Organização da atenção primária à saúde na pandemia de covid-19: revisão de escopo

Breno Ribeiro Gonçalves da Silva Ana Paula de Vechi Corrêa Sílvia Carla da Silva André Uehara Sobre os autores

RESUMO

OBJETIVO

Mapear evidências científicas disponíveis sobre a organização dos serviços e profissionais da atenção primária à saúde durante o enfrentamento da covid-19.

MÉTODO

Trata-se de uma revisão de escopo, seguindo o método do Joanna Briggs Institute. Foram incluídos estudos publicados em português, espanhol e inglês, no período de janeiro/2020 a janeiro/2021, nas bases de dados CINAHL, Lilacs, Medline, PubMed e Web of Science.

RESULTADOS

Foram selecionados 24 artigos, que mostraram a reorganização dos serviços e profissionais da atenção primária à saúde para o atendimento de casos suspeitos ou confirmados de covid-19. As ações de coordenação do enfrentamento da doença na atenção primária à saúde colaboram no controle da infecção, especialmente por meio de busca ativa de sintomáticos respiratórios e detecção de casos novos, seguido do monitoramento dos casos confirmados.

CONCLUSÕES

O presente estudo mostra um panorama de como profissionais e serviços da atenção primária se organizaram no enfrentamento da pandemia, abordando as readequações adotadas na infraestrutura e fluxos de atendimentos, a exemplo da adoção de unidades específicas no atendimento para covid-19, separação de fluxos infectado/não infectado, telemedicina como alternativa de modalidade de atendimento e monitoramento dos casos por meio de aplicativos e telefone.

Atenção Primária à Saúde, organização & administração; COVID-19, prevenção & controle; Capacitação de Recursos Humanos em Saúde; Revisão

INTRODUÇÃO

Enfrentar a pandemia causada pelo novo coronavírus exigiu que os sistemas de saúde de todo o mundo fossem remodelados, de modo que houvesse diferentes respostas no enfrentamento da infecção, a fim de impedir a sua disseminação e reduzir as sequelas causadas pela doença na população. Isso se deve, principalmente, à elevada taxa de transmissibilidade da covid-19, uma vez que a doença se espalhou rapidamente pelo mundo, resultando, desde o início da pandemia até o primeiro trimestre de 2022, em mais de 500 milhões de casos confirmados e mais de seis milhões de óbitos em todo o mundo11. World Health Organization. Coronavirus disease (COVID-19) pandemic. Geneva (CH): WHO; 2021 [cited 2022 Apr 17]. Available from: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019
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. No mesmo período, o Brasil apresentou mais de 30 milhões de casos confirmados e o número de óbitos acumulados já ultrapassou 660 mil22. Ministério da Saúde (BR). Painel de casos de doença pelo coronavírus 2019 (COVID-19) no Brasil pelo Ministério da Saúde. Brasília, DF; 2022 [cited 2022 Apr 17]. Available from: https://covid.saude.gov.br/
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O contexto pandêmico desencadeou desafios para os sistemas de saúde, evidenciando as fragilidades a partir da exposição de problemas crônicos de financiamento e de gestão33. Tabish SA. COVID-19 pandemic: emerging perspectives and future trends. J Public Health Res. 2020;9(1):1786. https://doi.org/10.4081/jphr.2020.1786
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. Ressalta-se a importância da preparação desses sistemas para o enfrentamento de doenças infecciosas emergentes, por meio de planejamento e estratégias embasadas em evidências, com coordenação entre todos os segmentos de um sistema e o governo.

Nessa perspectiva, no Brasil, a atenção primária à saúde (APS) se destaca, uma vez que está geralmente estruturada como a principal porta de entrada dos serviços de saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). A APS está organizada de forma a proporcionar a resolução da maior parte dos problemas de saúde dos indivíduos e de suas famílias, desempenhando um papel fundamental no enfrentamento da pandemia, uma vez que grande parte das pessoas infectadas desenvolvem a forma leve da doença, o que permite o seu acompanhamento nesse nível da assistência44. World Health Organization, Regional Office for the Western Pacific Region. Role of primary care in the COVID-19 Response: interim guidance. Manila (PH); 2021 [cited 2022 Apr 17]. Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/331921
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Considerando as ações que devem ser desenvolvidas no enfrentamento da covid-19, em especial na atenção primária, o conhecimento do território, o acesso, o vínculo entre o usuário e a equipe de saúde, a integralidade da assistência, o monitoramento das famílias vulneráveis e o acompanhamento de casos suspeitos e leve da doença, proporciona a elaboração de estratégias fundamentais para a contenção da pandemia, bem como para o não agravamento da doença77. Sarti TD, Lazarini WS, Fontenelle LF, Almeida APSC. What is the role of Primary Health Care in the COVID-19 pandemic? Epidemiol Serv Saude. 2020;29(2):e2020166. https://doi.org/10.5123/S1679-49742020000200024
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No Brasil, a APS segue como ponto central na organização do SUS, comprovando a necessidade de fortalecê-la e organizá-la para que fosse o pilar do enfretamento da covid-19, devido a sua capacidade de vínculo, manejo e acompanhamento dos casos no momento da pandemia e para a retomada de suas rotinas no pós-pandemia, olhando para o contexto do território como um todo77. Sarti TD, Lazarini WS, Fontenelle LF, Almeida APSC. What is the role of Primary Health Care in the COVID-19 pandemic? Epidemiol Serv Saude. 2020;29(2):e2020166. https://doi.org/10.5123/S1679-49742020000200024
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,88. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Guia orientador para o enfrentamento da pandemia COVID-19 na Rede de Atenção à Saúde. 2. ed. Brasília, DF: CONASS; 2020..

