Indicadores de insegurança alimentar e nutricional associados à anemia ferropriva em crianças brasileiras: uma revisão sistemática

Hercilio Paulino André Naiara Sperandio Renata Lopes de Siqueira Sylvia do Carmo Castro Franceschini Silvia Eloiza Priore Sobre os autores

Resumo

Objetivou-se revisar os indicadores de insegurança alimentar e nutricional associados à anemia ferropriva em crianças brasileiras menores de 5 anos. Realizou-se busca em bases eletrônicas (ScieLO, Lilacs, Medline), com seleção dos estudos pelos títulos, resumos e pela leitura na íntegra. Dos 1023 trabalhos analisados, 11 contemplaram os critérios de inclusão. Os resultados dos estudos retrataram que a anemia ferropriva em crianças brasileiras associou-se aos indicadores sociodemográficos e de saúde (sexo masculino, idade inferior aos 24 meses, filhos de mães adolescentes, infecções respiratórias, diarreias, baixa escolaridade materna, condição de trabalho dos pais, tempo de creche, ausência de saneamento básico, anemia materna, não uso de sulfato ferroso pela mãe e/ou criança e início tardio do pré-natal), indicadores nutricionais (baixo peso ao nascer, características da dieta como, hábito de ingerir leite próximo dos horários das refeições, baixo tempo de aleitamento materno exclusivo e total) e econômicos (baixa renda per capita). A insegurança alimentar e nutricional, analisada no presente estudo sob a óptica de diferentes indicadores, está associada à ocorrência de anemia ferropriva em crianças menores de 5 anos no Brasil.

Palavras-chave
Anemia ferropriva; Deficiência de ferro; Segurança alimentar e nutricional; Crianças

Introdução

A deficiência de micronutrientes é um importante problema de saúde pública, especialmente, em países em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) aproximadamente 2 bilhões de pessoas no mundo sofrem de fome oculta, que é a deficiência subclínica de micronutrientes, sendo os principais vitamina A, ferro, zinco e iodo11. Organización Mundial de la Salud (OMS). Documento final de la Segunda Conferencia Internacional sobre Nutrición: Declaracion de Roma sobre la Nutrición. Roma: OMS; 2014..

A carência de ferro atinge todas as células do organismo humano e ocorre em três estágios, sendo o primeiro a depleção do estoque de ferro, seguido pela eritropoiese ferro deficiente até a ocorrência da anemia ferropriva, caracterizada pela redução dos níveis de hemoglobina. A deficiência de ferro e a anemia ferropriva resultam do desequilíbrio no balanço entre a quantidade de ferro biodisponível absorvido na dieta e a necessidade do mineral no organismo22. Rodrigues VC, Mendes BD, Gozzi A, Sandrini F, Santana RG, Matioli G. Deficiência de ferro, prevalência de anemia e fatores associados em crianças de creches públicas do oeste do Paraná, Brasil. Rev Nutr 2011; 24(3):407-420..

A anemia ferropriva é um distúrbio nutricional que compromete o sistema imunológico prejudicando o crescimento e desenvolvimento da criança33. World Health Organization (WHO). Growth Reference 5-19 Years. Genava: WHO; 2007. [acessado 2015 Jul 15] Disponível em http://who.org.int/growthref/who.pdf.
http://who.org.int/growthref/who.pdf...
. O público infantil constitui um grupo vulnerável a deficiência de ferro devido a demanda aumentada desse mineral em função da intensa velocidade de crescimento. Além disso, alguns fatores negativos da alimentação na infância podem aumentar essa vulnerabilidade, como por exemplo, consumo insuficiente de alimentos fontes de ferro (carne de boi, figado, frango, peixe e vegetais verdes escuros)22. Rodrigues VC, Mendes BD, Gozzi A, Sandrini F, Santana RG, Matioli G. Deficiência de ferro, prevalência de anemia e fatores associados em crianças de creches públicas do oeste do Paraná, Brasil. Rev Nutr 2011; 24(3):407-420.,33. World Health Organization (WHO). Growth Reference 5-19 Years. Genava: WHO; 2007. [acessado 2015 Jul 15] Disponível em http://who.org.int/growthref/who.pdf.
http://who.org.int/growthref/who.pdf...
e ingestão de leite de vaca e cabra antes dos primeiros seis meses de vida, que além dos baixos teores de ferro, podem ocasionar sangramento gastrointestinal e gerar perda de sangue nas fezes44. Janus J, Moerschel, SK. Evaluation of anemia in children. Am. Fam. Physician 2010; 81(12):1462-1471..

