Políticas Públicas de Saúde para a Juventude - Estudo Bibliométrico e Agenda de Pesquisa com base na Web of Science

Public Health Policies for Youth - Bibliometric Study and Research Agenda based on the Web of Science

Fabiana Pinto de Almeida Bizarria Irlane Batista Figueredo Sara do Nascimento Cavalcante Eliane Jiliane Duarte da Silva Flávia Lorenne Sampaio Barbosa Sobre os autores

Resumo

A pesquisa descreve o campo de estudo sobre políticas de saúde pública para a juventude com suporte em mapas bibliométricos, na perspectiva de apresentar gaps de pesquisa. A partir do perfil exploratório-descritivo, utilizou-se o software VOSviewer, com dados extraídos em outubro de 2021, e os descritores “public”, “youth”, “health” com o conectivo “and”, que resultou em 172 artigos. Foram descritas redes de: coautorias por países; coocorrência por palavras-chave; cocitação por artigo; cocitação por referência citada; acoplamento bibliográfico; cocitação de autores. Os resultados evidenciam um campo interdisciplinar, representado por estudos da área de educação, trabalho social, direito, ciências sociais, com importante recorrência do tema saúde mental, violência, obesidade, bem como discussão sobre uso e abuso de substâncias, como por exemplo, o cigarro. Observam-se debates sobre a configuração social, definida pela ideia de comunidade, bem como sua prevalência e prevenção se apresentam no escopo desses estudos. Por fim, oito temas de agenda de pesquisa são derivados da discussão sobre o crescente movimento para a promoção da saúde como política pública, ao passo que aspectos socioeconômico-culturais se apresentam com maior ênfase, na busca de compreensão sobre impactos desse cenário para a juventude.

Key words:
Public health; Adolescence; Health management

Abstract

The scope of this research outlines the field of study on public health policies for youth supported by bibliometric maps, from the perspective of identifying research gaps. VOSviewer software was used based on the exploratory-descriptive profile, with data located in October 2021, using the key words “public”, “youth”, “health” with the connecting “and”, which resulted in 172 articles. The following groupings were located: co-authorship by country; co-authorship by key words; co-quote by article; co-quote by reference cited; bibliographic coupling; co-quote of authors. The results reveal an interdisciplinary field, represented by studies in the areas of education, social work, law, and social sciences, with a significant recurrence of the themes of mental health, violence, and obesity, as well as discussions on substance use and abuse, such as cigarette smoking for example. Debates about the social configuration, defined by the idea of community, as well as its prevalence and prevention are present in the scope of these studies. Finally, eight research agenda topics are derived from the discussion about the growing movement towards health promotion as a public policy, while socio-economic and cultural aspects are presented with greater emphasis, in the quest to understand the impacts of this scenario for youth.

Key words:
Public health; Adolescence; Health management

Introdução

A saúde infantojuvenil possui relação com a prospecção do desenvolvimento econômico e social, o que sugere ser tema em constante investigação de modo a embasar ações de promoção da saúde na perspectiva do bem-estar social11 Li Y, Huang D. The path of improving chinese youth's physical health from the perspective of public sports servisse. Rev Bras Med Esporte 2021; 27(n. esp.):91-93.. Por outro lado, o papel estratégico da saúde pública visa a população juvenil, considerando o contexto laboral do futuro11 Li Y, Huang D. The path of improving chinese youth's physical health from the perspective of public sports servisse. Rev Bras Med Esporte 2021; 27(n. esp.):91-93., que se configura em uma temática em desenvolvimento, em consonância com políticas governamentais, sustentadas pela produção de novos conhecimentos11 Li Y, Huang D. The path of improving chinese youth's physical health from the perspective of public sports servisse. Rev Bras Med Esporte 2021; 27(n. esp.):91-93..

O contexto infantojuvenil, representa uma fase da vida com importantes mudanças biológicas, cognitivas, emocionais e sociais22 Reis AAC, Malta DC, Furtado LAC. Desafios para as poli´ticas pu´blicas voltadas a` adolesce^ncia e juventude a partir da Pesquisa Nacional de Sau´de do Escolar (PeNSE). Cien Saude Colet 2018; 23(9):2879-2890.. Essa etapa, muitas vezes, associa-se à comportamento de risco, com impactos na saúde33 Choi BM, Abraham I. The Decline in e-Cigarette Use Among Youth in the United States-An Encouraging Trend but an Ongoing Public Health Challenge. JAMA Netw Open 2021; 4(6):e2112464., como, por exemplo, o uso de cigarro, consumo abusivo de álcool, alimentação inadequada e sedentarismo; bem como maior exposição às situações de crises, violências, acidentes e doenças sexualmente transmissíveis, reconhecidos por Doenças Crônicas Transmissíveis (DCT)44 Oliveira-Campos M, Nunes ML, Madeira FC, Santos MG, Bregmann SR, Malta DC, Giatti L, Barreto SM. Sexual behavior among Brazilian adolescents, National Adolescent School-based Health Survey. Rev Bras Epidemiol 2014; 17(Supl. 1):116-130..

