Concepções de deficiência de profissionais de saúde em formação e em exercício: um estudo qualitativo

Concepciones de discapacidad entre profesionales de la salud en formación y en práctica: un estudio cualitativo

Daniela Virgínia Vaz Regiane Lucas Garcêz Hiane Aparecida Silva Luciana Alves Drumond Almeida Sobre os autores

Resumo

O artigo investigou concepções de deficiência de 30 profissionais em formação ou em exercício, de 14 profissões da saúde, por meio de entrevistas individuais. Foram elaboradas, por um comitê de especialistas, 34 afirmativas representativas de perspectivas religiosa/moral, médica, social e afirmativa da deficiência. Os entrevistados justificaram seu posicionamento diante de cada afirmativa, revelando a coexistência de compreensões referentes tanto às perspectivas médicas quanto sociais da deficiência. Foi frequente o argumento de que impedimentos corporais são determinantes de desigualdades sociais e que práticas de saúde devem buscar a normalização do indivíduo, e também apontada a necessidade de mudança social para remoção de barreiras, inclusão e garantia de direitos. Emergiram, em poucas justificativas, críticas a ideologias individualizantes e processos sociais produtores de desigualdade. Foram frequentes as interpretações morais e/ou religiosas. A compreensão da deficiência como fenômeno complexo e multidimensional permanece limitada, revelando a necessidade de atenção à formação profissional.

Palavras-chave:
Pessoas com deficiência; Estudos sobre deficiências; Discriminação social; Pessoal de saúde

Resumen

Este artículo investigó las concepciones sobre discapacidad de 30 profesionales en formación o en ejercicio, de 14 profesiones de la salud, a través de entrevistas individuales. Un comité de expertos preparó 34 declaraciones que representaban perspectivas religiosas/morales, médicas, sociales y afirmativas de la discapacidad. Los entrevistados justificaron su posición en relación a cada afirmación, revelando la coexistencia de interpretaciones que se refieren tanto a la perspectiva médica como a la social de la discapacidad. Hubo a menudo un argumento de que las deficiencias corporales son determinantes de las desigualdades sociales y que las prácticas de salud deberían buscar normalizar al individuo, y también se destacó la necesidad de un cambio social para eliminar barreras, incluir y garantizar derechos. En algunas justificaciones surgieron críticas a ideologías individualizadoras y procesos sociales que producen desigualdad. Las interpretaciones morales y/o religiosas fueron frecuentes. La comprensión de la discapacidad como fenómeno complejo y multidimensional sigue siendo limitada, lo que revela la necesidad de prestar atención a la formación profesional.

Palabras clave:
Personas con discapacidad; Estudios de discapacidad; Discriminación social; Personal de salud

Introdução

As concepções de deficiência de profissionais de saúde, operadores importantes do acesso das pessoas com deficiência a diferentes serviços e benefícios, podem ter impacto social muito importante. Esses profissionais têm considerável poder para influenciar a linguagem, o conhecimento e a resposta pública e institucional à deficiência¹. Pela Lei Brasileira de Inclusão², considera-se pessoa com deficiência “aquela que apresenta impedimento de longo prazo, o qual, em interação com barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas”. Em que medida concepções de profissionais em formação e em exercício se afastam ou se aproximam dessa definição? Este estudo original buscou identificar concepções de deficiência articuladas por estudantes e profissionais da saúde, relacionando-as às principais perspectivas explicativas da deficiência identificadas na literatura dos estudos da deficiência (disability studies)11 Albrecht GL, Seelman KD, Bury M. Handbook of disability studies. California: Sage Publications; 2001.

2 Brasil. Presidência da República. Lei nº 13,146, 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da União 2015; 6 jul.

3 Olkin R. Could you hold the door for me? Including disability in diversity. Cultur Divers Ethnic Minor Psychol 2002; 8(2):130-137.

4 Hammel KW. Perspectives on Disability & Rehabilitation: contesting assumptions, challenging practices. Edinburgh: Elsevier; 2006.

5 Pereira R. Diversidade funcional: a diferença e o histórico modelo de homem-padrão. Hist Cienc Saude-Manguinhos 2009; 16(3):715-728.

6 Barnes C, Barton L, Oliver M. Disability studies today. Cambridge: Polity Press; 2002.

7 Shakespeare T. Disability Rights and Wrongs Revisited. New York: Routledge; 2013.

8 Soffer M, Chew F. Framing disability among young adults with disabilities and non-disabled young adults: an exploratory study. Disabil Rehabil 2015; 37(2):171-178.

9 Diniz D, Barbosa L, Santos WR. Deficiência, direitos humanos e justiça. Sur Rev Int Dir Hum 2009; 6(11):64-77.

10 Dalboni GL, Garcêz RL, Assis ÍC, Vaz DV. Conceptions of disability among physiotherapists: an exploratory qualitative study. Physiother Theory Pract 2022; 39(8):1662-1671.

11 Gibson BE. Rehabilitation: A Post-Critical Approach. Boca Raton: CRC Press; 2016.

12 Magasi S. Infusing disability studies into the rehabilitation sciences. Top Stroke Rehabil 2008; 15(3):283-287.

13 Yoshida KK, Self H, Willis H. Values and Principles of Teaching Critical Disability Studies in a Physical Therapy Curriculum: Reflections from a 25-Year Journey-Part 1: Critical Disability Studies Value Framework. Physiother Can 2016; 68(4):315-322.

14 Júnior L, Martins MC. História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência; 2010.

15 Maia RCM, Vimieiro AC. Recognition and Moral Progress: A Case Study about Discourses on Disability in the Media. Polit Studies 2013; 63(1):161-180.

16 Diniz D. Modelo social da deficiência: a crítica feminista. SerieAnis 2003; 28:1-10.

17 Shakespeare T, Kleine I. Educating Health Professionals about Disability: A Review of Interventions. Health Soc Care Educ 2015; 2:20-37.

18 Andrada BF. Construções narrativas da deficiência no discurso acadêmico brasileiro: modelos teóricos da deficiência e as especificidades do contexto nacional. In: I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência. Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência. São Paulo, Brasil. São Paulo: SEDPcD/Diversitas/USP Legal; 2013. p. 1-18.

19 Shakespeare T, Iezzoni LI, Groce NE. Disability and the training of health professionals. Lancet 2009; 374(9704):1815-1816.

20 Crotty M, Finucane P, Ahern M. Teaching medical students about disability and rehabilitation: methods and student feedback. Med Educ 2000; 34(8):659-664.
-2121 Vaz DV, Antunes AAM, Furtado SRC. Tensões e possibilidades no campo da reabilitação sob a ótica dos estudos da deficiência. Cad Bras Ter Ocup 2019; 27(4):917-928..

