Violência por parceiro íntimo entre estudantes de duas universidades do Estado de São Paulo, Brasil

Tânia Aldrighi Flake Claudia Barros Lilia B. Schraiber Paulo Rossi Menezes Sobre os autores

Resumo

INTRODUÇÃO:

Foram estimados entre universitários a prevalência da violência em relacionamentos íntimos, sofrida ou perpetrada, para os tipos físico, psicológico e sexual, descrevendo-se as sobreposições entre eles. Estudo original com rara produção no Brasil. Foram pesquisados homens e mulheres, com discussão de algumas questões da violência de gênero.

MÉTODO:

O estudo faz parte de pesquisa multicêntrica "Estudo Internacional de Violência no Namoro - IDVS", realizada em 2002 - 2003, usando seu instrumento padronizado. O questionário foi auto-aplicado em 362 alunos de duas universidades, uma pública e outra privada, do Estado de São Paulo, sendo 37% do sexo masculino e 63% do feminino, com idade mediana de 20 anos. Foram descritas as violências sofridas por e perpetradas na vida contra parceiros íntimos.

RESULTADOS:

Entre todos os entrevistados, 75,9% sofreram e 76,4% perpetraram algum tipo de violência na vida. O tipo de violência mais prevalente, tanto sofrida como perpetrada, foi a psicológica, seguida da sexual. A grande sobreposição entre violências sofridas e perpetradas (83,9%) reflete a reciprocidade das agressões, sem diferença entre homens e mulheres. Os resultados do presente estudo estão em consonância com a literatura que analisa a violência no namoro, com alta prevalência de violências sofridas e perpetradas, além da reciprocidade tanto para homens como para mulheres.

CONCLUSÕES:

Ações de intervenção nesta fase dos relacionamentos íntimos podem potencialmente repercutir em situações posteriores de parceria conjugal.

Violência; Violência doméstica; Maus-tratos conjugais; Relações interpessoais; Gênero e saúde; Corte


Introdução

Violência entre parceiros íntimos é uma questão de saúde pública, com implicações negativas para a saúde física e mental dos homens e mulheres envolvidos e está presente quer na fase de namoro, parceiros que coabitam ou na relação maritalmente constituída11. Barnett OW, Miller CLP, Perrin RD. Family violence across the life span. CA Thousand Oaks: Sage; 1997. , 22. Heise L, Ellsberg M, Garcia-Moreno C. Intimate partner violence. In: Krug EG, Dahlberg LL, Mercy JÁ, Zwi AB, Lozano R (eds). World report on violence and health. Geneva: WHO; 2002. p. 91-121.. Muitos autores apontam que essa violência tem início no namoro e pode determinar um padrão de relacionamento ao longo do ciclo vital, além de ser um precursor para agressões mais graves após a transição para coabitação ou casamento33. Gelles RJ, Straus MA. Intimate violence. New York: Simon & Schuster, 1988.

4. Straus MA, Aldrighi T, Alvarez SD, Atan A, Boeckmann i, Sieber C., et al. Prevalence of violence against dating partners by male and female university students worldwide. Violence Against Wom 2004; 10(7): 790-811.
- 55. Chan KL, Straus MA, Brownridge DA, Tiwari A, Leung WC. Prevalence of dating partner violence and suicidal ideation among male and female university students worldwide. J Midwifery Womens Health 2008; 53(6): 529-37.. A revisão da literatura mostra que, primeiro, os estudos estiveram centrados na violência conjugal e somente a partir de 1980 foram ampliados para o namoro ("dating" ou "courtship violence")66. Cardarelli AP. Violence between intimate partners: patterns, causes and effects. MA: Allyn and Bacon, 1997.. Alguns estudos abordam-na como ocorrência na escola, apontando que 15 a 43% dos jovens que vivenciaram algum tipo de violência no relacionamento amoroso, se referem a ela no espaço escolar, seja como depoimento pessoal ou como testemunho de outros77. Theriot MT. Conceptual and Methodological Considerations for Assessment and Prevention of Adolescent Dating Violence and Stalking at School. Children & Schools 2008; 30(4): 223-33.. Apesar dos elevados índices já revelados, o alto risco de violência entre parceiros íntimos na fase de namoro não é reconhecido em toda sua extensão. No Brasil os estudos ainda são incipientes8 8. Nascimento FS. Namoro e violência: um estudo sobre amor, namoro e violência para jovens de grupos populares e camadas médias [dissertação de mestrado]. Pernambuco: Universidade Federal de Pernambuco; 2009. , 99. Njaine K, Assis SG, Oliveira QBM, Ribeiro FML, Avanci JQ. Violência nas relações afetivo-sexuais entre adolescentes da cidade de Manaus/AM. In: Meneghel SN (org). Rotas críticas II: ferramentas para trabalhar com a violência de gênero. Santa Cruz do Sul - SC: Edunisc; 2009 (1). p. 83-112.