Assim, considerando a pandemia de covid-19, enfatiza-se o papel fundamental da atenção primária no enfrentamento global à doença, desenvolvendo ações educativas, preventivas, promotoras da saúde, assistenciais e administrativas. A organização da APS para a oferta de serviços efetivos é responsabilidade de todos os profissionais de saúde e gestores, sendo desenvolvidos não somente nas unidades de saúde, mas em todo território e domicílio.

Estudos têm sido publicados sobre a evolução da doença, tratamento, vacina, entretanto, torna-se necessário o mapeamento das evidências científicas sobre estudos que investigam a organização dos serviços e profissionais de saúde da APS e o impacto no enfrentamento da pandemia.

Desse modo, esta revisão permite mostrar as lacunas persistentes sobre a temática, além de refletir sobre a organização das ações desse nível de assistência para a mitigação da doença e, assim, se poder planejar estratégias para o enfrentamento da covid-19, de modo a proporcionar uma assistência resolutiva e de qualidade à população assistida. Logo, este estudo tem como objetivo mapear as evidências científicas disponíveis sobre a organização dos serviços e dos profissionais de saúde na atenção primária à saúde durante o enfrentamento da covid-19.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de scoping review com base nos princípios apresentados pelo Joanna Briggs Institute (JBI): (1) identificação da questão de pesquisa, (2) identificação de estudos relevantes, (3) seleção dos estudos, (4) extração de dados, (5) separação, sumarização e relatório de resultados e (6) divulgação dos resultados99. Aromataris E, Munn Z, editors. JBI manual for evidence synthesis. Adelaide (AU): JBI Faculty of Health and Medical Sciences, the University of Adelaide; 2020 [cited 2022 Apr 17]. Available from: https://synthesismanual.jbi.global
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Para realizar a estratégia de busca da revisão, foi utilizada a proposta do JBI, que consiste em um acrônimo “PCC”, que representa “P” população, “C” conceito e “C” contexto. A questão norteadora do estudo foi construída com base na estratégia PCC, sendo “P” (profissionais de saúde), “C” (atenção primária à saúde) e “C” (organização e covid-19), definida da seguinte forma: Como foi a organização dos serviços e dos profissionais de saúde da atenção primária à saúde durante a pandemia de covid-19?

A busca dos artigos foi realizada nas bases de dados eletrônicas: US National Library of Medicine National Institutes of Health (PubMed), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline), Institute for Scientific Information (Web of Science), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL). As buscas foram realizadas entre os meses de março e maio de 2021 e conduzidas por meio de descritores e seus sinônimos que constam no Descritor em Ciências da Saúde (DeCS) e no Medical Subject Headings (MeSH), nos diferentes idiomas, sendo eles: organização, assistência, atenção primária à saúde, covid-19, profissionais de saúde (Quadro 1).

Quadro 1
Estratégias de busca utilizadas nas bases de dados.

Foram aplicados os seguintes critérios de inclusão: estudos primários, idiomas português, inglês e espanhol, publicação no período de 1 de janeiro de 2020 até 31 de janeiro de 2021, indexados nas bases de dados citadas. Foram excluídos protocolos, editoriais, revisões sistemáticas e estudos cujo título e resumo não responderam à pergunta problema, informações de websites e veiculadas pela mídia.

Na etapa seguinte, as referências foram exportadas para o aplicativo web StArt (State of the Art through Systematic Review), para a seleção dos estudos em dois níveis. A primeira seleção foi por meio da leitura de títulos e resumos, seguida pela leitura do artigo na íntegra. A ferramenta de revisão StArt foi desenvolvida pelo Laboratório de Pesquisa em Engenharia de Software (LaPES) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)1010. Fabbri S, Silva C, Hernandes E, Octaviano F, Di Thommazo A, Belgamo A. Improvements in the StArt tool to better support the systematic review process. In: Proceedings of the 20th International Conference on Evaluation and Assessment in Software Engineering (EASE ’16); 2016 June; Limerick, Ireland. p.1-5..

Os estudos elegíveis foram recuperados na íntegra e avaliados por dois pesquisadores. Em ambas as fases, as divergências foram discutidas até chegar a um consenso e, então, realizar a seleção final, com a participação de um terceiro pesquisador. O relato do estudo foi pautado no Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-analyses Extension for Scoping Reviews (PRISMA_ScR)1111. Tricco AC, Lillie E, Zarin W, O’Brien KK, Colquhoun H, Levac D, et al. PRISMA Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR): checklist and explanation. Ann Intern Med. 2018;169(7):467-73. https://doi.org/10.7326/M18-0850
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As informações relevantes foram coletadas de cada artigo selecionado: autores, nome do periódico, país onde o estudo foi realizado, país de publicação, desenho do estudo, principais resultados e lacunas. Os resultados revisados estão apresentados em quadros e no formato narrativo sobre aspectos bibliométricos e que respondem à questão que orientou esta revisão de escopo.

RESULTADOS

Foram identificados 1.262 artigos nas bases de dados, desses, foram excluídos 374 por serem duplicatas, 833 após a leitura dos títulos e resumos, e 31, após a leitura na íntegra. Assim, foram selecionados para o estudo 24 artigos que abordavam a organização dos serviços e dos profissionais de saúde da APS durante o enfrentamento da covid-19 (Figura).

Figura
Fluxograma de referência: inclusão e exclusão dos artigos.

Os estudos incluídos nesta revisão foram publicados entre 1 de janeiro de 2020 e 31 de janeiro de 2021, sendo que cinco (21%) foram realizados no Brasil; quatro (17%) nos Estados Unidos; dois (8%) em Omã, Reino Unido, Itália e Bélgica; e um (4%) na Espanha, Índia, Flandres, Arábia Saudita, Botsuana, França e Islândia. Quanto aos idiomas, 20 (83%) estudos foram publicados em inglês e quatro (17%) em português.

