Resumos
O estigma relacionado ao peso corporal, definido como a desvalorização de indivíduos devido ao volume de seu corpo mais elevado, ocasiona prejuízos à saúde e está presente entre estudantes e profissionais da saúde. Abordar tal estigma em espaços de formação desses profissionais é crucial para combatê-lo. Este artigo relata a experiência de construção do curso educativo “Narrativas de peso: o estigma relacionado ao peso corporal e o cuidado em saúde”, voltado para estudantes e profissionais da área da Saúde. Foram priorizadas a diversidade de materiais, a abrangência de perspectivas, a acessibilidade da linguagem e a presença de pessoas gordas. Considera-se que o processo de construção do curso possui elementos que podem orientar a elaboração de outros materiais e intervenções potentes e contextualizadas para o público-alvo.
Obesidade; Estigma social; Educação permanente
El estigma relacionado al peso corporal se define como la desvalorización de individuos debido a su peso corporal más elevado, lleva a perjuicios para la salud y está presente entre estudiantes y profesionales de la salud. Abordar este estigma en espacios de formación de estos profesionales es crucial para combatirlo. Este artículo relata la experiencia de construcción del curso educativo “Narraciones de Peso: el estigma relacional al peso corporal y el cuidado de la salud”, dirigido a estudiantes y profesionales del área de la salud. Se priorizaron la diversidad de materiales, el alcance de perspectiva, la accesibilidad del lenguaje y la presencia de personas gordas. Se considera que el proceso de construcción del curso cuenta con elementos que pueden orientar la elaboración de otros materiales e intervenciones potentes y contextualizadas para el público-objetivo.
Obesidad; Estigma social; Educación permanente
Introdução
O estigma relacionado ao peso corporal é definido como a desvalorização de indivíduos devido ao sobrepeso e à obesidade, o que pode levar a atitudes negativas, estereótipos, preconceito e discriminação direcionados a essas pessoas11. Rubino F, Puhl RM, Cummings DE, Eckel RH, Ryan DH, Mechanick JI, et al. Joint international consensus statement for ending stigma of obesity. Nat Med. 2020; 26(4):485-97. . Ele leva à produção de sofrimento psíquico, à alteração negativa de parâmetros metabólicos e bioquímicos e aos prejuízos à vida social do indivíduo22. Papadopoulos S, Brennan L. Correlates of weight stigma in adults with overweight and obesity: a systematic literature review. Obesity. 2015; 23(9):1743-60.
3. Pausé C. Borderline: the ethics of fat stigma in public health. J Law Med Ethics. 2017; 45:510-7.
4. Pearl RL, Puhl RM. Weight bias internalization and health: a systematic review. Obes Rev. 2018; 19(8):1141-63.
5. Pearl RL. Weight bias and stigma: public health implications and structural solutions. Soc Issues Policy Rev. 2018; 12(1):146-82. - 66. Panza GA, Puhl RM, Taylor BA, Zaleski AL, Livingston J, Pescatello LS. Links between discrimination and cardiovascular health among socially stigmatized groups: a systematic review. PLoS One. 2019; 14(6):e0217623. .
Outrossim, o estigma é observado entre estudantes e profissionais da área da Saúde77. Swift JA, Hanlon S, El‐Redy L, Puhl RM, Glazebrook C. Weight bias among UK trainee dietitians, doctors, nurses and nutritionists. J Hum Nutr Diet. 2013; 26(4):395-402.
8. Obara AA, Vivolo SRGF, Alvarenga MS. Weight bias in nutritional practice: a study with nutrition students. Cad Saude Publica. 2018; 34(8):e00088017.
9. Bastias-González F, Jorquera C, Matamala C, Aguirre P, Escandon-Nagel N, Marileo L, et al. Weight stigma of nutrition and dietetics students towards people with obesity. Rev Chil Nutr. 2022; 49(3):378-83. - 1010. Klobodu SS, Mensah PA, Willis M, Bailey D. Weight bias among nutrition and dietetics students in a Ghanaian Public University. J Nutr Educ Behav. 2022; 54(5):406-11. , o que pode derivar de grades curriculares biologicistas que tendem a simplificar questões complexas e multifatoriais, como a obesidade, favorecendo perspectivas estigmatizantes e culpabilizadoras1111. Silva BL, Cantisani JR. Interfaces entre a gordofobia e a formação acadêmica em nutrição: um debate necessário. Demetra. 2018; 13(2):363-80. . Tais abordagens não permitem a concretização de um cuidado integral, preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pois priorizam determinados fatores e ignoram outros, prejudicando a qualidade do cuidado oferecido a qualquer indivíduo. Consequentemente, esse estigma pode causar evitação dos serviços de saúde, entre outras consequências, devido a experiências estigmatizantes pregressas que incluem falta de equipamentos de tamanho adequado, tratamentos desdenhosos e desrespeitosos, além de atribuição de todas as questões de saúde ao excesso de peso pelo/a profissional de saúde, entre outros1212. Forhan M, Risdon C, Solomon P. Contributors to patient engagement in primary health care: perceptions of patients with obesity. Prim Health Care Res Dev. 2013; 14(4):367-72.