Ao participar do International Dating Violence Study (IDVS), que inclui a presente amostra de universitários paulistas, Aldrighi descreve as violências ocorridas nos últimos 12 meses, relativamente à aplicação do questionário, considerando violência atual ou corrente. A mesma amostra será alvo de outras análises no atual artigo, não se atendo mais apenas à violência ocorrida nos últimos 12 meses.

Se considerarmos que o namoro é a fase em que parcerias íntimas são construídas e podem ser consolidadas em relações conjugais futuras, conhecer como este fenômeno pode estar presente nesta etapa das relações humanas é de extrema importância e urgência. O namoro pode ser situação determinante para a prevenção da violência por parceiros íntimos também para a conjugalidade.

Além da perspectiva da compreensão da constituição da relação de intimidade, dos aspectos associados ao processo de desenvolvimento das relações afetivas, de início das atividades sexuais e das questões de gênero presentes, aprofundar o conhecimento do fenômeno do namoro também traz contribuições expressivas para o estudo da violência nesta etapa do ciclo vital. Isto porque a fase de namoro, até metade do século XX, praticamente não existia e era considerada um período de passagem para o casamento. Atualmente, além de corresponder a um período mais elástico para a constituição das relações de intimidade, o namoro abarca uma variedade de tipos de relação que vão desde as bem curtas e descompromissadas até as de coabitação1111. Béjin A. O casamento extraconjugal dos dias de hoje. In: Ariès P e Béjin A (orgs.). Sexualidades ocidentais. São Paulo: Brasiliense. 1987; p. 183-93..

Gelles e Straus afirmavam desde a década de 1980 que os dados de violência por parceiros íntimos refletiam a necessidade de buscar subsídios na compreensão da relação de gênero já desde o namoro, uma vez que a constatação de ocorrência do fenômeno nesta etapa rompia com a concepção de que o casamento era a licença para a violência33. Gelles RJ, Straus MA. Intimate violence. New York: Simon & Schuster, 1988..

Com base neste quadro o presente artigo teve como objetivos: (1) descrever as prevalências de perpetração e de vitimização de diferentes tipos de violência, especificamente das violências física, psicológica e sexual ao longo da vida; (2) descrever as sobreposições quer entre os três tipos de violências, quer entre as sofridas e as perpetradas; (3) examinar as prevalências e as superposições encontradas da perspectiva masculina e feminina.

Método

Trata-se de estudo epidemiológico de corte transversal, em pesquisa multicêntrica internacional (IDVS) sobre violência no namoro, que contou com o Brasil e 32 outros países. A coleta de dados foi realizada em 2002 - 2003 no Estado de São Paulo44. Straus MA, Aldrighi T, Alvarez SD, Atan A, Boeckmann i, Sieber C., et al. Prevalence of violence against dating partners by male and female university students worldwide. Violence Against Wom 2004; 10(7): 790-811. , 1010. Aldrighi T. Prevalência e cronicidade da violência física no namoro entre jovens universitários do Estado de São Paulo - Brasil. Psicol Teor Prat 2004; 6(1): 105-20. , 1212. Straus MA. Cross-cultural reliability and validity of the Revised Conflict Tactics Scales: a study of university student dating couples in 17 nations. Cross Cultural Research 2004; 38(4): 407-32.. A amostra, calculada para fins comparativos entre os países pela coordenação internacional de modo compatível com estudos locais44. Straus MA, Aldrighi T, Alvarez SD, Atan A, Boeckmann i, Sieber C., et al. Prevalence of violence against dating partners by male and female university students worldwide. Violence Against Wom 2004; 10(7): 790-811. , 1010. Aldrighi T. Prevalência e cronicidade da violência física no namoro entre jovens universitários do Estado de São Paulo - Brasil. Psicol Teor Prat 2004; 6(1): 105-20. , 1919. Paiva C, Figueiredo B. Abuso no relacionamento íntimo: Estudo de prevalência em jovens adultos portugueses. Psychologica 2004; 36: 75-107., foi composta por estudantes de graduação de duas universidades do Estado de São Paulo, uma privada, na capital e outra pública, no Vale do Paraíba, escolhidas pela conveniência da pesquisa de campo em razão do pertencimento da pesquisadora principal a uma delas e da existência de colaborações anteriores com a outra instituição. Os estudantes foram os matriculados nos cursos de administração de empresas, comércio exterior, educação física, jornalismo, medicina e psicologia, buscando-se um equilíbrio maior na presença de homens e mulheres na amostra. Inicialmente 510 alunos estavam presentes nas salas de aula, onde foi feito o convite para a participação na pesquisa, por meio de questionário autopreenchido. Obteve-se um total válido de 456 respondentes, somadas as duas universidades, com uma perda de 10%, que entregaram o questionário em branco.

Foram elegíveis para o atual estudo 362 universitários que se encontravam na condição de namoro atual ou prévio com pelo menos um mês de duração. Destes, 29,8% (n = 108) não responderam as questões relativas à violência sofrida ou perpetrada.