Estudos recentes demonstram a abrangência de temáticas que influenciam a saúde infantojuvenil pelo mundo. Carvalho55 Carvalho DS. Estado, juventude e narrativas do sistema socioeducativo: direitos humanos, saúde e políticas sociais. Cien Saude Colet 2021; 26(Supl. 2):3753-3764., por exemplo, aborda desafios relacionados ao sistema socioeducativo para a família, a comunidade e o poder público, de modo a defender os direitos humanos fundamentais desse público, ao passo que discorrem sobre a ausência do Estado em relação à juventude, com políticas públicas ineficazes. Tal questão também é considerada crítica, quando se avalia o acesso gratuito à saúde, como experiências pontuais de profissionais sensibilizados, por exemplo, com jovens em situação de rua66 Schotland SV. The Cinderella van: runaways, street youth and public health in 1970s Boston. Arch Dis Child 2021; 106:615-616..

No que tange à violência, ainda, Pritchard et al.77 Pritchard C, Parish M, Williams RJ. International comparison of civilian violent deaths: a public health approach to reduce gun-related deaths in US youth. Public Health 2020; 180:109-113. informam dados sobre mortes violentas de jovens civis nos Estados Unidos e em mais sete grandes países, no período de 1979 e 2015, em geral, por arma de fogo e por suicídio; onde lideram a lista: Japão, seguido por França e os Estados Unidos. Em escolas públicas de Chicago, de acordo com Korpics et al.88 Korpics J, Stillerman A, Hinami K, Dharmapuri S, Feinglass J. Declining health risk exposure among Chicago public high school students: Trends from the Youth Risk Behavior Survey 1997-2017. Prev Med Rep 2020; 20:101161., houve aumento de exposição ao risco de suicídio em jovens, com predominância masculina; embora reconheçam a redução de indicadores relativos ao uso substâncias e a violência. Nesse ponto, Singleton et al.99 Singleton MD, Frey LM, Webb A, Cerel J. Public Health Surveillance of Youth Suicide Attempts: Challenges and Opportunities. Suicide Life Threat Behav 2020; 50(1):42-55. ressaltam a baixa notificação sobre comportamento suicida em jovens, seja pela negação do jovem ou despreparo dos profissionais na detecção dos casos.

Não obstante, doenças relacionadas ao fumo, nos Estados Unidos, atualmente representam risco de morte prematura em 5,6 milhões de pessoas com menos 18 anos33 Choi BM, Abraham I. The Decline in e-Cigarette Use Among Youth in the United States-An Encouraging Trend but an Ongoing Public Health Challenge. JAMA Netw Open 2021; 4(6):e2112464.. Freidlin e Korn1010 Freidlin B, Korn EL. Disposable E-Cigarette Use among U.S. Youth -An Emerging Public Health Challenge. N Engl J Med 2021; 384(16):1573-1576. e King et al.1111 King BA, Jones CM, Baldwin GT, Briss PA. The EVALI and Youth Vaping Epidemics-Implications for Public Health. N Engl J Med 2020; 382(8):689-691. ressaltam uma explosão do comércio e do uso de cigarros eletrônicos e produtos de vaporização durante os anos de 2019 e 2020, com importante apelo da mídia, adesão aos sabores atrativos e ampla disponibilidade no mercado. King et al.1111 King BA, Jones CM, Baldwin GT, Briss PA. The EVALI and Youth Vaping Epidemics-Implications for Public Health. N Engl J Med 2020; 382(8):689-691. supõem, inclusive, que o aumento do consumo desses produtos pode estar relacionado ao surto de lesão pulmonar associada ao uso de produto (EVALI), em jovens de 18 a 34 anos, representando um problema de saúde pública.

Destarte, mudanças comportamentais foram evidenciadas na população jovem em virtude das restrições adotadas no contexto da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) ou COVID-19, Choi e Abraham33 Choi BM, Abraham I. The Decline in e-Cigarette Use Among Youth in the United States-An Encouraging Trend but an Ongoing Public Health Challenge. JAMA Netw Open 2021; 4(6):e2112464. observam ampliação do uso de outras substâncias, como, por exemplo, a nicotina (17,6%) ou cannabis/tetrahidrocanabinol (THC) (7,8%), já Freidlin e Korn1010 Freidlin B, Korn EL. Disposable E-Cigarette Use among U.S. Youth -An Emerging Public Health Challenge. N Engl J Med 2021; 384(16):1573-1576. descrevem uso crescente dos cigarros eletrônicos. O uso abusivo de metanfetaminas, por outro lado, é estudado por Spivak et al.1212 Spivak B, Shepherd S, Borschmann R, Kinner SA, Ogloff JRP, Hachtel H. Crystalline methamphetamine (ice) use prior to youth detention: A forensic concern or a public health issue? PLoS One 2020; 15(5):e0229389., que identifica maior uso por parte da população do sexo masculino, com tendência para o aumento do consumo em situação de conflitos familiares, principalmente se associado à criminalidade, à pobreza e à violência.

Em relação ao uso de drogas ilícitas especificamente, Giang et al.1313 Giang V, Thulien M, McNeil R, Sedgemore K, Anderson H, Fast D. Opioid agonist therapy trajectories among street entrenched youth in the context of a public health crisis. SSM Popul Health 2020; 11:100609. estudam o desafio da dependência e apresentam a terapia agonista opióide em jovens em situação de rua, residentes no Canadá, na perspectiva de uma maior autonomia nas escolhas terapêuticas dos indivíduos, a exemplo das ações de redução de danos e programação centrada na abstinência. Os autores ressaltam a importância da oportunidade de escolha, bem como do rigoroso acompanhamento, posto que jovens que testam terapêuticas de maneira independente, ficam susceptível às recaídas, elevando assim, o risco de overdose.