13. Russell N, Carryer J. Living large: the experiences of large-bodied women when accessing general practice services. J Prim Health Care. 2013; 5(3):199-205.
14. Mensinger JL, Tylka TL, Calamari ME. Mechanisms underlying weight status and healthcare avoidance in women: a study of weight stigma, body-related shame and guilt, and healthcare stress. Body Image. 2018; 25:139-47. doi: 10.1016/j.bodyim.2018.03.001.
https://doi.org/10.1016/j.bodyim.2018.03... - 1515. Alberga AS, Edache IY, Forhan M, Russell-Mayhew S. Weight bias and health care utilization: a scoping review. Prim Health Care Res Dev. 2019; 20:e116. .
Diversas intervenções educativas que visam à redução do estigma relacionado ao peso corporal entre estudantes e profissionais da área da Saúde têm sido conduzidas nos últimos anos1616. Alberga AS, Pickering BJ, Hayden KA, Ball GDC, Edwards A, Jelinski S, et al. Weight bias reduction in health professionals: a systematic review. Clin Obes. 2016; 6(3):175-88. . Não há um consenso sobre quais abordagens e estratégias são mais efetivas para alcançar esse objetivo; contudo, intervenções realizadas de forma multifacetada e multinível são incentivadas, dada a complexidade dos fenômenos “obesidade” e “estigma relacionado ao peso corporal”1616. Alberga AS, Pickering BJ, Hayden KA, Ball GDC, Edwards A, Jelinski S, et al. Weight bias reduction in health professionals: a systematic review. Clin Obes. 2016; 6(3):175-88. , 1717. Talumaa B, Brown A, Batterham RL, Kalea AZ. Effective strategies in ending weight stigma in healthcare. Obes Rev. 2022; 23(10):e13494. doi: 10.1111/obr.13494.
https://doi.org/10.1111/obr.13494... . Considerando a relevância do estigma para a saúde e o cuidado de pessoas com sobrepeso e obesidade, faz-se necessária a elaboração e a análise, empírica ou reflexiva, de intervenções complexas e robustas que busquem reduzir sua presença entre estudantes e profissionais da área da Saúde11. Rubino F, Puhl RM, Cummings DE, Eckel RH, Ryan DH, Mechanick JI, et al. Joint international consensus statement for ending stigma of obesity. Nat Med. 2020; 26(4):485-97. .
Este artigo visa relatar a experiência de construção do curso educativo “Narrativas de peso: o estigma relacionado ao peso corporal e o cuidado em saúde”, produzido para ser oferecido no formato de ensino a distância para estudantes e profissionais da área da Saúde. A sistematização da experiência foi produzida conforme sugestões de Holliday1818. Holliday OJ. Para sistematizar experiências. 2a ed. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; 2006. e estruturada por meio de três eixos, analisados e interpretados criticamente no tópico seguinte.
Em um primeiro momento, os registros sobre o processo de elaboração do curso feitos pela equipe, desde a revisão bibliográfica até a elaboração dos materiais, foram recuperados para consulta e, em seguida, definiu-se qual seria o objetivo e o objeto da sistematização. Tendo em vista que poucas intervenções educativas complexas e robustas foram estruturadas para abordar o estigma relacionado ao peso corporal, nosso intuito é produzir uma narrativa sobre o tema que seja capaz de orientar a construção de intervenções educativas potentes para profissionais e estudantes da área da Saúde.
O curso compôs o estudo maior “Apoio e análise para a implementação das ações na Atenção Básica da linha de cuidado para sobrepeso e obesidade nos municípios do Grande ABC paulista”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP) sob processo n. 12785719.9.0000.5421.