O questionário utilizado foi desenvolvido, pré-testado, revisado e utilizado em pesquisas sobre violência no namoro em mais de 10 mil estudantes em várias regiões do mundo e consiste de quatro partes: Caracterização social, Escalas de Táticas de Conflito Revisada (CTS2), Perfil de Personalidade e de Relacionamento (PRP) e a seção correspondente às variáveis relevantes para cada nação participante do estudo. O instrumento foi traduzido para a língua portuguesa por três profissionais de psicologia, especialistas na temática - dois portugueses e um brasileiro - e retrovertida para o inglês por um especialista fluente na língua inglesa. O teste de compreensão e conteúdo semântico foi conduzido por uma pequena amostra de universitários que dominavam ambos os idiomas, tanto em Portugal (n = 8) quanto no Brasil (n = 5). A primeira tradução foi realizada separadamente pelos países e posteriormente comparada com a versão portuguesa e discutidas as principais divergências e pontos críticos da adaptação entre as duas versões, sendo a versão final resultado de uma versão com equivalência semântica à original, adaptada e acrescida de questões de interesse à realidade cultural brasileira. Para a adaptação do instrumento, alguns procedimentos foram definidos pelo pesquisador líder no sentido de garantir a equivalência conceitual, sendo os termos discutidos, revistos cuidadosamente pelo pesquisador e compartilhado com todo o grupo de pesquisadores, para facilitar uma medida padronizada em todos os locais e garantir os benefícios da investigação das diferenças culturais. Antes de iniciar a adaptação do instrumento, cada pesquisador foi responsável por desenvolver um estudo qualitativo no sentido de adequar a terminologia "dating" de acordo com a linguagem utilizada entre jovens de cada país participante. Neste estudo, namoro foi definido como a relação entre pares que envolve um encontro para uma interação social e atividades em conjunto com a intenção explícita e/ou implícita de manutenção do relacionamento afetivo de intimidade até que uma das partes termine ou até que o compromisso seja estabelecido como o noivado, casamento ou a coabitação1212. Straus MA. Cross-cultural reliability and validity of the Revised Conflict Tactics Scales: a study of university student dating couples in 17 nations. Cross Cultural Research 2004; 38(4): 407-32.. O questionário, de autoria de Straus, co-autor das conhecidas escalas de táticas perante conflitos (Conflic Tatic Scale ou CTS-1 e CTS-2)1212. Straus MA. Cross-cultural reliability and validity of the Revised Conflict Tactics Scales: a study of university student dating couples in 17 nations. Cross Cultural Research 2004; 38(4): 407-32., guardou muitas similaridades com essas escalas, mas foi rearranjado em novo modelo específico para a fase de namoro, constituindo o "IDV Questionnaire".

De modo diverso de Aldrighi1010. Aldrighi T. Prevalência e cronicidade da violência física no namoro entre jovens universitários do Estado de São Paulo - Brasil. Psicol Teor Prat 2004; 6(1): 105-20., no atual estudo a violência considerada foi a que ocorreu durante a situação de parceria íntima ou namoro investigada, para além dos últimos 12 meses. Cada um dos tipos de violência foi abordado por meio de questões separadas e com itens que listavam atos concretos sofridos ou perpetrados (Tabela 3). A violência do tipo física foi analisada de acordo com a gravidade do dano provocado, diferenciando-se em "moderada" e "grave".

Tabela 1
Frequências e proporções total e estratificada por sexo das características sociodemográficas e relativas ao relacionamento. São Paulo. 2002.

Tabela 2
Prevalência de violência sofrida e perpetrada e frequências e proporções da sobreposição das duas ocorrências (sofrida e perpetrada). São Paulo. 2002.

Tabela 3
Frequências e proporções totais e estratificadas por sexo das perguntas referentes às violências sofridas e perpetradas. São Paulo. 2002.

Na análise estatística utilizou-se o programa STATA 10.0. As variáveis foram descritas por meio de frequências e proporções. As violências sofridas e perpetradas foram apresentadas em cinco diferentes modos, objetivando a descrição detalhadas dos episódios de violência. Primeiramente foi apresentada a prevalência de cada tipo de violência independente da resposta dada aos demais tipos e, portanto, de eventuais superposições. Em seguida, foram apresentadas as formas exclusivas e combinadas de violências, categorizando-as para maior diálogo com a literatura: "nenhuma", "psicológica exclusiva", "psicológica combinada", "física e/ou sexual" e "todas simultâneas". Depois foram analisadas as proporções da sobreposição de qualquer tipo de violência sofrida com a perpetrada, nas categorias: "só sofreu", "só perpetrou" e "sofreu e perpetrou". Também foram descritas todas as violências sofridas e perpetradas com as questões utilizadas em cada tipo. Por último, foram analisadas as proporções das sobreposições ocorridas entre os tipos psicológico, físico e sexual, referidos à violência sofrida e entre os referidos à perpetrada. Todas as análises foram seguidas do teste χ2 de Pearson para a comparação entre os sexos. Para algumas variáveis com ordenação, foi utilizado o teste de tendência. A significância adotada foi de 5%.