A mais antiga perspectiva de compreensão da deficiência é a religiosa ou moral, extremamente prevalente no mundo todo33 Olkin R. Could you hold the door for me? Including disability in diversity. Cultur Divers Ethnic Minor Psychol 2002; 8(2):130-137.

4 Hammel KW. Perspectives on Disability & Rehabilitation: contesting assumptions, challenging practices. Edinburgh: Elsevier; 2006.
-55 Pereira R. Diversidade funcional: a diferença e o histórico modelo de homem-padrão. Hist Cienc Saude-Manguinhos 2009; 16(3):715-728.. Suas influências, embora sutis, ainda são pervasivas55 Pereira R. Diversidade funcional: a diferença e o histórico modelo de homem-padrão. Hist Cienc Saude-Manguinhos 2009; 16(3):715-728.. Nessa perspectiva, a deficiência é vista como provação de interpretação ambígua: experiência especial de ensinamento e missão nobre de vida e também punição por alguma conduta moralmente reprovável. As pessoas com deficiência ora são vistas como excepcionais e elevadas, ora como desafortunados objetos de pena (o que implica tanto compaixão quanto menosprezo). Graça e redenção podem promover a restauração da normalidade33 Olkin R. Could you hold the door for me? Including disability in diversity. Cultur Divers Ethnic Minor Psychol 2002; 8(2):130-137.,44 Hammel KW. Perspectives on Disability & Rehabilitation: contesting assumptions, challenging practices. Edinburgh: Elsevier; 2006.. A perspectiva moral interpela o dever moral da caridade. Porém, se por um lado ela foi responsável pela criação de instituições de proteção (segregada), por outro, a institucionalização caritativa da deficiência foi crucial para o fortalecimento dos discursos de invalidez e incapacidade55 Pereira R. Diversidade funcional: a diferença e o histórico modelo de homem-padrão. Hist Cienc Saude-Manguinhos 2009; 16(3):715-728..

A partir do século XVI, com o desenvolvimento da medicina, as várias formas de deficiência começaram a ser explicadas por anormalidades físico-biológicas55 Pereira R. Diversidade funcional: a diferença e o histórico modelo de homem-padrão. Hist Cienc Saude-Manguinhos 2009; 16(3):715-728.. Na perspectiva médica, todas as experiências negativas da deficiência decorreriam de uma característica corporal negativa - alguma lesão, falta, falha ou disfunção - que impediria o desempenho adequado em tarefas importantes do dia a dia, levando a desvantagens sociais2222 Portugal. Secretariado Nacional de Reabilitação. Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens (Handicaps): um manual de classificação das consequências das doenças (CIDID). Lisboa: SNR/OMS;1989.. A deficiência é julgada como um déficit ou perda inerente, uma questão de azar ou tragédia pessoal33 Olkin R. Could you hold the door for me? Including disability in diversity. Cultur Divers Ethnic Minor Psychol 2002; 8(2):130-137.,44 Hammel KW. Perspectives on Disability & Rehabilitation: contesting assumptions, challenging practices. Edinburgh: Elsevier; 2006.,66 Barnes C, Barton L, Oliver M. Disability studies today. Cambridge: Polity Press; 2002.. A solução para tal infortúnio está nos tratamentos médicos curativos e reabilitadores que buscam a normalidade e preparam os indivíduos para atender demandas sociais66 Barnes C, Barton L, Oliver M. Disability studies today. Cambridge: Polity Press; 2002.,77 Shakespeare T. Disability Rights and Wrongs Revisited. New York: Routledge; 2013.,88 Soffer M, Chew F. Framing disability among young adults with disabilities and non-disabled young adults: an exploratory study. Disabil Rehabil 2015; 37(2):171-178.,2323 Roush SE, Sharby N. Disability reconsidered: the paradox of physical therapy. Phys Ther 2011; 91(12):1715-1727..

Já na segunda metade do século XX, pessoas com deficiência se articulam politicamente e levantam sérios questionamentos à concepção médica, dando origem ao modelo social da deficiência. Nessa perspectiva, a deficiência é explicada não por causas individuais, mas sociais: são os arranjos coletivos hostis à diversidade que produzem as situações de deficiência. O modelo social julga a deficiência como um sistema de opressão que incide sobre pessoas com certas diferenças corporais. Nesse sentido, deficiência não é algo que o indivíduo tem, mas que lhe é imposto pelas estruturas sociais injustas e excludentes. A solução, portanto, está na luta por reforma social e garantia de direitos.

O modelo social abriu pontos de vista que permitiram a valorização das diferenças corporais e funcionais de pessoas com deficiência. Na perspectiva afirmativa, essas diferenças, ao contrário de aberração ou tragédia, são parte integral da diversidade humana, maneiras únicas de estar no mundo, e podem ser fruto de orgulho, dignidade e riqueza pessoal99 Diniz D, Barbosa L, Santos WR. Deficiência, direitos humanos e justiça. Sur Rev Int Dir Hum 2009; 6(11):64-77.,2424 Patston P. Constructive functional diversity: a new paradigm beyond disability and impairment. Disabil Rehabil 2007; 29(20-21):1625-1633.,2525 McRuer R. Crip Theory: Cultural Signs of Queerness and Disability. New York: New York University Press; 2006.. Alguns indivíduos rejeitam a cura como solução: querem é que se modifiquem as pessoas, os valores e recursos ao redor, incluindo atitudes de profissionais de saúde, para que as diferenças sejam celebradas2626 Hubbard S. Disability studies and health care curriculum: the great divide. J Allied Health 2004; 33(3):184-188..

Essas quatro vertentes explicativas não são necessariamente antagônicas ou irreconciliáveis. Na realidade, elementos das perspectivas moral/religiosa, médica, social e afirmativa frequentemente se misturam e originam concepções individuais às vezes consolidadas, às vezes incertas, ambíguas ou conflitantes, o que reflete a natureza complexa do fenômeno da deficiência2727 Leite LP, Cardoso HF, Oliveira T. Escala intercultural de concepções de deficiência: construção e estudos psicométricos. Rev Bras Educ Esp 2021; 27:573-588.,2828 Leonardo NST, Silva SMC, Leal SFRG. A (des)patologização do processo de escolarização: contribuições da psicologia histórico-cultural. Maringá: Eduem; 2021.. Assim, a compreensão das concepções individuais deve considerar o contexto histórico e político, bem como a maneira que seus elementos interagem colocando as diferentes vertentes explicativas em perspectiva e desestabilizando o sentido da deficiência2727 Leite LP, Cardoso HF, Oliveira T. Escala intercultural de concepções de deficiência: construção e estudos psicométricos. Rev Bras Educ Esp 2021; 27:573-588.,2828 Leonardo NST, Silva SMC, Leal SFRG. A (des)patologização do processo de escolarização: contribuições da psicologia histórico-cultural. Maringá: Eduem; 2021..

