TESES THESIS

 

VASCONCELOS, E. S., 1995. O atendimento médico de emergência nos acidentes químicos ampliados. (Carlos Minayo Gomez, orientador). Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 113 pp.

 

Neste trabalho analisa-se o atendimento médico de emergência em acidentes químicos que envolvam populações próximas às grandes indústrias - acidentes ampliados -, relacionando-se as atividades necessárias, os setores responsáveis e também o requerimento em termos de materiais e equipamentos para a resposta médica de emergência.

Essa resposta contempla o tratamento dos efeitos sobre a saúde humana decorrentes desses acidentes: a exposição ao produto químico tóxico, as diversas reações provocadas pelo "choque do evento" e os riscos físicos particularmente derivados do impacto das explosões e dos incêndios.

Discute-se a problemática geral do atendimento de emergência e a especificidade da atenção às vítimas desses acidentes, contextualizando-as em relação às medidas de prevenção, planejamento e resposta aos acidentes.

Constata-se, a partir de estudo realizado em dois municípios do Grande Rio, situados em regiões de alta concentração de indústrias, a inexistência de serviços capazes de dar resposta a esse tipo de emergência. Além da falta de preparo para enfrentar essas situações, as unidades de emergência sofrem distorções na demanda devidas à desestruturação dos serviços de saúde.

Conclui-se, portanto, que há uma situação crítica em que praticamente todos os setores responsáveis pelo atendimento médico de emergência estão desmobilizados e despreparados. O poder público e as indústrias são em geral omissos em relação às suas responsabilidades de garantir a saúde da população próxima a grandes indústrias químicas. Dadas as precárias condições de vida, não há demanda efetiva por parte da população visando à prevenção de acidentes químicos, ou à preparação e resposta para os riscos deles advindos. Daí a necessidade de que as diversas instâncias públicas assumam suas responsabilidades nessa situação e tentem reverter tal quadro. Nesse sentido, são relevantes a discussão, a organização e a implantação de planos de emergência nas regiões com maiores riscos de acidentes ampliados, com a participação de todos os setores envolvidos no atendimento médico de emergência.

 

 

ROZEMBERG, B., 1995. A intransparência da comunicação. Crítica teórico-metodológica sobre a interação do saber e das práticas médicas e a experiência das populações de área rural endêmica de esquistossomose. (Maria Cecília de S. Minayo, orientadora; Lenore Manderson, co-orientadora).Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 102 pp. Anexos.

 

O abandono das interpretações e práticas do saber tradicional rural, inferiorizadas frente a avalanche de medicamentos, exames, técnicas e principalmente leituras biomédicas do mundo; a baixa auto-estima gerada pela ruptura com o saber local, corolário da espoliação econômica do pequeno produtor rural; e as dificuldades que enfrenta em compreender, de forma coerente, o discurso e as práticas médicas que se introduzem e reproduzem em seu meio transformam as áreas rurais do Brasil em um amplo e indiscriminado mercado para as tecnologias médicas, que não trazem consigo necessariamente racionalidade eficiente e eficaz na solução dos problemas destas populações.

Dois problemas de saúde são analisados sob o ponto de vista da população nos artigos que compõem a presente tese: a esquistossomose, conhecida na área de estudo como "caramujo", e o "problema de nervos", tendo o segundo se tornado objeto de estudo devido ao encontro de altos índices de consumo de psicotrópicos na área endêmica de esquistossomose onde trabalhávamos.

O estudo das representações sociais da esquistossomose revelou um conjunto de percepções mistificadas e ideologizadas, fruto de uma educação em saúde com as mesmas características, que dificultam a mobilização popular na direção das medidas sociais e sanitárias necessárias ao controle da transmissão da doença. O estudo dos depoimentos sobre "nervos" revelou o processo de medicalização, desviando a atenção de graves problemas sociais geradores da experiência da angústia.

Em relação ao "problema de nervos", inexistem práticas educativas formais em andamento, mas sim a educação que se processa pelos meios de comunicação, pela educação médica que chega à população através das práticas de atendimento, e pelas próprias interações sociais no dia-a-dia das pessoas. O mesmo pode ser dito em relação à esquistossomose, uma vez que nosso estudo aponta a observação das práticas de controle da FNS como fonte de informações mais poderosa do que as estratégias educativas intencionais. Sendo assim, em ambos os casos, o contexto de vida e de relações sociais educa as populações rurais, perpetuando a dissociação entre o entendimento deste contexto e destas relações como determinantes de ambos os problemas de saúde analisados.