A definição do conteúdo programático
O processo de construção do curso “Narrativas de peso” teve três momentos principais: a revisão de literatura e o estudo a respeito do tema “estigma relacionado ao peso corporal”, a definição do conteúdo programático do curso e a formação da equipe, além da produção dos materiais. Inicialmente, nos debruçamos sobre artigos, consensos, livros e produções variadasggA relação detalhada de referências pode ser consultada em material suplementar. que buscavam, de acordo com o recorte e a abordagem propostos, elucidar as questões que atravessam e são atravessadas pelo estigma. Nesse percurso, transitamos por campos diversos, bebendo de fontes que iam desde a Sociologia1919. Poulain JP. Sociologia da obesidade. São Paulo: Editora Senac São Paulo; 2013. , Antropologia2020. Brewis A, Wutich A. Lazy, crazy, and disgusting: stigma and the undoing of global health. Baltimore: Johns Hopkins University Press; 2019. e a Saúde11. Rubino F, Puhl RM, Cummings DE, Eckel RH, Ryan DH, Mechanick JI, et al. Joint international consensus statement for ending stigma of obesity. Nat Med. 2020; 26(4):485-97. , 2121. Wharton S, Lau DCW, Vallis M, Sharma AM, Biertho L, Campbell-Scherer D, et al. Obesity in adults: a clinical practice guideline. CMAJ. 2020; 192(31):E875-91. doi: 10.1503/cmaj.191707.
https://doi.org/10.1503/cmaj.191707... até o ativismo gordo2222. Cooper C. Fat activism: a radical social movement. Bristol: Hammeron Press; 2021. e o campo do Fat studies hhCampo acadêmico de estudos críticos sobre o corpo gordo 23 . . Nesse meio tempo, concluímos o curso “Weight Bias: a hidden harm, part 1 and 2”, oferecido de forma online pela World Obesity Federation2424. World Obesity Federation. Free supplementary modules [Internet]. London: World Obesity; 2019 [citado 9 Abr 2021]. Disponível em: https://www.worldobesity.org/training-and-events/scope/e-learning/free-supplementary-modules#row-32-3
https://www.worldobesity.org/training-an... , o qual foi um ponto de partida para pensar a nossa estrutura de conteúdos programáticos.
Os eixos foram pensados de forma que caminhasse por três pontos estruturantes para que fosse possível produzir práticas de cuidado em saúde não estigmatizantes: a compreensão ampliada sobre a obesidade; a compreensão do estigma relacionado ao peso corporal; e a reflexão e a mudança de práticas para combatê-lo. O primeiro documento que produzimos a respeito dos conteúdos programáticos listava os eixos de conteúdo pretendidos. Nesse documento, concluído em maio de 2021, foram criados seis eixos de conteúdo: 1) etiologia da obesidade; 2) implicações sociais da obesidade e interseccionalidade; 3) estigma relacionado ao peso corporal; 4) consequências do estigma para o cuidado em saúde; 5) formas de combater e se portar diante do estigma; e 6) ativismo gordo e empoderamento. Cada eixo era subdividido em tópicos menores, totalizando 23 subeixos. Vale destacar que, apesar da interseccionalidade estar referida nominalmente apenas no título do segundo eixo, tratou-se de um referencial teórico empregado de forma transversal ao longo de todo o curso. Para tanto, as principais referências utilizadas foram Collins e Bilge2525. Collins PH, Bilge S. Interseccionalidade. São Paulo: Boitempo; 2020. e Akotirene2626. Akotirene C. O que é interseccionalidade? Belo Horizonte: Letramento; 2018. .
Paralelamente ao planejamento dos eixos de conteúdo, a equipe que estaria implicada no processo de construção do curso foi constituída, inicialmente composta por: uma estudante de graduação em Nutrição; uma nutricionista e doutoranda; uma nutricionista e pós-doutoranda; um antropólogo e pós-doutorando; e uma nutricionista, professora doutora do curso de Nutrição da FSP/USP. Com exceção da estudante de graduação, as/os membros da equipe possuíam diferentes níveis de expertise no tema, com diversas pesquisas concluídas e em andamento. As experiências da estudante de graduação com o tema foram produzidas ao longo da construção deste trabalho, que representa sua iniciação científica.
A princípio, parte da equipe recebeu com estranheza o encerramento do curso ser dedicado a trazer as pautas do ativismo gordo, visto que se tratava de uma intervenção voltada a profissionais da saúde. Havia a preocupação de que o foco se perdesse, e isso faria que não houvesse um fechamento adequado às discussões. Contudo, o pensamento que levou à construção desse eixo foi o de que era necessário encerrar nosso encontro com pessoas gordasiiUsamos o termo “pessoas gordas” em alinhamento das construções do ativismo gordo 22 e do campo dos Fat studies23 , que reivindicam o termo como um descritor neutro e/ou um posicionamento político contrário à patologização do corpo gordo. que pudessem trazer, por perspectivas diferentes, diálogos existentes entre as lutas do ativismo e o cuidado em saúde. Esperávamos, com o curso, que as/os profissionais pudessem se reconhecer como agentes políticos inseridos na luta por justiça social relacionada ao cuidado em saúde para pessoas gordas. Portanto, fazia-se necessário conhecer quais lutas já estavam sendo pautadas e como poderiam contribuir.
