Estresse e bem-estar no trabalho: uma revisão de literatura

Ana Lucia Teixeira Hirschle Sônia Maria Guedes Gondim Sobre os autores

Resumo

O estudo apresenta evidências empíricas das variáveis pessoais e contextuais protetoras dos efeitos negativos do estresse no bem-estar e na saúde dos trabalhadores. Realizou-se uma revisão sistemática da literatura dos últimos onze anos (2006 a 2016) nas bases de dados de Ebsco, LILACS, SciELO, Google acadêmico, PubMed, e em seis revistas do Annual Reviews. Foram analisados 50 artigos nacionais e internacionais relacionando estresse e bem-estar. Os resultados apontam que os fatores relacionados ao trabalho, os recursos pessoais como resiliência, autoeficácia, competências emocionais, desapego psicológico, a interface trabalho-vida pessoal e os fatores no nível de grupos têm efeitos no bem-estar. A percepção de suporte social de pares e da chefia ao lado da autonomia no trabalho, atenuam o impacto negativo do estresse sobre o bem-estar. Finaliza-se com sugestões de estudos futuros para testar relações entre variáveis ainda pouco exploradas e aprofundar a compreensão das relações entre estresse e bem-estar no trabalho.

Palavras-chave
Estresse Ocupacional; Condições de Trabalho; Satisfação no Trabalho; Revisão

Introdução

O estresse é um dos conceitos mais estudados e mencionados em psicologia, pois se manifesta na vida cotidiana como um fator que pode colocar em risco a saúde psicológica e física das pessoas11 Chen WQ, Wong TW, Yu TS. Influence of occupational stress on mental health among chinese off-shore oil workers. Scand J Public Health 2009; 37(7):766-773.

2 Ford MT, Matthews RA, Wooldridge JD, Mishra V, Kakar UM, Strahan SR. How do occupational stressor-strain effects vary with time? A review and meta-analysis of the relevance of time lags in longitudinal studies. Work Stress 2014; 28(1):9-30.

3 Mihaila T. Perceived stress scale as a predictor of professional behavior and aspects of wellbeing. Rom J Cognitive Behavioral Therapy Hypnosis 2015; 2(2):1-14.
-44 Schaufeli WB, Taris TW. A critical review of the Job Demands-Resources Model: implications for improving work and health. In: Bauer GF, Hämmig O, editores. Bridging occupational, organizational and public health a transdisciplinary approach. Netherlands: Springer; 2014. p. 43-68.. As três principais perspectivas de abordagem do estresse são: i) a que enfatiza as respostas fisiológicas e reações do indivíduo aos estressores; ii) a que busca investigar os fatores estressores no ambiente que provocam danos ao bem-estar e à saúde dos indivíduos; e iii) a psicológica/cognitiva que foca a relação do indivíduo com o meio, ou seja, como a pessoa avalia e percebe o evento estressor55 Lazarus RS, Folkman S. Stress, appraisal and coping. New York: Springer; 1984.. Essa última abordagem é citada pela maior parte dos artigos pesquisados66 Rothmann S, Malan M. Work-related well-being of South African hospital pharmacists. S Afr J Ind Psychol 2011; 37(1):1-11.

7 Sanches EN, Santos JDF. Estresse em docentes universitários da saúde: situações geradoras, sintomas e estratégias de enfrentamento. Psicol Argum 2013; 31(75):615-626.

8 Santos AFO, Cardoso CL. Profissionais de saúde mental: estresse, enfrentamento e qualidade de vida Psicol Teoria Pesq 2010; 26(3):543-548.
-99 Scheibe S, Zacher H. The role of emotion and emotion regulation in job stress and wellbeing. Res Occupational Stress Well-being 2013; 11:163-193..

De acordo com Lazarus1010 Lazarus RS. Stress and emotion: a new synthesis. New York: Springer; 1999., a forma como avaliamos um evento determina como reagimos emocionalmente. Assim, o estresse laboral é influenciado pela percepção que o sujeito tem das demandas no ambiente de trabalho e sua capacidade para enfrentá-las. Em outras palavras, para que o processo de estresse laboral aconteça é necessário que o trabalhador avalie como estressoras a situação e as demandas do ambiente, e se perceba com poucos recursos para enfrentá-las, gerando reações com efeitos negativos em seu bem-estar. Considerando a complexidade do fenômeno do estresse, permeado por uma série de processos psicológicos, sociais e biológicos que envolvem a interação pessoa-ambiente, estudos recentes inspirados pelo movimento da Psicologia Positiva têm procurado compreender como esses processos podem interferir na saúde e bem-estar das pessoas1111 Häusser JA, Mojzisch A, Niesel M, Schulz-Hardt S. Ten years on: A review of recent research on the Job Demand-Control (-Support) model and psychological well-being. Work Stress 2010; 24(1):1-35.

12 Malik S, Noreen S. Perceived Organizational Support as a Moderator of Affective Well-being and Occupational Stress among Teachers. Pak J Commerce Soc Sci 2015; 9(3):865-874.
-1313 Shallcross AJ, Troy A, Mauss IB. Change your feelings or leave them be? (or both?): how best to regulate emotions in the face of stress. In: Scott R, Kosslyn S, editores. Emerging trends in social and behavioral sciences. Hoboken: John Wiley and Sons; 2015. p. 1-24..

O movimento conhecido como Psicologia Positiva1414 Seligman MEP, Csikszentmihalyi M. Positive psychology: an introduction. Am Psychol 2000; 55:5-14. enfatiza os aspectos positivos da experiência humana, e busca compreender as qualidades que ajudam o indivíduo a desenvolver suas potencialidades, manter sua saúde física e psicológica e o bem-estar pessoal. Esse movimento se difundiu também entre os estudiosos das organizações, dando origem a diversas investigações desenvolvidas no contexto de trabalho, enfatizando o papel dos traços, estados afetivos positivos, comportamentos e virtudes que predispõem os indivíduos a vivenciar o bem-estar no trabalho (BET)1515 Ferreira MC. Antecedentes individuais do bem-estar no trabalho sob a ótica da psicologia positiva. In: Ferreira MC, Mendonça H, organizadores. Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2014.. Pode-se dizer que o bem-estar relacionado ao trabalho abrange uma diversidade de experiências que incluem estados afetivos positivos (p. ex., entusiasmo), baixos níveis de estados afetivos negativos (p. ex., ansiedade), boa saúde psicossomática e estados cognitivos como aspirações e julgamentos sobre a satisfação no trabalho1616 Daniels K. Stress and well-being are still issues and something still needs to be done: or why agency and interpretation are important for policy and practice. In: Hodgkinson GP, Ford JK, editores. International review of industrial and organizational psychology. New York: Wiley; 2011. p.1-46..

Além dos fatores estressores originados no trabalho, os recursos pessoais como autoestima e estabilidade emocional, e a interface trabalho-casa parecem influenciar as flutuações nos indicadores de bem-estar1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33.. A experiência de estresse no trabalho tem sido consistentemente associada a resultados negativos para os empregados, medidos por uma gama de indicadores de bem-estar, tanto psicológicos quanto fisiológicos1818 Ganster DC, Rosen CC. Work stress and employee health: a multidisciplinary review. J Management 2013; 20(10):1-38.

