Vitimização por bullying e fatores associados em estudantes brasileiros com idade de 13 a 17 anos: estudo populacional

Vandoval Rodrigues Veloso Felipe Barbosa de Sousa Costa Cristiane Cronemberger de Arruda Marques Jesusmar Ximenes Andrade Cássio Eduardo Soares Miranda Regilda Saraiva dos Reis Moreira Araújo Sobre os autores

RESUMO:

Objetivo:

Analisar fatores escolares, sociodemográficos, nutricionais e de percepção corporal e comportamental associados à vitimização por bullying entre estudantes brasileiros com idade de 13 a 17 anos.

Métodos:

Trata-se de um estudo transversal com base nos dados da amostra 2 da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. A amostra do presente estudo é composta de 10.699 adolescentes de escolas de cada grande região do país.

Resultados:

A prevalência de vitimização por bullying foi de 6,2%, com maiores chances de vitimização em adolescentes que praticam bullying (razão de chances - OR = 1,91, intervalo de confiança de 95% - IC95% 1,48 - 2,45), com idade de 13 anos (OR = 1,76, IC95% 1,04 - 2,97), que se consideram gordos (OR = 1,45, IC95% 1,06 - 1,98) e não são bem tratados na escola pelos colegas (OR = 2,78, IC95% 2,17 - 3,45).

Conclusão:

Esforços preventivos que incluam programas de incentivo ao maior suporte social entre os estudantes e a implementação de práticas que reforcem o respeito às diferenças e peculiaridades dos alunos podem contribuir para a redução da vitimização por bullying.

Palavras-chave:
Bullying; Violência; Vitimização; Adolescentes

INTRODUÇÃO

O bullying é considerado atualmente um grave problema de saúde pública que afeta principalmente crianças e adolescentes, além de ser um fenômeno comum nas escolas11. Jones SN, Waite R, Thomas Clements P. An evolutionary concept analysis of school violence: from bullying to death. J Forensic Nurs 2012; 8(1): 4-12. https://doi.org/10.1111/j.1939-3938.2011.01121.x
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/...
,22. Silva MAI, Pereira B, Mendonça D, Nunes B, Oliveira WA. The involvement of girls and boys with bullying: an analysis of gender differences. Int J Environ Res Public Health 2013; 10(12): 6820-31. https://dx.doi.org/10.3390%2Fijerph10126820
https://doi.org/https://dx.doi.org/10.33...
,33. Mello FCM, Silva JL, Oliveira WA, Prado RR, Malta DC, Silva MAI. A prática de bullying entre escolares brasileiros e fatores associados, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Ciên Saúde Coletiva 2017; 22(9): 2939-48. https://doi.org/10.1590/1413-81232017229.12762017
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
. Caracteriza-se por ações repetidas, intencionais e baseadas em desequilíbrio de poder44. Olweus D. School bullying: development and some important challenges. Annu Rev Clin Psychol 2013; 9: 751-80. https://doi.org/10.1146/annurev-clinpsy-050212-185516
https://doi.org/https://doi.org/10.1146/...
.

O bullying pode ocorrer de forma direta, abrangendo agressões físicas e verbais, ou indireta, por meio do isolamento social da vítima55. Calbo AS, Busnello FDB, Rigoli MM, Schaefer LS, Kristensen CH. Bullying na escola: comportamento agressivo, vitimização e conduta pró-social entre pares. Contextos Clin 2009; 2(2): 73-80., gerando consequências que poderão ser observadas em curto, médio e longo prazos, e com implicações graves nas capacidades de socialização nas vítimas desse tipo de violência66. Santos AKC, Ramos N. Violência e bullying em contexto escolar: contributos da perspectiva intercultural. Cad Pesq 2016; 23(2): 16-30. http://dx.doi.org/10.18764/2178-2229.v23n2p16-30
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. O fenômeno produz, ainda, impacto psicológico negativo, como sentimentos de raiva, depressão, baixa autoestima e estresse77. Lopes Neto AA. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. J Pediatr 2005; 81(5 Supl. 5): s164-s172.,88. Mello FCM, Malta DC, Prado RR, Farias MS, Alencastro LCS, Silva MAI. Bullying e fatores associados em adolescentes da Região Sudeste segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Rev Bras Epidemiol 2016; 19(4): 866-77. https://doi.org/10.1590/1980-5497201600040015
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, tendo o suicídio88. Mello FCM, Malta DC, Prado RR, Farias MS, Alencastro LCS, Silva MAI. Bullying e fatores associados em adolescentes da Região Sudeste segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Rev Bras Epidemiol 2016; 19(4): 866-77. https://doi.org/10.1590/1980-5497201600040015
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,99. Sampaio JMC, Santos GV, Oliveira WA, Silva JL, Medeiros M, Silva MAI. Prevalência de bullying e emoções de estudantes envolvidos. Texto Contexto Enferm 2015; 24(2): 344-52. https://doi.org/10.1590/0104-07072015003430013
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e o homicídio1010. Daemon F. Entre os muros e as mídias: o bullying e o school shooting numa perspectiva comunicacional. Rev Epos 2015; 6(2): 6-26. como possíveis desfechos.

No entanto, devem-se considerar as nuances sociais e culturais que impactam a produção do bullying para além dos aspectos individualistas, como os padrões hegemônicos construídos socialmente1111. Francisco MV, Coimbra RM. Análise do bullying escolar sob o enfoque da psicologia histórico-cultural. Estud Psicol 2015; 20(3): 184-95. http://dx.doi.org/10.5935/1678-4669.20150020
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,1212. Francisco MV, Coimbra RM. Bullying escolar e os processos de resiliência em-si sob a ótica da teoria histórico-cultural. Educ Temat Digit2019; 21(1): 145-63. https://doi.org/10.20396/etd.v21i1.8651418
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, assim como os contextos escolar e familiar, geralmente marcados pela presença de maus tratos parentais e uma educação sem imposição de limites1313. Esteves PSM. O (não) reconhecimento da diferença: o bullying como um desafio das sociedades multiculturais. Rev Eletrônica Pesquiseduca 2016; 8(16): 440-57..

