‘Couro no couro’: homens com práticas homossexuais e prevenção do HIV na Região Metropolitana do Recife

‘Leather on leather’: men with homosexual practices and HIV prevention in the Recife Metropolitan Region

Luís Felipe Rios Karla Galvão Adrião Amanda Albuquerque Amanda França Pereira Sobre os autores

RESUMO

O texto aborda as práticas sexuais e a prevenção do HIV nos circuitos de Homens que fazem Sexo com Homens (HSH) da Região Metropolitana do Recife, embasados em inquérito comportamental com 380 HSH de idade de 18 a 51 anos, e entrevistas com 20 dos respondentes. Os dados analisados foram coletados entre janeiro de 2016 e fevereiro de 2017, quando a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ainda não estava disponível e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) era pouco conhecida (51,8%) e utilizada (1,3%). O Sexo Anal Desprotegido (SAD) (50,6% em parcerias fixas, 30,2% em casuais) ocorria, geralmente, com parceiros presumidamente negativos para HIV. As sorologias eram inferidas pelos vínculos (estranho, conhecido, amigo, namorado). As emoções (medo, tesão, amor, confiança, nojo, carência) eram importantes na configuração do SAD, normalmente articuladas às vinculações. Observaram-se regimes de prazer dissidentes da heteronormatividade: boca-ânus e boca-pênis; sexo a três e em grupo. Considerando a forte presença de SAD e a alta prevalência de HIV em Recife (21,5%), constatou-se a necessidade de ações educativas que apresentem técnicas da prevenção combinada (camisinha, PrEP, PEP, soroescolha, segurança negociada etc.) mediante narrativas que incorporem vínculos, emoções e regimes de prazer dissidentes, para que, ao se aproximarem dos contextos de usos, possibilitem escolhas mais seguras.

PALAVRAS-CHAVE
HSH; HIV/Aids; Práticas sexuais; Vulnerabilidade; Prevenção; Prevenção combinada

ABSTRACT

In this text we address sexual practices and HIV prevention in the circuits of men who have sex with men (MSM) in the Metropolitan Region of Recife (RMR), based on a behavioral survey with 380 MSM, aged between 18 and 51 years, and interviews with 20 of the respondents. The analyzed data were collected between January 2016 and February 2017, when Pre-Exposure Prophylaxis (PrEP) was not yet available and Post-Exposure Prophylaxis (PEP) was little known (51%) and used (1.3%). Unprotected Anal Sex (UAS) (50.6% in steady partners, 30.2% in casual partners) generally occurred between partners who were presumed to be HIV-negative. Serologies were inferred by ties (stranger, acquaintance, friend, boyfriend). Emotions (fear, lust, love, trust, disgust, neediness) were important in UAS configuration, almost always linked to attachments. We observed dissident pleasure regimes of heteronormativity: mouth-anus and mouth-penis; threesome and group sex. Considering the strong presence of UAS and the high prevalence of HIV in Recife (21.5%), we found the need for educational actions that introduce combined prevention techniques (condoms, PrEP, PEP, serochoice, negotiated safety etc.) through narratives that incorporate dissident bonds, emotions, and pleasure regimes, so that, when approaching the contexts of use, they enable safer choices.

KEYWORDS
MSM; HIV/AIDS; Sexual practices; Vulnerabilities; Prevention; Combined prevention

Introdução

Neste texto, abordamos questões em torno da conduta sexual de Homens que fazem Sexo com Homens (HSH), integrantes de circuitos de homossociabilidade da Região Metropolitana do Recife (RMR), na perspectiva de contribuir para a prevenção do HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).

A categoria populacional HSH permanece entre as mais afetadas pelo HIV no mundo11 Baggaley RR, White MB. HIV transmission risk through anal intercourse: systematic review, meta analysis and implications for HIV prevention. Int J Epidemiol. 2010; 39(4):1048-63.,22 Beyrer CS, Baral F, Griensven S, et al. Global epidemiology of HIV infection in men who have sex with men. Lancet. 2012; 380(9839):367-77.. No Brasil, ao longo de 40 anos de epidemia, esforços foram feitos para o enfrentamento dessa questão, os quais envolveram a participação conjunta de pesquisadores, sociedade civil e governos em ações comunitárias de prevenção para os HSH e para a desestigmatização das homossexualidades na sociedade; no acesso a preservativos e à testagem para a população geral e a terapias antirretrovirais para as Pessoas Vivendo com HIV (PVH)33 Brasil. Ministério da Saúde. Novos desafios da prevenção da epidemia pelo HIV/AIDS junto aos homens que fazem sexo com homens. Brasília, DF: MS; 2002.,44 Berkman A, Garcia J, Muñoz-Laboy M, et al. A Critical Analysis of the Brazilian Response to HIV/AIDS: Lessons Learned for Controlling and Mitigating the Epidemic in Developing Countries. Am J Public Health. 2005; (95):1162-1172..

Nos últimos dez anos, acompanhando o retrocesso moralista sobre sexualidade e gênero na vida social brasileira55 Ferraz D, Paiva V. Sex, human rights and aids: an analysis of new technologies for HIV prevention in the Brazilian context. Rev Bras Epidemiol. 2015 [acesso em 2022 dez 16]; 18(supl1):89-103. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbepid/a/TRFLXnFqfpVFzj3xdBKPDLg/?lang=en.
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,66 Paiva V, Antunes MC, Sanchez MN. O direito à prevenção da AIDS em tempos de retrocesso: religiosidade e sexualidade na escola. Interface – Comun., Saúde, Educ. 2020 [acesso em 2022 mar 15]; (24):e180625. Disponível em: https://doi.org/10.1590/Interface.180625.
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,77 Franch M, Rios LF. O direito à prevenção da Aids: nas escolas, nos serviços de saúde e alhures. Interface – Comun. Saúde, Educ. 2020 [acesso em 2022 mar 15]; (24):e190750. Disponível em: https://doi.org/10.1590/Interface.190750.
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,88 Mora CM, Maksud I. Juventude, sexualidade, religião: questões atuais de pesquisa no campo do HIV/Aids. Interface – Comun. Saúde, Educ. 2020 [acesso em 2022 mar 15]; (24):e190751. Disponível em: https://doi.org/10.1590/Interface.190751.
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e em afinidade com a política global de HIV/Aids99 Unaids. 90-90-90: an ambitious treatment target to help end the AIDS epidemic. Geneva: Unaids; 2014., houve uma guinada rumo a uma prevenção de cunho mais medicamentoso e individualista, apresentada sob o guarda-chuva da Prevenção Combinada1010 Lermen HS, Mora C, Neves ALM, et al. AIDS em cartazes: representações sobre sexualidade e prevenção da Aids nas campanhas de 1º de dezembro no Brasil (2013-2017). Interface – Comun. Saúde, Educ. 2020 [acesso em 2022 mar 15]; (24):e180626. Disponível em: https://doi.org/10.1590/Interface.180626.
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. Os recursos para o enfrentamento da epidemia foram, em sua maior parte, destinados para as estratégias de Tratamento como Prevenção (TcP) articuladas à ideia de ‘Testar e Tratar’1111 Maksud I, Fernandes NM, Filgueiras SL. Technologies for HIV prevention and care: challenges for health services. Rev Bras. Epidem. 2015 [acesso em 2022 mar 15]; 18(supl1):104-119. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1809-4503201500050008.
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,1212 Parker R. O fim da Aids? Rio de Janeiro: ABIA; 2015.,1313 Rios LF, Albuquerque A, Santana W, et al. O drama do sexo desprotegido: estilizações corporais e emoções na gestão de risco para HIV entre homens que fazem sexo com homens. Sex Salud Soc. 2019 [acesso em 2022 mar 15]; (32):65-89. Disponivel em: https://doi.org/10.1590/19846487.sess.2019.32.05.a.
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Houve quase que um completo abandono daquilo que produziu o êxito da resposta brasileira dos anos de 1990 e 2000, ou seja, a dialogia e a participação comunitária nos processos de educação em saúde para mobilizar as mudanças necessárias com vistas a barrar o vírus nos organismos e na sociedade55 Ferraz D, Paiva V. Sex, human rights and aids: an analysis of new technologies for HIV prevention in the Brazilian context. Rev Bras Epidemiol. 2015 [acesso em 2022 dez 16]; 18(supl1):89-103. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbepid/a/TRFLXnFqfpVFzj3xdBKPDLg/?lang=en.
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,66 Paiva V, Antunes MC, Sanchez MN. O direito à prevenção da AIDS em tempos de retrocesso: religiosidade e sexualidade na escola. Interface – Comun., Saúde, Educ. 2020 [acesso em 2022 mar 15]; (24):e180625. Disponível em: https://doi.org/10.1590/Interface.180625.
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,1414 Seffner F, Parker R. The waste of experience and precariousness of life: contemporary political moment of the Brazilian response to AIDS. Interface – Comun. Saúde, Educ. 2016 [acesso em 2022 mar 15]; 20(57):293-304. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0459.
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Em 2012, enquanto a prevalência do HIV estimada para a população geral era de 0,6% (0,8% para homens)1515 Brasil. Ministério da Saúde. Relatório de progresso da resposta brasileira ao HIV/AIDS (2010-2011) – UNGASS. Brasília, DF: MS; 2012., estudo de 2008/2009 mostrava que a prevalência para HSH variou de 5,2% (Recife) a 23,4% (Brasília), com média de 14,2%1616 Kerr L, Mota R, Kendall C, et al. HIV among MSM in a large middle-income country. AIDS. 2013; (27):427-435.. Acompanhando o vácuo da prevenção, a prevalência cresceu. Estudo realizado em 2016 evidenciou que, no Recife, a prevalência saltou para 21,5%1717 Kerr L, Kendall C, Guimarães M, et al. HIV Prevalence among Men Who Have Sex with Men in Brazil: Results of the 2nd National Survey Using Respondent-driven Sampling. Medicine. 2018; 97(1S):9-15..