A anemia no mundo acomete aproximadamente 1,620 milhões de indivíduos, sendo que a ocorrência por deficiência de ferro é 2,5 vezes maior55. Oliveira TSC, Lamounier JA, Alves CRL, Capanema FD, Rocha DS, Silva MC. Anemia entre pré-escolares - um problema de saúde pública em Belo Horizonte, Brasil. Cien Saude Colet 2014; 19(1):59-66.,66. World Health Organization (WHO). Worldwide prevalence of anemia 1993-2005: WHO global data base on anemia. Geneva: WHO; 2008.. No Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Mulher e da Criança77. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher – PNDS 2006: Dimensões do processo reprodutivo e da saúde da criança. Brasília: MS; 2006., a prevalência de anemia em menores de 5 anos foi de 20,9%, sendo que as maiores prevalências foram observadas nas regiões Sudeste e Nordeste do país (22,6% e 25,5%, respectivamente).

A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) refere-se à garantia do acesso a alimentação adequada e saudável. É um conceito multidimensional que perpassa o campo da produção, disponibilidade e acesso a alimentos, adequadas condições de saúde, educação, moradia e saneamento básico88. Brasil. Lei n° 11.346, de 15 de setembro de 2006. Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional. Dispõe sobre a Criação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional–SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Diário Oficial da União 2006; 18 set.. Sendo assim, indicadores de múltiplas vulnerabilidades, relacionados ao acesso, consumo e aproveitamento biológico dos alimentos, das condições sociais, econômicas e de estado nutricional são utilizados para caracterização de situações de violação desse direito, ou seja, da insegurança alimentar e nutricional88. Brasil. Lei n° 11.346, de 15 de setembro de 2006. Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional. Dispõe sobre a Criação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional–SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Diário Oficial da União 2006; 18 set..

Alguns indicadores como a baixa renda familiar per capita, baixa escolaridade, principalmente materna, maior número de filhos, elevada densidade de morador por cômodo, precárias condições de acesso a serviços públicos, como saneamento básico e energia elétrica, consumo alimentar inadequado, quanti e qualitativamente, dentre outros, caracterizam situações de insegurança alimentar e nutricional que predispõem ao risco de desenvolvimento de doenças carenciais, dentre elas a anemia ferropriva99. Oliveira JS, Lira PIC, Maia SR, Sequeira LAS, Amorim RCA, Batista Filho M. Insegurança alimentar e estado nutricional de crianças de Gameleira, zona da mata do Nordeste brasileiro. Rev Bras Saúde Matern Infan 2010; 10(2):237-245.,1010. Morais DC, Dutra LV, Franceschini SCC, Priore SE. Insegurança alimentar e indicadores antropométricos, dietéticos e sociais em estudos brasileiros: uma revisão sistemática. Cien Saude Colet 2014; 19(5):1475-1488..

Apesar da anemia ferropriva ser um problema de saúde pública democraticamente distribuído entre as diferentes classes socioeconômicas, situações que caracterizam um quadro de insegurança alimentar e nutricional podem favorecer e contribuir para o surgimento dessa doença99. Oliveira JS, Lira PIC, Maia SR, Sequeira LAS, Amorim RCA, Batista Filho M. Insegurança alimentar e estado nutricional de crianças de Gameleira, zona da mata do Nordeste brasileiro. Rev Bras Saúde Matern Infan 2010; 10(2):237-245..

Diante do exposto, o objetivo deste artigo foi revisar os indicadores de insegurança alimentar e nutricional associados a anemia ferropriva em crianças brasileiras menores de 5 anos de idade.

Metodologia

Para elaboração deste artigo realizou-se busca sistemática nas bases de dados eletrônicas SciELO, Lilacs, Medline. Foram incluídos estudos publicados nos últimos 11 anos – a partir do ano 2004 – uma vez que foi nesse ano que se iniciou a fortificação com composto de ferro e ácido fólico, com vistas a atender um dos objetivos presentes no Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que se refere a prevenção de carências nutricionais1111. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SESAN. Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional – CAISAN. Brasília: MDS; 2011.. As palavras chaves usadas foram: aleitamento materno, indicadores nutricionais, carência de ferro, fome oculta, anemia materna, assim como seus respectivos vocábulos em inglês (breastfeeding, nutritional indicators, Iron deficiency, hidden hunger, maternal anemia).

Incluiu-se nesta revisão sistemática artigos orginais, conduzidos no Brasil, que relacionavam anemia ferropriva em crianças brasileiras, menores de cinco anos, a possíveis indicadores de insegurança alimentar e nutricional, categorizados em: econômicos, nutricionais sociodemográficos e de saúde. Foram excluidos artigos de revisão, monografias, dissertações, teses, capítulos de livros, além dos estudos realizados com crianças de outros países.

Os artigos foram sistematicamente revisados, sendo que, inicialmente, dois autores participaram da análise dos títulos e resumos. Nos casos em que não houve concordância entre os dois avaliadores, um terceiro autor analisou os artigos.