Estudos realizados em diversos países apontam elevada prevalência de bullying1414. United Nations Children's Fund (UNICEF). Hidden in plain sight: a statistical analysis of violence against children [Internet]. Nova York: UNICEF; 2014 [acessado em 19 nov. 2018]. Disponível em: Disponível em: http://files.unicef.org/publications/files/Hidden_in_plain_sight_statistical_analysis_EN_3_Sept_2014.pdf
http://files.unicef.org/publications/fil...
,1515. Elgar FJ, McKinnon B, Walsh SD, Freeman J, Donnely PD, Matos MG, et al. Structural Determinants of Youth Bullying and Fighting in 79 Countries. J Adolesc Health 2015; 57(6): 643-50. https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2015.08.007
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
,1616. Kann L, McManus T, Harris WA, Shanklin SL, Flint KH, Queen B, et al. Youth Risk Behavior Surveillance - United States, 2017. MMWR Surveill Summ [Internet] 2018 [acessado 12 out. 2018]; 67(8): 1-114. Disponível em: Disponível em: https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/67/ss/ss6708a1.htm
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, o que demonstra se tratar de um problema de saúde pública mundial66. Santos AKC, Ramos N. Violência e bullying em contexto escolar: contributos da perspectiva intercultural. Cad Pesq 2016; 23(2): 16-30. http://dx.doi.org/10.18764/2178-2229.v23n2p16-30
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.187...
,1414. United Nations Children's Fund (UNICEF). Hidden in plain sight: a statistical analysis of violence against children [Internet]. Nova York: UNICEF; 2014 [acessado em 19 nov. 2018]. Disponível em: Disponível em: http://files.unicef.org/publications/files/Hidden_in_plain_sight_statistical_analysis_EN_3_Sept_2014.pdf
http://files.unicef.org/publications/fil...
,1717. Oliveira WA, Silva MAI, Mello FCM, Porto DL, Yoshinaga ACM, Malta DC. Causas do bullying: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Rev Latino-Am Enfermagem 2015; 23(2): 275-82. https://doi.org/10.1590/0104-1169.0022.2552
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. O Relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância de 2014 evidenciou, nos 190 países pesquisados, que mais de 1/3 dos estudantes sofrem ou sofreram ao menos uma experiência de vitimização por bullying1414. United Nations Children's Fund (UNICEF). Hidden in plain sight: a statistical analysis of violence against children [Internet]. Nova York: UNICEF; 2014 [acessado em 19 nov. 2018]. Disponível em: Disponível em: http://files.unicef.org/publications/files/Hidden_in_plain_sight_statistical_analysis_EN_3_Sept_2014.pdf
http://files.unicef.org/publications/fil...
. Elevada prevalência de bullying escolar também foi encontrada em inquérito envolvendo 79 países, no qual cerca de 30% dos estudantes relataram a vitimização por bullying1515. Elgar FJ, McKinnon B, Walsh SD, Freeman J, Donnely PD, Matos MG, et al. Structural Determinants of Youth Bullying and Fighting in 79 Countries. J Adolesc Health 2015; 57(6): 643-50. https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2015.08.007
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. Nos Estados Unidos, dados da Pesquisa de Comportamento de Risco Juvenil (YRBS, sigla em inglês) de 2017, envolvendo mais de 15 mil adolescentes do ensino médio de escolas públicas e privadas, apontaram prevalência de 19% de vitimização por bullying na escola nos 12 meses anteriores à pesquisa1616. Kann L, McManus T, Harris WA, Shanklin SL, Flint KH, Queen B, et al. Youth Risk Behavior Surveillance - United States, 2017. MMWR Surveill Summ [Internet] 2018 [acessado 12 out. 2018]; 67(8): 1-114. Disponível em: Disponível em: https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/67/ss/ss6708a1.htm
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.

Vale ressaltar que esses estudos1414. United Nations Children's Fund (UNICEF). Hidden in plain sight: a statistical analysis of violence against children [Internet]. Nova York: UNICEF; 2014 [acessado em 19 nov. 2018]. Disponível em: Disponível em: http://files.unicef.org/publications/files/Hidden_in_plain_sight_statistical_analysis_EN_3_Sept_2014.pdf
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,1515. Elgar FJ, McKinnon B, Walsh SD, Freeman J, Donnely PD, Matos MG, et al. Structural Determinants of Youth Bullying and Fighting in 79 Countries. J Adolesc Health 2015; 57(6): 643-50. https://doi.org/10.1016/j.jadohealth.2015.08.007
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,1616. Kann L, McManus T, Harris WA, Shanklin SL, Flint KH, Queen B, et al. Youth Risk Behavior Surveillance - United States, 2017. MMWR Surveill Summ [Internet] 2018 [acessado 12 out. 2018]; 67(8): 1-114. Disponível em: Disponível em: https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/67/ss/ss6708a1.htm
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não utilizaram, no percurso metodológico, a mesma caracterização para o bullying, superestimando sua prevalência por considerá-lo em uma ou mais ocorrências de vitimização nos últimos 30 dias ou dois últimos meses. Por outro lado, alguns fatores de risco para o bullying têm sido verificados em pesquisas nacionais e internacionais. Fatores como sexo22. Silva MAI, Pereira B, Mendonça D, Nunes B, Oliveira WA. The involvement of girls and boys with bullying: an analysis of gender differences. Int J Environ Res Public Health 2013; 10(12): 6820-31. https://dx.doi.org/10.3390%2Fijerph10126820
https://doi.org/https://dx.doi.org/10.33...
, idade, cor, sentimentos de depressão e solidão, dependência administrativa da escola, escolaridade da mãe88. Mello FCM, Malta DC, Prado RR, Farias MS, Alencastro LCS, Silva MAI. Bullying e fatores associados em adolescentes da Região Sudeste segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Rev Bras Epidemiol 2016; 19(4): 866-77. https://doi.org/10.1590/1980-5497201600040015
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
,1818. Malta DC, Porto DL, Crespo CD, Silva MMA, Andrade SSC, Mello FCM, et al. Bullying em escolares brasileiros: análise da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2012). Rev Bras Epidemiol 2014; 17 (Supl. 1): 92-105. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050008
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e excesso de peso1919. Martins FS, Rech RR, Halpern R, Pedroni JL, Julianote MNS, Frata B, et al. Prevalência de sintomas para transtornos alimentares, sobrepeso e obesidade em escolares do município de Bom Jesus-RS. Rev Bras Obes Nutr Emagr 2017; 11(61): 31-8. têm se mostrado significativamente associados ao bullying.

