Saúde Global: tendências atuais

Os quatro primeiros artigos deste número referem-se ao tema da “Saúde Global”, temática de caráter multiprofissional e interdisciplinar, envolvendo o conhecimento, o ensino, a pesquisa e a prática, enfocando questões e problemas de saúde supraterritoriais que extrapolam as fronteiras nacionais, assim como seus determinantes. Suas possíveis soluções necessitam da intervenção e de acordos entre diversos atores sociais, incluindo países e governos, agências e instituições internacionais públicas e privadas. São importantes reflexões acadêmicas em um momento em que se iniciam programas de pós-graduação em Saúde Global em nosso país.

Nesse sentido, é fundamental que os diversos atores envolvidos em iniciativas de Saúde Global discutam não apenas os avanços, mas também estratégias para evitar retrocessos na área. O dossiê apresentado a seguir inclui quatro artigos com debates e/ou críticas que vão da ausência de reconhecimento do molde político nos fatores de risco à saúde até a inserção do Brasil na discussão mundial sobre Saúde Global.

O artigo “Salud global en las instituciones académicas latinoamericanas: hacia un desarrollo e identidad propia”, de Giorgio Solimano e Leonel Valdivia, apresenta os principais programas de docência e pesquisa em Saúde Global em universidades e institutos na América latina e enfoca a criação da Aliança Latino-americana de Saúde Global (ALASAG), que se constitui em uma rede de instituições acadêmicas com programas orientados ao tema. Os autores reforçam que a docência e a pesquisa dos programas de Saúde Global na região sejam orientados pela equidade no acesso da saúde, as consequências da globalização econômica, e pela liberação e proteção do comércio internacional em contraposição à proteção da saúde humana e o meio ambiente.

“Saúde Global em tempos de globalização”, de Paulo Antônio Carvalho Fortes e Helena Ribeiro, apresenta definições, conceitos, princípios, conhecimentos e práticas de Saúde Global, baseando-se em seu desenvolvimento histórico e em seu contexto contemporâneo, marcado pelo fenômeno da globalização. Esse artigo mostra a evolução do conceito de saúde internacional para o de Saúde Global, discutindo o que são problemas de Saúde Global no século XXI, caracterizado por problemas de saúde acumulados, problemas novos e problemas decorrentes de mudanças de paradigmas. Propõe uma agenda de pesquisa em Saúde Global para o presente e futuro próximo.

Em a “A saúde centrada nas pessoas” os autores, João Biehl e Adriana Petryna, demonstram a importância de uma visão global da saúde, incluindo análises de situações reais, para compreender a complexidade do estabelecimento de intervenções de saúde. A argumentação de que evidências etnográficas são essenciais para a implantação de ações de saúde global revela a fragilidade das iniciativas vigentes. A ausência da questão econômica na pauta de ações de saúde, tão bem demonstrada por meio de exemplos reais, leva os autores a propor uma série de áreas prioritárias para o ensino de Saúde Global, a partir de uma postura crítica sobre o fenômeno da globalização econômica capitalista.

Em “Saúde e desenvolvimento nos países BRICS”, de Paulo Marchiori Buss, José Roberto Ferreira e Claudia Hoirisch, são analisadas as propostas das Declarações de Chefes de Estado e o Comunicado Oficial dos Ministros da Saúde dos BRICS em relação ao desenvolvimento econômico, social e ambiental desses países. Os autores eentendem que há necessidade de maior articulação desse grupo de países e compromissos coletivos para que consigam melhorar a saúde de suas populações.

Em suma, o conjunto de artigos aqui apresentados propõe estratégias para o desenvolvimento da Saúde Global e enfatizam a importância de uma abordagem mais abrangente na definição de uma agenda política e econômica de Saúde Global.

Os demais artigos componentes deste número dedicam-se a temas importantes e diversificados: desenvolvimento sustentável; doenças crônicas não-transmissíveis; AIDS; política de saneamento básico; vigilância hídrica; medicina alternativa; aborto; laqueadura; direitos das parturientes; cuidados de idosos. Muitos desses artigos fazem parte das agendas da Saúde Global nas discussões sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que após 2015 substituirão os Objetivos do Milênio da Organização das Nações Unidas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    apr-jun 2014
Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. Associação Paulista de Saúde Pública. SP - Brazil
E-mail: saudesoc@usp.br