Se convidados a se posicionar e justificar seu posicionamento sobre um tema complexo, os indivíduos se veem encorajados a processar cognitivamente as suas experiências pessoais e os seus contextos culturais para comunicar suas interpretações e buscar entendimento mútuo2929 Habermas J. Teoria do Agir Comunicativo I: racionalidade da ação e racionalização social. São Paulo: Martins Fontes; 2012.,3030 Habermas J. Teoria do Agir Comunicativo II: sobre a crítica da razão funcionalista. São Paulo: Martins Fontes; 2012.. Assim, ao serem indagados sobre crenças e definições (muitas vezes até então inarticuladas) sobre a deficiência, estudantes e profissionais de saúde podem expressar certezas, bem como questionar visões antes não questionadas, ou ainda, confrontar-se com dúvidas, imprecisões, tentativas de redefinição, típicas do processamento de conceitos.

Desse modo, com o objetivo de captar essas diferentes nuances, exploramos um conjunto de afirmativas representativas de distintas concepções de deficiência, convidando estudantes e profissionais de saúde a justificar sua concordância ou discordância com cada uma delas, de modo a refletir sobre diferentes percepções. Dado o impacto das concepções sobre deficiência na atuação desses profissionais de saúde, utilizamos uma combinação de métodos qualitativos com o objetivo de investigar de maneira inédita as concepções de deficiência de profissionais em formação e em exercício. Os conteúdos identificados nas entrevistas foram discutidos à luz das diretrizes nacionais e internacionais que atualmente orientam a assistência à saúde de pessoas com deficiência.

Métodos

Delineamento do estudo

Foi realizado um estudo qualitativo que buscou entrevistar estudantes e profissionais de 14 profissões da saúde, com entrevistas individuais mistas (estruturadas e semiestruturadas). As profissões-alvo eram medicina, odontologia, psicologia, enfermagem, educação física, fonoaudiologia, nutrição, medicina veterinária, farmácia, terapia ocupacional, gestão de serviços de saúde, biomedicina, tecnologia em radiologia e fisioterapia. Como referencial teórico, o estudo utilizou a teoria do agir comunicativo2929 Habermas J. Teoria do Agir Comunicativo I: racionalidade da ação e racionalização social. São Paulo: Martins Fontes; 2012.,3030 Habermas J. Teoria do Agir Comunicativo II: sobre a crítica da razão funcionalista. São Paulo: Martins Fontes; 2012., e para a sistematizar os dados, a análise de conteúdo conforme Bardin3131 Bardin L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70; 2011., um conjunto de técnicas de pesquisa cujo objetivo é codificar os principais significantes textuais que, agrupados, revelam sentidos e padrões relacionados aos valores e ideias acerca da deficiência. A coleta de dados ocorreu de agosto a dezembro de 2020. Todos os procedimentos do estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (CAAE: 09674819.9.0000.5149). O relato deste trabalho atende a todos os critérios do Standards for Reporting Qualitative Research3232 O'Brien BC, Harris IB, Beckman TJ, Reed DA, Cook DA. Standards for reporting qualitative research: a synthesis of recommendations. Acad Med 2014; 89(9):1245-1251..

Participantes

Foram selecionados estudantes e profissionais da área da saúde residentes em Minas Gerais. A amostragem intencional foi direcionada para alcançar a variação máxima de áreas da saúde, entre estudantes e profissionais, usando a abordagem de bola de neve: os participantes iniciais foram contatados por indicação de conhecidos via WhatsApp (HA Silva) e os demais indicados pelos primeiros entrevistados. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), concordando em participar. Além disso, permitiram a gravação de voz e transcrição das entrevistas, com manutenção do anonimato. Foram selecionados 30 voluntários, sendo 18 estudantes (6 homens e 12 mulheres, uma delas pessoa com deficiência) com idade média de 21,5 (± 2,64 anos), e 12 profissionais da área da saúde (6 homens e 6 mulheres), com idade média de 27,25 (± 4,34) anos. Dos 30 participantes, 18 se declararam brancos (60%), 10 pardos (33,33%) e 2 pretos (6,66%), e 11 relataram conviver com pessoas com deficiência (36,6%). Para todas as profissões foram incluídos pelo menos um estudante e um profissional, exceto radiologia (um estudante apenas) e fisioterapia (dois estudantes apenas). A maioria dos participantes não conhecia os autores do estudo. Os autores não tinham qualquer tipo de relação de supervisão, ensino ou autoridade sobre os participantes.

Procedimentos

A exemplo de Mackenzie et al.3333 McKenzie J, Braswell B, Jelsma J, Naidoo N. A case for the use of Q-methodology in disability research: lessons learned from a training workshop. Disabil Rehabil 2011; 33(21-22):2134-2141., em uma primeira etapa foi constituído, por meio de convites das pesquisadoras, um painel de ativistas dos direitos das pessoas com deficiência e especialistas ligados aos estudos da deficiência. Ao todo, foram oito pessoas com deficiência e qutro sem deficiência, sendo nove acadêmicos de áreas diversas do conhecimento (sociologia, comunicação social, direito, educação, letras, libras) e três ativistas. O painel avaliou frases coletadas pelas pesquisadoras na literatura nacional e internacional11 Albrecht GL, Seelman KD, Bury M. Handbook of disability studies. California: Sage Publications; 2001.

2 Brasil. Presidência da República. Lei nº 13,146, 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da União 2015; 6 jul.

3 Olkin R. Could you hold the door for me? Including disability in diversity. Cultur Divers Ethnic Minor Psychol 2002; 8(2):130-137.

4 Hammel KW. Perspectives on Disability & Rehabilitation: contesting assumptions, challenging practices. Edinburgh: Elsevier; 2006.

5 Pereira R. Diversidade funcional: a diferença e o histórico modelo de homem-padrão. Hist Cienc Saude-Manguinhos 2009; 16(3):715-728.

6 Barnes C, Barton L, Oliver M. Disability studies today. Cambridge: Polity Press; 2002.

7 Shakespeare T. Disability Rights and Wrongs Revisited. New York: Routledge; 2013.

8 Soffer M, Chew F. Framing disability among young adults with disabilities and non-disabled young adults: an exploratory study. Disabil Rehabil 2015; 37(2):171-178.

9 Diniz D, Barbosa L, Santos WR. Deficiência, direitos humanos e justiça. Sur Rev Int Dir Hum 2009; 6(11):64-77.

10 Dalboni GL, Garcêz RL, Assis ÍC, Vaz DV. Conceptions of disability among physiotherapists: an exploratory qualitative study. Physiother Theory Pract 2022; 39(8):1662-1671.

