A quarta idade: o desafio da longevidade

Raimunda Magalhães da Silva Christina Cesar Praça Brasil Sobre os autores
2015

Os autores discutem esmeradamente o tema longevidade humana no contexto da quarta idade, a partir do desenvolvimento de 48 estudos em colaboração com 65 autores de áreas multidisciplinares atuantes na Gerontologia em diferentes instituições de ensino, pesquisa e assistência. Nesse contexto, é importante destacar que os autores trazem os termos “grande idoso” e “muito idoso” para definir a população com faixa etária a partir de 80 anos, público-alvo deste livro.

Diante dessa visão ampliada, as contribuições para as áreas de geriatria e gerontologia são inúmeras, uma vez que o assunto é abordado sob olhares de especialistas que lidam com um grupo etário que vem aumentando significativamente nos últimos anos e que tem sido pouco enfocado pela ciência. As abordagens ultrapassam a área médica e albergam importantes discussões em outros setores do conhecimento, o que favorece a compreensão sobre as especificidades e a busca pela qualidade de vida desses indivíduos.

Importante destacar a abordagem de assuntos que vêm trazer novos conhecimentos, visões e reflexões sobre a população em foco, o que pode ser evidenciado nos capítulos que versam sobre a epidemiologia do envelhecimento e a quarta idade, o perfil de centenários, os modelos de atenção à saúde do idoso muito idoso e a abordagem das diretivas antecipadas nos idosos.

Os conteúdos fundamentam-se na literatura científica, o que garante a qualidade dos estudos, aprimora o conhecimento, estimula outras pesquisas e avança nos desafios para o cuidado da pessoa idosa, associando as questões filosóficas, éticas, políticas, econômicas e espirituais. Portanto, é uma leitura essencial para estudantes e profissionais de diferentes áreas de conhecimento.

O capítulo sobre a influência genética na longevidade humana responde questões sobre os grupos humanos e os limites biológicos desta fase. Na análise de ensaios desenvolvidos, com sofisticada tecnologia e apropriada metodologia, os autores explicam a diferença entre longevidade e envelhecimento; como a restrição calórica influencia nos fatores de risco; discute a herança da longevidade e o polimorfismo genético.

Para o enfrentamento dos desafios da longevidade, o livro traz questões de como o idoso e a sociedade devem se adaptar a esse novo tempo, relacionando esses desafios aos aspectos socioeconômicos; “feminização” da velhice; aposentadoria; estrutura familiar; relação intergeracional; e migração e urbanização.

Os estudos sobre a evolução do envelhecimento são negligenciados e obscuros assim como os mecanismos que envolvem a gênese e seus efeitos sobre as doenças.

Quanto à velhice no século XX, são tecidas considerações sobre a terceira e a quarta idades; a história da velhice e a recente preocupação acadêmica para obter conhecimento geriátrico e gerontológico, como disciplina e como ciência do envelhecimento. Depois de vasta explicação conceitual desse século, questionam-se as perspectivas para o século XXI: será a Era da incompletude crônica da mente e do corpo?

A epidemiologia do envelhecimento traz dados da transição demográfica e epidemiológica, bem como ampla descrição sobre as diferenças do Índice do Desenvolvimento Humano entre países e entre as regiões do Brasil. A descrição sobre o perfil dos centenários e supercentenários mostra que a OMS prevê que essa população chegue a três milhões até 2050. Os autores, a partir de um levantamento exaustivo na literatura, mostram a relação entre a dependência, a longevidade e os múltiplos fatores determinantes dessas condições.

Quanto à gestão da clínica com grandes idosos com multimorbidades, o autor faz ampla discussão do perfil com base nas doenças crônicas não transmissíveis e sobre os desafios para a assistência integral, os quais devem ser enfrentados pelos profissionais de saúde.

Na gestão privada da saúde do idoso é indicada uma linha de cuidado contendo ações de promoção, prevenção, vigilância, recuperação e reabilitação. Na direção desse pensamento surge a discussão sobre prevenção e promoção da saúde, sob fundamento nas diretrizes da Política Nacional de Saúde do Idoso, oferecendo ao leitor modelos de atenção à saúde e propondo uma estratégia pautada na hierarquia da capacidade funcional do idoso.

Novos desafios críticos dizem respeito à prevenção e ao enfrentamento das violências contra as pessoas idosas. A autora nos convida a uma leitura sobre a contextualização demográfica da população acima de 80 anos; as questões sociais, políticas e de saúde; e, principalmente, os tipos de violências sofridas pelos idosos. Ressaltam-se as boas práticas aplicáveis às pessoas nesta faixa etária a fim de que possam usufruir de uma vida digna e de qualidade.