Concluímos que a fabricação das categorias emicas "caramujo" e "nervos" na mente popular tem pontos comuns, uma vez que ambas são objeto de práticas terapêuticas alheias ao saber popular e refletem muito bem o processo de alienação entre mente e corpo, entre conhecimento e práticas, que se consolida em remotas comunidades rurais, onde o bom senso e as práticas de saúde tradicionais vão sendo desenraizadas e gradualmente banidas, para dar lugar a uma visão hegemônica, nas sociedades modernas, da saúde como sendo "um bem a ser consumido".

A religiosa adoção do "remédio de nervos" e do "remédio de caramujo" (sem desmerecer a utilidade destas drogas), quando confrontada com a ausência de diretrizes, mobilização ou quaisquer medidas de efetivo controle de tais problemas, enraizados nas condições de vida e trabalho das comunidades, vem refletir a força da visão biomédica "do que é saúde", calcada na crença da ciência e seus produtos como solução mitificada para todos os problemas. Tal aceitação de soluções tecnológicas não se faz todavia sem questionamentos e conflitos, que os artigos procuram apresentar e analisar.

O tema das interações entre profissionais de saúde e população é também analisado aqui em suas implicações e conseqüências nas práticas de educação, de atendimento médico, e nos programas de controle de endemias. Sem se pretender como resposta pedagógica aos sérios problemas de comunicação apontados na tese, o vídeo "Doenças do Caramujo", produzido para mobilizar debates sobre o saneamento no controle da esquistossomose, é um trabalho experimental a ser ainda avaliado, que conjuga divulgação científica e vídeo popular como instrumento de apoio à interação entre técnicos e população. O vídeo e o projeto proposto para sua avaliação são parte integrante desta tese.

 

 

SISINNO, C. L. S., 1995. Estudo preliminar da contaminação ambiental em área de influência do aterro controlado do Morro do Céu (Niterói - RJ). (Josino Costa Moreira, orientador). Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 101 pp. Anexo.

 

Devido à falta de infra-estrutura sanitária básica observada em áreas utilizadas como depósito final de lixo, estes locais - normalmente representados pelos "lixões" e aterros controlados - configuram-se como focos potenciais de poluições do ar, do solo e das águas, influenciando negativamente na qualidade ambiental de regiões sob sua influência. Estas áreas não podem ser consideradas como o ponto final para muitas substâncias contidas no lixo urbano, pois quando a água - principalmente das chuvas - percola através dos resíduos, forma-se um líquido conhecido vulgarmente como chorume, capaz de mobilizá-las. O chorume pode tanto escorrer e alcançar as coleções hídricas superficiais, como infiltrar no solo e atingir as águas subterrâneas, comprometendo sua qualidade e seu uso. A composição deste líquido é variável, sendo que nele já foram identificadas várias substâncias químicas nocivas à saúde humana. Este trabalho pretende avaliar as concentrações de Cd, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb e Zn no chorume e em compartimentos ambientais (águas superficiais e subterrâneas, solo e sedimento) da área de influência do Aterro Controlado do Morro do Céu (Niterói - RJ), além de verificar a qualidade dos corpos d'água próximos à área de despejo através de outros parâmetros físico-químicos e microbiológicos complementares. As determinações dos metais foram realizadas por espectrofotometria de absorção atômica e espectometria ICP-AES, e para as análises microbiológicas utilizou-se a técnica de tubos múltiplos, sendo os outros parâmetros físico-químicos analisados de acordo com as metodologias recomendadas pelo Standard Methods e pelo Manual da EMBRAPA. As coletas foram executadas apenas durante um período seco para avaliar-se a situação em que os contaminantes estivessem em maior concentração. Os resultados encontrados indicam que as águas da nascente e dos poços estudados apresentam condições insatisfatórias para consumo humano, entretanto, com relação à concentração de metais, apenas Fe apresentou valores próximos ao padrão máximo de potabilidade. A qualidade das águas superficiais é ruim, influenciada diretamente pela descarga do chorume. Os níveis de DBO e DQO medidos no chorume foram altos - o mesmo acontecendo com os valores do Córrego Mata-Paca - indicando, provavelmente, a presença de muitas substâncias orgânicas neste efluente. Tanto no chorume como no Córrego foram encontrados coliformes, e os metais determinados nestas amostras estão, em sua maioria, dentro dos níveis estabelecidos pela legislação ambiental, com exceção de Fe, Mn, Ni e Zn nas amostras do Córrego. Solo e sedimento foram os compartimentos abióticos em que os níveis de metais estiveram mais altos, mostrando uma tendência à retenção destes contaminantes no local. Estes resultados sugerem que, apesar de constituir-se em uma fonte de metais, provavelmente, o problema mais evidente relacionado ao chorume produzido no Aterro Controlado do Morro do Céu diz respeito à grande carga de compostos orgânicos que está sendo produzida e lançada para o ambiente.

