RESENHAS BOOK REVIEWS

 

 

Márcia Cristina Bastos Boëchat

Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. boechatm@iff.fiocruz.br

 

 

MELHOR PRÁTICA EM RADIOLOGIA PEDIÁTRICA: UM MANUAL PARA TODOS OS SERVIÇOS DE RADIOLOGIA. Cook JV, Pettett A, Shah K, Pablot S, Kyriou J, Fitzgerald M. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2006. 1001 pp.

ISBN: 85-75410-85-7

No final da década de 1980, teve início na Europa um esforço conjunto para reduzir a dose de exposição dos pacientes aos raios-X diagnósticos. Nos anos 1990, todo esse esforço resultou em uma série de normas da Comissão da Comunidade Européia (European Community Commission) sobre as instalações das unidades de radiodiagnóstico, a padronização das técnicas de exames radiológicos e as características dos equipamentos de raios-X.

Convidados pela Comissão da Comunidade Européia para participarem de um projeto destinado a formular técnicas e critérios de qualidade de imagem em radiologia pediátrica, Cook et al. desenvolveram, em 1996, as European Guidelines on Quality Criteria for Diagnostic Radiographic Images in Paediatrics 1. Tendo como base as diretrizes européias, os mesmos autores desenvolveram esse manual, o qual foi publicado primeiramente na Inglaterra, em 1998, com o título Guidelines on Best Practice in the X-Ray Imaging of Children 2.

O manual da melhor prática em radiologia infantil é amplamente empregado nos Departamentos de Radiologia da Inglaterra, entretanto é pouco conhecido em nosso meio. A tradução para a língua portuguesa, publicada pela Editora Fiocruz em 2006 e realizada por um grupo de médicos (radiologistas e sanitarista) e de físicos brasileiros, é o produto de uma cooperação técnico-científica entre instituições brasileiras e inglesas e vem preencher uma lacuna existente no campo da radiologia pediátrica no Brasil. O fato de ser um exemplar em língua portuguesa é bastante relevante por permitir o acesso de mais pessoas a essa literatura.

O texto é apresentado de forma clara e concisa, e a tradução, realizada de forma muito cuidadosa, consegue manter as características do texto original. Na introdução, os autores abordam questões importantes como: a maior sensibilidade das crianças às radiações ionizantes e o princípio da justificação em radiologia diagnóstica, ou seja, a necessidade de serem realizados apenas exames radiológicos justificáveis para a investigação clínica. Ressaltam que as crianças devem ser protegidas de exposições desnecessárias aos raios-X, geradas pela realização de exames sem justificativa clínica e/ou com dose de radiação maior do que a necessária para a realização de um bom exame radiológico. Destacam a importância de existirem, nos serviços e departamentos de radiologia, salas de exames que criem um ambiente especial e acolhedor para crianças, bem como profissionais habilidosos e com experiência no atendimento a esses pacientes; profissionais conhecedores dos parâmetros técnicos específicos para crianças, como, por exemplo, a realização de exames com técnica de baixa miliamperagem e alta quilovoltagem.

Ainda na introdução, são abordados os fatores mais importantes para a redução das doses de radiação, como a utilização de filtros adicionais de cobre nos equipamentos de raios-X, que não existem na maioria dos equipamentos utilizados no Brasil e representam uma medida simples e bastante eficaz para reduzir a dose de exposição do paciente. No que se refere à proteção radiológica em radiologia pediátrica, os autores ressaltam a importância do uso de protetores de gônadas e de vestimentas de proteção individual pelos pacientes e acompanhantes e apresentam sugestões simples para imobilização das crianças. Destacam que as técnicas de imobilização eliminam os artefatos gerados pela movimentação do pequeno paciente, contribuindo, conseqüentemente para a melhoria da qualidade da imagem radiológica e para a redução da necessidade de repetição dos exames.

Nos capítulos seguintes, são descritos os exames de radiologia geral mais freqüentemente realizados nos serviços de radiodiagnóstico e alguns exames de fluoroscopia (exames contrastados). De forma bastante didática, relacionam-se, para cada exame, as indicações clínicas, os critérios de qualidade da imagem, as técnicas radiográficas, os mecanismos de proteção radiológica e o preparo dos pacientes. São apresentados exemplos de imagens radiográficas dentro dos padrões de qualidade propostos.

Ao fim de cada capítulo, existe uma tabela com os parâmetros técnicos sugeridos para cinco diferentes faixas etárias, a dose de exposição, o produto dose-área e a dose efetiva de radiação. Em relação a essas tabelas, podemos dizer que, em nossa experiência com o uso desse manual, mesmo existindo diferença de tamanho e peso entre pacientes ingleses e brasileiros de uma mesma faixa etária, houve pouca variabilidade entre os padrões técnicos propostos e os utilizados em nosso serviço.

Fotografias de boa qualidade exemplificam, no final do livro, as técnicas de imobilização propostas e os acessórios que podem ser utilizados para este fim, muitos dos quais são de fácil confecção e podem ser desenvolvidos em qualquer unidade de radiodiagnóstico.

Trata-se de um material de extrema importância por duas principais razões. Primeiramente porque no Brasil, mesmo nos grandes centros, poucas são as instituições que têm radiologistas exclusivamente pediátricos ou radiologistas gerais com alguma formação em radiologia pediátrica, sendo conhecedores, portanto, das particularidades deste grupo de pacientes. Em segundo lugar porque não existe, até o momento, nenhum manual semelhante a esse na literatura médica brasileira.

A exposição aos raios-X diagnósticos tem sido considerada uma questão de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde 3 e pelo governo dos Estados Unidos 4. No Brasil esta questão deve ser considerada da mesma forma, devendo-se adotar medidas que possibilitem uma redução na dose de exposição da população aos raios-X médicos, sobretudo nos pacientes pediátricos. As crianças são mais sensíveis aos efeitos da radiação ionizante, têm maior expectativa de vida e mais chances de serem expostas a esse tipo de radiação, que tem caráter cumulativo e pode levar à indução de danos genéticos e câncer, principalmente leucemia 4,5.

A divulgação desse manual entre médicos radiologistas gerais e pediátricos, médicos residentes em radiologia e técnicos em radiologia, com certeza, poderá contribuir para a melhoria da qualidade dos exames radiológicos infantis e, principalmente, para uma menor exposição da população infantil à radiação ionizante.

Parabenizamos a equipe responsável pela tradução do manual por sua iniciativa e esperamos que este seja amplamente difundido e empregado em todos os serviços de radiologia do Brasil.

 

 

1. European Community Commission. European guidelines on quality criteria for diagnostic radiographic images in paediatrics. http://www.c-radiography.net/regsetc/European_guide_children_extract.pdf (acessado em 09/Jan/2007).

2. Cook JV, Pettett A, Shah K, Pablot S, Kyriou J, Fitzgerald M. Guidelines on best practice in the X-ray imaging of children. Hersham: Ian Allen Printing; 1998.

3. United Nations Scientific Committee on the Effects of Atomic Radiation. Sources effects and risks of ionizing radiation. UNSCEAR 2000 report, v. II. http://www.unscear.org/unscear/en/publications/2000_1.html (acessado em 09/Jan/2007).

4. National Cancer Institute. Radiation risks and pediatric computed tomography (CT): a guide for health care providers. http://www.cancer.gov/cancertopics/causes/radiation-risks-pediatric-CT2002 (acessado em 09/Jan/2007).

5. Pettersson HBL, Falth-Magnusson K, Persliden J, Scott M. Radiation risk and cost-benefit analysis of a paediatric radiology procedure: results from a national study. Br J Radiol 2005; 78:34-8.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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