19 Lang J, Ochsmann E, Kraus T, Lang JW. Psychosocial work stressors as antecedents of musculoskeletal problems: a systematic review and meta-analysis of stability-adjusted longitudinal studies. Soc Sci Med 2012; 75(7):1163-1174.
-2020 Laranjeira CA. O contexto organizacional e a experiência de estresse: uma perspectiva integrativa. Rev Salud Publica 2009; 11(1):123-133.. Entretanto, esses indivíduos diante de eventos percebidos como estressores reagem diferentemente. Embora muitos estudos concluam haver uma associação negativa entre estresse e bem-estar no trabalho11 Chen WQ, Wong TW, Yu TS. Influence of occupational stress on mental health among chinese off-shore oil workers. Scand J Public Health 2009; 37(7):766-773.,1818 Ganster DC, Rosen CC. Work stress and employee health: a multidisciplinary review. J Management 2013; 20(10):1-38.

19 Lang J, Ochsmann E, Kraus T, Lang JW. Psychosocial work stressors as antecedents of musculoskeletal problems: a systematic review and meta-analysis of stability-adjusted longitudinal studies. Soc Sci Med 2012; 75(7):1163-1174.

20 Laranjeira CA. O contexto organizacional e a experiência de estresse: uma perspectiva integrativa. Rev Salud Publica 2009; 11(1):123-133.

21 Bell A, Rajendran D, Theiler S. Job stress, wellbeing and work-life balance of academics. J Appl Psychol 2012; 8(1):25-37.
-2222 Silva JLL, Santos RSFB, Costa FS, Taveira RPC, Teixeira LR. Estressores na atividade gerencial do enfermeiro: implicações para saúde. Avances Enfermería 2013; 31(2):144-152., tem crescido o número de pesquisas que buscam explicar em que condições os estressores podem não afetar negativamente o BET1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33.,2323 Ilies R, Aw SSY, Pluut H. Intraindividual models of employee well-being: What have we learned and where do we go from here? Eur J Work Organ Psychol 2015; 24(6):827-838.

24 Millán de Lange AC, Garcia-Alvarez DJ, D’Aubeterre Lopez ME. Efecto de la inteligencia emocional y flujo de trabajo sobre estresores y bienestar psicologico: analisis de ruta en docentes. Rev Colombiana Psicol 2014; 23(1):207-228.
-2525 Sonnentag S, Fritz C. Recovery from job stress: the stressor-detachment model as an integrative framework. J Organ Behav 2015; 36(S1):S72-S103.. Ressaltam-se em diversas pesquisas o importante papel da resiliência e das estratégias usadas para controlar e lidar com as próprias emoções (autorregulação emocional) e para enfrentar situações estressantes (coping), podendo ser eficazes para reduzir o estresse e melhorar o bem-estar em diversos contextos2626 Fortes-Ferreira L, Peiró JM, González-Morales MG, Martín I. Work-related stress and well-being: the roles of direct action coping and palliative coping. Scand J Psychol 2006; 47(4):293-302.

27 Karlsen E, Dybdahl R, Vitterso J. The possible benefits of difficulty: how stress can increase and decrease subjective well-being. Scand J Psychol 2006; 47(5):411-417.

28 Kashdan TB, Barrios V, Forsyth JP, Steger MF. Experiential avoidance as a generalized psychological vulnerability: comparisons with coping and emotion regulation strategies. Behav Res Ther 2006; 44(9):1301-1320.

29 Kvillemo P, Bränström R. Coping with Breast Cancer: A Meta-Analysis. PLoS One 2014; 9(11):e112733.
-3030 Troy AS, Mauss IB. Resilience in the face of stress: emotion regulation as a protective factor. In: Southwick SM, Litz BT, Charney D, Friedman MJ, editores. Resilience and Mental Health: Challenges Across the Lifespan. Cambridge: Cambridge University Press; 2011. p. 30-44..

A revisão sistemática apresentada neste artigo procurou explorar e compreender as relações existentes entre estresse e bem-estar no trabalho, buscando encontrar evidências de quais variáveis pessoais e/ou ambientais possuem efeitos protetores para o bem-estar dos trabalhadores, com impactos positivos na sua saúde física, mental e social. O estudo contribui para uma visão geral do estado da arte desse campo de pesquisas, uma avaliação crítica dos resultados obtidos, além de gerar insumos para fundamentar propostas de melhoria do bem-estar no trabalho (BET) e redução do estresse nas organizações. Discute também as implicações teóricas e práticas relevantes a partir dos resultados encontrados e sugerem-se direções para futuras pesquisas no campo.

Procedimentos Metodológicos

Procedimento de coleta e análise de dados

A primeira etapa de busca dos artigos foi realizada no período de junho a julho de 2016, nas seguintes bases de dados: Ebsco, Google acadêmico, LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SciELO (Scientific Electronic Library Online), e PubMed (National Library of Medicine). Foi feita busca também em seis revistas do Annual Reviews (Annual Review of Environment and Resources, Law and Social Science, Neuroscience, Organizational Psychology, Psychology, Public Health). As bases foram escolhidas por abrangerem grande e diversificado volume de publicações científicas representativas dos diversos campos de conhecimento, haja vista o estresse ser um construto bastante estudado. Os Annual Reviews são publicações dedicadas a artigos de revisão de literatura, o que permitiria identificar a evolução dos achados sobre estresse, bem-estar e trabalho. Para a busca dos artigos foram utilizadas as palavras-chave: “stress”, “wellbeing”, “job”, e “work” no idioma Inglês, visando abarcar a literatura nacional e internacional. As bases de dados foram configuradas para buscar as palavras nos campos “título”, “resumo” e “palavras-chave”. Foi utilizado o operador boleano “and” visando induzir que as palavras selecionadas constassem nos referidos campos. Determinou-se que as bases apresentassem os artigos publicados a partir de 2006 até 2016, abarcando os últimos 11 anos, período que se intensificaram os estudos sobre o bem-estar no contexto de trabalho impulsionados pelo movimento da Psicologia Positiva. Na base do Pubmed, especificamente, foram selecionados apenas os artigos de revisão e meta-análise, a fim de filtrar a primeira busca que resultou em 3.996 títulos. Mediante estes procedimentos, obteve-se um total de 675 referências.

Na segunda etapa foram lidos os títulos e resumos desses trabalhos, excluindo os que não correspondiam ao objetivo geral desta revisão, bem como teses, livros e editoriais, permanecendo então 134. Na terceira etapa, durante o processo de leitura mais acurada desses artigos foram descartados 81 deles, considerando os seguintes critérios de exclusão: (a) tipo de estudo: artigos teóricos; (b) foco do estudo: aqueles que tratavam unicamente sobre a síndrome de burnout (antecedentes, preditores e prevalência), sobre o efeito reverso entre estressor e bem-estar/tensão, os de validação de instrumentos ou avaliação de programas de intervenção para redução do estresse; (c) medição: artigos em que o bem-estar era medido apenas pela satisfação no trabalho; (d) tipo de amostra: constituídas por estudantes universitários, idosos, ou jovens não inseridos no mercado de trabalho. Na etapa final foram selecionados 50 artigos que preencheram os seguintes critérios de inclusão: (a) tipo do estudo: artigos científicos empíricos, de revisão ou meta-análise; (b) ano de publicação: entre 2006 e 2016; (c) foco do estudo: tratavam das relações entre estressores/estresse e bem-estar no trabalho/de trabalhadores, incluindo ou não variáveis moderadoras e mediadoras; (d) medição: avaliavam ou mensuravam o estresse e/ou fatores estressores no trabalho e aspectos positivos e negativos do bem-estar/saúde (físicos, psicológicos, sociais, no trabalho, entre outros); (e) tipo de amostra: trabalhadores de diversas categorias; (f) idiomas da publicação: português, inglês ou espanhol. A Figura 1 ilustra esses procedimentos realizados para a seleção do material.