Para compreender esse contexto, é importante investigar os motivos de uso/não uso das práticas preventivas chanceladas pela saúde pública, bem como a ocorrência de práticas alternativas de gerenciamento de risco, aquilo que a literatura denomina de soroadaptativas55 Ferraz D, Paiva V. Sex, human rights and aids: an analysis of new technologies for HIV prevention in the Brazilian context. Rev Bras Epidemiol. 2015 [acesso em 2022 dez 16]; 18(supl1):89-103. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbepid/a/TRFLXnFqfpVFzj3xdBKPDLg/?lang=en.
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,1818 Rios LF. Sexualidade e prevenção entre homens que fazem sexo com homens nos contextos das pandemias de AIDS e da Covid-19. Ciênc. Saúde Colet. 2021 [acesso em 2022 mar 15]; 26(5):1853-1862. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-81232021265.00482021.
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,1919 Nodin N, Leal I, Carballo-diéguez A. HIV knowledge and related sexual practices among Portuguese men who have sex with men. Cad. Saúde Pública. 2014; 30(11):2423-2432.. Elas estão relacionadas com a saturação do preservativo como medida de proteção, com a disseminação de conhecimentos sobre a transmissão do vírus e com as evidências sobre o sucesso de tecnologias biomédicas no tratamento e na prevenção. As modalidades mais recorrentes são o coito interrompido, o soroposicionamento (sexo anal insertivo ou receptivo em função da sorologia do parceiro) e a soroescolha (seleção de parceiros sexuais de mesma sorologia)2020 The global forum on MSM. Serosorting and Strategic Positioning. 2013 [acesso em 2022 mar 15]. Disponível em: https://goo.gl/w6jBQ8.
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,2121 Terto Jr. V. Diferentes prevenções geram diferentes escolhas? Reflexões para a prevenção de HIV/Aids em homens que fazem sexo com homens e outras populações vulneráveis. Rev. bras. Epidemiol. 2015; 18(supl1):156-168.,2222 Silva LA, Iriart J. Práticas e sentidos do barebacking entre homens que vivem com HIV e fazem sexo com homens. Interface – Comun. Saúde, Educ. 2010; 14(35):739-752.,2323 De Luiz G. The use of scientific argumentation in choosing risky lifestyles within the scenario of AIDS. Interface – Comun. Saúde, Educ. 2013; 17(47):789-802.,2424 Eaton L, Kalichman SC, O´Connell DA, et al. A strategy for selecting sexual partners believed to pose little/no risks for HIV: Serosorting and its implications for HIV transmission. AIDS Care. 2009; 21(10):1279-1288.,2525 Grace D, Chown SA, Jollimore J, et al. HIV-negative gay men’s accounts of using contextdependent seroadaptive strategies. Cult Health Sex. 2014; 16(3):316-330.,2626 Meng X, Zou H, Fan S, et al. Relative Risk for HIV Infection Among Men Who Have Sex with Men Engaging in Different Roles in Anal Sex: A Systematic Review and Meta-analysis on Global Data. Aids Behav. 2015; 19(5):882-889.,2727 Dangerfield DT, Smith LR, Williams J, et al. Sexual Positioning among Men Who Have Sex With Men: A Narrative Review. Arch Sex Behav. 2017, 46(4):869-884..

Ainda que os regimes eróticos das culturas das redes de HSH tenham sido bastante investigados pelas pesquisas qualitativas2828 Rios LF. Homens jovens com práticas homossexuais e epidemia do HIV/aids: por uma re-erotização da prevenção. In: Neves A, Therense M, organizadores. Hiv/Aids, gênero e sexualidade: políticas e práticas de prevenção, testagem e aconselhamento. Manaus: Editora UEA; 2018. p. 24-58. [acesso em 2022 mar 15]. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/331071151_HOMENS_JOVENS_COM_PRATICAS_HOMOSSEXUAIS_E_EPIDEMIA_DO_HIVaids_por_uma_re-erotizacao_da_prevencao.
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, são pouco explorados em inquéritos comportamentais1616 Kerr L, Mota R, Kendall C, et al. HIV among MSM in a large middle-income country. AIDS. 2013; (27):427-435.,1717 Kerr L, Kendall C, Guimarães M, et al. HIV Prevalence among Men Who Have Sex with Men in Brazil: Results of the 2nd National Survey Using Respondent-driven Sampling. Medicine. 2018; 97(1S):9-15.,2929 Rocha G, Kerr L, Brito A, et al. Unprotected Receptive Anal Intercourse Among Men Who have Sex with Men in Brazil. AIDS Behav. 2013; (17):1288-1295.,3030 Magno L, Dourado I, Silva L A et al. Factors associated with self-reported discrimination against men who have sex with men in Brazil. Rev. Saúde Pública. 2017 [acesso em 2022 mar 15]; (51):102. Disponível em: https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2017051000016.
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,3131 Sousa AF, Oliveira LB, Queiroz AA, et al. Casual Sex among Men Who Have Sex with Men (MSM) during the Period of Sheltering in Place to Prevent the Spread of COVID-19. International Journal of Environmental Research and Public Health. 2021 [acesso em 2022 mar 15]; 18(6):3266. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/003024750.
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. Estes não dão a devida importância ao modo como o ‘ânus’ é ‘encantado’ em ‘cu’, restringindo-se quase sempre a registrar a sua interação comportamental com o pênis, dada a sua importância na transmissão do HIV entre HSH – praticantes de Sexo Anal Receptivo (SAR) e de Sexo Anal Receptivo e Insertivo (Sari) possuem, respectivamente, 1,8 e 2,2 vezes maior prevalência para a infecção pelo HIV que os praticantes de Sexo Anal Insertivo (SAI)2626 Meng X, Zou H, Fan S, et al. Relative Risk for HIV Infection Among Men Who Have Sex with Men Engaging in Different Roles in Anal Sex: A Systematic Review and Meta-analysis on Global Data. Aids Behav. 2015; 19(5):882-889..