No Brasil, estudos primários têm apontado taxas de vitimização por bullying que variaram aproximadamente de 10 a 30%99. Sampaio JMC, Santos GV, Oliveira WA, Silva JL, Medeiros M, Silva MAI. Prevalência de bullying e emoções de estudantes envolvidos. Texto Contexto Enferm 2015; 24(2): 344-52. https://doi.org/10.1590/0104-07072015003430013
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
,2020. Zequinão MA, Medeiros P, Pereira B, Cardoso FL. Bullying escolar: um fenômeno multifacetado. Educ Pesqui 2016; 42(1): 181-98. https://doi.org/10.1590/S1517-9702201603138354
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
,2121. Nova ISV, Sena CL, Oliveira IR. Ocorrência do bullying entre alunos de uma escola pública do município de Salvador, Brasil. Rev Ciênc Méd Biol 2015; 14(3): 338-42.,2222. Santos JA, Cabral-Xavier AF, Paiva SM, Leite-Cavalcanti A. Prevalência e Tipos de Bullying em Escolares Brasileiros de 13 a 17 anos. Rev Salud Pública 2014; 16(2): 173-83. http://dx.doi.org/10.15446/rsap.v16n2.30302
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.154...
,2323. Rech RR, Halpern R, Tedesco A, Santos DF. Prevalence and characteristics of victims and perpetrators of bullying. J Pediatr (Rio J) 2013; 89(2): 164-70. https://doi.org/10.1016/j.jped.2013.03.006
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
,2424. Isolan L, Salum GA, Osowski AT, Zottis GH, Manfro GG. Victims and bully-victims but not bullies are groups associated with anxiety symptomatology among Brazilian children and adolescents. Eur Child Adolesc Psychiatry 2013; 22(10): 641-8. https://doi.org/10.1007/s00787-013-0412-z
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, enquanto outros estudos, tendo por base dados secundários da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), demonstraram prevalências de vitimização por bullying de 5,4% a 7,4%33. Mello FCM, Silva JL, Oliveira WA, Prado RR, Malta DC, Silva MAI. A prática de bullying entre escolares brasileiros e fatores associados, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Ciên Saúde Coletiva 2017; 22(9): 2939-48. https://doi.org/10.1590/1413-81232017229.12762017
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,88. Mello FCM, Malta DC, Prado RR, Farias MS, Alencastro LCS, Silva MAI. Bullying e fatores associados em adolescentes da Região Sudeste segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Rev Bras Epidemiol 2016; 19(4): 866-77. https://doi.org/10.1590/1980-5497201600040015
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,1717. Oliveira WA, Silva MAI, Mello FCM, Porto DL, Yoshinaga ACM, Malta DC. Causas do bullying: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Rev Latino-Am Enfermagem 2015; 23(2): 275-82. https://doi.org/10.1590/0104-1169.0022.2552
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,1818. Malta DC, Porto DL, Crespo CD, Silva MMA, Andrade SSC, Mello FCM, et al. Bullying em escolares brasileiros: análise da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2012). Rev Bras Epidemiol 2014; 17 (Supl. 1): 92-105. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050008
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
,2525. Malta DC, Silva MAI, Mello FCM, Monteiro RA, Sardinha LM, Crespo C, et al. Bullying nas escolas brasileiras: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, 2009. Ciên Saúde Coletiva 2010; 15(Supl. 2): 3065-76. https://doi.org/10.1590/S1413-81232010000800011
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
. Embora os dados da PeNSE tenham sido devidamente explorados pelas pesquisas, estas têm se concentrado apenas na amostra 1 do referido inquérito, na qual os participantes são estudantes adolescentes do 9º ano. A partir de 2015, sob o argumento de permitir a comparabilidade com estudos internacionais, uma nova amostra (amostra 2) de estudantes adolescentes de 13 a 17 anos foi incluída, mas ainda tem sido pouco utilizada nos estudos nacionais. Não obstante, também são poucos os estudos nacionais sobre os fatores de risco associados à vitimização por bullying.

A identificação de tais fatores e suas implicações para a saúde pública e a qualidade de vida dos adolescentes é indispensável para a elaboração e a implementação de ações multidisciplinares e intersetoriais de caráter preventivo do bullying. Além disso, é importante para a promoção da saúde no âmbito escolar, pois são conhecidos os desfechos negativos para a saúde física e mental dos adolescentes escolares, além dos prejuízos para o processo ensino-aprendizagem77. Lopes Neto AA. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. J Pediatr 2005; 81(5 Supl. 5): s164-s172.,88. Mello FCM, Malta DC, Prado RR, Farias MS, Alencastro LCS, Silva MAI. Bullying e fatores associados em adolescentes da Região Sudeste segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Rev Bras Epidemiol 2016; 19(4): 866-77. https://doi.org/10.1590/1980-5497201600040015
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,99. Sampaio JMC, Santos GV, Oliveira WA, Silva JL, Medeiros M, Silva MAI. Prevalência de bullying e emoções de estudantes envolvidos. Texto Contexto Enferm 2015; 24(2): 344-52. https://doi.org/10.1590/0104-07072015003430013
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.

Dessa forma, este estudo objetivou analisar fatores escolares, sociodemográficos, nutricionais e de percepção corporal e comportamental associados à vitimização por bullying entre estudantes brasileiros com idade de 13 a 17 anos.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal e de abordagem quantitativa.

Amostra

A amostra do estudo constituiu-se de estudantes adolescentes pertencentes ao plano amostral 2 (amostra 2) da PeNSE, realizada em 2015 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde. A amostra 2, que está presente somente na versão 20152626. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, (PeNSE), 2015 [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2016 [acessado em 10 dez. 2018]. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97870.pdf
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, apresenta representatividade para a faixa etária de 13 a 17 anos e inclui estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio de escolas públicas e privadas de todo o Brasil, o que viabiliza o monitoramento das mudanças decorrentes de fatores sociais, comportamentais e biológicos da população em estudo.

