Fatores associados à perda de produtividade em pessoas envolvidas em acidentes de trânsito: um estudo prospectivo

Jefferson Paixão Cardoso Eduardo Luiz Andrade Mota Polianna Alves Andrade Rios Luciano Nery Ferreira Sobre os autores

RESUMO:

Objetivo:

Estudar fatores associados à perda de produtividade em pessoas envolvidas em acidentes de trânsito (AT).

Métodos:

Realizou-se uma coorte prospectiva de base comunitária no município de Jequié, Bahia, Brasil, entre 2013 e 2015. Foi aplicado instrumento de coleta em forma de formulário em participantes que se envolviam em AT, seguido de entrevistas a cada quatro meses. Investigou-se, por meio da análise bivariada e multivariável, a associação entre perda de produtividade e variáveis sociodemográficas e ocupacionais, condições de saúde e gravidade das lesões.

Resultados:

Observaram-se incidência cumulativa de perda de produtividade de 61,1% e densidade de incidência geral de 7,45 casos/100 pessoas/mês. A análise multivariável demonstrou associação com perda de produtividade para quem utilizava o veículo como instrumento de trabalho (razão de densidade de incidência - RDI = 4,23; intervalo de confiança de 95% (IC95%) = 2,90 - 6,17) e aqueles que apresentaram lesão corporal (RDI = 2,80; IC95% = 1,62 - 4,85).

Conclusão:

São necessárias políticas públicas que assegurem a segurança no trânsito a fim de minimizar os efeitos dos AT sobre a produtividade, além da realização de novos estudos na área para ampliar o conhecimento sobre o tema.

Palavras-chave:
Acidentes de trânsito; Eficiência; Estudos prospectivos

INTRODUÇÃO

Os acidentes de trânsito (AT) representam atualmente uma das grandes causas de morbidade e mortalidade em escala global, principalmente nos países emergentes, sendo considerados o principal motivo de morte entre jovens de 15 a 29 anos11. World Health Organization. Global status report on road safety 2015. Genebra: World Health Organization; 2015. 16 p.. Em 2013, a Organização Mundial da Saúde estimou em 1,25 milhão de mortes provocadas por AT, enquanto as lesões não fatais oscilaram entre 20 e 50 milhões de envolvidos22. World Health Organization. World health statistics 2016. Genebra: World Health Organization ; 2016. 136 p.. O ônus produzido por esse evento envolve desde os serviços de transporte de veículos e transporte de pessoas até os serviços de reabilitação e manutenção das vias danificadas. No entanto, quando o foco está no indivíduo, a avaliação da produtividade torna-se o quesito de maior expressividade em vista do ônus econômico e social33. Ameratunga S, Hijar M, Norton R. Road-traffic injuries: confronting disparities to address a global-health problem. Lancet 2006; 367(9521): 1533-40. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(06)68654-6
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. Por essa razão, ela tem sido estudada como um importante fator de interesse para a sociedade, pois representa o quanto uma nação deixou de se desenvolver44. Elvik R. How much do road accidents cost the national economy? Accid Anal Prev 2000; 32(6): 849-51. https://doi.org/10.1016/s0001-4575(00)00015-4
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.

Quando um evento mórbido acontece, a depender do contexto que o promoveu e da maneira como afeta a condição da pessoa, ele pode gerar alterações nas atividades produtivas. Estas, por sua vez, podem se apresentar com limitações em sua realização ou mesmo provocar a perda da capacidade de realizá-las e, em ambos os casos, seguir um curso temporário ou definitivo55. Beaton D, Bombardier C, Escorpizo R, Zhang W, Lacaille D, Boonen A, et al. Measuring worker productivity: frameworks and measures. J Rheumatol 2009; 36(9): 2100-9. https://doi.org/10.3899/jrheum.090366
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.