Após esse primeiro rascunho, que elencou todos os temas que gostaríamos de abordar, buscamos relacionar temas muito próximos que estavam divididos em subeixos, pensando especialmente na elaboração dos materiais didáticos. Por exemplo, a princípio a conceituação da obesidade e a multifatorialidade causal seriam discutidas em subeixos separados, mas, didaticamente, fez mais sentido trazer ambas as discussões no mesmo tópico. Esse processo foi feito em conjunto pela equipe, passando pela discussão de cada eixo e subeixo para compreendermos o que pretendíamos dizer e produzir com cada um. As leituras, discussões e escutas seguiram transversalmente a esse movimento e, conforme a compreensão a respeito da forma como o estigma é produzido socialmente, foram aprofundadas, tornando mais fácil conectar os conteúdos. Ao final do planejamento, restaram 14 subeixos e todos os seis eixos foram mantidos.
Planejamento final da estrutura de eixos e subeixos de conteúdos programáticos do curso educativo “Narrativas de peso: o estigma relacionado ao peso corporal e o cuidado em saúde”.
O último exercício do momento de planejamento do curso educativo consistiu na definição de habilidades, competências2727. Junqueira TS, Cotta RMM. Matriz de ações de alimentação e nutrição na Atenção Básica de Saúde: referencial para a formação do nutricionista no contexto da educação por competências. Cienc Saude Colet. 2014; 19(5):1459-74. e objetivos de aprendizagem. Determinar tais parâmetros após o planejamento dos conteúdos e da estrutura do curso permitiu que fizéssemos uma análise crítica do que estávamos propondo. A atividade de nos questionar quanto ao que pretendíamos com cada eixo também favoreceu, em um momento posterior, nos adiantarmos sobre possíveis lacunas deixadas pelos materiais didáticos planejados.
Da mesma forma, ao pensar as habilidades e competências que gostaríamos de desenvolver, foi possível extrair direcionamentos quanto à natureza que seria mais adequada a cada material didático. Por exemplo, atrelada ao quinto eixo estava a competência “capacidade para construir formas de cuidado em saúde livres ou que minimizem o estigma”. Além da evidente intenção de proporcionar ferramentas que fundamentam novas práticas profissionais livres de estigma, por se tratar do penúltimo eixo de conteúdos, faria mais sentido que os materiais didáticos tivessem um caráter orientativo e dinâmico, que proporcionasse reflexão. Portanto, o eixo foi baseado em uma lista que preconiza características dos serviços de saúde e práticas de profissionais de saúde que diminuem a estigmatização de pessoas com obesidade2828. Scagliusi FB. Estigma relacionado ao peso corporal: da compreensão teórica à mudança no cuidado em saúde [tese]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo; 2021. .
Finalizado o planejamento do conteúdo programático do curso, passamos à elaboração dos materiais didáticos necessários para abranger os temas.
Abordagens didáticas e compromissos com a linguagem
Desde o princípio, o curso foi pensado para ser oferecido no formato de ensino a distância (EaD), independentemente do contexto da pandemia de Covid-19. Tal escolha foi feita a fim de facilitar a disseminação do material para viabilizar o seu alcance onde o SUS também estivesse. Assim, outro ponto crucial para a elaboração da intervenção foi a adequação dos materiais didáticos ao contexto virtual. Nosso primeiro passo foi pesquisar e estudar quais eram essas possibilidades, quais ferramentas poderíamos utilizar e a quais características de cada material deveríamos prestar maior atenção. As orientações de Filatro2929. Filatro A. Como preparar conteúdos para EAD: Guia rápido para professores e especialistas em educação à distância, presencial e corporativa. São Paulo: Saraiva Uni; 2018. para educadores que necessitam se adequar ao EaD foram nosso ponto de partida. Nesse momento, a equipe foi acrescida de outra estudante de graduação em Nutrição, por meio de um programa de bolsas da instituição que visa ao apoio do ensino, da pesquisa e da extensão.
Essa etapa teve início em agosto de 2021, evidenciando como foi cuidadoso o planejamento do conteúdo programático, revisado diversas vezes até que chegássemos à forma final. Com a listagem dos subeixos, dos objetivos de aprendizagem, das habilidades e competências em mãos, iniciamos o processo criativo de pensar quais tipos de materiais seriam mais adequados a cada situação. Filatro2929. Filatro A. Como preparar conteúdos para EAD: Guia rápido para professores e especialistas em educação à distância, presencial e corporativa. São Paulo: Saraiva Uni; 2018. traz algumas sugestões: videoaulas em formatos variados, podcasts , infográficos, entre outros. Além das opções elencadas pela autora, também procuramos investigar quais ferramentas estavam disponíveis na plataforma Moodle Extensão da Universidade de São Paulo (USP), a qual foi selecionada para a hospedagem do curso.