11 Gibson BE. Rehabilitation: A Post-Critical Approach. Boca Raton: CRC Press; 2016.

12 Magasi S. Infusing disability studies into the rehabilitation sciences. Top Stroke Rehabil 2008; 15(3):283-287.

13 Yoshida KK, Self H, Willis H. Values and Principles of Teaching Critical Disability Studies in a Physical Therapy Curriculum: Reflections from a 25-Year Journey-Part 1: Critical Disability Studies Value Framework. Physiother Can 2016; 68(4):315-322.

14 Júnior L, Martins MC. História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência; 2010.

15 Maia RCM, Vimieiro AC. Recognition and Moral Progress: A Case Study about Discourses on Disability in the Media. Polit Studies 2013; 63(1):161-180.

16 Diniz D. Modelo social da deficiência: a crítica feminista. SerieAnis 2003; 28:1-10.

17 Shakespeare T, Kleine I. Educating Health Professionals about Disability: A Review of Interventions. Health Soc Care Educ 2015; 2:20-37.

18 Andrada BF. Construções narrativas da deficiência no discurso acadêmico brasileiro: modelos teóricos da deficiência e as especificidades do contexto nacional. In: I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência. Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência. São Paulo, Brasil. São Paulo: SEDPcD/Diversitas/USP Legal; 2013. p. 1-18.

19 Shakespeare T, Iezzoni LI, Groce NE. Disability and the training of health professionals. Lancet 2009; 374(9704):1815-1816.

20 Crotty M, Finucane P, Ahern M. Teaching medical students about disability and rehabilitation: methods and student feedback. Med Educ 2000; 34(8):659-664.
-2121 Vaz DV, Antunes AAM, Furtado SRC. Tensões e possibilidades no campo da reabilitação sob a ótica dos estudos da deficiência. Cad Bras Ter Ocup 2019; 27(4):917-928., com o objetivo de adaptá-las para compor um banco de frases representativo das diferentes perspectivas de deficiência no contexto brasileiro1818 Andrada BF. Construções narrativas da deficiência no discurso acadêmico brasileiro: modelos teóricos da deficiência e as especificidades do contexto nacional. In: I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência. Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência. São Paulo, Brasil. São Paulo: SEDPcD/Diversitas/USP Legal; 2013. p. 1-18.. O procedimento resultou na definição de 34 frases (descritas nos Quadros 1 a 4) que expressam elementos das perspectivas moral/religiosa, médica, social e afirmativa.

Quadro 1
Distribuição dos posicionamentos e justificativas exemplares frente a cada afirmativa da perspectiva religiosa ou moral.
Quadro 2
Distribuição dos posicionamentos e justificativas exemplares frente a cada afirmativa da perspectiva médica.
Quadro 3
Distribuição dos posicionamentos e justificativas exemplares frente a cada afirmativa da perspectiva social.
Quadro 4
Distribuição dos posicionamentos e justificativas exemplares frente a cada afirmativa da perspectiva afirmativa.

Nas entrevistas individuais, os participantes foram convidados a definir seu posicionamento sobre cada afirmativa em uma escala linear variando de 1 (discordo completamente) a 5 (concordo completamente). A ordem de apresentação das afirmativas foi definida por sorteio, e mantida a mesma para todos os participantes. Em seguida, a cada resposta de grau de concordância, os participantes foram solicitados a justificar seu posicionamento. As respostas transcritas de todos os participantes foram organizadas em uma planilha, de modo a permitir comparações entre as respostas de todos os entrevistados, por grau de concordância.

As entrevistas foram realizadas por uma discente do curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Minas Gerais, que foi previamente treinada pela equipe para que conduzisse as entrevistas sem interferir na opinião dos participantes. As entrevistas ocorreram durante a pandemia de COVID-19, por meio de reuniões virtuais que foram gravadas pela plataforma digital Zoom, com identificadores anônimos atribuídos por HA Silva. Os registros do grau de concordância ou discordância foram feitos em um formulário eletrônico simultaneamente à entrevista. O áudio com a argumentação dos participantes para justificar seu posicionamento foi transcrito e revisado por HA Silva.

Análise

Para a definição do corpus de análise foram primeiramente realizadas leituras exploratórias, com o objetivo de identificar, para todas as 34 afirmativas, o grau de concordância e discordância e as justificativas explicitadas para cada posicionamento. Foram preteridas as falas que não consistiam em uma descrição de razões para o posicionamento em relação à afirmativa apresentada ao participante (por exemplo, apenas repetiam a afirmativa). Em seguida, foram identificadas recorrências dos argumentos e selecionados argumentos exemplares utilizados para justificar as opiniões dos participantes. Essa análise foi realizada por LAD Almeida (doutora em sociologia) e HA Silva (discente da fisioterapia). As justificativas usadas pelos participantes foram interpretadas à luz da literatura dos estudos da deficiência. A análise foi feita por LAD Almeida, HA Silva, RL Garcêz (doutora em comunicação social) e DV Vaz (doutora em psicologia experimental) de maneira reflexiva, por meio de discussões e questionamentos de suposições estabelecidas. A partir dessa análise, foram feitas descrições dos resultados obtidos, incluindo as porcentagens por grau de concordância e as justificativas exemplares para cada afirmativa, utilizando expressões usadas pelos participantes sinalizadas entre aspas duplas. Por fim, os dados obtidos foram examinados e discutidos à luz da literatura e do conhecimento e experiência das autoras.

Resultados

As porcentagens por grau de concordância e justificativas exemplares para concordar ou discordar de cada frase estão apresentadas nos Quadros 1 a 4. De maneira geral, os posicionamentos dos entrevistados sobre frases representativas da perspectiva moral/religiosa (Quadro 1) foram bem distribuídos, com leve predominância de concordância. Nenhuma afirmativa provocou mais de 40% de discordância. Duas das afirmativas obtiveram 50% ou mais de concordância: a que atribui uma missão especial ou exemplar de vida às pessoas com deficiência e a que afirma que Deus escreve certo por linhas tortas. Em geral, através de suas justificativas, os entrevistados interpretaram a deficiência como uma condição geradora de “insuficiência”, escolhida em justa medida para quem a possui, necessária para o aprendizado da própria pessoa com deficiência e das outras no seu entorno, e que precisa ser superada pelo indivíduo com ajuda da caridade. A existência de pessoas com deficiência foi também interpretada como um meio de que as pessoas reconheçam o privilégio que têm e que sejam mais gratos pela sua saúde e “perfeição”. Contrapontos incluíram afirmar que não há nada exemplar em uma pessoa com deficiência fazer atividades básicas do dia a dia, ou que a deficiência pode ser atribuída ao acaso, ao invés de um propósito maior. Houve também críticas de viés politizado: a visão de pessoas com deficiência como “anjos” com missão especial, alvos de “castigo divino”, objetos de pena, ou instrumentos para que outras se tornem melhores foi considerada redutiva, inferiorizante e “capacitista”. No lugar de iniciativas de caridade, os participantes apontaram a necessidade de responsabilização do estado e de reforma social.

