Marcadores de consumo alimentar em mulheres da zona rural de Rio Grande, Rio Grande do Sul, 2017**Artigo derivado da dissertação de mestrado intitulada ‘Marcadores de consumo alimentar nas mulheres da zona rural no extremo Sul do Brasil, 2017’, defendida por Fernanda de Castro Silveira junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade Federal do Rio Grande, em 2018.

Marcadores de consumo de alimentos en mujeres del área rural de Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil, 2017

Fernanda de Castro Silveira Lulie Rosane Odeh Susin Rodrigo Dalke Meucci Sobre os autores

Resumo

Objetivo:

analisar marcadores de consumo alimentar saudável e não saudável e fatores socioeconômicos, demográficos e comportamentais associados, em mulheres da área rural de Rio Grande, RS, Brasil.

Métodos:

estudo transversal de base populacional, realizado em 2017; desfechos foram coletados mediante instrumento de marcadores do consumo alimentar do Ministério da Saúde; utilizou-se a regressão de Poisson.

Resultados:

foram investigadas 963 mulheres (15-49 anos de idade); as frequências de consumo no dia anterior foram, para feijão, 71,2%; bebidas adoçadas, 66,1%; frutas frescas, 52,9%; verduras/legumes, 55,1%; biscoitos recheados/doces/guloseimas, 35,5%; hambúrguer/embutidos, 22,5%; e macarrão instantâneo/salgadinhos de pacote/biscoitos salgados, 19,9%; o consumo de frutas e verduras/legumes foi maior nas classes econômicas A/B; mulheres de 15-19 anos exibiram maior prevalência do consumo de alimentos não saudáveis; mulheres que realizavam 5/6 refeições por dia consumiam mais frutas, verduras/legumes e biscoitos recheados/doces/guloseimas.

Conclusão:

foram observadas prevalências adequadas dos marcadores de consumo alimentar saudáveis, e moderadas dos não saudáveis.

Palavras-chave:
Consumo de Alimentos; Mulheres; População Rural; Estudos Transversais

Resumen

Objetivo:

analizar marcadores de consumo de alimentos saludables y no saludables y factores socioeconómicos, demográficos y de comportamiento asociados, en mujeres de zonas rurales de Rio Grande, RS, Brasil.

Métodos:

estudio transversal de base poblacional en 2017; se recolectaron resultados utilizando instrumento de marcadores de consumo de alimentos del Ministerio de Salud; se utilizo la regresión de Poisson.

Resultados:

se investigaron 963 mujeres (15-49 años de edad); las frecuencias de consumo del día anterior fueron, para porotos, 71,2%, bebidas endulzadas 66,1%, frutas 52,9%, verduras/legumbres 55,1%, galletas rellenas/dulces/golosinas 35,5%, hamburguesas 22,5% y fideos instantáneos/galletas/saladitos industrializados 19,9%; el consumo de frutas y verduras/legumbres fue mayor en las clases económicas A/B; las mujeres de 15 a 19 años mostraron una mayor prevalencia de consumo de alimentos poco saludables; las mujeres que comieron 5/6 comidas al día consumieron más frutas, verduras/legumbres y galletas rellenas/dulces/golosinas.

Conclusión:

se observaron prevalencias adecuadas de marcadores de consumo de alimentos saludables, y moderadas para alimentos no saludables.

Palabras clave:
Consumo de Alimentos; Mujeres; Población Rural; Estudios Transversales

Introdução

As práticas alimentares são compreendidas desde o aleitamento à alimentação cotidiana da família, originadas nos conhecimentos adquiridos e transmitidos através das gerações, nas vivências e experiências de vida de cada indivíduo, construídas a partir das condições socioeconômicas, culturais, sociais e psicológicas, das interações com o meio, além do saber científico de cada momento histórico.11. Rotenberg S, Vargas S. Práticas alimentares e o cuidado da saúde: da alimentação da criança à alimentação da família. Rev Bras Saúde Matern Infant [Internet]. 2004 jan-mar [citado 2019 7 out];4(1):85-94. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbsmi/v4n1/19984.pdf . doi: 10.1590/S1519-38292004000100008
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Evidências demonstram que no Brasil, em apenas 30 anos, muitas modificações sociais e culturais resultaram em mudanças no padrão de saúde e consumo alimentar da população.22. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de alimentação e nutrição [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2013 [citado 2019 out 7]. 84 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_alimentacao_nutricao.pdf
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O aumento na prevalência do excesso de peso, observado em todos os níveis socioeconômicos, é frequentemente atribuído a problemas relacionados a alimentação, nutrição inadequada e mudanças nos padrões de atividade física.22. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de alimentação e nutrição [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2013 [citado 2019 out 7]. 84 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_alimentacao_nutricao.pdf
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Dados colhidos da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 201333. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa nacional de saúde, 2013: acesso e utilização dos serviços de saúde, acidentes e violências. Brasil, grandes regiões e unidades da federação [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2015 [citado 2019 out 7]. 100 p. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94074.pdf
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e do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 201644. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigitel Brasil 2016: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2017 [citado 2019 out 7]. 160 p. Disponível em: Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/marco/02/vigitel-brasil-2016.pdf
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apontaram consumo insuficiente de alimentos saudáveis, e acima do recomendado para alimentos não saudáveis. A PNS33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa nacional de saúde, 2013: acesso e utilização dos serviços de saúde, acidentes e violências. Brasil, grandes regiões e unidades da federação [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2015 [citado 2019 out 7]. 100 p. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94074.pdf
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revelou que o consumo de verduras/legumes e frutas/sucos de frutas foi de 31,9% (IC95% 29,5;34,3), e o de doces 19,6% (IC95%17,4;21,8), destacando-se um consumo menor desses alimentos pela população rural, comparada à população urbana.