Nossa principal intenção era que o curso não se tornasse cansativo, com aulas expositivas longas e pouca variedade de materiais. Na época em que esse trabalho foi iniciado, já havíamos atravessado um ano de distanciamento social derivado da pandemia de Covid-19, rigorosamente respeitado pela FSP/USP. Era um ponto comum entre o corpo estudantil de que o modelo de ensino remoto era muito mais exaustivo do que o presencial. A monotonia de longas aulas expositivas, síncronas ou gravadas, gerava sensação de esgotamento e de que muito pouco era, de fato, aprendido. Assim, nossa própria experiência estudantil também pautou o planejamento dos materiais didáticos, talvez com mais direções a respeito do que “não fazer” do que sobre qual seria a melhor forma. De toda maneira, ter a liderança de estudantes de graduação nesse processo provavelmente favoreceu a qualidade final da adequação ao EaD.
O desenvolvimento do trabalho deu-se no período de distanciamento social, portanto nossos meios de comunicação foram pautados em documentos editados conjuntamente em plataformas online, além de videochamadas para discussão. Após as pesquisas e reflexões a respeito das possibilidades de desenvolvimento dos materiais didáticos, voltamos ao planejamento de eixos e subeixos. Então, passamos a listar, sempre com o panorama geral sendo considerado, quais tipos de materiais melhor abordariam os conteúdos pretendidos. Prezamos pela diversidade e pela variação de tipos de materiais a cada subeixo. Por exemplo, conteúdos mais simples de serem compreendidos, menos complexos, foram prioritariamente apresentados na forma de infográficos. Os conteúdos de maior complexidade, como as consequências do estigma para a saúde e para o cuidado em saúde, e os fatores de confusão que relacionam a obesidade a desfechos socioeconômicos, foram apresentados em formato de videoaula.
Esse planejamento foi tecido ao mesmo tempo em que elencamos nomes de pessoas que acreditávamos poderem contribuir para o curso, e cuja presença considerávamos ser de extrema relevância. Assim, também foram previstas entrevistas e podcasts , principalmente nos quais pessoas convidadas – boa parte delas, pessoas gordas – fizeram participações essenciais, que enriqueceram muito o curso. Nesse sentido, também foi programada a inserção de depoimentos de pessoas com sobrepeso e obesidade, ou pessoas gordas, a cada eixo de conteúdo. Toda a equipe deste trabalho é composta por pessoas magras, cujos índices de massa corporal são classificados como “peso normal”. Destarte, uma das nossas principais preocupações foi trazer para dentro da discussão pessoas que estivessem diretamente implicadas com o estigma relacionado ao peso corporal, em um esforço para que nosso privilégio magro não limitasse o curso.
Outro ponto crucial foi a linguagem que seria utilizada, tanto falada quanto escrita. Tínhamos duas preocupações centrais: a primeira, de usar uma linguagem que não estigmatizasse ou patologizasse o corpo gordo; a segunda, de que fosse uma linguagem acessível a diferentes níveis de formação. Naturalmente, o uso de uma linguagem não estigmatizante e patologizante foi um ponto que não exigiu muitos esforços por parte da equipe, pois já estávamos inseridas/os nessa discussão há alguns meses. Jamais foi utilizado o termo “obeso/a”, por exemplo, por entendermos se tratar de uma forma de tratamento que reduz a pessoa à sua condição – observação feita pelas e pelos entrevistados ao longo das próprias pesquisas com pessoas gordas3030. Puhl RM. What words should we use to talk about weight? A systematic review of quantitative and qualitative studies examining preferences for weight‐related terminology. Obes Rev. 2020; 21(6):e13008. . A atenção à categoria obeso/a como rejeitada pelas pessoas gordas a faz inviável em um processo pedagógico. Assim, tornar a linguagem acessível foi algo que demandou maior cuidado e dedicação, visto que a linguagem acadêmica pode estar distante até mesmo de pessoas com formação de ensino superior. Optamos pelo uso de termos que estivessem mais aterrados à realidade cotidiana. Um exemplo é a escolha por dizer “quanto se consome em energia” em vez de “ingestão calórica”.