Figura 1
Etapas do processo de seleção dos artigos.

Para a sistematização e análise do material foram lidos na íntegra todos os artigos que contemplaram os critérios de inclusão e posteriormente feitas as sínteses das suas principais informações, tais como autoria, ano de publicação, delineamento metodológico, foco do estudo, variáveis estudadas (variável independente-VI, variável dependente-VD, variáveis moderadoras e mediadoras) e conclusões (correlações entre variáveis, principais preditores, etc.). Variáveis preditoras são aquelas capazes de predizer efeitos em outra variável, enquanto as variáveis moderadoras são aquelas que podem afetar a direção e a força da relação entre a VI ou antecedente e a VD ou variável consequente. A variável mediadora é aquela que quando introduzida no modelo, faz com que a relação entre uma VI e uma VD deixe de ser significativa, pois a relação entre elas é melhor explicada pela mediadora3131 Mendonça H, Ferreira MC, Porto J, Zanini DS. Saúde, qualidade de vida e bem-estar: limites e interfaces teórico-metodológicas. In: Ferreira MC, Mendonça H, organizadores. Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2012.. Os dados foram reunidos em quadros, separando os estudos de revisão/meta-análise dos estudos empíricos. Foram também resumidas e integradas as sugestões dos estudos em geral, no que tange às pesquisas futuras e aplicabilidade dos resultados nas organizações.

Resultados

Os artigos analisados estão apresentados em quatro quadros, a fim de facilitar a visualização e a compreensão dos dados. Os Quadros 1 e 2 apresentam um resumo dos artigos de revisão e de meta-análise (autoria/ano de publicação; tipo de revisão e amostra; VI e VD; outras variáveis; e conclusões). O Quadro 1 reúne onze estudos publicados entre 2011 e 2016, e o Quadro 2 apresenta quatro estudos publicados entre 2006 e 2010, totalizando quinze (15). Os Quadros 3 e 4 apresentam a síntese dos artigos empíricos (autoria/ano de publicação; tipo de pesquisa e participantes; foco do estudo; e conclusões). O Quadro 3 reúne dezenove estudos publicados entre 2011 e 2016, e o Quadro 4 apresenta dezesseis estudos entre 2006 e 2010, totalizando trinta e cinco (35). Nas conclusões destacam-se os principais preditores positivos e negativos de bem-estar no trabalho (BET), os moderadores ambientais e individuais, os mediadores, os preditores positivos da tensão, dos sintomas físicos e psicológicos e dos problemas na saúde. Os estudos estão dispostos por ordem decrescente do ano de publicação, iniciando com os mais recentes, organizados pela ordem alfabética dos autores.

Quadro 1
Resumo dos estudos de revisão e meta-análise (publicados entre 2011 e 2016).
Quadro 2
Resumo dos estudos de revisão e meta-análise (publicados entre 2006 e 2010)
Quadro 3
Resumo dos estudos empíricos (publicados entre 2011 e 2016).
Quadro 4
Resumo dos estudos empíricos (publicados entre 2006 e 2010).

Considerando a totalidade dos artigos selecionados, observa-se que dos estudos de revisão e meta-análise (Quadros 1 e 2) onze foram publicados entre os anos de 2011 e 2016 (73,3%), e apenas quatro são referentes ao período anterior (2006 a 2010), indicando um aumento considerável na produção científica nos últimos cinco anos. Quanto aos estudos empíricos (Quadros 3 e 4), dezenove aparecem nesse período mais recente (54,3%).

Quanto à localização geográfica onde os estudos empíricos foram realizados, oito eram do Brasil e o restante de outros países: Portugal (3), África do Sul (3), dois ou mais países (3), Austrália (2), Irã (2), Argentina (1), Chile (1), China (1), Espanha (1), EUA (1), Japão (1), Noruega (1), Países Baixos (1), Paquistão (1), Reino Unido (1), Suíça (1), Taiwan (1), Turquia (1), Venezuela (1). Os participantes desses estudos eram trabalhadores de diversos setores, incluindo principalmente profissionais da saúde (45%), docentes (20%), trabalhadores em geral (11%) e outros (24%): servidores públicos, militares, bancários e profissionais da Indústria. Sobre os estudos de revisão e meta-análise, a procedência é bastante diversificada uma vez que contemplam muitos estudos de diferentes países, sendo a maior parte das amostras de trabalhadores em geral (80%). Dois estudos foram realizados com profissionais da saúde (13,3%) e apenas um com empregados da Indústria (6,7%).

Quanto ao método, os Quadros 3 e 4 indicam de modo claro a prevalência de abordagem quantitativa mediante uso de escalas de autorrelato nas pesquisas empíricas, correspondendo a 82,8% (N = 29). Foram encontrados apenas seis estudos qualitativos. Observa-se uma diferença significativa com relação à inclusão de moderadores e mediadores, sendo contemplados em 60% dos estudos de revisão e meta-análise e em apenas 31% dos estudos empíricos quantitativos.

Estudos de Revisão e Meta-análise: preditores

Destacam-se como principais preditores negativos de bem-estar no trabalho (BET) os estressores e a falta de recursos no trabalho: pressão e sobrecarga1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33.,2222 Silva JLL, Santos RSFB, Costa FS, Taveira RPC, Teixeira LR. Estressores na atividade gerencial do enfermeiro: implicações para saúde. Avances Enfermería 2013; 31(2):144-152.,2323 Ilies R, Aw SSY, Pluut H. Intraindividual models of employee well-being: What have we learned and where do we go from here? Eur J Work Organ Psychol 2015; 24(6):827-838.,2525 Sonnentag S, Fritz C. Recovery from job stress: the stressor-detachment model as an integrative framework. J Organ Behav 2015; 36(S1):S72-S103., altas demandas e baixo controle1818 Ganster DC, Rosen CC. Work stress and employee health: a multidisciplinary review. J Management 2013; 20(10):1-38.,2020 Laranjeira CA. O contexto organizacional e a experiência de estresse: uma perspectiva integrativa. Rev Salud Publica 2009; 11(1):123-133., a monotonia e o baixo poder de decisão2020 Laranjeira CA. O contexto organizacional e a experiência de estresse: uma perspectiva integrativa. Rev Salud Publica 2009; 11(1):123-133., as interações sociais negativas e a falta de apoio social1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33.,2020 Laranjeira CA. O contexto organizacional e a experiência de estresse: uma perspectiva integrativa. Rev Salud Publica 2009; 11(1):123-133., e os eventos afetivos negativos no trabalho2323 Ilies R, Aw SSY, Pluut H. Intraindividual models of employee well-being: What have we learned and where do we go from here? Eur J Work Organ Psychol 2015; 24(6):827-838.. Foram citados em menor número os fatores individuais como o baixo desapego psicológico nos períodos de folga2525 Sonnentag S, Fritz C. Recovery from job stress: the stressor-detachment model as an integrative framework. J Organ Behav 2015; 36(S1):S72-S103., as emoções negativas e a regulação emocional (RE) disfuncional3232 Lawrence SA, Troth AC, Jordan PJ, Collins AL. A review of emotion regulation and development of a framework for emotion regulation in the workplace. In: Perrewé PL, Ganster DC, editores. Research in Occupational Stress and Well-being. Bingley: Emerald; 2011. p. 197-263.; e o conflito trabalho-família1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33.,2323 Ilies R, Aw SSY, Pluut H. Intraindividual models of employee well-being: What have we learned and where do we go from here? Eur J Work Organ Psychol 2015; 24(6):827-838..

