COMUNICAÇÕES BREVES

 

Soroepidemiologia da infecção chagásica: contribuição para o aumento do rendimento da reação de imunofluorescência indireta*

 

 

Maria Esther de CarvalhoI; Cláudio Santos FerreiraII

ISuperintendência de Controle de Endemias — SUCEN — da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo
IIInstituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo

 

 


 

 

O trabalho de sorodiagnóstico realizado no Laboratório de Imunofluorescência da SUCEN é parte de um sistema de coleta de dados epidemiológicos sobre a doença de Chagas em todo o Estado de São Paulo. A demanda de trabalho, ponto básico para o dimensionamento de recursos a serem postos à disposição do setor, gera, obviamente, uma pressão no sentido do aumento da eficiência. Como resposta, mantemos, paralelamente ao trabalho corrente de realização de exames de amostras de sangue e de soro, além do controle de qualidade exigível, constante atividade de pesquisa visando ao refinamento das técnicas em uso. Sempre que o justifiquem os resultados dessa pesquisa, novas técnicas passam a fazer parte da atividade quotidiana3.

Em considerável parcela do nosso Estado é, atualmente, baixa a prevalência da infecção chagásica, sendo grandes as percentagens de resultados negativos de exames sorológicos1,2,4,5.

Inquéritos soroepidemiológicos realizados em populações em que é baixa a percentagem de casos positivos tornar-se-ão menos laboriosos se conjuntos de soros, previamente misturados, forem manipulados como um só caso, repetindo-se individualmente as reações de todos os integrantes dos conjuntos em que os resultados foram positivos6.

Admitindo-se a mistura de amostras escolhidas aleatoriamente, a probabilidade P de um conjunto de n casos conter pelo menos um positivo é dada pela fórmula (1):

 

 

em que p é a freqüência de casos positivos na população6.

A técnica de coleta de amostras de sangue em papel-filtro tem limitado, como demonstraram experimentos prévios, o número de amostras a serem processadas simultaneamente a apenas duas, mantida a diluição de 1:40 (ou de 1:32) recomendada para casos de amostras de um só caso.

No experimento descrito, os resultados finais de exames de 6.578 casos concordaram inteiramente com os das duplicatas processadas individualmente.

O número de exames economizados, observado na Tabela 1, pode ser estimado aplicando-se a fórmula (2):

 

 

 

 

em que R1 é o rendimento de reações qualitativas expresso em percentagem.

Embora teoricamente, para n = 2, uma freqüência de positividade da ordem de 28% ainda permita economizar reações (Tabela 1), considerações de ordem prática nos levaram a estabelecer o limite de 24% de casos positivos na população como o mais conveniente.

Nas oportunidades em que se devam titular os casos positivos observados na triagem, pode ser vantajoso o processamento de conjuntos de soros, dependendo do número de diluições os limites de percentagem de positividade aceitáveis. Na Tabela 2, é ilustrado, apenas como exemplo, o caso em que são utilizadas quatro diluições a partir da triagem 1:32. Os dados de que se compõe resultam da aplicação da fórmula (3):

 

 

 

em que R2 é o rendimento de reações quantitativas expresso em percentagem e k o número de diluições de soro utilizadas.

Permanecendo em curso o experimento, novos dados serão acrescentados para conhecimento pormenorizado das vantagens, já evidentes, de conduta que visa à redução de custos operacionais e aumento de eficiência de trabalhos aplicados a inquéritos epidemiológicos endereçados a grandes setores da população.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. CARVALHO, M.E. de; DIAS JR., J; FERREIRA, CS. & FRANCISCO S.M. Infecção chagásica em localidades do município de Taquarituba (SP): dados soroepidemiológicos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HIGIENE, 19o São Paulo, 10 -14 out. 1977. Resumos, São Paulo, 1977. 10.4.

2. CARVALHO, M.E. de; FRANCISCO, S.M. & LITVOC, J. Níveis de anticorpos anti-Trypanosoma cruzi em população rural de alguns municípios do Estado de São Paulo. In. CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL, 15o Campinas, SP, 4-8 fev. 1979 Resumos. São Paulo, 1979.

3. FERREIRA, C.S. & CARVALHO, M.E. de. Reações de imunofluorescência indireta: algumas modificações de sua técnica. R. Saúde públ, São Paulo, 7: 303-6, 1973.

4. GUARITA, O.F.; DIAS JR. J.; CARVALHO, M.E. de; VALÉRIO, D.M.B. & SALVO, A. de. Infecção chagásica: inquérito escolar em alguns municípios do Estado de São Paulo, por meio de reação de imunofluorescência indireta, de 1973 a 1978. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL, 15o Campinas, SP, 4-8 fev. 1979. Resumos. São Paulo, 1979.

5. MELLO, C da S.; SALVO, A. de; ROCHA E SILVA, E,O. da; DIAS JR. J.; NODA, J.; CARVALHO, M.E. de & GUARITA, O.F. Estudo epidemiológico relativo à infecção chagásica no município de Taquarituba, SP, realizado no período de 1974 a 1976. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HIGIENE, 15o São Paulo, 10-14 out. 1977. Resumos. São Paulo, 1977, 10.5

6. SACHS, L. Statistische Auswertungsmethoden. 2 ed. Berlin, Springer Verlag, 1969.

 

 

* Trabalho apresentado no V Congresso Brasileiro de Parasitologia, Rio de Janeiro, 26 a 29 de fevereiro de 1980.

Recebido para publicação em 23/04/85

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