Para a elaboração da revisão sistemática, primeiramente realizou-se a busca por palavras chaves nas bases de dados descritas anteriormente, identificando 1023 estudos publicados no período de interesse. A etapa seguinte constou da seleção e revisão dos estudos, avaliando primeiramente os títulos, na qual foram excluidos 972 trabalhos, sendo que 569 fugiram do tema desta revisão: 81 por serem estudos repetidos e 322 por ter sido conduzido em população não brasileira.

A partir da leitura dos resumos dos 51 estudos restantes, excluíu-se 31 porque não analisaram associação com indicadores de insegurança alimentar e nutricional. Foram analisados na íntegra 20 artigos, sendo que, desses, 9 foram excluidos por tratarem de crianças maiores de 5 anos de idade. Portanto, 11 estudos contemplaram os critérios de inclusão e foram utilizados nesta revisão sistemática (Figura 1).

Figura 1
Etapas da elaboração da revisão sistemática.

Resultados

Os 11 estudos selecionados refletem a relação dos indicadores de insegurança alimentar e nutricional com a ocorrência da anemia ferropriva, sendo que em todos eles a anemia ferropriva associou-se a algum indicador sociodemográfico e de saúde; em quatro observou-se associaçao com indicadores econômicos, e em sete com nutricionais.

Os indicadores sociodemográficos e de saúde, retratados pelos estudos, que apresentaram associação (p < 0,05) com a ocorrência da anemia ferropriva foram: idade inferior a 24 meses1212. Neves MBP, Silva EMK, Morais MB. Prevalência e fatores associados à deficiência de ferro em lactentes atendidos em um centro de saúde-escola em Belém, Pará, Brasil. Cad Saude Publica 2005; 21(6):1911-1918.

13. Oliveira MAA, Osório MM, Raposo MCF. Concentração de hemoglobina e anemia em crianças no Estado de Pernambuco, Brasil: fatores socioeconômicos e de consumo alimentar associados. Cad Saude Publica 2006; 22(10):2169-2178.

14. Vieira ACF, Diniz AS, Cabral PC, Oliveira RS, Lóla MMF, Silva SMM, Kolsteren P. Avaliação do estado nutricional de ferro e anemia em crianças menores de 5 anos de creches públicas. Jornal de Pediatria 2007; 83(4):370-376.