Dentre os 24 estudos que foram selecionados para análise, destacam-se nove relatos de experiência, cinco estudos observacionais, quatro descritivos, dois transversais, dois qualitativos e dois estudos de caso (Quadro 2).

Quadro 2
Artigos selecionados na revisão, segundo local e ano do estudo, objetivo, tipo de estudo, principais resultados.

Os estudos avaliados nesta revisão trouxeram um panorama mundial de como os profissionais e os serviços da atenção primária à saúde se organizaram para o enfrentamento da pandemia de covid-19, com destaque para o uso de tecnologias e da telemedicina. A alternativa de modalidade de atendimento e monitoramento dos casos por meio de aplicativos, telefone e plataformas online também foram amplamente abordados nos estudos, aparecendo em 17 (71%) estudos (Quadro 2).

As readequações adotadas na infraestrutura e fluxos de atendimentos, a exemplo da adoção de unidades específicas no atendimento para covid-19, separação de fluxos infectado/não infectado nas unidades de saúde, readequação do processo de trabalho e infraestrutura foram descritos em 13 (54%) estudos (Quadro 2).

A importância da educação em saúde sobre a covid-19 com a comunidade e com a própria equipe foi abordada em três estudos (12,5%); outras três pesquisas (12,5%) analisaram os cuidados direcionados aos pacientes crônicos durante a pandemia. Dois estudos (8,5%) investigaram a organização dos serviços e profissionais da APS, com base em experiências anteriores como na pandemia de influenza H1N1 (Quadro 2).

DISCUSSÃO

Nos 24 artigos selecionados neste estudo destaca-se a abordagem sobre a reorganização dos serviços e dos profissionais de saúde da APS, além da vigilância no monitoramento dos casos de covid-19 para o atendimento de casos suspeitos ou confirmados da doença.

Ressalta-se que, no Brasil, em março de 2020, após a declaração da transmissão comunitária da doença causada pelo novo coronavírus em todo o território nacional, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde realizou a adaptação do Sistema de Vigilância de Síndromes Respiratórias Agudas, visando orientar o Sistema Nacional de Vigilância em Saúde para a circulação simultânea do SARS-CoV-2, influenza e outros vírus respiratórios, no âmbito da Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional1212. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica: emergência de saúde pública de importância nacional pela doença pelo coronavírus 2019 – COVID-19. Brasília, DF; 2021 [cited 2022 Apr 9]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/publicacoes-tecnicas/guias-e-planos/guia-de-vigilancia-epidemiologica-covid-19/view
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Diante de um cenário de enfrentamento de uma doença que foi considerada uma emergência de saúde pública, destaca-se o importante papel da vigilância em saúde na notificação, investigação e monitoramento dos casos supeitos e confirmados por covid-191313. Jesus AM, Oliveira KNR, Silva MPF, Matos RB, Dias CFMA. Rede de vigilância no monitoramento da Covid-19 na Bahia, Brasil, 2020. Rev Baiana Saude Publica. 2021;45 Nº Espec 1:62-78.. As ações de vigilância em saúde no território mostra-se como um ponto essencial da organização da APS nesse novo cenário, por meio do desenvolvimento de ações que possibilitem a identificação precoce dos casos suspeitos, notificação imediata, busca ativa de contatos, reforço ao isolamento domiciliar dos casos e de seus contatos, educação em saúde e apoio aos grupos vulneráveis do território1414. Giovanella L, Martufi V, Mendoza DCR, Mendonça MHM, Bousquat AEM, Aquino R, et al. A contribuição da Atenção Primária à Saúde na rede SUS de enfrentamento à Covid-19. Saude Debate. 2020;44 Nº Espec 4):1-21. https://doi.org/10.1590/0103-11042020E410
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É sabido que a pandemia da covid-19 resultou em um aumento da demanda assistencial sobre o SUS, fazendo o Ministério da Saúde reforçar o estabelecimento da organização da rede de atenção e dos fluxos, tanto para pessoas com síndrome gripal, incluindo a covid-19, quanto para as pessoas que necessitassem de acompanhamento por outras condições e agravos de saúde1212. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica: emergência de saúde pública de importância nacional pela doença pelo coronavírus 2019 – COVID-19. Brasília, DF; 2021 [cited 2022 Apr 9]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/publicacoes-tecnicas/guias-e-planos/guia-de-vigilancia-epidemiologica-covid-19/view
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Dessa forma, a atuação da APS, no contexto da pandemia de covid-19 no Brasil, evidenciou que a principal estratégia de enfrentamento foi a reorganização do processo de trabalho dos profissionais de saúde, destacando-se as atividades de educação em saúde, por construir saberes que propiciam o autocuidado1515. Geraldo SM, Farias SJM, Sousa FOS. A atuação da Atenção Primária no contexto da pandemia da COVID-19 no Brasil. Res Soc Dev. 2021;10(8):e42010817359. https://doi.org/10.33448/rsd-v10i8.17359
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. Todos os países tiveram que se reorganizar e fortalecer a capacidade de resposta dos serviços da atenção primária à saúde, de acordo com suas políticas públicas, além de garantir a assistência às outras necessidades de saúde da população1616. Prado NMBL, Rossi TRA, Chaves SCL, Barros SG, Magno L, Santos HLPC, et al. The international response of primary health care to COVID-19: document analysis in selected countries. Cad Saude Publica. 2020;36(12):e00183820. https://doi.org/10.1590/0102-311X00183820
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Além disso, no Brasil, constantes atualizações de guias de vigilância epidemiológica foram realizadas para nortear o combate à covid-191212. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica: emergência de saúde pública de importância nacional pela doença pelo coronavírus 2019 – COVID-19. Brasília, DF; 2021 [cited 2022 Apr 9]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/publicacoes-tecnicas/guias-e-planos/guia-de-vigilancia-epidemiologica-covid-19/view
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. Nesse contexto, o Ministério da Saúde publicou o “Protocolo de Manejo Clínico da covid-19 na Atenção Primária à Saúde” recomendando a reorganização dos serviços e do processo de trabalho da APS para o enfrentamento da pandemia. Esse protocolo definiu medidas para a prevenção de contágio nos serviços de saúde, modelos para estratificação da gravidade de casos suspeitos, ações para acompanhamento terapêutico e isolamento domiciliar dos casos leves, além da definição de medidas para estabilização e encaminhamento aos serviços de maior complexidade e ações de promoção de medidas de prevenção comunitária1717. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Protocolo de manejo clínico do coronavírus (COVID-19) na Atenção Primária à Saúde - Versão 9. Brasília (DF); 2020 [cited 2022 Apr 17]. Available from: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/05/1095920/20200504-protocolomanejo-ver09.pdf
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A reorganização da estrutura física dos serviços da APS foi uma das principais estratégias adotadas a fim de minimizar os riscos de contágio dentro das unidades de saúde, além de propiciar agilidade aos atendimentos, evitar o contato entre os usuários suspeitos e não suspeitos de covid-19, bem como a proteção dos profissionais, maximizando a eficiência dos serviços prestados.