Neste artigo, exploramos as práticas soroadaptativas por meio dos resultados de um inquérito comportamental e de entrevistas de aprofundamento com alguns dos respondentes. Também, discutimos as parcerias e as práticas sexuais que são importantes para o delineamento de ações preventivas voltadas a essa população, mas que, por atualizarem práticas dissidentes da heteronormatividade3232 Warner M. Introduction: Fear of a Queer Planet. Social Text. 1991; (29):3-17., são quase sempre desconsideradas.

Metodologia

Com viés etnográfico, a pesquisa que originou os dados aqui analisados ocorreu na RMR, em várias fases, que envolveram: observação participante em espaços de homossociabilidade (2013-2021); 25 entrevistas com enfoque biográfico (realizadas em 2015); inquérito comportamental viabilizado pela aplicação de 380 questionários (realizado entre janeiro de 2016 e fevereiro de 2017); 20 entrevistas temáticas com respondentes do inquérito (realizadas entre junho de 2016 e fevereiro de 2017); e 38 entrevistas com enfoque biográfico (realizadas entre março de 2019 e dezembro 2021). Para este artigo, focamos na análise do inquérito comportamental e das entrevistas temáticas realizadas, que contou com a participação de HSH de idades variando de 18 a 51 anos3333 Rios LF, Adrião KG. Sobre descrições, retificações e objetividade científica: reflexões metodológicas a partir de uma pesquisa sobre condutas sexuais e HIV/aids entre homens com práticas homossexuais. Saúde e Soc. 2022 [acesso em 2022 mar 15]; 31(1):e210427. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-12902022210427.
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O inquérito investigou conhecimentos, atitudes e práticas relacionadas com sexualidade, HIV/Aids, outras IST e violência. A amostra foi produzida pela técnica da referência em cadeia3434 Valente T. Social networks and health: Models, methods, and applications Oxford: Oxford University Press; 2010., utilizada para acessar populações de difícil acesso que compõem redes de relações comunitárias3535 Magnani R, Sabin K, Saidel T, et al. Review of sampling hard-to-reach and hidden populations for HIV surveillance. AIDS. 2005; 19(supl2):S67-72.. Para garantir a heterogeneidade da amostra, esta foi iniciada por residentes em 6 dos 14 municípios na RMR, que estavam entre os 10 com maiores taxas de Aids da região Nordeste3636 Brasil. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico -Aids e DST. Brasília, DF: MS; 2013.. Foram formadas dez cadeias de HSH, em que um entrevistado inicial indicava outros interlocutores (máximo de sete) e assim sucessivamente. O inquérito foi aplicado por jovens homens estudantes de graduação em ciências humanas ou da saúde. A marcação de sexo-gênero ( homens) dos entrevistadores objetivou facilitar o rapport e a produção das cadeias de respondentes3333 Rios LF, Adrião KG. Sobre descrições, retificações e objetividade científica: reflexões metodológicas a partir de uma pesquisa sobre condutas sexuais e HIV/aids entre homens com práticas homossexuais. Saúde e Soc. 2022 [acesso em 2022 mar 15]; 31(1):e210427. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-12902022210427.
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As análises estatísticas descritivas foram produzidas pelo programa SPSS.21 e abordaram: os dados sociodemográficos e descritores sobre estilização de gênero e posições sexuais (tabela 1.1); práticas de Sexo Anal Desprotegido (SAD) com parceiros fixos e parceiros ocasionais nos seis meses anteriores à aplicação dos questionários (tabela 1.2); uso da camisinha (tabela 1.3), testagem anti-HIV (tabela 1.4); descritores sobre motivações e contextos (questão de múltiplas alternativas de resposta) da última cena de SAD (tabela 2); práticas sexuais já realizadas (questão de múltiplas alternativas de resposta) (gráfico 1); prazer nas práticas sexuais (gráfico 2). A questão que originou o gráfico 2 consistiu em uma questão com cinco alternativas de resposta para cada prática sexual mencionada pelo entrevistador (1. desprazeroso; 2. pouco prazeroso; 3. prazeroso; 4. muito prazeroso; 5. extremamente prazeroso; 99. não quero responder). Na análise, estas foram dicotomizadas em desprazeroso, 1 e 2; e prazeroso, 3, 4 e 5. As alternativas ofertadas para as respostas nos dois últimos temas foram construídas a partir da nossa experiência etnográfica.

Gráfico 1
Práticas sexuais realizadas alguma vez na vida (%)

Gráfico 2
Prazer/desprazer em práticas sexuais (%)

Tabela 1
Perfil sociodemográfico, uso da camisinha no sexo anal e testagem para HIV
Tabela 2
Descritores da cena de SAD por modalidades de parcerias

Foram entrevistados 20 dos 380 respondentes ao questionário, de modo a aprofundar os modos como lidam com a prevenção do HIV, recolocando em discussão alguns padrões interacionais identificados na primeira onda de entrevistas1313 Rios LF, Albuquerque A, Santana W, et al. O drama do sexo desprotegido: estilizações corporais e emoções na gestão de risco para HIV entre homens que fazem sexo com homens. Sex Salud Soc. 2019 [acesso em 2022 mar 15]; (32):65-89. Disponivel em: https://doi.org/10.1590/19846487.sess.2019.32.05.a.
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. Entrevistamos pessoas que se mostraram interessadas a dar mais uma contribuição para a pesquisa. Para garantir o sigilo e o anonimato, utilizamos nomes fictícios para nos referirmos a eles (quadro 1). Como as vinculações dos respondentes com a pesquisa já haviam sido formadas, as entrevistas foram conduzidas por jovens mulheres, estudantes de graduação em psicologia. Nas pesquisas sobre sexualidade, o sexo-gênero dos/as pesquisadores/ as, especialmente os/as responsáveis pela coleta, interferem na produção dos dados. É possível que alguns voluntários da pesquisa tenham desistido de participar da segunda etapa ao saber que seriam entrevistados por uma mulher. Do mesmo modo, entrevistados podem descrever diferencialmente eventos de seus cursos de vida sexual em função do sexo-gênero dos entrevistadores. Assim, informar a organização da repartição das funções na coleta por sexo-gênero, de uma equipe composta por homens e mulheres, ajuda a melhor situar o leitor sobre a qualidade dos dados3333 Rios LF, Adrião KG. Sobre descrições, retificações e objetividade científica: reflexões metodológicas a partir de uma pesquisa sobre condutas sexuais e HIV/aids entre homens com práticas homossexuais. Saúde e Soc. 2022 [acesso em 2022 mar 15]; 31(1):e210427. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-12902022210427.
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. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da universidade de filiação dos autores.

Quadro 1
Caracterização sociodemográfica dos interlocutores das entrevistas

Resultados e discussão

O perfil sociodemográfico dos respondentes do inquérito mostra que a maioria era composta por homens negros (65,5%) e sem religião (59,9%). A idade variou de 18 a 51 anos (média de 24 anos). Muitos estavam desempregados (46,7%), mas a escolaridade era alta: 64,7% afirmaram ter o curso superior (completo ou incompleto). Estar estudando, em treinamento ou realizando estágio (71,6%) foi o principal motivo para não trabalhar. A renda média individual foi de R$ 1.234,80. A maior parte dos que estavam trabalhando recebia entre um e dois salários mínimos (41,3%). Do total de respondentes, 65% não tinham namorado ou não viviam com alguém na ocasião da entrevista. Em relação ao estilo corporal de gênero, 31,8% se declararam efeminados; 23,3%, másculos; e 44,9% disseram que ‘não sabiam’ se classificar. Em relação à posição sexual, 83,5% eram de versáteis (incluindo mais passivos e mais ativos); 8,5%, de exclusivamente ativos; e 8,0%, de exclusivamente passivos (tabela 1.1).