15. Leal LP, Filho MB, Lira PIC, Figueiroa JN, Osório MM. Prevalência da anemia e fatores associados em crianças de 6 a 59 meses de Pernambuco. Rev Saude Publica 2011; 45(3):457-466.
-1616. Lisboa MBMC, Oliveira EO, Lamounier JA, Silva CAM, Freitas RN. Prevalência de anemia ferropriva em crianças menores de 60 meses: estudo de base populacional no Estado de Minas Gerais, Brasil. Rev Nutr 2015; 28(2):121-131., idade materna inferior a 20 anos1717. Spinelli MGN, Marchioni DML, Souza JMP, Souza SB, Szarfarc SC. Fatores de risco para anemia em crianças de 6 a 12 meses no Brasil. J Public Health 2005; 17(2):84-91.,1818. Konstantyner T, Taddei JAAC, Oliveira MN, Palma D, Colugnati FAB. Isolated and combined risks for anemia in children attending the nurseries of daycare centers. Jornal de Pediatria 2009; 85(3):209-216., criança do sexo masculino1717. Spinelli MGN, Marchioni DML, Souza JMP, Souza SB, Szarfarc SC. Fatores de risco para anemia em crianças de 6 a 12 meses no Brasil. J Public Health 2005; 17(2):84-91.,1919. Castro TG, Nunes MS, Conde WL, Muniz PT, Cardoso MA. Anemia e deficiência de ferro em pré-escolares da Amazônia Ocidental brasileira: prevalência e fatores associados. Cad Saude Publica 2011; 27(1):131-142., número de moradores no domicílio22. Rodrigues VC, Mendes BD, Gozzi A, Sandrini F, Santana RG, Matioli G. Deficiência de ferro, prevalência de anemia e fatores associados em crianças de creches públicas do oeste do Paraná, Brasil. Rev Nutr 2011; 24(3):407-420.,1515. Leal LP, Filho MB, Lira PIC, Figueiroa JN, Osório MM. Prevalência da anemia e fatores associados em crianças de 6 a 59 meses de Pernambuco. Rev Saude Publica 2011; 45(3):457-466.,2020. Netto MP, Priore SE, Sant'ana HMP, Peluzio MCG, Sabarense CM, Silva DG, Franceschini SCC. Prevalência e fatores associados à anemia e deficiência de ferro em crianças de 18 a 24 meses. Arch Latinoam Nutr 2006; 56(3):229-236., baixa escolaridade materna1313. Oliveira MAA, Osório MM, Raposo MCF. Concentração de hemoglobina e anemia em crianças no Estado de Pernambuco, Brasil: fatores socioeconômicos e de consumo alimentar associados. Cad Saude Publica 2006; 22(10):2169-2178.,1515. Leal LP, Filho MB, Lira PIC, Figueiroa JN, Osório MM. Prevalência da anemia e fatores associados em crianças de 6 a 59 meses de Pernambuco. Rev Saude Publica 2011; 45(3):457-466.,2020. Netto MP, Priore SE, Sant'ana HMP, Peluzio MCG, Sabarense CM, Silva DG, Franceschini SCC. Prevalência e fatores associados à anemia e deficiência de ferro em crianças de 18 a 24 meses. Arch Latinoam Nutr 2006; 56(3):229-236., área geográfica1313. Oliveira MAA, Osório MM, Raposo MCF. Concentração de hemoglobina e anemia em crianças no Estado de Pernambuco, Brasil: fatores socioeconômicos e de consumo alimentar associados. Cad Saude Publica 2006; 22(10):2169-2178., ausência de casa própria1919. Castro TG, Nunes MS, Conde WL, Muniz PT, Cardoso MA. Anemia e deficiência de ferro em pré-escolares da Amazônia Ocidental brasileira: prevalência e fatores associados. Cad Saude Publica 2011; 27(1):131-142., presença de infecções respiratórias e diarreias22. Rodrigues VC, Mendes BD, Gozzi A, Sandrini F, Santana RG, Matioli G. Deficiência de ferro, prevalência de anemia e fatores associados em crianças de creches públicas do oeste do Paraná, Brasil. Rev Nutr 2011; 24(3):407-420.,1919. Castro TG, Nunes MS, Conde WL, Muniz PT, Cardoso MA. Anemia e deficiência de ferro em pré-escolares da Amazônia Ocidental brasileira: prevalência e fatores associados. Cad Saude Publica 2011; 27(1):131-142., condições de trabalho dos pais2121. Netto MP, Rocha DS, Franceschini SCC, Lamounier JA. Fatores associados à anemia em lactentes nascidos a termo e sem baixo peso. Rev Assoc Med Bras 2011; 57(5):550-558., tempo de creche22. Rodrigues VC, Mendes BD, Gozzi A, Sandrini F, Santana RG, Matioli G. Deficiência de ferro, prevalência de anemia e fatores associados em crianças de creches públicas do oeste do Paraná, Brasil. Rev Nutr 2011; 24(3):407-420., ausência de saneamento básico22. Rodrigues VC, Mendes BD, Gozzi A, Sandrini F, Santana RG, Matioli G. Deficiência de ferro, prevalência de anemia e fatores associados em crianças de creches públicas do oeste do Paraná, Brasil. Rev Nutr 2011; 24(3):407-420.,1515. Leal LP, Filho MB, Lira PIC, Figueiroa JN, Osório MM. Prevalência da anemia e fatores associados em crianças de 6 a 59 meses de Pernambuco. Rev Saude Publica 2011; 45(3):457-466., presença de anemia materna1919. Castro TG, Nunes MS, Conde WL, Muniz PT, Cardoso MA. Anemia e deficiência de ferro em pré-escolares da Amazônia Ocidental brasileira: prevalência e fatores associados. Cad Saude Publica 2011; 27(1):131-142. (Quadro 1).

Quadro 1
Resumo dos estudos referentes a indicadores de insegurança alimentar e nutricional associados a anemia ferropriva em crianças menores de 5 anos.

Em relação aos indicadores econômicos associados com a ocorrência de anemia ferropriva, em menores de cincos anos, foi unânime entre os estudos a baixa renda per capita1717. Spinelli MGN, Marchioni DML, Souza JMP, Souza SB, Szarfarc SC. Fatores de risco para anemia em crianças de 6 a 12 meses no Brasil. J Public Health 2005; 17(2):84-91.,2020. Netto MP, Priore SE, Sant'ana HMP, Peluzio MCG, Sabarense CM, Silva DG, Franceschini SCC. Prevalência e fatores associados à anemia e deficiência de ferro em crianças de 18 a 24 meses. Arch Latinoam Nutr 2006; 56(3):229-236.,2121. Netto MP, Rocha DS, Franceschini SCC, Lamounier JA. Fatores associados à anemia em lactentes nascidos a termo e sem baixo peso. Rev Assoc Med Bras 2011; 57(5):550-558. (Quadro 1).