Os AT têm o potencial de gerar efeitos tão comprometedores que perpassam a avaliação do estado de saúde e qualidade de vida das pessoas e que se expressam na forma como estas desempenham suas atividades cotidianas, especialmente as atividades produtivas. Essas alterações, por sua vez, implicam mudanças na dinâmica das relações sociais e/ou perturbações econômicas. Nesse último aspecto, tem-se demonstrado que pelo menos 60% dos custos totais de um AT estão representados pela perda de produtividade66. Fang X, Zeng G, Linnan HW, Jing R, Zhu X, Corso P, et al. The incidence and economic burden of injuries in Jiangxi, China. Public Health 2016; 138: 138-45. https://doi.org/10.1016/j.puhe.2016.03.024
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
,77. Papadakaki M, Stamouli M-A, Ferraro OE, Orsi C, Otte D, Tzamalouka G, et al. Hospitalization costs and estimates of direct and indirect economic losses due to injury sustained in road traffic crashes: Results from a one-year cohort study in three European countries (The REHABILAID project). Trauma 2017; 19(4): 264-76. https://doi.org/10.1177%2F1460408616677564
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,88. Riewpaiboon A, Piyauthakit P, Chaikledkaew U. Economic burden of road traffic injuries: a micro-costing approach. Southeast Asian J Trop Med Public Health 2008; 39(6): 1139-49.,99. Sousa TRV, Correa E, Stampe MZ, Porto Junior S da S, De Boni R. Custos dos acidentes de trânsito com vítimas associados ao uso de álcool em Porto Alegre. In: Pechansky F, Duarte P do CAV, De Boni R B, editores. Uso de bebidas alcoólicas e outras drogas nas rodovias brasileiras e outros estudos. Porto Alegre: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas; 2010. p. 100-11.,1010. Mofadal AIA, Kanitpong K. Analysis of Road Traffic Accident Costs in Sudan Using the Human Capital Method. Open J Civ Eng 2016; 6(2): 203-16. http://dx.doi.org/10.4236/ojce.2016.62019
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.

Uma parcela importante do conhecimento produzido sobre AT e produtividade a consideraram sob o ponto de vista do trabalho, avaliando o impedimento - parcial ou total - em desenvolvê-lo. Nessa situação, é importante observar outras propostas que incluem a avaliação para além do trabalho66. Fang X, Zeng G, Linnan HW, Jing R, Zhu X, Corso P, et al. The incidence and economic burden of injuries in Jiangxi, China. Public Health 2016; 138: 138-45. https://doi.org/10.1016/j.puhe.2016.03.024
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, ou seja, incluir outras atividades produtivas, a exemplo dos estudos e do trabalho doméstico, que, por sua vez, também são considerados como atos de produzir humanos e que indicam contribuição social e econômica1111. Kim J. Productive Activity and Life Satisfaction in Korean Elderly Women. J Women Aging 2013; 25(1): 80-96. https://doi.org/10.1080/08952841.2012.717850
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,1212. Petrella L, McColl MA, Krupa T, Johnston J. Returning to productive activities: Perspectives of individuals with long-standing acquired brain injuries. Brain Inj 2005; 19(9): 643-55. https://doi.org/10.1080/02699050410001671874
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.

Como elemento, as repercussões sobre a produtividade têm sido estudadas em consonância com outros aspectos33. Ameratunga S, Hijar M, Norton R. Road-traffic injuries: confronting disparities to address a global-health problem. Lancet 2006; 367(9521): 1533-40. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(06)68654-6
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,66. Fang X, Zeng G, Linnan HW, Jing R, Zhu X, Corso P, et al. The incidence and economic burden of injuries in Jiangxi, China. Public Health 2016; 138: 138-45. https://doi.org/10.1016/j.puhe.2016.03.024
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,77. Papadakaki M, Stamouli M-A, Ferraro OE, Orsi C, Otte D, Tzamalouka G, et al. Hospitalization costs and estimates of direct and indirect economic losses due to injury sustained in road traffic crashes: Results from a one-year cohort study in three European countries (The REHABILAID project). Trauma 2017; 19(4): 264-76. https://doi.org/10.1177%2F1460408616677564
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,88. Riewpaiboon A, Piyauthakit P, Chaikledkaew U. Economic burden of road traffic injuries: a micro-costing approach. Southeast Asian J Trop Med Public Health 2008; 39(6): 1139-49.,99. Sousa TRV, Correa E, Stampe MZ, Porto Junior S da S, De Boni R. Custos dos acidentes de trânsito com vítimas associados ao uso de álcool em Porto Alegre. In: Pechansky F, Duarte P do CAV, De Boni R B, editores. Uso de bebidas alcoólicas e outras drogas nas rodovias brasileiras e outros estudos. Porto Alegre: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas; 2010. p. 100-11.,1010. Mofadal AIA, Kanitpong K. Analysis of Road Traffic Accident Costs in Sudan Using the Human Capital Method. Open J Civ Eng 2016; 6(2): 203-16. http://dx.doi.org/10.4236/ojce.2016.62019
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,1313. Alghnam S, Wegener ST, Bhalla K, Colantuoni E, Castillo R. Long-term outcomes of individuals injured in motor vehicle crashes: A population-based study. Injury 2015; 46(8): 1503-8. https://doi.org/10.1016/j.injury.2015.06.004
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, a exemplo das repercussões financeiras e na família. Por essa razão, faz-se necessário o direcionamento do escopo de estudos das repercussões dos AT, no sentido de explicitar a perda da capacidade produtiva das pessoas envolvidas e destacar os fatores relacionados.