A amostra deste estudo foi composta de 10.699 adolescentes de 13 a 17 anos. Para a realização da PeNSE, foram utilizados dados do cadastro do Censo Escolar de 2015 e foram selecionadas escolas em cada uma das grandes regiões do país (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro‑Oeste), denominadas de estratos geográficos. Em cada estrato foram agrupadas escolas que possuíam estudantes com as características de interesse, e solicitou-se a todos os alunos a resolução dos questionários da pesquisa2626. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, (PeNSE), 2015 [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2016 [acessado em 10 dez. 2018]. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97870.pdf
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.

Procedimentos de coleta dos dados da PeNSE

A coleta dos dados ocorreu de abril a setembro de 2015, por meio da aplicação de um questionário eletrônico, com o uso de aparelhos do tipo smartphone, estruturados e autoaplicáveis a todos os estudantes das turmas selecionadas. Os dados foram coletados nas escolas durante o horário de aula dos estudantes.

Variáveis do estudo

O estudo tem como variável dependente “sofrer bullying”, que foi obtida com base na questão: “nos últimos 30 dias, com que frequência algum dos seus colegas de sua escola o esculacharam, zombaram, mangaram, intimidaram ou caçoaram tanto que você ficou magoado/incomodado/aborrecido/ofendido/humilhado?”. As respostas foram categorizadas em “não” (nunca, raramente, às vezes) e “sim” (a maior parte do tempo, sempre).

As variáveis independentes foram categorizadas da seguinte forma:

  • aspectos sociodemográficos: sexo (masculino e feminino); idade (13, 14, 15, 16 ou 17 anos); cor da pele (branca, preta, parda, amarela ou indígena); dependência administrativa da escola (pública ou privada);

  • estado nutricional: peso adequado, excesso de peso, déficit de peso. Nesta última variável, para avaliar o perfil nutricional dos adolescentes, utilizou-se o índice de massa corporal (IMC) para a idade, expresso em escore z, e seguiram-se as recomendações do Sistema de Vigilância Alimentar Nutricional (SISVAN);

  • percepção sobre o corpo: como se sente em relação ao corpo (insatisfeito, satisfeito, indiferente); como você considera a imagem corporal (importante, sem importância) e como você se considera quanto ao corpo (gordo, magro, normal);

  • aspecto comportamental: pratica o bullying (sim, não);

  • aspectos escolares: foi bem tratado na escola pelos colegas (sim, não); regime integral (sim, não); série (6º, 7º, 8º ou 9º ano, 1º, 2º ou 3º ano do ensino médio).

Procedimentos de análise

Inicialmente, calculou-se a prevalência de vitimização por bullying; para verificar fatores associados, realizaram-se análises das relações bivariadas das referidas tabelas por meio de razões de chance (OR), intervalos de confiança de 95% (IC95%) e valores de p. Essas análises tinham apenas o propósito de seleção de variáveis para o modelo ajustado (multivariado). Na sequência, conduziu-se a análise multivariada com as variáveis que foram significativas ao nível de 0,20, bivariadamente. Para essa análise, o nível de significância estatística adotado foi de 0,05. Todos os pressupostos dos testes foram analisados, incluindo o teste de multicolinearidade para a regressão logística. Todas as análises bivariadas e multivariadas foram realizadas no programa estatístico SPSS, versão 18.0, utilizando-se procedimentos do Complex Samples Module, adequado para a análise de dados obtidos por plano amostral complexo.

Considerações éticas do estudo e da PeNSE

Por usar base de dados secundária e de domínio público, este estudo está dispensado de aprovação de Comité de Ética (Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde). No que se refere aos aspectos éticos e legais da PeNSE 2015, a pesquisa foi aprovada na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) do Conselho Nacional de Saúde2626. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, (PeNSE), 2015 [Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; 2016 [acessado em 10 dez. 2018]. Disponível em: Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97870.pdf
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.

RESULTADOS

Os participantes tinham idade média de 14,8 (± 1,3) anos, sendo 50,2% do sexo masculino e 49,8% do sexo feminino. A prevalência de escolares que sofreram bullying foi de 6,2%. A cor/raça parda foi a mais relatada pela amostra (41,8%), seguida pela cor branca (39,5%).

A maioria dos adolescentes declarou não frequentar a escola em regime integral (74,4%). O oitavo ano do ensino fundamental e o 1º e 2º anos do ensino médio apresentaram as maiores prevalências de estudantes, e apenas 2,7% frequentavam o 6º ano. Praticamente dois terços dos escolares (64,9%) relataram ser bem tratados na escola pelos colegas, enquanto 19% declararam praticar o bullying. O sentimento de insatisfação em relação ao corpo foi reportado por 20,2% dos adolescentes, 24,9% apresentaram excesso de peso, 83% consideraram importante a sua imagem corporal e 20,8% se consideraram gordos.

A análise bivariada da vitimização por bullying com as variáveis independentes (Tabela 1) foi realizada para verificar a magnitude das associações e sua significância. A vitimização por bullying foi significativamente associada (p < 0,20) às variáveis independentes relativas às características sociodemográficas, comportamentais, escolares e de percepção corporal, como série, sexo, idade, regime em que estuda, se pratica o bullying, se é bem tratado na escola pelos colegas, estado nutricional, sentimento em relação ao corpo, imagem corporal e consideração sobre o próprio corpo.

Tabela 1.
Análise bivariada dos fatores sociodemográficos, comportamentais, de percepção corporal e estado nutricional associados ao bullying em adolescentes brasileiros. Brasil, 2015.

Os dados revelam que adolescentes mais jovens, de 13 e 14 anos, apresentaram maiores chances de relatar vitimização por bullying (OR = 2,29, IC95% 1,53 - 3,40 e (OR = 1,67, IC95% 1,06 - 2,61, respectivamente) quando comparados a adolescentes de 17 anos. A associação da vitimização por bullying também foi significativa com adolescentes das três primeiras séries do ensino fundamental que relataram estudar em regime integral.