Quanto aos indicadores nutricionais destacase ausência ou baixo tempo de aleitamento materno total1717. Spinelli MGN, Marchioni DML, Souza JMP, Souza SB, Szarfarc SC. Fatores de risco para anemia em crianças de 6 a 12 meses no Brasil. J Public Health 2005; 17(2):84-91.,2020. Netto MP, Priore SE, Sant'ana HMP, Peluzio MCG, Sabarense CM, Silva DG, Franceschini SCC. Prevalência e fatores associados à anemia e deficiência de ferro em crianças de 18 a 24 meses. Arch Latinoam Nutr 2006; 56(3):229-236.,2121. Netto MP, Rocha DS, Franceschini SCC, Lamounier JA. Fatores associados à anemia em lactentes nascidos a termo e sem baixo peso. Rev Assoc Med Bras 2011; 57(5):550-558. e de aleitamento materno exclusivo1818. Konstantyner T, Taddei JAAC, Oliveira MN, Palma D, Colugnati FAB. Isolated and combined risks for anemia in children attending the nurseries of daycare centers. Jornal de Pediatria 2009; 85(3):209-216., o baixo peso ao nascer1717. Spinelli MGN, Marchioni DML, Souza JMP, Souza SB, Szarfarc SC. Fatores de risco para anemia em crianças de 6 a 12 meses no Brasil. J Public Health 2005; 17(2):84-91.,1919. Castro TG, Nunes MS, Conde WL, Muniz PT, Cardoso MA. Anemia e deficiência de ferro em pré-escolares da Amazônia Ocidental brasileira: prevalência e fatores associados. Cad Saude Publica 2011; 27(1):131-142., introdução precoce dos alimentos2020. Netto MP, Priore SE, Sant'ana HMP, Peluzio MCG, Sabarense CM, Silva DG, Franceschini SCC. Prevalência e fatores associados à anemia e deficiência de ferro em crianças de 18 a 24 meses. Arch Latinoam Nutr 2006; 56(3):229-236., consumo de leite próximo das refeições1313. Oliveira MAA, Osório MM, Raposo MCF. Concentração de hemoglobina e anemia em crianças no Estado de Pernambuco, Brasil: fatores socioeconômicos e de consumo alimentar associados. Cad Saude Publica 2006; 22(10):2169-2178.,2020. Netto MP, Priore SE, Sant'ana HMP, Peluzio MCG, Sabarense CM, Silva DG, Franceschini SCC. Prevalência e fatores associados à anemia e deficiência de ferro em crianças de 18 a 24 meses. Arch Latinoam Nutr 2006; 56(3):229-236., o não uso de sulfato ferroso pela mãe e/ou criança e o início tardio do pré-natal2121. Netto MP, Rocha DS, Franceschini SCC, Lamounier JA. Fatores associados à anemia em lactentes nascidos a termo e sem baixo peso. Rev Assoc Med Bras 2011; 57(5):550-558. (Quadro 1)

Discussão

A ocorrência da anemia por deficiência de ferro é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo, e destaca-se como a principal carência nutricional em função dos efeitos negativos à saúde. As crianças menores de 5 anos estão entre os grupos vulneráveis, devido a demandas aumentadas para o crescimento e desenvolvimento, característicos dessa fase1616. Lisboa MBMC, Oliveira EO, Lamounier JA, Silva CAM, Freitas RN. Prevalência de anemia ferropriva em crianças menores de 60 meses: estudo de base populacional no Estado de Minas Gerais, Brasil. Rev Nutr 2015; 28(2):121-131.,1717. Spinelli MGN, Marchioni DML, Souza JMP, Souza SB, Szarfarc SC. Fatores de risco para anemia em crianças de 6 a 12 meses no Brasil. J Public Health 2005; 17(2):84-91.. Dentre as principais consequências da anemia ferropriva destacam-se déficit no desenvolvimento psicomotor, na função congnitiva e maior suscetibilidade à infeccções77. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher – PNDS 2006: Dimensões do processo reprodutivo e da saúde da criança. Brasília: MS; 2006.,1616. Lisboa MBMC, Oliveira EO, Lamounier JA, Silva CAM, Freitas RN. Prevalência de anemia ferropriva em crianças menores de 60 meses: estudo de base populacional no Estado de Minas Gerais, Brasil. Rev Nutr 2015; 28(2):121-131.,1717. Spinelli MGN, Marchioni DML, Souza JMP, Souza SB, Szarfarc SC. Fatores de risco para anemia em crianças de 6 a 12 meses no Brasil. J Public Health 2005; 17(2):84-91..

Em relação aos fatores sociodemográficos, citados pelos estudos desta revisão, destacam-se idade inferior a 24 meses, o número elevado de moradores nos domicílios e a escolaridade materna22. Rodrigues VC, Mendes BD, Gozzi A, Sandrini F, Santana RG, Matioli G. Deficiência de ferro, prevalência de anemia e fatores associados em crianças de creches públicas do oeste do Paraná, Brasil. Rev Nutr 2011; 24(3):407-420.,1212. Neves MBP, Silva EMK, Morais MB. Prevalência e fatores associados à deficiência de ferro em lactentes atendidos em um centro de saúde-escola em Belém, Pará, Brasil. Cad Saude Publica 2005; 21(6):1911-1918.

