Interface - Comunicação, Saúde, Educação, Volume: 8, Número: 14, Publicado: 2004
  • Biopolíticas da saúde: reflexões a partir de Michel Foucault, Agnes Heller e Hannah Arendt Dossiê

    Ortega, Francisco

    Resumo em Português:

    O objetivo deste artigo é oferecer ferramentas conceituais que possam ajudar na reflexão acerca da questão das biopolíticas da saúde a partir da obra de Michel Foucault, Agnes Heller e Hannah Arendt. Para Foucault, desde o século XVIII, a vida biológica e a saúde da nação tornaram-se alvos fundamentais de um poder sobre a vida que enfatizava especialmente as noções de sexualidade, raça e degenerescência, cujo objetivo era a otimização da qualidade biológica das populações. Para Arendt, esse movimento de politização da vida é profundamente antipolítico. A vida passa a ocupar o vazio deixado pela decomposição do âmbito público. No caso de Agnes Heller, o antipolitismo do discurso biopolítico se manifesta na procura constante de legitimação quase científica. O pensamento de raça, gênero, saúde é um pensamento científico imitado que substitui a opinião pela verdade. Se a política é o campo do confronto das opiniões, do diálogo, da iniciativa, do novo, da espontaneidade e da ação em liberdade, o pensamento biopolítico legitimado cientificamente é o espaço da verdade, da certeza, da necessidade, do determinismo e da causalidade, no qual o diálogo é substituído por uma política da autoclausura, de amigos e inimigos, e a pluralidade de opiniões é reduzida a uma única opinião politicamente correta.

    Resumo em Espanhol:

    El objetivo de este artículo es ofrecer herramientas conceptuales que puedan ayudar en la reflexión acerca de la cuestión de las biopolíticas de la salud a partir de la obra de Michel Foucault, Agnes Heller y Hannah Arendt. Para Foucault, desde el siglo XVIII, la vida biológica y la salud de la nación se tornaron puntos fundamentales de un poder sobre la vida que enfatizaba especialmente las nociones de sexualidad, raza y degenerescencia, cuyo objetivo era la optimización de la calidad biológica de las poblaciones. Para Arendt, ese movimiento de politización de la vida es profundamente antipolítico. La vida pasa a ocupar el vacío dejado por la descomposición del ámbito público. En el caso de Agnes Heller, el antipolitismo del discurso biopolítico se manifiesta en la búsqueda constante de legitimación casi científica. El pensamiento de raza, género, salud es un pensamiento científico imitado que substituye la opinión por la verdad. Si la política es el campo do confrontación de las opiniones, del diálogo, de la iniciativa, de lo nuevo, de la espontaneidad y de la acción en libertad, el pensamiento biopolítico legitimado científicamente es el espacio de la verdad, de la certeza, de la necesidad, del determinismo y de la causalidad, en el cual el diálogo es substituido por una política da autoclausura, de amigos y enemigos, y la pluralidad de opiniones es reducida a una única opinión políticamente correcta.

    Resumo em Inglês:

    The purpose of this article is to offer conceptual tools that may help one to reflect on the biopolitics of health, based on the works of Michel Foucault, Agnes Heller and Hannah Arendt. For Foucault, since the 18th century, biological life and the health of the nation became fundamental targets of a power over life that emphasized the notions of sexuality, race and degeneration in particular, with the objective of optimizing the biological quality of the population. For Arendt, this trend toward the politicization of life is deeply antipolitical. Life fills the void left by the decomposition of the public sphere. In the case of Agnes Heller, the antipolitical character of the biopolitical discourse manifests itself in the ongoing quest for near-scientific legitimization. The thoughts on race, gender and health mimic scientific thinking and replace opinion by truth. If politics is the arena for the confrontation of opinions, dialogue, initiative, novelty, spontaneity and free action, scientifically legitimated biopolitical thinking is the space of truth, certainty, necessity, determinism and causality, where dialogue is substituted by the politics of self-seclusion, of friends and enemies, and the plurality of opinions is reduced to a single politically correct opinion.
  • Biopolítica: o poder médico e a autonomia do paciente em uma nova concepção de saúde Dossiê

    Martins, André

    Resumo em Português:

    Propõe-se articular a crítica de Foucault ao que este chamou de "medicalização autoritária de corpos e doenças" ao conceito de Espinosa de aumento da potência de agir, tendo como horizonte uma reflexão sobre a questão da autonomia dos indivíduos. Para isso, desenvolve-se uma reflexão crítica e genealógica sobre a concepção de saúde e de cura presentes na prática médica atual, assim como sobre o poder médico e a concepção mecanicista e cientificista do corpo e da enfermidade a ele atrelada. A esta concepção contrapõe-se uma noção canguilhemiana de saúde ligada à normatividade e de cura ligada à reabilitação. A partir destes deslocamentos, repensam-se as práticas médicas atuais, assim como as concepções de promoção da saúde e de prevenção.

    Resumo em Espanhol:

    El presente trabajo busca articular la crítica de Foucault, lo que él llamó "medicalización autoritaria de cuerpos y enfermedades", al concepto de Espinosa de aumento de la potencia de actuar, teniendo como horizonte una reflexión sobre el cuestión de la autonomía de los individuos. Se propone, para esto, reflexionar crítica y genealógicamente sobre el concepto de salud y de cura presentes en la práctica médica actual, así como sobre el poder médico y el concepto mecanicista y cientifista del cuerpo y de la enfermedad relacionada a él. A este concepto, contrapondremos una noción canguilhemiana de salud vinculada a la normativa y de cura vinculada a la rehabilitación. A partir de estos desplazamientos, repensaremos las prácticas médicas actuales, así como los conceptos de promoción de salud y de prevención.

    Resumo em Inglês:

    This paper proposes an articulation between Foucault's critique of what he called the "authoritarian medicalization of bodies and diseases" and Spinoza's concept of the enhancement of the power to act, within the framework of a reflection on the issue of individual autonomy. To this end, a critical and genealogical discussion of the concept of health and of cure as found in current medical practice is presented, as well as a discussion of medical power and the mechanistic and scientistic ideas concerning the body and the diseases attached to it. This idea is in contrast to Canguilhem's notion of health as being linked to normativeness and of cure as being connected with rehabilitation. Based on this change of indicators, current medical practices are reconsidered, as well as the idea of encouraging health and prevention.
  • A Grande Saúde: uma introdução à medicina do Corpo sem Órgãos Dossiê

    Teixeira, Ricardo Rodrigues

    Resumo em Português:

    Partindo da Ética de Espinosa e, especialmente, das leituras de sua filosofia praticadas por Deleuze & Guattari, propomos o conceito referencial de Grande Saúde e esboçamos o que poderia ser a medicina referenciada nessa concepção. Outro conceito proposto é o de Corpo sem Órgãos, para dar conta do plano em que se experimenta a Grande Saúde: plano de intensidades vivido como variação contínua das potências, do apetite, do desejo. Essa leitura deleuzeana de Espinosa, permite-nos entrever as bases de uma hipotética medicina espinosana, com sua Fisiologia do Corpo sem Órgãos, sua "patologia", aqui entendida como Afectologia, sua "ciência dos sinais e sintomas" ou Semiótica e o que seria sua "terapêutica" orientada pelo ideal da Grande Saúde.

    Resumo em Espanhol:

    Partiendo de la Ética de Espinosa y, especialmente, de las lecturas de su filosofía practicadas por Deleuze & Guattari, proponemos el concepto referencial de Gran Salud y esbozamos lo que podría ser la medicina referenciada en esa concepción. Otro concepto propuesto es el de Cuerpo sin Órganos, para sustentar el plano en que se experimenta la Gran Salud: plano de intensidades vivido como variación continua de las potencias, del apetito, del deseo. Esa lectura deleuzeana de Espinosa nos permite entrever las bases de una hipotética medicina espinosiana, con su Fisiología del Cuerpo sin Órganos, su "patología", aquí entendida como Afectología, su "ciencia de las señales y síntomas" o Semiótica y lo que sería su "terapéutica" orientada por el ideal de la Gran Salud.

