EDITORIAL

A RBE inicia, nesta edição, a publicação de uma série de Notas Técnicas sobre dados de saúde bucal em estudos de coorte conduzidos no Brasil. Tais estudos aparecem com frequência na área médica com o intuito de identificar fatores de risco específicos para doenças crônicas e compreender seus mecanismos. Os primeiros estudos desse tipo apareceram na Inglaterra e nos Estados Unidos, nos anos 1940. Naqueles contextos, visavam à produção de conhecimentos locais para ajudar a resolver problemas, digamos, "domésticos". Resulta que suas conclusões produziram efeitos em todo o mundo, adquirindo dimensão internacional.

No Brasil, alguns estudos de coorte são bem conhecidos, como o de nascidos vivos de Pelotas, iniciado em 1982, embora os dados de saúde bucal tenham sido incluídos somente no final dos anos 1990. No presente, a inserção de dados de saúde bucal em coortes vem se consolidando em nosso país, conforme revela a série cuja publicação ora iniciamos com a Nota Técnica sobre a saúde bucal na coorte de Pelotas.

Nos estudos epidemiológicos de saúde bucal predominam largamente os seccionais, ainda que as relações temporais sejam mais bem definidas em delineamentos longitudinais. Um dos motivos é que são enormes os desafios metodológicos de planejamento e execução desses estudos. Eles não envolvem apenas problemas concernentes ao financiamento em longo prazo e questões de delineamento de pesquisa, mas também dificuldades para obter o comprometimento de um grupo de pesquisadores com a manutenção da coorte e com a consecução da colaboração dos participantes, ao longo de décadas. Outro desafio importante é a avaliação de políticas de saúde que afetam o contexto, uma vez que os estudos de coorte tendem a focar, por questões práticas, fatores individuais.

Cabe reiterar, contudo, que o impacto de estudos longitudinais é grande, pois muitas linhas de pesquisas que poderão ser estabelecidas no futuro dependem dos dados coletados atualmente. Nesse sentido, as coortes brasileiras com dados de saúde bucal expressam uma ampla série de temáticas, abrangendo predominantemente crianças e jovens, embora alguns estudos já incluam a saúde bucal do adulto e do idoso.

O objetivo da RBE é proporcionar ao leitor um panorama desses estudos longitudinais no Brasil. Para isso, coortes de diferentes localidades foram identificadas e seus coordenadores contatados e convidados a produzir as Notas Técnicas. Com esta iniciativa, esperamos não apenas registrar o que se vem fazendo no Brasil, mas também estimular a reflexão sobre os conhecimentos aqui produzidos e identificar lacunas que refletem especificidades da nossa realidade. Não obstante, motiva-nos a perspectiva de que, ainda que focando em problemas regionais brasileiros, nossos pesquisadores logrem produzir conhecimentos cuja qualidade os tornem valiosos também em nível internacional.

Roger Keller Celeste

Paulo Capel Narvai

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar 2014
Associação Brasileira de Pós -Graduação em Saúde Coletiva São Paulo - SP - Brazil
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