc Saude Coletiva. 2010 set;15(6):2899-905. em 2007, foi avaliada uma amostra de 104 idosos, entre os quais foi encontrada associação de polifarmácia com o sexo feminino. A maior utilização de medicamentos pelas mulheres idosas pode estar relacionada a fatores como maior sobrevida, maior procura pelos serviços de saúde e maior familiaridade com os medicamentos pela parcela feminina da população.22. Linjakumpu T, Hartikainen S, Klaukka T, Veijola J, Kivela SL, Isoaho R. Use of medications and polypharmacy are increasing among the elderly. J Clin Epidemiol. 2002 Aug;55(8):809-17.,1212. Loyola Filho AI, Uchoa E, Lima-Costa MF. Estudo epidemiológico de base populacional sobre uso de medicamentos entre idosos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad Saude Publica. 2006 dez;22(12):2657-67. Segundo estudos internacionais realizados com idosos na Suécia, no período de 1971 a 2000,2727. Lernfelt B, Samuelsson O, Skoog I, Landahl S. Changes in drug treatment in the elderly between 1971 and 2000. Eur J Clin Pharmacol. 2003 Nov;59(8-9):637-44. e na Inglaterra e no País de Gales, entre 1991 e 1994,2828. Chen YF, Dewey ME, Avery AJ; The Medical Research Council Cognitive Function Ageing Study. Self-reported medication use for older people in England and Wales. J Clin Pharm Ther. 2001 Apr;26(2):129-40. o sexo feminino apresentou maior uso de medicamentos.

Os resultados também apontam que a polifarmácia é maior em idosos com quatro ou mais doenças presentes. As morbidades crônicas são altamente prevalentes em idosos e, geralmente, faz-se necessário utilizar vários medicamentos para seu controle.2323. Dal Pizzol TS, Pons ES, Hugo FN, Bozzetti MC, Sousa MLR, Hilgert JB. Uso de medicamentos entre idosos residentes em áreas urbanas e rurais de município no Sul do Brasil: um estudo de base populacional. Cad Saude Publica. 2012 jan; 28(1):104-14. Além disso, com frequência, o idoso apresenta polimorbidade, justificando a necessidade da polifarmácia.1515. Carvalho MFC, Romano-Lieber NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Riberio E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do município de São Paulo: estudo SABE. Rev Bras Epidemiol. 2012 dez;15(4):817-27. Quanto maior o número de problemas, aumenta a possibilidade de maior número de prescrições.

Deve-se considerar que se a maioria dos idosos estudados (n=146) apresentava mais de quatro doenças e que 145 utilizavam medicamentos prescritos, um indicativo de que a polifarmácia, maior entre os que apresentavam mais de quatro doenças, tem no fator da prescrição um significativo peso de contribuição. Se a polifarmácia tem uma contribuição positiva e necessária no uso de medicamentos pelos idosos de Aiquara-BA, cabe reafirmar que seu uso deve ser racional, como mostra este estudo.

Identificou-se que o maior número de internações estava associado à polifarmácia, confirmando a conclusão do estudo realizado em São Paulo-SP,1515. Carvalho MFC, Romano-Lieber NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Riberio E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do município de São Paulo: estudo SABE. Rev Bras Epidemiol. 2012 dez;15(4):817-27. onde, igualmente, evidenciou-se a associação da polifarmácia com outras variáveis como o número de internações, condições de saúde e necessidade de uso dos serviços de saúde. São resultados indicativos da necessidade de qualificação de protocolos clínicos e educação continuada do profissional prescritor.2828. Chen YF, Dewey ME, Avery AJ; The Medical Research Council Cognitive Function Ageing Study. Self-reported medication use for older people in England and Wales. J Clin Pharm Ther. 2001 Apr;26(2):129-40.

Ainda no presente trabalho, a variável de cobertura por seguro de saúde privado mostrou-se associada à polifarmácia. Este achado encontra-se em consonância com o Estudo SABE, realizado na região metropolitana de São Paulo-SP no ano 2000.2323. Dal Pizzol TS, Pons ES, Hugo FN, Bozzetti MC, Sousa MLR, Hilgert JB. Uso de medicamentos entre idosos residentes em áreas urbanas e rurais de município no Sul do Brasil: um estudo de base populacional. Cad Saude Publica. 2012 jan; 28(1):104-14. Em Belo Horizonte-MG, entre idosos aposentados, o fato de possuir plano privado de saúde estava associado à polifarmácia, sugerindo que ao facilitar o acesso a mais prescritores, aumentaria o consumo de medicamentos.2929. Ribeiro AQ, Rozenfeld S, Klein CH, César CC, Acurcio FA. Inquérito sobre uso de medicamentos por idosos aposentados, Belo Horizonte, MG. Rev Saude Publica. 2008 ago;42(4):724-32.