Estudos realizados no Brasil, EUA, Bélgica e Islândia adaptaram as unidades de saúde para manter o distanciamento físico, adotaram a identificação imediata de casos sintomáticos durante o acolhimento na recepção, limitação do número de acompanhantes, consultórios separados para usuários sintomáticos e assintomáticos e reorganização dos atendimentos dos grupos prioritários assistidos pelo serviço1818. Krist AH, DeVoe JE, Cheng A, Ehrlich T, Jones SM. Redesigning primary care to address the COVID-19 pandemic in the midst of the pandemic. Ann Fam Med. 2020;18(4):349-54. https://doi.org/10.1370/afm.2557
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Em Diadema (SP) a gestão da saúde optou por descentralizar os atendimentos aos sintomáticos respiratórios em todas as unidades da APS, apoiando-se na característica da capilaridade da atenção primária com as equipes de saúde da família , com isso, todos os serviços desse nível de assistência acolheram essa demanda2424. Cirino FMSB, Aragão JB, Meyer G, Campos DS, Gryschek ALFPL, Nichiata LYI. Desafios da atenção primária no contexto da COVID-19: a experiência de Diadema, SP. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2021;16(43):2665. https://doi.org/10.5712/rbmfc16(43)2665
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Em Florianópolis (SC), Sobral (CE) e Belo Horizonte (MG), as unidades de saúde que possuíam espaço físico adequado, também organizaram os fluxos de atendimentos separadamente, ou seja, usuários suspeitos e confirmados eram acolhidos e atendidos em locais separados das demais demandas2525. Silveira JPM, Zonta R. Experiência de reorganização da APS para o enfrentamento da COVID-19 em Florianópolis. APS Rev. 2020;2(2):91-6. https://doi.org/10.14295/aps.v2i2.122
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Por outro lado, foi verificado a experiência de serviços de saúde que optaram por centralizar os atendimentos de sintomáticos respiratórios em uma ou mais unidades de saúde específica. A organização desses serviços apresentou algumas similaridades, como o respeito às instruções aos usuários sobre os cuidados de higienização pessoal e uso de máscara, além de possuírem espaços físicos redesenhados para respeitar o distanciamento físico2828. Jacobson NA, Nagaraju D, Miller JM, Bernard ME. COVID Care Clinic: a unique way for family medicine to care for the community during the SARS-CoV-2 (COVID-19) pandemic. J Prim Care Community Health. 2020;11:2150132720957442. https://doi.org/10.1177/2150132720957442
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Na Inglaterra, foram criadas unidades de atendimento específico para pessoas com diagnóstico de covid-19, além do monitoramento domiciliar de usuários que não tinham condições de se deslocarem para um serviço de saúde ou não necessitavam de atendimento hospitalar3030. Majeed A, Maile EJ, Bindman AB. The primary care response to COVID-19 in England’s National Health Service. J R Soc Med. 2020;113(6):208-10. https://doi.org/10.1177/0141076820931452
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Já em Rochester (Minnesota-EUA), essa mesma estratégia foi adotada para evitar o contato de casos confirmados ou em investigação com os outros usuários que necessitavam de atendimento. Das cinco unidades de saúde da cidade, uma delas foi readequada para atender exclusivamente usuários com diagnóstico de covid-19 ou com sintomas de problemas respiratórios, e inicialmente foi adotada a estratégia de triagem por telefone, identificando se a pessoa necessitava de atendimento hospitalar ou poderia ser atendido na unidade covid-192828. Jacobson NA, Nagaraju D, Miller JM, Bernard ME. COVID Care Clinic: a unique way for family medicine to care for the community during the SARS-CoV-2 (COVID-19) pandemic. J Prim Care Community Health. 2020;11:2150132720957442. https://doi.org/10.1177/2150132720957442
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Diante da necessidade de readequação do atendimento presencial nas unidades de saúde no contexto pandêmico, as estratégias para a assistência à distância surgiram como alternativa, tanto para realizar o monitoramento de usuários com o diagnóstico da doença quanto para o acompanhamento das outras demandas66. Cabral ERM, Bonfada D, Melo MC, Cesar ID, Oliveira REM, Bastos TF, et al. Contributions and challenges of the Primary Health Care across the pandemic COVID-19. InterAm J Med Health. 2020;3:e202003012. https://doi.org/10.31005/iajmh.v3i0.87
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,1414. Giovanella L, Martufi V, Mendoza DCR, Mendonça MHM, Bousquat AEM, Aquino R, et al. A contribuição da Atenção Primária à Saúde na rede SUS de enfrentamento à Covid-19. Saude Debate. 2020;44 Nº Espec 4):1-21. https://doi.org/10.1590/0103-11042020E410
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,2424. Cirino FMSB, Aragão JB, Meyer G, Campos DS, Gryschek ALFPL, Nichiata LYI. Desafios da atenção primária no contexto da COVID-19: a experiência de Diadema, SP. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2021;16(43):2665. https://doi.org/10.5712/rbmfc16(43)2665
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,3131. Engstrom E, Melo E, Giovanella L, Mendes A, Grabois V, Mendonça MHM. Recomendações para a organização da Atenção Primária à Saúde no SUS no enfrentamento da COVID-19. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2020 [cited 2022 Apr 17]. (Série Linha de Cuidado Covid-19 na Rede de Atenção à Saúde). Available from: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/41404/2/RecomendacoesAPSEnfrentamentoCovid-19.pdf
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. Assim, foram inseridas na rotina dos profissionais de saúde o teleatendimento e monitoramento remoto, visando a redução do número de usuários dentro dos serviços e encaminhamento para a unidade de saúde apenas quando necessário; tais medidas foram adotadas com o objetivo de reduzir a circulação do SARS-CoV-22020. Fernandes LMM, Pacheco RA, Fernandez M. How a Primary Health Care Clinic in Brazil faces coronavirus treatment within a vulnerable community: the experience of the Morro da Conceição area in Recife. NEJM Catal Innov Care Deliv. 2020;1(5). https://doi.org/10.1056/CAT.20.0466
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Na Austrália, a atenção primária reorganizou a assistência por meio da adoção de teleconsultas, call centers para triagem de pessoas com sintomas respiratórios e orientações, além do estabelecimento de uma rede nacional de unidades respiratórias em complemento. Também foram realizados treinamentos online para os profissionais da saúde e divulgação das medidas de proteção à saúde das comunidades remotas de aborígenes e da população das ilhas do Estreito de Torres4242. Desborough J, Dykgraaf SH, Toca L, Davis S, Roberts L, Kelaher C, et al. Australia’s national COVID-19 primary care response. Med J Aust. 2020;213(3):104-6. https://doi.org/10.5694/mja2.50693
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No Reino Unido, o número de consultas à distância dobrou, ao passo que as consultas presenciais e visitas domiciliares diminuíram, resultando no atendimento de três quartos dos usuários recepcionados pela atenção primária à distância3030. Majeed A, Maile EJ, Bindman AB. The primary care response to COVID-19 in England’s National Health Service. J R Soc Med. 2020;113(6):208-10. https://doi.org/10.1177/0141076820931452
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,3838. Joy M, McGagh D, Jones N, Liyanage H, Sherlock J, Parimalanathan V, et al. Reorganisation of primary care for older adults during COVID-19: a cross-sectional database study in the UK. Br J Gen Pract. 2020;70(697):e540-7. https://doi.org/10.3399/bjgp20X710933
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. Já na Islândia, houve um aumento de 127% nas consultas realizadas por telefone ou online, verificando ainda elevação no número de prescrições de medicamentos e consultas à distância1818. Krist AH, DeVoe JE, Cheng A, Ehrlich T, Jones SM. Redesigning primary care to address the COVID-19 pandemic in the midst of the pandemic. Ann Fam Med. 2020;18(4):349-54. https://doi.org/10.1370/afm.2557
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. Esse padrão de crescimento também foi observado na França, na Itália e na Bélgica, uma vez que a grande maioria dos médicos generalistas adaptaram suas atividades para a modalidade remota1919. Morreel S, Philips H, Verhoeven V. Organisation and characteristics of out-of-hours primary care during a COVID-19 outbreak: a real-time observational study. PLoS One. 2020;15(8):e0237629. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0237629
https://doi.org/10.1371/journal.pone.023...
,2929. Saint-Lary O, Gautier S, Le Breton J, Gilberg S, Frappé P, Schuers M, et al. How GPs adapted their practices and organisations at the beginning of COVID-19 outbreak: a French national observational survey. BMJ Open. 2020;10(12):e042119. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-042119
https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-042...
,4040. Bressy S, Zingarelli EM. Technological devices in COVID-19 primary care management: the Italian experience. Fam Pract. 2020;37(5):725-6. https://doi.org/10.1093/fampra/cmaa055
https://doi.org/10.1093/fampra/cmaa055...
.