A gestão alternativa do risco para o HIV

Dos 380 participantes do inquérito, 56,7% (223) realizaram sexo anal com parceiro fixo, e 62% (235), com parceiro casual nos seis meses anteriores à entrevista (tabela 1.2). O SAD foi relatado por 56,6% dos respondentes com parceiros fixos. No caso das parcerias ocasionais, o SAD foi relatado por 30,2% (tabela 1.3). Já fizeram o teste anti-HIV 75,3% dos respondentes, a grande maioria dos que se testaram (81,6%) o fizeram a menos de um ano e meio. Uma boa parte relatou que se testou por curiosidade (34,4%); 18,1%, por ter transado com parceiros casuais; e 7,2%, por questões relacionadas com parceiro fixo (ter pedido, traição ou fim do relacionamento). Dos que se testaram, 1,4% (4) tiveram resultado positivo (tabela 1.4).

Convém lembrar que, no período de realização da pesquisa, a camisinha ainda era a grande protagonista da prevenção individual para HSH. O teste, embora incorporado nas campanhas como medida protetiva, não possui efeito protetivo individual imediato; ainda que, quando articulado ao tratamento, contribui para a prevenção coletiva1010 Lermen HS, Mora C, Neves ALM, et al. AIDS em cartazes: representações sobre sexualidade e prevenção da Aids nas campanhas de 1º de dezembro no Brasil (2013-2017). Interface – Comun. Saúde, Educ. 2020 [acesso em 2022 mar 15]; (24):e180626. Disponível em: https://doi.org/10.1590/Interface.180626.
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,1313 Rios LF, Albuquerque A, Santana W, et al. O drama do sexo desprotegido: estilizações corporais e emoções na gestão de risco para HIV entre homens que fazem sexo com homens. Sex Salud Soc. 2019 [acesso em 2022 mar 15]; (32):65-89. Disponivel em: https://doi.org/10.1590/19846487.sess.2019.32.05.a.
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. Apenas no final de 2017 a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) entrou no ‘cardápio’ da prevenção combinada3737 Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes para a organização dos serviços de saúde que ofertam a profilaxia pré-exposição sexual ao HIV (PrEP) no Sistema Único de Saúde. Brasília, DF: MS; 2017.. A Profilaxia Pós-Exposição (PEP) para casos de infecção em interação sexual consentida, ainda que já disponível nos serviços de saúde gratuitamente desde 2010, era pouco conhecida e utilizada1111 Maksud I, Fernandes NM, Filgueiras SL. Technologies for HIV prevention and care: challenges for health services. Rev Bras. Epidem. 2015 [acesso em 2022 mar 15]; 18(supl1):104-119. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1809-4503201500050008.
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,1313 Rios LF, Albuquerque A, Santana W, et al. O drama do sexo desprotegido: estilizações corporais e emoções na gestão de risco para HIV entre homens que fazem sexo com homens. Sex Salud Soc. 2019 [acesso em 2022 mar 15]; (32):65-89. Disponivel em: https://doi.org/10.1590/19846487.sess.2019.32.05.a.
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. Como mostram os resultados do inquérito, apenas 51,8% apresentaram conhecimento adequado sobre PEP; 38,9%, sobre o TcP; e 16,6%, sobre PrEP. Em um contexto marcado pelo SAD, e de alta prevalência para o HIV1717 Kerr L, Kendall C, Guimarães M, et al. HIV Prevalence among Men Who Have Sex with Men in Brazil: Results of the 2nd National Survey Using Respondent-driven Sampling. Medicine. 2018; 97(1S):9-15., apenas 1,3% dos HSH (5) afirmaram já ter recorrido à PEP quando realizaram sexo inseguro.

A HISTÓRIA DE PAULO

Paulo (23 anos, negro, versátil) foi um dos quatro respondentes que declararam ser PVH. O diagnóstico ocorreu há um ano da realização da entrevista, quando fez uma série de exames para ingressar em um curso de cozinheiro. Tão logo teve o diagnóstico, iniciou o tratamento. Ele comentou que

[...] em menos de cinco meses meu vírus zerou. Ele já está em uma cápsula, só Deus sabe que danado é isso, que só os médicos entendem. Mas o remédio controlou o vírus e ele sumiu.

Comentou ainda que o processo para fazer a carga viral baixar não foi fácil:

Eu comecei a tomar um medicamento muito forte, que eu ficava vendo coisa, piscando [...] um sono muito desgraçado. [...] E eu muito louca, dava crise de riso, depois eu chorava. É uma coisa que mexe muito com o emocional. [...] Eu pensava que ia tomar milhões de remédios, mas tomei só um. Só que esse remédio eu deixei de tomar, ele estava me dando convulsão, aí eu já mudei para o outro.

Relatou que, depois que descobriu ser PVH, só transa com preservativo: “Foi com [...] os dois de aplicativo. [Aham.] E pronto, só essas duas vezes que eu lembro. E com Junior, né? Agora, que é meu companheiro”.

Eles se conheceram no Facebook. Dois ou três dias depois, combinaram de se encontrar no curso de cozinha. Já no primeiro encontro presencial, contou sobre sua condição sorológica. Havia passado por várias situações de estigmatização por amigos e não queria se envolver afetivamente com uma pessoa para, depois da revelação, ser abandonado.

Aí eu contei tudo a Junior e ele olhou pra mim, me abraçou, chorando. Disse que me admirava muito, que eu sou um homem muito forte e corajoso de dizer tudo a ele no primeiro encontro. E que ele jamais iria dizer ‘não’ a mim.

Paulo associou a aceitação ao fato de o namorado já ter tido relacionamento com outra PVH.

E ele disse que já se envolveu com uma pessoa [...] que toda vez que ele tinha relação sexual nunca penetrava e o rapaz nunca ejaculava. Só ele que ejaculava. [...] E depois de oito meses de relacionamento que o rapaz disse a ele que tinha HIV.

Antes do diagnóstico, Paulo era, nos termos dele, uma “cachorra” – imagem que remete às cadelas de rua no cio e múltiplos parceiros tentando a cópula. “Eu nem ligava, eu fodia, ‘vamos transar? bora!’ Eu transava, metia em um, e eu, se tivesse uma orgia, eu metia em um, metia em outro”. Preservativo não fazia parte de seu cardápio sexual. O não uso estava relacionado “ao trabalho de botar a camisinha. Porque eu não suporto colocar camisinha. Então isso atrapalhava. Quando você está fazendo com tesão, aquela coisa toda...”.

Nos tempos em que ele não sabia ser PVH, a camisinha só entrava na cena sexual quando um parceiro solicitava ou por “nojo” de se melar:

O último sem camisinha que eu fiz foi esse menino, que eu pensava que eu ia ficar com ele para o resto da vida, mas não foi. [...] fui lá pra divisa de Alagoas, onde ele mora. [...] Bem longe [...], a pessoa viça, viça mesmo, pra macho. [...] Passamos o dia juntos no motel, a gente transou com e sem camisinha. Eu botei camisinha primeiro porque eu estava com nojo da chuca [lavagem intestinal], de me melar de, de fezes e tal. [Aham.] Mas depois eu fui com, com, sem camisinha mesmo na terceira vez. [...] E ele também penetrou em mim sem camisinha, foi aquela cachorrada toda.

CENAS DO SEXO DESPROTEGIDO

Paulo parece ser aquela exceção que permite a compreensão das regras, porque uma primeira leitura de sua narrativa nos leva a pensar que antes de saber ser portador do HIV não fazia diferença entre parceiros fixos e casuais na disposição para o uso do preservativo masculino. A grande maioria de nossos interlocutores tende a tirar a camisinha com alguém que conhece, em uma ordem em que o SAD é mais recorrente com parceiros fixos, amigos e conhecidos1313 Rios LF, Albuquerque A, Santana W, et al. O drama do sexo desprotegido: estilizações corporais e emoções na gestão de risco para HIV entre homens que fazem sexo com homens. Sex Salud Soc. 2019 [acesso em 2022 mar 15]; (32):65-89. Disponivel em: https://doi.org/10.1590/19846487.sess.2019.32.05.a.
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,1818 Rios LF. Sexualidade e prevenção entre homens que fazem sexo com homens nos contextos das pandemias de AIDS e da Covid-19. Ciênc. Saúde Colet. 2021 [acesso em 2022 mar 15]; 26(5):1853-1862. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-81232021265.00482021.
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.