Não obstante, a escassez do tema na literatura científica impossibilita evidenciar quais elementos contribuiriam efetivamente com o problema, e, dessa maneira, perde-se a oportunidade de elucidar a complexidade desse assunto. Diante do exposto, esta investigação objetivou avaliar fatores associados à perda de produtividade em pessoas envolvidas em AT.

MÉTODOS

TIPO E LOCAL DO ESTUDO

Esta pesquisa é derivada de um estudo longitudinal, prospectivo, de base comunitária e desenvolvido no município de Jequié. Este fica localizado na região sudoeste do estado da Bahia e, em 2010, possuía população de 151.895 habitantes (91,8% residia na área urbana), sendo considerado o oitavo município baiano mais populoso. Nele residiam, nesse mesmo ano, 109.206 (71,9%) pessoas com idade entre 14 e 69 anos, e 66.855 habitantes (47,9%) eram do sexo masculino1414. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2010 [Internet]. IBGE; 2016 [acessado em 6 jun. 2017]. Disponível em: Disponível em: http://www.ibge.gov.br
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. A proporção de pessoas economicamente ativas em 2010 era de 63,9% (68.115)1515. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil [Internet]. PNUD; IPEA; FJP; 2013 [acessado em 17 nov. 2016]. Disponível em: Disponível em: http://www.atlasbrasil.org.br
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. Em 2013, estavam matriculadas na educação básica 33.899 (85,5%) indivíduos em idade escolar1616. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo escolar [Internet]. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira; 2013 [acessado em 15 abr. 2017]. Disponível em: Disponível em: http://matricula.educacenso.inep.gov.br/
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.

SELEÇÃO E ACOMPANHAMENTO DOS PARTICIPANTES

A amostra do estudo base foi fundamentada na incidência cumulativa de 7,8% de AT do estudo de Magalhães1717. Magalhães AF. Prevalência de acidentes de trânsito em Rio Branco - Acre [dissertação]. [Rio Branco]: Universidade Federal do Acre; 2009.. Acrescentaram-se aos cálculos precisão de 2,0%, alfa (α) de 5,0%, efeito de desenho de 2 e poder do estudo de 80%, obtendo-se amostra final de 1.406 domiciliares. O processo de amostragem foi por conglomerado em único estágio, sendo considerados 169 conglomerados urbanos ou setores censitários (SC), e, destes, 35 foram sorteados.

Incluíram-se como participantes do estudo as pessoas residentes nos SC sorteados que se envolveram em AT e que tinham idade mínima de 14 anos. O período de realização da coleta de dados foi entre julho de 2013 e outubro de 2015 e englobou uma etapa de linha de base e seis ondas de seguimento com duração de quatro meses cada uma, totalizando 24 meses de acompanhamento. Na etapa de linha de base, todos os domicílios de cada SC foram percorridos para fins de identificação e cadastramento no estudo.

Na etapa de seguimento, fizeram-se contatos telefônicos com os participantes para verificar o envolvimento em AT nos últimos quatro meses e agendamento de entrevistas ou reentrevistas de acompanhamento das repercussões pós-AT. Considerou-se AT qualquer acidente ocorrido na via pública (ruas e estradas), podendo ou não ter causado ferimentos. Nessa etapa, houve perdas de seguimento quando a pessoa se mudou para outra localidade sem possibilidade de contato por telefone, via eletrônica ou visita da equipe do projeto, bem como quando ocorria o falecimento.

Para os envolvidos em AT, consideraram-se os casos de difícil localização os de pessoas que não eram encontradas no domicílio, não possuíam telefone ou trabalhavam fora do município. Nesses casos, foram realizadas exaustivas tentativas de entrevistas desde a identificação do AT até a finalização do seguimento.

Para o desenvolvimento do estudo, uma equipe de pesquisa foi constituída e treinada para as diversas fases da pesquisa (contatos telefônicos, agendamentos, entrevistas, revisão e tabulação).

INSTRUMENTO DE COLETA

O instrumento de coleta foi constituído de formulário com perguntas relativas aos aspectos sociodemográficos e ocupacionais, características do AT, comportamentos no trânsito, aspectos da saúde e sobre situações após o AT. Para avaliação do instrumento, foi conduzida etapa de pré-teste em setor censitário não incluído no estudo, e, durante o desenvolvimento da etapa longitudinal, realizaram-se o teste e o reteste por meio da concordância intraobservador e interobservador.

VARIÁVEL DE DESFECHO

A variável de desfecho correspondeu à perda de produtividade e foi identificada pela pergunta sobre a “realização de quaisquer atividades habituais, incluindo trabalhar, ir à escola, brincar, afazeres domésticos, entre outras após o AT”. As categorias de resposta para essa pergunta eram “sim” e “não”.