O Ministério da Saúde já produziu duas edições do Guia alimentar para a população brasileira, com o objetivo de orientar a população em relação ao consumo, priorizando a alimentação adequada e saudável.55. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2008 [citado 2019 out 7]. 210 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2008.pdf
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,66. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2014 [citado 2019 out 7]. 2. ed. 158 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
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Sua última edição, publicada em 2014, traz recomendações sobre a importância de consumir, preferencialmente, alimentos in natura ou minimamente processados, evitar alimentos processados e ultraprocessados e reduzir a utilização de óleos, gorduras, sal e açúcar.66. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2014 [citado 2019 out 7]. 2. ed. 158 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
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Devido à industrialização e intenso processo de urbanização, os alimentos passaram a apresentar, em sua composição, maiores quantidades energéticas, de conservantes, gorduras e açúcares, com poucas fibras e nutrientes.22. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de alimentação e nutrição [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2013 [citado 2019 out 7]. 84 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_alimentacao_nutricao.pdf
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A partir da década de 1990, houve um aumento progressivo na participação de alimentos consumidos fora de casa, substituindo-se a comida caseira tradicional por refeições rápidas, altamente processadas e prontas para o consumo.77. Jaime PC, Delmue DCC, Campello T, Silva DO, Santos LMP. Um olhar sobre a agenda de alimentação e nutrição nos trinta anos do Sistema Único de Saúde. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2018 jun [citado 2019 out 7];23(6):1829-36. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v23n6/1413-8123-csc-23-06-1829.pdf . doi: 10.1590/1413-81232018236.05392018
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Embora os benefícios da alimentação saudável estejam bastante ressaltados na literatura,44. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigitel Brasil 2016: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2017 [citado 2019 out 7]. 160 p. Disponível em: Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/marco/02/vigitel-brasil-2016.pdf
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,88. Schneider BC, Duro SMS, Assunção MCF. Consumo de carnes por adultos do sul do Brasil: um estudo de base populacional. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2014 ago [citado 2019 out 7];19(8):3583-92. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n8/1413-8123-csc-19-08-03583.pdf . doi: 10.1590/1413-81232014198.11702013
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poucos estudos avaliaram a qualidade do consumo alimentar das mulheres residentes na zona rural. O Ministério da Saúde considera desfavoráveis as condições de saúde no meio rural, e visa diminuir as iniquidades em saúde de sua população mediante a redução dos fatores de risco associados com sua morbidade e mortalidade.99. World Health Organization. The world health report 2002: reducing risks, promoting healthy life [Internet]. Geneva: WHO; 2002 [cited 2019 Oct 7]. Available from: Available from: https://www.who.int/whr/2002/en/
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Entre as implicações no aumento do consumo de alimentos produzidos pela indústria alimentícia, com diferentes graus de processamento, cabe sublinhar o consumo alimentar na área rural.22. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de alimentação e nutrição [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2013 [citado 2019 out 7]. 84 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_alimentacao_nutricao.pdf
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É primordial investigar se esses comportamentos alimentares podem ser observados também entre os moradores da zona rural, com maior disponibilidade dos alimentos in natura e menor acesso a alguns tipos de alimentos, como os processados e ultraprocessados.22. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de alimentação e nutrição [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2013 [citado 2019 out 7]. 84 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_alimentacao_nutricao.pdf
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Considerando-se, ainda, o aumento da obesidade na fase reprodutiva, dos 15 aos 49 anos de idade, quando hábitos de consumo podem representar riscos ou agravantes para doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs),88. Schneider BC, Duro SMS, Assunção MCF. Consumo de carnes por adultos do sul do Brasil: um estudo de base populacional. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2014 ago [citado 2019 out 7];19(8):3583-92. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n8/1413-8123-csc-19-08-03583.pdf . doi: 10.1590/1413-81232014198.11702013
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e o fato potencial de as mulheres serem agentes de mudança nesses comportamentos, dado seu importante papel nas escolhas alimentares das famílias, justifica-se plenamente o estudo do consumo alimentar pelo segmento populacional feminino.1010. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM nº 3.071 de 27 de dezembro de 2012. Redefine a composição e as atribuições do Grupo da Terra no âmbito do Ministério da Saúde [Internet]. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 2012 dez [citado 2019 out 7]; Seção 1:96. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt3071_27_12_2012.html
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Conhecer a realidade local e refletir sobre as informações geradas também é importante enquanto subsídio à elaboração de estratégias capazes de contribuir para a qualidade da alimentação da comunidade, assim como para a Política Nacional de Alimentação e Nutrição.1111. Ministério da Saúde (BR). Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Diagnóstico de saúde e nutrição da população do campo: levantamento de dados e proposta de ação [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2004 [citado 2019 out 7]. Disponível em: Disponível em: http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/diagnosticoSaude.pdf
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O presente estudo teve por objetivo analisar os marcadores de consumo alimentar saudável e não saudável e seus fatores socioeconômicos, demográficos e comportamentais associados, em mulheres da área rural de Rio Grande, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