Adolescentes com excesso de peso apresentaram maiores chances de relatar vitimização por bullying quando comparados aos de peso adequado (OR = 1,38, IC95% 1,10 - 1,74). Aqueles que indicaram sentimento de satisfação em relação ao corpo apresentaram menores chances de relatar vitimização por bullying em comparação aos que disseram ser indiferentes quanto a esse sentimento (OR = 0,61, IC95% 0,43 - 0,86). Os adolescentes que admitiram praticar bullying apresentaram duas vezes mais chances de sofrer bullying (OR = 2,16, IC95% 1,70 - 2,75), enquanto aqueles que relataram não ser bem tratados na escola apresentaram três vezes mais chances de sofrer bullying (OR = 3,03, IC95% 2,50 - 3,85).

No modelo multivariado (Tabela 2), permaneceram associados a maiores chances de sofrer bullying os adolescentes que relataram ter idade de 13 anos (OR = 1,76, IC95% 1,04 - 2,97), praticar bullying (OR = 1,91, IC95% 1,48 - 2,46), não ser bem tratados na escola pelos colegas (OR = 2,78, IC95% 2,17 - 3,45) e considerar-se gordos (OR = 1,45, IC95% 1,06 - 1,98).

Tabela 2.
Análise multivariada dos fatores comportamentais, percepção corporal e estado nutricional associados ao bullying em adolescentes brasileiros. Brasil, 2015.

DISCUSSÃO

Este estudo identificou que 6,2% dos estudantes já sofreram bullying, com prevalência de 6,6% no sexo masculino e 5,9% no sexo feminino. A análise bivariada mostrou associações significativas de vitimização por bullying com as seguintes variáveis: idade, regime integral de ensino, ser bem tratado na escola pelos colegas, ser autor de bullying, estado nutricional, consideração sobre o próprio corpo, imagem corporal e satisfação em relação ao corpo. No entanto, no modelo ajustado, somente permaneceram como estatisticamente significativas as variáveis idade (apenas a de 13 anos), consideração sobre o próprio corpo (apenas a categoria gordo), ser autor de bullying e o tratamento recebido na escola.

Diferenças significativas nas prevalências de vitimização por bullying foram encontradas em pesquisas realizadas no Brasil e em outros países. Estudo nacional com os dados da PeNSE 2012 indica prevalências de vitimização por bullying de 7,2%1818. Malta DC, Porto DL, Crespo CD, Silva MMA, Andrade SSC, Mello FCM, et al. Bullying em escolares brasileiros: análise da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2012). Rev Bras Epidemiol 2014; 17 (Supl. 1): 92-105. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050008
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
. Já um estudo com base nos dados de um relatório internacional similar à PeNSE, chamado Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) e que envolve adolescentes de 33 países da Europa e América do Norte, mostrou que no ciclo 2009/2010 29,2% dos escolares relataram uma ou mais experiências de vitimização por bullying nos últimos meses2727. Chester KL, Callaghan M, Cosma A, Donnelly P, Craig W, Walsh S, et al. Cross-national time trends in bullying victimization in 33 countries among children aged 11, 13 and 15 from 2002 to 2010. Eur J Public Health 2015; 25(Supl. 2): 61-4. https://doi.org/10.1093/eurpub/ckv029
https://doi.org/https://doi.org/10.1093/...
. Taxas de vitimização por bullying de 23 a 32% também foram obtidas no Inquérito Mundial de Saúde do Escolar do HBSC, no ciclo 2013/2014, realizado com adolescentes de diversos países da Europa2828. World Health Organization (WHO). Growing up unequal: gender and socioeconomic differences in young people's health and well-being. Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) study: international report from the 2013/2014 survey [Internet]. Copenhagen: WHO Regional Office for Europe; 2016 [acessado em 12 dez. 2018]. (Health Policy for Children and Adolescents, n. 7). Disponível em: Disponível em: http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0003/303438/HSBC-No.7-Growing-up-unequal-Full-Report.pdf?ua=1
http://www.euro.who.int/__data/assets/pd...
.

A discrepância nas prevalências de vitimização por bullying em diversos estudos pode ser atribuída à variação no tamanho das amostras e ao critério de vitimização. Neste estudo, define-se a vitimização quando ela ocorre “na maior parte do tempo” ou “sempre” nos últimos 30 dias. Essa caracterização, porém, não segue um padrão entre outros estudos2727. Chester KL, Callaghan M, Cosma A, Donnelly P, Craig W, Walsh S, et al. Cross-national time trends in bullying victimization in 33 countries among children aged 11, 13 and 15 from 2002 to 2010. Eur J Public Health 2015; 25(Supl. 2): 61-4. https://doi.org/10.1093/eurpub/ckv029
https://doi.org/https://doi.org/10.1093/...
,2828. World Health Organization (WHO). Growing up unequal: gender and socioeconomic differences in young people's health and well-being. Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) study: international report from the 2013/2014 survey [Internet]. Copenhagen: WHO Regional Office for Europe; 2016 [acessado em 12 dez. 2018]. (Health Policy for Children and Adolescents, n. 7). Disponível em: Disponível em: http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0003/303438/HSBC-No.7-Growing-up-unequal-Full-Report.pdf?ua=1
http://www.euro.who.int/__data/assets/pd...
,2929. Lian Q, Su Q, Li R, Elgar FJ, Liu Z, Zheng D. The association between chronic bullying victimization with weight status and body self-image: a cross-national study in 39 countries. Peer J 2018; 6: e4330. https://doi.org/10.7717/peerj.4330
https://doi.org/https://doi.org/10.7717/...
,3030. Mark L, Värnik A, Sisask M. Who suffers most from being involved in bullying-bully, victim, or bully-victim? J Sch Health 2019; 89(2): 136-44. https://doi.org/10.1111/josh.12720
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/...
,3131. Cosma A, Whitehead R, Neville F, Currie D, Inchley J. Trends in bullying victimization in Scottish adolescents 1994-2014: changing associations with mental well-being. Int J Public Health 2017; 62: 639-46. https://doi.org/10.1007/s00038-017-0965-6
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
.