Juliano (21 anos, branco, versátil mais ativo) disse que sempre usa, mas imediatamente pondera: “na medida do possível que estou sóbrio”. Ele prosseguiu relativizando:

[...] não com parceiros fixos. Com parceiros fixos, como só tive um, eu não usava camisinha, até acabar e ficar nas recaídas. A partir das recaídas, às vezes era com camisinha, às vezes era sem, dependia do momento.

Roberto (20 anos, negro, versátil), Luís (22 anos, negro, versátil) e Davi (18 anos, branco, versátil) também exemplificaram o SAD com parceiros fixos, recorrendo a enredos vividos com ex-namorados. Roberto contou que, por ser da área de saúde, tinha mais possibilidade de realizar a testagem e convenceu o namorado a fazerem periodicamente. “O meu último foi em dezembro do ano passado, de 2016 [...] e ele também fez”. Mesmo com o namoro estando estremecido, os dois continuaram se testando juntos e transando sem camisinha eventualmente.

Luís e Davi falaram da confiança que tinham nos ex-namorados, que também passava pelo fato de eles e dos parceiros realizarem juntos os cuidados de saúde sexual:

Nós sempre nos preservamos juntos, a gente faz exame, a gente vai a médico. [Entendi.] Então, eu confio muito nele e vice-versa. [Vocês passaram quanto tempo juntos?] A gente passou um ano e dois meses. [...]. (Luís).

Com meu ex, a gente não usava tanto por questões do tipo, eu não sei colocar camisinha [risos]. Então, a gente não usava muito. Mas eu sempre buscava ter cuidado tipo, ele ia para o urologista pra saber se tinha alguma doença, fazia todas as precauções necessárias porque eu confiava nele e ele confiava em mim. Então tipo, a gente já tinha estabelecido essa relação, a gente já sabia que tipo, não oferecia nenhum risco. Mas, pouco tempo depois de terminar com ele eu peguei uma infecção no meu pênis [...]. Depois da infecção eu disse ‘eu não vou transar sem camisinha’. (Davi).

Juliano, o mesmo que disse usar camisinha quando está sóbrio, e que não a usava com o ex-namorado, justificou, também pela confiança, ter tido mais uma cena de SAD, dessa vez com um amigo de faculdade. Eles não chegaram a se testar antes, como relataram ter feito Roberto, Davi e Luís. O argumento de Juliano era o de que o parceiro era virgem – assim diziam integrantes da rede de relações comum aos dois. Acompanhemos o relato:

[...] a questão de [a camisinha] incomodar e tal e eu confiava no cara, [...] e quando ele cedeu pra ficar comigo e daí eu digo não, não vou fazer no primeiro momento, na primeira dele, eu não vou transar com camisinha com ele e tal.

Humberto (19 anos, negro, versátil mais passivo) conheceu o amigo de um amigo em uma festa universitária. Relatou que não queria realizar o SAD, “mas aí ele foi conversando comigo e tal, e num momento lá e no auge, né? Do negócio, eu acho que me liberei mais assim, né? E aconteceu”. Mais adiante, durante a entrevista, ele disse que, até aquele momento (a transa foi em 2013), não fez o teste por “morrer de medo do resultado”.

Durval (24 anos, indígena, versátil) teve um relacionamento aberto.

A gente tem um acordo de se preocupar não só com a própria saúde, que é importante, mas com a do outro. [...] [Tu sempre transas com camisinha?] Com ele não, a gente fez exame, a gente transa sem camisinha.

Luís, que como Juliano também transou com um amigo, contou que a penúltima vez na qual teve sexo anal “foi com camisinha porque a gente só tinha contato na faculdade, eu não conhecia ele, a vida sexual dele nem vice-versa”. Márcio (21 anos, negro, versátil mais ativo) disse que não transa com ninguém sem camisinha, seja qual for a vinculação. Ele tem muito medo do HIV e da Aids.

Os dados do inquérito são sintonizados com as modalidades de experiências de SAD mais relatadas nas entrevistas. Ser praticante de barebacking (definido como sexo sem camisinha como uma decisão intencional dos parceiros)2222 Silva LA, Iriart J. Práticas e sentidos do barebacking entre homens que vivem com HIV e fazem sexo com homens. Interface – Comun. Saúde, Educ. 2010; 14(35):739-752. foi a explicação para um quarto dos que realizaram SAD com parceiros fixos, denotando, como nos casos acima relatados, que os parceiros ‘sabiam o que faziam’ quando o SAD acontecia. Em adição, um grande percentual (45,4%) respondeu saber que o parceiro possuía resultado negativo para o HIV.

Ainda no que se refere às parcerias fixas, a tabela 2 mostra que confiança (76,2%), fidelidade (46,9%), tesão (56,6%), apaixonamento (32,3%) e amor (32,3%) foram as emoções que justificaram a última cena de SAD, e, também, as mais presentes entre os nossos interlocutores das entrevistas. Gozar fora foi uma medida preventiva que aconteceu com cerca de 41% dos respondentes – e lembrou as interações sexuais vividas por Júnior, namorado de Paulo, com o ex que era PVH. Foi relatado por metade desse agrupamento não ter sido a primeira vez que transou sem camisinha com o mesmo parceiro. No que se refere às posições sexuais, 30% relataram serem exclusivamente ativos; 30,8%, exclusivamente passivos; e 23,1%, versáteis.

Nas cenas de SAD com parceiros casuais, estas tenderam a ser com conhecidos (58,8%) e amigos (35,7%). Tesão (51,4%) e confiança (35,7%) foram as principais emoções que motivaram o SAD. Também, para esse grupo, gozar fora foi uma medida preventiva muito recorrente (41%). Em acordo com o chiste de Juliano e a cena pós-festa relatada por Humberto, estar sobre o efeito de álcool e outras drogas (28,6%) e não ter camisinha (27,7%) na cena da interação foram motivos bastante presentes entre os praticantes de SAD com parceiros casuais. No que se refere às posições sexuais, 22,9% relataram ser exclusivamente ativos; 32,9%, exclusivamente passivos; e 20%, versáteis (tabela 2).

Luís mencionou ter se arrependido de uma transa sem camisinha com um rapaz que conheceu em um aplicativo e disse que, logo em seguida, foi fazer o exame. Ele prosseguiu:

Teve outras, mas não foi sexo propriamente dito, né? Eu tive uma com meu melhor amigo já, [...] mas não teve penetração, só foi o sexo oral mesmo. [...] Fiz um com a minha amiga quando eu estava muito bêbada, que também foi sem camisinha, mas ela toma remédio, ela se cuida. (Luís).

Ele disse que costumava se testar regularmente. Nos momentos em que transa sem camisinha e ‘bate o desespero’, ele relatou que procura o seu pai, médico. Este, por sua vez, o encaminha para um amigo de profissão, que solicita a testagem. A entrevistadora questionou se ele conhece a PEP. Ele respondeu que não. Chama atenção, aqui nesse relato, a falta de conhecimento, não apenas do rapaz, mas dos médicos, uma vez que, diferentemente da PEP que tem eficácia de impedir a infecção, a testagem apenas apazigua o medo.

