Cadernos de Saúde Pública, Volume: 34, Número: 2, Publicado: 2018
  • A associação entre discriminação racial percebida e hipertensão: achados do estudo ELSA-Brasil Article

    Mendes, Patrícia Miranda; Nobre, Aline Araújo; Griep, Rosane Härter; Guimarães, Joanna Miguez Nery; Juvanhol, Leidjaira Lopes; Barreto, Sandhi Maria; Pereira, Alexandre; Chor, Dóra

    Resumo em Português:

    Pretos e pardos no Brasil e negros nos Estados Unidos têm risco aumentado de desenvolver hipertensão arterial, quando comparados com brancos, mas as causas dessa desigualdade ainda são pouco compreendidas. Fatores psicossociais e contextuais, inclusive discriminação racial, têm sido apontados como condições associadas a essa desigualdade. O estudo teve como objetivo identificar a associação entre discriminação racial percebida e hipertensão. O estudo avaliou 14.012 participantes da linha de base do estudo ELSA-Brasil. A discriminação foi medida com a Lifetime Major Events Scale, adaptada para português. A classificação de raça/cor seguiu as categorias propostas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Hipertensão arterial foi definida de acordo com as diretrizes atuais. A associação entre a variável composta - raça/discriminação racial - e hipertensão foi estimada através de regressão de Poisson com variância robusta, e estratificada pelas categorias de índice de massa corporal (IMC) e gênero. Tendo como categoria de referência as mulheres brancas, no estrato de IMC < 25kg/m2, as mulheres pardas mostraram OR ajustada para hipertensão arterial de 1,98 (IC95%: 1,17-3,36) e 1,3 (IC95%: 1,13-1,65), respectivamente, conforme relatavam ou não a exposição à discriminação racial. Para as mulheres pretas, as ORs foram 1,9 (IC95%: 1,42-2,62) e 1,72 (IC95%: 1,36-2,18), respectivamente, para as mesmas categorias. Entre mulheres com IMC > 25kg/m2 e homens em qualquer categoria de IMC, não foi identificado nenhum efeito de discriminação racial. Apesar das diferenças nas estimativas pontuais da prevalência de hipertensão entre mulheres pardas que relataram (vs. não relataram) discriminação racial, nossos resultados são insuficientes para afirmar que existe uma associação entre discriminação racial percebida e hipertensão.

    Resumo em Espanhol:

    Los “mestizos” y negros in Brasil y los negros en los EE.UU. tienen un riesgo mayor de desarrollar hipertensión que los blancos, y las causas de esta inequidad se han estudiado poco. Factores psicosociales y contextuales, incluyendo la discriminación racial, han sido identificados como las condiciones asociadas a esta inequidad. El objetivo de este estudio fue identificar la asociación entre la discriminación racial percibida y la hipertensión. El estudio evaluó a 14.012 trabajadores procedentes de la base de referencia poblacional del ELSA-Brasil. La discriminación percibida se midió mediante la Lifetime Major Events Scale, adaptada al portugués. La clasificación por raza/color siguió las categorías propuestas por el Instituto Brasileño de Geografía y Estadística. La hipertensión fue definida por criterios estándar. La asociación entre la variable compuesta -raza/discriminación racial- e hipertensión se estimó por regresión de Poisson con varianza robusta y estratificada por las categorías: índice de masa corporal (IMC) y sexo. Se eligieron mujeres blancas como grupo de referencia, en el IMC < 25kg/m2 estrato, las mujeres “mestizas” mostraron una proporción de probabilidades ajustadas para hipertensión arterial de 1,98 (IC95%: 1,17-3,36) y 1,3 (IC95%: 1,13-1,65), respectivamente, hayan o no sufrido discriminación racial. Para las mujeres negras, la proporción de probabilidades ajustadas fueron 1,9 (IC95%: 1,42-2,62) y 1,72 (IC95%: 1,36-2,18), respectivamente, en las mismas categorías. Entre las mujeres con IMC > 25kg/m2 y hombres en cualquier categoría IMC, no se identificaron efectos de discriminación racial. A pesar de las diferencias en las estimaciones puntuales sobre la prevalencia de la hipertensión entre las mujeres “mestizas”, que informaron y no informaron discriminación racial, nuestros resultados son insuficientes para afirmar que existe una asociación entre la discriminación racial e hipertensión.