Como preditores positivos de BET ressaltam-se os recursos pessoais como a autoestima, o coping ativo, o otimismo e a autoeficácia1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33., o comprometimento afetivo no trabalho3333 Meyer JP, Maltin ER. Employee commitment and well-being: a critical review, theoretical framework and research agenda. J Vocat Behav 2010; 77(2):323-337., a experiência de emoções positivas e a RE funcional3232 Lawrence SA, Troth AC, Jordan PJ, Collins AL. A review of emotion regulation and development of a framework for emotion regulation in the workplace. In: Perrewé PL, Ganster DC, editores. Research in Occupational Stress and Well-being. Bingley: Emerald; 2011. p. 197-263.. Foram apontados os recursos no trabalho44 Schaufeli WB, Taris TW. A critical review of the Job Demands-Resources Model: implications for improving work and health. In: Bauer GF, Hämmig O, editores. Bridging occupational, organizational and public health a transdisciplinary approach. Netherlands: Springer; 2014. p. 43-68., que se referem aos aspectos físicos, psicológicos, sociais ou organizacionais do ambiente de trabalho que visam o alcance de metas e a redução de custos psicológicos, como o apoio social no trabalho1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33. e os eventos afetivos positivos no trabalho2323 Ilies R, Aw SSY, Pluut H. Intraindividual models of employee well-being: What have we learned and where do we go from here? Eur J Work Organ Psychol 2015; 24(6):827-838.. Os fatores grupais como a coesão social e eficácia coletiva foram citados em apenas um estudo2020 Laranjeira CA. O contexto organizacional e a experiência de estresse: uma perspectiva integrativa. Rev Salud Publica 2009; 11(1):123-133..

Como preditores da tensão, sintomas e transtornos físicos/psicológicos, salientam-se os estressores crônicos, como as altas demandas, a falta de recursos e apoio social2020 Laranjeira CA. O contexto organizacional e a experiência de estresse: uma perspectiva integrativa. Rev Salud Publica 2009; 11(1):123-133.,3232 Lawrence SA, Troth AC, Jordan PJ, Collins AL. A review of emotion regulation and development of a framework for emotion regulation in the workplace. In: Perrewé PL, Ganster DC, editores. Research in Occupational Stress and Well-being. Bingley: Emerald; 2011. p. 197-263.,3434 Nieuwenhuijsen K, Bruinvels D, Frings-Dresen M. Psychosocial work environment and stress-related disorders, a systematic review. Occup Med (Lond) 2010; 60(4):277-286. e o baixo desapego psicológico do trabalho11 Chen WQ, Wong TW, Yu TS. Influence of occupational stress on mental health among chinese off-shore oil workers. Scand J Public Health 2009; 37(7):766-773. (Quadro 1).

Estudos de Revisão e Meta-análise: moderadores

Merecem destaque os moderadores ambientais e individuais que amenizam o impacto negativo dos estressores no bem-estar dos trabalhadores. Os principais moderadores do ambiente são os recursos no trabalho como controle e suporte social no trabalho1111 Häusser JA, Mojzisch A, Niesel M, Schulz-Hardt S. Ten years on: A review of recent research on the Job Demand-Control (-Support) model and psychological well-being. Work Stress 2010; 24(1):1-35.,1818 Ganster DC, Rosen CC. Work stress and employee health: a multidisciplinary review. J Management 2013; 20(10):1-38.,2323 Ilies R, Aw SSY, Pluut H. Intraindividual models of employee well-being: What have we learned and where do we go from here? Eur J Work Organ Psychol 2015; 24(6):827-838., os eventos positivos no trabalho, a autonomia do trabalhador, a percepção de suporte organizacional e o clima de segurança1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33..

Já os recursos pessoais, além de reduzirem a repercussão negativa dos estressores aumentam o efeito positivo dos recursos organizacionais no bem-estar no trabalho (BET)44 Schaufeli WB, Taris TW. A critical review of the Job Demands-Resources Model: implications for improving work and health. In: Bauer GF, Hämmig O, editores. Bridging occupational, organizational and public health a transdisciplinary approach. Netherlands: Springer; 2014. p. 43-68.. São eles: a estabilidade emocional e as estratégias de autorregulação1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33., a inteligência emocional (IE)3232 Lawrence SA, Troth AC, Jordan PJ, Collins AL. A review of emotion regulation and development of a framework for emotion regulation in the workplace. In: Perrewé PL, Ganster DC, editores. Research in Occupational Stress and Well-being. Bingley: Emerald; 2011. p. 197-263., o maior desapego psicológico2525 Sonnentag S, Fritz C. Recovery from job stress: the stressor-detachment model as an integrative framework. J Organ Behav 2015; 36(S1):S72-S103. e a idade. Adultos idosos são mais efetivos em evitar e regular os afetos negativos resultantes de eventos no trabalho, diminuindo a tensão99 Scheibe S, Zacher H. The role of emotion and emotion regulation in job stress and wellbeing. Res Occupational Stress Well-being 2013; 11:163-193. (Quadro 2).