Métodos

Trata-se de um estudo transversal, de base populacional, parte de uma pesquisa maior denominada ‘Saúde da população rural riograndina’. A pesquisa ocorreu no ano de 2017, com o objetivo de se conhecerem os indicadores básicos de saúde, o padrão de morbidade, de utilização e acesso a serviços de saúde. O inquérito maior foi desenvolvido em grupos populacionais diferentes, incluindo as mulheres em idade fértil, residentes na zona rural de Rio Grande, RS, Brasil.

O município do Rio Grande está localizado na região Sul do Brasil, aproximadamente 350km ao sul da capital Porto Alegre, e possui uma área territorial de 2.709km². De acordo com o último censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),1212. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo brasileiro 2010 [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2011 [citado 2019 out 7]. Disponível em: Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br
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a população do país era de 197.228 habitantes em 2010, sendo 4% residentes da zona rural, e seu índice de desenvolvimento humano (IDH) era de 0,744. A zona rural do município é constituída por 24 setores censitários com cerca de 8.500 hab., distribuídos em aproximadamente 2.700 domicílios permanentemente habitados, com 1.820 mulheres em idade reprodutiva.1212. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo brasileiro 2010 [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2011 [citado 2019 out 7]. Disponível em: Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br
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A população do estudo constituiu-se de mulheres com idade entre 15 e 49 anos que residiam na zona rural do município de Rio Grande. Excluíram-se as gestantes, as mulheres que estavam amamentando e com deficit cognitivo. O processo de amostragem foi sistemático, de modo a selecionar 80% dos domicílios permanentemente habitados da zona rural. Em todos os setores censitários, foram visitados 4 de 5 domicílios, de acordo com a listagem de domicílios do Censo 2010 do IBGE.1212. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo brasileiro 2010 [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2011 [citado 2019 out 7]. Disponível em: Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br
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Para o cálculo da amostra, utilizou-se uma frequência de 30% do consumo alimentar não saudável baseado no Vigitel 2016,44. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigitel Brasil 2016: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2017 [citado 2019 out 7]. 160 p. Disponível em: Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/marco/02/vigitel-brasil-2016.pdf
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margem de erro de 3 pontos percentuais e nível de confiança de 95%; acrescentou-se 10% para perdas e recusas, totalizando 644 mulheres, e com o propósito de conferir maior poder estatístico às análises entre desfechos e exposições estudadas, mais 15%, o que resultou em uma amostra mínima de 741. Optou-se por abordar a totalidade de mulheres encontradas nos domicílios selecionados, resultando em 963 pessoas elegíveis. A partir do cálculo de amostra a posteriori, considerando-se todas as mulheres avaliadas, prevalência de 50%, e mantido o nível de confiança de 95%, a margem de erro reduziu-se a 1 ponto percentual. Para as medidas de associação, a amostra tinha poder de 80% (β = 20%) e nível de confiança de 95% (α = 5%) em detectar razões de prevalência (RP) iguais ou superiores a 1,2 como significativas. As estimativas foram calculadas com a utilização do programa OpenEpi.