13. Oliveira MAA, Osório MM, Raposo MCF. Concentração de hemoglobina e anemia em crianças no Estado de Pernambuco, Brasil: fatores socioeconômicos e de consumo alimentar associados. Cad Saude Publica 2006; 22(10):2169-2178.

14. Vieira ACF, Diniz AS, Cabral PC, Oliveira RS, Lóla MMF, Silva SMM, Kolsteren P. Avaliação do estado nutricional de ferro e anemia em crianças menores de 5 anos de creches públicas. Jornal de Pediatria 2007; 83(4):370-376.
-1515. Leal LP, Filho MB, Lira PIC, Figueiroa JN, Osório MM. Prevalência da anemia e fatores associados em crianças de 6 a 59 meses de Pernambuco. Rev Saude Publica 2011; 45(3):457-466.,2020. Netto MP, Priore SE, Sant'ana HMP, Peluzio MCG, Sabarense CM, Silva DG, Franceschini SCC. Prevalência e fatores associados à anemia e deficiência de ferro em crianças de 18 a 24 meses. Arch Latinoam Nutr 2006; 56(3):229-236.. Outros estudos99. Oliveira JS, Lira PIC, Maia SR, Sequeira LAS, Amorim RCA, Batista Filho M. Insegurança alimentar e estado nutricional de crianças de Gameleira, zona da mata do Nordeste brasileiro. Rev Bras Saúde Matern Infan 2010; 10(2):237-245.,2222. Araújo TS, Muniz PT, Cardoso MA, Oliveira CSM. Anemia em crianças de 6 a 59 meses e fatores associados no Município de Jordão, Estado do Acre, Brasil. Cad Saude Publica 2011; 27(5):1008-1020. encontraram, além desses fatores sociodemográficos, a associação da anemia ferropriva a menor idade e escolaridade materna.

Situações de múltiplas vulnerabilidades, como o número elevado de moradores no domicílio, menor escolaridade materna, menor renda mensal per capita e menor poder aquisitivo, influenciam e dificultam as condições de acesso a alimentação adequada e saudável o que pode favorecer a ocorrência de carências nutricionais, como a anemia ferropriva2323. Vieira RCS, Ferreira HS, Costa ACS, Moura FA, Florêncio TAMT, Torres ZMC. Prevalência e fatores de risco para anemia em crianças pré-escolares, Alagoas, Brasil. Rev Bras Saúde Matern Infant 2010; 10(1):107-116..

A associação da anemia ferropriva com a menor idade materna, especialmente em relação a gestantes adolescentes, pode ser atribuída ao fato da menor experiência para cuidado com os filhos (vínculo mãe-filho), reflexo, na maioria dos casos, da falta de conhecimento ou orientação adequada durante o pré-natal, que em algumas situações nem é realizado adequadamente99. Oliveira JS, Lira PIC, Maia SR, Sequeira LAS, Amorim RCA, Batista Filho M. Insegurança alimentar e estado nutricional de crianças de Gameleira, zona da mata do Nordeste brasileiro. Rev Bras Saúde Matern Infan 2010; 10(2):237-245.,2222. Araújo TS, Muniz PT, Cardoso MA, Oliveira CSM. Anemia em crianças de 6 a 59 meses e fatores associados no Município de Jordão, Estado do Acre, Brasil. Cad Saude Publica 2011; 27(5):1008-1020..

O baixo rendimento monetário per capita, foi o indicador econômico mais citado pelos estudos que associou-se a presença da anemia1212. Neves MBP, Silva EMK, Morais MB. Prevalência e fatores associados à deficiência de ferro em lactentes atendidos em um centro de saúde-escola em Belém, Pará, Brasil. Cad Saude Publica 2005; 21(6):1911-1918.,1313. Oliveira MAA, Osório MM, Raposo MCF. Concentração de hemoglobina e anemia em crianças no Estado de Pernambuco, Brasil: fatores socioeconômicos e de consumo alimentar associados. Cad Saude Publica 2006; 22(10):2169-2178.,1818. Konstantyner T, Taddei JAAC, Oliveira MN, Palma D, Colugnati FAB. Isolated and combined risks for anemia in children attending the nurseries of daycare centers. Jornal de Pediatria 2009; 85(3):209-216.. Além de possibilitar o acesso à alimentação, a renda está relacionada a presença de condições de moradia e saneamento básico, importantes para o aproveitamento biológico dos nutrientes presentes nos alimentos. Sendo assim, situações de baixo rendimento estão diretamente relacionadas a dois importantes determinantes da SAN: o acesso e o aproveitamento dos alimentos pelo organismo, que podem condicionar a situações de insegurança, especialmente nos casos que a baixa renda está presente conjuntamente com outros indicadores citados nesta revisão.