Nas correções das perdas das questões de violência, foi utilizado o método de imputação múltipla de dados. As variáveis selecionadas para a imputação probabilística foram: "relação sexual com o parceiro", associada com as violências, e "sexo", que a literatura aponta ter associação com violências sofridas e perpetradas em relações conjugais1313. Hair-jr JF, Black WC, Babin BJ, Anderson RE, Tatham RL. Multivariate data Analysis. Nova Jersey: 6ª edição. Pearson Prentice Hall; 2005. p. 49-76..

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição que a sediou (15/02/ 2002, Protocolo nº 92/09/2001). Entre os cuidados éticos estão: a assinatura do termo de consentimento pós-informado, o anonimato e a confidencialidade das respostas, informação dada aos participantes, impressa como capa do questionário. Em respeito à privacidade e à natureza voluntária de participação, as instruções enfatizavam que os respondentes eram livres para participar e poderiam omitir qualquer questão que não desejassem responder. Também foram divulgados serviços destinados ao atendimento psicológico e/ou especializados no acolhimento às pessoas em situação de violência, além do email e telefone de contato da coordenadora da pesquisa.

Resultados

Da amostra final de 362 participantes, 134 (37%) eram do sexo masculino e 228 (63%) do sexo feminino. A maior parte estudava na universidade privada e cursava os dois primeiros anos do respectivo curso, correspondendo a 70% da amostra, com as mulheres tendencialmente mais presentes nos primeiros anos da graduação (ptend < 0,001) (Tabela 1). A idade dos participantes variou de 18 a 39 anos, com idade mediana de 20 anos e 69,4% entre 18 e 21 anos de idade. O sexo feminino correspondeu à população mais jovem quando comparado com o masculino, com ptend < 0,001 (Tabela 1). Quando se observou a renda familiar, 62% das famílias encontravam-se nas 3 primeiras faixas de renda, não diferindo entre os sexos dos respondentes (Tabela 1). Ainda, na Tabela 1, no que diz respeito ao relacionamento intimo, foi verificado que mais da metade da amostra referiu o relacionamento atual com duração de mais de um mês (61,0%), sendo 55,2% para homens e 64,5% para as mulheres, enquanto que 39,0% referiram que já tiveram um relacionamento anterior com duração de pelo menos um mês. A maioria (91,0%) informou não residir com o parceiro, ser da categoria heterossexual e 71,2% referiram que a vida sexual fazia parte do relacionamento. Considerando-se que 9% da amostra coabitava com o parceiro e que o estudo foi desenhado para discutir a violência no namoro, foi testado se esta categoria poderia dar diferença nos resultados quanto à magnitude e tipos de violência. Como não houve diferença para homens e nem para mulheres, a amostra foi considerada como um todo no diálogo com a literatura sobre violência no namoro. Por fim, em relação às características dos pais, verificou-se que a ocorrência mais frequente da escolaridade foi o nível superior e mais para a situação paterna (55,3%), mas não para a materna (44,4%). Referente ao estado conjugal, a maioria (71,5%) encontrava-se casado (Tabela 1).

Na Tabela 2, foi observada alta prevalência (76%) de violência sofrida e/ou perpetrada, com o predomínio da violência psicológica, seguida da sexual, independentemente de qualquer sobreposição ou combinação. No entanto, após estratificação dos tipos de violência sofrida e perpetrada e considerando os tipos exclusivos e as combinações, não foi a violência psicológica exclusiva, mas suas formas combinadas, as mais prevalentes, na violência sofrida (41,5% - 150 casos) e também na perpetrada (40,1% - 145 casos). Não houve diferenças estatisticamente significativas das violências entre os homens e as mulheres (Tabela 2). Ao analisar qualquer tipo de violência sofrida e perpetrada segundo o tempo da duração do relacionamento, foi verificada uma tendência de aumento dos episódios das violências (sofrida e perpetrada) com o aumento do tempo dos relacionamentos, em ambos os sexos (ptend < 0,001). Ainda foi observado que 84% dos universitários relataram sofrer e perpetrar violência contra seu(sua) parceiro(a), independentemente do sexo (Tabela 2).

Na Tabela 3, descreve-se detalhadamente cada tipo de violência sofrida e perpetrada. Foram encontrados padrões similares de ambas as violências, independentemente do sexo. Entre elas, a mais prevalente foi a psicológica, seguida da sexual e da física moderada, sendo a menos prevalente a física grave.

Do total das violências sofridas (Figura 1), foi observado que entre as formas exclusivas as proporções foram: 33,6% psicológica, 8,4% sexual e 1,5% física. Já considerando também as sobreposições das violências, a maior magnitude corresponde à combinação da psicológica com a sexual, seguida dos três tipos simultâneos. Não se observou diferenças estatisticamente significativas entre homens e mulheres.

Figura 1
Sobreposição das violências sofridas - Sobreposição dos tipos de violência sofrida - 2002.