A coleta de dados aconteceu no período de abril a outubro de 2017, nos domicílios das entrevistadas. Os questionários foram aplicados por entrevistadoras previamente treinadas, com duração média de 30 minutos. Os dados foram coletados em versão eletrônica, gravados em tablets, utilizando-se o programa RedCap®,1313. Harris PA, Taylor R, Thielke R, Payne J, Gonzalez N, Conde JG. Research eletronic data capture - REDCap. A metadata-driven methodology and workflow process for providing translational research informatics support. J Biomed Inform [Internet]. 2009 Apr [cited 2019 Oct 7];42(2):377-81. Available from: Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1532046408001226?via%3Dihub . doi: 10.1016/j.jbi.2008.08.010
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uma plataforma web destinada à construção, gestão de pesquisas e bancos de dados.

Concomitantemente à coleta de dados, foi realizado o controle de qualidade em 10% da amostra, em uma nova entrevista por telefone, utilizando-se uma versão reduzida do inquérito para se verificar a consistência na aplicação do instrumento. Foram aplicados 113 questionários (10,5%); a estatística Kappa variou entre 0,51 e 0,97, e apresentou uma consistência igualmente variável, de moderada para a questão sobre realizar as refeições em frente à televisão, no computador ou celular, a excelente para as questões sobre idade, situação conjugal, tabagismo, história de gravidez e de depressão.

Sete variáveis de consumo alimentar saudável e não saudável foram os desfechos do estudo, coletadas pelo questionário do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) do Ministério da Saúde, utilizado no Sistema Único de Saúde (SUS) para monitoramento da população brasileira na rotina da Atenção Básica.1414. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações para avaliação de marcadores de consumo alimentar na atenção básica [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2015 [citado 2019 out 7]. 33 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/marcadores_consumo_alimentar_atencao_basica.pdf
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Foi pesquisada a ingestão de alimentos no dia anterior, a saber:

  1. a) Marcadores saudáveis

  2. feijão;

  3. frutas frescas (não se considerou suco de frutas); e

  4. verduras e/ou legumes (não se consideraram batata, mandioca, aipim, macaxeira, cará e inhame).

  5. b) Marcadores não saudáveis

  6. hambúrguer e/ou embutidos (presunto, mortadela, salame, linguiça, salsicha);

  7. bebidas adoçadas (refrigerante, suco de caixinha, suco em pó, água de coco de caixinha, xaropes de guaraná/groselha, suco de fruta com adição de açúcar);

  8. macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados; e

  9. biscoito recheado, doces ou guloseimas (balas, pirulitos, chiclete, caramelo, gelatina).

As opções de resposta foram ‘sim’, ‘não’ e ‘não sabe’. A prevalência de ingestão de alimentos para cada marcador saudável ou não saudável foi calculada mediante a operação aritmética de divisão do número de respostas ‘sim’ pelo número de respondentes.

As variáveis independentes demográficas foram categorizadas em: raça/cor da pele autorrelatada (branca; preta; parda, amarela ou outra), faixa etária (em anos: 15-19, 20-34, 35-49) e estado civil (solteira; casada; separada, divorciada ou viúva). Em relação às variáveis socioeconômicas, foi utilizada a classificação econômica da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas (ABEP)1515. Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa - ABEP. Critério de classificação econômica Brasil 2015 [Internet]. São Paulo: ABEP; 2019 [citado 2019 out 7]. Disponível em: Disponível em: http://www.abep.org
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de 2015 (concebida em estratos socioeconômicos relacionados ao consumo: A/B, C, D/E) e a condição de trabalho remunerado na data da entrevista (sim; não).

As variáveis comportamentais estudadas foram: ingestão de álcool na última semana (sim; não); tabagismo nos últimos 30 dias (não fumante, ex-fumante, fumante); atividade física no lazer, sendo considerado caminhada no mínimo 30 minutos por dia (sim; não); número de refeições por dia (1 a 2, 3 a 4, 5 a 6); comer vendo televisão, manuseando o computador ou celular (sim, não); e número de filhos que moram junto (não moram junto; 1 a 2; 3 ou mais; não tem filhos) e a realização de pelo menos uma consulta médica no último ano (sim; não).