Ao longo desse processo, também testamos algumas identidades visuais com paletas de cores, elementos gráficos e layouts variados, chegando a um modelo final que pautou toda a nossa produção. Também foi nesse período que decidimos o nome do curso, impelidas pelo próprio planejamento de conteúdos e pelas escolhas que fizemos ao construí-lo. Pudemos reconhecer que estávamos assumindo uma linha narrativa própria para a exploração da temática, que transitava por diversos campos de conhecimento e ainda não havia sido explorada. Por fim, o termo “peso”, que caracteriza as “narrativas” no título, remete tanto ao tema do curso em si, que abordaria o peso corporal, quanto traz o sentido de se tratar de uma narrativa robusta e consistente.
Quanto à produção dos materiais, utilizamos plataformas online para a elaboração dos slides das aulas e dos infográficos, como os sites Canva e Prezi. Para a gravação das videoaulas, entrevistas e podcasts , foram utilizadas plataformas de videoconferência, como o Google Meet e o Zoom, gravação de vídeos, como o VideoAsk, e editores de vídeo, como o FilmForth. Todas as ferramentas possuíam uso gratuito naquele momento, seja via acesso institucional, seja pela própria natureza dos serviços. Também foram realizadas gravações em estúdio próprio da FSP/USP, seguindo as normas sanitárias vigentes.
Por fim, restava inserir os materiais na plataforma Moodle Extensão da USP, momento em que algumas ferramentas foram utilizadas para construção de materiais dentro da própria plataforma, como e-books interativos e testes de múltipla escolha. Também foram analisadas as possibilidades para a diagramação da página do curso, a qual foi selecionada com a intenção de ser a mais atrativa e intuitiva possível, visto que se trata de um curso autoinstrucional.
Contato com um olhar externo
Após concluir a produção dos materiais, o curso foi submetido a um painel de juízes cujo objetivo foi produzir uma devolutiva qualificada quanto a sua pertinência, a clareza e a abrangência do tema “estigma relacionado ao peso corporal”, assim como sua amigabilidade. O painel foi composto por três pessoas: uma nutricionista com obesidade, uma nutricionista com doutorado em Sociologia e com peso corporal classificado como “normal’’, ambas com experiência nos temas “obesidade” e “estigma”, e um homem com obesidade leigo nos assuntos referidos, que realizaram o curso como estudantes o fariam. A sistematização da devolutiva se deu por meio do preenchimento de feedbacks estruturados e um grupo focal realizado após o término das atividades. Os feedbacks apresentavam questões fechadas sobre a qualidade dos materiais, da plataforma e das abordagens utilizadas, respondidas por meio de escalas de cinco ou três pontos. O grupo focal foi realizado em formato de videochamada, com a presença das/os juízas/es, uma moderadora, uma assistente de moderadora e uma observadora. A conversa foi norteada por um roteiro de questões abertas previamente estruturado pela equipe.
Todo o material produzido pelo painel de juízes foi analisado a fim de identificar necessidades de correção nos materiais e plataforma do curso e de inserção de outros conteúdos ou temas que não foram suficientemente explorados. Por meio desse processo, foram adicionados três infográficos, um e-book interativo e materiais complementares. As adições foram concentradas no eixo três, mais conciso que os demais até então, com aprofundamento de temáticas relacionadas à conceituação do estigma e à diferenciação entre pressão estética e gordofobia. Além das adições, alguns materiais foram reordenados na plataforma e outros passaram por edições, de vídeo e áudio, de pequenas falhas identificadas pelo painel.
Com relação às demais percepções, o painel referiu ter tido suas expectativas superadas quanto à abrangência de conteúdos apresentados, à diversidade de tipos de materiais utilizados e ao formato do curso, fatores que despontaram como diferenciais e facilitadores do processo de imersão no ambiente virtual. Ademais, a presença de pessoas gordas no curso foi considerada fundamental, tendo em vista o apagamento e o silenciamento que sofrem no meio acadêmico e, especialmente, no meio da saúde. Também receberam destaque a qualidade da comunicação, tida como acessível a diferentes níveis de formação, e a coesão entre os materiais desenvolvidos, como se existisse um “fio condutor”, segundo as palavras do painel, que interligasse todos eles. Por fim, foram produzidas diversas formas de identificação pessoal e profissional entre as experiências pregressas das juízas e do juiz e as discussões apresentadas no curso, o que pode ser visto como um ponto positivo, pois mostra que reflexões mais profundas foram suscitadas.
Foi notável que várias das percepções derivadas do painel coincidiram com nossas intenções ao longo do planejamento do curso. A exemplo disso, temos o destaque dado à diversidade de materiais, à abrangência de perspectivas, às considerações sobre a qualidade e a acessibilidade da linguagem, e à relevância conferida à presença de pessoas gordas, pontos que já foram discutidos antes. Os depoimentos, especialmente, foram apontados como elementos que conferiram concretude ao que vinha sendo discutido teoricamente. Ainda que se trate de uma amostra reduzida, consideramos que tais alinhamentos entre o que foi planejado por nós e o que foi percebido pelo painel indica uma forte coesão entre nossos objetivos e a produção dos materiais.