COVARIÁVEIS

Neste artigo, foram incluídas na análise:

  • Variáveis sociodemográficas: sexo (masculino e feminino); idade, em três faixas etárias (14 a 17 anos, 18 a 45 anos, e acima de 45 anos); estado marital, em três categorias (casado/união estável, divorciado/separado/viúvo e solteiro), filhos (ter ou não filhos e quantidade de filhos); escolaridade (até o ensino fundamental, ensino médio e ensino superior); renda avaliada em salários mínimos (SM) e apresentada em três categorias (sem renda, 1 a 3 SM, e acima de 3 SM); condutor de veículo (sim e não). Para o momento do acidente, investigaram-se a situação de uso do veículo (sim e não) e o tipo de usuário na via (pedestre, veículo de duas rodas e veículo de quatro rodas);

  • Variáveis ocupacionais: tipo de vínculo ocupacional, em três categorias (público/aposentado, privado e sem vínculo/sem emprego); veículo utilizado como instrumento de trabalho (sim e não); veículo motorizado empregado para deslocamento para o trabalho (sim e não); dor interferiu no trabalho (sim e não);

  • Variáveis sobre condições de saúde e gravidade das lesões: estado de saúde investigado em cinco categorias e categorizado em estado de saúde bom (categorias: excelente, muito boa e boa) e estado de saúde ruim (categorias: ruim e muito ruim); plano de saúde (sim e não); comorbidade (sim e não); presença e tipo de lesão corporal em duas categorias (corte/laceração/entorse e múltiplas lesões, quando duas ou mais lesões corporais); e sequela física com limitação de mobilidade (sim e não).

ANÁLISE DOS DADOS

Foram calculados o total de pessoas envolvidas em AT e as frequências absolutas de pessoas que perderam a produtividade segundo categorias das variáveis de interesse.

Calcularam-se a incidência cumulativa geral (número de casos novos de AT dividido pelo número de participantes do estudo no período de 24 meses, multiplicado por 100) e o indicador de densidade de incidência (DI) para cada variável (número de casos de AT dividido pelo número de pessoas-meses de acompanhamento e multiplicado por 100). Nessa última análise, obteve-se a razão de densidade de incidência (RDI) com base na divisão da DI da categoria de exposição sobre a DI da categoria de não exposição.

Na análise multivariável, para a constituição do modelo inicial, o valor de probabilidade do teste χ2, menor ou igual a 20%, foi utilizado como critério de seleção das variáveis e do desfecho. Para o modelo final, implementou-se a técnica de backward, aplicando como critério de permanência no modelo o valor de probabilidade menor ou igual a 5% do teste de Wald e o menor valor do Akaike information criterion (AIC). A modelagem usada foi a regressão de Poisson, pois permite estimar as RDI nessa modalidade de estudo epidemiológico1818. Frome EL, Checkoway H. Use of Poisson Regression Models in Estimating Incidence Rates and Ratios. Am J Epidemiol 1985; 121(2): 309-23. https://doi.org/10.1093/oxfordjournals.aje.a114001
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. Para avaliação do modelo, recorreu-se ao teste de bondade de ajuste (good-of-fitness). Em todas as análises, foram utilizados intervalos de confiança ao nível de 95% (IC95%). O software estatístico Stata®, versão 12.0, foi empregado na análise dos dados deste artigo.

Este estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 13691013.5.0000.5030, parecer nº 249.611, de 2 de abril de 2013.

RESULTADOS

Durante o período de acompanhamento, 305 pessoas envolveram-se em AT. Destas, 31,8% (97) não foram entrevistadas, situação decorrente de recusas (4,9%), perdas (6,5%) e pessoas não localizadas (20,3%). A comparação entre entrevistados e não entrevistados não diferiu significativamente. Outros cinco participantes foram excluídos por apresentarem idade menor que 14 anos. Por fim, 203 participantes constituíram a amostra final. A incidência cumulativa geral de perda de produtividade por AT no período de 24 meses de acompanhamento foi de 61,1% (124). A densidade de incidência foi de 7,45 casos/100 pessoas/mês, o tempo médio de acompanhamento foi de 8,19 meses e desvio padrão de 6,46 meses. O somatório dos tempos de seguimento resultou em 1.664 pessoas/mês.

A Tabela 1 demonstra as frequências absolutas, a densidade de incidência e as RDI para perda de produtividade segundo condições sociodemográficas. Foi observada associação com perda de produtividade nas faixas etárias de 14 a 17 anos (RDI = 3,03; IC95% = 1,04 - 7,36) e 18 a 45 anos (RDI = 1,78; IC95% = 1,17 - 2,76), para quem era solteiro (RDI = 1,73; IC95% = 1,19 - 2,52), não possuía filhos (RDI = 1,82; IC95% = 1,26 - 2,64), tinha renda de um a três salários mínimos (RDI = 1,61; IC95% = 1,05 - 2,52) e dirigia veículo de duas rodas (RDI = 1,94; IC95% = 1,33 - 2,85). Em participantes que estavam divorciados, separados ou viúvos, a associação foi protetora para perda de produtividade (RDI = 0,31; IC95% = 0,06 - 0,95).