 

 

PERTILE, R. A., 1995. Perspectivas da utilização de extratos brutos de Meliaceas como alternativa ao uso de organoclorados. (Luiz Querino Araújo Caldas, orientador). Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 118 pp.

 

O presente trabalho reporta a utilização maciça dos agrotóxicos na agricultura. Traça um paralelo entre a aplicação de produtos naturais e sintéticos no meio ambiente, suas conseqüências nos diversos ecossistemas, tanto quanto o efeito deletério que alguns agentes (principalmente sintéticos) provocam nos animais. A contaminação dos compartimentos do meio e os efeitos das substâncias organoclorados em espécies úteis e não-alvo são descritas, particularmente devido ao uso irrestrito destes. Os produtos naturais têm sido investigados para que possam vir a substituir as substâncias sintéticas. Pesquisas e desenvolvimento de técnicas nesta área estão indicando a azadirachtina, uma substância natural extraída primeiramente da Azadirachta indica Juss, a qual tem sido considerada como uma grande alternativa para o controle dos insetos indesejáveis. Embora esta planta não exista no Brasil, investigações do potencial inseticida do extrato da Melia azedarach L. direcionam-se para esta substituição. Resultados preliminares são capazes de demonstrar que a baixas concentrações (1,9%) do extrato etanólico bruto do Cinamomo provoca morte em 50% dos insetos adultos de formiga saúva em um tempo de exposição pouco maior que três horas. Estes resultados possibilitam a investigação de aspectos mais específicos para a análise da toxicidade geral destes extratos.

 

 

KURIYAMA, G. S., 1995. Avaliação dos níveis de exposição pessoal ao dióxido de nitrogênio (NO2) de policiais de trânsito na cidade do Rio de Janeiro: um estudo preliminar. (Josino Costa Moreira, orientador). Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 98 pp.

 

Os óxidos de nitrogênio, particularmente o dióxido de nitrogênio (NO2), são poluentes atmosféricos importantes, não só devido a suas reações na atmosfera, mas também devido a seus efeitos sobre a saúde humana. Grande parte desses compostos é originada por processos de combustão e, nesse aspecto, a contribuição automotiva é bastante significativa para os níveis ambientais, principalmente em áreas urbanas de grande adensamento populacional. A fim de avaliar os níveis de exposição ambiental ao NO2, policiais de trânsito que trabalham em 11 cruzamentos de ruas importantes em nível de tráfego de veículos, na zona urbana da cidade do Rio de Janeiro, foram monitorados durante sua jornada de trabalho, por três dias consecutivos, durante o período de 16 a 18/08/94. As amostras de ar foram coletadas através do uso de amostradores passivos tipo badge e analisadas espectrofotometricamente a 545nm, após diazotação do ácido sulfanílico e acoplamento com NED. Os resultados obtidos situaram-se na faixa de 13,3 a 193,6mg/m3 (média 107,3 - desvio padrão 40,1). De acordo com os dados disponíveis, sugere-se que, a longo prazo, embora os níveis de concentração de NO2 encontrados não sejam muito elevados, possam surgir alterações em parâmetros bioquímicos e estruturais, que poderão levar a doenças pulmonares crônicas ainda que atualmente não sejam observados sintomas clínicos relevantes.

 

 

ANDRADE, J. S., 1995. Avaliando uma experiência em saúde: o projeto mulher/IDAC em Volta Redonda (1991/92). (Sherrine M. Njaine Borges, orientadora). Tese de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 137 pp. Anexos.

 

Esta dissertação resgata a experiência de práticas educativas dos serviços de saúde pública, na trajetória de vida das mulheres envolvidas, verificando como foi percebida por estas mulheres sua relação com a questão da saúde: os serviços, os profissionais, os programas. Foi realizada uma análise qualitativa, calcada em uma abordagem interdisciplinar.

Inserida num contexto onde idéias inovadoras de um programa de saúde preconizam a abordagem integral das pessoas, oportunizando sua participação, esta experiência vem demonstrar que, na realidade dos serviços de saúde, vários elementos dificultam a concretização desta proposta.