Em relação aos tipos de violências perpetradas, as proporções apresentaram distribuição semelhante às sofridas: nas exclusivas, 39,1% psicológica, 4,7% sexual e 2,9% física e nas sobreposições destas ocorrências, também se verificou o mesmo padrão. Não houve diferenças estatisticamente significativas entre homens e mulheres (Figura 2).

Figura 2
Sobreposição dos tipos de violência perpetrada.

Discussão

Na literatura observa-se uma grande diversidade dos estudos, com diferentes concepções de violência refletidas nos instrumentos utilizados e também com diferentes definições de amostra e estratégias metodológicas de análise. Na comparação com estudos internacionais que mostram características de amostra semelhantes e análise de dados com a mesma definição de caso utilizada neste estudo, pode-se observar que a taxa aqui encontrada de 75,9% para experiência de algum tipo de violência na vida está bastante próxima do limite superior (82,0%) da variação das taxas mostrada pela literatura1414. Shook NJ, Gerrity DA, Jurich J, Segrist AE. Courtship violence among college students: a comparison of verbally and physically abusive couples. J Fam Violence 2000; 15(1): 1-22. , 1515. Renner LM, Whitney SD. Examining symmetry in intimate partner violence among young adults using socio-demographic characteristics. J Fam Violence 2010; 25(2): 91-106., inclusive no tocante à reciprocidade das agressões1616. Laner MR, Thompson J. Abuse and Aggression in Courting Couples. Deviant Behav 1982; 3: 229-44. , 1717. Mckinney K. Measures of verbal, physical, and sexual dating violence by gender. Free Inquiry in Creative Sociology 1986; 14: 55-60.. Já os estudos internacionais participantes do mesmo estudo multicêntrico IDVS em que nos localizamos, publicaram apenas a análise para prevalência das violências atuais44. Straus MA, Aldrighi T, Alvarez SD, Atan A, Boeckmann i, Sieber C., et al. Prevalence of violence against dating partners by male and female university students worldwide. Violence Against Wom 2004; 10(7): 790-811. , 55. Chan KL, Straus MA, Brownridge DA, Tiwari A, Leung WC. Prevalence of dating partner violence and suicidal ideation among male and female university students worldwide. J Midwifery Womens Health 2008; 53(6): 529-37. , 1818. Machado C, Matos M, Moreira AI. Violência nas relações amorosas: Comportamentos e atitudes na população universitária. Psychologica 2003; 33: 69-83.. Os resultados do presente estudo, apontando que a violência psicológica e a sexual são, nesta ordem, as duas taxas mais elevadas, tanto na modalidade "sofrida" quanto na "perpetrada", são similares aos apresentados por estudos internacionais1919. Paiva C, Figueiredo B. Abuso no relacionamento íntimo: Estudo de prevalência em jovens adultos portugueses. Psychologica 2004; 36: 75-107.

20. Scott K, Straus M. Denial, Minimization, Partner Blaming, and Intimate Aggression in Dating Partners. J Interpers Violence 2007; 22(7): 851-71.
- 2121. Lysova AV. Dating violence in Russia. Russ Educ Soc 2007; 49(4): 43-59..

Um dos aspectos que alguns autores consideram na análise da violência por parceiro íntimo no namoro é o fato de que este evento tende a emergir desde idades mais jovens, quando os envolvidos ainda se encontram no ensino médio2222. Hickman LA, Jaycox LH, Aronoff J. Dating violence among adolescents: Prevalence, gender distribution and prevention program effectiveness. Trauma Violence Abus 2004; 5(2): 123-42. , 2323. Sears HA, Byers ES, Price EL. The co-occurrence of adolescent boys'and girls' use of psychologically, psysically, and sexually abusive behaviours in their dating relationships. J Adolescence 2007; 30: 487-504.. Quando são comparadas as prevalências entre o grupo de jovens do ensino médio com os universitários, a variação nas taxas encontradas para a violência física entre jovens do ensino médio é de 15 a 20%, enquanto que para os jovens universitários é de 20 a 30%2424. Billingham RE. Courtship violence: The patterns of conflict resolution strategies across seven levels of emotional commitment. Fam Reat 1987; 36: 283-9.. No caso da violência psicológica os valores ficam entre 82 e 87% para o grupo dos jovens universitários e 95% para os do ensino médio2525. Cornelius TL, Shorey RC, Kunde A. Legal consequences of dating violence: a critical review and directions for improved behavioral contingencies. Aggress Violent Beh 2009; 14: 194-204..

Estudo recente da população brasileira com esse segmento mais jovem, de 15 a 19 anos, na região de Manaus99. Njaine K, Assis SG, Oliveira QBM, Ribeiro FML, Avanci JQ. Violência nas relações afetivo-sexuais entre adolescentes da cidade de Manaus/AM. In: Meneghel SN (org). Rotas críticas II: ferramentas para trabalhar com a violência de gênero. Santa Cruz do Sul - SC: Edunisc; 2009 (1). p. 83-112, aponta que 88,7 e 89,2% da amostra referem ter sofrido e perpetrado, respectivamente, algum tipo de violência. Ressalta-se que não há uma referência explícita se a violência considerada foi ou não a ocorrida nos últimos 12 meses. Mas, apesar de metodologias distintas, o valor encontrado da violência sofrida (75,9%) e perpetrada (76,9%) no presente estudo, mantém o achado de serem próximas as magnitudes entre a violência perpetrada e a sofrida.