Para a análise estatística descritiva das variáveis quantitativas categóricas, utilizaram-se as frequências absolutas (n) e relativas (%). Além disso, foram apresentadas as prevalências dos marcadores alimentares de acordo com as categorias das variáveis independentes. As análises multivariáveis brutas e ajustadas foram realizadas por meio da regressão de Poisson, com ajuste robusto da variância; as razões de prevalência (RP), o intervalo de confiança de 95% (IC95%) e o valores de significância foram estimados pelo teste de Wald de heterogeneidade e de tendência linear. Construiu-se um modelo para cada indicador alimentar, havendo três marcadores saudáveis - feijão; frutas frescas; e verduras e/ou legumes - quatro marcadores não saudáveis - e biscoitos recheados, doces ou guloseimas; macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados; bebidas adoçadas; e hambúrguer e/ou embutidos. Realizou-se a análise full adjust com todas as variáveis de exposição, organizadas no mesmo nível hierárquico, independentemente do valor de p na análise bruta; foram considerados fatores associados ao desfecho aqueles com p<0,05. As análises serviram-se do programa estatístico Stata versão 14.2®.

O projeto da pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde (CEPAS) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG): Processo nº 51/2017. As adolescentes de 15 a 17 anos assinaram o termo de assentimento e todos os responsáveis pelas menores de 18 anos e as mulheres com idade entre 18 e 49 anos de idade assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

Nos 2.669 domicílios com moradores permanentes na área rural do município de Rio Grande, identificaram-se 1.391 mulheres em idade fértil, entre os 15 e os 49 anos, 1.083 delas (77,8%) elegíveis para o estudo; 103 mulheres (8,6%) não foram encontradas após a terceira tentativa (perdas) e 17 (1,4%) não quiseram participar da pesquisa (recusas), resultando em 963 observações válidas, cujas características estão descritas na Tabela 1. A maioria dessas mulheres era de raça/cor da pele branca (86,0%), casada (76,6%), não ingeriu bebida alcoólica na última semana (89,6%), não era fumante (71,2%) e não realizava atividade física no lazer (72,4%).

Tabela 1
- Características de mulheres em idade fértil (15 a 49 anos) (n=963) da zona rural de Rio Grande, Rio Grande do Sul, 2017

Em relação aos marcadores alimentares saudáveis no dia anterior, a prevalência do consumo de feijão foi de 71,2% (IC95% 68,3;74,1) (Figura 1). Observou-se uma tendência linear na classificação econômica, na qual a prevalência desse marcador alimentar, o feijão, reduziu-se na medida em que se elevou o estrato socioeconômico (Tabela 2). A prevalência do consumo de frutas frescas foi de 52,9% (IC95% 49,7;56,0) (Figura 1). Na análise ajustada, observou-se uma associação positiva do consumo de frutas frescas com a classe econômica (RP=1,47 - IC95% 1,19;1,81) e número de refeições por dia (RP=1,46 - IC95% 1,08;1,98) (Tabela 2). O consumo de verduras e/ou legumes no dia anterior à entrevista foi de 55,1% (IC95% 51,9;58,2) (Figura 1). Na análise ajustada, o maior consumo de verduras e/ou legumes foi associado ao maior estrato socioeconômico (RP=1,39 - IC95% 1,13;1,70), faixa etária de 35 a 49 anos (RP=1,07 - IC95% 0,84;1,38) e realizar 5 a 6 refeições por dia (RP=1,15 - IC95% 0,90;1,48) (Tabela 1).

Figura 1
- Prevalência (%) de alimentos marcadores do consumo alimentar saudável e não saudável no dia anterior, de mulheres em idade fértil (15 a 49 anos) da zona rural de Rio Grande, Rio Grande do Sul, 2017

Tabela 2
- Análise bruta e ajustada dos marcadores alimentares saudáveis, de acordo com as variáeis de exposição, de mulheres em idade fértil (15 a 49 anos) da zonal rural de Rio Grande, Rio Grande do Sul, 2017

Em relação aos marcadores não saudáveis, a prevalência do consumo de hambúrguer e/ou embutidos foi de 22,5% (IC95% 19,9;25,2) (Figura 1).

O consumo de bebidas adoçadas apresentou prevalência de 66,1% (IC95% 63,1;69,1) (Figura 1). Na análise ajustada, esse consumo foi menor na faixa etária de 35 a 49 anos (RP=0,80 - IC95% 0,66;0,96), e maior entre ex-fumantes (RP=1,18 - IC95% 1,05;1,33) e mulheres que comiam assistindo à televisão, manuseando o computador ou o celular (RP=1,12 - IC95% 1,02;1,23) (Tabela 2).

A prevalência do consumo de macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados foi de 19,9% (IC95% 17,4;22,4) (Figura 1). O consumo desses alimentos foi superior entre mulheres que realizavam atividade física no lazer (RP=1,62 - IC95% 1,25;2,10), na análise ajustada (Tabela 4). A prevalência do consumo de biscoito recheado, doces ou guloseimas foi de 35,5% (IC95% 32,4;38,5) (Figura 1). Na análise ajustada, o consumo desses alimentos apresentou-se maior para as mulheres que realizavam 5 a 6 refeições por dia (RP=1,19 - IC95% 0,86;1,65) e que comiam assistindo à televisão, manuseando o computador ou o celular (RP=1,28 - IC95% 1,07;1,53) (Tabela 3).