    Resumo em Inglês:

    “Pardos” and blacks in Brazil and blacks in the USA are at greater risk of developing arterial hypertension than whites, and the causes of this inequality are still little understood. Psychosocial and contextual factors, including racial discrimination, are indicated as conditions associated with this inequality. The aim of this study was to identify the association between perceived racial discrimination and hypertension. The study evaluated 14,012 workers from the ELSA-Brazil baseline population. Perceived discrimination was measured by the Lifetime Major Events Scale, adapted to Portuguese. Classification by race/color followed the categories proposed by Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). Hypertension was defined by standard criteria. The association between the compound variable - race/racial discrimination - and hypertension was estimated by Poisson regression with robust variance and stratified by the categories of body mass index (BMI) and sex. Choosing white women as the reference group, in the BMI < 25kg/m2 stratum, “pardo” women showed adjusted OR for arterial hypertension of 1.98 (95%CI: 1.17-3.36) and 1.3 (95%CI: 1.13-1.65), respectively, whether or not they experienced racial discrimination. For black women, ORs were 1.9 (95%CI: 1.42-2.62) and 1.72 (95%CI: 1.36-2.18), respectively, for the same categories. Among women with BMI > 25kg/m2 and men in any BMI category, no effect of racial discrimination was identified. Despite the differences in point estimates of prevalence of hypertension between “pardo” women who reported and those who did not report discrimination, our results are insufficient to assert that an association exists between racial discrimination and hypertension.
  • Homens jovens em centros de detenção juvenil no Rio de Janeiro, Brasil: gênero, sexualidade, masculinidades e implicações para a saúde Article

    Nascimento, Marcos Antonio Ferreira do; Uziel, Anna Paula; Hernández, Jimena de Garay

    Resumo em Português:

    Resumo: Neste artigo, apresentamos resultados relacionados com a saúde de homens jovens, baseados em uma pesquisa-intervenção sobre gênero, sexualidade e saúde de adolescentes e jovens em conflito com a lei, em privação de liberdade e cumprindo medida socioeducativa de internação no Rio de Janeiro, Brasil. Os temas abordados incluem questões de saúde em geral, saúde mental e saúde sexual e reprodutiva, que foram analisadas usando-se uma perspectiva relacional de gênero e a construção social das masculinidades. A maioria é composta por homens jovens e negros, oriundos de comunidades de baixa renda, com baixo nível de escolaridade, entre 14 e 21 anos, e alguns deles são pais. O estudo mostrou que esses jovens têm sido expostos à violência policial e social desde uma idade muito precoce, e encontram-se privados de liberdade devido ao envolvimento com o tráfico de drogas, ou por assassinatos e episódios de violência sexual. Os/as profissionais de saúde que trabalham com eles afirmam que os problemas de saúde mais comuns são aqueles relacionados com questões dermatológicas, mentais e ISTs. O machismo e noções rígidas de gênero e sexualidade são fatores importantes nas concepções desses jovens sobre saúde - especialmente sexual e reprodutiva. Eles proferem discursos que naturalizam a violência e a paternidade como signos importantes da demonstração pública da masculinidade. Existe uma necessidade urgente de incluir discussões sobre gênero e sexualidade na formação de profissionais de saúde e nas atividades com esses jovens. Também é necessário chamar a atenção à forte influência das concepções de gênero, grupo social e orientação sexual em práticas, relações interpessoais e promoção da saúde.