Contudo, a saúde juvenil se associa aos diversos contextos aos quais o indivíduo está inserido. Desse modo, Herman et al.1414 Herman KC, Reinke WM, Thompson AM, Hawley KM, Wallis K, Stormont M, Peters C. A Public Health Approach to Reducing the Societal Prevalence and Burden of Youth Mental Health Problems: Introduction to the Special Issue. School Psychol Rev 2021; 50(1):8-16. abordam a saúde mental nesta população como um problema de saúde pública, devido os contextos de desigualdade social, falta de oportunidade e fatores de risco que favorecem a instabilidade emocional.

Nesse cenário, a marginalização social representa uma temática fundamental para a discussão da saúde pública, como Adelson et al.1515 Adelson SL, Reid G, Miller AM, Sandfort TGM. Health Justice for LGBT Youths: Combining Public Health and Human Rights. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 2021; 60(7):804-807. e Carabez e Kim1616 Carabez R, Kim JE. LGBT youth in foster care and the critical advocacy role of Public Health Nurses. Public Health Nurs 2020; 37:750-756. abordam e relacionam o tema à população LGBTQIA+, por representar um grupo socialmente marginalizado, com inúmeros desafios relativos à rejeição familiar, insegurança educacional e instabilidade habitacional, levando a índices preocupantes, principalmente relacionados a taxa de suicídio.

Racionero-Plaza et al.1717 Racionero-Plaza S, Tellado I, Aguilera A, Prados M. Gender violence among youth: an effective program of preventive socialization to address a public health problem. AIMS Public Health 2021; 8(1):66-80. abordam que a violência de gênero representa desafio para a saúde pública no mundo, com repercussões severas para os jovens, como depressão crônica, ansiedade e uso de substâncias ilícitas, ao lado das desigualdades políticas, julgamentos sociais, estigmas e pré-concepções, em momentos de intervenções em escolas de Barcelona. Nesse caminho, Clermont et al.1818 Clermont D, Gilmer T, Burgos JL, Berliant E, Ojeda VD. HIV and Sexual Health Services Available to Sexual and Gender Minority Youth Seeking Care at Outpatient Public Mental Health Programs in Two California Counties. Health Equity 2020; 94(1):375-381. compreendem que o público LGBTQIA+ sofre de estigmas responsáveis por adoecimentos psíquicos, reforçando atenção à demanda por políticas públicas para a promoção da saúde que contemplem esse público.

Em outra perspectiva, Gordon et al.1919 Gordon F, Klose H, Storrod ML. Youth (in)justice and the COVID-19 pandemic: rethinking incarceration through a public health lens. Curr Issues Criminal Justice 2021; 33(1):27-46. observam elevado índice de detenção de jovens e buscam compreender o fenômeno do encarceramento juvenil, especialmente no contexto da pandemia, com a escuta de profissionais que atuam no sistema criminal em Victória (Austrália). Os pesquisadores consideram dual o que é oferecido como política pública em forma de plano estratégico, reintegração social, atividades nas comunidades de forma integrativa, que visam o bem-estar e a reeducação desses jovens, e as práticas captadas pelas narrativas dos entrevistados, com ausência de visão holística e de escuta ativa das crianças e jovens encarcerados.

Paralelamente, a influência das mídias sociais junto ao público jovem também é objeto de análise no campo da saúde pública, o que se observa na pesquisa de Dimanlig-Cruz et al.2020 Dimanlig-Cruz S, Han A, Lancione S, Dewidar O, Podinic I, Kent MP, Brouwers M. Physical distancing messages targeting youth on the social media accounts of Canadian public health entities and the use of behavioral change techniques. BMC Public Health 2021; 21:1634., que estudaram a disseminação de informações sobre saúde em redes sociais durante o período de distanciamento social derivadas da pandemia, inclusive pelo alto nível de disseminação do vírus entre os jovens.

Com esse cenário, considera-se que a saúde dos jovens perpassa por desafios abrangentes, desde o cenário de mudanças comportamentais, até preocupações com o futuro. Como a saúde pública é um campo interdisciplinar, são variadas as abordagens, com possibilidades de intervenções em diferentes níveis. Em geral, os pesquisadores consideram um ou mais fenômenos que afetam esse público, posto à especificidade das áreas/disciplinas acadêmicas. Observa-se que os estudos não abrangem, em conjunto, problemáticas da saúde pública juvenil, com proposições abrangentes de estímulo às políticas públicas para a saúde dos jovens.

Assim, a pesquisa visa descrever o campo de estudo sobre o tema políticas de saúde pública para a juventude, com suporte em bibliometria de dados. Com essa metodologia, conforme Iliescu2121 Iliescu AN. Conceptual Atlas of the Knowmad Literature: Visual Mapping with VOSviewer, Managem Dynamics Knowledge Econ 2021; 9(3):379-392., é possível apresentar gaps de pesquisa, as direções futuras de pesquisa, bem como as tendências de interesse de pesquisa com suporte na mineração dos textos e mapeamento científico, tendências emergentes globais em forma de revisão sistemática2222 Cedeño GG, Sánchez BH. Estudiantes con discapacidad y la orientacio´n vocacional en secundaria: una revisio´n sistema´tica con VOSviewer. Int J Develop Educ Psychol 2020; 1(2):239-248., bem como estado da arte sobre o tema2323 Cavalcante WQ, Coelho A, Bairrada CM. Sustainability and Tourism Marketing: A Bibliometric Analysis of Publications between 1997 and 2020 Using VOSviewer Software. Sustainability 2021; 13:4987.,2424 Huang TMD, Wu H, Yang S, Su B, Tang K, Quan Z, Zhong W, Luo X. Global Trends of Researches on Sacral Fracture Surgery. SPINE (Phila Pa 1976) 2020; 45(12):E721-E728. e, com isso, apresentar insights propositivos e formação de agenda de pesquisa com caminhos investigativos necessários ao enfreamento de desafios à saúde da população infantojuvenil.