Estudos Empíricos: preditores

Como preditores negativos que prejudicam o bem-estar no trabalho (BET) aqui também se observam principalmente os estressores e a falta de recursos no trabalho: os riscos ocupacionais psicossociais3535 Caran VCS, Freitas FCTD, Alves LA, Pedrão LJ, Robazzi MLDCC. Riscos ocupacionais psicossociais e sua repercussão na saúde de docentes universitários. Rev Enferm UERJ 2011; 19(2):255-261., o estresse percebido no trabalho22 Ford MT, Matthews RA, Wooldridge JD, Mishra V, Kakar UM, Strahan SR. How do occupational stressor-strain effects vary with time? A review and meta-analysis of the relevance of time lags in longitudinal studies. Work Stress 2014; 28(1):9-30., o estresse ocupacional11 Chen WQ, Wong TW, Yu TS. Influence of occupational stress on mental health among chinese off-shore oil workers. Scand J Public Health 2009; 37(7):766-773., o estresse de ameaça psicológica2121 Bell A, Rajendran D, Theiler S. Job stress, wellbeing and work-life balance of academics. J Appl Psychol 2012; 8(1):25-37.,3636 Bell A, Rajendran D, Theiler S. Spirituality at Work: An Employee Stress Intervention for Academics? Int J Business Soc Sci 2012; 3(11):68-82., altas demandas e falta de recursos66 Rothmann S, Malan M. Work-related well-being of South African hospital pharmacists. S Afr J Ind Psychol 2011; 37(1):1-11., as tarefas ilegítimas3737 Semmer NK, Jacobshagen N, Meier LL, Elfering A, Beehr TA, Kälin W, Tschan F. Illegitimate tasks as a source of work stress. Work Stress 2015; 29(1):32-56. (vistas como desnecessárias), e a falta de suporte social3838 Wadsworth EJK, Chaplin KS, Smith AP. The work environment, stress and well-being. Occup Med (Lond) 2010; 60(8):635-639.. O menor suporte gerencial foi associado ao maior risco para saúde mental no estudo de Chen et al.11 Chen WQ, Wong TW, Yu TS. Influence of occupational stress on mental health among chinese off-shore oil workers. Scand J Public Health 2009; 37(7):766-773.. Fatores relacionados ao afeto e sua regulação foram apontados em menor número, como as emoções destrutivas3939 Rahimnia F, Mazidi A, Mohammadzadeh Z. Emotional mediators of psychological capital on well-being: the role of stress, anxiety, and depression. Management Sci Letters 2013; 3(3):913-926., as estratégias de enfrentamento ao estresse desadaptativas4040 Paris L, Omar A. Predictores de satisfacción laboral en médicos y enfermeros. Estud Psicol 2008; 13(3):233-244. e o coping de esquiva66 Rothmann S, Malan M. Work-related well-being of South African hospital pharmacists. S Afr J Ind Psychol 2011; 37(1):1-11. (evitação).

Destacam-se como preditores positivos de BET os recursos pessoais como o alto capital psicológico (autoeficácia, otimismo e resiliência) e as emoções construtivas3939 Rahimnia F, Mazidi A, Mohammadzadeh Z. Emotional mediators of psychological capital on well-being: the role of stress, anxiety, and depression. Management Sci Letters 2013; 3(3):913-926., as competências emocionais4141 Kinman G, Grant L. Exploring Stress Resilience in Trainee Social Workers: The Role of Emotional and Social Competencies. Br J Soc Work 2011; 41(2):261-275., a maior consciência e gestão das emoções4242 Carvalho CMSD, Barata EMMA, Parreira PMSD, Oliveira DC. Trabalho emocional e gestão de emoções em equipes de saúde oncológicas: um estudo qualitativo. Rev Enferm UERJ 2014; 22(1):9-15., a inteligência emocional e a disposição para fluir no trabalho2424 Millán de Lange AC, Garcia-Alvarez DJ, D’Aubeterre Lopez ME. Efecto de la inteligencia emocional y flujo de trabajo sobre estresores y bienestar psicologico: analisis de ruta en docentes. Rev Colombiana Psicol 2014; 23(1):207-228., além das estratégias de coping proativo e focado no problema66 Rothmann S, Malan M. Work-related well-being of South African hospital pharmacists. S Afr J Ind Psychol 2011; 37(1):1-11.,2626 Fortes-Ferreira L, Peiró JM, González-Morales MG, Martín I. Work-related stress and well-being: the roles of direct action coping and palliative coping. Scand J Psychol 2006; 47(4):293-302.,4040 Paris L, Omar A. Predictores de satisfacción laboral en médicos y enfermeros. Estud Psicol 2008; 13(3):233-244.,4343 Afonso JMP, Gomes AR. Stress Ocupacional em Profissionais de Segurança Pública: um estudo com militares da Guarda Nacional Republicana. Psicol Reflexão Crítica 2009; 22(2):294-303.

44 Gomes SDFS, Santos MMMCC, Carolino, ETDMA. Psycho-social risks at work: stress and coping strategies in oncology nurses. Rev Lat Am Enferm 2013; 21(6):1282-1289.
-4545 Shimazu A, Schaufeli WB. Does distraction facilitate problem-focused coping with job stress? A one year longitudinal study. J Behav Med 2007; 30(5):423-434.. Os recursos de trabalho como suporte organizacional, crescimento e oportunidades de carreira se mostraram promotores de BET na pesquisa de Jackson et al.4646 Jackson LT, Rothmann S, Van de Vijver FJ. A model of work related wellbeing for educators in South Africa. Stress Health 2006; 22(4):263-274..

Os principais preditores de mal-estar, tensão, estresse psicológico e outros transtornos físicos e psicológicos foram: os fatores de riscos psicossociais no trabalho, ou seja, características e condições do trabalho que funcionam como estressores3535 Caran VCS, Freitas FCTD, Alves LA, Pedrão LJ, Robazzi MLDCC. Riscos ocupacionais psicossociais e sua repercussão na saúde de docentes universitários. Rev Enferm UERJ 2011; 19(2):255-261.,4747 Mosadeghrad AM, Ferlie E, Rosenberg D. A study of relationship between job stress, quality of working life and turnover intention among hospital employees. Health Serv Manage Res 2011; 24(4):170-181.,4848 Serafim ADC, Campos ICM, Cruz RM, Rabuske MM. Riscos Psicossociais e Incapacidade do Servidor Público: Um Estudo de Caso. Psicol Cien Prof 2012; 32(3):686-705., e dentre esses ressaltam-se as tarefas ilegítimas3737 Semmer NK, Jacobshagen N, Meier LL, Elfering A, Beehr TA, Kälin W, Tschan F. Illegitimate tasks as a source of work stress. Work Stress 2015; 29(1):32-56., o estresse de ameaça2121 Bell A, Rajendran D, Theiler S. Job stress, wellbeing and work-life balance of academics. J Appl Psychol 2012; 8(1):25-37., a pressão de tempo e prazos, a sobrecarga de trabalho, e as altas demandas e baixos recursos77 Sanches EN, Santos JDF. Estresse em docentes universitários da saúde: situações geradoras, sintomas e estratégias de enfrentamento. Psicol Argum 2013; 31(75):615-626.,4949 Fonseca AM, Soares E. Desgaste emocional: depoimentos de enfermeiros que atuam no ambiente hospitalar. RENE Fortaleza 2006; 7(1):91-97.,5050 Gelsema TI, Van der Doef M, Maes S, Janssen M, Akerboom S, Verhoeven C. A longitudinal study of job stress in the nursing profession: causes and consequences. J Nurs Manag 2006; 14(4):289-299.. As consequências da constante exposição aos estressores podem ser danosas ao bem-estar, prejudicando a saúde dos trabalhadores77 Sanches EN, Santos JDF. Estresse em docentes universitários da saúde: situações geradoras, sintomas e estratégias de enfrentamento. Psicol Argum 2013; 31(75):615-626.,3535 Caran VCS, Freitas FCTD, Alves LA, Pedrão LJ, Robazzi MLDCC. Riscos ocupacionais psicossociais e sua repercussão na saúde de docentes universitários. Rev Enferm UERJ 2011; 19(2):255-261.,4949 Fonseca AM, Soares E. Desgaste emocional: depoimentos de enfermeiros que atuam no ambiente hospitalar. RENE Fortaleza 2006; 7(1):91-97.,5151 Sadir MA, Bignotto MM, Lipp MEN. Stress e qualidade de vida: influência de algumas variáveis pessoais. Paideia 2010; 20(45):73-81. (Quadro 3).