    Resumo em Espanhol:

    Resumen: En este artículo, presentamos resultados relacionados con la salud de hombres jóvenes, basados en una investigación-intervención sobre género, sexualidad y salud de adolescentes y jóvenes en conflicto con la ley, en privación de libertad, y cumpliendo medida socioeducativa de internamiento en Río de Janeiro, Brasil. Los temas abordados incluyen cuestiones de salud en general, salud mental y salud sexual y reproductiva, que fueron analizadas usando una perspectiva relacional de género y la construcción social de las masculinidades. La mayoría de los hombres jóvenes son negros, oriundos de comunidades de baja renta, con un bajo nivel de escolaridad, entre 14 y 21 años, y algunos de ellos son padres. El estudio mostró que esos jóvenes han sido expuestos a la violencia policial y social desde una edad muy precoz, y se encentran privados de libertad, debido a su implicación con el tráfico de drogas, o por asesinatos y episodios de violencia sexual. Los/as profesionales de salud que trabajan con ellos afirman que los problemas de salud más comunes son aquellos relacionados con cuestiones dermatológicas, mentales e ITSs. El machismo y nociones rígidas de género y sexualidad son factores importantes en las concepciones de esos jóvenes sobre salud -especialmente sexual y reproductiva-. Ellos profieren discursos que naturalizan la violencia y la paternidad como signos importantes de la demostración pública de la masculinidad. Existe una necesidad urgente de incluir discusiones sobre género y sexualidad en la formación de profesionales de salud y en las actividades con esos jóvenes. También es necesario llamar la atención sobre la fuerte influencia de las concepciones de género, grupo social y orientación sexual en prácticas, relaciones interpersonales y promoción de la salud.

    Resumo em Inglês:

    Abstract: This article presents results for young men’s health based on an intervention-study on gender, sexuality, and health of adolescents and young men in conflict with the law, deprived of their freedom, and subject to socio-educational confinement in Rio de Janeiro, Brazil. The themes addressed included questions on overall health, mental health, and sexual and reproductive health, analyzed from a relational gender perspective and social construction of masculinities. The majority of these young men are black, from low-income communities, with low schooling levels, and ranging in age from 14 to 21 years of age; some of them are fathers. The study showed that these young men have been exposed to police and social violence from a very early age and have been deprived of their freedom due to involvement with the drug traffic, homicides, or episodes of sexual violence. The male and female health professionals that work with them report that the most common health problems are skin conditions, mental disorders, and sexually transmissible infections. Male chauvinism and rigid notions of gender and sexuality are important factors in the views of these young men on health (especially sexual and reproductive). Their discourse takes violence and paternity for granted as important signs in the public demonstration of masculinity. There is an urgent need to include discussions on gender and sexuality in health professionals’ training and activities with these young men. It is also necessary to call attention to the strong influence of gender concepts, social group, and sexual orientation in practices, interpersonal relations, and health promotion.
  • Satisfação de usuários com serviços odontológicos públicos e privados entre diferentes grupos etários no Brasil Article

    Macarevich, Aline; Pilotto, Luciane Maria; Hilgert, Juliana Balbinot; Celeste, Roger Keller

    Resumo em Português:

    Resumo: O artigo teve como objetivos descrever os níveis de satisfação de usuários de diferentes grupos etários e analisar a associação entre satisfação de usuários e diferentes tipos de serviços odontológicos em uma amostra representativa de brasileiros. O estudo é baseado na Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, que avaliou a saúde oral dos adolescentes, adultos e idosos em 177 cidades brasileiras. A variável de desfecho era a satisfação do usuário em relação à última consulta odontológica, avaliada através da uma escala de tipo Likert, com cinco níveis. A principal variável de exposição era o tipo de serviço de saúde oral (público, privado, plano ou seguro odontológico). As variáveis independentes eram o índice CPOD (dentes cariados, perdidos e obturados); intensidade de dor nos últimos seis meses; motivo pela última consulta odontológica; percepção de necessidade de tratamento; frequência de uso de serviços de saúde oral; sexo; renda equivalente e escolaridade. Foram realizadas análises separadas de regressão logística ordinal para cada faixa etária. Poucos participantes avaliaram os serviços como ruins ou muito ruins (4,3% dos adolescentes, 6,1% dos adultos e 4,1% dos idosos). Entre todos os grupos, no modelo não ajustado, o uso de serviços públicos esteve associado à satisfação mais baixa em comparação com os serviços privados e planos de saúde. Entretanto, após ajustar pelas covariáveis, esta associação se manteve apenas nos adolescentes, que mostraram menor satisfação com os serviços públicos em comparação com os serviços privados e planos de saúde. Em geral, os brasileiros estão satisfeitos com os serviços de saúde oral; no entanto, entre os adolescentes o uso de serviços públicos esteve associado à menor satisfação. É possível que os serviços públicos estejam orientados para as questões das crianças, dos adultos e dos idosos, mas não do público de adolescentes, que apresentam demandas específicas.