Tabela 3
- Análise bruta e ajustada dos marcadores alimentares não saudáveis, de acordo com as variáveis de exposição, de mulheres em idade fértil (15 a 49 anos) da zona rural de Rio Grande, Rio Grande do Sul, 2017
Tabela 4
- Análise bruta e ajustada dos marcadores alimentares não saudáveis, de acordo com as variáveis de exposição, de mulheres em idade fértil (15 a 49 anos) da zona rural de Rio Grande, Rio Grande do Sul, 2017

Outra análise, não apresentada em tabela, permitiu identificar que, segundo os dias de aplicação dos questionários, observaram-se diferenças entre as respostas dos grupos, no que se refere aos marcador alimentar saudável ‘feijão’ e ao marcador alimentar não saudável ‘bebidas adoçadas’, quando o instrumento foi aplicado após domingos e feriados. O feijão foi 19% menos consumido (RP=0,81 - IC95% 0,72;0,91) e as bebidas adoçadas 18% mais consumidas (RP=1,18 - IC95% 1,07;1,30) em dias atípicos (domingos e feriados) do que nos demais.

Discussão

Os resultados apresentados permitiram identificar marcadores de consumo alimentar saudável e não saudável entre mulheres em idade reprodutiva, residentes na área rural de um município do Sul do Brasil. O consumo alimentar no dia anterior apresentou prevalências adequadas dos marcadores alimentares saudáveis, e moderadas para os não saudáveis. O marcador que apresentou maior prevalência foi ‘feijão’, e o que apresentou menor prevalência foi ‘macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados’. Também se encontrou que os fatores de risco para os marcadores não saudáveis diferem segundo os alimentos, destacando-se seu maior consumo entre as adolescentes.

No nível populacional, a avaliação dos marcadores possibilita o reconhecimento de alimentos relacionados à nutrição saudável ou não saudável, além de permitir o monitoramento e a vigilância alimentar e nutricional.1414. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações para avaliação de marcadores de consumo alimentar na atenção básica [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2015 [citado 2019 out 7]. 33 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/marcadores_consumo_alimentar_atencao_basica.pdf
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Os Guias alimentares para a população brasileirarecomendam a ingestão de pelo menos uma porção diária de feijão ou outra leguminosa (ervilha seca, grão-de-bico, lentilha, soja) e a adoção de alimentos in natura ou minimamente processados como base da alimentação.55. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2008 [citado 2019 out 7]. 210 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2008.pdf
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,66. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2014 [citado 2019 out 7]. 2. ed. 158 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
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A prevalência do consumo de feijão neste estudo foi de 71,2%, inferior àquela observada em estudos realizados com população rural.33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa nacional de saúde, 2013: acesso e utilização dos serviços de saúde, acidentes e violências. Brasil, grandes regiões e unidades da federação [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2015 [citado 2019 out 7]. 100 p. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94074.pdf
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,1616. Carvalho EO, Rocha EF. Consumo alimentar de população adulta residente em área rural da cidade de Itatiba (ES, Brasil). Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2011 jan [citado 2019 out 7];16(1):179-85. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v16n1/v16n1a21.pdf . doi: 10.1590/S1413-81232011000100021
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Na área rural da cidade de Ibatiba, ES, a prevalência foi de 94%,1616. Carvalho EO, Rocha EF. Consumo alimentar de população adulta residente em área rural da cidade de Itatiba (ES, Brasil). Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2011 jan [citado 2019 out 7];16(1):179-85. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v16n1/v16n1a21.pdf . doi: 10.1590/S1413-81232011000100021
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enquanto na população rural do Brasil como um todo, segundo a PNS,33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa nacional de saúde, 2013: acesso e utilização dos serviços de saúde, acidentes e violências. Brasil, grandes regiões e unidades da federação [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2015 [citado 2019 out 7]. 100 p. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94074.pdf
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ela foi de 74,8% - significativamente maior do que a encontrada pelo inquérito Vigitel44. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigitel Brasil 2016: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2017 [citado 2019 out 7]. 160 p. Disponível em: Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/marco/02/vigitel-brasil-2016.pdf
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em Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, em mulheres: 43,0%. Observa-se que alimentos básicos e tradicionais na dieta do brasileiro, como o feijão, têm perdido importância, enquanto cresce a participação de alimentos processados e prontos para consumo, e refeições prontas, também nos estratos de menor renda.1717. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil/IBGE [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2011 [citado 2019 out 7]. 150 p. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv50063.pdf
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Com relação às frutas frescas, foi identificada neste estudo prevalência de consumo de 52,9%, maior que a encontrada nos estudos da PNS,33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa nacional de saúde, 2013: acesso e utilização dos serviços de saúde, acidentes e violências. Brasil, grandes regiões e unidades da federação [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2015 [citado 2019 out 7]. 100 p. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94074.pdf
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de 31,9% entre mulheres da área rural, no estudo da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009,18 que avaliou os alimentos mais frequentemente referidos pela população urbana e rural brasileira (16%), e no estudo realizado no Rio de Janeiro, com famílias agricultoras1919. Lourenço, AEP. Plantando, colhendo, vendendo, mas não comendo: práticas alimentares e de trabalho associadas à obesidade em agricultores familiares do Bonfim, Petrópolis, RJ. Rev Bras Saúde Ocup [Internet]. 2012 jan-jun [citado 2019 out 7];37(125):127-42. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbso/v37n125/a15v37n125.pdf . doi: 10.1590/S0303-76572012000100015
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(49,4%) que relataram consumir pelo menos uma refeição diária. O resultado deste estudo também foi maior que o valor proporcional levantado pelo Vigitel,44. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigitel Brasil 2016: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2017 [citado 2019 out 7]. 160 p. Disponível em: Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/marco/02/vigitel-brasil-2016.pdf
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que encontrou, na população feminina urbana de Porto Alegre, uma prevalência de 47,7%.