Enquanto que a maioria das pesquisas sobre violência no namoro dá maior importância aos fatores associados à violência física e à vitimização, pouca ênfase é atribuída à violência psicológica ou a sua combinação com a violência física. Em adolescentes a concomitância entre esses dois tipos de violência é expressiva. Estudos internacionais sobre o tema, como na revisão de Mahoney, Willians e West, afirmam que aproximadamente 28% dos jovens, em algum momento dos relacionamentos afetivos, estiveram presentes tipos de violências superpostos2626. Mahoney P, Williams LM, West C. M. Violence against women by intimate relationships partners. In Rezenti, CM, Edleson JL, Bergen, RK (eds). Sourcerbook on violence against women. Thousand Oaks: Sage Publications, 2001. p. 143-78.. Mesmo considerando que o presente estudo tratou da violência ocorrida na vida, essa combinação das violências física e psicológica também foi aqui encontrada, ainda que em taxa menor do que a sobreposição das violências psicológica e sexual. Ao destacar a importância da violência psicológica, o presente estudo está em consonância com outros que a apontam como precursora da violência física no relacionamento íntimo na fase de namoro2727. Hamby SL, Sugarman DB. Acts of psychological aggression against a partner and their relation to physical assault and gender. J Marriage Fam 1999; 61: 959-70.

28. Murphy CM, O'Leary KD. Psychological aggression predicts physical aggression in early marriage. J Consult Clin Psych 1989; 57: 579-82.

29. Jackson SM. Issues in the dating violence research: A review of the literature. Aggress Violent Beh 1999; 4(2): 233-47.
- 3030. O'Leary DK. Are Women Really More Aggressive than Men in Intimate Relationships? Comment on Archer. Psychol Bull 2000; 136(5): 685-9..

No tocante à violência sexual, os resultados encontrados no presente estudo apresentam a mesma tendência dos estudos internacionais. Estes mostram magnitudes da violência sexual perpetrada que variam de 3,0 a 37,0% para os homens e de 2,0 a 24,0% para as mulheres e, no caso da violência sofrida, magnitudes que variam de 14,0 a 43,0% para as mulheres e de 0,3 a 36,0% para os homens2222. Hickman LA, Jaycox LH, Aronoff J. Dating violence among adolescents: Prevalence, gender distribution and prevention program effectiveness. Trauma Violence Abus 2004; 5(2): 123-42. , 3131. Muñoz-Riva MJ, Graña JL, O'Leary KD, González MP. Prevalence and predictors of sexual aggression in dating relationships of adolescents and young adults. Psicothema 2009; 21(2): 234-40.. A literatura comenta a maior ocorrência da violência sexual sofrida para mulheres que homens, o que apenas se confirma para este banco de dados quando se examina a ocorrência nos últimos doze meses1010. Aldrighi T. Prevalência e cronicidade da violência física no namoro entre jovens universitários do Estado de São Paulo - Brasil. Psicol Teor Prat 2004; 6(1): 105-20.. As revisões de Hickmanl2222. Hickman LA, Jaycox LH, Aronoff J. Dating violence among adolescents: Prevalence, gender distribution and prevention program effectiveness. Trauma Violence Abus 2004; 5(2): 123-42. e de Munõz-Rivas3131. Muñoz-Riva MJ, Graña JL, O'Leary KD, González MP. Prevalence and predictors of sexual aggression in dating relationships of adolescents and young adults. Psicothema 2009; 21(2): 234-40. apontam para o número reduzido de estudos sobre a violência sexual entre jovens e o jovem adulto, quase sempre relativos à realidade norte-americana. Os autores alertam para conclusões prematuras e a necessidade de ampliar a compreensão deste tipo de violência, e, ainda, para sua superposição com o tipo psicológico.