VÍNCULOS E EMOÇÕES

As narrativas de nossos interlocutores e a descrição de vínculos e emoções da cena do sexo desprotegido no inquérito reiteram os achados anteriores1313 Rios LF, Albuquerque A, Santana W, et al. O drama do sexo desprotegido: estilizações corporais e emoções na gestão de risco para HIV entre homens que fazem sexo com homens. Sex Salud Soc. 2019 [acesso em 2022 mar 15]; (32):65-89. Disponivel em: https://doi.org/10.1590/19846487.sess.2019.32.05.a.
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e permitem afirmar que quanto mais confiança o vínculo produza (por conhecimento e/ou por amor), maiores as chances de a camisinha sair do cardápio sexual1818 Rios LF. Sexualidade e prevenção entre homens que fazem sexo com homens nos contextos das pandemias de AIDS e da Covid-19. Ciênc. Saúde Colet. 2021 [acesso em 2022 mar 15]; 26(5):1853-1862. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-81232021265.00482021.
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. Uma confiança que é inferida a partir do conhecimento sobre a pessoa e seus hábitos, especialmente os sexuais1919 Nodin N, Leal I, Carballo-diéguez A. HIV knowledge and related sexual practices among Portuguese men who have sex with men. Cad. Saúde Pública. 2014; 30(11):2423-2432.,2424 Eaton L, Kalichman SC, O´Connell DA, et al. A strategy for selecting sexual partners believed to pose little/no risks for HIV: Serosorting and its implications for HIV transmission. AIDS Care. 2009; 21(10):1279-1288.,2525 Grace D, Chown SA, Jollimore J, et al. HIV-negative gay men’s accounts of using contextdependent seroadaptive strategies. Cult Health Sex. 2014; 16(3):316-330..

Assim, pode-se afirmar que predominam práticas de soroescolha presumidas, e, em alguns casos, quando há acordos explícitos entre os parceiros, a ‘segurança negociada’. Não obstante, é preciso ponderar que as motivações e os critérios para o SAD são frutos de reflexões, a posteriori, sobre cenas evocadas em situação de entrevista. Na vida prática, as decisões são tomadas de modo não volitivo, na tensão/‘tesão’ da própria experiência sexual1313 Rios LF, Albuquerque A, Santana W, et al. O drama do sexo desprotegido: estilizações corporais e emoções na gestão de risco para HIV entre homens que fazem sexo com homens. Sex Salud Soc. 2019 [acesso em 2022 mar 15]; (32):65-89. Disponivel em: https://doi.org/10.1590/19846487.sess.2019.32.05.a.
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. E nos parece que quanto maior o ‘tesão’, mais difícil é fazer a camisinha entrar, ainda que os ‘paus’ estejam em riste.

Chama atenção o relato de Paulo. Antes de se descobrir PVH, parecia haver como que uma onipotência expressa em enunciados como “Eu pensava que podia pegar todo mundo, menos eu”. Em todo caso, vê-se que outras emoções são muito presentes em sua narrativa daquele tempo, especialmente o ‘tesão’ crônico, expresso na ideia de “cachorra”, e “viçar”, que, aliada à onipotência e à ausência de camisinha, o tornou especialmente suscetível à infecção pelo HIV.

Nas entrelinhas, ele comentou sobre outro estado afetivo: a ‘carência’. A nossa interpretação da categoria vai por dois caminhos: 1) sinaliza o desamparo vivido por HSH e outros dissidentes da heteronorma3838 Butler J. Cuerpos que importan: sobre los limites materiales y discursivos del “sexo”. Buenos Aires: Paidós; 2010., relacionado com a estigmatização; e 2) remete ao amor romântico, dispositivo para formar casais, adotado em sociedades em que os sistemas de parentesco perderam força3939 Alberoni F. Enamoramento e amor. Rio de janeiro: Rocco; 1987..

Paulo relatou sobre cenas de estigmatização na infância e adolescência, na escola, na vizinhança e na família, que culminaram na sua expulsão de casa e na mudança para a casa da sua avó, que o acolheu. Comentou que os mesmos garotos que o xingavam, por ser efeminado, eram aqueles com quem tinha sexo às escondidas.

Sobre a segunda interpretação, que não exclui a primeira, mas a fortalece, carência é descrita como um estado afetivo próprio a alguém que quer muito ter um parceiro fixo, e, de certa forma, precede e/ou sustenta o apaixonamento (32,3%) e o amor (32,3%). Faz parte do enredo do amor romântico, atualizado nos melodramas gays, a cena do mocinho em perigo que é salvo pelo príncipe encantado4040 Rios LF. Parcerias sexuais na comunidade entendida do Rio de Janeiro - notas etnográficas em torno de questões etárias e do amor romântico. In: Rios LF, Almeida V, Parker R, et al., organizadores. Homossexualidade: produção cultural, cidadania e saúde. Rio de Janeiro: ABIA; 2004. p. 100-114.,4141 Rios L F. “Paizões”, “filhotes” e a “simbiose do amor”: regulações de gênero entre homens frequentadores da comunidade dos “ursos” no Recife (Brasil). Etnográfica (Lisboa). 2018 [acesso em 2022 mar 15]; 22(2):281-302. Disponível em: https://doi.org/10.4000/etnografica.5347.
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.

Talvez, seja justamente a carência que potencialize a sensação das vinculações se realizando muito rapidamente, de modo que uma conversa de Facebook por três noites consecutivas já indique um estreitamento de laços, levando Paulo a acionar defesas (relatar ser PVH no primeiro encontro) para não se ferir. Ou, ainda, que ele se desloque de Recife à divisa com Alagoas para um dia de “cachorrada” com alguém que ele não conhecia presencialmente, mas acreditou que “ia ficar com ele pro resto da vida”.

Prazeres sexuais dissidentes

No que se refere às práticas sexuais já realizadas algumas vezes na vida, as mais mencionadas no inquérito foram o sexo oroanal (‘cunete’) receptivo (81,6%) e insertivo (73,4%), e o barebacking sex (63,2%). O sexo com mais de uma pessoa também se mostrou prática recorrente, com alguma variação percentual para as suas diferentes modalidades: 36,6% relataram ter feito sexo a três sem presença de parceiro fixo, 25,3% evidenciaram sexo em grupo. Práticas grupais que envolvem parceiros fixos foram menos relatadas, mas, ainda assim, cerca de um quinto dos respondentes já teve alguma experiência com elas. Tiveram relacionamento aberto 22,4% dos respondentes; e sexo a três, 21,6% (gráfico 1).

O gráfico 2 mostra as práticas sexuais conforme atribuição de valor. O sexo com mais de duas pessoas é relatado como prazeroso por mais da metade deles (68,1%), ainda que tenham aparecido pouco nas entrevistas – que enfocavam as últimas experiências sexuais dos interlocutores. Também não exploramos devidamente nas entrevistas as práticas orais que envolvem o ânus, as quais, conforme os interlocutores do inquérito, são bastante prazerosas, tendo o ‘cunete’ receptivo (ser chupado) com 83,2%; e o insertivo (chupar), com 75%.

O ‘boquete’ insertivo (ser chupado) (91,2%) e o receptivo (chupar) (87,1%) sem camisinha também foram práticas muito presentes nas entrevistas. No contexto dos usos da boca durante o sexo, as práticas de menor percentual de apreciadores foram o ‘boquete’ insertivo (34,8%) e o receptivo (29,9%) com camisinha. Chama atenção, entretanto, que o sexo anal insertivo (84,2%) ou receptivo (83,8%) com camisinha sejam descritos como mais prazerosos que o insertivo (77,6%) ou receptivo (70,7%) sem camisinha – o que, certamente, tem um profundo impacto da Aids e das campanhas sobre sexo mais seguro4242 Parker R, Terto Jr. V, organizadores. Entre Homens: homossexualidade e AIDS no Brasil. Rio de Janeiro: ABIA; 1998..

AINDA A CAMISINHA

O uso do preservativo masculino é explicitamente mais criticado no ‘boquete’ do que para ‘comer um cu’. O que não significa que não sejam feitas ressalvas sobre o seu uso na última modalidade. Luís contou como, na interação sexual com um primo, ele, embora tenha começado utilizando preservativo no sexo anal, o retirou no sexo oral. Comentou sobre a inversão nas etapas dos roteiros da ‘transa’, que quase sempre começa pelas práticas orais – para muitos, consideradas menos importantes ou nem sendo propriamente sexo. ‘Cunete’, ‘boquete’, ‘punheta’ ou ‘sarração’ seriam apenas preliminares. Justificou: “No sexo oral, ele pediu pra tirar. [...] Porque ele tem alergia a plástico, enfim”.

