EDITORIAL

 

Tuberculose: desafio permanente

 

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a tuberculose uma emergência mundial em 1993. Desde então, tem havido mobilização para combate dessa antiga doença que incide e mata milhões de pessoas, principalmente de países e regiões com condições sócio-econômicas precárias. A interação com a AIDS e a emergência de bacilos multirresistentes, aliados à desorganização dos serviços de saúde, são os desafios atuais para o seu controle.

A OMS estima, por ano, em 8 milhões os casos incidentes, porém menos da metade são notificados. Provavelmente haja subdiagnóstico, subnotificação e superestimativa. A tendência da taxa de incidência mundial, nos últimos anos, manteve-se estável, no entanto, onde a incidência de portadores de HIV foi alta e ocorreram problemas importantes nos aspectos políticos e sócio-econômicos, houve tendência de aumento, como na antiga União Soviética e vários países da África.

O Brasil encontra-se entre os 22 países que concentram 80% dos casos estimados no mundo. Em 2002 foram notificados 97.875 casos, sendo 81.034 casos novos. A maior taxa de incidência tem ocorrido no Estado do Rio de Janeiro, porém, em todas as Unidades Federativas existem municípios, especialmente em áreas metropolitanas e periféricas das grandes cidades, em que a tuberculose tem taxas altíssimas. O sexo masculino tem sido o mais atingido na proporção de dois para um. Algumas populações como as indígenas, carcerárias e sem-teto apresentam incidência muito maior que a população geral.

No Rio de Janeiro, observa-se a maior taxa de mortalidade (7,0/100 mil habitantes) e em Santa Catarina a menor (1,0/100 mil habitantes). A associação com o HIV tem sido alta em muitos Estados como o Rio Grande do Sul, em torno de 30%, justificando a indicação do teste para detecção do HIV em todo paciente com tuberculose.

A resistência aos fármacos utilizados para tratamento não tem sido grande problema em nosso meio. Pacientes considerados resistentes a múltiplas drogas encontram-se sob vigilância, tendo sido diagnosticados e tratados, desde 2000, cerca de 1.800.

Em pleno século XXI é surpreendente que sejam enormes as dificuldades mundiais de se diagnosticar e tratar corretamente a tuberculose. A estratégia preconizada internacionalmente busca garantir: apoio político das autoridades; acesso aos meios diagnósticos e à medicação; sistema de informação que permita acompanhamento e avaliação e também o tratamento supervisionado.

No Brasil, o atual governo priorizou o controle da tuberculose e definiu metas de descobrir pelo menos 70% dos casos — o que já foi atingido — e curar pelo menos 85% dos casos tratados — meta nunca atingida principalmente devido aos casos de abandono de tratamento que mantêm-se em torno de 12%. Foram definidos 315 municípios com maior carga da tuberculose, onde se priorizou uma intensificação das ações.

Além dessas medidas assistenciais, faz-se necessário avanços no campo da ciência e tecnologia para que se obtenha impacto significativo a curto prazo. As pesquisas em andamento buscam meios diagnósticos mais rápidos, drogas que encurtem o tratamento e vacinas eficazes.

Nos campos social e econômico, seguramente, a redução da pobreza e da fome muito ajudariam a reduzir esse mal que já foi chamado no passado de "peste branca".

 

Miguel Aiub Hijjar
Centro de Referência Prof. Hélio Fraga, Secretaria de Vigilância em Saúde
Ministério da Saúde, Rio de Janeiro, Brasil.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br