Outra questão diz respeito ao comportamento de homens e mulheres. No presente estudo os comportamentos não diferem estatisticamente, em consonância com outros, quer os que pesquisaram a violência ocorrida nos últimos 12 meses, cuja grande maioria refere que a mutualidade das agressões varia de 47 a 94,6%44. Straus MA, Aldrighi T, Alvarez SD, Atan A, Boeckmann i, Sieber C., et al. Prevalence of violence against dating partners by male and female university students worldwide. Violence Against Wom 2004; 10(7): 790-811. , 3232. Straus MA, Ramirez, I. L. Gender symmetry in prevalence, severity, and chronicity of physical aggression against dating partners by University students in Mexico and USA. In: XV World Meeting Of The International Society for Research on Aggression. Montreal, Canada. Durham, NH: University of New Hampshire, Family Research Laboratory; 2002. Disponível em http://pubpages.unh.edu/~mas2/. Acesso (Acessado em 15 de março de 2008).
Disponível em http://pubpages.unh.edu/~m...
, quer os que consideraram a ocorrência de violência na vida1616. Laner MR, Thompson J. Abuse and Aggression in Courting Couples. Deviant Behav 1982; 3: 229-44.. Alguns autores indicam que tanto no namoro quanto na convivência marital, haveria reciprocidade das agressões da violência ocorrida nos últimos 12 meses3333. Archer J. Sex differences in aggression between heterosexual partners: A meta-analytic review. Psychol Bull 2000; 126: 651-80.. No entanto, outros apontam questões metodológicas a serem discutidas e diferenças quanto ao tipo e a gravidade das violências quando se comparam homens e mulheres, deixando de haver simetria na violência sexual e em casos mais graves da violência física2323. Sears HA, Byers ES, Price EL. The co-occurrence of adolescent boys'and girls' use of psychologically, psysically, and sexually abusive behaviours in their dating relationships. J Adolescence 2007; 30: 487-504. , 3434. Dasgupta SA. Framework for understanding women's use of nonlethal violence in intimate heterosexual relationships. Violence Against Wom 2002; 8(11): 1364-89. , 3535. Kimmel MS. ''Gender symmetry'' in domestic violence: A substantive and methodological research review. Violence Against Wom 2002; 8(11): 1332-63.. Cabe notar que a maior perpetração de homens do que mulheres na violência do tipo sexual é um resultado que não muda para os estudos que consideram os últimos 12 meses, relativamente aos que observaram a ocorrência de violência na vida.

Segundo a metanálise de Archer, a mutualidade para a violência física parece ser importante tanto para o namoro assim como em coabitação, diferindo quanto às magnitudes das taxas encontradas, que são maiores na situação de namoro3333. Archer J. Sex differences in aggression between heterosexual partners: A meta-analytic review. Psychol Bull 2000; 126: 651-80.. Na mesma tendência, o estudo de Straus aponta a diferença das prevalências no namoro, quando comparadas com a de parceiros casados em coabitação: enquanto aqueles mostram uma taxa de violência de 69%, a taxa entre os casados é de 50%44. Straus MA, Aldrighi T, Alvarez SD, Atan A, Boeckmann i, Sieber C., et al. Prevalence of violence against dating partners by male and female university students worldwide. Violence Against Wom 2004; 10(7): 790-811..

O estudo de Stets e Straus refere que a violência física e outros tipos de violência decrescem rapidamente com a idade. Os resultados também mostram que os valores reportados para as mulheres na violência física são maiores do que para os homens, principalmente quando mais jovens3636. Stets E, Straus MA. Gender differences in reporting marital violence and its medical and psychological consequences. In: Straus MA and Gelles RJ (eds.). Physical violence in American families: risk factors and adaptations to violence in 8,145 families. New Brunswick, NJ: Transaction Press; 1989. Chapter 9.. Essas observações fazem supor que para as mulheres as taxas de violência física parecem decrescer ao passarem das situações de namoro para as de coabitação ou conjugalidade. De fato, se contrastarmos as taxas ora encontradas para mulheres universitárias paulistas com mulheres paulistas com parcerias conjugais, como no estudo de Schraiber3737. Schraiber LB, D'Oliveira AFPL, França JRI, Diniz S, Portella AP, Ludemir AB, et al. Prevalência da violência contra a mulher por parceiro íntimo em regiões do Brasil. Rev Saúde Pública 2007; 41(5): 797-807., as magnitudes da violência sofrida por mulheres em situação de conjugalidade, embora muito elevadas, são menores que as encontradas em situação de namoro. Nestes mencionados estudos, a mutualidade não foi encontrada, e os homens foram os principais agressores das mulheres na violência física e sexual.

O mesmo achado da não mutualidade das violências, é apontado por O'Leary3030. O'Leary DK. Are Women Really More Aggressive than Men in Intimate Relationships? Comment on Archer. Psychol Bull 2000; 136(5): 685-9. no artigo, em resposta à metanálise de Archer3333. Archer J. Sex differences in aggression between heterosexual partners: A meta-analytic review. Psychol Bull 2000; 126: 651-80., ao argumentar sobre a limitação da generalização da mutualidade para amostras distintas. Nesta mesma direção encontram-se os estudos de Laner e Thompson1616. Laner MR, Thompson J. Abuse and Aggression in Courting Couples. Deviant Behav 1982; 3: 229-44.; Billingham2424. Billingham RE. Courtship violence: The patterns of conflict resolution strategies across seven levels of emotional commitment. Fam Reat 1987; 36: 283-9. e Chan55. Chan KL, Straus MA, Brownridge DA, Tiwari A, Leung WC. Prevalence of dating partner violence and suicidal ideation among male and female university students worldwide. J Midwifery Womens Health 2008; 53(6): 529-37. que consideram o tempo de relacionamento, bem como o tipo de envolvimento afetivo, se namoro ou conjugalidade, como fatores de forte influência no perfil observado das violências. Estes estudos apontam para a "juventude", no sentido de faixas etárias de menor idade, como fator associado às maiores taxas de violência, bem como o "tempo de relacionamento" mediado pelo "nível de envolvimento afetivo", como fatores cruciais no desencadeamento da violência no namoro.

