Adolescência e saúde coletiva: entre o risco e o protagonismo juvenil

Simone Gonçalves Assis Joviana Quintas Avanci Cristiane S. Duarte Sobre os autores

Este número da “Ciência e Saúde Coletiva” nos brinda com temáticas que cercam diversos aspectos da saúde do adolescente, como as questões associadas ao desenvolvimento físico através da alimentação e dos cuidados com a saúde oral; a presença de problemas para a saúde mental como depressão, decorrentes do bullying e de outras formas de violência; e a temática da desigualdade social que permeia a vida dos adolescentes e sua qualidade de vida. O tema da masculinidade está presente, indicando tendência nos estudos mais recentes na área da saúde coletiva.

A adolescência caracteriza-se por transformações físicas, psicológicas e sociais, com progressiva emancipação da família e da escola. Sob a perspectiva da saúde mental, teorias psicológicas se referem à síndrome da adolescência normal, caracterizada por reações típicas, que podem ou não configurar problemas. É um período de fermentação e escolhas, com estilos de vida e valores em processo de formação. Estas características são mais nítidas na população urbana e são impactadas pela inserção social a que o adolescente pertence.

Em 2009, havia 1,2 bilhão de adolescentes de 10 a 19 anos de idade no mundo. No Brasil, há aproximadamente 45 milhões nesta faixa etária, com frágeis indicadores sociais, principalmente na Região Nordeste do país, onde a pobreza e os dados de frequência escolar desnudam a desigualdade social e de oportunidades.

É comum referências à população adolescente como aquela que menos adoece ou que menos procura os serviços de saúde. Contudo, hoje os adolescentes entre 15-19 anos engrossam as estatísticas brasileiras de violência, apresentando elevadas taxas de mortes por causas violentas. Além disso, o uso abusivo de drogas, a população de rua, a exploração do trabalho, a vida escolar e a profissionalização, as doenças sexualmente transmissíveis e as gestações não planejadas são temas prioritários. Aproximadamente 11% das internações no Brasil correspondem a essa faixa etária, especialmente devido à gravidez e a causas externas.

É uma fase da vida marcada por processos de definição, de inserção social e de vulnerabilidades. De um lado, há a vitimização do adolescente decorrente da contemporaneidade, do cenário social de crise, do desemprego e da violência urbana; por outro, há que se destacar a sua alegria de viver, sua criatividade e autonomia. É a partir dessa concepção positiva que as ações de prevenção e de promoção de saúde podem encontrar terreno fértil e se tornarem efetivas, estimulando o potencial criativo e resolutivo dos adolescentes, e incentivando a participação e o protagonismo juvenil para o desenvolvimento de projetos de vida e comportamentos que priorizem o autocuidado em saúde. Este enfoque facilita a abordagem de diversos problemas desta fase da vida (atividade sexual precoce, pressão do grupo, uso de drogas, prevenção de acidentes e violência urbana) e viabiliza intervenções que possibilitam ao adolescente adquirir competência e segurança na autogestão de sua vida. Esta abordagem, porém, não é tarefa fácil, já que os interesses e os comportamentos desta faixa etária são dinâmicos, exigindo constante integração de novos elementos nas ações de prevenção e de promoção de saúde.

Pelo menos três entraves se mostram presentes na abordagem dos adolescentes no cotidiano dos serviços de saúde: o precário acesso aos serviços públicos de saúde; a dificuldade dos profissionais em lidar com assuntos polêmicos como questões ligadas à sexualidade, com pouca divulgação de informações que favoreçam a adoção de práticas saudáveis de vida; a falta de reconhecimento dos profissionais de saúde de que é também sua a tarefa de formação dos jovens como cidadãos, frequentemente limitando-se ao atendimento de acordo com sua área de competência técnica.

O caminho de mudança para o protagonismo deve ser trilhado coletivamente, e o sistema de saúde deve ver como uma de suas missões, ajudar a tirar a adolescência do lugar de bode expiatório dos problemas sociais, incluindo-a por meio de sua efetiva participação, resultando assim na diminuição dos problemas desta importante etapa do desenvolvimento.

Editoras convidadas
Simone Gonçalves Assis 1, Joviana Quintas Avanci 1, Cristiane S. Duarte 2

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov 2015
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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