RESENHAS BOOK REVIEW

 

 

Aguinaldo Gonçalves

Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil. aguinaldo@fef.unicamp.br

 

 

A SAÚDE EM DEBATE NA EDUCAÇÃO FÍSICA – VOLUME 2. Bagrichevsky M, Palma A, Estevão A, Da Ros M, organizadores. Blumenau: Nova Letra; 2006. 240 pp.

ISBN: 85-7682-097-8

O título apresentado se nos revela extremamente simpático, dado que se apropria do componente "A Saúde em Debate", núcleo expressivo muito caro a todos nós sanitaristas que o cunhamos para nominar a revista do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (CEBES), órgão de resistência e propositura do Estado Democrático pela via da Saúde, nos duros anos da ditadura militar brasileira: sente-se, assim, a sugestão de que o texto contribua para a Educação Física assemelhadamente como o referido periódico alavancou, para a sociedade brasileira, a mudança setorial que veio a ser consagrada para a Saúde na Constituição Cidadã.

Trata-se de coletânea de pequenos textos que opera mediante diferenças de estilos e níveis de aprofundamento, focalizando distintos aspectos da Saúde, da Educação e da Educação Física, no contexto de que, com os elementos aí apresentados, possam-se construir as bases do corpo conceitual de A Saúde em Debate na Educação Física, algo, realmente, considerado com pouca freqüência no interior da Educação Física, tendo-se em conta a enorme abrangência que esta área vem assumindo nos últimos anos no país. Ora, eis tarefa grande demais para que o leitor o faça em seu ato solitário de apreensão: o sentido maior do livro, portanto, de que os organizadores procedessem a esta tarefa através de "costura" que permitisse a emergência de tal síntese, resultou aparentemente frustrado. É bem verdade que isso foi tentado isoladamente no Capítulo 1, mas aí ocorreram problemas específicos adiante destacados. Faltou, assim, o cumprimento do compromisso real dos editores de geralmente não apenas obter e ordenar a produção de bons colaboradores, mas de explicitar, com inteireza ubíqua e sempre presente, a identidade intrínseca da obra; contrariamente, resulta, como posto, numa coletânea de pequenos textos que opera mediante diferenças.

A análise do material em questão, portanto, se dá em dois planos indissociáveis: à medida em que cada ensaio é aprofundado individualmente, vai se construindo a percepção da carência de articulação interna que possa assegurar integralidade.

A maioria dos sucessivos segmentos vem assinada por autoridades com respeito nacional e repercussão internacional e cujos conteúdos confirmam e legitimam tais dimensões, tais como David Castiel, Hugo Lovisolo e o casal Lefèvre. Alguns destes, à guiza dos de Souza Minayo e Aurélio Da Ros, claramente sinóticos dada sua proposta natureza propedêutica, constituem-se básicos em Saúde Coletiva, transcendendo, deste modo, o interesse específico da Educação Física. Outros, pelo contrário, pertencem a jovens que iniciam suas excursões exploratórias, como o próprio primeiro autor. De sua parte, excertos como o de Marina Guzzo sobre acrobacia e circo nada têm a ver diretamente o objeto de estudo do livro, bem como o de Ferreira Cooper e Dutra Sayd refere-se precipuamente ao âmbito educacional. Apesar dessa heterogeneidade de produções, são textos originais completos, claros e explicativos de relevantes recortes temáticos que apropriam, como estilo de vida, promoção à saúde, evolução das políticas públicas setoriais brasileiras.

Paradoxalmente, como referido, é o Capítulo 1 que encerra armadilhas importantes, não só do ponto de vista estritamente formal. Ainda que constituído de visão focal bem articulada da relação Educação Física e Saúde em nossos dias, realmente apresenta problemas de redação arriscados, sobre diversos aspectos básicos, como, pontuação (p. 30) "...o autor relata que, as..." e acentuação (p. 37) "à priori". O principal equívoco, inobstante, talvez seja considerar a área como refém de um antagonismo entre a corrente biológica, tradicional, e a progressista, contemporânea. De fato, intelectuais como Virchow ou Chadwick, absolutamente doutrinários do que se pode chamar de primórdios da Medicina Social ou da Saúde Coletiva, viveram no século XIX; também em nosso meio, nas últimas décadas, têm se desenvolvido e transitado sobejamente análises críticas rigorosas à perspectiva hegemônica da referida relação, sintetizadas na expressão que criamos "é ativo quem pode, não quem quer" como recurso para defrontar e superar a tão freqüentemente cometida "culpabilização da vítima".

Confirmativamente, embora com finalidade tão somente ilustrativa, cabe citar recente pesquisa de forte repercussão setorial a apontar que os níveis de colesterol de negros e hispânicos são 15 e 20% respectivamente menos controlados seus que os brancos da população americana, dada sua reconhecida condição social inferior, reduzindo o acesso dos mesmos aos serviços de saúde1.

 

 

1 Thom T, Haase N, Rosamond W, Howard VJ, Rumsfeld J, Manolio T, et al. Heart disease and stroke statistics – 2006 update: a report from the American Heart Association Statistics Committee and Stroke Statistics Subcommittee. Circulation 2006; 113:e85-151.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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