Estudos Empíricos: moderadores e mediadores

Alguns autores investigaram os fatores protetores de estresse (moderadores), ou seja, aquelas características pessoais ou do ambiente, ou a percepção que se tem sobre eles, capazes de diminuir os efeitos negativos que o processo de estresse pode ter sobre a saúde e bem-estar, sendo eles: funções bem definidas, chefia comprometida com a tarefa e com os empregados, possibilidade de romper a rotina, qualidade dos recursos, trabalho em equipe, ambiente agradável com boas relações interpessoais5252 Astudillo Díaz PR, Alarcón Muñoz AM, Lema García ML. Protectores de estrés laboral: percepción del personal de enfermería y médicos, Temuco, Chile. Cien Enfermería 2009; 15(3):111-122.; a resiliência e suporte do supervisor/colegas5353 McCalister KT, Dolbier CL, Webster J, Mallon MW, Steinhardt MA. Hardiness and support at work as predictors of work stress and job satisfaction. Am J Health Promot 2006; 20(3):183-191. e o uso das estratégias de reavaliação cognitiva na interação com colegas de trabalho5454 Niven K, Sprigg CA, Armitage CJ. Does emotion regulation protect employees from the negative effects of workplace aggression? Eur J Work Organ Psychol 2013; 22(1):88-106.. As competências emocionais tiveram tanto um papel protetor de estresse como preditor de resiliência e bem-estar psicológico4141 Kinman G, Grant L. Exploring Stress Resilience in Trainee Social Workers: The Role of Emotional and Social Competencies. Br J Soc Work 2011; 41(2):261-275.. Por outro lado, houve moderadores que exacerbaram o efeito dos estressores no bem-estar, como a baixa percepção de suporte organizacional1212 Malik S, Noreen S. Perceived Organizational Support as a Moderator of Affective Well-being and Occupational Stress among Teachers. Pak J Commerce Soc Sci 2015; 9(3):865-874., as estratégias de regulação emocional (RE) quando usadas na interação com pessoas de fora da organização, voltadas a atender regras de expressão ocupacionais ou organizacionais (trabalho emocional)5454 Niven K, Sprigg CA, Armitage CJ. Does emotion regulation protect employees from the negative effects of workplace aggression? Eur J Work Organ Psychol 2013; 22(1):88-106. e o coping paliativo ou de esquiva2626 Fortes-Ferreira L, Peiró JM, González-Morales MG, Martín I. Work-related stress and well-being: the roles of direct action coping and palliative coping. Scand J Psychol 2006; 47(4):293-302..

A investigação dos mediadores foi encontrada em três estudos. O primeiro é o de Jackson et al.4646 Jackson LT, Rothmann S, Van de Vijver FJ. A model of work related wellbeing for educators in South Africa. Stress Health 2006; 22(4):263-274. que testou e confirmou a mediação do burnout na relação entre as demandas de trabalho e problemas de saúde e a mediação do engajamento no trabalho na relação entre recursos e comprometimento no trabalho. O estudo de Karlsen et al.2727 Karlsen E, Dybdahl R, Vitterso J. The possible benefits of difficulty: how stress can increase and decrease subjective well-being. Scand J Psychol 2006; 47(5):411-417. concluiu que o efeito do estresse sobre o bem-estar foi mediado positivamente por um processo de coping focado no problema, associado a um componente de crescimento, levando à melhoria do bem-estar subjetivo (BES) e, por outro lado, o estresse foi mediado negativamente por um processo de coping de esquiva e um componente de distresse, levando à piora do BES. No estudo de Kinman e Grant4141 Kinman G, Grant L. Exploring Stress Resilience in Trainee Social Workers: The Role of Emotional and Social Competencies. Br J Soc Work 2011; 41(2):261-275. a resiliência mediou a relação entre inteligência emocional (IE) e bem-estar psicológico (BEP). Sem imputar causalidade, sugerem que a IE tem um efeito indireto sobre o BEP pela via da resiliência (Quadro 4).

Discussão

A análise dos dados revela distinção na maneira como o BET é abordado. Alguns estudos abordam o BET em uma combinação de aspectos positivos e negativos66 Rothmann S, Malan M. Work-related well-being of South African hospital pharmacists. S Afr J Ind Psychol 2011; 37(1):1-11.,2323 Ilies R, Aw SSY, Pluut H. Intraindividual models of employee well-being: What have we learned and where do we go from here? Eur J Work Organ Psychol 2015; 24(6):827-838.,5555 Narainsamy K, Van Der Westhuizen S. Work related well-being: burnout, work engagement, occupational stress and job satisfaction within a medical laboratory setting. J Psychol Afr 2013; 23(3):467-474.. Outros diferenciam o BET positivo e o mal-estar/tensão (faceta negativa do BET) adotando medidas em separado44 Schaufeli WB, Taris TW. A critical review of the Job Demands-Resources Model: implications for improving work and health. In: Bauer GF, Hämmig O, editores. Bridging occupational, organizational and public health a transdisciplinary approach. Netherlands: Springer; 2014. p. 43-68.,3636 Bell A, Rajendran D, Theiler S. Spirituality at Work: An Employee Stress Intervention for Academics? Int J Business Soc Sci 2012; 3(11):68-82.. Os instrumentos de mensuração abordaram aspectos positivos como o bem-estar psicológico (BEP), o afetivo (BEA) e o subjetivo (BES); a saúde mental e física; o engajamento no trabalho; a satisfação com a vida e trabalho; e a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). Os aspectos negativos foram abordados medindo-se o estresse psicológico, tensão, os sintomas/transtornos físicos e psicológicos e o burnout. Essa variedade sinaliza haver amplitude do conceito/modelos propostos de bem-estar relacionada à complexidade do fenômeno.

Observa-se que devido à grande diversidade de estudos, algumas variáveis tiveram diferentes papéis nos modelos testados, mostrando-se ora como preditores ora moderadores positivos ou negativos de bem-estar, ampliando a compreensão da dinâmica desse construto. A falta de suporte social dos pares e chefia foi preditor negativo de BET1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33.,2020 Laranjeira CA. O contexto organizacional e a experiência de estresse: uma perspectiva integrativa. Rev Salud Publica 2009; 11(1):123-133. e a sua presença foi preditora positiva de BET1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33., exercendo também papel moderador no estudo de McCalister et al.5353 McCalister KT, Dolbier CL, Webster J, Mallon MW, Steinhardt MA. Hardiness and support at work as predictors of work stress and job satisfaction. Am J Health Promot 2006; 20(3):183-191. ao amenizar o efeito negativo dos estressores. Em síntese, a falta de suporte social teve maior impacto negativo no bem-estar do que a sua presença contribuiu para o bem-estar4444 Gomes SDFS, Santos MMMCC, Carolino, ETDMA. Psycho-social risks at work: stress and coping strategies in oncology nurses. Rev Lat Am Enferm 2013; 21(6):1282-1289.. No estudo de Lee et al.5656 Lee WL, Tsai SH, Tsai CW, Lee CY. A study on work stress, stress coping strategies and health promoting lifestyle among district hospital nurses in Taiwan. J Occup Health 2011; 53(5):377-383., a busca por suporte social utilizada como estratégia de coping foi associada ao menor estresse e estilo de vida mais saudável, mostrando a importância desse fator para os empregados. A percepção de suporte organizacional, por sua vez, minimizou o efeito dos estressores no BET1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33., enquanto que a baixa percepção desse suporte teve efeito inverso, com impacto negativo no bem-estar1212 Malik S, Noreen S. Perceived Organizational Support as a Moderator of Affective Well-being and Occupational Stress among Teachers. Pak J Commerce Soc Sci 2015; 9(3):865-874..