Em relação a asssociação observada da anemia com a idade menor que 24 meses acredita-se que o risco de desenvolver anemia ferropriva nesse grupo etário seja devido ao crescimento acelerado característico dessa fase, acompanhado de indicadores nutricionais, como à dieta de transição, que geralmente é composta por alimentos com baixa biodisponibilidade de ferro, baixa prevalência do aleitamento materno, além de ocorrência de infecções respiratórias e diarreias99. Oliveira JS, Lira PIC, Maia SR, Sequeira LAS, Amorim RCA, Batista Filho M. Insegurança alimentar e estado nutricional de crianças de Gameleira, zona da mata do Nordeste brasileiro. Rev Bras Saúde Matern Infan 2010; 10(2):237-245.,1212. Neves MBP, Silva EMK, Morais MB. Prevalência e fatores associados à deficiência de ferro em lactentes atendidos em um centro de saúde-escola em Belém, Pará, Brasil. Cad Saude Publica 2005; 21(6):1911-1918.,2424. World Health Organization (WHO). Haemoglobin concentrations for the diagnosis of anaemia and assessment of severity. Vitamin and mineral nutrition information system. Geneva: WHO; 2011..

Os indicadores nutricionais de insegurança alimentar e nutricional, retratados nesta revisão, resumiram-se nas condições de nascimento (baixo peso ao nascer), ao aleitamento materno e introdução precoce de alimentos complementares.

Em estudo nacional referente a fatores associados a anemia em crianças brasileiras de 6 a 12 meses, os autores retratam prevalência de anemia de 65,45%, e associação (p < 0,05) dessa com o baixo peso ao nascer e prematuridade1212. Neves MBP, Silva EMK, Morais MB. Prevalência e fatores associados à deficiência de ferro em lactentes atendidos em um centro de saúde-escola em Belém, Pará, Brasil. Cad Saude Publica 2005; 21(6):1911-1918.. Uma das possíveis explicações dessa associação foi em relação às baixas reservas de ferro ao nascer, devido principalmente a prematuridade e baixo peso, e à maior demanda desse mineral para o crescimento2121. Netto MP, Rocha DS, Franceschini SCC, Lamounier JA. Fatores associados à anemia em lactentes nascidos a termo e sem baixo peso. Rev Assoc Med Bras 2011; 57(5):550-558..

Em um estudo referente a presença da anemia e deficiência de ferro em pré-escolares da Amazônia Ocidental brasileira os autores observaram prevalências de anemia, anemia ferropriva e deficiência de ferro de 30,6%, 20,9% e 43,5% respectivamente, e associação (p < 0,05) com o baixo peso ao nascer e o sexo masculino1919. Castro TG, Nunes MS, Conde WL, Muniz PT, Cardoso MA. Anemia e deficiência de ferro em pré-escolares da Amazônia Ocidental brasileira: prevalência e fatores associados. Cad Saude Publica 2011; 27(1):131-142.. A associação entre anemia ferropriva e sexo masculino está relacionada ao maior ganho do peso, ao aumento da atividade da eritropoiese na vida fetal, às menores reservas, maiores perdas intestinais e menor absorção do ferro, observado nos meninos em relação às meninas2525. Domellof M, Lonnerdal B, Dewey KG, Cohen RJ, Rivera LL, Hernell O. Sex differences in iron status during infancy. Pediatrics 2002; 110(3):545-552..

Estudos2020. Netto MP, Priore SE, Sant'ana HMP, Peluzio MCG, Sabarense CM, Silva DG, Franceschini SCC. Prevalência e fatores associados à anemia e deficiência de ferro em crianças de 18 a 24 meses. Arch Latinoam Nutr 2006; 56(3):229-236.,2626. Gondim SSR, Diniz AS, Souto RA, Bezerra RGS, Albuquerque EC, Paiva AA. Magnitude, tendência temporal e fatores associados à anemia em crianças do Estado da Paraíba. Rev Saude Publica 2012; 46(4):649-656.