    Resumo em Espanhol:

    Resumen: El objetivo de este artículo fue describir los niveles de satisfacción de los usuarios en diferentes grupos de edad, además de estudiar la asociación entre la satisfacción del usuario y los diferentes servicios dentales, en una muestra representativa de ciudadanos brasileños. Este estudio está basado en la Encuesta de Salud Bucal Brasileña, que evaluó la salud dental de adolescentes, adultos y adultos de edad avanzada en 177 ciudades brasileñas. La variable de resultado fue la satisfacción del usuario, en relación con la última visita dental, evaluada en una escala tipo Likert de cinco niveles. La variable principal de exposición fue el tipo de servicio dental (servicio público, servicio privado, plan de salud o seguro). Las variables independientes fueron DCPO (dientes cariados, perdidos y obturados); intensidad del dolor en los últimos seis meses; razón de la última visita dental; necesidad percibida de tratamiento; frecuencia del uso de los servicios dentales; sexo; ingresos equivalentes; y nivel educacional. Se realizó un análisis por regresión logística ordinario separadamente para cada grupo de edad. Algunos participantes evaluaron los servicios como deficitarios o muy deficitarios (4,3% de los adolescentes, 6,1% de los adultos y un 4,1% de los adultos de edad más avanzada). En el modelo sin estratificar, el uso de los servicios públicos estuvo asociado con una satisfacción más baja que el uso de servicios privados y planes de salud entre todos los grupos. No obstante, tras ser ajustado por las covariables, la asociación se mantuvo sólo en los adolescentes, que mostraron una satisfacción más baja con el servicio público, en comparación con los servicios privados y planes de salud. En general, los brasileños están satisfechos con los servicios dentales, sin embargo, entre los adolescentes, el uso de los servicios públicos estuvo asociado con una baja satisfacción. Los servicios públicos tal vez se centran en asuntos relacionados con niños, adultos y adultos de edad avanzada, y no con el público adolescente que demanda servicios específicos.

    Resumo em Inglês:

    Abstract: This article aimed to describe the levels of user satisfaction in different age groups and to study the association between user satisfaction and different types of dental services in a representative sample of Brazilians. This study is based on the Brazilian Oral Health Survey, which evaluated the dental health of adolescents, adults and older adults in 177 Brazilian cities. The outcome variable was user satisfaction, related to the last dental visit, evaluated in a five-level Likert-type scale. The main exposure variable was the type of dental service (public service, private service, health plan or insurance). The independent variables were DMFT (decay, missing and filled teeth); pain intensity in the past six months; reason for the last dental visit; perceived need for treatment; frequency of use of dental services; sex; equivalent income; and educational level. An ordered logistic regression analysis was performed separately for each age group. Few participants evaluated the services as bad or very bad (4.3% of adolescents, 6.1% of adults and 4.1% of older adults). In the crude model, the use of public services was associated with lower satisfaction than the use of private services and health plans between all groups. However, after adjusting by covariates, this association remained only in adolescents, who showed lower satisfaction with the public service compared to the private service and health plans. In general, Brazilians are satisfied with dental services, but, among adolescents, the use of public services was associated with lower satisfaction. Public services may be focused on issues related to children, adults and older adults, and not to the adolescent audience, which has specific demands.
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernos@ensp.fiocruz.br