A presente dissertação busca recuperar as políticas de saúde enquanto relação entre sujeitos sociais, num nível local que apresenta uma riqueza imensa para discussões a partir do momento que se estrutura o sistema de saúde nos municípios. Demonstra-se assim a necessidade dos profissionais de saúde lidarem com os avanços e retrocessos dessa questão no serviço público, como um espaço importante de trabalho.

 

 

ARAÚJO, I. B., 1995. Estudo da teratogenicidade do a-terpineno em ratos. (Francisco J. R. Paumgartten, orientador). Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 97 pp.

 

O a-terpineno (1-metil-4-isopropil-D1:3-ciclohexadieno ou alternativamente, D1:3-p-mentadieno) é um monoterpeno monocíclico encontrado nos óleos essenciais de uma grande variedade de plantas úteis. Em que pese o amplo uso de plantas e óleos essenciais contendo este monoterpeno em remédios da medicina popular, como fragrância em cosméticos e como aditivo aromatizante em alimentos, ainda são escassos os estudos sobre a toxicidade desta substância.

O presente estudo foi realizado para fornecer dados sobre o potencial embriofeto-tóxico do a-terpineno no rato.

O a-terpineno (30, 60, 125 e 250 mg/kg peso corporal) dissolvido em óleo de milho, foi administrado por entubação gástrica a ratas Wistar do dia 6 ao dia 15 de gravidez. As ratas foram pesadas, diariamente, do dia 0 ao dia 21 de gravidez. No dia 21 de gestação as fêmeas foram anestesiadas com éter etílico, sacrificadas por decapitação e submetidas a cesariana. O número de sítios de implantação, de fetos vivos e mortos, de reabsorções e de corpos lúteos gravídicos foi registrado. Todos os fetos foram pesados, examinados para malformações visíveis externamente, numerados com uma caneta especial e fixados em solução de formol a 5%. Um terço dos fetos de cada ninhada, escolhidos ao acaso, foram avaliados quanto a ocorrência de anomalias viscerais por meio de uma técnica de microdissecção. O fígado, o baço, os rins, o coração, os pulmões e o timo dos fetos microdissecados foram também pesados. Os fetos restantes foram examinados para detecção de malformações de esqueleto, após diafanização com hidróxido de potássio e coloração com Alizarina Red S.

A redução de ganho de peso entre os dias 6 e 11 de gravidez, assim como a diminuição do ganho de peso durante toda a gestação, descontado o peso do útero gravídico, indicaram que as duas maiores doses testadas (125 e 250 mg de a-terpineno/kg peso corporal po) foram tóxicas para a mãe. Não foi observado qualquer aumento da taxa de reabsorções por implantações no intervalo de doses testado. A dose mais alta de a-terpineno (250 mg/kg de peso corporal) reduziu a razão entre o número de ratas grávidas e o número de ratas cruzadas. Uma diminuição do peso fetal, assim como uma redução do peso dos órgão fetais, foram constatadas na dose de 250mg de a-terpineno/kg de peso corporal po. Por outro lado, uma freqüência aumentada de sinais de retardo do crescimento fetal (ossos pobremente calcificados, ossos não-calcificados, e ossos esponjosos irregulares) e uma maior incidência de malformações esqueléticas de menor gravidade foram encontradas em doses superiores a 30 mg de a-terpineno/kg de peso corporal po.

 

 

BERMUDEZ, J. A. Z., 1995. Indústria farmacêutica, estado e sociedade: análise crítica da política de medicamentos no Brasil. (Cristina de Albuquerque Possas, orientadora). Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 172 pp.

 

A presente Tese de Doutorado é uma reflexão sobre a política de medicamentos no Brasil, analisando criticamente os principais marcos acontecidos ou implementados nas últimas três décadas. O autor considera necessário o tratamento de três dimensões distintas, entretanto interagindo entre si, que são a Indústria, o Estado e a Sociedade. Ao mesmo tempo, aborda a integração entre a política industrial, a política científica e tecnológica e a política de saúde.

São analisados os determinantes e condicionantes da política de medicamentos no Brasil, incluindo sua inserção no processo histórico nacional, as mudanças nos padrões de intervenção do Estado e os principais interesses econômicos representados neste segmento industrial. São analisadas também as condições da demanda e as alterações procedidas na dinâmica populacional, gerando uma maior demanda de serviços de saúde e, conseqüentemente, também de medicamentos de uso contínuo. O mercado é criticado no que tange às suas principais distorções e à incapacidade de funcionar como elemento regulador, tendo em vista as demandas forçadas que origina.