Na Itália, o monitoramento e acompanhamento de usuários com covid-19 foi domiciliar, de forma remota, por meio de aplicativos de mídia social, sendo que esse acompanhamento era realizado duas vezes ao dia, monitorando inclusive os sinais vitais dos pacientes, mensurados por meio de smartphones. Em situações em que fosse identificada dificuldade de o usuário realizar o acompanhamento dos sinais vitais por meio desses dispositivos tecnológicos, era emprestado oxímetro de pulso, para que pudesse monitorar a saturação e a frequência cardíaca no domicílio4040. Bressy S, Zingarelli EM. Technological devices in COVID-19 primary care management: the Italian experience. Fam Pract. 2020;37(5):725-6. https://doi.org/10.1093/fampra/cmaa055
https://doi.org/10.1093/fampra/cmaa055...
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Embora o teleatendimento possibilite a continuidade da assistência à distância, essa mudança pode dificultar a prática dos médicos generalistas, uma vez que ocorre a perda de comunicação não verbal, além da capacidade limitada de alguns usuários em articular suas necessidades e a comunicação intercultural associada aos problemas de linguagem, que surgem como barreiras no atendimento3434. Verhoeven V, Tsakitzidis G, Philips H, Van Royen P. Impact of the COVID-19 pandemic on the core functions of primary care: will the cure be worse than the disease? A qualitative interview study in Flemish GPs. BMJ Open. 2020;10(6):e039674. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-039674
https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-039...
.