Celso (24 anos, negro, versátil ativo) disse ter muito medo do sexo oral desprotegido, mas não gosta de utilizar o preservativo: “o lubrificante da camisinha eu não gosto, do gosto, do cheiro...”. Ele contou que, na primeira vez do sexo oral, ficou

[...] muito tenso, muito doido. [...]. Eu pensei, poxa, mentira, será que eu vou pegar alguma doença? Alguma DST? Aí ficava olhando a boca pra ver se surgia alguma coisa. [...] Infelizmente eu estava muito bêbado, ele também, assim, os dois.

Marcelo (19 anos, amarelo, versátil) também disse que acha desagradável o sabor do látex, “da gosminha e tal, do lubrificante”, mas falou que “não incomoda, não interfere na sensação, pelo menos não no sexo anal”.

Ainda assim, parece que o uso da camisinha no sexo anal não é tão simples como usualmente se pensa. Paulo disse que é trabalhoso de botar e que quebra o ‘tesão’ parar para colocá-la. No entanto, ele a utilizava por precaução, caso o parceiro não houvesse feito ‘chuca’ direito, por ‘nojo’ das fezes. Juliano disse que incomoda utilizá-la. E completa: “às vezes escapa, né? Ela fica saindo do pau, você tem que ficar vigiando pra colocar de volta e tal”. Ele continuou:

Não sei para a parte do passivo como é que fica a situação, mas como é que sente porque eu nunca... Quando fiz [passivo], estava namorando, estava aquela coisa de amor e tudo mais, aí eu não usei camisinha quando eu fui passivo. Mas, ao ser ativo com outras pessoas é muito incômodo, muito incômodo mesmo a camisinha. Você não sente bem nada. É bom o couro no couro.

EROTIZANDO A PREVENÇÃO

Os materiais instrucionais voltados para população HSH, sobretudo os produzidos por organizações governamentais, ainda estão localizados dentro de uma lógica heterossexual4343 Pinheiro T. Camisinha, homoerotismo e os discursos de prevenção de HIV/AIDS. [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2015.. Muito da eroticidade que o inquérito dimensiona é dissidente das narrativas sobre sexualidade que a concebem como naturalmente reprodutiva – repronarrativas e reprossexualidades –, que sustentam a heteronormatividade3232 Warner M. Introduction: Fear of a Queer Planet. Social Text. 1991; (29):3-17.,4444 Rubin G. Thinking sex: notes for a radical theory of the politics of sexuality. In: Nardi P, Schneider N., organizadoras. Social perspectives in Lesbian and Gay Studies: A Reader. Londres: Routledge; 1998. p. 100-132..

Práticas sexuais que tensionam, por exemplo, a monogamia e as mimetizações masculino/pênis/penetrante e feminino/vagina/ânus/penetrado4545 Rubin G. The traffic in women: Notes on the political economy of sex. In: Reiter R, organizadora. Toward an Anthropology of Women New York: Monthly Review; 1975. p. 157-210.. Nesse âmbito, o ‘cu’ e a boca têm uma centralidade que, por vezes, borra e, por vezes, reorganiza as representações e práticas de HSH em relação às reprossexualidades4646 Preciado PB. Manifesto contrassexual. São Paulo: N1; 2015.,4747 Souza Neto E, Rios LF. Apontamentos para uma economia política do cu entre trabalhadores sexuais. Psicol. Soc. 2015 [acesso em 2022 mar 15]; (27):579-586. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1807-03102015v27n3p579.
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,4848 Rios LF. Da hierarquia à igualdade? Parcerias sexuais, estilizações de gênero e classes sociais entre homens com práticas homossexuais. RBEH. 2021 [acesso em 2022 mar 15]; 4(15):219-248. Disponível em https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/rebeh/article/view/12216.
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. O ‘boquete’ e o ‘cunete’, ainda que não sejam importantes na infeção pelo HIV, o são para muitas outras IST, além de serem práticas bastante presentes na obtenção de prazer.

Outro exemplo que borra as representações de sexo-gênero4444 Rubin G. Thinking sex: notes for a radical theory of the politics of sexuality. In: Nardi P, Schneider N., organizadoras. Social perspectives in Lesbian and Gay Studies: A Reader. Londres: Routledge; 1998. p. 100-132.,4545 Rubin G. The traffic in women: Notes on the political economy of sex. In: Reiter R, organizadora. Toward an Anthropology of Women New York: Monthly Review; 1975. p. 157-210. mais comuns é o da versatilidade (Sari) nas posições sexuais11 Baggaley RR, White MB. HIV transmission risk through anal intercourse: systematic review, meta analysis and implications for HIV prevention. Int J Epidemiol. 2010; 39(4):1048-63.,2727 Dangerfield DT, Smith LR, Williams J, et al. Sexual Positioning among Men Who Have Sex With Men: A Narrative Review. Arch Sex Behav. 2017, 46(4):869-884., relatada por 83,5% dos respondentes do inquérito, independentemente de estilizações de gênero. Ou seja, os prazeres do baixo corporal deslocam os homens das representações binárias masculino/ativo e feminino/passivo4848 Rios LF. Da hierarquia à igualdade? Parcerias sexuais, estilizações de gênero e classes sociais entre homens com práticas homossexuais. RBEH. 2021 [acesso em 2022 mar 15]; 4(15):219-248. Disponível em https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/rebeh/article/view/12216.
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.

Do mesmo modo, as relações duais são o foco dos materiais ainda que o sexo em grupo produza ‘tesão’ para dois terços dos respondentes. É preciso parar de criticar essa modalidade de parceria sexual como vilã da infecção pelo HIV3131 Sousa AF, Oliveira LB, Queiroz AA, et al. Casual Sex among Men Who Have Sex with Men (MSM) during the Period of Sheltering in Place to Prevent the Spread of COVID-19. International Journal of Environmental Research and Public Health. 2021 [acesso em 2022 mar 15]; 18(6):3266. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/003024750.
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e pensar em estratégias preventivas que possam reconhecê-las e incorporá-las na prevenção enquanto formas legítimas de prazer.

Essas práticas e parcerias precisam aparecer nos materiais, nos aconselhamentos e nas oficinas de sexo seguro, em cenas que produzam reflexões e possibilitem que as decisões pelo sexo anal sem camisinha considerem não apenas os vínculos e as emoções, mas também incorporem uma série de tecnologias já disponíveis e realmente eficazes, mas pouco conhecidas — como a PrEP e a PEP1111 Maksud I, Fernandes NM, Filgueiras SL. Technologies for HIV prevention and care: challenges for health services. Rev Bras. Epidem. 2015 [acesso em 2022 mar 15]; 18(supl1):104-119. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1809-4503201500050008.
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,3737 Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes para a organização dos serviços de saúde que ofertam a profilaxia pré-exposição sexual ao HIV (PrEP) no Sistema Único de Saúde. Brasília, DF: MS; 2017.,4949 Brasil. Ministério da Saúde. Recomendações para terapia antirretroviral em adultos infectados pelo HIV - Suplemento III - Tratamento e Prevenção. Brasília, DF: MS; 2010.. Nesse âmbito, é preciso reconhecer a variação nos contextos intersubjetivos dos casais e outros arranjos de parcerias (trisais etc.), e criar estratégias para “seguranças negociadas”55 Ferraz D, Paiva V. Sex, human rights and aids: an analysis of new technologies for HIV prevention in the Brazilian context. Rev Bras Epidemiol. 2015 [acesso em 2022 dez 16]; 18(supl1):89-103. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbepid/a/TRFLXnFqfpVFzj3xdBKPDLg/?lang=en.
https://www.scielo.br/j/rbepid/a/TRFLXnF...
que incluam a testagem e o respeito às janelas imunológicas, e reflexões nas quais os acordos entre parceiros possam ser congruentes com a dinâmica do vírus3737 Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes para a organização dos serviços de saúde que ofertam a profilaxia pré-exposição sexual ao HIV (PrEP) no Sistema Único de Saúde. Brasília, DF: MS; 2017..