As estratégias de regulação emocional (RE) funcional e as competências emocionais foram preditores positivos de bem-estar3232 Lawrence SA, Troth AC, Jordan PJ, Collins AL. A review of emotion regulation and development of a framework for emotion regulation in the workplace. In: Perrewé PL, Ganster DC, editores. Research in Occupational Stress and Well-being. Bingley: Emerald; 2011. p. 197-263.,4141 Kinman G, Grant L. Exploring Stress Resilience in Trainee Social Workers: The Role of Emotional and Social Competencies. Br J Soc Work 2011; 41(2):261-275., bem como protetores de estresse nos estudos de Sonnentag1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33. e Kinman e Grant4141 Kinman G, Grant L. Exploring Stress Resilience in Trainee Social Workers: The Role of Emotional and Social Competencies. Br J Soc Work 2011; 41(2):261-275.. Além disso, o bem-estar afetivo, foi associado a menores níveis de estresse, depressão e ansiedade, no estudo de Uncu et al.5757 Uncu Y, Bayram N, Bilgel N. Job related affective well-being among primary health care physicians. Eur J Public Health 2007; 17(5):514-519.. Em alguns estudos, apesar de não terem sido testados moderadores, determinados fatores podem ter atuado reduzindo os efeitos do estresse. É o caso do estudo de Goto et al.5858 Goto AK, Souza MTS, Lima Jr. JV. Um estudo sobre o estresse em profissionais da área de logística da indústria automobilística. Psicol Política 2009; 9(18):291-311. em que os trabalhadores tiveram uma boa percepção de bem-estar (satisfação com a vida e trabalho), apesar de diversos estressores presentes. Pode-se supor que as estratégias utilizadas para enfrentá-los tenham sido eficazes. Na pesquisa de Bragard et al.5959 Bragard I, Dupuis G, Fleet R. Quality of work life, burnout, and stress in emergency department physicians: a qualitative review. Eur J Emerg Med 2015; 22(4):227-234. houve alta satisfação laboral associada à percepção positiva do próprio trabalho, embora os empregados relatassem muitos estressores e burnout.

É possível notar que os fatores do trabalho (p. ex., estressores, falta de recursos, dificuldades nas relações) foram mais consolidados como preditores negativos que prejudicam o BET11 Chen WQ, Wong TW, Yu TS. Influence of occupational stress on mental health among chinese off-shore oil workers. Scand J Public Health 2009; 37(7):766-773.,33 Mihaila T. Perceived stress scale as a predictor of professional behavior and aspects of wellbeing. Rom J Cognitive Behavioral Therapy Hypnosis 2015; 2(2):1-14.,66 Rothmann S, Malan M. Work-related well-being of South African hospital pharmacists. S Afr J Ind Psychol 2011; 37(1):1-11.,1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33.,1818 Ganster DC, Rosen CC. Work stress and employee health: a multidisciplinary review. J Management 2013; 20(10):1-38.,2121 Bell A, Rajendran D, Theiler S. Job stress, wellbeing and work-life balance of academics. J Appl Psychol 2012; 8(1):25-37.

22 Silva JLL, Santos RSFB, Costa FS, Taveira RPC, Teixeira LR. Estressores na atividade gerencial do enfermeiro: implicações para saúde. Avances Enfermería 2013; 31(2):144-152.
-2323 Ilies R, Aw SSY, Pluut H. Intraindividual models of employee well-being: What have we learned and where do we go from here? Eur J Work Organ Psychol 2015; 24(6):827-838.,2525 Sonnentag S, Fritz C. Recovery from job stress: the stressor-detachment model as an integrative framework. J Organ Behav 2015; 36(S1):S72-S103.,3535 Caran VCS, Freitas FCTD, Alves LA, Pedrão LJ, Robazzi MLDCC. Riscos ocupacionais psicossociais e sua repercussão na saúde de docentes universitários. Rev Enferm UERJ 2011; 19(2):255-261.

36 Bell A, Rajendran D, Theiler S. Spirituality at Work: An Employee Stress Intervention for Academics? Int J Business Soc Sci 2012; 3(11):68-82.

37 Semmer NK, Jacobshagen N, Meier LL, Elfering A, Beehr TA, Kälin W, Tschan F. Illegitimate tasks as a source of work stress. Work Stress 2015; 29(1):32-56.
-3838 Wadsworth EJK, Chaplin KS, Smith AP. The work environment, stress and well-being. Occup Med (Lond) 2010; 60(8):635-639., enquanto os recursos pessoais (p. ex., autoeficácia, regulação emocional) como preditores positivos de BET66 Rothmann S, Malan M. Work-related well-being of South African hospital pharmacists. S Afr J Ind Psychol 2011; 37(1):1-11.,1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33.,2424 Millán de Lange AC, Garcia-Alvarez DJ, D’Aubeterre Lopez ME. Efecto de la inteligencia emocional y flujo de trabajo sobre estresores y bienestar psicologico: analisis de ruta en docentes. Rev Colombiana Psicol 2014; 23(1):207-228.,3232 Lawrence SA, Troth AC, Jordan PJ, Collins AL. A review of emotion regulation and development of a framework for emotion regulation in the workplace. In: Perrewé PL, Ganster DC, editores. Research in Occupational Stress and Well-being. Bingley: Emerald; 2011. p. 197-263.,3333 Meyer JP, Maltin ER. Employee commitment and well-being: a critical review, theoretical framework and research agenda. J Vocat Behav 2010; 77(2):323-337.,3939 Rahimnia F, Mazidi A, Mohammadzadeh Z. Emotional mediators of psychological capital on well-being: the role of stress, anxiety, and depression. Management Sci Letters 2013; 3(3):913-926.

40 Paris L, Omar A. Predictores de satisfacción laboral en médicos y enfermeros. Estud Psicol 2008; 13(3):233-244.

41 Kinman G, Grant L. Exploring Stress Resilience in Trainee Social Workers: The Role of Emotional and Social Competencies. Br J Soc Work 2011; 41(2):261-275.

42 Carvalho CMSD, Barata EMMA, Parreira PMSD, Oliveira DC. Trabalho emocional e gestão de emoções em equipes de saúde oncológicas: um estudo qualitativo. Rev Enferm UERJ 2014; 22(1):9-15.

43 Afonso JMP, Gomes AR. Stress Ocupacional em Profissionais de Segurança Pública: um estudo com militares da Guarda Nacional Republicana. Psicol Reflexão Crítica 2009; 22(2):294-303.
-4444 Gomes SDFS, Santos MMMCC, Carolino, ETDMA. Psycho-social risks at work: stress and coping strategies in oncology nurses. Rev Lat Am Enferm 2013; 21(6):1282-1289.. De acordo com a revisão de Sonnentag1717 Sonnentag S. Dynamics of Well-Being. Annu Rev Organ Psychol Organ Behav 2015; 2:17.1-17.33. os resultados sobre os recursos pessoais são inconclusivos para indicadores negativos de bem-estar. É relevante ressaltar aspectos controversos e ambivalentes encontrados sobre as estratégias de coping e RE. Se por um lado o uso do coping focado no problema se mostre bastante consolidado na literatura como preditor positivo de BET66 Rothmann S, Malan M. Work-related well-being of South African hospital pharmacists. S Afr J Ind Psychol 2011; 37(1):1-11.,4040 Paris L, Omar A. Predictores de satisfacción laboral en médicos y enfermeros. Estud Psicol 2008; 13(3):233-244.,4343 Afonso JMP, Gomes AR. Stress Ocupacional em Profissionais de Segurança Pública: um estudo com militares da Guarda Nacional Republicana. Psicol Reflexão Crítica 2009; 22(2):294-303.