Tabela 1.
Frequências absolutas, pessoa-tempo (PT), densidade de incidência (DI), razão de densidade de incidência (RDI) e intervalos de 95% de confiança (IC95%) para perda de produtividade segundo condições sociodemográficas. Jequié, Bahia, Brasil, 2013-2015.

Em relação às características ocupacionais (Tabela 2), também foi constatada associação para perda de produtividade entre os participantes que possuíam vínculo de trabalho do tipo privado (RDI = 2,29; IC95% = 1,46 - 3,69), utilizavam o veículo como instrumento de trabalho (RDI = 4,63; IC95% = 3,14 - 6,75) e usavam o veículo para deslocamento até o trabalho (RDI = 3,03; IC95% = 1,23 - 9,65).

Tabela 2.
Frequências absolutas, pessoa-tempo (PT), densidade de incidência (DI), razão de densidade de incidência (RDI) e intervalos de 95% de confiança (IC95%) para perda de produtividade segundo variáveis ocupacionais. Jequié, Bahia, Brasil, 2013-2015.

A Tabela 3 refere-se à investigação do desfecho segundo condições de saúde e gravidade das lesões. Participantes que não possuíam plano de saúde (RDI = 1,74; IC95% = 1,21 - 2,53) e apresentaram lesão corporal (RDI = 4,42; IC95% = 3,04 - 6,47) foram únicos fatores nesse grupo associados com a perda de produtividade.

Tabela 3.
Frequências absolutas, pessoa-tempo (PT), densidade de incidência (DI), razão de densidade de incidência (RDI) e intervalos de 95% de confiança (IC95%) para perda de produtividade segundo condições de saúde e gravidade das lesões. Jequié, Bahia, Brasil, 2013-2015.

Na análise multivariável (Tabela 4), mantiveram-se associados com a perda de produtividade quem utilizou veículo como instrumento de trabalho (RDI = 4,23; IC95% = 2,90 - 6,17) e quem apresentou lesão corporal (RDI = 2,80; IC95% = 1,62 - 4,85). O teste de bondade do ajuste indicou que o modelo ajustou bem os dados (Pearson goodness-of-fit = 207,72; p = 0,237).

Tabela 4.
Razão de densidade de incidência (RDI) e intervalos de 95% de confiança (IC95%) de perda de produtividade segundo variáveis do modelo final da regressão de Poisson. Jequié, Bahia, Brasil, 2013-2015.

DISCUSSÃO

Este estudo possibilitou investigar a perda de produtividade em uma coorte de domiciliares de um município de médio porte. Os estudos conduzidos nessa temática têm sido desenhados, em sua maioria, por acompanhamento de pessoas com base no local de atendimento hospitalar, condição que oportunizou acesso imediato aos participantes pós-AT, principalmente aos casos de maior gravidade, e acompanhamento destes com periodicidade semestral1919. Beck B, Stevenson M, Newstead S, Cameron P, Judson R, Edwards ER, et al. Bicycling crash characteristics: An in-depth crash investigation study. Accid Anal Prev 2016; 96: 219-27. https://doi.org/10.1016/j.aap.2016.08.012
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,2020. Fort E, Bouffard E, Charnay P, Bernard M, Boisson D, Laumon B, et al. Return to work following road accidents: factors associated with late work resumption. J Rehabil Med 2011; 43(4): 283-91. https://doi.org/10.2340/16501977-0670
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,2121. Hours M, Bernard M, Charnay P, Chossegros L, Javouhey E, Fort E, et al. Functional outcome after road-crash injury: description of the ESPARR victims cohort and 6-month follow-up results. Accid Anal Prev 2010; 42(2): 412-21. https://doi.org/10.1016/j.aap.2009.09.002
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
,2222. Murgatroyd D, Lockwood K, Garth B, Cameron ID. The perceptions and experiences of people injured in motor vehicle crashes in a compensation scheme setting: a qualitative study. BMC Public Health 2015; 15: 423. https://doi.org/10.1186/s12889-015-1739-9
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,2323. Paiva L, Pompeo DA, Ciol MA, Arduini GO, Dantas RAS, Senne ECV de, et al. Health status and the return to work after traffic accidents. Rev Bras Enferm 2016; 69(3): 443-50. https://doi.org/10.1590/0034-7167.2016690305i
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. Nesta pesquisa, a estratégia metodológica de utilizar a linha de base domiciliar e acompanhamento por ondas quadrimestrais pode ter contribuído para o acesso direto aos envolvidos em AT.