As características da indústria farmacêutica são analisadas do ponto de vista dos diferentes estágios tecnológicos e a dependência tecnológica e econômica que o Brasil apresenta. As diferentes vertentes da política de medicamentos no País são abordadas, divididas entre aquelas derivadas da sociedade civil, como iniciativas governamentais ou como iniciativas empresariais, mas que impactaram o nosso parque produtor e imprimiram novos mecanismos de regulação de nosso mercado.

Com base na análise procedida e em recomendações da Organização Mundial da Saúde, são discutidas as perspectivas para promover o acesso da população aos medicamentos. Como alternativas para uma política setorial no Brasil, são propostos três eixos básicos como medidas de curto prazo, que são o desenvolvimento da Química Fina, a implementação dos medicamentos essenciais enquanto perspectiva governamental e os medicamentos genéricos como uma alternativa concreta para o mercado brasileiro. São levantados diversos aspectos considerados essenciais para a implementação de uma política de medicamentos que efetivamente venha se inserir no âmbito de uma política nacional de saúde.

 

 

SOUZA, E. R., 1995. Homicídios: Metáfora de uma nação autofágica. (Maria Cecília de Souza Minayo, orientadora). Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 216 pp.

 

O presente estudo procura efetuar uma análise da mortalidade por homicídios, expressão máxima da violência social que, hoje, afeta intensamente a sociedade brasileira. Trata-se de um trabalho que se respalda em pesquisas voltadas para a compreensão dos aspectos epidemiológicos e sociológicos dessa mortalidade. O universo pesquisado refere-se ao país e a áreas metropolitanas deste, nas duas últimas décadas. O marco teórico-conceitual adotado considera a violência como um fenômeno multifacetário, com características quantitativas e qualitativas, cujos múltiplos fatores causais se articulam em rede ou cadeia, e que necessita ser abordada a partir da interdisciplinaridade. Do ponto de vista metodológico, o estudo ressalta a dimensão quantitativa, epidemiológica, das mortes violentas, embora os dados também sejam focalizados sob o prisma das ciências sociais. Deste modo, os homicídios, que cresceram em magnitude e impacto na década de 80, ao ponto de se tornarem uma questão de Saúde Pública, configuram-se como um processo socialmente construído e, portanto, sujeito a transformação, cuja historicidade na sociedade brasileira possui características gerais e específicas próprias. São a expressão brutal de graves questões sociais que perpassam desde os mais amplos e públicos setores da sociedade até às relações intersubjetivas do espaço privado.

 

 

ASSIS, S. G., 1995. Trajetória sócio-epidemiológica da violência contra crianças e adolescentes: metas de prevenção e promoção. (Maria Cecília de Souza Minayo, orientadora). Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. 166 pp. Anexos.

 

O estudo tem por finalidade básica compreender a situação de violência que acomete crianças e adolescentes na sociedade brasileira atual e intervir nesta realidade, através da apresentação de pesquisas que comprovem a magnitude e relevância do problema, da introdução de diferentes metodologias no estudo da violência e da proposição de medidas de prevenção. Busca ainda conscientizar profissionais ligados à saúde da criança e do adolescente, especialmente aqueles interessados na saúde integral nesta etapa da vida. Inicialmente, analisa as raízes históricas da violência contra a criança ocidental, desde dois milênios A.C. até o século XX, enfocando a saúde infantil e a atuação de profissionais ligados à saúde.