No entanto, foram utilizadas diferentes maneiras de avaliação do consumo de frutas entre esses estudos. A PNS33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa nacional de saúde, 2013: acesso e utilização dos serviços de saúde, acidentes e violências. Brasil, grandes regiões e unidades da federação [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2015 [citado 2019 out 7]. 100 p. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94074.pdf
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considerou o consumo recomendado de frutas e de hortaliças com base na frequência semanal de consumo de/ou e legumes nas refeições, e de frutas ou sucos de frutas. A POF 2008-200917 utilizou as anotações dos participantes de um registro de todos os alimentos que consumiram ao longo de 24 horas. O estudo do Rio de Janeiro19 entrevistou as famílias agricultoras e o hábito de consumirem frutas em pelo menos uma refeição diária. O Vigitel4 considerou o consumo regular de 5 dias ou mais por semana de frutas e hortaliças. O presente estudo considerou o consumo do dia anterior de frutas frescas.

Frutas são alimentos ricos em fibras, vitaminas e minerais, além de vários compostos que contribuem para a prevenção de muitas doenças, sendo recomendado seu consumo diário.55. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2008 [citado 2019 out 7]. 210 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2008.pdf
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,66. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2014 [citado 2019 out 7]. 2. ed. 158 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
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No que se refere à renda, a POF 2008-2009,1818. Souza AM, Pereira RA, Yokoo EM, Levy RB, Sichieri R. Most consumed foods in Brazil: national dietary survey 2008-2009. Rev Saúde Pública [Internet]. 2013 Feb [cited 2019 Oct 7];47(Suppl 1):190S-9S. Available from: Available from: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v47s1/05.pdf . doi: 10.1590/S0034-89102013000700005
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realizada com população rural e urbana, mostrou maior consumo de frutas na classe econômica mais alta, corroborando os achados deste estudo, que identificaram um gradiente de maior consumo desse marcador entre as mulheres com classificação econômica mais elevada. Estudo na Lituânia,2020. Kriacioniene V, Klumbiene J, Petkeviciene J, Sakyte E. Time trends in social differences in nutrition habits of a Lithuanian population: 1994-2010. BMC Public Health [Internet]. 2012 Mar [cited 2019 Oct 7];12:218. Available from: Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3323430/ . doi: 10.1186/1471-2458-12-218
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com população rural e urbana, também revelou que pessoas pertencentes a classes sociais mais altas tinham maior probabilidade de consciência dos hábitos alimentares socialmente desejáveis, o que pode ter afetado o relato dos hábitos nutricionais.

Em relação às verduras e legumes, esta pesquisa com o contingente feminino do meio rural verificou um consumo maior que o levantado pela POF 2008-2009 (16%)1717. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil/IBGE [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2011 [citado 2019 out 7]. 150 p. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv50063.pdf
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entre a população urbana e rural, embora guarde consonância com a mesma POF no que diz respeito ao maior consumo de verduras e legumes por mulheres de maior renda.