Metodologia

A pesquisa de perfil exploratório-descritivo e bibliométrico, utiliza o software VOSviewer versão 1.6.16, que possui vantagens em relação a outros softwares, especialmente na visualização e abordagem integrada de agrupamento para examinar dados. Para empreender análise, foi utilizado banco de dados derivado da coleção principal da Web of Science (WoS), que reúne produções científicas relevantes para tomada de decisões acadêmicas2525 Jiménez-García M, Ruiz-Chico J, Peña-Sánchez AR, López-Sánchez JA. A bibliometric analysis of sports tourism and sustainability (2002-2019). Sustainability 2020; 12:2840..

Foram considerados os índices SCI-EXPANDED, SSCI, A&HCI, CPCI-S, CPCI-SSH, ESCI, para o levantamento dos dados, realizado em 17 de outubro de 2021, considerando os descritores “public”, “youth” “health” (presentes no título dos arquivos), e o operador booleano “and”, sem filtro temporal. Com essas configurações relativas à busca, filtragem e extração de dados, foram reunidos 172 artigos na composição do banco de dados.

Conforme orientações definas por Van Eck e Waltman2626 Van Eck NJ, Waltman L. Software survey: VOSviewer, a computer program for bibliometric mapping. Scientometrics 2010; 84(2):523-538.

27 Van Eck NJ, Waltman L. Text mining and visualization using VOSviewer. ISSI Newsletter 2011; 7(3):50-54.
-2828 Van Eck NJ, Waltman L. VOSviewer Manual. Leiden: Universiteit Leiden; 2020., criadores do software, para apresentação descritiva dos dados, foram extraídos mapas bibliométricos (output do software) cujos itens estão conectados por coautoria, coocorrência, citação, acoplamento bibliográfico ou links, formando redes (itens e links juntos) de citação, cocitação, coautoria e acoplamento bibliográfico. Por fim, os itens podem ser agrupados em clusters, sendo cada grupo representado por um conjunto de itens reunidos em um mapa, representação gráfica (com separação em cores).

Dentre as variadas possibilidades de análise, foram realizadas apreciações sobre as redes (i) de coautorias por países; (ii) de coocorrência de palavras-chave (número de publicações em que dois termos ocorrem juntos); (iii) de cocitação por artigo; (iv) de cocitação por referência citada; (v) de acoplamento bibliográfico (o número de referências citadas que duas publicações têm em comum); (vi) de cocitação de autores.

No software VOSviewer, conforme Van Eck e Waltman2626 Van Eck NJ, Waltman L. Software survey: VOSviewer, a computer program for bibliometric mapping. Scientometrics 2010; 84(2):523-538.

27 Van Eck NJ, Waltman L. Text mining and visualization using VOSviewer. ISSI Newsletter 2011; 7(3):50-54.
-2828 Van Eck NJ, Waltman L. VOSviewer Manual. Leiden: Universiteit Leiden; 2020., a palavra “ocorrência” significa o número de vezes que a unidade de análise aparece junto à pesquisa. O link é uma conexão, ou relação entre dois itens, que corresponde aos nós calculados que representam a força da unidade que está em evidência no nó, baseado na densidade expressa e no grau de correlação. Cada link tem uma força (strehgth), representada por um valor numérico, e quanto maior esse valor, mais forte o link, indicando a força representada pelo item, ou link strength. A espessura do link, por último, indica a intensidade da cooperação2626 Van Eck NJ, Waltman L. Software survey: VOSviewer, a computer program for bibliometric mapping. Scientometrics 2010; 84(2):523-538.

27 Van Eck NJ, Waltman L. Text mining and visualization using VOSviewer. ISSI Newsletter 2011; 7(3):50-54.
-2828 Van Eck NJ, Waltman L. VOSviewer Manual. Leiden: Universiteit Leiden; 2020..

Apresentação dos dados

Antes de avançar na compreensão dos mapas bibliométricos e das redes formadas, observa-se que a área possui configuração interdisciplinar, ao passo que concentra maior volume de produções nas áreas “Public environmental occupational health”, “Health policy services” e “Psychiatry”, reunindo 125 artigos da base de dados.

O perfil interdisciplinar pode ser conferido pela presença de pesquisas na área da educação, trabalho social, direito, ciências sociais, dentre outros. No entanto, a predominância de estudos nas três áreas apresentadas, confere possibilidade de atenção à saúde infantojuvenil em perspectiva das questões ambientais, dos serviços oferecidos e da saúde mental, sendo esta enfatizada pelo panorama de pesquisas desenvolvido a título de introdução da presente pesquisa.