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-2929. Reis MCG, Nakano AMS, Silva IA, Gomes FA, Pereira MJB. Prevalence of Anemia in Children Three to 12 Months Old in a Health Service in Ribeirão Preto, São Paulo, Brazil. Rev Latino-Am Enfermagem 2010; 18(4):792-799. referentes a fatores associados à anemia e deficiência de ferro em crianças, retrataram associação (p < 0,05) com outros indicadores nutricionais como, por exemplo, idade da introdução de sucos e/ou frutas, consumo de leite próximo das refeições e tempo de aleitamento materno total, sendo que as maiores prevalências foram em crianças menores de 24 meses de idade. É necessário destacar que é difícil o estabelecimento de valores críticos de hemoglobina como ponto de corte em crianças menores de 6 meses de vida, devido as rápidas mudanças de concentração desse indicador bioquímico nessa fase da vida3030. Szarfarc SC, Souza SB, Furumoto RAV, Brunken GS, Assis AMO, Gaudenzi EM, Silva RCR, Souza JMP. Concentração de hemoglobina em crianças do nascimento até um ano de vida. Cad Saude Publica 2004; 20(1):266-274..

O consumo de leite de vaca fluido foi um dos principais determinantes da anemia no primeiro ano de vida; a caseína e as proteínas do soro do leite de vaca, que constituem a fração proteica da maioria das fórmulas lácteas, e os alimentos infantis industrializados têm influência negativa sobre a absorção do ferro, que se agravam pelas necessidades nutricionais aumentadas em função do crescimento acelerado da criança2424. World Health Organization (WHO). Haemoglobin concentrations for the diagnosis of anaemia and assessment of severity. Vitamin and mineral nutrition information system. Geneva: WHO; 2011.. O leite e seus derivados, como iogurte e queijo, possuem cálcio e ao serem consumidos durante ou proximo das refeições inibem a absorção do ferro3131. Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Anemia ferropriva em lactentes: revisão com foco em prevenção. Departamento Científico de Nutrologia. São Paulo: SBP; 2012..

Acredita-se que a situação de insegurança alimentar e nutricional, analisada sob a perspectiva de diferentes indicadores que abarquem a multideterminação envolvida com o conceito brasileiro de SAN, é influenciada pelas desigualdades relativas ao sistema social e econômico excludente3232. Barroso GS, Sichieri R, Salles-Costa R. Fatores associados ao déficit nutricional em crianças residentes em uma área de prevalência elevada de insegurança alimentar. Rev Brasileira de Epidemiologia 2008; 11(3):484-494., sendo a pobreza e as iniquidades sociais fatores determinantes desse fenômeno3333. Sicoli JL. Pactuando conceitos fundamentais para a construção de um sistema de monitoramento da SAN. Instituto Pólis, São Paulo, 2005. [acessado 2012 Jul 25]. Disponível em: http://www.polis.org.br/download/65.pdf.
http://www.polis.org.br/download/65.pdf...
,3434. Segall-Corrêa AM, Marin-Leon L, Helito H, Pérez-Escamilla R, Santos LMP, Paes-Sousa R. Transferência de renda e segurança alimentar no Brasil: análise dos dados nacionais. Rev Nutr 2008; 21(Supl.):39-51..

A maioria dos estudos, analisados nesta revisão sistemática, que avaliaram indicadores de insegurança alimentar e nutricional, associados a anemia ferropriva em crianças brasileiras menores de cinco anos, são observacionais transversais. Esse tipo de delineamento epidemiológico inviabiliza o estabelecimento de relações causais, o que constitui uma limitação desta revisão sistemática e ressalta a importância de realização de estudos longitudinais envolvendo os determinantes da anemia ferropriva em crianças brasileiras.

Conclusão

A presença da insegurança alimentar e nutricional, analisada sob a óptica de diferentes indicadores, está relacionada com a ocorrência da anemia ferropriva em crianças brasileiras menores de 5 anos. As condições de insegurança avaliada segundo os indicadores supracitados indicam a necessidade de investimentos em melhorias das condições de vida, assim como a necessidade de estímulo ao aleitamento materno e introdução adequada da alimentação complementar.

Nesta revisão observou-se que a anemia ferropriva associou-se aos indicadores sociodemográficos e de saúde (sexo masculino, idade inferior aos 24 meses, não frequentar creche, filhos de mães adolescentes, número elevados de moradores no mesmo domicílio, infecções respiratórias, diarreias, baixa escolaridade materna), nutricionais (baixo peso ao nascer, características da dieta, “hábito de ingerir leite próximo dos horários das refeições” e introdução precoce de alimentação complementar) e econômicos (baixa renda per capita) que refletem a determinação social dessa carência.

Para garantia da SAN se faz necessário a adoção de medidas intersetoriais que incidam sobre os múltiplos determinantes envolvidos com esse direito, especialmente aqueles relacionados ao acesso a alimentação adequada e saudável e ao aproveitamento biológico dos alimentos, que diretamente relacionam-se com as carências de micronutrientes, que acometem parcela significativa da população, especialmente as crianças.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2018

Histórico

  • Recebido
    14 Mar 2016
  • Revisado
    11 Jul 2016
  • Aceito
    13 Jul 2016
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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