Em relação às afirmativas de perspectiva médica (Quadro 2), a maior parte foi endossada pelos entrevistados. Seis das nove afirmativas obtiveram índices de concordância variando entre 56% e 80%. Nas justificativas exemplares, a deficiência foi interpretada como um fenômeno evidentemente indesejado por todos, que decorre de problemas que incidem sobre o corpo, que depende de definição médica para sua legitimação, e que diferencia as pessoas com deficiência das demais por suas “limitações” e “dificuldades”. A diferenciação entre casos “extremos”, “totalmente incapacitantes”, de outros casos considerados “mais brandos” foi apontada como um fator que pode comprometer a qualidade de vida. A possibilidade de cura e de impedir a existência de deficiências por meio da ciência foi bem-vista pela maioria, sendo, segundo um participante, um meio de tornar as pessoas mais iguais, avançando assim na solução do “problema do mundo”. Apenas três afirmativas não obtiveram mais de 50% de concordância. Dos participantes, 46% afirmaram que as deficiências precisam ser tratadas, para garantir a sobrevivência, seja como forma de cuidado paliativo, ou para serem “minimizadas” ou “revertidas”. Uma minoria dos participantes concordou com a necessidade de reabilitação para ajustamento às demandas sociais ou com a necessidade de buscar a normalidade, argumentando que “infelizmente” esta é a condição de aceitação em uma “sociedade padronizada” e que qualquer pessoa que lute contra a deficiência tem a “pessoa saudável” como ideal.

Entre os motivos para discordar das afirmativas médicas, usados por uma minoria de participantes, figuraram argumentos de que a deficiência é indesejável, porém não é trágica se houver recursos, que a diferença de pessoas com deficiência para as demais está na maneira como são tratadas e nas oportunidades acessíveis a elas, que tratamentos só devem ser feitos se desejados e que deficiência não é doença, portanto não precisa de cura ou de esforço para a correção, mas sim aceitação das diferenças e inclusão. Para alguns participantes, é a sociedade que “precisa de reabilitação” e o avanço científico deve promover o acesso, ao invés da eliminação das deficiências.

As afirmativas do modelo social (Quadro 3) também tiveram expressiva adesão dos participantes. A concordância foi maior do que a discordância ou neutralidade em 10 das 12 afirmativas. A necessidade de mudança social para inclusão e garantia de direitos para pessoas com deficiência foi endossada por 96% e rejeitada por 0% dos entrevistados, e 86% concordaram que a qualidade de vida é mais afetada por obstáculos sociais do que por impedimentos corporais. Em geral, os participantes argumentaram que barreiras ambientais podem agravar situações de deficiência, que dificuldades enfrentadas em ambientes não inclusivos são injustas e configuram violação de direitos, que a exclusão pode ser mais incapacitante que os impedimentos corporais e que a própria pessoa com deficiência é quem deve avaliar se a sua condição é boa ou ruim. Entre as razões para discordar da perspectiva social, os participantes apontaram que alguns tipos de impedimentos, por exemplo de natureza mental, podem ser inerentemente negativos e limitantes, causando sofrimento significativo, que a correção ou cura podem ser desejadas e promover melhor qualidade de vida, que algumas incapacidades graves não podem ser minoradas por garantias sociais, e que pessoas com deficiência já conquistaram igualdade formal de direitos. Duas afirmativas foram rejeitadas por mais da metade dos participantes, que argumentaram que a deficiência é um fato anterior e independe de escolhas e arranjos sociais, sendo os processos de exclusão social consequências, e não causas, desse fato. Os posicionamentos foram bem distribuídos em relação à definição da deficiência como restrição de participação ou como algo que varia entre diferentes culturas.

Quatro das oito frases da perspectiva afirmativa (Quadro 4) obtiveram mais de 50% de concordância. Em geral, através de suas justificativas, os entrevistados apontaram que todos somos suscetíveis a nos tornar pessoas com deficiência ou a conviver com alguém que tem deficiência, que todos temos fragilidades ou dificuldades como as pessoas com deficiência, que ser uma pessoa com deficiência pode ser fonte de orgulho na medida em que houver superação das dificuldades que ela impõe, e que a existência da deficiência é valorosa para o mundo como fonte de inspiração e motivação. Como contrapontos, os entrevistados argumentaram que orgulho e felicidade não estão na deficiência, mas na sua cura, tratamento ou superação, que a deficiência não é parte natural da vida de todos por ser ocultada socialmente, e que seria ideal sermos todos iguais, sem deficiência. Para o restante das frases, os posicionamentos foram bem distribuídos. Os argumentos usados apontam para o fato de que todos, tendo deficiência ou não, precisam de ajuda de outros e de que é necessário demarcar quem é “pessoa com deficiência”, entendida como categoria médica e política, para que haja garantia de direitos específicos, que poderiam ser prejudicados sem essa demarcação.

Discussão

Este estudo investigou as concepções de deficiência de 30 entrevistados, tendo como referência a definição da LBI, elaborada a partir da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas3434 Brasil. Presidência da República. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Diário Oficial da União 2009; 26 ago.. Estados que ratificaram a Convenção se responsabilizaram por “realizar atividades de formação […] de modo a conscientizar os profissionais de saúde acerca dos direitos humanos, da dignidade, autonomia e das necessidades das pessoas com deficiência”3434 Brasil. Presidência da República. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Diário Oficial da União 2009; 26 ago.. Tanto a Convenção quanto a LBI promovem a ideia de que deficiência não se resume aos impedimentos do corpo, pois é o resultado negativo da interação de um corpo com impedimentos com ambientes sociais pouco sensíveis à diversidade das pessoas99 Diniz D, Barbosa L, Santos WR. Deficiência, direitos humanos e justiça. Sur Rev Int Dir Hum 2009; 6(11):64-77.. A deficiência é uma questão de desigualdade de participação social plena, decorrente das barreiras impostas a indivíduos com determinados impedimentos corporais3535 Santos W. Deficiência como restrição de participação social: desafios para avaliação a partir da Lei Brasileira de Inclusão. Cien Saude Colet 2016; 21(10):3007-3015.. Assim, as desvantagens sociais frequentemente vividas por pessoas com deficiências não são naturais ou inerentes aos contornos do corpo, mas resultado de valores, atitudes e práticas que discriminam o corpo com impedimentos99 Diniz D, Barbosa L, Santos WR. Deficiência, direitos humanos e justiça. Sur Rev Int Dir Hum 2009; 6(11):64-77..