Estudo realizado com a população idosa atendida pela APS no Reino Unido mostrou que é pertinente que os profissionais de saúde tenham ciência de que consultas remotas, principalmente se tratando de videochamadas, podem representar uma barreira adicional ao acesso, quanto aos cuidados para grupos de classes sociais desfavorecidas, que possuem acesso limitado à internet, smartphones e demais tecnologias3838. Joy M, McGagh D, Jones N, Liyanage H, Sherlock J, Parimalanathan V, et al. Reorganisation of primary care for older adults during COVID-19: a cross-sectional database study in the UK. Br J Gen Pract. 2020;70(697):e540-7. https://doi.org/10.3399/bjgp20X710933
https://doi.org/10.3399/bjgp20X710933...
.

A pandemia propiciou inovação no atendimento realizado pela APS, de forma a se adequar às medidas de distanciamento físico. Entretanto, a atenção primária deve avaliar a eficiência do atendimento remoto e reconhecer as possíveis dificuldades de uma população no que tange às tecnologias necessárias.

No âmbito da APS, as ações de educação se fortaleceram e se destacaram no cuidado oferecido pelos profissionais da saúde direcionado para limitar a propagação da covid-192222. Dias EG, Ribeiro DRSV. Manejo do cuidado e a educação em saúde na atenção básica na pandemia do Coronavírus. J Nurs Health. 2020;10(4):20104020.,2323. Vieira DS, Sá PC, Torres RC, Oliveira FT, Rocha KRSL, Vasconcelos TLC, et al. Planejamento da enfermagem frente à covid-19 numa estratégia de saúde da família: relato de experiência. Saude Coletiva (Barueri). 2020;10(54):2729-40. https://doi.org/10.36489/saudecoletiva.2020v10i54p2729-2740
https://doi.org/10.36489/saudecoletiva.2...
,3232. Al Ghafri T, Al Ajmi F, Anwar H, Al Balushi L, Al Balushi Z, Al Fahdi F, et al. The experiences and perceptions of health-care workers during the COVID-19 pandemic in Muscat, Oman: a qualitative study. J Prim Care Community Health. 2020;11:2150132720967514. https://doi.org/10.1177/2150132720967514
https://doi.org/10.1177/2150132720967514...
,3434. Verhoeven V, Tsakitzidis G, Philips H, Van Royen P. Impact of the COVID-19 pandemic on the core functions of primary care: will the cure be worse than the disease? A qualitative interview study in Flemish GPs. BMJ Open. 2020;10(6):e039674. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-039674
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,4343. Duarte RB, Medeiros LMF, Araújo MJAM, Cavalcante ASP, Souza EC, Alencar OM, et al. Agentes Comunitários de Saúde frente à COVID-19: vivências junto aos profissionais de enfermagem. Enferm Foco. 2020;11 (1 Nº Espec):252-6. https://doi.org/10.21675/2357-707X.2020.v11.n1.ESP.3597
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,4444. Ximenes Neto FRG, Araújo CRC, Silva RCC, Ribeiro MA, Sousa LA, Serafim TF, et al. Coordenação do cuidado, vigilância e monitoramento de casos da COVID-19 na Atenção Primária à Saúde. Enferm Foco. 2020;11(1 Nº Espec):239-45. https://doi.org/10.21675/2357-707X.2020.v11.n1.ESP.3682
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. Nesse sentido, destaca-se a dificuldade de se lidar com rumores da comunidade e informações enganosas, implicando diretamente no processo de cuidado da população durante a pandemia, situação que evidencia a importância da integração do suporte de tecnologia e divulgação de orientações confiáveis3232. Al Ghafri T, Al Ajmi F, Anwar H, Al Balushi L, Al Balushi Z, Al Fahdi F, et al. The experiences and perceptions of health-care workers during the COVID-19 pandemic in Muscat, Oman: a qualitative study. J Prim Care Community Health. 2020;11:2150132720967514. https://doi.org/10.1177/2150132720967514
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A adesão às medidas de prevenção contra a covid-19 está relacionada às ações de educação em saúde realizadas pelos profissionais de saúde. Nesse sentido, enfatiza-se a importância de tecnologias digitais para disseminação de informações pelas redes sociais sobre a prevenção da doença, além de reforçarem o papel fundamental dos agentes comunitários de saúde na educação em saúde de uma comunidade, principalmente no combate às fake news e na mediação da APS com a comunidade2222. Dias EG, Ribeiro DRSV. Manejo do cuidado e a educação em saúde na atenção básica na pandemia do Coronavírus. J Nurs Health. 2020;10(4):20104020.,4343. Duarte RB, Medeiros LMF, Araújo MJAM, Cavalcante ASP, Souza EC, Alencar OM, et al. Agentes Comunitários de Saúde frente à COVID-19: vivências junto aos profissionais de enfermagem. Enferm Foco. 2020;11 (1 Nº Espec):252-6. https://doi.org/10.21675/2357-707X.2020.v11.n1.ESP.3597
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Em um município brasileiro, as equipes de saúde da família, juntamente com os agentes comunitários, realizaram atividades de educação em saúde direcionadas à população. Essas ações tinham como objetivo orientar a população sobre às medidas preventivas contra a covid-19, além de divulgar os dados epidemiológicos por meio da distribuição de panfletos, carro de som, rádio, redes sociais, contato telefônico. Entretanto, o número de casos suspeitos de covid-19 não foi reduzido, evidenciando a importância da adesão das pessoas às medidas de prevenção1919. Morreel S, Philips H, Verhoeven V. Organisation and characteristics of out-of-hours primary care during a COVID-19 outbreak: a real-time observational study. PLoS One. 2020;15(8):e0237629. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0237629