Interseccionalidade: implicações e inflexões
Ao assumir o referencial teórico da interseccionalidade como um pilar estruturante do curso, vimos a necessidade de nos localizar e de reconhecer quais são as nossas inserções e posições sociais e de que maneiras elas poderiam implicar os processos de construção do curso. Assim, pontuamos logo no módulo introdutório que toda a equipe é composta por pessoas brancas e cisgênero, a maior parte magra, heterossexual e de classe social média alta. Ademais, reconhecemos os privilégios sociais que derivam de tais inserções, visto que nossa sociedade está pautada na cis e hétero normatividade2626. Akotirene C. O que é interseccionalidade? Belo Horizonte: Letramento; 2018. , privilegia corpos magros1919. Poulain JP. Sociologia da obesidade. São Paulo: Editora Senac São Paulo; 2013. e é estruturalmente racista3131. Almeida S. Racismo estrutural. São Paulo: Editora Jandaíra; 2019. . Dessa forma, procuramos não só discutir sempre com seriedade e compromisso as questões de raça, gênero e classe, mas, também, trazer para os espaços de fala pessoas que ocupavam outras posições: pessoas negras, gordas, transgênero, de sexualidades dissidentes.
Procuramos, portanto, nos manter atentas/os ao longo do caminho. Em dado momento, com base em reflexões derivadas da leitura de “O que é interseccionalidade?”2626. Akotirene C. O que é interseccionalidade? Belo Horizonte: Letramento; 2018. , nos demos conta de que estávamos incidindo no principal erro apontado pelo feminismo negro, ao falar sobre interseccionalidade: não havia, no eixo dedicado a apresentar o referencial, mulheres negras falando em suas próprias vozes. Paralelamente a esse reconhecimento, nos apropriamos do texto de Nascimento3232. Nascimento LCP. Eu não vou morrer: solidão, autocuidado e resistência de uma travesti negra e gorda para além da pandemia. Rev Inter-Legere. 2020; 3(28):c21581. , intitulado “Eu não vou morrer: solidão, autocuidado e resistência de uma travesti negra e gorda para além da pandemia”, que relata suas próprias histórias e reflexões por meio dessas categorias de diferenciação social.
Com base nas reflexões e nos reconhecimentos derivados do encontro encruzilhado com essas duas autoras, consideramos duas possibilidades: inserir o texto da professora Letícia Nascimento no eixo e tentar realizar uma entrevista com ela própria. Tínhamos como limitantes a carga horária do curso e o prazo para sua finalização, os quais não permitiram maiores inserções. Estávamos em dezembro de 2021 e o recesso do ano letivo também era uma variável. Apesar dos obstáculos, felizmente conseguimos realizar a entrevista com a professora Letícia e a produção de uma videoaula em que os principais pontos do texto da professora foram apresentados.
Na entrevista, buscamos explorar as percepções da autora sobre a interseccionalidade como um conceito epistêmico, os locais pelos quais ela falaria, e as formas como a gordofobia atravessa suas vivências e se cruza com o racismo e a transfobia. As falas da professora foram mantidas na íntegra. Foi possível realizar a gravação com voz e vídeo, o que consideramos muito positivo. A videoaula sobre o texto de Letícia Nascimento foi disponibilizada após a entrevista, na estrutura do eixo de conteúdos.
Trata-se da única videoaula que não possui qualquer narração por parte da equipe. O material foi elaborado pela primeira autora desse relato e aborda os principais pontos do texto de Nascimento3232. Nascimento LCP. Eu não vou morrer: solidão, autocuidado e resistência de uma travesti negra e gorda para além da pandemia. Rev Inter-Legere. 2020; 3(28):c21581. . Consideramos que seria incoerente uma mulher branca, cisgênero e magra narrar o texto e a elaboração de pensamento da professora Letícia, travestijj"Travesti" é uma expressão do português brasileiro que se refere a pessoas que possuem uma identidade de gênero que transgride os limites entre as expressões binárias "masculino" e "feminino". No ativismo, há a reivindicação política por serem referidas no gênero feminino, bem como ter suas vivências dentro do universo das feminilidades respeitadas. , negra, gorda e de axékk“Axé” é uma expressão que representa a força sagrada de cada orixá, divindades das religiões de matriz africana, como o Candomblé. É comumente utilizada para se referir a essas religiões. . Portanto, foram utilizados apenas recursos textuais para exposição e discussão do conteúdo. O vídeo é acompanhado sonoramente pelas músicas “Eu não vou morrer”, de Ventura Profana (inspiração do nome do texto original), e “Libertação”, de Elza Soares e BayanaSystem.