Conforme antecipamos, nossa análise das justificativas dos entrevistados revelou a coexistência de compreensões que envolvem diferentes perspectivas da deficiência. Por exemplo, enquanto a definição de deficiência como restrição desigual de participação teve relativa aceitação, emergiu também com frequência a concepção de impedimentos corporais como origem de desigualdades entre pessoas, sendo sua cura uma forma de buscar a redução do “problema do mundo”. De forma geral, houve grande adesão dos entrevistados tanto a elementos biomédicos quanto a elementos sociais da deficiência. Emergiram, em uma minoria de justificativas, críticas a ideologias individualizantes da deficiência e processos de exclusão. Ficou clara também a assimilação da deficiência como determinação moral e/ou religiosa em boa parte das justificativas. Isso sugere que um contexto sócio-histórico em que a legislação contempla componentes sociais da deficiência e as próprias pessoas com deficiência passam a ter mais oportunidades de expressar suas capacidades pode ter tensionado perspectivas mais tradicionais, como a médica e a moral/religiosa2727 Leite LP, Cardoso HF, Oliveira T. Escala intercultural de concepções de deficiência: construção e estudos psicométricos. Rev Bras Educ Esp 2021; 27:573-588..

Entretanto, a perspectiva médica ainda parece ter hegemonia entre profissionais de saúde44 Hammel KW. Perspectives on Disability & Rehabilitation: contesting assumptions, challenging practices. Edinburgh: Elsevier; 2006.,1010 Dalboni GL, Garcêz RL, Assis ÍC, Vaz DV. Conceptions of disability among physiotherapists: an exploratory qualitative study. Physiother Theory Pract 2022; 39(8):1662-1671.

11 Gibson BE. Rehabilitation: A Post-Critical Approach. Boca Raton: CRC Press; 2016.

12 Magasi S. Infusing disability studies into the rehabilitation sciences. Top Stroke Rehabil 2008; 15(3):283-287.
-1313 Yoshida KK, Self H, Willis H. Values and Principles of Teaching Critical Disability Studies in a Physical Therapy Curriculum: Reflections from a 25-Year Journey-Part 1: Critical Disability Studies Value Framework. Physiother Can 2016; 68(4):315-322.,3636 Bezmez D, Shakespeare T, Lee K. Theorising rehabilitation: Actors and parameters shaping normality, liminality and depersonalisation in a UK hospital. Sociol Health Illn 2021; 43(3):713-731.

37 Chiang JL, Kim D, Siu C, White B, Zhu M, Switzer-McIntyre S, Gibson BE. What is 'disability'? Exploring the conceptions of internationally educated learners in a Canadian physical therapy bridging program. Physiother Theory Pract 2022; 40(2):276-287.
-3838 Gill CJ, Mukherjee SS, Garland-Thomson R, Mukherjee D. Disability Stigma in Rehabilitation. PMR 2016; 8(10):997-1003., apesar dos esforços da Organização Mundial de Saúde para divulgar e implantar universalmente a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - CIF - há mais de 20 anos4040 Organização Mundial da Saúde. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). São Paulo: Edusp; 2003.. A CIF desafia o modelo médico ao incorporar uma compreensão interacionista dos mediadores sócio-políticos e biomédicos da deficiência77 Shakespeare T. Disability Rights and Wrongs Revisited. New York: Routledge; 2013.,3939 Bickenbach J. Ethics, disability and the International Classification of Functioning, Disability and Health. Am J Phys Med Rehabil 2012; 91(13 Suppl. 1):S163-S167.,4040 Organização Mundial da Saúde. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). São Paulo: Edusp; 2003.. No Brasil, a Resolução 452 do Conselho Nacional de Saúde4141 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Resolução nº 452, 10 de maio de 2012. Institui que a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - CIF seja utilizada no Sistema Único de Saúde, inclusive na Saúde Suplementar. Diário Oficial da União 2012; 10 maio. determina que a CIF seja utilizada no Sistema Único de Saúde e como ferramenta pedagógica na elaboração de programas educacionais. Porém, enquanto é possível encontrar ampla literatura sobre o uso da CIF na formação de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais4242 Ruaro JA, Ruaro MB, Souza DE, Fréz AR, Guerra RO. An overview and profile of the ICF's use in Brazil-a decade of history. Braz J Phys Ther 2012; 16(6):454-462.

43 Prodinger B, Darzin S, Magasi S, Baptiste S. The International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF): opportunities and challenges to the use of ICF for occupational therapy. WFOT Bull 2015; 71(2):108-114.

44 Escorpizo R, Bemis-Dougherty A. Introduction to special issue: a review of the international classification of functioning, disability and health and physical therapy over the years. Physiother Res Int 2015; 20(4):200-209.
-4545 Pernambuco AP, Carvalho Lana R, Polese JC. Knowledge and use of the ICF in clinical practice by physiotherapists and occupational therapists of Minas Gerais. Fisioter Pesqui 2018; 25(2):134-142., isso é raro para outras profissões na área da saúde. Permanecem muito comuns, portanto, concepções de que impedimentos corporais implicam naturalmente desigualdades sociais, confundindo-se com estas, sendo assim “logicamente” indesejados3939 Bickenbach J. Ethics, disability and the International Classification of Functioning, Disability and Health. Am J Phys Med Rehabil 2012; 91(13 Suppl. 1):S163-S167.. Na visão da maior parte dos entrevistados, as práticas de saúde devem prevenir, reparar ou reverter sinais de anormalidade, a fim de garantir a todas as pessoas um padrão de funcionamento típico à espécie2323 Roush SE, Sharby N. Disability reconsidered: the paradox of physical therapy. Phys Ther 2011; 91(12):1715-1727.,4646 Sharp A, Herrman D. Disability and physical therapy: a complicated relationship, an uncertain path forward. Phys Ther 2021; 101(7):pzab085., compatível com preceitos morais de produtividade e adequação às normas sociais99 Diniz D, Barbosa L, Santos WR. Deficiência, direitos humanos e justiça. Sur Rev Int Dir Hum 2009; 6(11):64-77., numa sociedade “infelizmente” “padronizada”. Quanto mais fiel ao simulacro da normalidade, maior o sucesso da medicalização dos impedimentos99 Diniz D, Barbosa L, Santos WR. Deficiência, direitos humanos e justiça. Sur Rev Int Dir Hum 2009; 6(11):64-77.. Parece evidente, portanto, conforme um das justificativas exemplares, que “toda pessoa que luta contra a deficiência é para tentar se tornar o mais próximo possível de uma pessoa saudável, que não possui deficiência.”