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. Para que as ações de educação em saúde atinjam seus objetivos é necessário o desenvolvimento de estratégias diversas, como forma de atravessar barreiras sociais e culturais que determinam as escolhas dos indivíduos2222. Dias EG, Ribeiro DRSV. Manejo do cuidado e a educação em saúde na atenção básica na pandemia do Coronavírus. J Nurs Health. 2020;10(4):20104020.,4545. Rios AFM, Lira LSSP, Reis IM, Silva GA. Atenção Primária à Saúde frente à COVID-19: relato de experiência de um Centro de Saúde. Enferm Foco. 2020;11(1 Nº Espec):246-51. https://doi.org/10.21675/2357-707X.2020.v11.n1.ESP.3666
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Durante a pandemia de covid-19, também se destaca o adiamento e a redução no acompanhamento de usuários com diagnóstico de doença crônica não transmissível (DCNT), de maneira global, uma vez que parte desses cuidados não são urgentes2121. Sigurdsson EL, Blondal AB, Jonsson JS, Tomasdottir MO, Hrafnkelsson H, Linnet K, et al. How primary healthcare in Iceland swiftly changed its strategy in response to the COVID-19 pandemic. BMJ Open. 2020;10(12):e043151. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-043151
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,2222. Dias EG, Ribeiro DRSV. Manejo do cuidado e a educação em saúde na atenção básica na pandemia do Coronavírus. J Nurs Health. 2020;10(4):20104020.,2929. Saint-Lary O, Gautier S, Le Breton J, Gilberg S, Frappé P, Schuers M, et al. How GPs adapted their practices and organisations at the beginning of COVID-19 outbreak: a French national observational survey. BMJ Open. 2020;10(12):e042119. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-042119
https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-042...
,3232. Al Ghafri T, Al Ajmi F, Anwar H, Al Balushi L, Al Balushi Z, Al Fahdi F, et al. The experiences and perceptions of health-care workers during the COVID-19 pandemic in Muscat, Oman: a qualitative study. J Prim Care Community Health. 2020;11:2150132720967514. https://doi.org/10.1177/2150132720967514
https://doi.org/10.1177/2150132720967514...
,3434. Verhoeven V, Tsakitzidis G, Philips H, Van Royen P. Impact of the COVID-19 pandemic on the core functions of primary care: will the cure be worse than the disease? A qualitative interview study in Flemish GPs. BMJ Open. 2020;10(6):e039674. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-039674
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,4646. Coma E, Mora E, Méndez L, Benítez M, Hermosilla E, Fàbregas M, et al. Primary care in the time of COVID-19: monitoring the effect of the pandemic and the lockdown measures on 34 quality of care indicators calculated for 288 primary care practices covering about 6 million people in Catalonia. BMC Fam Pract. 2020;21:208 https://doi.org/10.1186/s12875-020-01278-8
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. Em Mascate (Omã), todas as unidades de saúde suspenderam a assistência presencial de usuários com DCNT no início da pandemia3232. Al Ghafri T, Al Ajmi F, Anwar H, Al Balushi L, Al Balushi Z, Al Fahdi F, et al. The experiences and perceptions of health-care workers during the COVID-19 pandemic in Muscat, Oman: a qualitative study. J Prim Care Community Health. 2020;11:2150132720967514. https://doi.org/10.1177/2150132720967514
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. Já na Espanha e na Bélgica, embora não tenha ocorrido a suspensão, houve uma significante diminuição do acompanhamento de usuários com diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica4646. Coma E, Mora E, Méndez L, Benítez M, Hermosilla E, Fàbregas M, et al. Primary care in the time of COVID-19: monitoring the effect of the pandemic and the lockdown measures on 34 quality of care indicators calculated for 288 primary care practices covering about 6 million people in Catalonia. BMC Fam Pract. 2020;21:208 https://doi.org/10.1186/s12875-020-01278-8
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,4848. Danhieux K, Buffel V, Pairon A, Benkheil A, Remmen R, Wouters E, et al. The impact of COVID-19 on chronic care according to providers: a qualitative study among primary care practices in Belgium. BMC Fam Pract. 2020;21:255. https://doi.org/10.1186/s12875-020-01326-3
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Quanto à população infantil, foi observado uma redução na administração de vacinas em crianças na Espanha4646. Coma E, Mora E, Méndez L, Benítez M, Hermosilla E, Fàbregas M, et al. Primary care in the time of COVID-19: monitoring the effect of the pandemic and the lockdown measures on 34 quality of care indicators calculated for 288 primary care practices covering about 6 million people in Catalonia. BMC Fam Pract. 2020;21:208 https://doi.org/10.1186/s12875-020-01278-8
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e uma interrupção na operação de serviços ambulatoriais relacionados à saúde materno-infantil na Índia4747. Garg S, Basu S, Rustagi R, Borle A. Primary Health Care facility preparedness for outpatient service provision during the COVID-19 pandemic in India: cross-sectional study. JMIR Public Health Surveill. 2020;6(2):e19927. https://doi.org/10.2196/19927
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. Na França, o atendimento ambulatorial de outras demandas da população foi mantido, enquanto os atendimentos de covid-19 foram direcionados e concentrados em centros específicos para a assistência a esse público1616. Prado NMBL, Rossi TRA, Chaves SCL, Barros SG, Magno L, Santos HLPC, et al. The international response of primary health care to COVID-19: document analysis in selected countries. Cad Saude Publica. 2020;36(12):e00183820. https://doi.org/10.1590/0102-311X00183820
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.