Considerações finais
A obesidade é um tema que suscita diversos debates entre o meio acadêmico e o meio ativista. De modo geral, podem-se destacar duas vertentes de posicionamentos que frequentemente colidem e entre as quais há marcadas disputas: uma que advoga pela patologização da obesidade, a qual está alinhada às diretrizes de autoridades em saúde, como a Organização Mundial da Saúde3333. Obesity: preventing and managing the global e pidemic. Report of a WHO consultation. World Health Organ Tech Rep Ser. 2000; 894:1-253. ; e outra que atua em prol da despatologização do corpo gordo e da própria denominação “obesidade” e variações3434. Jimenez-Jimenez ML. Lute como uma gorda: gordofobia, resistências e ativismos [tese]. Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso; 2020. . Os processos de estigmatização do corpo gordo perpassam, também, o processo de patologização desses corpos, ambos construídos e sustentados socialmente1919. Poulain JP. Sociologia da obesidade. São Paulo: Editora Senac São Paulo; 2013. . Dessa forma, reconhecemos a importância de assumir e explicitar quais os nossos posicionamentos a esse respeito, posto que, inevitavelmente, eles viriam a condicionar os recortes e ênfases do curso, que possuía carga horária de apenas trinta horas.
O primeiro eixo, “etiologia da obesidade”, é encerrado com o subeixo “medicalização da obesidade: a obesidade é ou não uma doença?”, em que são expostos três posicionamentos: o de que não é possível existir uma “obesidade saudável”; o de que a “obesidade saudável” é uma condição viável, sendo ambas as falas de pesquisadores convidados a contribuir para o curso; e o nosso posicionamento, de que considerar a obesidade como uma doença ou não vai variar a cada caso e lente. Com isso, criamos aberturas para que os conteúdos seguintes, como as implicações sociais da obesidade, a interseccionalidade e as consequências do estigma para a saúde não fossem condicionados por uma lógica patologizante absolutista, que limita perspectivas. Percebemos que criar essa possibilidade foi essencial para a produção de outras formas de pensar, que não somente a pautada na perda de peso, e recomendamos que o reconhecimento das diversas pautas em debate e disputa seja apresentado, ainda que não seja necessariamente aprofundado.
De forma geral, consideramos que o curso, planejado e produzido da maneira como foi, pode inspirar outras construções contextualizadas a cada realidade local – seja municipal, estadual seja nacional. Ressaltamos, mais uma vez, que a presença de pessoas gordas, tanto nos cedendo seus depoimentos quanto contribuindo com suas perspectivas teóricas e políticas sobre os temas, foi essencial para que as discussões fossem aterradas à realidade. Por fim, consideramos que toda intervenção que vise abordar o estigma relacionado ao peso corporal deve abranger, minimamente, a complexidade da obesidade como uma condição multifatorial e as formas interseccionais de como o estigma é produzido socialmente. Somente reconhecendo por quais mecanismos essa forma de opressão opera, tornamo-nos capazes de modificá-los.
Agradecimentos
A todas as pessoas gordas que contribuíram, de maneiras diversas, para a construção deste curso; à Divisão de Produção Digital da FSP/USP, especialmente a Adolpho Levy, pelo suporte durante a gravação das aulas realizadas em estúdio; ao professor Ewout ter Haar, pela preciosa colaboração com assuntos relacionados à plataforma do Moodle Extensão da USP; e à professora Patrícia Jaime, da FSP/USP, por nos ter convidado a construir o curso e por todo apoio.
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- j"Travesti" é uma expressão do português brasileiro que se refere a pessoas que possuem uma identidade de gênero que transgride os limites entre as expressões binárias "masculino" e "feminino". No ativismo, há a reivindicação política por serem referidas no gênero feminino, bem como ter suas vivências dentro do universo das feminilidades respeitadas.
- k“Axé” é uma expressão que representa a força sagrada de cada orixá, divindades das religiões de matriz africana, como o Candomblé. É comumente utilizada para se referir a essas religiões.
- Financiamento: Esta pesquisa foi financiada por auxílio do CNPq sob processo n. 421840/2018-8, na “Chamada CNPq/MS/SAS/DA/CGAN N. 26/2018, enfrentamento e controle da obesidade no âmbito do SUS”; por bolsa de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, sob processo n. 2021/08207-0; e por bolsa de produtividade CNPq sob processo n. 304385/2021-2.
Datas de Publicação
- Publicação nesta coleção
25 Set 2023 - Data do Fascículo
2023
Histórico
- Recebido
11 Fev 2023 - Aceito
01 Jul 2023