ARTIGOS
A equação humana no cuidado à doença: o doente, seu cuidador e as organizações de saúde*
Ana Maria Fernandes Pitta
Professora e Pesquisadora do Depto de Medicina Preventiva da FMUSP, Pesquisadora CNPq, Assessora OPS/OMS
RESUMO
A união dos fracos talvez seja a melhor estratégia para enfrentar, de um lado, o mêdo e a desesperança dos doentes que cotidianamente buscam o cuidado que precisam; do outro lado,o espanto e vergonha com que muitos dos seus cuidadores percebem suas debilidades para fazer prevalecer, nas organizações de saúde onde atuam, um mínimo de solidariedade social que aproxime as necessidades de uns e de outros. À barbárie e desestruturação alcançada pelo nosso Sistema de Saúde impõem-se um desafio onde audácia e sabedoria serão os requisitos para nos aproximarmos, no conhecimento e nas medidas reparadoras, dos elementos de uma equação onde doentes e seus cuidadores possam introduzir um equilíbrio onde qualificação e responsabilidade pelo cuidado, sejam elementos predominantes nas organizações de saúde.Esta é uma discussão aberta, trazendo a contribuição de diferentes disciplinas e, longe de ser propositiva, pretende estabelecer uma profunda reflexão entre os diretamente interessados em preencher vazios teóricos e práticos que possam ampliar uma economia favorável à "boa prática", entre o uso dos recursos e as necessidades das pessoas, no que se refere às demandas de saúde/doença.
Palavras-chave: cuidadores, organizações de saúde, demandas de saúde/doença
SUMMARY
The union of the weak may be the strategy to face, on the one hand, the fear and hopelessness of the ill who daily seek for the care they need.lt may on the other hand be the form of facing the amazement and the shame with which many of the care providers recognize their debilities to make prevail a minimum of social solidarity in their health services so that the needs of both groups come together.The level of barbarism and structure disruption found today in our Health System poses a challenge demanding courage and wisdom to redefine the elements of an equation where the sick and the caretakers can achieve a balance in which qualification and responsability in the care predominate. This is an open discussion, with the contribution of different disciplines that rather than being propositional intends to establish a deep reflection among those interested in bridging the theoretical and practical gaps in order to stimulate the good use of the resources to meet the demands of the health/sisease process.
Key words: caretakers. health providers, health/disease process
Texto completo disponível apenas em PDF.
Full text available only in PDF format.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOURDIEU, P. A Economia das trocas simbólicas, 2ª. ed. São Paulo, Perspectiva, 1987.
CHANLAT, J.F. O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo, Atlas, 1991.
CHANLAT, J.F.C.,coord O indivíduo na organização, dimensões esquecidas. São Paulo, Atlas, 1992.
CLEGG, S. Poder, linguagem e ação nas organizações. In: Chanlat,J.F.,coord O indivíduo nas organizações. São Paulo, Atlas, 1992. p.47-66.
COFEN Força de trabalho em enfermagem. Brasília, ABEN, 1985, v.1.
COHN, A. et al A saúde como direito e como serviço. São Paulo, CEDEC/CORTEZ, 1991.
CROZIER, M. O fenômeno burocrático. Brasília, Editora Universidade de Brasilia, D.F., 1981.
DEJOURS, C. O corpo entre a biologia e a psinanálise. Porto Alegre, Artes Médica, Porto Alegre, 1988.
DONNANGELO, M.C.F. Medicina e sociedade. São Paulo, Pioneira, 1975, p.54-5.
DRUCKER, P.F. Fator humano e desempenho. São Paulo, Bib. Pioneira Adm. e Negócios, 1981.
DUMONT, L.- Essais sur I'individualisme: une perspective anthropologique sur l´ideologie humaine. Paris, Seuil, 1983.
DUSSAULT, G. A gestão dos serviços públicos de saúde. Rev. Adm. Publica, 26(2): 8-19, 1992.
FOLHA DE SÃO PAULO "Tive medo de morrer". Caderno "Ilustrada", p. 4-1; São Paulo, 30/08/93.
FOUCAULT, M.- Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Graal, 1981.
FRAIVRET, J. et al Le tertiaire éclaté: le travail sans modèle. Paris, Editons de Seuil, 1980 p. 175-9.
FREUD, S. Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância. Rio de Janeiro, Imago, 1974, v.11,p.55-124.
FREUD, S O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro, Imago, 1974. p. 91-171.
GARCIA, J.C. As ciências sociais em medicina. In: Nunes,E.D. org. Juan Cesar Garcia. São Paulo, ABRASCO/CORTEZ, São Paulo, 1989 p.62-3.
GLASER, B.F. & STRAUSS, A.L. Tyme for dying. Chicago, Aldine,1968.
GONÇALVES, R.B.M. Medicina e história, raízes sociais do trabalho médico. São Paulo, 1979. [Dissertação de Mestrado - Faculdade de Medicina da USP]
MENZIES, I. The functioning of organizations as social systems of defense against anxieties. I.H.R., 1970. Trad. Adap. Arackcy Martins Rodrigues [mimeo] .
MINTZBERG, H. Power in a around organizations. Englewood Cllifs,N. J., Prentice Hall, 1983
MORIN, E. et al Un noveaux commencement. Paris, Seuil, 1990.
NOGUEIRA, R.P. Força de trabalho em saúde. Rio de Janeiro, Textos de Apoio e Planejamento I, ABRASCO/FIOCRUZ.1987.
PITTA, A. Hospital dor e morte como oficio. 2ª. ed. Ed. HUCITEC, São Paulo, 1990.
SCHRAIBER, L.B. O médico e o seu trabalho: limites da liberdade. São Paulo, HUCITEC, 1993.
TESTA, M. El hospital. Salud, Problema y Debate, 5(9): 31-7, 1993.
WEBER, M. Economy and sociaty: an autline of interpretative sociology. Berkeley, University of California Press, 1979.
* Este texto foi originalmente preparado para a OPS-Brasil.