Após a análise ajustada, observou-se que estudantes com 13 anos apresentaram quase duas vezes mais chances de serem vítimas de bullying em comparação com estudantes de 17 anos. Uma pesquisa realizada com adolescentes escoceses de 11 a 15 anos apontou aumento nas taxas de vitimização por bullying em um período de duas décadas, exceto para meninos de 13 anos, com indicativo de queda considerável em adolescentes de maior idade3131. Cosma A, Whitehead R, Neville F, Currie D, Inchley J. Trends in bullying victimization in Scottish adolescents 1994-2014: changing associations with mental well-being. Int J Public Health 2017; 62: 639-46. https://doi.org/10.1007/s00038-017-0965-6
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
. O achado quanto à idade de 13 anos está em discordância com o presente estudo, porém a relação entre idade e vitimização foi similar aos resultados deste.

Investigações anteriores mostraram maior prevalência de vitimização em adolescentes mais jovens3131. Cosma A, Whitehead R, Neville F, Currie D, Inchley J. Trends in bullying victimization in Scottish adolescents 1994-2014: changing associations with mental well-being. Int J Public Health 2017; 62: 639-46. https://doi.org/10.1007/s00038-017-0965-6
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,3231. Cosma A, Whitehead R, Neville F, Currie D, Inchley J. Trends in bullying victimization in Scottish adolescents 1994-2014: changing associations with mental well-being. Int J Public Health 2017; 62: 639-46. https://doi.org/10.1007/s00038-017-0965-6
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e com menor nível escolar3333. Carlyle KE, Steinman KJ. Demographic Differences in the Prevalence, Co-occurrence, and correlates of Adolescent Bullying at School. J Sch Health 2007; 77(9): 623-9. https://doi.org/10.1111/j.1746-1561.2007.00242.x
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/...
,3434. Hymel S, Swearer SM. Four decades of research on school bullying: an introduction. Am Psychol 2015; 70(4): 293-9. https://doi.org/10.1037/a0038928
https://doi.org/https://doi.org/10.1037/...
,3535. Moon SS, Kim H, Seay K, Small E, Kim YK. Ecological factors of being bullied among adolescents: a classification and regression tree approach. Child Ind Res 2015; 9: 743-56. https://doi.org/10.1007/s12187-015-9343-1
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
, tendo os adolescentes de 13 anos mais propensão a se tornarem alvos do bullying quando sofriam pressão acadêmica3535. Moon SS, Kim H, Seay K, Small E, Kim YK. Ecological factors of being bullied among adolescents: a classification and regression tree approach. Child Ind Res 2015; 9: 743-56. https://doi.org/10.1007/s12187-015-9343-1
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
. Apesar de a literatura apresentar semelhanças com nosso estudo quanto à maior vitimização nos mais jovens, este não verificou associação significativa entre nível escolar e vitimização por bullying.

Dados de um inquérito de base epidemiológica (PeNSE 2012) mostraram a idade como um fator de proteção à medida que o estudante se torna mais velho (16 anos ou mais)1818. Malta DC, Porto DL, Crespo CD, Silva MMA, Andrade SSC, Mello FCM, et al. Bullying em escolares brasileiros: análise da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2012). Rev Bras Epidemiol 2014; 17 (Supl. 1): 92-105. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050008
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. Estudo realizado no Malawi (África do Sul), com base no Global School-based Health Survey (GSHS), de 2009, observou que estudantes de 14 anos são mais propensos a sofrerem bullying em relação aos de 16 anos3636. Kubwalo HW, Muula AS, Siziya S, Pasupulati S, Rudatsikira E. Prevalence and correlates of being bullied among in-school adolescents in Malawi: results from the 2009 Global School-Based Health Survey. Malawi Med J 2013; 25(1): 12-4.. Estudo de revisão sistemática demonstrou que a vitimização por bullying está associada a transtornos de ansiedade em adolescentes maiores de 13 anos3737. Moore SE, Norman RE, Suetani S, Thomas HJ, Sly PD, Scott JG. Consequences of bullying victimization in childhood and adolescence: a systematic review and meta-analysis. World J Psychiatr 2017; 7(1): 60-76. https://doi.org/10.5498/wjp.v7.i1.60
https://doi.org/https://doi.org/10.5498/...
.

A maior prevalência de vitimização por bullying em escolares de menor idade e de séries iniciais provavelmente se explica pela maior lembrança dos episódios de bullying na faixa etária de 11 a 13 anos3838. Santos LCS, Faro A. Bullying entre adolescentes em Sergipe: estudo na Capital e Interior do Estado. Psicol Esc Educ 2018; 22(3): 485-92. https://doi.org/10.1590/2175-35392018036741
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
, bem como pelo entendimento do bullying, por parte de estudantes com maior idade, como uma brincadeira, algo engraçado3939. Fonseca KBC, Micucci MD, Costa PSC, Lemes S, Santos NA, Cunha JVA. Incidência do Bullying nos Cursos de Administração e Ciências Contábeis. Psicol Esc Educ 2017; 21(1): 79-92. https://doi.org/10.1590/2175-3539201702111079
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. O declínio nas taxas de vitimização com o aumento da idade também pode ser explicado pela maior adaptação social e maior eficácia na inibição do bullying, atreladas ao desenvolvimento físico dos adolescentes3232. Seo HJ, Jung YE, Kim MD, Bahk WM. Factors associated with bullying victimization among Korean adolescents. Neuropsychiatr Dis Treat 2017; 13: 2429-35. https://doi.org/10.2147/ndt.s140535
https://doi.org/https://doi.org/10.2147/...
.

O presente estudo também indicou que o fato de se considerar gordo está associado a maiores propensões a sofrer bullying, resultado concordante com a literatura. Uma pesquisa com adolescentes eslovacos de 11 a 15 anos encontrou associação significativa entre a imagem corporal autorreferida e o envolvimento em bullying, e os adolescentes que se consideravam com excesso de peso se mostraram mais propensos a sofrer bullying4040. Holubcikova J, Kolarcik P, Geckova AM, Van Dijk JP, Reijneveld SA. Is subjective perception of negative body image among adolescents associated with bullying? Eur J Pediatr 2015; 174: 1035-41. https://doi.org/10.1007/s00431-015-2507-7
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
.