Apesar disso, afirmativas da perspectiva social tiveram grande aceitação. Essa perspectiva se tornou popular no país com mudanças culturais ao longo de várias décadas impulsionadas pelo ativismo das próprias pessoas com deficiência em diferentes instâncias1414 Júnior L, Martins MC. História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência; 2010.. A presença cada vez maior dessas pessoas nas escolas, universidades e mercado de trabalho em função das políticas de cota e inclusão, a participação das pessoas com deficiência em instâncias políticas, como os conselhos e conferências de direitos4747 Silva MMRG. Condições e contradições por direitos sociais e inclusão: uma análise sobre as movimentações e mediações de pessoas com deficiência em conferências de saúde [dissertação]. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; 2012. e a repercussão cada vez maior de suas lutas por meio de diversas plataformas da internet são elementos que devem ser considerados nessa mudança da cultura política em relação à deficiência. Um estudo da mídia brasileira de massa impressa entre 1960 e 2008 revelou amplas transformações1515 Maia RCM, Vimieiro AC. Recognition and Moral Progress: A Case Study about Discourses on Disability in the Media. Polit Studies 2013; 63(1):161-180. como resultado dessas lutas. Até 1980, a deficiência foi predominantemente enquadrada como um problema individual que deveria ser enfrentado com obras de caridade e tratamentos médicos. A partir de 1980, no entanto, os enquadramentos de direitos humanos, acessibilidade, participação social e qualidade de vida ganharam influência, transferindo para a sociedade como um todo a responsabilidade pelo enfrentamento das questões relacionadas à deficiência1515 Maia RCM, Vimieiro AC. Recognition and Moral Progress: A Case Study about Discourses on Disability in the Media. Polit Studies 2013; 63(1):161-180..

Assim, a aceitação de perspectivas sociais entre os participantes pode ser interpretada como sinal do progressivo reconhecimento social das pessoas com deficiência por meio de uma “aprendizagem coletiva” conforme diferentes percepções foram sendo tensionadas1515 Maia RCM, Vimieiro AC. Recognition and Moral Progress: A Case Study about Discourses on Disability in the Media. Polit Studies 2013; 63(1):161-180.. Ou seja, parece ter havido uma generalização de valores e conhecimentos acumulados que proporcionaram aos indivíduos entrevistados pré-interpretações internalizadas em graus variados como senso comum4848 Honneth A. Grounding recognition: a rejoinder to critical questions. Interdisciplinary J Philosophy 2002; 45(4):499-520.. Segundo as diferentes justificativas oferecidas, no entanto, a aceitação de preceitos sociais parece ter sido superficial, sem integração em uma síntese multidimensional que considere concepção de deficiência explicitada tanto na Convenção quanto na LBI e na CIF3939 Bickenbach J. Ethics, disability and the International Classification of Functioning, Disability and Health. Am J Phys Med Rehabil 2012; 91(13 Suppl. 1):S163-S167.. Por exemplo, a deficiência ainda foi interpretada como um fato natural, anterior aos arranjos sociais4949 Mosleh D. Critical disability studies with rehabilitation: re-thinking the human in rehabilitation research and practice. J Human Rehab 2019; 1-12.. Reiteradamente, os entrevistados afirmaram que a desigualdade (as restrições de participação social, por exemplo) não provocam ou constituem a deficiência, apenas decorrem dela. Além disso, o ideal de padronização dos indivíduos através das intervenções de saúde2323 Roush SE, Sharby N. Disability reconsidered: the paradox of physical therapy. Phys Ther 2011; 91(12):1715-1727.,4646 Sharp A, Herrman D. Disability and physical therapy: a complicated relationship, an uncertain path forward. Phys Ther 2021; 101(7):pzab085., expresso com frequência, subentende localizar e reduzir a desigualdade das diferenças.

Foram comuns visões moralizantes da deficiência, que podem ser compreendidas de duas perspectivas. Primeiro, há um reforço da moralidade da eficiência5050 Taylor C. As fontes do "self": a construção da identidade moderna. São Paulo: Loyola; 1997. ao relacionar deficiência a “insuficiência”, “dificuldade”, “incapacidade” ou “fragilidade” que “ninguém quer” ou “fica feliz em ver”. A esfera do trabalho e do desempenho é uma das grandes definidoras da hierarquia moral que se configurou na modernidade, responsável por definir o que tem valor5151 Honneth A. Recognition and moral obligation. Soc Res Int Quarterly 1997; 64(1):16-35.. Desse modo, a deficiência estaria associada a algo negativo, que não contribui para as expectativas sociais do mundo da produtividade. Segundo, há uma moralidade herdeira da religiosidade que relaciona deficiência a algo justo e necessário para a realização de uma missão de exemplo de vida e aprendizado: para quem as vivencia, de “superação”; para os outros, de “inspiração”, gratidão por serem “perfeitos” e oportunidade de praticar a “ajuda”. A atribuição da deficiência a uma razão maior também se ancora na ideia de que há valor na deficiência pois ela é capaz de contribuir para a sociedade trazendo inspiração, gratidão e pessoas melhores.

Historicamente, a contestação da narrativa moral e/ou religiosa pela narrativa biomédica foi recebida como um passo importante para a garantia da igualdade5252 Barton L. Discapacidad y sociedad. Madrid: Morata Editora; 1998.,5353 Courtine JJ. A história do corpo. São Paulo: Editora Vozes; 2006.. Mais tarde, a crítica social deslocou o tema da deficiência do nível do indivíduo para o da sociedade, do infortúnio para a justiça, da natureza para a política1616 Diniz D. Modelo social da deficiência: a crítica feminista. SerieAnis 2003; 28:1-10.. Alguns poucos participantes expressaram críticas a essa natureza, julgando a visão moralizante como preconceituosa e apontando a necessidade de responsabilizar o Estado e reformar a sociedade. Enquanto isso, frases da perspectiva afirmativa foram ora contestadas, ora aceitas como meio para reafirmar perspectivas morais/religiosas. Por exemplo, a ideia de que a deficiência possa ser fonte de felicidade, orgulho e realização pessoal foi tanto negada quanto endossada com a mesma justificativa de que esses sentimentos seriam possíveis em função da superação da própria deficiência. No material analisado, a autorrealização só seria possível se consideradas as contribuições possíveis da deficiência à sociedade como algo útil e não como uma característica em si mesma. A existência das diferenças corporais ou mentais das pessoas com deficiência no mundo foi valorada positivamente como algo que “serviria de modo motivacional” e também negativamente como um problema que “ninguém gosta de ter” e que nos torna desiguais. O equacionamento entre diferenças e desigualdades foi bastante comum, revelando uma compreensão reducionista e naturalizadora das complexas e injustas dinâmicas político-sociais.