44 Gomes SDFS, Santos MMMCC, Carolino, ETDMA. Psycho-social risks at work: stress and coping strategies in oncology nurses. Rev Lat Am Enferm 2013; 21(6):1282-1289.
-4545 Shimazu A, Schaufeli WB. Does distraction facilitate problem-focused coping with job stress? A one year longitudinal study. J Behav Med 2007; 30(5):423-434., além de relacionado ao menor estresse e melhor estado de saúde5858 Goto AK, Souza MTS, Lima Jr. JV. Um estudo sobre o estresse em profissionais da área de logística da indústria automobilística. Psicol Política 2009; 9(18):291-311., por outro, os resultados relativos ao coping de esquiva são contraditórios. Embora essa estratégia esteja na maioria das vezes associada a indicadores negativos de bem-estar e saúde66 Rothmann S, Malan M. Work-related well-being of South African hospital pharmacists. S Afr J Ind Psychol 2011; 37(1):1-11.,4444 Gomes SDFS, Santos MMMCC, Carolino, ETDMA. Psycho-social risks at work: stress and coping strategies in oncology nurses. Rev Lat Am Enferm 2013; 21(6):1282-1289., em algumas situações parece ter efeitos benéficos4040 Paris L, Omar A. Predictores de satisfacción laboral en médicos y enfermeros. Estud Psicol 2008; 13(3):233-244., o que reforça a ideia da importância da flexibilidade regulatória dependendo do contexto6060 Bonanno GA, Burton CL. Regulatory flexibility: an individual differences perspective on coping and emotion regulation. Perspect Psychol Sci 2013; 8(6):591-612.. Ou seja, o uso de diferentes estratégias de RE de acordo com a situação facilita a adaptação aos estressores. Nesse sentido, Lawrence et al.3232 Lawrence SA, Troth AC, Jordan PJ, Collins AL. A review of emotion regulation and development of a framework for emotion regulation in the workplace. In: Perrewé PL, Ganster DC, editores. Research in Occupational Stress and Well-being. Bingley: Emerald; 2011. p. 197-263. ressaltam que não é a mera utilização de determinadas estratégias de regulação consideradas disfuncionais (p. ex., a supressão de emoções) que causa danos à saúde, mas o seu uso habitual.

Conclusão

A presente revisão cumpre com seu objetivo ao trazer um panorama geral dos estudos nacionais e internacionais que relacionam estresse e bem-estar no trabalho, destacando preditores, moderadores e mediadores desta relação. Em nível nacional, traz uma contribuição adicional, pois os dois estudos brasileiros de revisão encontrados analisaram somente os preditores de BET, sem considerar moderadores e mediadores. A revisão também deixa evidente o surgimento de novos modelos mais complexos e sofisticados, oferecendo novas luzes para a compreensão dos processos e da dinâmica do bem-estar. Além dos fatores do trabalho, incorporam-se nesses modelos os recursos pessoais (resiliência, autoeficácia, competências emocionais, RE, desapego psicológico), a interface trabalho-vida pessoal e os fatores no nível do grupo, esclarecendo o papel que desempenham na relação entre estresse e bem-estar.

Sobre os fatores organizacionais os resultados apontam que a ausência de suporte, de recursos, de boas relações e de outros aspectos relacionados ao trabalho repercutem mais negativamente nos indicadores de BET do que a sua presença contribui positivamente para o BET. A percepção de suporte organizacional e os recursos no trabalho, especialmente a autonomia e o suporte social de pares e chefias atuam como moderadores, reduzindo o impacto negativo do estresse sobre o BET. Sobre os recursos pessoais, eles se revelam capazes de fazer a pessoa preservar o seu bem-estar no trabalho mesmo em condições adversas. As competências emocionais e as estratégias de regulação emocional funcional além de serem preditoras de BET atuam como moderadoras eficazes, minimizando os efeitos negativos dos estressores. Vale ressaltar que apesar de algumas estratégias utilizadas para lidar com situações estressantes serem consideradas adaptativas ou desadaptativas, por estarem associadas com maior frequência a indicadores positivos ou negativos de bem-estar e saúde, as consequências podem variar dependendo do contexto. A estratégia de enfrentamento focada no problema, por exemplo, traz mais benefícios que a de esquiva, embora esta última possa ser útil provisoriamente em situações em que não se consegue ter controle sobre um ambiente aversivo.

Considerando a complexidade dessa temática, mais estudos deveriam explorar as estratégias de RE intrapessoal, testando seus diferentes papéis (moderadores e mediadores), em situações e ocupações diversas, diferentes grupos etários, incluindo também as estratégias de regulação emocional das demais pessoas com quem se interage (interpessoal). Além disso, nota-se que poucos mediadores foram testados, representando uma lacuna a ser preenchida. Embora não tenha sido o foco desta revisão, é possível notar que são poucos os estudos que exploram a eficácia de intervenções em recursos pessoais (habilidades de regulação e competências emocionais) e mudanças organizacionais, avaliando seus efeitos no estresse e bem-estar.

Sugere-se ainda, testar modelos mais amplos e integrados, que considerem a variabilidade individual frente a demandas e estressores, e os resultados de longo prazo positivos e negativos na saúde e no bem-estar. Para isso, são necessários mais estudos longitudinais que permitam inferir causalidade e também compreender o processo e a dinâmica do bem-estar no trabalho. Outra lacuna quanto ao método se refere à ampliação da mensuração para além do autorrelato, com o uso de medidas de respostas corporais, de observação do trabalho, acompanhamento diário, multiníveis (p. ex., interpessoais, grupais), integrando análises quantitativas e qualitativas.

Quanto às limitações deste estudo, pode-se apontar a seleção de periódicos, que ocorreu em diversas bases de dados e revistas relevantes para a área, embora possa haver outras não consultadas. E também pode haver outros níveis de análise e abordagens sobre estresse e bem-estar no trabalho para além das utilizadas neste estudo.

Como contribuição prática, os resultados encontrados são relevantes e podem subsidiar políticas e programas de melhoria do bem-estar e de redução do estresse dos trabalhadores, a partir de um olhar mais cuidadoso sobre os estressores, os recursos do trabalho, o suporte organizacional e social, as relações interpessoais, os recursos pessoais e o equilíbrio trabalho-vida pessoal. Esses fatores mostraram-se altamente importantes e, se não tratados adequadamente, podem se constituir em riscos psicossociais, com consequências danosas para a saúde dos trabalhadores.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    Jul 2020

Histórico

  • Recebido
    03 Jul 2017
  • Aceito
    11 Out 2018
  • Publicado
    13 Out 2018
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