Ter plano de saúde foi associado a maior consumo de medicamentos, assim como o maior número de doenças. É mister observar, diante do quadro de maior número de doenças crônicas entre idosos, a prática direcionada à prescrição médica, e refletir sobre a polifarmácia nessa faixa etária. Ainda que se apresente a necessidade de prescrição para condições crônicas, duplicações de prescrições por médicos diferentes, prioridade de adoção de produtos padronizados e iatrogenias diversas devem ser consideradas, em nome da racionalidade e adequado uso de medicamentos.

No município de Aiquara-BA, a Estratégia Saúde da Família tem cobertura de 100% e distribuição gratuita de medicamentos. Em paralelo com o serviço privado, a ESF local constitui-se de uma única equipe, também dedicada ao cuidado com a saúde dos idosos do município, podendo favorecer a racionalidade nas prescrições e, portanto, menor possibilidade da prática da polifarmácia.

Os medicamentos com ação sobre o aparelho cardiovascular foram os mais utilizados pelos idosos de Aiquara-BA, corroborando achados de outros pesquisadores, segundo os quais as condições crônicas não transmissíveis mais prevalentes nos idosos conduzem à necessidade do uso de medicamentos cardiovasculares.1414. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016 [citado 2014 jul 01]. Disponível em: Disponível em: http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/
http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/pr...
,1515. Carvalho MFC, Romano-Lieber NS, Bergsten-Mendes G, Secoli SR, Riberio E, Lebrão ML, et al. Polifarmácia entre idosos do município de São Paulo: estudo SABE. Rev Bras Epidemiol. 2012 dez;15(4):817-27.,1717. Lebrão ML, Duarte YAO. SABE - saúde, bem-estar e envelhecimento: o Projeto SABE no município de São Paulo: uma abordagem inicial. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2003.,2929. Ribeiro AQ, Rozenfeld S, Klein CH, César CC, Acurcio FA. Inquérito sobre uso de medicamentos por idosos aposentados, Belo Horizonte, MG. Rev Saude Publica. 2008 ago;42(4):724-32.

Este estudo apresenta, como possível limitação, a presença de dados obtidos por autorrelato. Contudo, em inquérito domiciliar, o autorrelato ainda é a ferramenta mais utilizada ou considerada como medida robusta3030. Silva GOB, Gondim APS, Monteiro MP, Frota MA, Meneses ALL. Uso de medicamentos contínuos e fatores associados em idosos de Quixadá, Ceará. Rev Bras Epidemiol. 2012 jun;15(2):386-95. para essa forma de investigação e fácil obtenção de informações sobre as condições de saúde. Outro viés inerente aos estudos transversais é a impossibilidade de se estabelecer temporalidade nas associações encontradas. Por exemplo, a polifarmácia pode ser causa ou efeito de quatro ou mais doenças presentes, internação no último ano e atendimento por plano de saúde privado. Recomenda-se estudos longitudinais para observar essas relações.

Diante de um município com 100% de cobertura da população pela Estratégia Saúde da Família, e a consequente dispensação gratuita dos medicamentos pactuados na atenção à saúde, é imprescindível, para o direcionamento de políticas públicas e a qualidade dos serviços oferecidos pela ESF, a implementação de ações específicas dirigidas a esse segmento populacional com enfoque na disponibilização da informação sobre a utilização racional de medicamentos.

Com a alta prevalência da polifarmácia, muitas vezes uma prática necessária, deve-se manter um processo de educação em saúde constante no município, com estímulo à adoção de medidas preventivas - incluindo a possibilidade de medidas não farmacológicas -, no cuidado com a saúde do idoso.

Os dados apresentados aqui estão em concordância com pesquisas realizadas em municípios de médio a grande porte. Ressalta-se que as ações de intervenção podem ser melhor viabilizadas em municípios de pequeno porte, com alta cobertura pela Saúde da Família e onde há maior facilidade de acesso aos serviços de saúde.

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    * Artigo elaborado a partir da dissertação de Mestrado da autora Alessandra Santos Sales, intitulada ‘Estudo de base populacional sobre o uso de medicamentos em idosos residentes em comunidade’, apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Campus de Jequié-BA, em 2014.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2017

Histórico

  • Recebido
    31 Jan 2016
  • Aceito
    27 Jun 2016
Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente - Ministério da Saúde do Brasil Brasília - Distrito Federal - Brazil
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