O adiamento da assistência a usuários com DCNT, puericultura e redução da cobertura vacinal podem acarretar consequências que se estenderão após a crise pandêmica da covid-19, gerando uma sobrecarga nos sistemas de saúde2121. Sigurdsson EL, Blondal AB, Jonsson JS, Tomasdottir MO, Hrafnkelsson H, Linnet K, et al. How primary healthcare in Iceland swiftly changed its strategy in response to the COVID-19 pandemic. BMJ Open. 2020;10(12):e043151. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-043151
https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-043...
,2929. Saint-Lary O, Gautier S, Le Breton J, Gilberg S, Frappé P, Schuers M, et al. How GPs adapted their practices and organisations at the beginning of COVID-19 outbreak: a French national observational survey. BMJ Open. 2020;10(12):e042119. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-042119
https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-042...
,3434. Verhoeven V, Tsakitzidis G, Philips H, Van Royen P. Impact of the COVID-19 pandemic on the core functions of primary care: will the cure be worse than the disease? A qualitative interview study in Flemish GPs. BMJ Open. 2020;10(6):e039674. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-039674
https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-039...
,4646. Coma E, Mora E, Méndez L, Benítez M, Hermosilla E, Fàbregas M, et al. Primary care in the time of COVID-19: monitoring the effect of the pandemic and the lockdown measures on 34 quality of care indicators calculated for 288 primary care practices covering about 6 million people in Catalonia. BMC Fam Pract. 2020;21:208 https://doi.org/10.1186/s12875-020-01278-8
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. Por outro lado, a redução do comparecimento de usuários com DCNT às unidades de saúde pode estar relacionada às recomendações das autoridades de saúde para que as pessoas permanecessem em casa e procurassem esses serviços somente se apresentassem sintomas de covid-192929. Saint-Lary O, Gautier S, Le Breton J, Gilberg S, Frappé P, Schuers M, et al. How GPs adapted their practices and organisations at the beginning of COVID-19 outbreak: a French national observational survey. BMJ Open. 2020;10(12):e042119. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2020-042119
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Embora os profissionais de saúde que atuam na atenção primária tenham se organizado de maneira rápida em resposta ao início da pandemia, o direcionamento da assistência à covid-19 pode causar complicações à saúde de uma parcela da população que teve seus cuidados adiados ou suspensos, além de onerar o sistema de saúde.

Diante dessa situação, a garantia do cuidado integral, durante a pandemia, se tornou um grande desafio para a APS, como consequência da valorização do cuidado nos serviços hospitalares e detrimento das outras demandas da população55. Alves MTG. Reflexões sobre o papel da Atenção Primária à Saúde na pandemia de COVID-19. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2020;15(42):2496. https://doi.org/10.5712/rbmfc15(42)2496
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,2222. Dias EG, Ribeiro DRSV. Manejo do cuidado e a educação em saúde na atenção básica na pandemia do Coronavírus. J Nurs Health. 2020;10(4):20104020.,4343. Duarte RB, Medeiros LMF, Araújo MJAM, Cavalcante ASP, Souza EC, Alencar OM, et al. Agentes Comunitários de Saúde frente à COVID-19: vivências junto aos profissionais de enfermagem. Enferm Foco. 2020;11 (1 Nº Espec):252-6. https://doi.org/10.21675/2357-707X.2020.v11.n1.ESP.3597
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,4545. Rios AFM, Lira LSSP, Reis IM, Silva GA. Atenção Primária à Saúde frente à COVID-19: relato de experiência de um Centro de Saúde. Enferm Foco. 2020;11(1 Nº Espec):246-51. https://doi.org/10.21675/2357-707X.2020.v11.n1.ESP.3666
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. Portanto, a pandemia reafirma a necessidade do fortalecimento do protagonismo da atenção primária na organização dos serviços de saúde no SUS, como forma de garantir a otimização de gastos, redução de hospitalizações, tanto pela covid-19 quanto por outras causas sensíveis a esse nível de assistência.

No Brasil, o Ministerio da Saúde publicou manuais e portarias que orientaram como os serviços de saúde e profissionais da APS deveriam proceder, além disso, as secretarias estaduais de saúde, juntamente com o Conselho Nacional de Secretarios Estaduais de Saúde , apoiaram os gestores municipais na tomada de decisão a respeito dessa reestruturação dos serviços; porém, apesar das normativas, cada município se adequaou conforme sua realidade local, influenciado tanto por questões epidemiológicas, quanto políticas e financeiras.

O fato de a atenção primária desempenhar um papel ordenador na rede de saúde fortalece a sua importância no enfrentamento da pandemia, identificando precocemente os casos suspeitos, além de acompanhar os casos leves, identificar e encaminhar os casos graves, e contribuir na redução da sobrecarga dos serviços especializados e hospitalares, o que, consequentemente, leva à redução nos gastos públicos.

O presente estudo mostra um panorama de como os profissionais e serviços da atenção primária à saúde se organizaram para o enfrentamento da pandemia, abordando as readequações adotadas na infraestrutura e fluxos de atendimentos, como por exemplo a adoção de unidades específicas no atendimento para covid-19, separação de fluxos contaminado e não contaminado, a telemedicina como alternativa de modalidade de atendimento e monitoramento dos casos por meio de aplicativos e via telefone. Entretanto, persiste lacunas na literatura como a avaliação do impacto dessas ações e a sua efetividade na mitigação da transmissão da covid-19; análise das consequências para os usuários que tiveram seus atendimentos adiados ou reduzidos, a exemplo das DCNT, acompanhamento de puericultura, pré-natal e cobertura vacinal durante o período pandêmico.

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  • Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp - Processo 2019/21219-7). Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - Processo 402507/2020-7).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    4 Nov 2021
  • Aceito
    25 Abr 2022
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revsp@org.usp.br