A autonomia e a independência da pessoa muito idosa são vistas como determinantes de relevo para a qualidade de vida e podem interferir no cotidiano, principalmente no bem-estar, na tomada de decisão, no respeito humano, considerando suas limitações físicas e mentais. Esses preceitos devem ser levados em conta para a qualidade do cuidado do idoso institucionalizado, embora a Instituição de Longa Permanência receba pessoas com demandas especiais. A qualidade do cuidado também é expressa como cenário para aqueles que residem em moradias com assistência garantida pelos familiares, profissionais e cuidadores.

Os desenhos das velhices na contemporaneidade são mostrados de forma poética, filosófica, subjetiva, e questionam a diversidade e complexidade de viver e envelhecer numa sociedade carente de valores humanos.

As relações intergeracionais são mostradas pela história, pelos encontros entre jovens e idosos fragilizados, jovens que cuidam de idosos e analisa com que qualidade e em que condições se dão os encontros. A fragilidade física e mental de idosos é discutida conforme indicadores multidimensionais, com abordagens multidisciplinares e multiprofissionais nos aspectos da prevenção e do tratamento.

Como exemplo, trazem as abordagens fisioterápicas que denotam a incontinência urinária e sua relação com o declínio fisiológico; a fisioterapia motora e pulmonar com o potencial de amenizar as limitações e promover cuidados para lidar com os idosos e um programa de reabilitação que favorece a qualidade de vida e a prevenção de agravos.

O manejo clínico do “grande idoso” hospitalizado é discutido com base nos aspectos que definem suas condições de saúde, considerando-se o tempo e as causas de internação, reinternação e a avaliação funcional e nutricional. Após a alta hospitalar, os cuidados devem manter as condições de saúde, segurança e qualidade de vida. Para uma transição eficaz é necessário haver um alinhamento entre os cuidados hospitalares e o seguimento pós-alta, com base na comunicação entre equipe de saúde e cuidadores.

A intervenção cognitiva auxilia no planejamento de ações que melhoram a plasticidade cerebral. Assim, o grupo de estimulação cognitiva intergeracional, os tipos de alterações cognitivas do idoso e as estratégias de reabilitação são apresentados, ante as particularidades que a demência exprime, dificultando o diagnóstico e o tratamento.

Diversas são as alterações anatomofisiológicas abordadas nos capítulos que se referem às carências e às necessidades dos idosos a partir dos 80 anos. Nesse contexto, há uma sequência de estudos que versam sobre essas deficiências e as formas de enfrentamento mais apropriadas para cada área de atuação. Discutem-se aspectos relevantes sobre a osteoporose e a hipovitaminose D; os distúrbios sensoriais; a saúde bucal e as contribuições da Odontogeriatria; o diabetes tipo 2; a hipertensão arterial; a insuficiência cardíaca e as neoplasias. Os temas são abordados cientificamente e ampliam o conhecimento sobre a fisiopatologia, os riscos, a avaliação e a terapêutica, numa visão multidisciplinar. Todos estes associam-se às comorbidades, aos contextos cirúrgicos, à autonomia e às habilidades físicas, motoras e cognitivas que potencializam os riscos de complicação.

Outro aspecto importante diz respeito às dimensões, funções e aplicações da comunicação, sendo esta habilidade determinante para os processos de adesão ao tratamento, adoção de medidas de promoção e proteção à vida. Muitos acometimentos não são passíveis de cura, requerendo medidas que favoreçam a qualidade de vida e o alívio do sofrimento. Os cuidados paliativos são abordados com embasamento humanizado, envolvendo estratégias de comunicação e cuidado interpessoal.

O livro também apresenta aspectos relativos à morte, revestidos de orientações e reflexões úteis aos profissionais, familiares e pacientes. Explicitam-se orientações do serviço social sobre as providências com a finitude, os impactos das perdas e das mudanças, e mobiliza estratégias de enfrentamento.

As discussões que abordam os problemas éticos e a humanização na atenção à saúde dos idosos perpassam todos os textos, sendo de extrema importância no contexto em pauta.

Face à vastidão de temáticas, os leitores são contemplados com dados atualizados e relevantes; porém um aprofundamento teórico e sobre boas práticas poderiam acrescentar novos conhecimentos técnico-científicos ao assunto em pauta, além do compartilhamento de experiências. Assim, o livro inspira novas produções, diante do caráter dinâmico e abrangente que reveste o desafio da longevidade no contexto contemporâneo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov 2016
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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