Quanto aos marcadores de consumo alimentar não saudáveis, o hábito de consumir hambúrguer e embutidos no dia anterior esteve associado à menor faixa etária consultada, dos 15 aos 19 anos. Esse achado é relevante porque o hábito de consumir alimentos não saudáveis pode estar associado ao consumo de alimentos ultraprocessados cada vez mais cedo, estimulando a alimentação inadequada. Em Pelotas, RS,88. Schneider BC, Duro SMS, Assunção MCF. Consumo de carnes por adultos do sul do Brasil: um estudo de base populacional. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2014 ago [citado 2019 out 7];19(8):3583-92. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n8/1413-8123-csc-19-08-03583.pdf . doi: 10.1590/1413-81232014198.11702013
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um estudo com moradores da zona urbana avaliou 2.732 adultos e obteve conclusões semelhantes, de relação entre alimentação não saudável com a faixa etária mais jovem (20 a 29 anos de idade) definida pelo estudo. Essas conclusões permitem supor que tal hábito tanto poderia como deveria ser desencorajado no início da adolescência.

Cabe destacar que o presente estudo constatou alto consumo de refrigerantes e sucos artificiais, o marcador alimentar não saudável identificado com maior prevalência. A alimentação das mulheres moradoras da zona rural de Rio Grande caracterizou-se pelo alto consumo de alimentos calóricos densos. Esses resultados são consistentes com outros estudos.33. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa nacional de saúde, 2013: acesso e utilização dos serviços de saúde, acidentes e violências. Brasil, grandes regiões e unidades da federação [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2015 [citado 2019 out 7]. 100 p. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94074.pdf
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,2121. Campbell RK, Talegawkar SA, Christian P, Leclercq SC, Khatry SK, Wu LSF, et al. Seasonal dietary intakes and socioeconomic status among women in the Terai of Nepal. J Health Popul Nutr [Internet]. 2014 Jun [cited 2019 Oct 7];32(2):198-216. Available from: Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4216957/
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O alto consumo de refrigerantes e sucos artificiais observado é prejudicial, por sua comprovada associação com a ocorrência de DCNTs, particularmente a obesidade e o diabetes mellitus.66. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2014 [citado 2019 out 7]. 2. ed. 158 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
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Outrossim, o consumo de bebidas adoçadas mostrou-se associado a menor faixa etária, ressaltando a necessidade de incentivar estratégias de educação nutricional que desestimulem o consumo de bebidas adoçadas e doces com elevada quantidade de calorias, comum à maioria dos alimentos ultraprocessados, responsáveis pelo aumento no risco de obesidade.66. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2014 [citado 2019 out 7]. 2. ed. 158 p. Disponível em: Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf
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O instrumento utilizado no estudo é recomendado pelo Ministério da Saúde no contexto do Sisvan, para verificar o consumo alimentar no dia anterior, e pode amenizar possíveis vieses de memória. Além disso, suas questões são objetivas e claras, de simples aplicação. Outro ponto positivo do estudo foi a avaliação dos marcadores de consumo alimentar de mulheres residentes na área rural, quando a maior parte dos estudos avalia a população urbana. Destaca-se a elevada proporção de participação (90%) e o rigor metodológico empregado em todas as etapas da pesquisa, o que contribuiu para a validade interna do estudo.

Entre as limitações da pesquisa, menciona-se o delineamento transversal, por não ser o mais apropriado para estabelecer relações de causalidade e, por conseguinte, excluir a possibilidade de examinar a relação de temporalidade entre as exposições e os desfechos. Outra limitação importante se observa na sazonalidade: o estudo foi desenvolvido entre abril e outubro, abrangendo três estações do ano (outono, inverno e primavera), com ofertas e consumo de alimentos diferentes. Uma terceira limitação do estudo encontra-se no caráter representativo do hábito alimentar, especialmente quando o dia anterior é atípico, após feriados e finais de semana, em que a rotina alimentar costuma ser rompida.

Os resultados apresentados podem ser úteis aos serviços de saúde, na proposição de ações de educação alimentar e nutricional. Uma vez consideradas e devidamente analisadaos por gestores e profissionais de saúde, suas conclusões podem servir de linha de base para intervenções com o objetivo de incentivar uma alimentação saudável entre as mulheres da zona rural, como também para se intervir sobre algumas doenças e condições de saúde mais diretamente suscetíveis aos hábitos alimentares.

Referências

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  • *
    Artigo derivado da dissertação de mestrado intitulada ‘Marcadores de consumo alimentar nas mulheres da zona rural no extremo Sul do Brasil, 2017’, defendida por Fernanda de Castro Silveira junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade Federal do Rio Grande, em 2018.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Abr 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    04 Nov 2018
  • Aceito
    12 Set 2019
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