No que tange às pessoas não encontradas para entrevista de envolvimento em AT, os percentuais observados nesse grupo podem ter relação direta com a metodologia aplicada na busca ativa dos participantes que se envolveram nos eventos de menor gravidade. Nesses casos, acredita-se que o retorno imediato às atividades habituais pré-AT contribuiu para a redução do sucesso no que diz respeito à localização desses indivíduos, agendamento e realização das entrevistas. Por outro lado, o uso exaustivo da estratégia de localização dos envolvidos pode ter reduzido o número de perdas, se comparado a estratégias que limitassem a uma quantidade específica de tentativas de localização dessas pessoas.

A incidência cumulativa de perda de produtividade foi expressiva e maior no tocante aos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios2424. Malta DC, Mascarenhas MDM, Bernal RTI, Silva MMA, Pereira CA, Minayo MCS, et al. Análise das ocorrências das lesões no trânsito e fatores relacionados segundo resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Brasil, 2008. Ciênc Saúde Coletiva 2011; 16(9): 3679-87. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011001000005
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e da Pesquisa Nacional de Saúde2525. Malta DC, Andrade SSCA, Gomes N, Silva MMA, Morais Neto OL, Reis AAC, et al. Injuries from traffic accidents and use of protection equipment in the Brazilian population, according to a population-based study. Ciênc Saúde Coletiva 2016; 21(2): 399-410. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015212.23742015
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, que revelaram, respectivamente, valores de 30,7 e 47,0% para envolvimento em AT e impossibilidade de realizar atividades habituais. O resultado deste estudo demonstrou situação preocupante, pois representou um número de pessoas que deixou de produzir social e economicamente para a sociedade.

Em relação às informações sociodemográficas, as pessoas do sexo masculino, na faixa etária intermediária e solteiras têm sido evidenciadas com maior envolvimento em AT e, consequentemente, apresentaram as maiores repercussões em torno de sua produtividade2626. Berecki-Gisolf J, Collie A, McClure R. Work disability after road traffic injury in a mixed population with and without hospitalisation. Accid Anal Prev 2013; 51: 129-34. https://doi.org/10.1016/j.aap.2012.11.010
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,2727. Diedericks JC. The effects of motor vehicle accidents on careers and the work performance of victims. SA J Ind Psychol 2014; 40(1). https://doi.org/10.4102/sajip.v40i1.1078
https://doi.org/https://doi.org/10.4102/...
,2828. Ebel B, Mack C, Diehr P, Rivara F. Lost working days, productivity, and restraint use among occupants of motor vehicles that crashed in the United States. Inj Prev 2004; 10(5): 314-9. https://dx.doi.org/10.1136%2Fip.2004.005850
https://doi.org/https://dx.doi.org/10.11...
. Os resultados revelados neste estudo indicaram categorias que merecem atenção, pois o ônus social promovido pelo AT se torna ainda maior nas menores faixas etárias2929. Dimitriou D, Poufinas T. Cost of Road Accident Fatalities to the Economy. Int Adv Econ Res 2016; 22(4): 433-45. https://doi.org/10.1007/s11294-016-9601-0
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
, em virtude da ampliação do tempo de amparo pelos sistemas de seguridade. Vale também lembrar que a associação protetora para perda de produtividade, verificada entre os divorciados, separados e viúvos, foi um achado curioso, ainda sem evidência consistente na literatura e que pode estar relacionado às pessoas mais velhas, mais experientes no trânsito e que experimentaram menos efeitos sobre sua produtividade após o AT.

Os resultados encontrados, segundo o tipo de usuário da via, demonstraram associação com perda de produtividade para aqueles que utilizaram veículos de duas rodas. Esses achados foram semelhantes aos do estudo de Tournier et al.3030. Tournier C, Charnay P, Tardy H, Chossegros L, Carnis L, Hours M. A few seconds to have an accident, a long time to recover: Consequences for road accident victims from the ESPARR cohort 2 years after the accident. Accid Anal Prev 2014; 72: 422-32. https://doi.org/10.1016/j.aap.2014.07.011
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
e ajudam a reforçar a discussão sobre expressividade das repercussões do AT entre os usuários de veículos de duas rodas, principalmente quando se avaliam a gravidade das lesões77. Papadakaki M, Stamouli M-A, Ferraro OE, Orsi C, Otte D, Tzamalouka G, et al. Hospitalization costs and estimates of direct and indirect economic losses due to injury sustained in road traffic crashes: Results from a one-year cohort study in three European countries (The REHABILAID project). Trauma 2017; 19(4): 264-76. https://doi.org/10.1177%2F1460408616677564
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e os impactos econômicos gerados3131. Sapkota D, Bista B, Adhikari SR. Economic Costs Associated with Motorbike Accidents in Kathmandu, Nepal. Front Public Health 2016; 4: 273. https://dx.doi.org/10.3389%2Ffpubh.2016.00273
https://doi.org/https://dx.doi.org/10.33...
. Apesar de o consenso sobre a exposição do corpo e a gravidade das lesões corporais ser maior em ciclistas e pedestres, o aumento do uso da motocicleta foi expressivo nos últimos anos e tem contribuído com a magnitude desses achados.