O Quadro 1 apresenta o conjunto de 10 artigos mais citados reunidos na base de dados da pesquisa, e expressa pesquisas com maior volume de citações entre o conjunto de investigações selecionadas. Desse conjunto, observa-se, por exemplo, a pesquisa de McGorry2929 McGorry PD. The specialist youth mental health model: strengthening the weakest link in the public mental health system. Med J Aust 2007; 187(S7):S53-S56., que propõe um modelo de saúde voltado às especificidades do público infantojuvenil estudado na Austrália.

Quadro 1
Artigos mais citados da base de dados.

A pesquisa de Messerlian et al.3030 Messerlian C, Derevensky J, Gupta R. Youth gambling problems: a public health perspective. Health Promot Int 2005; 20(1):69-79. consideram a Carta de Ottawa, estratégias nos níveis de atenção primário, secundário e terciário para o cuidado de jovens em situação de risco e/ou vício em jogos de azar; problema este apontado como crescente não somente em adultos, mas também em jovens; principalmente por seus sintomas serem confundidos com a associação do consumo de álcool e drogas, característicos deste público; mas que além desses vícios, podem levar a problemas de relacionamentos, depressão, delinquência, envolvimento em crimes, ideação suicida e morte. Os autores, ao considerarem a Carta de Ottawa, sugerem que as ações para o público infantojuvenil precisam ser direcionadas ao desenvolvimento de habilidades pessoais, fortalecimento da ação comunitária, construção de ambientes de apoio, reorientação de serviços de saúde e a construção de uma política pública saudável, norteando responsabilidades de cuidado para cada agente de mudança3030 Messerlian C, Derevensky J, Gupta R. Youth gambling problems: a public health perspective. Health Promot Int 2005; 20(1):69-79..

Wexler et al.3131 Wexler LM, Fluvio GD. Burke TK. Resilience and marginalized youth: Making a case for personal and collective meaning-making as part of resilience research in public health. Soc Sci Med 2009; 69:565-570. estudam a resiliência na perspectiva da juventude marginalizada, na busca de compreender múltiplas maneiras onde a identidade, o pertencimento de grupo e as ideologias interferem em comportamentos de saúde e na saúde mental das pessoas. Os autores consideram que a escola pode ser um espaço inseguro para os jovens LGBTQIA+, dificultando a graduação, bem como experimentam taxas de consequências negativas para a saúde, incluindo abuso de substâncias, depressão e suicídio.

Em sintonia à perspectiva dos desafios relacionados ao contexto de marginalização apresentados por Wexler et al.3131 Wexler LM, Fluvio GD. Burke TK. Resilience and marginalized youth: Making a case for personal and collective meaning-making as part of resilience research in public health. Soc Sci Med 2009; 69:565-570., observa-se que Miller et al.3333 Miller LM, Southam-Gerow MA, Allin Jr, RB. Who Stays in Treatment? Child and Family Predictors of Youth Client Retention in a Public Mental Health Agency. Child Youth Care Forum 2008; 37(4):153-170. identificam fatores de risco para o desgaste e/ou desenvolvimento do tratamento, como, por exemplo, o status socioeconômico, raça/etnia, estresse, gravidade do problema e idade. Esse desgaste que interfere na terapêutica de saúde mental apresenta várias limitações, dentre elas está a escassez de estudos relacionados ao público infantil; e o estudo de Yeh et al.3838 Yeh S, Tsai MY, Xu Q, Mu XM, Lardy H, Huang KE, Lin H, Yeh SD, Altuwaijri S, Zhou X, Xing L, Boyce BF, Hung MC, Zhang S, Gan L, Chang C. Generation and characterization of androgen receptor knockout (ARKO) mice: an in vivo model for the study of androgen functions in selective tissues. Proc Natl Acad Sci USA 2002; 99(21):13498-13503., onde investiga que algumas etnias são mais propensas ao uso de serviços de saúde mental em relação a outras. Por fim, considera-se importante o estudo de Van Leeuwen et al.3535 Van Leeuwen JM, Boyle S, Salomonsen-Sautel S, Baker DN, Garcia JT, Hoffman A, Hopfer CJ. Lesbian, Gay, and Bisexual Homeless Youth: An Eight-City Public Health Perspective. Child Welfare 2006; 85(2):151-170., que, entre os mais citados, também evidencia aspectos relacionados à marginalização, ao identificarem que jovens sem-teto LGBTQIA+, significativamente, estavam mais susceptíveis a riscos contra sua saúde.

Em relação à Figura 1, foi extraída a rede de relação de coautorias por países (i), considerando o mínimo de 3 documentos por país. Dos 24 países representados na base de dados, 10 atendem os critérios (meet the thresholds), formando 4 clusters.

Figura 1
Rede de coautoria por país.

Da Figura 1, têm-se que os Estados Unidos possuem maior volume de artigos, compreendendo 107. O Canadá, a Inglaterra, a Austrália, a Holanda, a Alemanha e o Brasil seguem com 15, 8, 7, 5, 4 e 4 artigos, respectivamente.

Em relação a coocorrência de palavras-chave (ii), a Figura 2 apresenta que das 624 palavras-chave presentes na base de dados, 24 atendem ao critério de pelo menos 5 coocorrências, reunidas em 4 clusters, relacionados ao tema de investigação, com 150 links e um total de 278 link strength.

Figura 2
Rede de coocorrência de palavra-chave.