Ainda que se possa pensar a violência no namoro como precursora da violência conjugal, a realidade é que existem poucos estudos que discutem as similaridades e diferenças entre a violência que ocorre em situação de namoro em contraste com a que ocorre em situação conjugal.

Considerações Finais

Os resultados apresentados permitiram conhecer as primeiras informações sobre as prevalências dos tipos de violência entre jovens universitários no relacionamento de namoro de uma parcela da população brasileira. No entanto, não podemos deixar de reconhecer as informações faltantes ("missings"), as limitações de ser um questionário autopreenchido, com a presença importante de questionários incompletos, aspecto este corrigido pela imputação de dados. Outro aspecto limitante é o fato de ser respondido por somente um dos parceiros do par em relacionamento, o que pode produzir viés de informação, supervalorizando ou subestimando determinados comportamentos do parceiro. Ainda lembramos que nossos dados são referentes a duas Universidades de São Paulo, embora o perfil da amostra por sexo e estratificação social seja o mesmo encontrado pelos Censos do Ensino Superior produzidos pelo Ministério da Educação e Cultura.

Primeiramente, ressalta-se a importância tanto de experiência deste tipo de violência em etapas tão recentes do desenvolvimento humano, quanto dos valores expressivos das violências, especialmente as do tipo psicológico e sexual. Também se ressalta a urgência de estudos do processo de mudanças verificadas na violência da fase inicial do namoro até o relacionamento na convivência conjugal e no qual podem se sedimentar determinantes de uma consolidação das violências por parceiro íntimo.

Ressalta-se que o presente estudo está em consonância com aos desafios apresentados no estudo de Sears2323. Sears HA, Byers ES, Price EL. The co-occurrence of adolescent boys'and girls' use of psychologically, psysically, and sexually abusive behaviours in their dating relationships. J Adolescence 2007; 30: 487-504. ao apontar a necessidade de pesquisas direcionadas para a violência no namoro ampliarem a compreensão da prevalência da violência para outras formas que não só a física, bem como para a co-ocorrência entre os três tipos de violência, consideradas tanto da perspectiva de ter sofrido como perpetrado. Além disso, estes autores mostram a escassez de estudos que avaliam as diferenças entre homens e mulheres no uso de múltiplas formas de violência no namoro ou em combinações específicas.

De outro lado é interessante apontar que este estudo se valeu de jovens universitários, captados em suas escolas, por conveniência da viabilidade da pesquisa, tal como em muitas das pesquisas sobre violência no namoro. Além disso, é também nesse contexto das escolas que ocorrem os atos de violências, segundo os próprios jovens pesquisados. Isso indica que, mesmo em se tratando de violência por parceiro íntimo, é frequente sua ocorrência nos espaços públicos e não privados e domésticos, como entre adultos mais velhos e em situação de conjugalidade. Como aponta Theriott77. Theriot MT. Conceptual and Methodological Considerations for Assessment and Prevention of Adolescent Dating Violence and Stalking at School. Children & Schools 2008; 30(4): 223-33., os que experimentaram algum tipo de violência no relacionamento amoroso referiram a ocorrência do fato nos espaços da escola, numa proporção de 15 a 43%, podendo a agressão ter sido testemunhada por um colega ou grupo de amigos.

Este aspecto da violência entre indivíduos mais jovens, que trazem os conflitos da intimidade para o contexto escolar e os compartilham com colegas e amigos, por um lado revela outra especificidade dessa violência no namoro, em contraste com a relação marital e de coabitação, quando o ato fica confinado no espaço de intimidade. Por outro lado, deixa clara a grande oportunidade que esta característica permite para os programas de prevenção.

Não obstante, mesmo facilitando a existência de programas de prevenção, há que se lembrar que estudantes ou universitários podem não ter o comportamento de buscar ajuda para tais assuntos, já que, como mostra a literatura, na maioria das vezes não reconhecem os atos como violência. A importância de um conjunto de ações que propicie a eles, na busca da autonomia, condições para o desenvolvimento de uma postura de não legitimação da violência no relacionamento afetivo, ainda precisa ser conquistada.

Os achados deste estudo trazem para o contexto brasileiro a confirmação da necessidade de ações e políticas públicas nesta direção, ao produzir conhecimento importante para os programas de prevenção para jovens em fase de namoro, de forma a minimizar as chances de que as agressões continuem no casamento.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2013

Histórico

  • Recebido
    05 Fev 2013
  • Revisado
    18 Abr 2013
  • Aceito
    05 Jun 2013
Associação Brasileira de Pós -Graduação em Saúde Coletiva São Paulo - SP - Brazil
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