Vale salientar que o perfil do tipo de usuário de veículo está diretamente relacionado com o desenvolvimento do sistema de tráfego em diferentes regiões do mundo11. World Health Organization. Global status report on road safety 2015. Genebra: World Health Organization; 2015. 16 p.. No Brasil, as lesões por AT, nas cinco grandes regiões do país, têm demonstrado diferenças importantes quando avaliadas por tipo de usuário da via3232. Morais Neto OL, Andrade AL, Guimarães RA, Mandacarú PMP, Tobias GC. Regional disparities in road traffic injuries and their determinants in Brazil, 2013. Int J Equity Health 2016; 15: 142. https://dx.doi.org/10.1186%2Fs12939-016-0433-6
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e, portanto, podem indicar resultados diferentes ao analisar-se a perda de produtividade.

No que concerne ao tipo de vínculo de trabalho, observou-se associação do tipo privado com perda de produtividade, e, nesse caso, é importante destacar que as formas de vínculo empregatício contratual que não oferecem garantia de direitos podem ter produzido o aumento das estimativas desse evento, principalmente quando ocorreu a perda do emprego2727. Diedericks JC. The effects of motor vehicle accidents on careers and the work performance of victims. SA J Ind Psychol 2014; 40(1). https://doi.org/10.4102/sajip.v40i1.1078
https://doi.org/https://doi.org/10.4102/...
.

A associação entre veículo utilizado como instrumento de trabalho e a perda de produtividade indicaram a importância e utilidade do veículo motorizado na relação entre mobilidade urbana e trabalho. Nessa avaliação, deve ser considerado o tempo de exposição ao trânsito para as pessoas que trabalham com veículo motorizado, pois esse período é relativamente maior se comparado ao tempo de pessoas que utilizam o veículo para o deslocamento ao trabalho. Esse fato aumenta a probabilidade de gerar perda na produtividade em decorrência do AT3333. Boufous S, Williamson A. Work-related traffic crashes: A record linkage study. Accid Anal Prev 2006; 38(1): 14-21. https://doi.org/10.1016/j.aap.2005.06.014
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
, seja por dano ao veículo, seja por lesão do envolvido.

Situação semelhante pode ser discutida no que se refere às pessoas que utilizam o veículo para deslocamento casa-trabalho. Nesse caso, os achados desta pesquisa são reflexo do crescimento das cidades, necessidades de deslocamento entre seus espaços e o estímulo ao uso de veículo motorizado para atender a essas necessidades em um menor espaço de tempo. O desenvolvimento de estratégias que estimulem o uso seguro do transporte alternativo, a exemplo da bicicleta, pode ter resultados positivos sobre a redução do AT e efeitos deste sobre a produtividade3434. Bacchieri G, Barros AJD, Santos JV dos, Gonçalves H, Gigante DP. A community intervention to prevent traffic accidents among bicycle commuters. Rev Saúde Pública 2010; 44(5): 867-75. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102010000500012
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.159...
.

A associação com perda de produtividade também pode ser observada em pessoas que não possuíam plano de saúde. Esse achado pode indicar mais oportunidades de recuperação, como a oferta de atenção à saúde com menor tempo de espera entre o acontecimento do evento mórbido e a assistência para aqueles com convênio médico. Por outro lado, a ineficiência do sistema de seguridade social em minimizar a ocorrência da perda de produtividade, partindo do princípio de que a atenção dada não consegue manter a capacidade produtiva do indivíduo em níveis normais, seria outra condição a ser considerada.

A lesão corporal apresentou resultado relevante e tem sido demonstrada como importante fator na investigação da perda de produtividade2727. Diedericks JC. The effects of motor vehicle accidents on careers and the work performance of victims. SA J Ind Psychol 2014; 40(1). https://doi.org/10.4102/sajip.v40i1.1078
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, pois ela produz a redução imediata na capacidade produtiva do indivíduo e, a depender de sua gravidade, pode contribuir para a manutenção do estado de redução e recuperação corporal em níveis pré-AT. Além disso, a gravidade da lesão influencia no desenvolvimento das limitações funcionais permanentes2626. Berecki-Gisolf J, Collie A, McClure R. Work disability after road traffic injury in a mixed population with and without hospitalisation. Accid Anal Prev 2013; 51: 129-34. https://doi.org/10.1016/j.aap.2012.11.010
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
. Quando se considera esse fator em pessoas hospitalizadas e não hospitalizadas, tem-se uma importante fonte de informação para distinguir a gravidade com que esses eventos contribuem nos estados de perda de produtividade66. Fang X, Zeng G, Linnan HW, Jing R, Zhu X, Corso P, et al. The incidence and economic burden of injuries in Jiangxi, China. Public Health 2016; 138: 138-45. https://doi.org/10.1016/j.puhe.2016.03.024
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, contudo essa informação não foi avaliada neste estudo.