Com a Figura 2, os 4 grupos estão representados pelo cluster 1, que agrupou as palavras: “youth violence” (5 ocorrências, 18 links), “adolescence” (5, 8), “smoking” (5, 6), ‘outcomes” (6, 12), “alcohol” (6, 9), “community” (7, 14), “impact” (8, 17), “risk” (11, 22), “public health” (20, 41); em relação ao cluster 2, foram agrupados os termos “mental health” (5, 21), “mental-health” (5, 19), “school” (5, 14), “youth violence” (6, 19), “united-estates” (7, 18), “victimization” (7, 29), “violence” (9, 31), “substance use” (11, 31); o cluster 3 une as palavras “services” (6, 7), “care” (10, 15), “children” (20, 50), “adolescents” (34, 73); e o cluster 4 agrega as palavras “obesity” (6, 14), “prevention” (10, 32) e “prevalence” (11, 22).

A Figura 3 apresenta a rede de cocitação por artigo (iii), com base no critério de, no mínimo, 30 citações. Com isso, de 172 artigos, 18 artigos atendem ao critério e reuniram-se em 17clusters e 1 link.

Figura 3
Rede de cocitação por artigo.

Em relação à Figura 4, com a rede de cocitação por referência citada (iv), de 4.788 referências citadas, 29 atendem ao mínimo de 3 citações, onde 25 itens apresentam conexões. A rede forma 4 clusters, com 74 links e 116 total link strength.

Figura 4
Rede de cocitação por referência citada.

A Figura 4 apresenta a rede de cocitações entre textos da base de dados. Como resultado, observam-se 4 agrupamentos na seguinte organização: cluster 1 representado por Friesen3939 Friesen BJ, Giliberti M, Katz-Leavy J, Osher T, Pullmann MD. Research in the service of policy change: The "custody problem". J Emotional Behav Dis 2003; 11(1):36-44. (3 e 15); cluster 2, representado por Krung4040 Krug EG, Dahlberg LL, Mercy JA, Zwi AB, Lozano R, editors. Statistical annex: world report on violence and health. Geneva: WHO; 2002. (5 e 15); cluster 3, representado pela American Psychiatric Association4141 American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders Fourth Edition Text Revision (DSM-IV-TR). Washington D.C.: American Psychiatric Association; 2000., (5 e 8); e o cluster 4, representado por Dahlberg4242 Dahlberg LL, Mercy JA. History of violence as a public health problem. Virtual Mentor 2009; 11(2):167-172. (3 e 6).

Na perspectiva da rede de acoplamento bibliográfico (v) por artigo/documentos, dos 172 textos da base de dados, 18 atendem ao critério de no mínimo 30 citações. Dos 18 itens, apenas 5 estão conectados, com formação de 2 clusters, com a presença de 4 links, e um total de 12 links strength. Os 2 grupos estão representados na sequência: no cluster 1 são evidenciadas conexões por uso das mesmas referências entre os artigos de Bouris4343 Bouris A, Guilamo-Ramos V, Pickard A, Shiu C, Loosier PS, Dittus P, Gloppen K, Waldmiller JM. A systematic review of parental influences on the health and well-being of lesbian, gay, and bisexual youth: time for a new public health research and practice agenda. J Prim Prev 2010; 31(5-6):273-309. (123 citações, 6 total link strength), Wexler et al.3131 Wexler LM, Fluvio GD. Burke TK. Resilience and marginalized youth: Making a case for personal and collective meaning-making as part of resilience research in public health. Soc Sci Med 2009; 69:565-570. (117, 6), Prothrowstith4444 Prothrow-Stith DB. The epidemic of youth violence in America: Using public health prevention strategies to prevent violence. J Health Care Poor Underserved 1995; 6(2):95-101. (30, 1); e no cluster 2, Keuroghian et al.3232 Keuroghlian AS, Shtasel D, Bassuk EL. Out on the Street: A Public Health and Policy Agenda for Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender Youth Who Are Homeless. Am J Orthopsychiatry 2014; 84(1):66-72. (116, 5) e Van Leeuwen et al.3535 Van Leeuwen JM, Boyle S, Salomonsen-Sautel S, Baker DN, Garcia JT, Hoffman A, Hopfer CJ. Lesbian, Gay, and Bisexual Homeless Youth: An Eight-City Public Health Perspective. Child Welfare 2006; 85(2):151-170. (81, 6).

Em relação à rede de cocitação de autores (vi), atribuiu-se como critério o mínimo de 10 citações. Dos 3.764 autores da base de dados, 15 atenderam à definição meet the threshold, formando 4 clusters, com a presença de 50 links, e um total de 70 links strength.

As cocitações por autor foram configuradas em 4 grupos. O cluster 1 reúne “American Pychiatric Association” (11 citações, 41 total link strength), “Cohen, J.” (10, 34), “Costello, EJ.” (11, 28), “Hodges, K.” (11, 36), “Lyon, JS.” (10, 28); cluster 2 agrupa “US Dep. HHS” (10, 9), “Hawkins, JD” (14, 9), “Institute of Medicine” (11, 15), “Kessler, RC.” (12, 34), “World Health, Organization” (17, 13); cluster 3 une “Centers for Disease Control and prevention” (26, 17), “Weist, MD.” (14, 11), “Weisx J.R” (13, 55); e o cluster 4, composto por “Bickman, I.” (10, 48) e “Chorpita, B. F.” (11, 42).

Análise dos dados

A bibliometria dos dados apresenta aspectos que, em análise conjunta, permite maior compreensão sobre o campo de pesquisa sob investigação. Nesse sentido, é relevante pontuar os temas das pesquisas mais citadas da base de dados, com perfil eminentemente interdisciplinar, ao passo que os autores desses estudos são também representados em outras redes da bibliometria.