    Resumo em Inglês:

    Availing oneself of Spinoza's Ethics as a starting point and especially of the interpretation of his philosophy according to Deleuze & Guattari, we propose the frame of reference of Grand Health and outline what medicine based on this idea might consist of. Another concept proposed is that of the Body With No Organs, conceived to deal with the plane on which Grand Health is experienced: the plane of intensities experienced as an ongoing fluctuation of powers, appetites and desires. This Deleuzian interpretation of Spinoza allows us to glimpse the basis for a hypothetical Spinozistic medicine, with its Physiology of the Body With No Organs, its "pathology", understood herein as Affectology, its "science of signals and symptoms" or Semiotics and what might be its "therapeutics", governed by the ideal of Grand Health.
  • Cuidado e reconstrução das práticas de Saúde Dossiê

    Ayres, José Ricardo de Carvalho Mesquita

    Resumo em Português:

    Assistimos em tempos recentes à emergência de uma série de novos discursos no campo da saúde pública, mundial e nacionalmente, tais como a promoção da saúde, vigilância da saúde, saúde da família, redução de vulnerabilidade, entre outros. Contudo, uma efetiva consolidação dessas propostas e seu mais conseqüente desenvolvimento parece-nos depender de transformações bastante radicais no nosso modo de pensar e fazer saúde, especialmente em seus pressupostos e fundamentos filosóficos. É na condição de uma desconstrução teórica, com vistas a contribuir para a reconstrução em curso nas práticas de saúde, que se quer trazer ao debate a presente reflexão. Nesse sentido, examina-se o cuidado sob três perspectivas conceituais: como categoria ontológica, como categoria genealógica e como categoria crítica. A hermenêutica realizada na interface dessas três perspectivas permite apontar direções onde parece produtivo um esforço de reconstrução das práticas de saúde: um ativo movimento de profissionais e serviços de saúde no sentido de se voltarem ativamente à presença do outro no espaço assistencial, a otimização e diversificação das formas e qualidade da interação eu-outro nesses espaços e o enriquecimento dos horizontes de saberes e fazeres em saúde numa perspectiva decididamente interdisciplinar e intersetorial.

    Resumo em Espanhol:

    Presenciamos recientemente la emergencia de una serie de nuevos discursos en el campo de la salud pública, mundial y nacionalmente, tales como la promoción de la salud, vigilancia de la salud, salud de la familia, reducción de vulnerabilidad, entre otros. No obstante, una efectiva consolidación de esas propuestas y su consecuente desarrollo parecen depender de transformaciones bastante radicales en nuestro modo de pensar y hacer salud, especialmente en sus presupuestos y fundamentos filosóficos. Es en la condición de una desconstrucción teórica, con vistas a contribuir a la reconstrucción en curso en las prácticas de salud, que se quiere poner en debate la presente reflexión. En ese sentido, se examina el cuidado bajo tres perspectivas conceptuales: como categoría ontológica, como categoría genealógica y como categoría crítica. La hermenéutica realizada en la interfaz de esas tres perspectivas permite apuntar direcciones donde parece productivo un esfuerzo de reconstrucción de las prácticas de salud: un activo movimiento de profesionales y servicios de salud en el sentido de dedicarse activamente a la presencia del otro en el espacio asistencial, la optimización y diversificación de las formas y calidad de la interacción yo-otro en esos espacios y el enriquecimiento de los horizontes de conocimientos y prácticas en salud en una perspectiva decididamente interdisciplinar e intersectorial.

    Resumo em Inglês:

    In recent years, we have witnessed the appearance of a series of new lines of discourse in the field of public health, both globally and domestically, such as health promotion, health vigilance, family health and vulnerability reduction, among others. However, it seems to us that a true consolidation of these proposals and their consequent development depends on fairly radical transformation of our way of thinking about and providing healthcare, especially with regard to its assumptions and its underlying philosophical principles. We would like to bring these thoughts to the debate as a theoretical deconstruction, with a view to contributing to the reconstruction that is underway in healthcare practices. Thus, care is examined from three conceptual points of view: as an ontological category, as a genealogical category and as a critical category. Hermeneutics applied to the interface of these three points of view allows one to indicate directions that may yield a productive effort of healthcare practice reconstruction: an active movement of the professionals and healthcare services toward actively acknowledging the presence of another party in the arena of care, the optimization and diversification of the forms and quality of the "I-Other" interaction in this arena and the enrichment of the horizons of healthcare knowledge and performance from a decidedly interdisciplinary and intersectorial perspective.
UNESP Botucatu - SP - Brazil
E-mail: intface@fmb.unesp.br