EDITORIAL EDITORIAL

 

Pesquisa em Saúde

 

A pesquisa e o desenvolvimento tecnológico em saúde tiveram extraordinários avanços no século XX. Iniciado sob o signo de Pasteur, contruiu-se no século passado uma notável massa de conhecimentos biológicos, biomédicos e clínicos, que propiciaram o desenvolvimento de vacinas, testes para o diagnóstico das principais doenças infecciosas ou degenerativas, inúmeras novas drogas, técnicas diagnósticas por imagem e em análises clínicas e incontáveis inovações em clínica e cirurgia.

No campo da saúde populacional foram incorporadas inovações metodológicas - como a introdução das ciências sociais - e técnicas estatísticas fundamentais que permitiram compreender os principais determinantes da saúde e o comportamento das doenças, agravos e fatores de risco no plano coletivo. Os pesquisadores no campo da política e de sistemas de saúde contribuíram de forma decisiva para a organização de complexos sistemas e serviços de saúde certamente mais resolutivos, embora nem sempre eqüitativos.

Isto é, a pesquisa em saúde, nas suas vertentes biológico-biomédica, clínica e de saúde pública contribuíram para que se prolongasse a vida humana e que ela fosse vivida com mais qualidade.

O século XXI coloca à comunidade científica mundial novos e intrigantes desafios. Novos imunizantes e testes diagnósticos, biofármacos, terapia genética, desenvolvimento de órgãos e tecidos humanos, novos materiais e órteses e próteses são alguns dos cenários promissores que se apresentam diante dos nossos olhos. Os cientistas buscam cada vez mais aproximar a pesquisa científica da geração de novas tecnologias.

Para nós, pesquisadores brasileiros, o desafio é ainda maior. As enormes desigualdades sócio-sanitárias e a complexa transição demográfico-epidemiológica que atravessamos exigem que saibamos definir prioridades para nossas pesquisas. Combinar relevância científica e social é um dos desafios. A articulação entre as três vertentes da pesquisa em saúde antes mencionadas é certamente a estratégia mais adequada para enfrentar nossos problemas de saúde em todas as suas dimensões e como eles realmente se apresentam. A parceria entre instituições garantirá, seguramente, que racionalizemos os recursos existentes.

Este esforço de priorização, articulação inter-disciplinar e construção de parcerias institucionais é difícil e exige uma profunda revolução cultural de instituições e mentalidades, mas é o melhor, senão o único caminho para a pesquisa em saúde nos países em desenvolvimento como o Brasil.

 

Paulo Marchiori Buss
Presidente da Fundação Oswaldo Cruz

 

 

Health Research

 

Health research and technological development made extraordinary progress in the 20th century. In the wake of Louis Pasteur's work, the 20th century witnessed an unprecedented leap in biological, biomedical, and clinical knowledge, spawning the development of vaccines, diagnostic tests for the main infectious and chronic degenerative diseases, numerous new drugs, diagnostic imaging techniques, laboratory tests, and countless new clinical and surgical approaches.

Meanwhile, methodological innovations were incorporated into the public health field, like the introduction of the social sciences, while fundamental statistical techniques fostered an understanding of the main determinants of health and the behavior of diseases, injuries, and risk factors at the collective level. Researchers in the field of health policy and health systems contributed decisively to the organization of complex health systems and services with greatly enhanced case-resolving capacity, even though such systems and services were not always equitable.

In other words, the biological/biomedical, clinical, and public health watersheds of health research not only helped extend life; they also helped improve its quality.

The 21st century poses new and intriguing challenges for the world's scientific community. New forms of vaccines and immune therapy, diagnostic tests, biodrugs, gene therapy, the development of human organs and tissues, and new materials, orthotics, and prostheses are but a few of the promising scenarios unfolding before us. Scientists increasingly seek to draw scientific research and the development of new technologies closer together.

For us, as Brazilian researchers, the challenge is even greater. Brazil's enormous social and health inequalities and the country's complex demographic and epidemiological transition demand a clear definition of research priorities. To combine scientific and social relevance is one of the challenges. Connecting the three watersheds of health research mentioned above is certainly the most adequate strategy to deal with Brazil's highly complex health problems. And partnership among institutions will doubtless guarantee our rationalization of existing resources.

This effort at defining priorities, building bridges across disciplines, and developing institutional partnerships is difficult, and it requires a profound cultural revolution in both institutions and mind-sets, but it is the best (if not the only) pathway for health research in developing countries like Brazil.

 

Paulo Marchiori Buss
President, Oswaldo Cruz Foundation  

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br