Uma investigação realizada com base em dados da PeNSE 2012 apontou maiores prevalências de vitimização por bullying para aqueles que se consideravam muito magros e muito gordos1717. Oliveira WA, Silva MAI, Mello FCM, Porto DL, Yoshinaga ACM, Malta DC. Causas do bullying: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Rev Latino-Am Enfermagem 2015; 23(2): 275-82. https://doi.org/10.1590/0104-1169.0022.2552
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. Um estudo realizado em 39 países da Europa e da América do Norte mostrou que adolescentes que se autorreferiram como muito gordos tinham três vezes mais chances de vitimização por bullying crônico do que aqueles que se perceberam com peso normal2929. Lian Q, Su Q, Li R, Elgar FJ, Liu Z, Zheng D. The association between chronic bullying victimization with weight status and body self-image: a cross-national study in 39 countries. Peer J 2018; 6: e4330. https://doi.org/10.7717/peerj.4330
https://doi.org/https://doi.org/10.7717/...
.

Nesse sentido, a dificuldade em aceitar as próprias características físicas e lidar com a diferença indica a necessidade de se trabalharem aspectos psicossociais com os adolescentes, a fim de criar um clima escolar mais favorável à sua saúde4141. Pigozi PL, Machado AL. Bullying na adolescência: visão panorâmica no Brasil. Ciênc Saúde Coletiva 2015; 20(11): 3509-22. https://doi.org/10.1590/1413-812320152011.05292014
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
. Além disso, aqueles que não se configuram de acordo com os padrões estéticos de normalidade impostos pela mídia e difundidos pela sociedade são amplamente rejeitados, especialmente o gênero feminino, para o qual o peso relativo mais elevado é fator de descontentamento com o porte1919. Martins FS, Rech RR, Halpern R, Pedroni JL, Julianote MNS, Frata B, et al. Prevalência de sintomas para transtornos alimentares, sobrepeso e obesidade em escolares do município de Bom Jesus-RS. Rev Bras Obes Nutr Emagr 2017; 11(61): 31-8..

Dessa forma, para melhor compreensão do bullying, é preciso analisá-lo sob a perspectiva histórico-cultural e considerar as perseguições repetitivas de um estudante para com o outro como reflexo de padrões construídos social e culturalmente, que suscitam humilhações, insultos, agressões verbais e físicas àqueles que são tidos como diferentes1111. Francisco MV, Coimbra RM. Análise do bullying escolar sob o enfoque da psicologia histórico-cultural. Estud Psicol 2015; 20(3): 184-95. http://dx.doi.org/10.5935/1678-4669.20150020
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,1212. Francisco MV, Coimbra RM. Bullying escolar e os processos de resiliência em-si sob a ótica da teoria histórico-cultural. Educ Temat Digit2019; 21(1): 145-63. https://doi.org/10.20396/etd.v21i1.8651418
https://doi.org/https://doi.org/10.20396...
,1313. Esteves PSM. O (não) reconhecimento da diferença: o bullying como um desafio das sociedades multiculturais. Rev Eletrônica Pesquiseduca 2016; 8(16): 440-57..

Outro achado desta pesquisa mostrou que a prática do bullying aumenta em quase duas vezes as chances de o indivíduo sofrer bullying. Estudos indicam situações em que os estudantes ao mesmo tempo são vítimas e produtores desse tipo de violência, com prevalências de 7,4 a 19,63%, sendo as maiores em estudantes do sexo masculino3333. Carlyle KE, Steinman KJ. Demographic Differences in the Prevalence, Co-occurrence, and correlates of Adolescent Bullying at School. J Sch Health 2007; 77(9): 623-9. https://doi.org/10.1111/j.1746-1561.2007.00242.x
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/...
,4242. Khamis V. Bullying among school-age children in the greater Beirutarea: Risk and protective factors. Child Abuse Neglect 2015; 39: 137-46. https://doi.org/10.1016/j.chiabu.2014.08.005
https://doi.org/https://doi.org/10.1016/...
,4343. Oliveira MGD. Comportamento violento, bullying e atividade física em adolescentes [ dissertação]. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe; 2018.. Apesar de o estudo aqui desenvolvido não focalizar a existência de vítimas agressoras, observamos em nossos resultados que o fato de perpetrar o bullying aumenta significativamente as chances de sofrê-lo.

Similarmente aos nossos resultados, pesquisa realizada com estudantes do ensino médio de Hong Kong revelou que diferentes tipos de perpetração e vitimização por bullying estão correlacionados positivamente, apontando que as chances de um adolescente ser alvo de bullying na escola aumenta 236% quando ele pratica bullying, sendo o oposto também válido4444. Chan HCO, Wong DSW. The overlap between school bullying perpetration and victimization: assessing the psychological, familial, and school factors of Chinese adolescents in Hong Kong. J Child Fam Stud 2015; 24): 3224-34. https://doi.org/10.1007/s10826-015-0125-7
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. Outro estudo envolvendo adolescentes, realizado na região de Macau, na China, também obteve correlação positiva entre ser autor de bullying e sofrer bullying4545. Chan HCO, Chui WH. Social bonds and school bullying: a study of macanese male adolescents on bullying perpetration and peer victimization. Child Youth Care Forum 2013; 42(6): 599-616. https://doi.org/10.1007/s10566-013-9221-2
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. E estudo desenvolvido em escolas municipais de Campina Grande verificou que a vítima de bullying tem 1,92 mais chance de tornar-se produtora de violência4646. Marcolino EM, Calvacanti AL, Padilha WWN, Miranda FAN, Clementino FS. Bullying: prevalência e fatores associados à vitimização e à agressão no cotidiano escolar. Texto Contexto Enferm 2018; 27(1). http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072018005500016
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.