Observa-se, então, que o tema saúde mental apresenta maior interesse entre os presentes na base, considerando o trabalho de McGorry2929 McGorry PD. The specialist youth mental health model: strengthening the weakest link in the public mental health system. Med J Aust 2007; 187(S7):S53-S56., com 126 citações. Na sequência, tem-se a pesquisa de Bouris et al.3939 Friesen BJ, Giliberti M, Katz-Leavy J, Osher T, Pullmann MD. Research in the service of policy change: The "custody problem". J Emotional Behav Dis 2003; 11(1):36-44. sobre influências parentais relacionadas à saúde e ao bem-estar de jovens LGBTQIA+, com 123 citações, tema também trabalhado por Keuroghlian et al.3232 Keuroghlian AS, Shtasel D, Bassuk EL. Out on the Street: A Public Health and Policy Agenda for Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender Youth Who Are Homeless. Am J Orthopsychiatry 2014; 84(1):66-72., com 116 citações, em relação a esse público vivendo em situação de rua. Outros dois temas de maior volume de citações são os jogos de azar, com o estudo de Messerlian et al.3030 Messerlian C, Derevensky J, Gupta R. Youth gambling problems: a public health perspective. Health Promot Int 2005; 20(1):69-79., com 121 citações e com a pesquisa de Wexler et al.3131 Wexler LM, Fluvio GD. Burke TK. Resilience and marginalized youth: Making a case for personal and collective meaning-making as part of resilience research in public health. Soc Sci Med 2009; 69:565-570., que apresenta 117 citações.

Para compreender esses resultados, informações sobre esses autores foram consultadas: Patrick Denniston McGorry, psiquiatra, tem atuação no âmbito da saúde mental juvenil, professor na Universidade de Melbourne e diretor em Orygen, The National Center of Excellence in Youth Mental Health; Alida Bouris, como professora da Universidade de Chicago, desenvolve estudos que relacionam o contexto social com a saúde de adolescentes; Alex S. Keuroghlian, professor de psiquiatria de Escola de Medicina de Harvard, pesquisa sobre LGBTQIA+, identidade e gênero; Carmem Messertlian, professora de Harvard Chan School of Public Health, estuda sobre aspectos ambientais em relação à reprodução humana, mas possui atuações como consultora sobre saúde pública para governos; Jeff Derevensky é professor na Universidade McGill, e pesquisa sobre comportamento de alto risco de crianças e adolescentes; Lisa Marin Wexler é professora na Universidade de Massachusetts, junto ao centro de pesquisas sobre família, com estudos sobre suicídio e seus aspectos sociais e culturais.

Destacam-se como instituições referenciadas quando o tema envolve saúde pública e juventude a American Psychiatric Association, em associação com a professora Jessica L. Cohen, também da escola de saúde pública de Harvard e Elizabeth Jane Costello, professora de psiquiatria da Universidade Duke; o Institute of Medicine e a Organização Mundial da Saúde, em sintonia com os trabalhos de Ronald C. Kessler, professor de políticas de saúde na Escola de Medicina Harvard; e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças em associação à Mark Weist, professor de psicologia, atuando na Universidade de Carolina do Sul. Destaca-se também contribuições de Leonard Bickman, professor de psicologia, psiquiatria e políticas públicas e atua com o tema saúde mental em crianças e adolescentes, hoje atuando na Universidade Vanderbilt; e Bruce F. Chorpita, professor de psicologia que atua na Universidade da Califórnia, atuante também na saúde mental infantojuvenil.

Ao considerar os trabalhos mais citados, os autores e as organizações mais representados na pesquisa, compreende-se o motivo de mais da metade dos dados da pesquisa terem origem nos Estados Unidos, o que, inclusive, é termo presente como palavra-chave na rede temática. Com isso, observa-se o predomínio desse país em relação às pesquisas sobre o tema, conferindo importante discussão sobre considerar as referências produzidas pelos países em estudos de teor cross cultural. Pela apresentação dos dados, ainda, deriva-se discussão sobre o olhar da medicina e da psicologia em análises contextuais, com pesquisadores que abordam aspectos políticos, sociais e culturais em relação à saúde e a doença de crianças e jovens.