Na análise multivariável, apenas se mantiveram associados aqueles que utilizaram veículo como instrumento de trabalho e apresentaram lesão corporal. Isso reforça a forte relação que esses dois fatores têm na produção do efeito investigado, os quais merecem atenção, uma vez que, na atualidade, o deslocamento das pessoas em virtude do trabalho está entre as grandes necessidades da sociedade, e, quando a estrutura do trânsito não se desenvolve de forma adequada, a produção de eventos negativos, como o AT, tem o potencial de alterar o cotidiano do indivíduo. Desse modo, a lesão física tem efeito direto sobre a capacidade de produzir, seja no trabalho, seja em qualquer outra atividade produtiva.

Em relação às limitações do estudo, as perdas de seguimento inerentes a estudos dessa modalidade foram minimizadas por meio do desenvolvimento de estratégias de contato no percurso do estudo. Além disso, observou-se que a avaliação das lesões e das comorbidades foram autorrelatadas e não baseadas por registros em prontuários ou confirmadas diretamente por laudos periciais ou médicos. No entanto, a investigação das repercussões pós-AT tem sido demonstrada com sucesso por intermédio de instrumentos na área1313. Alghnam S, Wegener ST, Bhalla K, Colantuoni E, Castillo R. Long-term outcomes of individuals injured in motor vehicle crashes: A population-based study. Injury 2015; 46(8): 1503-8. https://doi.org/10.1016/j.injury.2015.06.004
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
. A gravidade das repercussões sobre a produtividade foi outro fator não investigado e que possibilitaria avaliar o evento em dimensões específicas ao nível do indivíduo e da sociedade ou mesmo segundo os tipos de atividades produtivas3030. Tournier C, Charnay P, Tardy H, Chossegros L, Carnis L, Hours M. A few seconds to have an accident, a long time to recover: Consequences for road accident victims from the ESPARR cohort 2 years after the accident. Accid Anal Prev 2014; 72: 422-32. https://doi.org/10.1016/j.aap.2014.07.011
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.

Também não foi possível explorar com detalhes a perda de produtividade do entorno familiar do envolvido em AT, perdendo-se, portanto, uma oportunidade de investigar outros desdobramentos nessa temática. Apesar de pouco explorada, estudos que investigaram essa situação têm contribuído na identificação de elementos importantes, como o estresse e o impacto econômico nas famílias dos envolvidos em AT3030. Tournier C, Charnay P, Tardy H, Chossegros L, Carnis L, Hours M. A few seconds to have an accident, a long time to recover: Consequences for road accident victims from the ESPARR cohort 2 years after the accident. Accid Anal Prev 2014; 72: 422-32. https://doi.org/10.1016/j.aap.2014.07.011
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,3535. Huang L. Identifying risk factors for household burdens of road traffic fatalities: regression results from a cross-sectional survey in Taiwan. BMC Public Health 2016; 16(1): 1202. https://doi.org/10.1186/s12889-016-3813-3
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/...
.

Por fim, não foi possível explicar a atuação do sistema de seguridade social para minimizar a ocorrência da perda de produtividade e se os estabelecimentos de saúde públicos e privados conseguiram evitar a promoção desse desfecho3636. Misganaw A, Mariam DH, Araya T, Ayele K. Patterns of mortality in public and private hospitals of Addis Ababa, Ethiopia. BMC Public Health 2012; 12: 1007. https://doi.org/10.1186/1471-2458-12-1007
https://doi.org/https://doi.org/10.1186/...
.

CONCLUSÃO

Observou-se que a perda de produtividade esteve associada a fatores relativos ao veículo utilizado como instrumento de trabalho e à lesão corporal. Esses achados reforçam a necessidade de políticas públicas voltadas à segurança no trânsito, no sentido de minimizar os efeitos do AT na produção de lesões corporais e efeitos negativos aos trabalhadores que usam veículos como ferramenta para sua subsistência. Sugerem-se novos estudos para ampliar o entendimento dos fatores relativos à perda da produtividade.

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  • Fonte de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CNPq), Chamada Universal Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)/CNPq nº 14/2013; Convênio Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)/Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), Edital nº 068/2012.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Mar 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    14 Set 2017
  • Revisado
    03 Set 2018
  • Aceito
    13 Nov 2018
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