Depreende-se desses estudos4444. Chan HCO, Wong DSW. The overlap between school bullying perpetration and victimization: assessing the psychological, familial, and school factors of Chinese adolescents in Hong Kong. J Child Fam Stud 2015; 24): 3224-34. https://doi.org/10.1007/s10826-015-0125-7
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
,4545. Chan HCO, Chui WH. Social bonds and school bullying: a study of macanese male adolescents on bullying perpetration and peer victimization. Child Youth Care Forum 2013; 42(6): 599-616. https://doi.org/10.1007/s10566-013-9221-2
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,4646. Marcolino EM, Calvacanti AL, Padilha WWN, Miranda FAN, Clementino FS. Bullying: prevalência e fatores associados à vitimização e à agressão no cotidiano escolar. Texto Contexto Enferm 2018; 27(1). http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072018005500016
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que a vitimização por bullying não ocorre de forma isolada, sem que se possa prever, com a atual pesquisa, qual fenômeno antecede o outro. Entretanto, independentemente do papel dos adolescentes no bullying, eles estão igualmente expostos a situações de vulnerabilidade que afetam seu bem-estar e qualidade de vida4747. Souza JM, Silva JP, Faro A. Bullying e Homofobia: Aproximações Teóricas e Empíricas. Psicol Esc Educ 2015; 19(2): 289-98. https://doi.org/10.1590/2175-3539/2015/0192837
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/...
,4848. Cavalcanti JG, de Lima Coutinho MDP, de Lima Pinto AV, Silva KC, do Bú EA. Vitimização e percepção do bullying: Relação com a sintomatologia depressiva de adolescentes. Rev Psicol IMED 2018; 10(1): 140-59. https://doi.org/10.18256/2175-5027.2018.v10i1.2725
https://doi.org/https://doi.org/10.18256...
.

Entre os resultados obtidos neste estudo, destaca-se que adolescentes que não são bem tratados na escola pelos colegas tiveram quase três vezes mais chances de sofrer bullying em relação aos que são bem tratados na escola. Achados concordantes com o estudo foram obtidos em pesquisa realizada em vários países europeus, que revela que o baixo apoio social de colegas de classe aumenta a propensão para a vitimização por bullying, sendo ligeiramente mais forte que o apoio do professor e dos amigos4949. Šmigelskas K, Vaičiūnas T, Lukoševičiūtė J, Malinowska-Cieślik M, Melkumova M, Movsesyan E, et al. Sufficient social support as a possible preventive factor against fighting and bullying in school children. Int J Environ Res Public Health 2018; 15(5): 870. https://doi.org/10.3390/ijerph15050870
https://doi.org/https://doi.org/10.3390/...
. Estudo desenvolvido na Islândia verificou que o apoio de colegas é um fator protetor contra a vitimização por bullying5050. Mann MJ, Kristjansson AL, Sigfusdottir ID, Smith ML. The role of community, family, peer, and school factors in group bullying: implications for school‐based intervention. J Sch Health 2015; 85(7): 477-86. https://doi.org/10.1111/josh.12270
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. Outra investigação envolvendo adolescentes de 13 a 17 anos de escolas públicas e privadas da Espanha mostrou maior propensão para sofrer bullying entre alunos que perceberam menor apoio no ambiente escolar5151. Herráiz ED, Gutiérrez RB. Social Support as a School Victimisation Risk Factor. J Child Fam Stud 2016; 25: 3473-80. https://doi.org/10.1007/s10826-016-0503-9
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
.

A literatura destaca a importância do apoio social percebido pelos adolescentes na escola, onde a qualidade dos relacionamentos entre pares tem papel essencial nas situações de bullying4949. Šmigelskas K, Vaičiūnas T, Lukoševičiūtė J, Malinowska-Cieślik M, Melkumova M, Movsesyan E, et al. Sufficient social support as a possible preventive factor against fighting and bullying in school children. Int J Environ Res Public Health 2018; 15(5): 870. https://doi.org/10.3390/ijerph15050870
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,5050. Mann MJ, Kristjansson AL, Sigfusdottir ID, Smith ML. The role of community, family, peer, and school factors in group bullying: implications for school‐based intervention. J Sch Health 2015; 85(7): 477-86. https://doi.org/10.1111/josh.12270
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/...
,5151. Herráiz ED, Gutiérrez RB. Social Support as a School Victimisation Risk Factor. J Child Fam Stud 2016; 25: 3473-80. https://doi.org/10.1007/s10826-016-0503-9
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
. Sugere-se que sejam implementados projetos de intervenção que incluam família, educadores e alunos, de modo que todos os atores do contexto escolar se sintam responsáveis por garantir um clima construtivo, de aceitação das diferenças e respeito mútuo entre os alunos, produzindo, assim, melhores relações interpessoais no espaço escolar1111. Francisco MV, Coimbra RM. Análise do bullying escolar sob o enfoque da psicologia histórico-cultural. Estud Psicol 2015; 20(3): 184-95. http://dx.doi.org/10.5935/1678-4669.20150020
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.593...
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Apesar de a análise dos fatores de risco associados à vitimização por bullying ter base em dados de inquérito nacional, este artigo tem limites, destacando-se: o caráter transversal do estudo, que não permite a investigação das causas do bullying; as respostas autorreferidas do questionário, que podem estar sujeitas a vieses específicos e compreensões dos estudantes; a possibilidade de variáveis explicativas do fenômeno do bullying não terem sido incluídas, requerendo outras abordagens que permitam aprofundar o entendimento dos fatores de risco associados a ele.

Embora este trabalho apresente limitações, seus resultados precisam ser levados em consideração ao se pensar em alternativas de intervenção para minimizar a vitimização por bullying. Além disso, o fenômeno deve ser analisado como algo complexo, que recebe a influência de valores e crenças construídos social e culturalmente e que são reproduzidos no ambiente escolar. Portanto, esforços preventivos que incluam programas de incentivo ao maior suporte social entre os estudantes, a implementação de práticas que reforcem o respeito às diferenças e peculiaridades dos alunos, assim como a promoção de intervenções que envolvam todos os atores da escola, podem contribuir para a redução da vitimização por bullying.

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  • Fonte de financiamento: nenhuma

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Set 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    06 Ago 2019
  • Revisado
    20 Jan 2020
  • Aceito
    06 Abr 2020
Associação Brasileira de Pós -Graduação em Saúde Coletiva São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revbrepi@usp.br