É possível observar, ainda, anseio pela ideia de modelo de saúde que atenda as especificidades da população infantojuvenil, posto ser a pesquisa de maior volume de citações2929 McGorry PD. The specialist youth mental health model: strengthening the weakest link in the public mental health system. Med J Aust 2007; 187(S7):S53-S56.; e em simultâneo, faz referência à Carta de Ottawa, de 1986, que aborda a promoção da saúde, com importante ênfase à dinâmica comunitária, na perspectiva da transformação dos contextos de adoecimento. Nesse caminho, a condição de marginalização é tônica dos demais artigos, ao passo que o volume de citações também demonstra ser tema problematizado, ao buscar compreender ou evidenciar relações em que as configurações sociais elevam desafios à promoção de saúde desse público, Messerlian et al.3030 Messerlian C, Derevensky J, Gupta R. Youth gambling problems: a public health perspective. Health Promot Int 2005; 20(1):69-79., Wexler et al.3131 Wexler LM, Fluvio GD. Burke TK. Resilience and marginalized youth: Making a case for personal and collective meaning-making as part of resilience research in public health. Soc Sci Med 2009; 69:565-570., Miller et al.3333 Miller LM, Southam-Gerow MA, Allin Jr, RB. Who Stays in Treatment? Child and Family Predictors of Youth Client Retention in a Public Mental Health Agency. Child Youth Care Forum 2008; 37(4):153-170. e Yeh et al.3838 Yeh S, Tsai MY, Xu Q, Mu XM, Lardy H, Huang KE, Lin H, Yeh SD, Altuwaijri S, Zhou X, Xing L, Boyce BF, Hung MC, Zhang S, Gan L, Chang C. Generation and characterization of androgen receptor knockout (ARKO) mice: an in vivo model for the study of androgen functions in selective tissues. Proc Natl Acad Sci USA 2002; 99(21):13498-13503., em especial consideração à identidade LGBTQIA+ Van Leeuwen et al.3535 Van Leeuwen JM, Boyle S, Salomonsen-Sautel S, Baker DN, Garcia JT, Hoffman A, Hopfer CJ. Lesbian, Gay, and Bisexual Homeless Youth: An Eight-City Public Health Perspective. Child Welfare 2006; 85(2):151-170., ou LGBT, em referência à Adelson et al.1515 Adelson SL, Reid G, Miller AM, Sandfort TGM. Health Justice for LGBT Youths: Combining Public Health and Human Rights. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 2021; 60(7):804-807. e Carabez e Kim1616 Carabez R, Kim JE. LGBT youth in foster care and the critical advocacy role of Public Health Nurses. Public Health Nurs 2020; 37:750-756..

Considerações finais

Na perspectiva de descrever o campo de estudo sobre o tema políticas de saúde pública para a juventude com suporte em bibliometria de dados, são descritas algumas observações: além de um campo interdisciplinar, com volume de produções no âmbito da educação, serviço social, direito e ciências sociais, destaca-se que a saúde mental é tema de particular interesse de pesquisadores, em especial, a partir de análises sociais, socioambientais e socioculturais. Consta-se, ainda, que a predominância de estudos deriva de pesquisadores norte-americanos, com contribuições pontuais de países europeus.

Em relação à rede temática configurada, reforça-se a atenção à saúde mental, mas demonstra outras temáticas de investigação, a violência, a obesidade e o uso e abuso de substâncias, como cigarro; ao passo que análises sobre a configuração social, definida pela ideia de comunidade, bem como prevalência e prevenção se apresentam no escopo desses estudos. Ainda, é possível identificar a contribuição de instituições para a produção científica relacionada ao tema, a exemplo da American Pychiatric Association, Institute of Medicine, Centro de Controle e Prevenção de Doenças e a Organização Mundial da Saúde.

Com a bibliometria, ainda, considera-se referência à ideia da promoção da saúde, pela presença de discussão sobre a Carta de Ottawa, bem como análises voltadas à definição teórico-prática para as intervenções em saúde, considerando as especificidades do público infantojuvenil. Considerações sobre a ideia de resiliência e marginalização, bem como referência aos aspectos sociais e econômicos, como raça, etnia e grupo LGBTQIA+, fomentam debates importantes sobre determinantes ou importantes influências contextuais para o processo saúde-doença desse público.

Por tendências emergentes, portanto, observa-se crescente movimento para a promoção da saúde como política pública, ao passo que aspectos socioeconômico-culturais se apresentam com maior ênfase, na busca de compreensão sobre impactos desse cenário para a juventude. Ainda, se destaca a tendência para mudanças no perfil dos adoecimentos, com base em mudanças no estilo de vida, envolvendo possibilidades de investigações futuras sobre a virtualização com diminuição crescente do suporte social.

Como agenda de pesquisa, se consideram os seguintes pontos: (i) investigações voltadas às análises sobre o contexto latino-americano, com maior difusão no âmbito de bases de dados internacionais, como a Web of Science; (ii) pesquisas que consideram a dinâmica geracional, considerando mudanças comportamentais e de estilo de vida; (iii) análises sociológicas com debates sobre a produção de saúde de jovens no contexto das organizações e instituições da sociedade; (iv) investigações sociais e políticas que sustentem a ideia de desenvolvimento econômico e social amparado pela promoção da saúde juvenil; (v) (re)definições sobre juventude ou público infantojuvenil, com suporte em outras perspectivas teóricas que problematizem a ideia de fases da vida; (vi) investigações sobre protagonismo juvenil em relação à saúde; (vii) debates sobre políticas públicas para a saúde voltadas à juventude a partir da perspectiva dos jovens; e, por último, (viii) levantamento e análises sobre práticas exitosas, ou boas práticas, no caminho de identificar aspectos de adesão, mudanças comportamentais e de atitudes, bem como repercussões sobre a saúde e o bem-estar.

Por conseguinte, a saúde é uma área que, cada vez mais, aciona a interdisciplinarmente, por meio de pesquisas com outras áreas de conhecimento, como, por exemplo, educação, direito, economia, sociologia e serviço social; ao passo que pesquisas que ampliem a visão do jovem como ator social, e também, a sua existência em variados aspectos contextuais, podem favorecer o desenvolvimento de políticas públicas efetivas para a prevenção de agravos e a promoção da saúde, e para a maior responsabilização social.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Set 2022
  • Data do Fascículo
    Out 2022

Histórico

  • Recebido
    22 Mar 2022
  • Aceito
    10 Maio 2022
  • Publicado
    12 Maio 2022
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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