Apresenta ainda cinco artigos sobre violência contra crianças e adolescentes na realidade brasileira atual (publicados em revistas especializadas). Distintas metodologias são utilizadas na elaboração deste estudo. Ressalta-se o método epidemiológico, visualizado à luz da compreensão do cenário social. Também se desenvolveu pesquisa bibliográfica. Os dois primeiros artigos estão voltados para a apresentação de dados nacionais sobre as mais variadas formas de violência sobre crianças e adolescentes, propondo um enfoque educativo para a prevenção da violência. Reforçam ainda a necessidade do atendimento intersetorial e multiprofissional para os casos identificados. Um terceiro estudo, baseado em um inquérito epidemiológico realizado nos anos de 1991-1992, estima a prevalência de violência física doméstica em dois grupos sociais distintos: adolescentes de escolas públicas e privadas de Duque de Caxias. Os resultados demonstram a relevância da agressão como forma de resolução de conflitos dos familiares com os adolescentes investigados, nos dois grupos sociais. No quarto trabalho apresentado, analisam-se as principais causas da mortalidade em crianças do Município do Rio de Janeiro, entre 1980 e 1992. Calculam-se taxas de mortalidade geral e por causas externas, e analisa-se a evolução dos homicídios e acidentes de trânsito no período investigado, observando-se a dispersão dos óbitos pelas áreas da cidade e correlacionando-se os resultados com os indicadores sociais das mesmas áreas. Não foi observado crescimento das taxas para homicídios, nem para acidentes de trânsito, no estudo de séries temporais realizado. Propõe a estratégia de prevenção para a violência, a partir da disseminação e utilização deste tipo de informação pelo nível local. Discute ainda a necessidade de readequação dos serviços de emergência, para um conveniente atendimento às vítimas. O quinto artigo fundamenta-se em estudo baseado em levantamento das ocorrências policiais não-fatais que envolveram crianças e adolescentes vítimas de violência no Município do Rio de Janeiro, no ano de 1990, segundo as áreas programáticas do Município. A maior importância desta pesquisa se deve à ausência de dados globais sobre morbidade por violência, no próprio setor saúde. Cobre, portanto, de forma parcial, a lacuna deixada pelos serviços de saúde. As principais formas encontradas foram o acidente de trânsito, a agressão física, o roubo/furto e o abuso sexual. Indica a necessidade de distinguir as medidas preventivas necessárias para cada tipo de abuso. Também reflete sobre a qualidade da informação, enfatizando que os médicos precisam se tornar engajados no diagnóstico e notificação, visando a uma melhoria do sistema de informação sobre morbidade.

Para finalizar, coloca-se em anexo, um material educativo, elaborado a partir de uma pesquisa sobre violência doméstica realizada em escolas. Representa um passo concreto no sentido da promoção à saúde e prevenção da violência, sendo destinado especificamente para profissionais de educação.

 

 

CYRINO, E. G., 1994. Estudo de um programa de saúde escolar em uma escola estadual da periferia de Botucatu (Moisés Goldbaum, orientador). Tese de Mestrado, São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo. 196 pp. Anexos.

 

Este trabalho teve como objetivo descrever e avaliar a implantação e o desenvolvimento inicial de uma programação em saúde voltada para a criança em idade escolar. A partir da reivindicação de professores e direção de uma escola pública da periferia de Botucatu, solicitando da Coordenadoria Municipal de Saúde assistência médica aos seus alunos, elaborou-se um Programa de Saúde Escolar.

Para descrição e análise, utilizou-se basicamente o material produzido pela equipe interdisciplinar envolvida na proposta, tais como: relatórios, prontuários, relatos e anotações de reuniões. A autora desta investigação atuou como protagonista ativa no desenvolvimento desse programa.

Na apreensão de programações em Saúde Pública voltadas a crianças em idade escolar, identificaram-se: a história da saúde escolar no Brasil; a presença de proposições inovadoras buscando a integralidade da criança; práticas fragmentadas e isoladas; e a crítica à própria formulação de uma programação em saúde dirigida a esse grupo etário. Foi possível identificar que o programa em estudo desenvolveu-se como uma ação no interior das reformulações de setor saúde no município, buscando a construção do Sistema Único de Saúde. Considerou-se na proposta que, como parte do desenvolvimento e, portanto, da saúde da criança em idade escolar, estaria presente o seu processo de escolarização. A partir do conhecimento de pesquisas e das práticas relativas à saúde escolar em Botucatu, foi-se ao encontro de uma escola e de sua realidade. Priorizou-se a atenção à saúde de escolares de 1a série, com ações individuais e coletivas, e o atendimento a escolares das demais séries encaminhados pela escola. Reconheceram-se a clientela de escolares, a diversidade sócio-econômica e cultural do grupo, mesmo pertencendo todo ele à classe trabalhadora, a especificidade dos problemas de saúde. As maiores dificuldades na implementação da proposta situaram-se na falta de objetivos comuns entre a equipe do programa e a escola em relação aos determinantes, à busca de soluções para a questão do fracasso escolar e com respeito ao entrosamento com os serviços de saúde de maior complexidade. Concluiu-se pela necessidade de inserção da atenção à criança em idade escolar nos planos de Saúde Pública, incluindo, na sua elaboração e execução, todos os envolvidos no processo de desenvolvimento dessa criança em idade escolar.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br