Um olhar especial precisa recair sobre a camisinha, uma vez que muitos participantes mencionaram dificuldades no uso dela. A indústria já avançou bastante no gosto e na sensibilidade, mas as que são distribuídas gratuitamente continuam sendo não adequadas para o sexo oral. Embora seja insignificante a possibilidade de infecção do HIV pelo ‘boquete’, este tem um papel importante no enredo sexual e poderia facilitar sua permanência para momentos de maior risco se a camisinha já fosse colocada nos momentos iniciais das transações sexuais.

Considerações finais

Neste texto discutimos a gestão de risco para o HIV entre HSH da RMR. A coleta ocorreu em um contexto de alta prevalência de HIV, quando a PrEP ainda não estava disponível e a PEP era pouco conhecida e utilizada. Analisamos cenas sexuais produzidas por meio de um inquérito comportamental e de narrativas em situação de entrevista. O SAD, com maior ocorrência nas parcerias fixas que nas ocasionais, acontecia, em geral, com parceiros presumidamente negativos para HIV. As sorologias eram inferidas pelos vínculos. As emoções eram importantes na configuração do SAD, quase sempre articuladas às vinculações.

Pudemos agregar a ‘carência’ ao rol das emoções presentes nas cenas de gestão de risco (confiança, fidelidade, ‘tesão’, amor, medo e alívio) descritas na literatura. Articulada pela estigmatização às homossexualidades e pelo enredo romântico, ela produz a vontade de formar parcerias fixas, podendo, a depender da consciência da pessoa (no sentido freiriano do termo5050 Rios LF, Queiroz TN. Articulando materiais (áudio)visuais em contextos de práticas educativas de saúde e cidadania. In: Menezes J, Adrião KG, Rios LF, organizadores. Jovens, câmera, ação. Recife: EdUFPE; 2015. p. 219-265. [acesso em 2022 mar 15]. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/365957578_Articulando_materiais_audiovisuais_em_contextos_de_praticas_educativas_de_saude_e_cidadania.
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), tornar-se um elemento protetivo ou um elemento vulnerabilizante ao HIV. A história de Paulo, por apresentar o antes e o depois do diagnóstico de PVH, permitiu trazer para a reflexão as duas possibilidades.

Também pudemos explorar as muitas cenas de ‘tesão’ e como nelas predominam práticas dissidentes da heteronormatividade. O sexo em grupo e outras modalidades de parcerias não monogâmicas foram relatadas por grande parte dos respondentes como prazerosas. De forma similar, pudemos observar como o ‘cu’ e a boca possuem uma centralidade nas condutas sexuais dos HSH, que, para além das hierarquias de risco2626 Meng X, Zou H, Fan S, et al. Relative Risk for HIV Infection Among Men Who Have Sex with Men Engaging in Different Roles in Anal Sex: A Systematic Review and Meta-analysis on Global Data. Aids Behav. 2015; 19(5):882-889., precisam ser reincorporadas à prevenção para que esta faça sentido e reverbere entre os HSH.

Nesse contexto, é preciso recuperar a diversidade de posições sexuais, expressões de gênero e gostos eróticos inventariadas na nossa pesquisa para sinalizar sobre a impropriedade de tomar a categoria epidemiológica HSH como categoria identitária, uniformizando as experiências de homens gays e outros HSH5151 Mora C, Brigeiro M, Monteiro S. A testagem do HIV entre “HSH”: tecnologias de prevenção, moralidade sexual e autovigilância sorológica. Physis. 2018; 28(2):1-28.. A categoria foi criada justamente para dar conta das implicações na prevenção do HIV da decalagem entre identidades e práticas sexuais, possibilitando ampliar o olhar da saúde pública para homens que não se identificavam como gays ou homossexuais, mas que faziam sexo com outros homens5252 Deverell K, Prout A. Sexuality, identity and community: the experience of MESMAC. In: Parker R, Aggleton P, organizadores. Culture, society and sexuality: a reader. London: UC; 1999.. Essa forma de operar solicita, inclusive, um olhar mais acurado sobre as comunidades homossexuais e suas dinâmicas, que envolvem uma grande variedade de subculturas e enredamentos e conexões sexuais com homens que também fazem sexo com mulheres, mas que não se identificam como homossexuais ou bissexuais2727 Dangerfield DT, Smith LR, Williams J, et al. Sexual Positioning among Men Who Have Sex With Men: A Narrative Review. Arch Sex Behav. 2017, 46(4):869-884.,2828 Rios LF. Homens jovens com práticas homossexuais e epidemia do HIV/aids: por uma re-erotização da prevenção. In: Neves A, Therense M, organizadores. Hiv/Aids, gênero e sexualidade: políticas e práticas de prevenção, testagem e aconselhamento. Manaus: Editora UEA; 2018. p. 24-58. [acesso em 2022 mar 15]. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/331071151_HOMENS_JOVENS_COM_PRATICAS_HOMOSSEXUAIS_E_EPIDEMIA_DO_HIVaids_por_uma_re-erotizacao_da_prevencao.
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.

Considerando a recorrência de SAD e a carência de conhecimento adequado sobre as novas tecnologias de prevenção, constatamos a necessidade da realização de ações educativas em saúde sexual voltadas para os HSH. Ações que recoloquem as cenas acima relatadas de volta nos circuitos de homossociabilidade, de modo que, ao apresentarem os possíveis infortúnios das práticas em uso, possibilitem reflexão1818 Rios LF. Sexualidade e prevenção entre homens que fazem sexo com homens nos contextos das pandemias de AIDS e da Covid-19. Ciênc. Saúde Colet. 2021 [acesso em 2022 mar 15]; 26(5):1853-1862. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-81232021265.00482021.
https://doi.org/10.1590/1413-81232021265...
. Como nos ensinaram as experiências da prevenção ao HIV das décadas de 1990 e 2000, sugerimos que, para inclusão da PrEP, da PEP ou de alguns arranjos eficazes de ‘soroescolha’ e ‘segurança negociada’ (quando mediados pela testagem)3737 Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes para a organização dos serviços de saúde que ofertam a profilaxia pré-exposição sexual ao HIV (PrEP) no Sistema Único de Saúde. Brasília, DF: MS; 2017. nos cardápios sexuais, é necessário diálogo. Ocorra ele em situações de oficina, por meio de materiais educativos ou de campanhas de massa, o diálogo deve ser compreendido enquanto mecanismo inter-relacional e pedagógico5050 Rios LF, Queiroz TN. Articulando materiais (áudio)visuais em contextos de práticas educativas de saúde e cidadania. In: Menezes J, Adrião KG, Rios LF, organizadores. Jovens, câmera, ação. Recife: EdUFPE; 2015. p. 219-265. [acesso em 2022 mar 15]. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/365957578_Articulando_materiais_audiovisuais_em_contextos_de_praticas_educativas_de_saude_e_cidadania.
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. Atualizado por narrativas que incorporem vínculos, emoções e regimes eróticos dissidentes ao permitir a aproximação dos contextos de usos, possibilite escolhas de alternativas preventivas mais seguras e, também, mais prazerosas.

  • Suporte financeiro: CNPq (processos 405259/2012-3, 470088/2013-3, 305136/2014-3, 310468/2018-3). Contou ainda com bolsas de iniciação científica da Facepe e do Pibic/UFPE

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    Dez 2022

Histórico

  • Recebido
    19 Abr 2022
  • Aceito
    10 Set 2022
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde RJ - Brazil
E-mail: revista@saudeemdebate.org.br