As concepções expressas por profissionais de saúde revelam a necessidade de crítica e atenção à formação, dado que podem constituir facilitadores ou barreiras para os cuidados de saúde de indivíduos com deficiência1010 Dalboni GL, Garcêz RL, Assis ÍC, Vaz DV. Conceptions of disability among physiotherapists: an exploratory qualitative study. Physiother Theory Pract 2022; 39(8):1662-1671.,1212 Magasi S. Infusing disability studies into the rehabilitation sciences. Top Stroke Rehabil 2008; 15(3):283-287.,1313 Yoshida KK, Self H, Willis H. Values and Principles of Teaching Critical Disability Studies in a Physical Therapy Curriculum: Reflections from a 25-Year Journey-Part 1: Critical Disability Studies Value Framework. Physiother Can 2016; 68(4):315-322.,1717 Shakespeare T, Kleine I. Educating Health Professionals about Disability: A Review of Interventions. Health Soc Care Educ 2015; 2:20-37.,1919 Shakespeare T, Iezzoni LI, Groce NE. Disability and the training of health professionals. Lancet 2009; 374(9704):1815-1816.. As práticas de cuidado estão, na realidade, muito aquém das diretrizes comprometidas com a inclusão e as mudanças atitudinais e culturais em relação a essa população. Pesquisa da Organização Mundial de Saúde constatou que as pessoas com deficiência foram duas vezes mais propensas a achar as habilidades e equipamentos dos profissionais de saúde inadequados para atender às suas necessidades; tiveram três vezes mais chances de ter o cuidado negado; e quatro vezes mais probabilidade de serem maltratadas pelos prestadores de serviços1717 Shakespeare T, Kleine I. Educating Health Professionals about Disability: A Review of Interventions. Health Soc Care Educ 2015; 2:20-37.,5454 World Health Organization (WHO), World Bank (WB). World report on disability. Geneva: WHO; 2022.. Especulamos, em concordância com Andrada1818 Andrada BF. Construções narrativas da deficiência no discurso acadêmico brasileiro: modelos teóricos da deficiência e as especificidades do contexto nacional. In: I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência. Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência. São Paulo, Brasil. São Paulo: SEDPcD/Diversitas/USP Legal; 2013. p. 1-18., que na raiz desse problema estão, fundamentalmente, barreiras ideológicas. Parte das dificuldades em implementar ações verdadeiramente inclusivas de cuidado reside na resistência de concepções da deficiência como “tragédia pessoal”, comuns na área da saúde1717 Shakespeare T, Kleine I. Educating Health Professionals about Disability: A Review of Interventions. Health Soc Care Educ 2015; 2:20-37.. A difusão de uma compreensão da deficiência como fenômeno complexo, de natureza multidimensional (biológica, psicológica e social), permanece limitada tanto na produção acadêmica brasileira1818 Andrada BF. Construções narrativas da deficiência no discurso acadêmico brasileiro: modelos teóricos da deficiência e as especificidades do contexto nacional. In: I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência. Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência. São Paulo, Brasil. São Paulo: SEDPcD/Diversitas/USP Legal; 2013. p. 1-18. quanto na formação universitária de cursos da saúde do mundo todo1212 Magasi S. Infusing disability studies into the rehabilitation sciences. Top Stroke Rehabil 2008; 15(3):283-287.,1313 Yoshida KK, Self H, Willis H. Values and Principles of Teaching Critical Disability Studies in a Physical Therapy Curriculum: Reflections from a 25-Year Journey-Part 1: Critical Disability Studies Value Framework. Physiother Can 2016; 68(4):315-322., bem como no discurso dos entrevistados.

Considerações finais

Este estudo é inerentemente limitado em relação à profundidade da investigação das concepções dos entrevistados, dado o formato de entrevista, única e breve, baseada na formulação de justificativas para o grau de concordância com afirmativas pré-definidas. Outros formatos de entrevista poderiam ter elucidado em maior profundidade a intercessão entre perspectivas elaboradas na interação do indivíduo com sua cultura, sua história de vida e sua formação universitária. No entanto, os resultados confirmam achados anteriores relativos às concepções de profissionais de saúde44 Hammel KW. Perspectives on Disability & Rehabilitation: contesting assumptions, challenging practices. Edinburgh: Elsevier; 2006.,1010 Dalboni GL, Garcêz RL, Assis ÍC, Vaz DV. Conceptions of disability among physiotherapists: an exploratory qualitative study. Physiother Theory Pract 2022; 39(8):1662-1671.

11 Gibson BE. Rehabilitation: A Post-Critical Approach. Boca Raton: CRC Press; 2016.

12 Magasi S. Infusing disability studies into the rehabilitation sciences. Top Stroke Rehabil 2008; 15(3):283-287.
-1313 Yoshida KK, Self H, Willis H. Values and Principles of Teaching Critical Disability Studies in a Physical Therapy Curriculum: Reflections from a 25-Year Journey-Part 1: Critical Disability Studies Value Framework. Physiother Can 2016; 68(4):315-322.,5555 Duggan A, Bradshaw YS, Carroll SE, Rattigan SH, Altman W. What can I learn from this interaction? A qualitative analysis of medical student self-reflection and learning in a standardized patient exercise about disability. J Health Commun 2009; 14(8):797-811.. Acreditamos que uma abordagem complexificada da deficiência na formação profissional - conforme a produção do campo dos estudos da deficiência - tem o potencial de evidenciar falhas na proteção e promoção dos direitos das pessoas com deficiência no cuidado à saúde e gerar mudanças concretas. Para um aprendizado abrangente e integrado, estudiosos do campo sugerem que formar parcerias autênticas com pessoas com deficiência - tanto como estudantes da saúde ou como experts com os quais os profissionais possam aprender - pode ser o tipo de formação mais transformadora1717 Shakespeare T, Kleine I. Educating Health Professionals about Disability: A Review of Interventions. Health Soc Care Educ 2015; 2:20-37.,1919 Shakespeare T, Iezzoni LI, Groce NE. Disability and the training of health professionals. Lancet 2009; 374(9704):1815-1816.. Encorajar estudantes a refletir criticamente sobre suas experiências, incluindo suas reações emocionais à deficiência, também é fundamental para o aprendizado1717 Shakespeare T, Kleine I. Educating Health Professionals about Disability: A Review of Interventions. Health Soc Care Educ 2015; 2:20-37.,2020 Crotty M, Finucane P, Ahern M. Teaching medical students about disability and rehabilitation: methods and student feedback. Med Educ 2000; 34(8):659-664.,5555 Duggan A, Bradshaw YS, Carroll SE, Rattigan SH, Altman W. What can I learn from this interaction? A qualitative analysis of medical student self-reflection and learning in a standardized patient exercise about disability. J Health Commun 2009; 14(8):797-811.. Com acesso a uma formação crítica e que ultrapasse o conhecimento biomédico, incluindo questões psicossociais, políticas e de justiça, os profissionais poderiam assumir um papel fundamental de aliados na luta contra estruturas sociais que oprimem pessoas com deficiência2121 Vaz DV, Antunes AAM, Furtado SRC. Tensões e possibilidades no campo da reabilitação sob a ótica dos estudos da deficiência. Cad Bras Ter Ocup 2019; 27(4):917-928..

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por bolsa concedida para a realização desta pesquisa.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 2025
  • Data do Fascículo
    Fev 2025

Histórico

  • Recebido
    20 Jun 2023
  • Aceito
    11 Dez 2023
  • Publicado
    13 Dez 2023
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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